À procura do canivete suíço da Pré-História
Jovem arqueólogo descobriu na Lousã ferramentas talhadas em pedra há 200 mil anos. Mas, se os trabalhos continurem, poderão encontrar-se traços muito mais recuados de ocupação humana. (...)

À procura do canivete suíço da Pré-História
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-02-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jovem arqueólogo descobriu na Lousã ferramentas talhadas em pedra há 200 mil anos. Mas, se os trabalhos continurem, poderão encontrar-se traços muito mais recuados de ocupação humana.
TEXTO: Escolhe a pedra que vai trabalhar com cuidado e depois põe um pedaço de pele de cabra sobre o joelho onde vai apoiá-la. À sua volta, tem já um kit de ferramentas invulgar: sílex, quartzito, propulsores em pedra e em osso. "Uma haste de cervídeo pode ser muito útil na fase final, de pormenor", diz. Em poucos minutos, uma rocha aparentemente banal pode transformar-se num biface perfeito, com um gume tão afiado que poderíamos usá-lo para fazer cortes de precisão em carne crua. Filipe Paiva aprendeu a talhar pedra em Tarragona, onde defendeu a sua tese de mestrado sobre as indústrias líticas da Lousã, trabalho inédito, já que o Paleolítico da serra está por estudar. Moldar a pedra com as mesmas ferramentas que usariam os hominídeos que viveram na Península Ibérica há centenas de milhares de anos ajuda-o a perceber melhor como pensavam estes caçadores-recolectores, como organizavam as suas comunidades nómadas e distribuíam tarefas para garantir a sobrevivência numa época em que é bem provável que pelo território que é hoje português andassem animais de grande porte, como elefantes, ursos e rinocerontes. "Quando pegamos em muitos dos machados de mão, lascas e bifaces que recolhi, podemos identificar formas diferentes de pensar", explica este arqueólogo de 30 anos que anda há oito pela Lousã, sobretudo pelas margens do rio Ceira, à procura dos vestígios destes homens - pedras talhadas, usadas para cortar, raspar e escavar. Até agora, reuniu 67 artefactos, que estudou e catalogou, mas garante que basta dar uns passeios pela serra para aumentar a colecção. "O que as pessoas mais identificam dos livros da escola é o biface, que é uma espécie de canivete suíço da Pré-História porque tem vários usos possíveis, embora sirva sobretudo para cortar peles e carne. A lasca é maior, mais tosca, e pode chegar a pesar meio quilo. O machado de mão era muito provavelmente utilizado para desmembrar os animais. Ninguém desmancha um urso com um bisturi", diz Paiva, que identificou já 23 locais com artefactos, um número que, acredita, estará muito longe de atingir os 10% dos que há espalhados pela região. Cada artefacto tem a sua função, como os talheres num faqueiro. Mas como é que se sabe se um pedaço de quartzito dará um bom machado? "Se o som que faz quando outra pedra lhe toca é metálico, é bom; se for oco, é mau. Demorei muito tempo a perceber isto. Foi preciso dar cabo de alguns dedos e talhar muitos [pedaços de quartzito] que se partiram a meio do processo. "O piloto-arqueólogoFoi com o avô, que tinha uma oficina onde hoje é uma das salas de estar do turismo de habitação que dirige - o Quintal do Além do Ribeiro, que funciona na casa de família, construída em 1752 -, que o jovem arqueólogo se habituou a olhar para o chão com o "vício de procurar". Primeiro parafusos, que considerava tesouros, hoje bifaces e machados do Paleolítico. Pelo meio, ficam os fósseis que o pai lhe trazia da caça. "Gosto de olhar para o chão. Habituei-me a isso, e hoje é quase um vício. As minhas memórias de paisagem têm sempre mais a ver com a cor da terra e com as rochas do que com as árvores e as casas. E isso acontece por causa da Arqueologia e dos treinos de trial. "Filipe Paiva é piloto de trial em motas e foi assim que fez a sua primeira descoberta, em 2005. A modalidade exige muito treino fora de estrada e, para encontrar vestígios de uma ocupação que acredita ter sido muito dispersa, nada melhor do que sair dos caminhos principais. Paiva estava na Foz de Arouce quando deu com a primeira pedra talhada, completamente por acaso. E é precisamente à Quinta de Foz de Arouce, propriedade centenária com 60 hectares, 15 dos quais ocupados por vinhas de onde saem vinhos premiados, que leva o PÚBLICO para explicar a diferença entre uma rocha talhada e outra que sofreu uma erosão natural. A tarefa não é fácil, já que, à chegada ao terreno onde um marco comemora uma das mais célebres batalhas das invasões francesas (1811, quando Masséna já batia em retirada, empurrado por portugueses e ingleses), há rochas soltas por todo o lado, como se alguém as tivesse semeado entre os pés de videira. Muitas são roliças, com a superfície polida, porque antes - muito antes -, o rio corria naquele planalto e não lá em baixo, no vale, explica o arqueólogo, que fez mais de 2000 quilómetros a pé e de mota desde que começou a prospecção para a tese de mestrado, em 2008. Sempre que uma rocha tem fracturas concoidais - que apresentam superfícies lisas e curvas, semelhantes ao interior de uma concha - é porque teve a mão do homem. "Quando encontramos uma fractura concoidal, sabemos que aquela rocha foi talhada", diz o arqueólogo, apontando para um dos exemplares armazenados na Aflopinhal, associação de desenvolvimento florestal da Lousã, onde fez o estágio em que inseriu grande parte do seu trabalho de prospecção no concelho. "A natureza não faz fracturas em concha nem retoques. Quando pegamos num destes machados, por exemplo, vemos que há aqui um fito preciso, que o gume está adaptado a uma tarefa específica. "A natureza, explica Paiva, provoca dois tipos de fragmentação, ligados a variações de temperatura: uma, por causa do calor, deixa a superfície das rochas com um efeito rugoso, tipo casca de laranja; o outro, designado por crioclastia, acontece sempre que a água, depois de entrar nos veios e fendas de uma pedra, congela, fazendo com que ela se parta. "Quando a pedra dá uma pancada noutra pedra, cria uma onda de choque, que faz com que a lasca se desprenda. E é fácil de identificar, porque deixa um cone hertziano. "Estes artefactos podem fazer-nos recuar milénios no tempo. Até 500 mil anos, acredita Paiva, embora não possa ainda comprová-lo. "Para já, não podemos definir com certeza a sua datação. O que podemos dizer é que o Homo sapiens e o Neanderthal já não usam este tipo de tecnologia. "Em contextoLuiz Oosterbeek, professor de Pré-História no Instituto Politécnico de Tomar e um dos especialistas que mais têm acompanhado a investigação de Filipe Paiva, é muitíssimo cauteloso quanto a uma eventual datação, já que não foram encontradas ainda quaisquer ossadas que possam relacionar-se com estes artefactos. "Em Espanha, há sítios com uma datação muito fundamentada, que recua um milhão de anos. Não será estranho vir a encontrar algo semelhante em Portugal - será até muito previsível. Mas, sem estudos mais aprofundados, sem dados antropológicos, não podemos, de forma alguma, afirmar que é este o caso. Precisamos de mais informação, de encontrar artefactos em contexto. " Os que Filipe Paiva recolheu estavam todos à superfície - das duas sondagens arqueológicas que fez na Quinta de Foz de Arouce não resultaram quaisquer materiais do Paleolítico. Para Oosterbeek, que já reuniu com o vereador da Cultura da Lousã, Hélder Bruno Martins, para discutir o que fazer com o espólio reunido por Paiva, a prioridade é a realização de mais sondagens, com a garantia de que os lugares posteriormente escolhidos para escavação serão trabalhados de forma sistemática durante quatro ou cinco anos. "Conhecemos ainda muito mal a realidade do Paleolítico em Portugal. Primeiro pensávamos que se restringia ao Tejo", diz. E recorda que a ocupação mais antiga em território português foi identificada no vale deste rio e tem cerca de 300 mil anos. "O Côa veio demonstrar que estávamos errados, embora diga respeito a um período muito mais recente [20 mil anos]. Agora identificam-se estes sítios quando antes não havia qualquer referência ao Paleolítico na Lousã. . . "Oosterbeek não tem dúvidas de que os artefactos são do Paleolítico Médio ou Inferior, o que equivale a dizer que terão, pelo menos, 200 mil anos. Mas há que ter cuidado com datas, adverte, lembrando que, para fazer investigação em Pré-História, é precisa muita paciência. O facto de terem sido recolhidos à superfície fragiliza-os - não têm contexto estratigráfico, que é o que dá a informação mais precisa e fidedigna. "Contexto" é o que não falta aos materiais saídos das grutas de Atapuerca, a serra espanhola onde, nos últimos anos, têm vindo a ser recuperados vestígios de hominídeos, alguns com 1, 2 milhões de anos (até agora, os mais antigos da Europa Ocidental). Em Atapuerca, há hoje um extenso campo arqueológico, onde Paiva escavou. Foi lá que conheceu dois especialistas em Paleoecologia humana: Josep Maria Vergès e Marina Mosquera. Tal como Oosterbeek, os dois investigadores espanhóis acreditam que as ferramentas descobertas na Lousã pertencem às indústrias antigas do Acheulense, período que começa há 1, 7 milhões de anos e termina há 250/300 mil. "Agora é absolutamente prioritário escavar para encontrar objectos in situ", dizem por email os dois especialistas, que integram a maior equipa de estudos paleolíticos da península. "Os vestígios fora de contexto têm menos valor interpretativo. É preciso escavar: em primeiro lugar, porque a estratigrafia dá-nos informação sobre a sucessão no tempo dos vários momentos de ocupação humana; em segundo, porque os próprios sedimentos e a sua disposição dão-nos dados sobre o paleoambiente de cada ocupação. É com tudo isto que os conjuntos arqueológicos ganham personalidade. "Vergès e Mosquera não conhecem a zona da Lousã, mas conhecem algumas das peças que o arqueólogo português levou para a Universidade de Tarragona, para serem analisadas ao microscópio de electrões, que parece iluminar cada traço, cada fenda: "Através deste exame meticuloso, podemos perceber se um biface foi usado para cortar madeira ou carne", explica Paiva. A dupla espanhola garante que, se a análise se restringisse às características tipológicas dos utensílios recuperados, seria fácil concluir que teriam 500 mil anos, cronologia aceite para datar artefactos semelhantes em toda a Europa. Mas é possível que alguns sejam mais tardios - algo que não se arriscam a afirmar sem contexto. Seja como for, acrescenta Oosterbeek, há um enorme interesse científico em levar mais longe o estudo desta ocupação na Lousã. Um interesse que poderia vir a ter ganhos económicos, se os seus resultados fossem depois devidamente explorados pelo turismo. A autarquia, garante Hélder Bruno Martins, está interessada em cuidar do espólio, mal o arqueólogo entregue os relatórios com as conclusões dos trabalhos à Direcção-Geral do Património Cultural, que autorizou a prospecção e as sondagens. "Estamos muito interessados nas conclusões finais destes relatórios", disse ao PÚBLICO o vereador da Cultura e Educação, que gostaria de ver o espólio tratado e exposto no Museu Municipal, que reabrirá em breve. "Pelo que conhecemos dos relatórios preliminares, é uma investigação que pode trazer dados muito importantes sobre a ocupação humana da serra. "Filipe Paiva garante que procurou várias vezes que a autarquia se interessasse pela sua investigação, "sem grandes resultados". O espólio recolhido está hoje numa sala da Aflopinhal, sem que haja para já qualquer plano para a integrar no museu. E o arqueólogo está a planear emigrar para o Canadá no próximo ano, como fizeram outros colegas. Primeiro fará "o que for preciso", depois quer trabalhar em Arqueologia. Vai sentir saudades das suas pedras, de dormir em grutas pela serra e de cozinhar à fogueira, como costumava fazer com alguns amigos, admite. "Queria sentir como viviam os homens que andaram por aqui há milhares de anos para perceber melhor como pensavam, como caçavam e como usavam os utensílios que recolhi. " Resultou? "Acho que sim. Naquela altura, não devia ser fácil viver aqui. . . Ainda que os motivos sejam muito diferentes, hoje também não é. "
REFERÊNCIAS:
Formigas controlam condições do ninho e quando insatisfeitas mudam de casa
Estudo de investigadora da Fundação Champalimaud mostra que mudança de habitação depende do número de formigas insatisfeitas com o local. (...)

Formigas controlam condições do ninho e quando insatisfeitas mudam de casa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo de investigadora da Fundação Champalimaud mostra que mudança de habitação depende do número de formigas insatisfeitas com o local.
TEXTO: As formigas monitorizam constantemente as condições do seu ninho e quando um determinado número está insatisfeito mudam de casa, explicou uma investigadora que conduziu um estudo nestes animais e que acaba de ser publicado. Carolina Doran, estudante do International Neuroscience Doctoral Programme (INPD) da Fundação Champalimaud e actualmente a trabalhar no laboratório de Nigel R. Franks na Universidade de Bristol, no Reino Unido, demonstrou que as formigas estão permanentemente à procura de um local melhor para viverem. Estudos anteriores, igualmente desenvolvidos em laboratório, tinham concluído que as formigas "gostam de entradas pequenas porque conseguem defender-se, de tecto escuro, tapado, e de uma altura específica porque podem fazer uma montanha com os ovos", referiu a cientista à agência Lusa. Mesmo que todas aquelas condições estejam reunidas, "há sempre um pequeno número de formigas que continua a monitorizar o ambiente porque elas não sabem se acontece alguma coisa ao ninho onde se encontram e precisam de emigrar rapidamente", segundo os resultados agora publicados Royal Society Biology Letters. Carolina Doran apontou que as formigas "estão constantemente a monitorizar e essa monitorização varia de acordo com a qualidade do ninho". "O que nós achamos que está a acontecer é que, consoante a qualidade da casa onde estão, o número de formigas a sair para procurar outra é diferente, quanto mais formigas estão fora, à procura de casa, maior é a probabilidade de, no final, emigrarem", explicou. O número de formigas insatisfeitas é importante para a decisão de mudar. Questionada acerca de alguma relação entre esta atitude das formigas e o comportamento dos homens, Carolina Doran referiu que, nesta espécie, a decisão de mudar "é muito avaliada e elas não gastam o que não têm, elas ponderam", o que nem sempre acontece entre as pessoas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens estudo espécie
O que têm as aves-elefante e os kiwis em comum? Afinal, são primos
Estudo revela que os antepassados das aves-elefante e dos kiwi, a ave símbolo da Nova Zelândia, faziam longos voos. O que ajuda a explicar o seu parentesco. (...)

O que têm as aves-elefante e os kiwis em comum? Afinal, são primos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.3
DATA: 2014-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo revela que os antepassados das aves-elefante e dos kiwi, a ave símbolo da Nova Zelândia, faziam longos voos. O que ajuda a explicar o seu parentesco.
TEXTO: Dão nome a uma fruta e são também uma ave. Os kiwis, que têm quase o tamanho de uma galinha, cerca de cinco quilos e não voam, são o símbolo da Nova Zelândia. Uma equipa de cientistas percebeu agora que os kiwis são primos de outras aves também incapazes de voar – as gigantescas aves-elefante, que viviam em Madagáscar e já estão extintas, provavelmente desde o século XVII ou XVIII. Como é que duas aves que não voam, que são tão diferentes e de territórios tão longe um do outro podem ser parentes próximos?As ratitas são um grupo de aves sem capacidade de voar. Até agora, pensava-se que a dispersão pelo mundo das várias espécies de ratitas – onde se incluem as avestruzes (Austrália e África), as emas (Austrália), os casuares (Austrália, Nova Guiné e ilhas à volta), os kiwis (Nova Zelândia), os extintos moas (Nova Zelândia), as extintas aves-elefante (Madagáscar) ou os nandus (América do Sul) – tinha sido feita à medida que o supercontinente Gonduana se ia fragmentando. Iniciada há 130 milhões de anos, essa separação da Gonduana acabou por resultar nas actuais massas continentais da América do Sul, África, Madagáscar, Índia, Austrália e Antárctida. E, há cerca de 65 milhões de anos, segundo o novo estudo, essa separação teria conduzido à divisão das ratitas. Mas um estudo, divulgado esta sexta-feira na revista Science, revela que afinal os antepassados das ratitas batiam as asas voando para longe, percorrendo muitos e muitos quilómetros. Assim, para a equipa de Kieren Mitchell, da Universidade de Adelaide (Austrália), e colegas os antepassados das ratitas eram aves voadoras. E a perda desta habilidade apenas aconteceu após a fragmentação da Gonduana. Portanto, não terá sido a partir de um antepassado comum não voador, e que se tinha dispersado através da separação continental, que surgiram novas espécies de ratitas nos vários cantos do mundo. Um imigrante australiano que desagradavaNo entender dos cientistas, este estudo põe fim a uma discussão com mais de 150 anos, segundo um comunicado da Universidade de Adelaide. Por outro lado, também permitiu descobrir que, ao contrário do que se pensava, os parentes mais próximos dos kiwis neozelandeses não são as emas australianas – mas sim as aves-elefante de Madagáscar, que podiam atingir 275 quilos e chegar aos dois a três metros de altura. A ideia de que as emas eram os parentes mais próximos dos kiwis resultou de um estudo na década de 1990, pelo investigador Alan Cooper, actual director do Centro de ADN Antigo da Universidade de Adelaide. Ora a ideia de que os kiwis descendiam de uma ave que tinha imigrado da Austrália para a Nova Zelândia, massas continentais separadas há cerca de 60 a 80 milhões de anos, não agradou nada aos neozelandeses na altura. “É fantástico poder finalmente olhar para os registos de maneira correcta, uma vez que os neozelandeses ficaram chocados ao descobrir que a sua ave nacional seria um imigrante australiano”, diz agora Alan Cooper, que coordenou este novo trabalho na Science. “Peço desculpa por ter demorado tanto tempo. ”Já agora, o fruto que todos conhecemos por kiwi não se chamava inicialmente assim. Originário da China, o kiwi era conhecido precisamente como groselha-da-china. Na década de 1940, começou a ser cultivado na Nova Zelândia, onde a planta foi melhorada, para se obterem novas variedades de frutos, que passaram a ser chamados kiwis. Voltando às aves, como é que os cientistas chegaram às novas conclusões? Afinal, as gigantes aves-elefante e os pequenos kiwis não podiam ser mais diferentes. Além da morfologia e de viverem tão longe, os seus hábitos alimentares também são distintos: enquanto as aves-elefante eram herbívoras, os kiwis comem de tudo um pouco, desde insectos a pequenos vermes e frutas, que, como animais nocturnos que são, apanham durante a noite. A equipa sequenciou o ADN das mitocôndrias (transmitido apenas por via materna) de duas espécies de aves-elefantes, cujos ossos estão no Museu Te Papa Tongarewa da Nova Zelândia. E compararam esse ADN com o dos kiwis. Através do ADN mitocondrial, que pode ser usado como relógio molecular que permite andar para trás na evolução das espécies, os cientistas puderam compreender melhor a relação evolutiva entre as ratitas, chegando a este inesperado parentesco. “As provas sugerem que os antepassados voadores das ratitas se dispersaram pelo mundo logo depois da extinção dos dinossauros [há 65 milhões de anos] e ainda antes de os mamíferos terem aumentado drasticamente de tamanho e tornado o grupo dominante”, refere Alan Cooper.
REFERÊNCIAS:
O capitalismo global de sucesso é este bairro de lata em Bombaim
A repórter americana Katherine Boo viveu três anos num bairro de lata de Bombaim para descrever as condições miseráveis dos milhares que habitam os arredores do aeroporto da cidade. O Sonho de uma Outra Vida é o relato da aventura dos não-pobres do século XXI. (...)

O capitalismo global de sucesso é este bairro de lata em Bombaim
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.375
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: A repórter americana Katherine Boo viveu três anos num bairro de lata de Bombaim para descrever as condições miseráveis dos milhares que habitam os arredores do aeroporto da cidade. O Sonho de uma Outra Vida é o relato da aventura dos não-pobres do século XXI.
TEXTO: Durante três anos, Katherine Boo raramente fez perguntas. Limitava-se a ver e ouvir. Se por exemplo tivesse interrogado Sunil, o colector de lixo, sobre os assuntos que mais o interessavam, provavelmente teria ouvido um relatório furioso sobre a concorrência entre hindus e muçulmanos no negócio do lixo. A rivalidade de morte entre os oriundos dos subúrbios da cidade e os imigrantes do Norte. Ou os perigos da profissão, agravados pela crise mundial que fez baixar a procura de materiais para a reciclagem. Perigos como os arranhões feitos nos contentores de lixo, cujas feridas abrem e infectam, deixando entrar larvas que apodrecem a carne. Ou os piolhos na cabeça, o inchaço nas pernas, a gangrena que cresce nos dedos. A crise obrigou Sunil a trabalhar mais horas e mais intensamente, ao ponto de ter parado de crescer e de ser ultrapassado em altura por Sunita, a irmã mais nova. As consequências da comparação na sua auto-estima talvez fossem mais um assunto que referisse à jornalista. O que ele nunca admitiria era a importância fundamental das árvores, das flores e dos pássaros na sua vida. Seria preciso não ter vivido ali, no bairro de Annawadi, nas imediações do aeroporto de Bombaim, desde que foi expulso de um orfanato, aos 11 anos, para saber identificar o amor pela natureza como uma realidade, um facto da vida. “Ele não o sabia, e nunca mo teria dito, se eu lhe tivesse perguntado ‘O que achas mais bonito neste mundo?’ Não saberia responder a essa pergunta, não faz parte da sua linguagem”, explica, a partir de Washington, Katherine Boo ao Ípsilon, numa entrevista telefónica. “Mas eu reparei que ele se punha a ouvir os papagaios enquanto recolhia o lixo. Para se certificar de que ainda estavam lá. Porque os miúdos do bairro costumavam apanhar os papagaios para os vender no mercado, mas Sunil achava que eles deviam ser deixados nas árvores. Começámos a falar de papagaios, e eu percebi como aquilo era importante para ele. "Também Asha não teria contado a história da sua vida, as estratégias que a orientavam no bairro de lata, que lhe permitiram ganhar dinheiro e prestígio, e mandar a filha, a inteligente e bonita Manju, para a universidade. Asha não percebia que as suas actividades se chamavam corrupção. Apenas tentava imitar o comportamento dos mais ricos, dos privilegiados que viviam fora do bairro. Seguia os seus conselhos e o seu modelo. Que outra fonte ética poderia ter, além da que provém da própria lógica social?Asha Wagekar, 39 anos, esposa de um alcoólico débil, trabalhador precário na construção civil, é a protagonista de O Sonho de Uma Outra Vida. “Queria ser uma mulher importante para as pessoas da cidade superior que desejavam explorar Annawadi e para as pessoas da cidade inferior que desejavam apenas sobreviver”, explica Katherine no livro. Percebeu que o administrador do bairro, Robert Pinto, não tinha verdadeira autoridade, e começou a conquistá-la, à sua maneira. Jogou com as rivalidades de etnia, religião e casta, tornando-se mediadora de conflitos, graças às relações privilegiadas que foi criando com os poderosos da política, da polícia, da religião e dos negócios. A uns e a outros cobrava dinheiro, em troca de favores ou de sexo. Numa fase já avançada da sua carreira de influência, Asha tornou-se intermediária num programa governamental de empréstimos para pobres a juro bonificado. O objectivo do programa era ajudar empreendedores que criassem empregos nos bairros de lata, mas a corrupção do sistema permitia que se obtivesse dinheiro mediante a proposta de um negócio fictício. Um funcionário do governo local certificava o número de postos de trabalho que o novo negócio traria a uma determinada comunidade pobre. Um executivo do banco estatal aprovava o empréstimo, e depois o funcionário e o gerente do banco ficavam com uma parte do dinheiro. Asha, que era amiga do gerente do banco, fornecia-lhe os nomes dos que seriam beneficiários (a quem cobrava um “imposto”), e ficava com uma comissão do gerente. Manju, a sua filha, cresceu condenando o estilo de vida da mãe, que no entanto lhe permitiu ascender à classe média, libertando-se da escravidão do bairro. Em toda Annawadi, foi a única pessoa a conseguir aceder ao ensino superior. A pobreza dos não-pobresKatherino Boo é uma prestigiada jornalista americana que se tem dedicado a relatar situações de pobreza – no seu país, no Reino Unido, e agora na Índia. Obteve um prémio Pulitzer e muitos outros, ao longo de mais de 20 anos de jornalismo investigativo e narrativo, no Washington Post e depois na New Yorker. Quando foi viver algum tempo para Bombaim, após ter casado com um indiano, decidiu investigar a vida num bairro de lata. “Estávamos num país onde vive um terço dos pobres do mundo, e que ao mesmo tempo é protagonista de um dos maiores booms económicos de sempre. Um país onde o esforço consequente para erradicar a pobreza foi o maior alguma vez feito na História”, explica ao Ipsilon. “E não havia nenhum trabalho jornalístico sério a documentar isto, contando o que se passava nestas comunidades. Tudo o que fora feito e que eu li era muito orientado ideologicamente. Ou diziam: ‘Para os pobres, nada mudou, desde 1991’. Ou então garantiam: ‘Agora, nos bairros de lata, toda a gente vai para a universidade’. Era absurdo. A perspectiva ideológica não permitia observar a realidade. "Katherine esteve três anos no bairro de Annawadi para documentar a vida numa comunidade pobre onde, no entanto, de acordo com os critérios oficiais, a maioria da população vive acima do limiar da pobreza. Ou seja: todo o horror que é descrito, o mundo perigoso e fétido de barracas construídas em torno de um lago de esgoto, não é a pobreza da Índia. É antes o cenário do milagre económico. Todas aquelas dezenas de milhares de pessoas vieram de aldeias onde há verdadeira pobreza. E quando lá regressam, de férias, apresentam-se como emigrantes de sucesso, exibindo roupas caras e telemóveis. “São recebidos nas aldeias como heróis”, conta Katherine. Vieram para aquela zona da cidade na esperança de trabalhar na construção do aeroporto. Mais de 500 mil indianos chegavam anualmente a Bombaim, concentrando-se em Marol Naka, um cruzamento perto do aeroporto, onde os encarregados da construção civil vinham em camiões escolher os cerca de 200 que trabalhariam em cada dia. Os que não conseguiram emprego foram ficando, dedicando-se a trabalhos miseráveis e temporários, como a apanha de lixo para a reciclagem. Ocuparam um terreno abandonado, num bairro de barracas que foi crescendo. De início, em 1991, os habitantes das barracas eram quase todos muçulmanos, mas o Shiv Sena, o partido fundamentalista hindu, foi ajudando hindus pobres do estado do Maharastra a fixarem-se no bairro, para ali aumentar o seu peso eleitoral e a sua influência. É nesse contexto de luta política e étnica, entre a violência e a concorrência selvagem pelos parcos recursos, numa sociedade em crescimento acelerado, que se desenrola a luta pela sobrevivência em Annawadi. Uma luta feroz em que vale tudo, e durante a qual muitos morrem de doença, figuram como vítimas nas estatísticas do crime ou acabam a suicidar-se. Aqui a vida é frágil e precária, e muito poucos serão vencedores – mas há esperança. Foi essa realidade que Katherine pretendeu retratar. “Desde 1991, a Índia tornou-se na maior história de sucesso do capitalismo moderno, e estas pessoas são parte dessa história. São o rosto do sucesso do capitalismo global, os não-pobres do século XXI. "Sem romantismoNos primeiros capítulos de O Sonho de Uma Outra Vida, Katherine Boo caracteriza o lugar e as personagens, mas depois a narrativa desenvolve-se em torno de algumas histórias dramáticas, como num romance. “No início, comecei a seguir 80 famílias”, diz ao Ípsilon. “Depois fui seleccionando as personagens, não só porque tinham boas histórias, mas também porque iluminavam certos problemas do sistema que eu queria expor. " Foi o caso de Fatima e Abdul, por exemplo. A primeira é uma mulher sem uma perna que acaba por se imolar pelo fogo. Antes de morrer ainda tem tempo de culpar Abdul, que acusava de a ter estrangulado. “A história de Abdul interessou-me porque o seu trabalho de apanha de lixo está ligado à economia global, incluindo a recessão de 2008. E também porque, ao ser acusado de um crime, permitiu-me mergulhar profundamente nos problemas do sistema judicial, da polícia e dos tribunais. A história de Fatima, por seu lado, levou-me a examinar a terrível qualidade do sistema de saúde para os pobres e dos hospitais públicos, onde não há medicamentos nem água, onde os médicos deixam os doentes morrer e depois culpam as famílias. "Em O Sonho de Uma Outra Vida as personagens não são “típicas”, nem representantes de coisa nenhuma. São únicas, complexas e como tal descritas e caracterizadas, nas suas imperfeições e contradições. “Se descrevemos um tipo, não criamos uma ligação”, argumenta Katherine. “O que é preciso é descrever o indivíduo. Como escritora, não quero forçar o leitor a sentir uma identificação. Descrevo as pessoas como elas são, e os leitores sentem o que tiverem de sentir. Também não embelezo nem romantizo as personagens, tornando-as perfeitas. Amigos disseram-me para eu não contar certas coisas a respeito de Asha, por exemplo, porque tornariam impossível a empatia com ela. Mas eu quis mostra-la como ela era. Se conhecermos o seu contexto, compreenderemos melhor as decisões que tomou. De resto, eu estava a escrever sobre um bairro de lata de que ninguém ouvira falar. Disse aos meus editores: ‘Com que propósito iria tornar a história mais sentimental? Ninguém vai ler isto de qualquer forma'. "Quando foi publicado, em 2012, o livro tornou-se imediatamente um best-seller do New York Times. Ganhou o National Book Award, o Los Angeles Times Book Prize, o PEN/John Kenneth Galbraith Award, e vários outros prémios. Está traduzido em dezenas de línguas. A edição portuguesa está nas livrarias desde a semana passada.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte trabalhador filha violência mulher carne comunidade social doença sexo pobreza
Os (futuros) médicos vão à montanha
São 25 estudantes de Medicina, em cinco aldeias isoladas. Medem níveis de glicemia, tensão arterial e índice de massa corporal a idosos que vão encontrando ainda a trabalhar nos campos, apesar das dores nas articulações. (...)

Os (futuros) médicos vão à montanha
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: São 25 estudantes de Medicina, em cinco aldeias isoladas. Medem níveis de glicemia, tensão arterial e índice de massa corporal a idosos que vão encontrando ainda a trabalhar nos campos, apesar das dores nas articulações.
TEXTO: É preciso evitar a água de um ribeiro que escorre encosta abaixo. Depois, há que saltar um muro, porque o portão metálico está demasiado enferrujado para abrir. Para lá da cerca de granito, já depois de uns ramos rasantes de videira, abre-se um cenário impressionante: o vale pintado de verde, entre os terrenos agrícolas em socalco e a vegetação da serra do Soajo. É num desses campos, contornados por milho, que Victória Matos, 21 anos, encontra Clementina, de 82. A jovem é estudante de Medicina. “Um dia vou ser médica”, diz à mulher que a recebe no terreno de que é proprietária, em Lordelo, uma aldeia de Arcos de Valdevez. “Melhor, que há poucos”, responde. Para trás já tinham ficado sete quilómetros no meio de uma estrada de serra, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), entre garranos à solta e vacas pastando nas zonas mais íngremes da montanha. Mas para entrar no campo de Clementina ainda era preciso um último esforço. Victória explica ao que vem: é um dos 25 futuros médicos que passaram os últimos dias em contacto com as pessoas mais velhas de cinco aldeias deste concelho do Alto Minho, no âmbito do programa “Aldeia Feliz”. É uma iniciativa do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM), que foram aos terrenos agrícolas e às casas das pessoas recolher historiais clínicos, medir níveis de glicemia, tensão arterial e índice de massa corporal, por exemplo. Os dados recolhidos foram depois encaminhados para o Centro de Saúde local e, nos casos mais urgentes, para os serviços sociais da câmara. Esta é a primeira vez que estes jovens fazem este trabalho, em regime de voluntariado e durante as férias. “Enquanto estudantes de Medicina, quando começamos a chegar aos hospitais, começamos a contactar com esta franja da população mais isolada e mais envelhecida”, explica Victória. “É aí que percebemos realmente todas as problemáticas que estão associadas a este envelhecimento. ”Clementina apoia a foicinha sobre o ombro direito. Coça a cabeça com a ponta da lâmina com uma perícia arrepiante. E não disfarça a impaciência: “Eles já estão a assobiar, que querem ir embora. ” No seu terreno, há um grupo de homens a cortar feno. Com a hora do pôr-do-sol a aproximar-se, querem terminar o dia de trabalho e voltar a casa. Victória Matos pede-lhe mais uns minutos para completar o trabalho que ali veio fazer. IsoladosPortugal é o sexto país mais envelhecido do mundo, algo que contrasta radicalmente com a que se verificava na década de 1970. O país era então o menos envelhecido da Europa e mesmo que esta seja uma realidade transversal a todo o continente, o fenómeno português teve um crescimento mais acelerado do que o que aconteceu nos seus parceiros europeus. A idade média da população portuguesa — que em 1960 não passava dos 28 anos atingiu, em 2011, 42 anos. O número de pessoas com menos de 15 anos é hoje inferior àquelas com idade igual ou superior a 65 anos. Mas este é também um país onde os mais velhos vivem mais isolados. É isso que tem divulgado a GNR, com os dados do Censo Sénior, realizado anualmente. Os números mais recentes, publicados em Março, apontam para a existência de quase 34 mil idosos a viverem sozinhos ou num local com fraca acessibilidade — mais 17% do que no ano anterior. Estes são os dados que fazem com que Victória Matos, que coordena o “Aldeia Feliz” na direcção do NEMUM, diga que este o projecto, apesar de estar ainda a nascer, “é já uma certeza de que será para continuar”. Nos dados da GNR, o distrito de Braga nem é dos mais afectados pelo isolamento dos idosos — Viseu, Beja, Guarda e Évora aparecem no topo da lista — mas esta é uma região de contrastes. No litoral, há cidades como Braga, Guimarães ou Famalicão, mas no interior há concelhos com áreas dificilmente acessíveis, especialmente nas serras. Foi por isso que os estudantes de Medicina da UM escolheram Arcos de Valdevez para lançar o projecto. Ali encontraram exemplos bem evidentes do isolamento que afecta os mais velhos. Na aldeia de Lordelo não passam transportes públicos. Os habitantes, quando têm que ir ao médico, têm que pedir boleia a algum familiar. Ou, se estes não estão por perto, como os filhos de Manuel, emigrados no Luxemburgo, não há outro remédio que não seja chamar um táxi. A localidade fica a mais de 20 quilómetros de Arcos de Valdevez, onde está o Centro de Saúde, e a viagem, de ida e volta, custa 35 euros. Demasiado para quem recebe uma pensão curta. “Só lá vou de seis em seis meses”, explica. Ele também foi emigrante, em França, onde andou a “ganhar a vida” como conta. Agora fica feliz com menos: “Só preciso de me levantar vivo que o dia já está ganho. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Homem morre após ataque de um boi em Montalegre
Animal deu uma cornada na omoplata do dono, que perdeu muito sangue e acabou por morrer. (...)

Homem morre após ataque de um boi em Montalegre
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Animal deu uma cornada na omoplata do dono, que perdeu muito sangue e acabou por morrer.
TEXTO: Um homem de 52 anos morreu nesta sexta-feira na aldeia de Donões, em Montalegre (Vila Real), após ter sido atacado por um boi, avançou à Lusa fonte dos bombeiros. Segundo a fonte, o homem, emigrante em França e a passar férias em Portugal, havia regressado do monte com o animal quando, ao pô-lo na corte, levou uma cornada. "O boi deu-lhe uma cornada na omoplata direita provocando-lhe uma enorme lesão e, por isso, perdeu muito sangue", explicou. Os bombeiros foram desde Donões, local do incidente, até ao Serviço de Urgências Básicas do Centro de Saúde de Montalegre, cerca de seis quilómetros, em manobras de reanimação, mas a vítima não resistiu aos ferimentos e acabou por falecer. O corpo foi transportado para a morgue do Hospital de Chaves. Na altura do ataque, e segundo relatos dos populares, o animal estaria "assustado e muito agitado". O homem tinha, em conjunto com um primo, uma sociedade de criação de bois para competir nas chegas - desporto-rei da região barrosã - onde os animais são colocados frente a frente, entrelaçam os cornos, afastam-se e voltam ao confronto que termina quando um dos touros foge, assumindo a derrota.
REFERÊNCIAS:
Universalização de comer à mesa é recente
Entrevista a Dulce Freire, historiadora. (...)

Universalização de comer à mesa é recente
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140816170320/http://www.publico.pt/1665832
SUMÁRIO: Entrevista a Dulce Freire, historiadora.
TEXTO: A historiadora Dulce Freire, coordenadora do projecto Agricultura em Portugal: Alimentação, desenvolvimento e sustentabilidade (1870-2010), e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, explica que a universalização de jantar ou almoçar à mesa é recente. Fazer refeições em conjunto está na base da nova pirâmide da dieta mediterrânica. O que mudou nas reuniões das famílias à mesa?A primeira questão é: que famílias tinham mesa? A mesa de refeições não era um objecto comum em todas as regiões. Uma família rural, dos anos 1930, 1940, mesmo dos anos 1960, podia não comer à mesa. Comia junto à lareira, em algumas regiões comia numa tripeça – uma mesa em miniatura que se guardava junto à lareira, junto ao calor. E muito menos comia com prato, copo, e talheres – comiam todos numa bacia, cada um tinha o seu garfo ou colher. E no consumo de comida das famílias, o que se alterou?A transição nutricional dos portugueses aconteceu nos anos 1960/70. Foi nessa altura que começaram a adoptar padrões de consumo alimentar considerados modernos, com maior quantidade de proteínas animais, vitaminas, diversidade de produtos e uma distribuição mais equilibrada desses produtos ao longo do ano. Uma das características das sociedades rurais, que em Portugal foram dominantes até aos anos 1960, é que a maior parte da população trabalhava no campo e os rendimentos provenientes da agricultura eram muitos importantes para o rendimento doméstico. A agricultura era fundamental para a alimentação e os alimentos disponíveis eram repetitivos de acordo com a sazonalidade. O que podia acontecer em zonas pobres como São Pedro do Sul é que a colheita de batata de uma família de agricultores podia não chegar de uma época a outra e a partir de Novembro-Janeiro já não teriam batatas para consumir, ou seja, haveria uma perda da quantidade de calorias. O mesmo acontecia com azeite, cereais, leguminosas: a alimentação em cada família estava condicionada ao que havia em cada época e o que existia podia não ser o mais indicado para manter uma alimentação equilibrada. A subnutrição era generalizada e muitas pessoas recordam-se bem de que passavam fome. De onde vem a origem da cultura de se ter muita comida à mesa, é algo do Norte?Não é só no Norte. Presumo que venha dos dias de festa. Até aos anos 60, para a maior parte das famílias, o quotidiano, tanto no Norte como no Sul, era escasso, mas nos dias de festa, havia abundância (nos casamentos, nos baptizados…). A mesa farta sempre foi algo a que todos aspiravam: era sinal de riqueza, bem-estar, boa situação financeira. O que acontece é que as pessoas quando têm convidados procuram pôr o melhor na mesa. A zona do Norte sempre foi uma zona mais fértil e de emigrantes, sobretudo a partir de finais de século XIX. Revelarostentar essa opulência (na mesa) pode revelar maior disponibilidade financeira. Tem a ver com essa necessidade de querer receber bem e de se mostrar que se está bem.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura campo fome consumo alimentos
Anthony Bourdain: o coração ao pé do estômago
Ele é divertido, simpático e conhecedor. Mas também grosseiro, politicamente incorrecto e implacável. Neste equilíbrio quase sempre instável, mas enriquecedor, Anthony Bourdain, chefe e viajante, é a figura central do programa No Reservations, do Travel Channel, que na semana passada chegou aos 100 episódios. A personagem televisiva reflecte fielmente a sua maneira de ser, diz quem o conhece. Adora Portugal. (...)

Anthony Bourdain: o coração ao pé do estômago
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ele é divertido, simpático e conhecedor. Mas também grosseiro, politicamente incorrecto e implacável. Neste equilíbrio quase sempre instável, mas enriquecedor, Anthony Bourdain, chefe e viajante, é a figura central do programa No Reservations, do Travel Channel, que na semana passada chegou aos 100 episódios. A personagem televisiva reflecte fielmente a sua maneira de ser, diz quem o conhece. Adora Portugal.
TEXTO: Imagine-se um emprego que consiste em andar à volta do mundo descobrindo e divulgando os segredos da gastronomia dos países ou regiões que se visitam. Parece tentador, não? Houvesse concurso público e não faltariam candidatos. . . Mas o lugar já foi arrebatado, por um tipo magro e alto, com um passado de drogas, uma língua bastante suja e um estômago de ferro. Por incrível que pareça, é americano. E o programa também. Há anos que Anthony Bourdain se tornou numa personagem de televisão, já depois de ter escrito um livro que o catapultou para a fama. Corria o ano 2000 quando o então jovem chefe "flambeou" o ambiente gastronómico de Nova Iorque com o seu relato do que se passava e se vivia nos bastidores dos restaurantes da cidade. O livro Kitchen Confidential foi uma espécie de versão longa de um artigo publicado na revista New Yorker (título: "Não coma antes de ler isto"), onde Bourdain relatava pormenores sórdidos e episódios divertidos. Sempre com a comida como pano de fundo. A fama apanhou-o a trabalhar num restaurante famoso da cidade, a Brasserie Les Halles, propriedade do português José Meirelles. "Pusemos um anúncio no jornal e ele foi um dos que se candidataram. Nunca me arrependi de o ter escolhido: trabalhar com ele foi das melhores experiências profissionais que tive", relata o emigrante em Nova Iorque, em contacto telefónico. "Era uma pessoa óptima de se lidar, sempre bem-disposto, bom na cozinha e no ambiente - ele escreve como fala, como é. Com ele, tínhamos uma cozinha eficiente, mas muito divertida. "Quando foi contratado para chefe de cozinha da Brasserie Les Halles, Bourdain já era conhecido como a voz máxima dos anos loucos da gastronomia de Nova Iorque. O livro foi de tal forma marcante que, 15 anos depois, surgiu uma série de televisão que adoptou o tema e o nome - o protagonista chamava-se Jack. . . Bourdain. Só durou uma temporada na Fox. Na altura, nada disto mexeu com José. "As coisas escabrosas que ele conta aconteceram no início da sua carreira [Bourdain começou por lavar pratos em restaurantes e desempenhou outras tarefas menores enquanto passava pelo Vassar College e se formava no Culinary Institute of America, para depois se iniciar nas artes da culinária propriamente dita]. Foi uma fase da vida dele e também uma época que se viveu neste meio em Nova Iorque. No Les Halles não havia sexo na câmara frigorífica. . . "José Meitelles ri-se. "Tony", como ele o trata, portou-se sempre bem enquanto trabalhou no Les Halles (que entretanto fechou, para dar lugar a outro estabelecimento, o Le Marais) e os dois continuam a ver-se de vez em quando - "Só não nos encontramos mais vezes porque ele viaja muito. " Mas o sexo refrigerado até pode bem ser o menos chocante na história de vida de Bourdain. Um excerto do livro, relativo ao ano de 1981, fala por si: "Estávamos constantemente "pedrados" e não perdíamos uma oportunidade de nos pirarmos para o corredor frigorífico, onde "conceptualizávamos". Raramente tomávamos uma decisão sem drogas. " E segue-se uma extensa listagem de substâncias, que inclui os óbvios LSD, cannabis e cocaína, mas também cogumelos alucinogéneos, heroína, barbitúricos, codeína, anfetaminas. . . E etc. Ódio aos vegetarianosNa década de 90 do século passado, isto já são águas passadas. Bourdain torna-se numa personagem pública e em breve a televisão fará dele uma figura planetária. Em 2001, larga tudo e lança-se numa viagem gastronómica à volta do mundo, procurando os verdadeiros sabores do planeta e as culturas que lhes estão subjacentes. O livro A Cook"s Tour e o programa de TV com o mesmo nome são o reflexo dessa odisseia, que o levou às mais exóticas paragens e o colocou frente a frente com as iguarias mais indescritíveis do planeta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave sexo espécie emigrante
Bento XVI vai exaltar valores da peregrinação, cultura e família
O Papa inicia hoje, em Santiago de Compostela, uma visita de 36 horas a Espanha, que termina amanhã com a consagração da Sagrada Família de Antoni Gaudí. O périplo de Bento XVI suscita entusiasmo na Igreja espanhola e, se em terras galegas marca o fim do Ano Santo Compostelano, já na capital catalã gerou polémica. O Papa pronunciará sete discursos, falando em galego, catalão, castelhano e latim. (...)

Bento XVI vai exaltar valores da peregrinação, cultura e família
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Papa inicia hoje, em Santiago de Compostela, uma visita de 36 horas a Espanha, que termina amanhã com a consagração da Sagrada Família de Antoni Gaudí. O périplo de Bento XVI suscita entusiasmo na Igreja espanhola e, se em terras galegas marca o fim do Ano Santo Compostelano, já na capital catalã gerou polémica. O Papa pronunciará sete discursos, falando em galego, catalão, castelhano e latim.
TEXTO: Durante as oito horas de estadia em Santiago de Compostela, cidade que nunca visitou, o Papa terá à sua espera uma multidão de peregrinos, muitos dos quais oriundos do Norte de Portugal. A enchente prevista levou a que a missa, a meio desta tarde, seja celebrada ao ar livre, na Praça do Obradoiro, pois na catedral apenas poderiam estar 800 pessoas. Através de nove ecrãs gigantes colocados em vários pontos da cidade, os peregrinos poderão acompanhar a celebração durante a qual serão interpretadas composições de Haendel, Mozart, Bach, Santiago Tafali, Nemésio Garcia Carril e Juan Durán, que estreará a Peregrinação da Fé. Na cidade galega, com motivo do encerramento de mais um Ano Santo Jacobeu, Bento XVI deverá abordar o tema das raízes cristãs da Europa e o valor da peregrinação. Na missa, o Papa falará em castelhano, latim e também em galego, no que a Santa Sé refere ser prova de estima e atenção à cultura galega. Para a realização desta visita não foi estranho o trabalho do antigo alcaide de A Corunha, o socialista Francisco Vásquez, actual embaixador de Espanha no Vaticano. Para a Igreja católica na Galiza, que não recebia uma visita papal desde João Paulo II, em 1982, a presença de Bento XVI é um tónico. Os seus responsáveis esperam revitalizar a tradição jacobeia em terras em que a Igreja tem problemas de escassez e envelhecimento: há 600 padres para 1073 paróquias e a média etária do clero é de 67 anos. A Xunta - o Governo regional da Galiza - investiu três milhões de euros nos preparativos da breve estadia papal e espera uma receita de 17 milhões. A Igreja catalãAmanhã, em Barcelona, é esperada uma afluência de várias centenas de milhares de pessoas às ruas da cidade, à volta da Sagrada Família e na praça de touros da Monumental. Na cidade estarão colocados 31 ecrãs gigantes. E, se a câmara municipal orça em 370 mil euros os preparativos da visita, é calculado que a cidade arrecadará cerca de 30 milhões de euros com a presença de Bento XVI. O motivo da visita do Papa à capital catalã é a dedicação do altar e a consagração, como basílica, da Sagrada Família de Antoni Gaudí, cujo processo de beatificação já está em curso. Na homilia, Bento XVI deverá falar da relação entre a fé religiosa e a cultura, definindo uma nova aliança da Igreja com a arte, na sequência do encontro de 21 de Novembro do ano passado com 260 artistas de todo o mundo na Capela Sistina, no Vaticano. O valor da família é outro dos temas que o Papa deverá abordar, bem como a defesa do diálogo inter-religioso, numa cidade como Barcelona que, fruto da forte imigração, é hoje multiconfessional. A cerimónia será em castelhano, catalão e latim. "Temos notícia da sensibilidade existente na Catalunha e sabemos que essa sensibilidade se encontra num momento peculiar", justificou monsenhor Guido Marini, responsável das cerimónias litúrgicas pontifícias. O que exaltou os nacionalistas catalães, que consideram a visita papal como um passo no reconhecimento de uma Igreja própria. Aliás, na passada segunda-feira, 36 personalidades fizeram publicar, como publicidade, um manifesto no diário italiano Corriere della Sera. O texto, subscrito, entre outros, por Jordi Pujol, ex-presidente da Generalitat, o governo regional, e os abades de Montserrat e Poblet, congratula-se com o que interpretam como um sinal de reconhecimento para a Igreja da Catalunha. Uma reivindicação que data de 1966, quando os católicos nacionalistas lançaram a campanha Volem bisbes catalans [Queremos bispos catalães] e continuada em 1985 pelo documento episcopal Arrels cristianes de Catalunya [As raízes cristãs da Catalunha]. Uma aspiração não reconhecida e que entrou em choque com a Conferência Episcopal Espanhola, apesar de a Igreja na Catalunha gozar de boa saúde: há 485 sacerdotes para 214 paróquias e a média de idade do clero é de 57 anos, uma das mais baixas de Espanha.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Jack LaLanne: o ícone da ginástica morreu aos 96 anos
Jack LaLanne, o ícone e pioneiro da ginástica, morreu este domingo aos 96 anos - 82 anos depois de ter comido a sua última sobremesa. (...)

Jack LaLanne: o ícone da ginástica morreu aos 96 anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-01-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jack LaLanne, o ícone e pioneiro da ginástica, morreu este domingo aos 96 anos - 82 anos depois de ter comido a sua última sobremesa.
TEXTO: Associado a um estilo de vida saudável e responsável pela realização dos primeiros programas de ginástica para televisão nos Estados Unidos, Jack LaLanne serviu de inspiração para milhões de pessoas que seguiram os seus conselhos sobre alimentação e os seus passos de ginástica – numa quase obsessão nacional em busca do corpo perfeito. O desportista, que nasceu a 26 de Setembro de 1914, em São Francisco, na Califórnia, filho de imigrantes franceses, acabou por não resistir às complicações respiratórias que teve na sequência de uma pneumonia. LaLanne morreu na sua casa, em Morro Bay, na costa da Califórnia, segundo informou o seu agente, Rick Hersh, citado pelo Guardian, que garantiu que praticou desporto todos os dias até ao final da sua vida. “Não só perdi o meu marido e um grande ícone americano, como também perdi o meu melhor amigo e o parceiro mais amoroso que qualquer pessoa sonhou ter”, disse, por seu lado, a sua mulher, Elaine LaLanne, com quem esteve casado 51 anos e com quem apareceu várias vezes nos programas televisivos. O programa de ginástica de LaLanne tornou-se num marco entre os anos 50 e 80. Com a ajuda do seu cão Happy encorajava as crianças a saírem da cama e a convocarem toda a família para assistir à aula televisiva. O conceito de LaLanne era simples: estimular exercícios que pudessem ser desenvolvidos com os objectos normais do dia-a-dia, como toalhas e cadeiras. “A única maneira de magoar o seu corpo é não o utilizar”, costumava dizer o professor, que defendia que nunca é tarde para começar a fazer exercício e que considerava a inactividade como “um assassino”. Além do programa, LaLanne criou a partir de 1936 uma rede ginásios com o seu nome e, nos últimos anos, promoveu o consumo de frutas e legumes crus para ajudar a vender um espremedor chamado Power Juicer Jack LaLanne's. O seu primeiro ginásio está na base daquilo que hoje consideramos um health club, já que tinha até um espaço de sumos naturais e de venda de comida saudável. O interesse do desportista pela área surgiu precisamente depois de ouvir uma palestra do nutricionista Paul Bragg sobre os benefícios dos cereais integrais e de uma dieta vegetariana, passando a defender os malefícios de toda a comida que é produzida pelo homem e que sabe bem. LaLanne chegou a nadar longos percursos algemado e manteve-se activo até ao final da sua vida, com uma rotina que incluía duas horas e musculação e uma de natação. Em 2006 ironizou que não se podia dar ao luxo de morrer pois isso “arruinaria” a sua imagem.
REFERÊNCIAS: