“Não estamos aqui para viver vidas úteis, mas vidas belas”
O conhecido economista checo Tomás Sedlácek vê o capitalismo como a nova religião global, com a sua própria cultura corporativa e escola ético-moral – a do egoísmo. Os novos padres não diferem muito das antigas videntes de feira a olharem para bolas de cristal, diz ele (...)

“Não estamos aqui para viver vidas úteis, mas vidas belas”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.428
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O conhecido economista checo Tomás Sedlácek vê o capitalismo como a nova religião global, com a sua própria cultura corporativa e escola ético-moral – a do egoísmo. Os novos padres não diferem muito das antigas videntes de feira a olharem para bolas de cristal, diz ele
TEXTO: Em 2001, com apenas 24 anos, tornou-se consultor do presidente Václav Havel e cinco anos depois a Yale Economic Review apontava-o como um dos cinco melhores jovens pensadores na área da economia. O autor de Economics of Good and Evil esteve em Lisboa como orador do fórum O Lugar da Cultura, organizado pela Secretaria de Estado da Cultura. Pôs a hipótese de estarmos a atravessar não uma crise, mas o momento a seguir ao clímax em que temos de voltar a traçar objectivos. Pediu também que deixemos de parte o imperativo capitalista de nos consumirmos em “vidas úteis” – Sedlacék, que vê a economia como um sucedâneo das humanidades, diz que o que temos de ter são vidas belas. Na sua conferência começou por questionar se não estaremos hoje a viver uma espécie de “depressão pós-coito” em relação à União Europeia e ao capitalismo. O que é que isto quer dizer, exactamente?Se pensarmos bem, as nossas queixas contra a União Europeia (UE) e o capitalismo são muito semelhantes. Em ambos casos achamos que o sistema de certa forma funciona, mas o sentimento é de alheamento, de que o sistema tem uma lógica técnica própria que poucos, se é que alguns, entendem, de que tem a estrutura, os ossos e os ligamentos, mas lhe faltam a alma humana, um propósito e por aí fora. Toda a gente lê a [actual] situação [de crise] como se o capitalismo e a UE não nos tivessem dado suficiente, mas e se pudermos ler de forma oposta? Que em larga medida a UE e o capitalismo nos deram tudo o que puderam. Que em breve poderá chegar o tempo em que esgotámos a possibilidade de reformas e de novas ideias, que a economia ocidental não poderá já prosseguir a sua marcha de forma tão impressionante e que a integração em breve estará completa. E se o não-crescimento não for um percalço mas sim uma tendência? Em psiquiatria, um dos espoletadores surpreendentes da depressão é o atingir dos nossos objectivos. Porquê? Se nos focarmos de mais nos objectivos e os atingirmos, deixamos de ter sonhos, deixamos de ter motivo para acordar cedo pela manhã. A motivação perde-se não porque o objectivo fosse impossível de atingir, mas, precisamente, porque foi possível. O objectivo foi conseguido, o desígnio está morto. Precisamos de encontrar uma nova fantasia – mas não temos a certeza de qual. Não é esta, de certa forma, a nossa actual situação?A UE e o capitalismo já cumpriram os seus objectivos?Nada é perfeito. Até um programa de computador – o mais perfeito sistema criado pela humanidade, previsível, matemático, exacto – bloqueia de tempos a tempos e passa por um período de crise. Portanto, não estou a dizer que a UE e o capitalismo sejam perfeitos, mas essa também nunca foi a promessa. Permita-me uma parábola. Um homem está a mugir uma vaca. A dada altura, a vaca deixa de dar leite. Por isso o homem começa a gritar com ela e a bater-lhe. Então, magicamente, a vaca abre a boca e pergunta: “Porque é que me estás a bater? Já te dei todo o meu leite! E tu nem sabes quantos baldes! A única coisa que sabes é que queres mais. Mas alguns dos teus baldes estão perdidos, outros a apodrecerem, a entornarem-se. . . E bates-me por não te poder dar mais leite?” É isto que tenho em mente. Que queremos medir o desenvolvimento – ou seja: o leite fresco –, mas nem temos as estatísticas correctas nem queremos saber quanto é que já temos. Tanto o capitalismo como a UE já nos deram muito leite, mas criticamo-los por não nos darem mais. Isto não é uma crise do capitalismo, é uma crise de crescimento do capitalismo. Eu olho para o capitalismo como olho para a UE: não é um sistema muito bom, mas é o melhor que temos. Ponto número um. Ponto número dois: a democracia precisa de estímulo, protecção e cultura constantes para se manter democrática; a democracia é constituída por leis, mas mais ainda pela cultura da democracia. O mesmo é verdade para o capitalismo. Ambos morrem se não forem cuidados. O capitalismo e a UE já cumpriram os seus objectivos? O problema é que não sabemos realmente quais são esses objectivos. Em relação à UE era a paz através do comércio. A paz era o objectivo primário, o comércio o secundário. E temos paz dentro da UE e temos comércio – o Norte da Finlândia faz trocas comerciais com o Sul da Grécia com uma facilidade sem precedentes. Quanto ao capitalismo, nunca discutimos objectivos. Até que o façamos ele nunca os vai cumprir. Uma tomada de consciência relativamente recente em termos colectivos na sociedade ocidental é a da “inumanidade do capitalismo”. Parecemos querer o capitalismo, mas com um rosto mais humano. É possível?Sim. O capitalismo será cada vez mais humano se trabalharmos nisso. Mas nunca será completamente humano – pela simples razão de nem os humanos serem completamente humanos. Há 20 anos o capitalismo era muito diferente do que é hoje, não tinha quaisquer preocupações ecológicas, nenhumas soft skills, e tinha Recursos Humanos muito primitivos. Mas era, assim mesmo, capitalismo. Mudou por dentro. Há 100 anos, o nosso capitalismo tinha trabalho infantil, mulheres completamente discriminadas e protecção laboral zero – nem a mais extrema direita política quer isto hoje! O capitalismo e a democracia precisam de massa crítica para funcionar melhor. Na sua conferência questionou também a hipótese de ao centro do capitalismo estar não um vazio ético, como parece, mas, antes, uma escola moral muito forte. Que escola é essa?Pois, achamos que a economia não tem ética nem cultura, que ao centro do sistema há um vácuo moral e cultural, um vazio. Mas a realidade é bastante mais complexa. A economia e os negócios já têm uma ética e uma cultura próprias: a ética do egoísmo, de não querer saber do impacto das nossas acções porque a misteriosamente invisível mão do mercado alegadamente toma conta disso, a crença de que as pessoas existem para aumentar a sua utilidade, a postura de que os mercados são racionais e se auto-regulam, etc. Isto compõe uma escola ética muito forte. E que é contrabandeada para dentro do nosso sistema de valores disfarçada de ciência com bases matemáticas. Na verdade, é uma ideologia, uma nova religião global com a sua própria cultura corporativa, ética, crenças e padres.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Os que morreram
Philippe, Ahmed, Frédéric, Elsa, Michel, Bernard, Franck e Mustapha são os outros mortos do ataque contra o Charlie Hebdo. Retratos das 12 vítimas. (...)

Os que morreram
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Philippe, Ahmed, Frédéric, Elsa, Michel, Bernard, Franck e Mustapha são os outros mortos do ataque contra o Charlie Hebdo. Retratos das 12 vítimas.
TEXTO: CabuDesenhador e caricaturista, Jean Cabut faria 77 anos no dia 13 e afirmava-se politicamente à esquerda. Apaixonado pelo jazz – era a única música que ouvia –, cumpriu o serviço militar na Argélia e não comia carne. Membro da equipa do Charlie Hebdo desde a sua fundação, em 1970, também publicou nas revistas Hara-kiri Hebdo (a precursora do Charlie Hebdo) e Pilote, onde criou em 1963 uma das suas mais bem conhecidas personagens, Le Grand Duduche, um jovem utópico de jeans e óculos redondos. Pacifista e antimilitarista como o seu autor. Trabalhou também na televisão e desenhou capas de álbuns, tendo editado o seu trabalho em mais de duas dezenas de livros. Era também autor de reportagem em banda desenhada. Foi no Charlie Hebdo que se focou na caricatura política, tendo colaborado ao longo da sua carreira com os principais diários franceses, do Le Monde ao France Soir, passando pelo Le Figaro e por publicações como o Nouvel Observateur ou a revista Rock & Folk. Tinha “um golpe de lápis sem igual que lhe permitia caricaturar com uma facilidade desconcertante qualquer personalidade”, como o descreveu quarta-feira o Le Monde. “Deixa um vazio aberto no mundo dos ilustradores da imprensa. ”Georges WolinskiA sua mãe era franco-italiana e o pai um judeu polaco. Nasceu em Tunes e mulheres e sexo eram os traços identitários do trabalho de Wolinski, visita constante da cidade do Porto, cidadão honorário da Porto Capital do Cartoon. Começou a desenhar na revista Action, mas na sequência do Maio de 1968 fundou com o cartoonista francês Siné o jornal de curta vida L’Enragé. Colaborou com o Nouvel Observateur e ainda fazia parte da equipa da Paris Match. Esteve na Hara-kiri Hebdo e também escreveu para o cinema. Editou vários álbuns, tendo lançado em Setembro de 2014 o seu último livro, que foi também o seu primeiro romance gráfico – Le Village des femmes, editado pela Le Seuil. Recebeu o Grande Prémio de Angoulême em 2005, algo que provocou discussão. “Eu próprio não sei se sou um verdadeiro autor de BD. Comecei pela banda desenhada (nos anos 60 fiz La Reine des Pommes, a partir de um livro de Chester Heims), mas depois tornei-me desenhador de imprensa por acaso”, disse Wolinski ao PÚBLICO na altura. Era assim que se definia. E sabia bem o que era o humor e uma boa piada. “Um bom desenho tem de fazer rir, mas também tem de obrigar os leitores a pensarem, depois de se rirem: ‘Ele tem razão. ’”Ao PÚBLICO disse também em 2009: “Na verdade, não há nem humor francês, nem humor judeu, nem humor americano. Há só o humor, and humour is the same everywhere. ”TignousTodos os seus colaboradores, como escreveu na quarta-feira o diário francês Le Figaro, o descreviam como “terno mas mordaz”. Bernard Verlhac, aliás "Tignous", era também colaborador da revista Marianne e era um devorador de notícias, um ponteiro sempre atento à actualidade. Fazia cobertura de acontecimentos lado a lado com os redactores – um dos seus trabalhos editados em livro é exactamente a compilação do acompanhamento diário do caso Colonna, um militante independentista corso que assassinou um prefeito (equivalente a um governador civil) da Córsega. Trabalhou também no segmento dos comics, sendo autor de oito álbuns editados. Tignous tinha um pseudónimo que homenageava a avó – “pequeno tinhoso” era o que lhe chamava. CharbStephane Charbonnier era director do Charlie Hebdo desde 2009. Descontente com a proximidade do seu antecessor com o poder, o ilustrador e cartoonista rompeu com a sua herança e afirmou-se sempre um autor sem medo. Tinha duas personagens de uso frequente: o cão Maurice e o gato Patapon, unidos pelo seu anticapitalismo e pelas piadas a puxar à escatologia. O seu traço distintivo eram as personagens de tez amarela e olhos esbugalhados e moral a condizer. Odiava cigarros e também não tinha grande apreço por Nicolas Sarkozy. O seu último cartoon fez-se de uma figura amarela, com os olhos esbugalhados e desencontrados, vestido como um guerrilheiro e que atentava, perante a verdade que o titulava, “Ainda não houve atentados em França”: “Esperem, temos até finais de Janeiro para dar os votos de ano novo. ” Acreditava que todas as religiões, e as respectivas piadas sobre as mesmas, devem ser banalizadas. HonoréPhilippe Honoré tinha 73 anos e era conhecido pelo seu apelido. Era seu o último cartoon que o Charlie Hebdo partilhou na sua conta de Twitter antes do ataque dos homens armados à redacção do jornal satírico. Era o menos conhecido dos cinco desenhadores de imprensa vitimados e foi encontrado com vida, mas a gravidade dos seus ferimentos acabou por causar a sua morte. Um “artista imenso”, como titula a revista Paris Match, que trabalhou com o Le Monde, o Libération, a revista Les Inrockuptibles ou o Hara Kiri que viria a dar lugar ao Charlie Hebdo. Autodidacta, publicou pela primeira vez aos 16 anos, sendo seus os traços a preto e branco que criavam ambientes sombrios e dichotes como aquele com que se despediu: o líder do autoproclamado Estado Islâmico, o iraquiano Abu Baqr al-Baghdadi, e a sua mensagem de ano novo em que deseja “especialmente muita saúde”. Um “enraivecido, mas um enraivecido muito polido e doce” nas palavras do desenhador Plantu. Estava no Charlie desde 1992 e o seu maior prazer era “provocar prazer intelectual nas pessoas que procuram soluções". "E um prazer visual, porque tento ao máximo realizar uma verdadeira imagem que viva por si só, sem texto. ”Franck BrinsolaroFranck Brinsolaro, de 49 anos, era o polícia encarregado da protecção do director e cartoonista Charb. Estava sentado na redacção quando os terroristas dispararam contra os cartoonistas e os jornalistas. Não teve tempo de reagir. Pertencia há muitos anos ao Serviço de Protecção de Altas Personalidades. Era casado com Ingrid Brinsolaro, jornalista editora do L'Eveil Normand, jornal da Normandia, onde tinha residência. Deixa dois filhos. Ahmed MerabetFoi o polícia executado na rua. O segundo polícia a morrer. Ahmed Merabet, muçulmano de origem tunisina, tinha 42 anos. Era casado e vivia em Paris. Estava a patrulhar o 11. º bairro, onde fica o Charlie Hebdo, quando tudo aconteceu. Acorreu ao local e foi apanhado pelos terroristas. É o homem que vemos, num vídeo amador, já deitado no chão a pedir para não dispararem contra si. É atingido à queima-roupa. Michel RenaudO fundador do Festival de Cadernos de Viagem de Clermont-Ferrand estava na reunião de redacção do Charlie Hebdo por acaso. Não pertencia ao jornal e tinha sido convidado para estar naquele dia porque precisava de devolver a Cabu os desenhos que este lhe tinha dado para a última edição do festival, em Novembro passado. Michel Renaud tinha 69 anos e tinha sido jornalista na Europe 1 e no Le Figaro. Em 1982, aos 37 anos, mudou de profissão ao aceitar um convite para ser director de comunicação na Câmara de Clermont-Ferrand. Reformou-se em 2010 e, conta o Le Monde, sendo um “viajante insaciável”, dois dias depois embarca com a mulher e o filho numa viagem de um ano pela Ásia Central. Gérard Gaillard, co-organizador do festival de Clermont-Ferrand, estava também na reunião, mas deitou-se no chão na altura em que os terroristas dispararam e salvou-se. Elsa CayatA psicanalista Elsa Cayat foi a única mulher vítima do atentado contra o Charlie Hebdo, onde escrevia, duas vezes por mês, uma crónica chamada O Divã de Charlie. É também autora dos livros Un homme+Une femme=Quoi? sobre as relações entre os dois sexos, e Le désir et la putain, com Antonio Fischetti. Mustapha OurradNascido na Cabília, Argélia, Mustapha Ourrad era copydesk no Charlie Hebdo, depois de ter trabalhado numa editora e noutros jornais. Ficou órfão cedo e viajou para França quando tinha 20 anos, numa viagem paga com o dinheiro reunido pelos amigos. O Le Monde descreve-o como autodidacta e também como um “homem discreto que impressionava os amigos pela sua cultura, nomeadamente no que dizia respeito aos filósofos, e a Nietzsche em particular”. Bernard MarisChamava-se Tio Bernard a coluna que o jornalista e economista Bernard Maris escrevia todas as semanas no Charlie Hebdo. Para além desta colaboração, Maris era também membro do conselho geral do Banco de França e professor na Universidade de Paris-VIII, depois de ter passado pela Universidade do Iowa, nos Estados Unidos e pelo banco central do Peru. Figura habitual na televisão, participava em debates sobre questões económicas e era conhecido pelas suas posições antiglobalização. Maris era também autor de um livro sobre o economista John Maynard Keynes. Em 2002 tinha sido candidato nas legislativas pelo partido Os Verdes. Frédéric BoisseauEstava na recepção do Charlie Hebdo quando os terroristas entraram. Terão disparado imediatamente contra si antes de subirem à recepção onde estava a acontecer a reunião semanal do jornal. Era ali que trabalhava há 15 anos, responsabilizando-se pela manutenção do edifício. Tinha 42 anos. Era casado e pai de duas crianças de 10 e 12 anos. Notícia corrigida às 15h21
REFERÊNCIAS:
Wolinski, Cabu, Charb, Tignous: mortes choradas com lápis que sangram
Entre as vítimas do ataque ao Charlie Hebdo estão "referências extraordinárias" do cartoon político. "Tiros disparados no coração de uma tradição muito importante, absolutamente libertina", diz João Paulo Cotrim. (...)

Wolinski, Cabu, Charb, Tignous: mortes choradas com lápis que sangram
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre as vítimas do ataque ao Charlie Hebdo estão "referências extraordinárias" do cartoon político. "Tiros disparados no coração de uma tradição muito importante, absolutamente libertina", diz João Paulo Cotrim.
TEXTO: Wolinski, Cabu, Tignous, Charb. Quatro das doze vítimas mortais do ataque à redacção do semanário Charlie Hebdo eram desenhadores de imprensa. Importantes cartoonistas, "a diferença é que nós temos a obrigação de fazer rir e os jornalistas não", como disse Georges Wolinski ao PÚBLICO em 2009. Num jornal satírico que "é uma grande referência para todo um conjunto de artistas internacionais", diz Pedro Moura, crítico de BD, estes foram "tiros disparados no coração de uma tradição muito importante por ser absolutamente libertina", completa o editor João Paulo Cotrim. "Não conheciam nem deus nem mestres", continua o antigo director da Bedeteca de Lisboa, "e isso é um oxigénio importantíssimo". A morte destes quatro cartoonistas – o director do jornal satírico, Stephane Charbonnier (ou Charb), e alguns dos seus fundadores e dos nomes mais importantes do cartoon político como Georges Wolinski, Jean Cabut (que assinava como Cabu) e Bernard Velhac (Tignous) – está a ser chorada com lápis que sangram. Ilustradores e desenhadores de todo o mundo como Zep ou Plantu partilham nas redes sociais a sua visão do ataque ao Charlie Hebdo e quase todos escolhem esses elementos para o lamentar. Outro símbolo do "massacre", nas palavras de Luís Humberto Marcos, director do Porto Cartoon, que teve Wolinski como presidente do seu júri na última década, é o desenho em fundo negro que proclama: Je suis Charlie. Nele, a boca de uma espingarda é estancada com um lápis. O Museu Nacional da Imprensa, organizador do Porto Cartoon, decretou quarta-feira uma semana de luto pela morte de Wolinski e seus colegas. Georges Wolinski tinha 80 anos e ganhou o Grande Prémio do importante Festival de Angoulême em 2005. "Perde-se uma voz que sempre se manifestou intranquila, um grande defensor da liberdade mais livre que soube dessacralizar alguns preconceitos", lembra Luís Humberto Marcos. Recebeu a Legião de Honra francesa apesar de considerar, como disse ao PÚBLICO em 2009, que o talento da sua profissão "é mostrar bem as diferenças entre o que os políticos dizem e o que eles fazem, entre o que parecem e o que são". Tinha como temas fétiche as mulheres e o sexo, "um humor ousado, mas sempre fino" nas palavras de Luís Humberto Marcos. Em 2014, recebeu o título de cidadão honorário do Porto Capital do Cartoon. Cabu faria 77 anos no dia 13 e afirmava-se politicamente à esquerda. Apaixonado pelo jazz – era a única música que ouvia –, era colaborador do Charlie Hebdo desde 1970. Tal como Wolinski, era um polinizador do humor, espalhando os seus desenhos por várias publicações ao longo das décadas, satíricas e generalistas, diários e revistas. Hara-Kiri Hebdo, Pilote, Le Canard Enchaîné, Le Nouvel Observateur, Paris Match, Le Monde ou Le Figaro são alguns dos títulos que acolheram desenhos de Cabu ou Wolinski. Eram, respectivamente, "o deão e o pai espiritual de muitos ilustradores e caricaturistas de hoje", como postulou quarta-feira o Le Monde. São os nomes mais conhecidos de um grupo de profissionais mortos no seu local de trabalho por homens armados. "Perdas avassaladoras no meio do cartoon", categoriza a crítica e comissária de BD Sara Figueiredo Costa, "mas sobretudo um ataque à liberdade de expressão e ao exercício livre do jornalismo". O mês de Maio de 1968 é uma data incontornável nas carreiras de Wolinski e Cabu, mas também nas das outras vítimas deste tiroteio. Há um traço geracional destes desenhadores e destas publicações "directamente ligadas à tradição libertária e ao Maio de 1968", recorda João Paulo Cotrim. Nos seus traços, liam-se ideias e ideais. Cabu estreou em 1963 uma das suas personagens mais conhecidas, Le Grand Duduche – um jovem utópico de óculos redondos, muitas vezes confundido com um alter-ego do seu autor, cuja história, à medida que entrava na década seguinte, era cada vez mais de consciencialização política, nomeadamente antimilitar. Já Wolinski, na sequência do Maio de 1968, fundou com o cartoonista Siné o jornal de intervenção L’Enragé, por exemplo. "São referências extraordinárias porque além do humor de intervenção tinham uma visão muito surrealista da vida", diz Osvaldo Macedo de Sousa, especialista em cartoon político e comissário do festival AmadoraBD. "Desde 1968, a sátira e a intervenção têm descambado para o politicamente correcto e eles nunca se dobraram. Eram pedagogos que estavam alerta e que nos punham sempre alerta. Não podemos ficar cegos e estes assassinatos são para tentar cegar-nos", frisa. Tal como Cabu, um dos pioneiros do género a que se viria chamar a reportagem em banda-desenhada e que se destacou pela cobertura do processo Ben Barka, Tignous, de 57 anos, era um apaixonado pelo noticiário, pela actualidade. Um dos seus trabalhos editados em livro é exactamente a compilação do acompanhamento diário do caso Colonna, um militante independentista corso que assassinou um prefeito (equivalente a um governador civil) da Córsega. E depois havia Charb, o director-ilustrador de 47 anos cuja rubrica fixa no Charlie Hebdo se intitulava "Charb não gosta de pessoas" e que desde 2009 dirigia o atribulado jornal. Tinha duas personagens de uso frequente: o gato Maurice e o cão Patapon, unidos pelo seu anticapitalismo e pelas piadas a puxar à escatologia. O seu traço distintivo eram as personagens de tez amarela, olhos esbugalhados e moral a condizer. "Era a alma, nunca se vergou. Independente, era um baluarte como chefe de uma linha política", recorda Macedo de Sousa, que conhecia muitos destes desenhadores. Desenhadores de imprensa, cartoonistas, autores de BD, ilustradores. Além do Charlie Hebdo, tinham outros elementos em comum. Traços próprios, específicos de cada autor, mas um ethos comunitário. Wolinski, recorda Luís Humberto Marcos, "tinha sempre uma frase oportuna para além do desenho que nos suscitava uma gargalhada". "Todos são unidos pelo estilo suportado pela rapidez, tem de ser rápido no comentário", escolhe João Paulo Cotrim. No caso de Wolinski, "é como se desenhasse as ideias. E [há] a omnipresença da palavra. Os cartoons são palavrosos, são gritos, são asneiras, e todo o desenho obedece a isso". No centro de tudo, "a figura humana, o indivíduo". Pedro Moura também identifica esse "desenho de uma linha simples" – "é quase uma assinatura caligráfica que faz o desenho". Esse é um dos papéis fundamentais destes cartoonistas, dos mais velhos e dos mais jovens, diz o crítico. O outro é o "cultivo de um determinado tipo de cartoon crítico, muito agressivo em termos políticos, económicos e que ao mesmo tempo é mal comportado – o que é necessário, muitas vezes ultrapassa o decoro burguês". O gosto, o limite. A imagem de um grande café na página de jornal que João Paulo Cotrim evoca para descrever um espaço de liberdade em que "é muito importante o lugar do humor, do riso, da liberdade de rir, mesmo que parvamente, das coisas mais importantes". Para Cotrim, essa "é outra das lições que nos deram, são mártires disso mesmo". O último cartoon de Charb, publicado na edição desta quarta-feira, fez-se de uma figura amarela, com os olhos esbugalhados e desencontrados, vestido como um guerrilheiro e que atentava, perante a verdade que o titulava – "Ainda não houve atentados em França" – "Esperem, temos até finais de Janeiro para dar os votos de Ano Novo". Em 2012, na sequência do atentado que teve como alvo a redacção do jornal, no final do ano anterior, Charb disse ao Le Monde: "Não tenho filhos, não sou casado, não tenho carro, não devo dinheiro ao banco. O que vou dizer pode parecer um pouco pomposo, mas prefiro morrer do pé do que viver de joelhos. "
REFERÊNCIAS:
Intervenção de Emergência repôs ligação da lagoa de Óbidos ao mar
Operação de emergência foi realizada pelas duas autarquias, após o fecho da aberta a 15 de Abril. (...)

Intervenção de Emergência repôs ligação da lagoa de Óbidos ao mar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Operação de emergência foi realizada pelas duas autarquias, após o fecho da aberta a 15 de Abril.
TEXTO: A ligação da lagoa de Óbidos ao mar, fechada há uma semana devido ao assoreamento, foi reposta às 10h30 desta quinta-feira, numa intervenção de emergência efetuada pelas câmaras das Caldas da Rainha e Óbidos. "O pico da maré aconteceu às seis da manhã e pensávamos que às 9h a água da lagoa já tivesse força para empurrar sedimentos e abrir o canal, mas, perante a força do mar, houve necessidade de atrasar hora e meia a abertura do canal", explicou à agência Lusa o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques. O fecho da ligação da lagoa ao mar, a denominada "aberta" da Foz do Arelho, aconteceu a 15 de Abril devido ao elevado assoreamento que forma bancos de areia e impede a entrada de água do Atlântico. Sem água do mar a lagoa perde oxigenação, colocando em risco as espécies e a subsistência de cerca de uma centena de pescadores e mariscadores que se dedicam à pesca de bivalves. Este foi o segundo fecho da aberta registado no prazo de um mês, depois de em Março a Agência Portuguesa de Ambiente (APA) ter realizado uma intervenção de emergência para repor o canal. "Devido às temperaturas mais elevadas e à informação que tínhamos de que espécies como as enguias e caranguejos começam a denotar problemas pelas falta de oxigenação, decidimos em conjunto avançar com esta intervenção", explicaram Humberto Marques e Fernando Tinta Ferreira (presidente da câmara das Caldas da Rainha), que esta manhã acompanharam os trabalhos. A abertura do canal foi feita com recurso a quatro máquinas (duas giratórias e duas pás carregadoras) que iam continuar a retirar areia até ao início da tarde , "para assegurar que a ligação não fecha" e que, até ao final de sexta-feira, continuarão no local para "retirar eventuais bancos de areia que voltem a formar-se", acrescentaram. A intervenção acontece a poucas semanas do início da empreitada de abertura e aprofundamento dos canais da zona inferior da lagoa de Óbidos, que implica a retirada de 650 mil metros cúbicos de areia de quatro canais. A obra foi adjudicada à firma Irmãos Cavaco SA, que a 11 de Abril iniciou na Foz do Arelho a montagem do estaleiro mas não iniciou ainda as dragagens, que terão uma duração de nove meses e um custo de 3. 497. 037, 77 euros. A esta obra sucederá a segunda fase das dragagens, que prevê a retirada de mais 700 mil metros cúbicos de areia das cabeceiras da lagoa, cujo concurso o secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, já afirmou que poderá ser lançado até ao final do ano. A lagoa de Óbidos é o sistema lagunar mais extenso da costa portuguesa, estendendo-se pelos concelhos das Caldas da Rainha e Óbidos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rainha
Morreu a actriz Anna Paula
Com uma carreira iniciada nos anos 1940, a actriz morreu na Casa do Artista com 87 anos. (...)

Morreu a actriz Anna Paula
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com uma carreira iniciada nos anos 1940, a actriz morreu na Casa do Artista com 87 anos.
TEXTO: A actriz Anna Paula, de 87 anos, cuja carreira passou sobretudo pela televisão, em telenovelas como Vila Faia e em filmes como O Costa d’África, morreu nesta quarta-feira de manhã na Casa do Artista, em Lisboa, indicou a instituição à agência Lusa. De acordo com a Casa do Artista, o corpo da actriz seguirá para a Basílica da Estrela, em Lisboa. Anna Paula, nome artístico de Maria Zulmira Pereira Lemos Zeiger, nasceu a 26 de Maio de 1929, em Braga. Foi actriz, professora de teatro e dramaturga. Com uma carreira premiada, iniciada nos anos 1940, teve participações na televisão, no cinema, na rádio, em dobragens e no teatro, tendo trabalhado, nomeadamente, na Companhia de Teatro Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, no Teatro Estúdio Lisboa e no Teatro Experimental do Porto. A partir de 1981 integrou o elenco fixo do Teatro Experimental de Cascais e, nessa altura, entrou na série televisiva Retalhos da Vida de Um Médico. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi professora de Interpretação da Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, e também participou nas telenovelas Cinzas, Na Paz dos Anjos, Os Lobos, Nunca Digas Adeus, Baía das Mulheres e Ninguém como Tu. No cinema, estreou-se em Sol e Toiros (1949), do realizador José Buchs, que relata a história de amor entre um toureiro e uma costureira que queria ser actriz de teatro. Neste filme participaram as fadistas Amália Rodrigues e Fernanda Baptista. Pelo seu trabalho Anna Paula foi condecorada pela Câmara Municipal de Cascais, em 1994, e recebeu o prémio de Melhor Actriz de Teatro Declamado, entregue em 1985 pela Associação dos Críticos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola mulheres corpo
Morreu Gene Wilder, o primeiro Willy Wonka do cinema
Gene Wilder, cúmplice de Mel Brooks nos seus melhores filmes e um dos actores mais populares da comédia americana dos anos 1970, morreu aos 83 anos em sua casa (...)

Morreu Gene Wilder, o primeiro Willy Wonka do cinema
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gene Wilder, cúmplice de Mel Brooks nos seus melhores filmes e um dos actores mais populares da comédia americana dos anos 1970, morreu aos 83 anos em sua casa
TEXTO: Gene Wilder, que morreu no domingo aos 83 anos em sua casa no estado americano do Connecticut, era um dos actores mais populares e mais reconhecíveis da comédia americana dos anos 1970. Foi cúmplice regular de uma das suas figuras mais importantes, Mel Brooks, a quem deve em grande parte a sua popularidade e as suas duas nomeações para os Óscares, e teve uma parceria fugaz mas de grande sucesso com outra estrela cadente da comédia americana desses anos, Richard Pryor. Wilder experimentou até por quatro vezes a realização, com níveis diferentes de sucesso e um filme que ficou na memória por razões alheias – A Mulher de Vermelho (1984), cuja banda-sonora, escrita por Stevie Wonder, incluia o mega-êxito I just called to say I love you. Se o que recordamos de Wilder são as suas comédias dirigidas por Brooks – Por Favor Não Matem as Velhinhas (1971), Balbúrdia no Oeste (1974) e Frankenstein Júnior (1974) –, o actor, nascido Jerome Silberman em Milwaukee em 1933, tinha começado no teatro. Estudou primeiro com Herbert Berghof e depois no célebre Actors Studio, e representou Brecht, Shakespeare e Arthur Miller. (O seu encontro com Mel Brooks, aliás, derivou da sua contracena na Mãe Coragem de Brecht com a sua esposa, a actriz Anne Bancroft. ) Estreou-se no cinema com um pequeno papel secundário em Bonnie e Clyde (1967) de Arthur Penn, mas seria à comédia que ficaria indelevelmente ligado, aperfeiçoando uma imagem de homem normal ou vizinho do lado atirado para situações completamente improváveis. Primeiro, através de Brooks, com quem recebeu duas nomeações para o Óscar – melhor actor secundário, como um contabilista atraído pela Broadway, em Por Favor Não Matem as Velhinhas (que seria mais tarde transformado num musical de enorme sucesso sob o seu título original, Os Produtores); depois como co-argumentista da paródia aos filmes de terror Frankenstein Júnior, onde interpretava igualmente o papel do criador do monstro. Seguir-se-ia um dos sketches de O ABC do Amor, de Woody Allen (1972), no papel de um médico apaixonado por uma ovelha. Finalmente, Wilder fez uma dupla que parecia imparável com Richard Pryor, um dos mais controversos e aclamados comediantes stand-up americanos da década (e co-argumentista de Balbúrdia no Oeste, onde deveria ter interpretado um dos papéis principais). Filmaram juntos O Expresso de Chicago, de Arthur Hiller (1976), e Dois Amigos em Apuros, de Sidney Poitier (1980), dois grandes êxitos de bilheteira, mas os problemas de drogas e de saúde de Pryor impediram a continuação da dupla, com duas tentativas posteriores, em Cegos, Surdos e Loucos (1989) e Outra Vez Tu? (1991), a encontrarem o fracasso. Foi também na comédia que Wilder passou para o outro lado da câmara dirigindo quatro longas-metragens no género, As Aventuras do Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes (1975), O Maior Amante do Mundo (1977), A Mulher de Vermelho (1984) e Lua-de-Mel com Fantasmas (1986). Infelizmente, nenhuma delas é hoje recordada, à excepção de A Mulher de Vermelho, remake americano da comédia francesa As Belas Mulheres dos Outros cujo sucesso comercial foi transportado pela banda-sonora escrita por Stevie Wonder. Mas um dos papéis pelos quais é mais recordado só o seria a posteriori. Foi Wilder quem interpretou pela primeira vez no cinema Willy Wonka, o bizarro mestre chocolateiro criado pelo escritor Roald Dahl, em A Maravilhosa História de Charlie, de Mel Stuart (1971). Longe de ser um êxito aquando da estreia, o filme tornar-se-ia um clássico através da televisão e do vídeo, e a versão de Tim Burton com Johnny Depp (Charlie e a Fábrica de Chocolate) foi recebida com protestos de muita gente para quem Wilder era o único Willy Wonka possível. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Gene Wilder praticamente abandonou o cinema a partir de meados dos anos 1980 (voltando esporadicamente nos anos 1990 e terminando com duas participações especiais na série Will & Grace em 2003 que lhe valeram um Emmy), mas isso não se deveu ao insucesso de Lua-de-Mel com Fantasmas nem a qualquer tipo de frustração com Hollywood. O seu “desaparecimento” deveu-se à doença de Gilda Radner, a sua terceira mulher, contemporânea de John Belushi e Bill Murray no elenco original do célebre programa Saturday Night Live. Conheceram-se em 1982 nas rodagens de O Casal Trapalhão (uma paródia de Intriga Internacional pensada originalmente para Wilder e Pryor), e casaram-se em 1984, mas a actriz foi diagnosticada com cancro do ovário em 1986 e Wilder parou a carreira para tomar conta da esposa. Devastado pela sua morte em Maio de 1989, o actor dedicou-se à recolha de fundos e ao activismo contra a doença. Durante a década de 2000 virou-se para a escrita, publicando uma autobiografia, bem como três romances e uma colecção de contos. Diagnosticado com linfoma não-Hodgkin em 1999, do qual recuperaria por completo, Wilder morreu de complicações da doença de Alzheimer na sua casa de Stamford a 28 de Agosto. Nas palavras do sobrinho, Jordan Walker-Pearlman, que anunciou a morte esta segunda-feira, o actor, casado desde 1999 com Karen Webb Boyer e sem filhos de nenhum dos quatro casamentos, mantinha a capacidade de raciocinar e de reconhecer os familiares.
REFERÊNCIAS:
Morreu Edward Albee, autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
Um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos EUA, era reconhecido pelos diálogos inflamados e abordagem mordaz. Morreu na sexta-feira, aos 88 anos. (...)

Morreu Edward Albee, autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos EUA, era reconhecido pelos diálogos inflamados e abordagem mordaz. Morreu na sexta-feira, aos 88 anos.
TEXTO: O dramaturgo norte-americano Edward Albee morreu na sexta-feira, aos 88 anos, em Montauk, no estado de Nova Iorque. A morte do autor da peça Quem Tem Medo de Virginia Woolf? foi confirmada pelo seu assistente ao New York Times e ocorreu na sequência de uma curta doença. "A todos os que me tornaram tão maravilhoso, tão excitante e tão pleno estar vivo, os meus agradecimentos e todo o meu amor", escreveu o dramaturgo há anos, antes de ser submetido a uma complexa cirurgia, numa nota que desejava que fosse divulgada por ocasião da sua morte. Edward Albee era um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos Estados Unidos, reconhecido pelos seus diálogos inflamados e pela abordagem mordaz. Iniciou a sua carreira no teatro no final dos anos 1950 e recebeu o prémio Pulitzer por três vezes - nenhuma delas pela sua obra mais conhecida, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de 1962, que depois de ser envolta em controvérsia foi adaptada ao cinema em 1966 e valeu a Elizabeth Taylor, que nele contracenava com o seu eterno par Richard Burton, um Óscar. Com os proventos da peça, Albee desenvolveu várias iniciativas de apoio a novos autores norte-americanos e, em 1967, criou uma fundação para receber escritores e artistas plásticos por períodos curtos, em Long Island. É também autor de Tudo no Jardim, A História do Jardim Zoológico, A Morte de Bessie Smith ou Caixa de Areia - editadas em Portugal na colecção Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos. Um Equilíbrio Delicado, de 1966 (que estreou em Lisboa no ano seguinte, com Varela Silva e Amélia Rey Colaço), e Paisagem Marinha, de 1975 (inédita em Portugal), receberam o prémio Pulitzer de melhor peça. Nos anos 1980, o autor pareceu perder o favor do público apesar de The Lady from Dubuque (1980), mas Três Mulheres Altas, de 1994 (montada no São Luiz dois anos depois), iniciou uma nova fase de reconhecimento e deu-lhe o seu terceiro Pulitzer. A Cabra, ou Quem é Sílvia?, de 2002, mostrou um Albee ainda muito capaz de surpreender a plateia. Na peça, a personagem principal apaixona-se por uma cabra - o texto estreou-se em Portugal em 2004, com encenação de Álvaro Correia, na Comuna. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos EUA, em 2005, Quem Tem Medo de Virginia Woolf? voltou à Broadway e, um ano depois, a Londres, sob o olhar atento de Albee, com Kathleen Turner e Bill Irwin nos principais papéis.
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Epístolas segundo os amantes
Neste romance epistolar entre dois amantes separados pela distância e pelo tempo, esboça-se a cartografia da nossa solidão. (...)

Epístolas segundo os amantes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Neste romance epistolar entre dois amantes separados pela distância e pelo tempo, esboça-se a cartografia da nossa solidão.
TEXTO: Mikhail Chichkin (n. 1961) recebeu já os três maiores prémios literários russos e é considerado por muitos estudiosos um dos maiores romancistas vivos do país. Vive em Zurique desde 1995, e é um feroz crítico do governo de Putin: há alguns anos recusou-se a representar a Rússia numa feira do livro em Nova Iorque pois, como disse numa carta aberta, não queria estar presente em nome de um país onde “o poder foi tomado por um regime corrupto e criminoso, onde as eleições são uma mentira, os tribunais defendem as autoridades, e a televisão é uma prostituta”. Até agora os seus livros estavam inéditos por cá. Cartas de Amor e de Guerra é um romance epistolar entre dois amantes (Vladimir e Aleksandra) separados no espaço (ele, soldado numa guerra na China, ela a trabalhar em São Petersburgo), mas também no tempo (ela está algumas décadas adiante) — esta é uma das fascinantes singularidades deste romance (um pouco na linha do pós-modernismo russo de autores como Viktor Pelevin ou mesmo de Vladimir Sorokin). Aqui se trocam cartas de amor em que ambos evocam lembranças de sonhos e de pesadelos, da infância, dos primeiros encontros entre os dois, das famílias, do trabalho quotidiano, das férias na datcha (casa de campo), de rios e de cidades. É uma narrativa labiríntica que se vai construindo num vaivém contínuo de recordações de ambos os corpos, de memórias dos sentidos, sobretudo do tacto e do olfacto. “E os cheiros do jardim! Tão densos, tão fortes, como partículas que saturassem o ar. Era deitá-los numa chávena em vez de chá. ”Autoria:Mikhail Chichkin (Trad. António Pescada) Ítaca Ler ExcertoSão cartas ternas e por vezes brutais (sobretudo as dele, que combate “com umas cuecas do Estado que picam”) que aos poucos, e de uma maneira quase subtil, se vão ligando num passado muito brevemente vivido pelos dois. As missivas dele, apesar de tudo, são mais viradas para descrições e considerações sobre o atoleiro (soldados, sangue, doenças) em que está enfiado no presente em que as escreve, mas também mais filosóficas: “Precisava de vir até aqui para compreender coisas simples. ” O soldado, culto e literato, faz por vezes referências (nem sempre veladas) a obras ou autores como Hamlet, Stendhal ou o Evangelho Segundo João. As suas considerações, porque muitas vezes extravasam as próprias missivas, são sobretudo um piscar de olho ao leitor. “Pensei que todos os grandes livros e os grandes quadros não são sobre o amor. Apenas fingem ser sobre o amor, para que seja interessante lê-los. Mas na realidade são sobre a morte. ” Ou ainda: “Para nos tornarmos autênticos é necessário existir não na nossa consciência, que é tão insegura (…) mas na consciência de outra pessoa. E não simplesmente de uma pessoa qualquer, mas da pessoa para quem é importante saber que nós existimos. ”As cartas deste romance de Chichkin parecem convergir numa descrição do mundo, como se nelas ele se reflectisse inteiro, e isto muito à maneira das histórias do reino fantástico, medieval e mitológico, do Prestes João (“senhor dos senhores, rei dos reis, soberano dos soberanos”) que é, aliás, referido nas mesmas. Num périplo com momentos bastante poéticos, a escrita de Chichkin insinua e esconde, exagera e retrai-se, mostra-se para logo depois mudar de registo. “Em comparação com a nossa felicidade, a morte parece uma ninharia. ” O autor consegue aguentar com mão de mestre uma narrativa que por vezes se aproxima perigosamente do abismo, de onde ele a salva sempre, sobretudo nos momentos em que a realidade parece começar a confundir-nos. “O que é real é aquela primeira vez em que eu estive no teu apartamento, fui à casa de banho para lavar as mãos, vi ali a tua esponja e senti intensamente que ela tocava no teu seio. ” Cartas de Amor e de Guerra é uma espécie de esboço da cartografia da nossa solidão, em todos os tempos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra campo espécie prostituta
Um pouco de todas as artes no Serralves em Festa
Festival multidisciplinar decorre no Porto no fim-de-semana de 30 e 31 de Maio. (...)

Um pouco de todas as artes no Serralves em Festa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.18
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Festival multidisciplinar decorre no Porto no fim-de-semana de 30 e 31 de Maio.
TEXTO: “Um entre muitos” é o tema da 12ª edição do Serralves em Festa que decorre no Porto, nos dias 30 e 31 de Maio. Das 8h da manhã de sábado até à meia-noite de domingo, há 40 horas non-stop de espectáculos. Na música, destaque para o pós-punk dos The Pop Group e o jazz dos norte-americanos The Pyramids que, depois de terem estado como que desaparecidos, lançaram novos álbuns recentemente. A coreógrafa francesa Emanuelle Huyhn recria a peça de Iannis Xenakis, Persephassa, agora com bailarinos portugueses; e a norte-americana DD Dorvillier transmite o seu arquivo coreográfico a bailarinos estrangeiros e locais, na criação A Catalogue of Steps. A suíça Steffi Weismann apresenta três performances em que cruza a arte sonora com a linguagem. E, no cinema, é reposto Adeus, Pai (1996), de Luís Filipe Rocha, um raro sucesso de público no cinema português, sobre a difícil relação de um homem ocupado pelo trabalho com o seu filho. No Serralves em Festa 2015, não vão faltar programas para preencher mais um fim-de-semana cultural aberto aos públicos mais diversos. Haverá também circo contemporâneo: a companhia francesa Les Philébulistes estreia em Portugal Hallali ou la 5e. de Beethov, um espectáculo que envolve seis trapezistas e uma estrutura gigante que permite coordenar os movimentos aeróbicos e acrobáticos. E, para as crianças, há recitais de poesia em que Margarida Mestre, em Poemas para Bocas Pequenas, explora a vertente plástica e sensitiva dos textos. A programação do Serralves em Festa 2015 foi apresentada esta quinta-feira no Porto, e Liliana Coutinho, responsável pelo Serviço Educativo, explicou que, para além das habituais visitas guiadas, esta edição vai contar com um programa radiofónico, Rádio Já, para o qual todos poderão sugerir conteúdos, que serão transmitidos na hora, via Internet. O presidente da fundação, Luís Braga da Cruz, disse esperar que, depois do grande sucesso da edição do ano passado, que recebeu mais de 140 mil visitantes, as mentalidades de quem não visita o museu e os espaços de Serralves se alterem: “Dizem que é longe, que é caro, que não querem conhecer”. Com o argumento de que, como sempre, a entrada neste festival é gratuita, Braga da Cruz espera cativar ainda mais pessoas. Este é o “momento do ano de contacto intenso com o nosso público” — acrescentou o presidente —, e a oportunidade vai ser aproveitada para oferecer “uma programação particularmente rica e diversa”, sublinhou Suzanne Cotter, directora artística do Museu de Serralves. Para quem uma só arte não chega, existem espectáculos que unem mundos distintos. É o caso dos concertos da banda portuguesa Paus (Hélio Morais e Joaquim Albergaria), que se aliam ao trabalho em filme da britânica Jemima Stehli. Olhos e ouvidos devem estar também atentos ao encontro entre o músico Lichens e Rose Kallal, artista visual e sonora canadiana. Destaque ainda para os projectos de performance A String Section, da companhia inglesa Reckless Sleepers, com visões perturbadoras e insólitas de cinco mulheres vestidas de negro com serrotes na mão. Mas não é só em Serralves que vai haver festa. Como já tem vindo a acontecer, vários projectos vão ser apresentados na Baixa do Porto. Há espectáculos de dança contemporânea e mesmo aqueles que não são profissionais são convidados a participar em workshops vocais e performances ao vivo. Nomes nacionais e internacionais — do Senegal à Indonésia — vão estar presentes nesta edição, e várias instituições ligadas à arte e à cultura continuam a ser parceiras do evento. Estão reunidos os elementos para que o último fim-de-semana de Maio consiga cativar pessoas de todas as idades e com interesses muito distintos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura filho negro homem mulheres circo
No último dia a ModaLisboa teve lágrimas
Na 44.ª ModaLisboa, que terminou neste domingo no Páteo da Galé, vimos passar os temas da moda actual e as tendências – o pêlo, as décadas passadas e as cores do Inverno. (...)

No último dia a ModaLisboa teve lágrimas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na 44.ª ModaLisboa, que terminou neste domingo no Páteo da Galé, vimos passar os temas da moda actual e as tendências – o pêlo, as décadas passadas e as cores do Inverno.
TEXTO: Não foi a primeira vez que Filipe Faísca levantou uma sala com uma colecção emotiva – mas domingo as lágrimas misturaram-se com as palmas porque a parceria do designer com a Fundação Rui Osório de Castro, que se dedica às crianças com doenças oncológicas, não só pintalgou a sua colecção para o próximo Inverno como vestiu essas mesmas crianças na passerelle. Que dimensão acrescentam ao pêlo laranja e azul eléctrico e aos vestidos baby doll? É moda, roupa ou mais do que isso? “É moda”, responde peremptório o criador. “A moda é transversal a tudo. É vida, é pele. ”A criança dentro de si, “uma fera que adora papel e tesoura”, ficou “grata” pelo desafio que lhe foi feito e que levou a que 30% da venda destas peças revertam a favor da fundação. As outras crianças, as apoiadas pela fundação, fizeram workshops com Faísca, desenharam e esses corações, rostos pueris e borboletas foram para as camisas-vestido, para as calças à boca de sino, para a passerelle. E não só – Filipe Faísca trabalhava para estas colecções as suas habituais mulheres sensuais e “perversas”, ou ícones como Jane Birkin e o seu vestido que dizia “Darling” (o nome da colecção). Mas o processo criativo foi inundado pela experiência. Misturou com a seda, com o pêlo de carneiro e com o linho o neoprene do vestido princesa que encerrou o desfile aberto por Sofia Aparício. “Neste processo, entrou a mulher girly e o seu vestidinho. E o neoprene é um material de criança, é um processo rápido. ” Aplausos, lágrimas, de diferentes origens das de 2007 quando apresentou Portugal, Portugal no Museu de História Natural, mas um desfile que, para o criador, continua a ser “moda, moda”. O Inverno 2016, segundo a passerelle da ModaLisboa, é tendências e cores (mostarda, verde, negros, azuis fortes, tons pele), é silhuetas anos 1970, mas também 1880 – Nair Xavier, saída do Sangue Novo para a plataforma LAB, foi ao romance do poeta John Keats com Fanny Brawne visto por Jane Campion no filme Bright Star para uma colecção masculina que também teria agradado à geração Beat dos anos 1950. Na Casa da Balança, mais uma vez beijada pelo sol e pelos frequentadores da renovada Ribeira das Naus, houve calças pinçadas, sem cós, elementos das colunas da Antiguidade Clássica nas camisolas, verdes, bordeauxs, xadrez. A ela juntar-se-ia ao fim da tarde Nuno Gama, mais testosterona versão Camões na colecção Lusíadas I, veludos, lãs, pele e caxemiras e o inevitável pêlo a convidar para mais um Inverno frio na moda masculina. Essa é, aliás, o último reduto da moda actual para a consultora de tendências Li Edelkoort. Estamos na ModaLisboa, vemos as colecções passar, os convidados a observar, os designers e manequins a trabalhar. Mas vemos também os temas da moda actual, com a moda portuguesa em fundo, desfilar também. A holandesa Li Edelkoort publicou há duas semanas o manifesto Anti_Fashion que decreta a implosão da indústria da moda, que critica a formação de designers baseada no ego – os “mini Karls”, aludindo ao kaiser da Chanel Karl Lagerfeld -, os desfiles curtos e pouco emotivos, a perda dos saberes artesanais. As cenas dos próximos capítulos, no dia em que se apresentou também na plataforma de micromarcas LAB o projecto AwayToMars, que com peças básicas mas com design assertivo quer democratizar a autoria através de um site colaborativo, para Edelkoort resumem-se numa palavra: roupa. E não moda. “Os consumidores de hoje e de amanhã vão escolher por si, criando e desenhando os seus próprios guarda-roupas”, lê-se no manifesto da holandesa que dirige um dos mais importantes gabinetes de tendências do mundo, a Trend Union. “As roupas”, na sua encarnação mais utilitária e socialmente consciente – feitas pelos consumidores, encontradas, trocadas, emprestadas -, “vão dominar as tendências no futuro. Portanto, celebremos as roupas”. As roupas e a moda de Catarina Sequeira, aliás Saymyname, tentam essa ligação ao tecido social tendo como ponto de partida a tese popular dos Seis Graus de Separação (que indica que todos estamos interligados num máximo de seis passos ou pessoas que nos conhecem ou que conhecem quem nos conheça). Vai à natureza encontrar uma rede para essa ligação e coloca-a nas peças de lã e nas mousselines em rosas fortes, pretos e cinzentos. Domingo, último dia da 44. ª ModaLisboa, apresentaram-se também Lidija Kolovrat e o seu Micro-Macro, a angolana Nadir Tati estreou-se numa passerelle portuguesa e Nuno Gama teve uma das maiores enchentes da edição. Os seus Lusíadas I acrescentaram a dimensão de espectáculo à noite, com aves de rapina a acompanhar os manequins na passerelle enquanto desfilavam com estandartes com a cruz de Cristo, chapéus de inspiração quinhentista e peças de design contemporâneo numa encenação que terminou com Amália e o hino português a fazer erguer a sala para aplausos emocionados.
REFERÊNCIAS: