Clayton devia ter morrido por injecção letal e acabou “torturado até à morte”
A forma mais indolor e asséptica de matar dá cada vez menos garantias de uma morte sem “punição cruel e pouco comum” aos defensores da pena capital. Resta à Justiça dos EUA decidir se intervém. (...)

Clayton devia ter morrido por injecção letal e acabou “torturado até à morte”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A forma mais indolor e asséptica de matar dá cada vez menos garantias de uma morte sem “punição cruel e pouco comum” aos defensores da pena capital. Resta à Justiça dos EUA decidir se intervém.
TEXTO: Já todos vimos no cinema ou numa série de advogados aquele momento em que os guardas prisionais se apressam a fechar a cortina e a assistência percebe que algo está a correr mal numa execução. Foi o que aconteceu na terça-feira, em Huntsville, uma pequena cidade do Oklahoma. Clayton Lockett tinha sido condenado a morrer por injecção letal, o método usado preferencialmente nos 32 estados norte-americanos que mantêm a pena capital por ser considerado o mais indolor e asséptico para matar. Há muito que essa crença está posta em causa, numa polémica que cresceu à medida que se foi tornando mais difícil encontrar no mercado um dos químicos do cocktail triplo mais usado. Eram 18h23 (início da madrugada em Portugal) quando foi injectado a Clayton o sedativo que o deveria ter adormecido. Tratando-se um fármaco, o midazolam, uma benzodiazepina muito pouco testada — e cuja origem o estado insistira em manter secreta —, as testemunhas foram avisadas de que demoraria mais do que o habitual a fazer efeito. Dez minutos depois, foi considerado inconsciente, seguindo-se a administração dos restantes dois fármacos. Passados três minutos, Clayton começou a gemer e a contorcer-se, depois a gritar e a tentar libertar-se e levantar-se da maca. Eram 18h39 quando as cortinas se fecharam. Nos minutos que se seguiram nem os jornalistas nem os advogados conseguiam perceber o que se estava a passar. Depois, o director do Departamento Correccional, Robert Patton, veio explicar que tinha havido um problema — a veia na qual os químicos tinham sido injectados “rebentara”. A segunda execução da noite, a de Charles Warner, já não ia acontecer. Mas e Clayton? Clayton morreu, quando Patton já tinha notificado o procurador-geral do adiamento da execução. Tinham passado 43 minutos desde o início do processo, quando sofreu o que “parece ter sido um devastador ataque cardíaco”. “Foi terrível, difícil de presenciar”, diz David Autry, um dos advogados. Clayton, acusa Madeline Cohen, outra advogada, foi “torturado até à morte”. Crueldade e ConstituiçãoA batalha dos abolicionistas contra a injecção letal concentra-se em provar que não impede uma “punição cruel e pouco comum”, o que a Constituição proíbe. Em 2007, a questão chegou ao Supremo Tribunal, mas a injecção letal sobreviveu. Na altura, todos os estados menos um recorriam ao mesmo cocktail de químicos: tiopentato de sódio para anestesiar e colocar o condenado inconsciente; brometo de pancurónio para paralisar os músculos; e cloreto de potássio para induzir paragem cardíaca e provocar a morte. Em 2010, os estados que praticam a pena de morte começaram a ficar sem doses de tiopentato de sódio e a única empresa com aprovação da agência federal que faz o controlo dos medicamentos (FDA) para fabricar o produto anunciou ruptura de stock. Em Janeiro de 2011, fez saber que cessara a produção. A maioria dos estados passou então a recorrer ao pentobarbital, um fármaco usado para praticar a eutanásia em animais e uma solução que durou pouco: o laboratório dinamarquês Lundbeck, o único na Europa que aceitava exportar o produto para os EUA, decidiu deixar de o fazer. Começou a era do segredo. Sabe-se que os estados recorrem a diversos produtos e a diferentes empresas que preparam fármacos que não foram aprovados pela FDA, laboratórios que não o são verdadeiramente e que vendem anestesias que não passam por um controlo nacional. Ao longo do ano passado, vários condenados foram a tribunal para tentar descobrir a origem dos fármacos com que as autoridades prisionais tencionavam executá-los. A falta de medicamentos foi um dos motivos para a diminuição no número de execuções em EUA em 2013 — 39 contra 43 nos dois anos anteriores. Alguns, como o Texas, lutaram em tribunal pelo direito de continuar a executar com novos produtos; noutros, como na Carolina do Norte, passou a vigorar o que, na prática, é uma moratória. Juízes e sofrimentoResultado da falta de qualidade, nos três últimos anos, as execuções no estado que mais condenados mata, o Texas, demoraram em média o dobro do tempo do que no processo usado antes, escreve o Guardian. Clayton, de 38 anos, foi condenado à morte em 2000 pela violação e morte de uma jovem que raptara e que enterrou viva; Charles Warner por matar e violar uma menina de 11 anos. Depois de a governadora do Oklahoma, Mary Fallin, ter desafiado o painel de juízes que tinha travado temporariamente a execução de Clayton e de Charles, o tribunal acabou por negar as queixas dos condenados. No que quase pareceu uma celebração — ou, no mínimo, um desafio — o Oklahoma marcou as duas execuções para a mesma noite, algo inédito desde 1937. “Um estado infligir um grau tão grande de sofrimento é a definição exacta de punição cruel e pouco comum”, comentou Erwin Chemerinsky, reitor da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia. “Os tribunais têm de intervir e impedir execuções com protocolos não testados que têm o potencial para infligir um sofrimento tão terrível. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Quase um quarto dos portugueses continua sem conseguir pagar despesas básicas
Três anos de troika trouxeram de volta a marmita, deram impulso às promoções e houve quem regressasse aos campos para cultivar a própria comida. Com um apertado orçamento familiar, os consumidores jogaram à defesa. (...)

Quase um quarto dos portugueses continua sem conseguir pagar despesas básicas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2014-05-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Três anos de troika trouxeram de volta a marmita, deram impulso às promoções e houve quem regressasse aos campos para cultivar a própria comida. Com um apertado orçamento familiar, os consumidores jogaram à defesa.
TEXTO: O bairro é pobre. Daqueles de prédios altos brancos, a precisar de pintura. Com carros abandonados, um ar de desleixo, mas com escola básica e clube recreativo. Ouvem-se homens a conversar e, na paragem, uma fila de moradores aguarda pelo autocarro. Ao fundo da rua, há uma imensidão de terreno onde Manuel Gomes está a regar favas de mangueira em punho. Na Quinta da Princesa, no Seixal, nascem ervilhas, milho, feijão ou cana-de-açúcar, cultivados por cerca de 120 famílias, pelos cálculos da câmara municipal. Nos últimos anos, a procura por áreas para cultivo agrícola aumentou, não só aqui, como em todo o concelho. Susana Lança, responsável pelo projecto Rede de Hortas Urbanas do Município do Seixal, explica este fenómeno pelas dificuldades económicas, motivadas pela crise. “As famílias estão no limite em termos de esforço financeiro e a possibilidade de terem acesso a um espaço para cultivarem os seus próprios alimentos é uma solução cada vez mais afirmada pelos munícipes”, adianta. Manuel Gomes, 51 anos, fez da sua horta um lugar de terapia. Tem sido a sua pequena mercearia de bairro nos últimos anos, sobretudo, desde que ficou sem emprego na construção civil. “Ajuda muito a pôr comida na mesa”, vai contando, enquanto rega. Na Quinta da Princesa, a procura é tal que o bairro se organizou com a ajuda da câmara para criar a uma cooperativa agrícola e conseguir organizar melhor os nove hectares já cultivados. Mariano Dias e Domingos Borges, membros da comissão instaladora, garantem que as pessoas estão a cultivar mais. Por mês, Domingos consegue levar para casa, pelo menos, um saco com legumes. “Ontem precisávamos de cebola para o jantar e eu vim aqui buscar”, exemplifica este trabalhador da construção civil, no desemprego. Aqui a crise sempre foi uma presença constante. Mas nos últimos três anos, marcados pela presença da troika do Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, a sombra ficou maior. Em Portugal, o desemprego de longa duração já afecta meio milhão de pessoas. A taxa de emprego está em níveis de 1980 (51, 1%) e, em três anos de assistência financeira, a economia destruiu 332 mil postos de trabalho. O contexto económico e as medidas de austeridade fizeram aumentar a percentagem de pessoas que admite não ter capacidade financeira para cobrir as despesas básicas. De acordo com a empresa de estudos de mercado Kantar Worldpanel, em 2010, 19, 2% dos consumidores diziam sofrer com o impacto da crise. Em 2011, eram já 22% os que não tinham dinheiro para as necessidades básicas. Em 2012, chegaram aos 27%. E aos 24, 7% no ano seguinte. Classe média ajusta gastosNem todos reagiram da mesma forma à austeridade. Sofreram mais ou menos consoante a sua situação social e profissional. No início, a classe média e, sobretudo, quem conseguiu manter o emprego, ajustou. "Fizeram cortes mais fáceis e e óbvios: reduziram bens supérfluos, no excesso na roupa, nos almoços fora, nas viagens”, ilustra Clara Cardoso, sócia da Return on Ideias, consultora que, juntamente com a Ipsos Apeme e a Augusto Mateus e Associados, analisa de forma permanente o comportamento dos consumidores. Os portugueses jogaram à defesa, mostraram mais ponderação, mas, em 2010, ainda “acreditavam que a crise passaria sem que nada de radical lhes fosse exigido. Enganaram-se”, continua a especialista, que exclui desta análise os que já sentiam na pele os impactos devido, sobretudo, ao desemprego. A prudência reflectiu-se no maior planeamento das compras ou na redução de visitas aos centros comerciais. Mas foi a partir do momento em que a troika e o Governo assinaram o memorando de entendimento, em Maio de 2011, que se sentiu “com grande profundidade o impacto da crise”, diz, por seu lado, José António Rousseau, professor e consultor. “Fundamentalmente pela questão psicológica, porque a redução dos rendimentos não foi de imediato, foi acontecendo”, sustenta. Ainda com Sócrates na liderança, o ano começou com um aumento da taxa normal de IVA de 21 para 23% que teve um efeito directo na factura do supermercado: mais 38 euros, pelas contas feitas, na altura, pela Kantar. No primeiro semestre, 47% dos portugueses não compraram uma única peça de roupa e desenharam-se três estratégias para contornar a crise: aproveitar as promoções, comprar mais marcas da distribuição e substituir um produto por outro semelhante (carne de vaca por frango, por exemplo). Em 2012, a alteração na lista de bens com IVA – um compromisso do Governo de Passos Coelho com a troika - provocou uma das maiores mudanças: a restauração passou a ter de aplicar um imposto de 23%, em vez de 13%. E, por isso, levar comida para o trabalho passou a ser uma estratégia seguida por 40% dos portugueses (29% em 2009). O consumo de produtos frescos começa a aumentar. No carrinho há mais azeite, açúcar, carne ou peixe, mas nas lojas de electrodomésticos, móveis ou roupa, as vendas caíram na ordem dos 4, 2%, como reportava a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) no segundo trimestre de 2012. O frigorífico dos portugueses regressava aos anos 1980, com comida mais tradicional, menos sumos e refrigerantes ou lácteos. As vendas de Nestum aumentaram 7% em seis meses, num sinal de poupança forçada para muitos. Viciados em descontosNos supermercados, as promoções estão ao rubro. A utilização de cupões de desconto dispara 40%. E o Pingo Doce pára o país no 1º de Maio, com 50% de desconto em todos os produtos (em compras superiores a 100 euros e excluindo electrodomésticos). Foi, como afirmou Ana Isabel Trigo de Morais, directora geral da APED, “o ano de todas as promoções” e mudou a forma como os maiores operadores do retalho alimentar lutam pelos clientes. Os holofotes viraram-se para o preço e, diz, Clara Cardoso, instalou-se “um novo modo de estar”: “uma sociedade de descontos, atenta, cheia de informação”. A troika deixa o país “viciado em descontos”, garante, por seu lado, José António Rousseau. Andreia Moreira, professora desempregada de Vila Nova de Gaia, passou a encarar uma ida às compras como uma função estratégica para poupar. Com tempo livre, em 2012 deslocava-se três vezes por semana ao supermercado para pesquisar preços. Juntava vales de desconto a promoções para conseguir os melhores valores. E, à medida que iam sendo anunciadas medidas de austeridade, sentia um impulso para travar os gastos. “Há como que uma retracção subconsciente. As compras passam a ser bem planeadas. Nada de desperdícios”, confessa. Hoje, Andreia já não tem tanto tempo para delinear estratégias. A família cresceu (foi novamente mãe) mas há três coisas que não vai voltar a fazer: “Comprar por impulso, fazer compras sem lista e sem analisar as promoções”. A vaga de descontos, em 2013, fez com que a quota de mercado das marcas da distribuição caísse pela primeira vez, numa inversão da tendência de crescimento. As rivais marcas detidas pela indústria alimentar começaram a ser vendidas com preços atractivos, por vezes, com diferenças mínimas, levando o consumidor a colocar no carrinho produtos que, até então, eram tradicionalmente mais caros. Os primeiros meses do ano passado foram duros. Reintroduziu-se, por exemplo, a sobretaxa de 3, 5% sobre os rendimentos acima do salário mínimo. Os cortes nos subsídios de férias dos funcionários públicos e reformados mantinham-se mas a medida seria chumbada, em Abril, pelo Tribunal Constitucional. Os portugueses estavam “em modo de sobrevivência”, diziam os estudos da Kantar. No primeiro semestre, a venda de produtos de bens de grande consumo caiu 3, 7% em volume, a primeira descida significativa dos últimos anos. A cesta de compras encolheu. Menos azeite, menos farinhas, menos pão, menos detergente para a máquina de loiça, menos fruta, menos peixe. “Entre 2012 e o primeiro trimestre de 2013 tivemos categorias de produtos que viram desaparecer cerca de um terço do seu mercado, como electrodomésticos ou produtos de entretenimento”, diz Ana Isabel Trigo de Morais. No meio da tempestade, o comércio tradicional começa a merecer a preferência de quem procura lojas perto de casa: a quota de mercado cresce 0, 3 pontos percentuais entre Janeiro e Junho de 2013, em comparação com 2012, atingindo os 15, 4% (APED). O fenómeno não é, contudo, generalizado. No segundo semestre, os indicadores económicos trazem algum alento. O desemprego - que começou a baixar a partir do segundo trimestre – continua a reduzir, partindo, contudo, de níveis históricos elevados. As exportações evoluem de forma positiva. E a reposição dos subsídios de férias na função pública, em Novembro, ajudou a antecipar compras de Natal. O consumo total das famílias cresceu 0, 8% entre Outubro e Dezembro, mas ainda caiu entre os bens não alimentares, como roupa ou calçado (INE). As tímidas melhorias não apagam, contudo, um ano que fechou com um aumento de 4%, face a 2012, do número de pessoas com empréstimos em incumprimento (eram quase 662 mil no ano passado segundo o Banco de Portugal). No limite do “espartanismo”Em três anos de troika, os portugueses mudaram de forma radical a forma como gerem o orçamento familiar. Mas a professora da Universidade Católica, Rita Coelho do Vale, acredita que da turbulência saiu um consumidor melhor. “Mais racional, menos sensível ao aumento do ego e à compra em função da marca, com quase orgulho em ser racional. Quem não perdeu rendimentos tem, hoje, vergonha no acto do consumo desmesurado”, defende. Os portugueses, diz, “chegaram ao limite do espartanismo”. E isso mesmo parece indiciar a subida de 1, 7% nas vendas do comércio no primeiro trimestre de 2014, face a 2013, divulgadas pelo INE. A APED também dá conta de um crescimento expressivo do consumo de produtos não alimentares (telecomunicações, electrodomésticos e artigos de papelaria, por exemplo). Certo é que é cada vez mais difícil traçar um retrato generalista dos consumidores. “Temos uma sociedade mais segmentada, mais difícil de conhecer e de colocar em caixinhas”, resume Clara Cardoso. Ao lado dos que deixam de comer fora de casa e seguem com atenção os descontos, há os que só compram mesmo o que podem. Como António Lopes, 43 anos, que nos terrenos disponíveis ao pé de casa, na Quinta da Princesa, Seixal, prepara a terra para semear feijão. “Junto com arroz e é muito bom”.
REFERÊNCIAS:
Morreu Hans Ruegi Giger, o criador do Alien
O artista suíço criou a atmosfera do filme Alien de Ridley Scott e o seu protagonista, o extraterreste Alien. (...)

Morreu Hans Ruegi Giger, o criador do Alien
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2014-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O artista suíço criou a atmosfera do filme Alien de Ridley Scott e o seu protagonista, o extraterreste Alien.
TEXTO: Morreu Hans Ruedi Giger, o artista plástico surrealista que criou o monstro do filme Alien, de Ridley Scott. O artista plástico morreu segunda-feira, aos 74 anos, devido a lesões provocadas por uma queda, noticiou o canal de televisão suíço SRF. Giger criou Alien com a ajuda de Carlo Rambbaldi, criador do ET de Spielberg, e esse trabalho valeu-lhe o Óscar de efeitos especiais em 1980. Ridley Scott pediu-lhe que construísse a criatura que dá nome ao filme depois de ter visto Necronomicon, uma antologia de pinturas de seres híbridos, entre o humano e o animal, com uma aura obscura e sexual. Scott sentiu-se especialmente inspirado com a pintura de 1976 Nacronom IV, que serviu de base para Alien. Giger acabou por ser contratado para pensar vários outros aspectos visuais do filme, como o Planeta LV-426 ou o Space Jockey, extraterrestre que deu origem ao Alien. Nascido em 1940 na Suíça, Giger sempre foi encorajado pelo pai a estudar farmácia, mas formou-se em arquitectura e design industrial em Zurique, nos anos 1960. Aqui começou a trabalhar em design de interiores. Dedicou-se depois à pintura a tempo inteiro – a sua primeira exposição individual nesta cidade foi em 1966. Começou por pintar a tinta, depois a óleo e finalmente com aerógrafo, que viria a abandonar nos anos 1990, usando nessa altura apenas lápis e canetas de feltro. Durante estes anos desenvolveu uma estética própria, inspirada pelo surrealismo de Dalí, pelos contos e fábulas do escritor Sergius Golowin, foi amigo de ambos, e pelas histórias de Lovecraft, autor norte-americano de fantástico e horror do início do século XX. Para além destas influências, um distúrbio do sono de que sofria, terror nocturno, ajudou a criar as suas primeiras criações. Giger começou a pintar como forma de lidar com esta perturbação que o fazia sentir terror nas primeiras horas de sono. Em 2000, numa entrevista à revista americana Esoterra, o pintor confirmava que pintava aquilo que temia. “Eu pinto aquilo de que tenho medo, mas também aquilo de que gosto. Neste momento, os meus medos são muito estúpidos: problemas de dinheiro. Eu tenho muitas divídas e não muito dinheiro por causa da manutenção do Museu Giger”, disse sobre o espaço que abriu no castelo St. Germain, em Gruyères, na Suíça, comprado em 1998 para expor permanentemente o seu trabalho. Antes mesmo do sucesso de Alien, Giger já tinha realizado Swiss Made, em 1968 e Tagtraum, em 1973. Dirigiu ainda Giger’s Necronomicon, um documentário de 40 minutos em que mostra o processo de criação do monstro Alien. Além das suas criações no cinema, Giger participou também no conceito visual por trás de Koo Koo, o primeiro álbum a solo de Debbie Harry, a vocalista dos Blondie, lançado em 1981. Na capa, a cara da cantora aparece trespassada por agulhas o que Debbie Harry descreveu como uma combinação de punk, acupunctura e ficção científica. Também os videoclips das suas músicas I know you know e Backfired, deste mesmo álbum, têm a realização de Giger. No primeiro é visível a ideia do biomecânico, que caracterizava o trabalho do artista plástico: a roupa que a cantora veste tem pintados desenhos que querem criar a ilusão de um corpo mecanizado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda medo sexual corpo animal cantora
Argus: a guitarra como caravela que recebe e dá cultura
Inspirado na Odisseia, o novo disco de Luísa Amaro une Portugal e Grécia. Estreia-se nesta quinta-feira no Museu do Oriente. (...)

Argus: a guitarra como caravela que recebe e dá cultura
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Inspirado na Odisseia, o novo disco de Luísa Amaro une Portugal e Grécia. Estreia-se nesta quinta-feira no Museu do Oriente.
TEXTO: Luísa Amaro, discípula de Carlos Paredes, tem nova odisseia na guitarra portuguesa. Chama-se Argus, une Portugal e Grécia sob inspiração homérica e é apresentado ao vivo a 22 e 23 de Maio no auditório do Museu do Oriente, em Lisboa, às 21h30. Com ela estarão os músicos que participaram no disco: Gonçalo Lopes, no clarinete baixo; o pianista italiano Enrico Bindocci; a cantora cipriota Kyriakoula Constantinou (que cantará na sua língua pátria e em grego); e António Eustáquio no guitolão. A aproximação à Grécia fez-se “por mero acaso”, na sequência do CD Meditherranios (de 2009): “Foi uma viagem pelo Oriente e eu não queria um corte, queria uma viagem de continuidade. Quando estala a crise, a mim pareceu-me claro que Portugal e Grécia, estando em cantos opostos, com séculos de cultura, têm vários pontos de união. ” Com essa ideia no horizonte, faltava-lhe um elemento essencial. “Para mim seria a voz, ou alguém que trouxesse a cultura grega. E tive a sorte de a encontrar. Numa vez em que fui tocar a Itália, apareceu-me um casal, ele italiano e pianista, ela cipriota e cantora. Pedi-lhe para improvisar voz numa música minha e ela fez aquele lamento grego, muito bonito, só com vocalizos. Gostei muito e vi ali um caminho para o CD. Isto em 2011. ”Assim foi surgindo Argus, construído a partir da Odisseia de Homero, sem que Luísa Amaro tenha pisado solo grego (é uma viagem pensada, mas ainda não concretizada). Foi reler o texto, que conhecera muitos anos antes a par d’Os Lusíadas, e escolheu o título: “Fui buscar o Argus, não só porque é um nome muito bonito, mas porque me traz o cão de Ulisses, que o reconhece e depois morre. Aliás, foi o único que o reconheceu. E acho que é por esse lado dos sentimentos que nos podemos unir todos, sem demagogias nem nada. Depois do Argus, fui ao Ulisses. Queria recriar um bocadinho deste mundo fantástico… E pensei noutra coisa: a minha guitarra, a forma como que eu a toco, que não é de Lisboa nem de Coimbra, que não é fado, mas sou eu, acaba por funcionar como uma caravela que vai recebendo e vai dando da sua cultura, ligando-se aos povos. ”Em Meditherranios essa ligação fez-se com instrumentos do Afeganistão, do Irão. “E agora, através da voz, a guitarra vai-se ligando à Grécia, a Chipre, a Itália, continuando essa viagem, unindo. ” Uma viagem com histórias curiosas, como esta: “Um dos temas, Cardaes, era uma música que eu tocava no final dos concertos para que os músicos pudessem improvisar. Em Itália, perguntaram-me se eu não queria improvisar com os músicos que estavam comigo. Assim fiz e, ao ouvir as vozes, achei que eles tinham intuitivamente arranjado uma forma de cantar aquilo. Depois contaram-me que uma parte da minha música era quase igual a uma música sacro-profana de Puglia, cantada pelas pessoas que levam o andor da Madonna di Picciano. Por isso, na gravação, aparece a meio a Kyriakoula a cantar o tema como é cantado em Itália. ”O disco, com temas que remetem para a Odisseia (Argus, Tirésias, Circe…), fecha com Penélope. “É o lado mais doce e traduz muito aquilo que é a minha guitarra – que pode ter suavidade, lirismo. Depois daquela viagem, voltamos ao nosso universo. ”
REFERÊNCIAS:
Escavações na Praia da Luz marcam nova fase da investigação para tentar encontrar Maddie
A polícia britânica lidera a investigação e pediu autorização às autoridades de Portugal para ir mais longe. Operações no terreno contam com a ajuda de polícias portugueses. (...)

Escavações na Praia da Luz marcam nova fase da investigação para tentar encontrar Maddie
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia britânica lidera a investigação e pediu autorização às autoridades de Portugal para ir mais longe. Operações no terreno contam com a ajuda de polícias portugueses.
TEXTO: Uma nova fase da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann começa esta segunda-feira com o primeiro de vários dias previstos de operações de buscas em terrenos em volta do resort Ocean Club onde a família de Inglaterra passava férias em Maio de 2007, na Praia da Luz. A menina desapareceu do quarto onde ela e os dois irmãos dormiam enquanto os pais jantavam num restaurante a algumas dezenas de metros. Em 2008, a investigação foi dada como terminada pela polícia portuguesa. Mas a britânica Scotland Yard nunca deu por concluído o inquérito que agora, além das buscas e possíveis escavações, passará também pela tentativa de ouvir oito cidadãos portugueses, não sendo claro, segundo a imprensa britânica se na qualidade de suspeitos ou de testemunhas. A área onde esta segunda-feira se inicia a primeira de várias fases deste novo patamar da investigação foi selada às primeiras horas da manhã. Já em 2007 tinha sido alvo de buscas pela polícia portuguesa. Mas as provas até agora reunidas conduziram de novo a esta zona, justificando a operação, disse Keith Darquharson, um antigo conselheiro da Metropolitan Police, à Sky News. Pelo menos um avião militar também sobrevoou a zona esta manhã, acrescentou a mesma cadeia televisiva. Desta vez, porém, além dos elementos da polícia portuguesa e britânica no terreno, e dos cães pisteiros, as equipas estão munidas de radares para penetração no solo, de modo a observarem possíveis suspeitas de transformação não natural do solo, que justifiquem eventuais escavações. As fotografias aéreas também permitirão detectar zonas suspeitas. A operação surge duas semanas depois de a polícia britânica ter anunciado estar a seguir todas as linhas de investigação credíveis. Na mesma altura, avisou que não é apenas porque se avança para um “fase significativa do trabalho” que se asseguram “imediatamente as respostas que explicam tudo”. Ao jornal britânico Daily Mirror, uma fonte não identificada disse que esta nova fase pode permitir “o grande avanço” que se espera no caso. A “hipótese de o corpo ser encontrado obviamente existe”, notou, acrescentando que esse é o cenário que os pais de Maddie continuam a querer rejeitar na esperança de que a filha ainda possa ser encontrada com vida. “Mas esse cenário de pesadelo também permitiria encerrar o caso”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha corpo cães desaparecimento
“Sou a favor de canções com retratos reais”
Com apenas 17 anos, Lorde confirmou no Rock in Rio a força de uma pop pouco alinhada com a superficialidade. (...)

“Sou a favor de canções com retratos reais”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com apenas 17 anos, Lorde confirmou no Rock in Rio a força de uma pop pouco alinhada com a superficialidade.
TEXTO: Sabia-se por antecipação que, mesmo com Robbie Williams, Arcade Fire ou Justin Timberlake, o Rock in Rio de 2014 seria dos Rolling Stones e do seu frenesim blues/rock’n’roll. Numa espantosa demonstração de como se esquivar da passagem dos anos, canções e músicos (sobretudo Mick Jagger) pareciam desafiar as regras básicas do ciclo biológico aplicáveis na passagem pelo planeta. E fizeram-no com o espalhafato que tal empresa exigia. Daí que, em sentido contrário, tudo no concerto da adolescente neozelandesa Lorde, passados dois dias, tenha parecido ainda mais extraordinário. Carregando consigo um quarto da vida de Jagger ou Keith Richards, os 17 anos de Lorde, nascida Ella Yelich-O’Connor foram, na verdade, mais longe do que os Stones. Sem qualquer recurso a espectacularidade, apresentou-se num palco habituado a todo o tipo de fogo-de-artifício, big bands e contas avultadas de electricidade, com canções quase despidas, belíssimas na sua minimalidade, sobrevivendo e conquistando uma multidão sem truques na manga para lá de uma confiança assombrosa, uma voz cheia de brilho e um reportório curto mas absolutamente seguro. Uma pop sem outra grandiosidade que não seja a de Ella. A causa parece simples e explica-se em dois pontos. Por um lado, Lorde vem da Nova Zelândia, terra que, garante a cantora, é pouco dada à cultura de celebridades, pelo que a simplicidade das suas canções e a sua eficácia junto de milhões não a tornou hiper-ambiciosa em relação à sua projecção de estrela pop em palco. Por outro, conforme explica ao PÚBLICO um par de horas antes da sua actuação no Rock in Rio, a sua criatividade está, antes de mais, ao serviço das letras. “Escrevo as letras e só depois crio música à sua volta, mas tão simples quanto possível, para que aquilo que estou a cantar se perceba e chegue às pessoas”, diz. “Talvez a minha música seja muito minimal por essa razão, por ser movida pela letra. Se não gostasse tanto de música provavelmente escreveria poesia. ”E aquilo que chega através das suas letras está em sintonia com as declarações que Ella foi soltando durante o último ano, sem os filtros e as práticas recomendadas por ter passado a fazer parte, repentinamente, do circo pop. Justin Bieber por não retratar fielmente a vida de um adolescente, Taylor Swift por cultivar uma imagem de princesa de contos de fadas, perfeita e inacessível, Selena Gomez por cantar noticiando a sua disponibilidade sexual, todos foram alvo de comentários de Lorde, com a inocência e a postura refrescante de quem acha que não deve pedir desculpa por ter opiniões. Num ano, aprendeu a ser mais comedida na sua crítica a uma pop em que continua a reconhecer “um forte elemento de superficialidade”. “Se todas as canções fossem sobre o aquecimento global seria pop na mesma?”, questiona-se no camarim do Rock in Rio. Mas, na verdade, aquilo que surpreendeu Lorde foi ver-se sozinha, perceber que, à excepção de Lily Allen, o seu desprendimento e as suas críticas pareciam ecoar de tão isoladas. Tudo isto está inscrito mais ou menos explicitamente nos temas compostos por Lorde para o seu disco de estreia, Pure Heroine. Royals, o enorme sucesso que a tirou da Nova Zelândia e lhe garantiu um milhão de singles vendidos nos Estados Unidos, é já um desabafo de desilusão com a opulência desmedida que toma conta de uma pop actual que se esquece de criar uma ligação com os miúdos a quem se dirige, assentando antes numa necessidade de viver dentro de fantasias de luxo ou de estranho apelo à deificação através de uma clara diferenciação de universos que não se tocam – músico e público. “Sou muito a favor de canções pop com significados e retratos reais”, garante. “Mas não todas, claro, senão seria muito aborrecido. ”A ascensãoTudo tem sido meteórico e revelador da sua fibra no percurso de Ella Yelich-O’Connor enquanto Lorde. Depois de descoberta num concurso de canto pela Universal neozelandesa quando tinha apenas 12 anos, assim que a editora esfregou as mãos para capitalizar um talento bruto que poderia moldar à sua maneira, logo lhe saiu o tiro pela culatra. Quando assinou pela multinacional, Ella, que nunca tinha composto uma canção em toda a sua vida, fez saber que só aceitaria gravar um disco escrito por si. Esse primeiro disco, The Love Club EP, foi lançado em 2013 e antecedeu Pure Heroine, levando-a a perceber que a sua criatividade era desencadeada por gente como Timbaland e Kanye West, embora acabe por desaguar num conjunto de canções de uma outra riqueza melódica e que, não sendo revolucionário, não denuncia obsessões pessoais nem soa derivativo.
REFERÊNCIAS:
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Uma idosa ficou ferida numa explosão em Chelas, Lisboa,
Explosão ocorreu na Estrada de Chelas. (...)

Uma idosa ficou ferida numa explosão em Chelas, Lisboa,
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Explosão ocorreu na Estrada de Chelas.
TEXTO: Uma explosão num prédio na Estrada de Chelas, em Lisboa, seguida de incêndio provocou nesta terça-feira à tarde pelo menos um ferido, no caso uma idosa e que já foi transportada para o Hospital de S. José. A explosão, seguida de incêndio, destruiu por completo a cobertura do edifício de quatro andares onde, segundo algumas testemunhas ouvidas pelo PÚBLICO no local, funcionou um lar de idosos, entretanto desactivado. A vítima era a única moradora e ficou com queimaduras em 50% do corpo. Segundo o major Tiago Lopes, segundo comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, a mulher, com cerca de 90 anos, é "à partida" a única vítima. Os bombeiros vão ainda realizar buscas com cães dentro do imóvel uma vez que não podem ser utilizados meios humanos nesta operação pois o edifício apresenta risco de ruína. Não se conhecem as causas da explosão mas os bombeiros admitem que a origem possa estar relacionada com uma fuga de gás. Em frente ao edifício existe um prédio de habitação que também ficou com a cobertura danificada e os vidros das janelas partidos. Na altura do sinistro, encontrava-se uma rapariga em casa que não ficou ferida. Pelo menos duas viaturas estacionadas perto do local ficaram também danificadas. A explosão foi sentida a vários metros de distância da sua origem. A circulação na Estrada de Chelas foi interrompida. Foram mobilizados "muitos meios" para o local, disse à Lusa fonte dos Bombeiros do Beato. O Instituto Nacional de Emergência Médica foi também chamado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos mulher corpo rapariga cães
Policia Inglesa alarga buscas na praia na Luz até dia 14
Investigadores da Scoland Yard vão permanecer no Algarve, pelo menos até ao dia 14. A tarefa não parece fácil. (...)

Policia Inglesa alarga buscas na praia na Luz até dia 14
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DATA: 2014-06-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigadores da Scoland Yard vão permanecer no Algarve, pelo menos até ao dia 14. A tarefa não parece fácil.
TEXTO: Desvendar o cado Maddie, na praia da Luz, não parece ser tarefa fácil. A policia inglesa começou nesta quarta-feira a fazer escavações e vai continuar no Algarve mais tempo do que tinha previsto. As equipas de investigadores decidiram prolongar por mais uma semana o trabalho. Os pedidos de colaboração às autoridades portuguesas tinham sido solicitados até à próxima segunda-feira, mas o prazo já foi alargado até ao próximo dia 14. O terreno, onde se suspeita que poderão vir a ser encontrados vestígios que conduzam à descoberta do que se passou com a menina inglesa, - desaparecida há sete anos - está a ser inspeccionado com geo-radares em toda a sua extensão. Durante esta a tarde, os investidores da Scotland Yard e os colegas da PJ tiveram as atenções concentradas numa zona limítrofe do terreno, próximo da zona urbana. Para afastar a curiosidade dos populares sobre o que possam vir a encontrar, montaram uma tenda para poderem fazer escavações à vontade. Abriram um buraco no chão, mas o que estava na terra não se sabe. Mas não parece ter sido relevante do ponto de vista policial. Enquanto os repórteres captavam imagens de polícias, com carrinhos de mão a retirar terra, uma outra equipa de seis investigadores britânicos lançava uma outra frente de trabalho. De picaretas erguidas, cavaram em mais três locais. O espaço vai ser “batido” em toda a extensão. A polícia britânica assumiu a liderança da investigação e parece determinada a não deixar nenhuma ponta solta de um processo, que chegou a ser dado por terminado pela polícia portuguesa. Novas informações, vindas de Londres, reabriram o processo. Por isso, os cães pisteiros ingleses estão de volta, mas desta vez quem define a estratégia são os britânicos, apoiados pela Policia Judiciária. Na primeira fase, a PJ investigava, a Scoland Yard apenas colaborava. O programa das buscas é vasto. No meio de um campo cobertos de ervas daninhas secas, situado junto ao mar, estão sinalizados, com bandeiras amarelas, cerca de uma dezena de locais a inspeccionar. Nos próximos dias, deverão ser feitas escavações junto à ramagem de duas figueiras – locais onde o solo se apresenta menos compacto. A praia da Luz está, de novo, no topo dos noticiários, embora não haja, por enquanto, qualquer novidade em relação ao desaparecimento da menina inglesa. O perímetro de segurança do local está a cargo da GNR, usando o patrulhando o cavalo e controlando todas as entradas e saídas no espaço transformado em campo experimental de investigação criminal. Os sapadores bombeiros também estão a colabora na limpeza do campo, bem como os serviços de higiene da câmara municipal de Lagos.
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Peixeiras do mercado de Matosinhos vão ter designers e estilistas como vizinhos
Guilherme Pinto, Jorge Barreto Xavier e Guta Moura Guedes inauguram hoje a Quadra, uma incubadora de design que arranca com 15 projectos. (...)

Peixeiras do mercado de Matosinhos vão ter designers e estilistas como vizinhos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Guilherme Pinto, Jorge Barreto Xavier e Guta Moura Guedes inauguram hoje a Quadra, uma incubadora de design que arranca com 15 projectos.
TEXTO: A venda de galinhas vivas e ovos frescos ou de peixe acabado de amanhar convive bem com bancas de hortaliça fresca e enchidos do Minho ou Trás-Os-Montes. Mas a vizinhança deste comércio tradicional com ateliers de joalharia contemporânea e oficinas de moda também pode ser muito produtiva. Pelo menos é no que acreditam os novos inquilinos do Mercado Municipal de Matosinhos, que, a partir deste sábado vão ocupar a vintena de espaços ali criados pela Quadra - Incubadora de design, vocacionada para acolher, apoiar e promover “empresas e projectos capazes de responder ao desafio de trazer soluções e ideias na área do design que se destaquem pela inovação, pelo arrojo e pela sustentabilidade das suas propostas”. A estilista Maria Gambina, uma das novas inquilinas desta incubadora (cujo concurso para selecção de propostas arrancou há quase um ano) resume o que sente numa frase: “O espaço é arejado e luminoso, a vizinhança é boa; tenho a certeza de que vou trabalhar bem e começar a comer melhor”. O projecto “Primeira dança” de Maria Gambina, com o qual a estilista portuense tenciona criar vestidos de noiva alternativos e acessíveis, foi um dos seleccionados para integrar a incubadora. O júri ficou convencido com a sua ideia de criar alternativas “aos vestidos de princesa, caríssimos e ultrapassados” que a deixaram “deprimida” num passeio pela Baixa do Porto em Agosto passado. “Vi, logo de seguida um grupo de jovens rastafaris, todas tatuadas, a fazer uma despedida de solteira. E pensei: onde é que estas raparigas vão arranjar um vestido de noiva?Foi aí que surgiu este projecto, que se chama Primeira Dança porque será inspirado na música que as noivas hão-de escolher para abrir o baile”, explicou. Experimentar o apoio de uma incubadora foi a decisão seguinte. O período de submissão de candidaturas à incubadora decorreu de 1 a 10 de Setembro de 2013 e a selecção foi feita pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD), a parceira da Câmara Municipal de Matosinhos neste projecto, que também vai instalar na Quadra o seu núcleo de investigação — o ESAD IDEA. O concurso, a que se apresentaram mais de 60 projectos, previa três tipologias de incubação: o coworking, para a incubação de ideias ou projectos, compreendendo o apoio à criação de empresas; a incubação, para apoio a empresas muito jovens nas várias áreas do design e, por fim, os projectos âncora, para empresas já consolidadas, sempre numa lógica curatorial dos projectos incubados. Os projectos seleccionados integram as várias áreas do design, tendo a diversidade sido um dos critérios de escolha: gráfico, arquitectura, equipamento, produção têxtil, moda, vídeo e multimédia, joalharia (ver Caixa). Segundo José Bártolo, um dos responsáveis da Comissão Instaladora da Quadra - Incubadora de Design e Director de Investigação do ESAD IDEA, a qualidade do projecto e adequação à identidade da iniciativa foi igualmente analisada, assim como foi avaliada a viabilidade financeira do modelo de negócio apresentado e o potencial de crescimento do projecto ou empresa. Expectativas em altaQuando na manhã deste sábado o secretário de estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e a comissária do Ano do Design Português, Guta Moura Guedes, acompanharem o presidente da câmara municipal de Matosinhos, Guilherme Pinto na inauguração desta nova incubadora, encontrarão muita gente carregada de enormes expectativas. Toni Grilo, um luso-descendente já bem implantado no mercado francês onde assina o design de produto de várias marcas mudou-se há um ano para o Norte do Portugal. E está feliz com a proximidade às indústria do mobiliário, e com as vendedoras do mercado tradicional que avista pela janela. “Também são inspiradoras, não tenho dúvidas”, dizia ao PÚBLICO esta semana, em vésperas da inauguração. Andreia Oliveira, designer de moda, e Tiago Carreira, designer de comunicação, responsáveis da Klar, uma empresa e marca que já tem vendido para algumas lojas em Londres, louvaram o facto de aparecer um projecto com as características da Quadra. “Somos uma empresa pro-animal, com uma ética muito firme na utilização de matérias primas nas peças que produzimos, e por nisso custa-me um pouco olhar para aquelas galinhas vivas, aqui ao lado, confesso. Mas em tudo o resto só posso manifestar a minha satisfação pela simpatia das senhoras, que nos acolheram com muita curiosidade e boa disposição”, diz Andreia. Tiago sublinha a expectativa que lhe traz estar inserido numa incubadora com outros designers de vários ramos: “Temos sempre muito a aprender uns com os outros”, justifica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cultura princesa animal
Anda a comer comida verdadeira?
Coma comida e evite as imitações. Este poderia ser o resumo das ideias de Michael Pollan, o norte-americano a quem o The New York Times chamou a “consciência alimentar da nação”. Será uma das estrelas desta edição da FLIP. (...)

Anda a comer comida verdadeira?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140726170206/http://www.publico.pt/1663742
SUMÁRIO: Coma comida e evite as imitações. Este poderia ser o resumo das ideias de Michael Pollan, o norte-americano a quem o The New York Times chamou a “consciência alimentar da nação”. Será uma das estrelas desta edição da FLIP.
TEXTO: Michael Pollan escreveu um livro para dizer uma coisa simples: “Coma comida. Não em excesso. Vegetais, sobretudo”. Parece pouco, mas é suficiente para encher as 250 páginas de Em Defesa da Comida que, juntamente com o seu livro anterior, O Dilema do Omnívoro, no qual denuncia a omnipresença do milho nos alimentos industriais, fez deste jornalista norte-americano, professor na Universidade de Berkeley, uma das figuras mais influentes no universo da alimentação ética e saudávelEm Paraty, onde será uma das estrelas da edição deste ano da Festa Literária (FLIP), irá falar do seu mais recente livro, Cooked – A Natural History of Transformation, relato da sua descoberta das técnicas básicas de cozinha, usando a água, o fogo, a terra e o ar. Mas o debate centrar-se-á também, certamente, nos livros anteriores (publicados em Portugal pela Dom Quixote, enquanto Saber Comer: as 64 Regras de Ouro foi editado pela Lua de Papel) e nas suas ideias, como a de que os nutricionistas têm vindo a destruir a nossa relação com a comida, reduzindo os alimentos a nutrientes e acabando com o prazer, ou as “regras de ouro” que criou, como estas: “Coma apenas alimentos que podem apodrecer”, “Evite produtos alimentares cujos nomes incluam termos como ‘light’, ‘pouco gordo’ ou ‘magro’” ou “Coma as porcarias todas que quiser desde que seja você a cozinhá-las”. Há um mês a revista Time dizia que “os cientistas estavam enganados ao classificar a gordura como o inimigo” e aconselhava-nos a comer manteiga, num artigo que reflectia muitas das ideias que defende. Sente que começa a ganhar uma guerra?Não é exactamente ganhar uma guerra. Há um reconhecimento cada vez maior de que as velhas ideias sobre nutrição que se baseiam numa obsessão em nutrientes únicos, bons ou maus, como a gordura ou o açúcar, partem de um princípio errado. Temos que nos centrar muito mais na comida e no contexto social que rodeia o acto de comer. Sinto-me encorajado com as novas orientações para a nutrição no Brasil que são revolucionárias. Em vez de dizerem para comerem isto e não aquilo, elas dizem para as pessoas comerem com outras pessoas, comerem comida verdadeira e evitarem a altamente processada. É, julgo, o primeiro país a fazer algo tão progressista neste campo, relacionado com o contexto social da alimentação e não apenas a química daquilo que comemos. Há sinais de que a indústria alimentar está disposta a fazer mudançasAcredita nesses esforços? A revista The Atlantic defendeu que é fundamental que a indústria apoie estes esforços, porque é ela quem realmente chega às pessoas. Temos que ser um pouco cépticos em relação a alguns desses esforços. Há uma longa história da indústria parecer estar a dar resposta às preocupações das pessoas. Um exemplo é precisamente a campanha para a redução do consumo de gordura, em que reformularam a comida para lhe retirar gordura, e isso não ajudou. Por duas razões: a gordura não era o problema que se pensava, e também porque sempre que se tenta tornar a junk food um pouco melhor, as pessoas acabam por comer mais por acreditarem que é mais saudável. Alguns dos esforços da indústria são apenas formas de nos conseguir vender mais comida. Outros são reais. Temos que ser vigilantes. Os objectivos da indústria não são manter a nossa saúde ou o nosso peso – são vender-nos mais comida. Se uma empresa que faz comida processada incluir um cereal integral, por exemplo, isso ajuda? Junk food continua a ser junk food, mesmo que seja 10% melhor. Fala muito do que se passa nos EUA, as preocupações das pessoas com o que comem, as calorias, etc. Porque é que este fenómeno é tão grande nos EUA, sendo este um país feito de pessoas que vêm de outros países, alguns com sólidas tradições gastronómicas como a Itália?Em parte por não termos uma cultura alimentar estável. Em muitos países, o que as pessoas comem é o que comiam os pais e os avós, é cultural. Nós não temos uma única cultura alimentar, mas sim várias. Sem essa influência estabilizadora da tradição, tornamo-nos mais vulneráveis à propaganda, ao marketing, ao que se lê no jornal. Quando aparecem artigos sobre os riscos da gordura ou do açúcar, toda a gente muda a forma de comer. Por outro lado, somos muito moralistas na forma como comemos. Noutros países as pessoas comem por prazer, por ritual, para estar em comunidade, enquanto para nós a questão do prazer é um problema, porque descendemos de calvinistas que pensavam que ter prazer com a comida ou outras actividades animais era de alguma forma pecaminoso. Temos vindo a falar de comida em termos científicos há 150 anos neste país. Se recuarmos aos anos de 1850, havia já uma enorme discussão científica sobre a melhor forma de comer. Sentimo-nos mais seguros a falar sobre ciência do que sobre prazer. Recentemente surgiu nos EUA uma bebida, Soylent, que se destina a pessoas que não querem perder tempo com a comida. Esse é um excelente exemplo. Que produto ridículo. É algo que nos mantém vivos sem o prazer da comida. Mas há pessoas que parecem sensíveis a esta ideia de que somos prisioneiros da alimentação e de que seria bom libertarmo-nos disso. São as mesmas que acham que devemos um dia conseguir transferir a nossa consciência para um computador. O corpo é um problema para estas pessoas. Mantêm-no na Cloud da Internet. Para mim, comer é uma parte muito importante do meu lazer. Não quero libertar-me disso. São pessoas que não compreendem o prazer de comer. E ficarmos livres para quê? Ganhar mais dinheiro? Usar uma nova aplicação?Há uma arrogância terrível na ideia de que sabemos o suficiente para simular comida. A alimentação de cada animal é algo que foi sendo aperfeiçoado ao longo de milhares de anos para chegar à simbiose entre o que comemos e o que somos. Se virmos a história do leite em pó para bebés, uma tentativa de simular o leite materno, vemos que não correu muito bem. Ainda não sabemos como fazer leite que seja equivalente ao das mães. A Soylent faz parte de uma grande tradição em que a ciência tenta ser mais inteligente do que a evolução, e tal como as outras experiências, vai falhar. É um produto que não se destina a alimentar os micróbios no nosso aparelho digestivo, e uma das coisas mais importante que aprendemos sobre nutrição nos últimos anos é que 90% do nosso corpo são micróbios e que temos que tratar deles também. Este é o momento da História em que estamos mais afastados da verdadeira comida?Sim e não. Estamos a avançar em duas direcções diferentes a mesmo tempo. Sim, estamos muito afastados da natureza, mas ao mesmo tempo as pessoas estão a redescobrir os prazeres da comida, plantas e animais que são deliciosos, tradições alimentares. Estamos no melhor dos momentos e no pior dos momentos. Fala muito na importância das dietas tradicionais, mas os nossos estilos de vida mudaram muito ao longo dos séculos. Até que ponto devemos ser críticos dessas dietas tradicionais? Em Portugal temos doces com muitos ovos e açúcar, que são tradicionais. Como devemos encarar esse tipo de coisas?Ter muito açúcar nas nossas dietas não é algo assim tão antigo. Não tínhamos açúcar processado até ao final do século XIX. Sem dúvida que comemos açúcar a mais e começámos a ver problemas relacionados com isso no final do século XIX, quando começa a tornar-se muito barato. Claro que temos que prestar atenção ao estilo de vida. As pessoas que fazem muita actividade física podem consumir muito mais açúcar do que os que se sentam à secretária todos os dias. Mas quando falo de dietas tradicionais refiro-me ao tempo antes da farinha e do açúcar refinados. Há um argumento muito usado pelas pessoas que criticam o seu ponto de vista: a história da alimentação é a história da transformação, e a comida processada é apenas mais um episódio dessa história. Sim, desde há dois milhões de anos que estamos a transformar os produtos crus da natureza em formas que os tornaram mais nutritivos e mais deliciosos. E, de repente, alguma coisa começou a correr mal: aprendemos a processar os alimentos de uma forma que os pode ter tornado mais convenientes, mas tornou-os também menos nutritivos. Houve um ponto de viragem no que tinha sido até então uma história bastante gloriosa, que foi o aparecimento de farinha branca e o açúcar refinado, que acontece pela mesma altura. É nesse momento que nos tornamos demasiado espertos para o nosso próprio bem. Tiramos aos alimentos os nutrientes, as fibras, e de repente surgem deficiências nutricionais em pessoas que comem esta comida processada, e concluímos que é preciso reforçar estes alimentos com vitaminas. Os interesses da indústria não são os dos nossos corpos. A indústria quer tirar a fibra da comida porque com ela a comida não congela tão bem, não se conserva tão bem. Além disso, procura comida que seja imediatamente gratificante, que seja absorvida pelo corpo muito rapidamente. Mas acontece que essa fibra é precisamente o que os micróbios gostam de comer, e se se matam esses micróbios à fome começamos a ter problemas de saúde. Por isso, agora voltamos a pôr as fibras na comida. Vai funcionar? Provavelmente é melhor ter a fibra original, porque a acrescentada não vai funcionar da mesma maneira. Os críticos do seu trabalho acusam-no de diabolizar toda a abordagem científica à alimentação. Não existe ciência que nos ajude a ter melhores alimentos?Eu não sou anti-ciência. Limito-me a ter em relação a ela a visão céptica que um jornalista deve ter em relação a tudo aquilo sobre que escreve, como a política, por exemplo. Não somos anti-política, mas temos uma ideia clara das suas limitações e da corrupção que existe. E existe corrupção na ciência também, sobretudo na ciência ligada à nutrição. Olhe para a Associação Americana de Dietética, todas as reuniões deles são patrocinadas por empresas de fast-food. Conseguem realmente ter uma discussão honesta sobre junk food?E mesmo que a ciência reduza os alimentos aos seus componentes para tentar entender o que cada um faz, como consumidores não temos que pensar assim. A linguagem que funciona para a ciência não deve funcionar num restaurante. Não precisamos saber o que é um antioxidante ou o ómega 3 para comermos bem. Devemos olhar para a comida, e deixar os cientistas preocuparem-se com os nutrientes. Eles já descobriram coisas importantes, ajudaram-nos a perceber as deficiências de determinadas populações em certos nutrientes e a descoberta das vitaminas foi um enorme ganho para a saúde pública. Então quando enriquecemos um alimento com nutrientes que faltavam a uma população…… salvamos vidas. Podemos evitar problemas como a espinha bífida se acrescentarmos ácido fólico à farinha. Isso é algo de extraordinário, mas devemos recuar um pouco e perguntarmo-nos: porque é que faltava ácido fólico na farinha? Porque o tiramos de lá. O problema foi criado por nós, e não pela natureza. Outra crítica que se ouve frequentemente é que a forma de comer que defende só é acessível aos mais ricos. Nem toda a gente pode plantar legumes no jardim, e quem é muito pobre e não tem tempo para cozinhar prefere ter uma pizza congelada. Não é preciso ser-se rico para comer bem. Grande parte da história da cozinha tem a ver com camponeses aprendendo a fazer comida nutritiva dos piores pedaços de carne e restos de vegetais. Se soubermos alguma coisa de cozinha podemos comer muito bem por pouco dinheiro. É preciso algum tempo, é verdade. E hoje há pessoas pobres que não têm nem dinheiro nem tempo. Mas a ideia de que não se pode comer bem se não se tiver dinheiro para comida biológica ou local não é verdade. Se usar comida verdadeira, não processada, que envolve alguma preparação, pode comer muito saudavelmente. Mas cozinhar envolve práticas que deixámos de ensinar às pessoas. Se lhes ensinarmos técnicas básicas, se quando saímos a escola soubermos preparar dez pratos, ganhamos um enorme poder sobre as nossas dietas. Nunca pensamos no tempo que demoramos num restaurante, à espera de mesa, ou a pedir. É tudo tempo que podemos usar para cozinhar. É uma questão geracional? Uma geração que se afasta da cozinha, outra que a redescobre, outra que se volta a afastar?Houve uma altura em que cozinhar era mal visto e as pessoas preferiam fazer outras coisas – ver televisão ou navegar na Internet. A minha esperança é conseguir contar a história da cozinha de uma forma que leve as pessoas a pensar que é uma maneira mais interessante de passar uma hora do meu tempo do que, por exemplo, a ver um programa sobre cozinha na televisão. As pessoas hoje estão interessadas na cozinha, porque é que não a praticam? Julgo que é por estarem intimidadas. Cozinhar na televisão parece atletismo profissional, é uma actividade heróica. É incrivelmente difícil. Há facas, chamas, um relógio. Mete medo. Mas isso não é a verdadeira cozinha, que é na realidade muito simples. Há também um grande esforço da indústria alimentar para nos dizer que não temos tempo para a comida. Existem todos aqueles anúncios que mostram famílias de manhã a tentar sair de casa, levar as crianças à escola e chegar ao trabalho, a correrem como baratas tontas, sem tempo sequer para deitar leite sobre uma taça de cereais, e por isso as crianças têm que comer uma barra no carro. Na verdade, podiam ter posto o despertador para dez minutos mais cedo. Tem criticado os políticos por não lidarem como deve ser com a questão alimentar, e argumentou que isso tem a ver com o facto de não quererem interferir com algo que é visto como sendo da esfera privada. No entanto, há muitas outras questões privadas que são legisladas. Não se trata mais da força dos lobbies?O lobby da indústria alimentar e da agricultura é tremendamente poderoso. Por outro lado, tudo o que possa fazer aumentar o preço dos alimentos leva os políticos a paralisar. Os políticos gostam que a comida seja barata, quer seja saudável ou não. A comida barata mantém no lugar as cabeças de reis e rainhas. Há também a ideia de que as pessoas reagem muito quando o Governo lhes tenta dizer o que devem comer – quando o mayor [de Nova Iorque, Michael] Bloomberg tentou reduzir o tamanho dos copos de refrigerantes, o que me parecia uma medida muito sensata, as pessoas reagiram com horror ao que viram como um ataque a um direito fundamental de beber um refrigerante gigantesco. A comida é um assunto delicado. Há outra razão: o movimento pela verdadeira comida é ainda muito jovem e desorganizado para conseguir pressionar os políticos. Mas vai acontecer. Com o tempo seremos suficientemente fortes para compensar e penalizar os políticos como fazem os outros movimentos. A sua é já uma voz muito poderosa. Mas não sei jogar o jogo político. Não finjo que entendo de política. Todos temos diferentes tarefas, e a minha é contar a história de uma forma que, espero, chegue às pessoas, para que estas possam depois chegar aos políticos.
REFERÊNCIAS: