Qual é o mamífero terrestre que dorme menos durante todo o dia?
Tem tromba, muitos quilos de massa corporal e dorme só duas horas por dia. Quem é? É o elefante. Um novo estudo veio agora confirmar que este animal ainda dorme menos tempo na natureza do que em cativeiro. (...)

Qual é o mamífero terrestre que dorme menos durante todo o dia?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 10 | Sentimento -0.16
DATA: 2017-03-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tem tromba, muitos quilos de massa corporal e dorme só duas horas por dia. Quem é? É o elefante. Um novo estudo veio agora confirmar que este animal ainda dorme menos tempo na natureza do que em cativeiro.
TEXTO: Parece que o grande porte dos elefantes assusta o João Pestana. Pelo menos é o que nos sugere um estudo sobre a quantidade de horas que o maior mamífero terrestre dorme na natureza. Em média, dorme duas horas por dia. Mas estas horas nem são seguidas; os elefantes fazem pequenas sestas durante o dia ou podem mesmo até ficar dias consecutivos sem dormir. É uma surpresa que os elefantes durmam tão poucas horas? “Não, este pequeno período de tempo não foi surpreendente”, responde-nos Paul Manger, neurocientista da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, e coordenador do estudo publicado na revista Plos One esta quarta-feira. Afinal, já se sabia que eles dormiam pouco desde as primeiras observações de elefantes de um circo em Nova Iorque e Boston, em 1938. Neste estudo, dos norte-americanos Francis Benedict e Robert Lee, percebeu-se que os elefantes dormiam entre três a sete horas por dia. Mais estudos têm sido realizados e os resultados indicam que os elefantes em cativeiro, em média, dormem cerca de quatro horas por dia. Desta vez, a equipa de Paul Manger decidiu fazer o teste em elefantes na natureza. Para tal, os cientistas escolheram duas fêmeas matriarcas do Parque Nacional do Chobe, no Botswana. O parque tem cerca de 11. 700 quilómetros quadrados e é a casa de cerca de 17. 000 elefantes. É, por isso, considerado um dos locais onde se concentram mais elefantes em África. As duas matriarcas observadas pertenciam à espécie Loxondonta africana e eram elas que conduziam a manada de elefantes. A primeira matriarca tinha 30 anos e cerca de 3400 quilos, enquanto a segunda tinha 37 anos e 3000 quilos. Em ambas foi colocada uma coleira que fornecia dados da sua localização em GPS e da rapidez do seu andamento. Assim, foi possível perceber se estavam paradas ou em movimento. Também se teve em conta a actividade da tromba: se estivesse parada cinco minutos ou mais, era sinal de que a matriarca estava a dormir. Na observação, que durou 35 dias, o tempo total que a primeira matriarca dormiu foi de duas horas e 18 minutos, enquanto a segunda foi de uma hora e 48 minutos. Concluiu-se assim que os elefantes na natureza dormem em média duas horas e que são os mamíferos que dormem menos. Paul Manger conta que há animais como a girafa ou a palanca-vermelha que podem dormir pouco, mas não tão pouco como os elefantes e, além disso, ainda não foram feitos estudos na natureza com estes animais. Mas não ficamos por aqui. Os elefantes dormem de forma polifásica, o que quer dizer que dormem mais de duas vezes ao longo do dia (nós somos monofásicos). A primeira matriarca registou, em média, quatro episódios de sesta durante o dia, sendo o maior período de 78 minutos (uma hora e 18 minutos). Já a segunda matriarca dormiu cinco vezes num dia e o sono mais prolongado foi de 48 minutos. O tempo em que as fêmeas de elefante dormiram mais foi de noite, entre o pôr do Sol e o nascer do Sol, mais exactamente entre a 01h e as 06h. Enquanto as sestas durante o dia se fizeram entre as 10h30 e as 15h30. Além disso, também se observou que os elefantes podem passar dois dias seguidos sem dormir. Quais os motivos? No Parque Nacional do Chobe há leões que caçam elefantes e há também caça furtiva devido ao marfim. Os cientistas ainda consideraram que “insónias” de dois dias podiam dever-se ao facto de as fêmeas serem matriarcas e estarem preocupadas em dirigir a manada. A equipa pôde assim perceber que tudo isto pode afectar uma fase importante do sono, a do “movimento rápido dos olhos” (REM, na sigla em inglês), durante a qual ocorrem os sonhos vívidos e os olhos se movem rapidamente. Outros estudos já tinham constatado que esta fase é rara nos elefantes. Mas afinal por que é que os elefantes dormem tão pouco? “Parece que há um equilíbrio entre a necessidade de ingerir uma certa quantidade de calorias para uma determinada massa corporal, o tempo que se leva a fazer isso e o tempo que resta para dormir”, explica ao PÚBLICO Paul Manger. Este equilíbrio acontece porque um grupo de neurónios produz uma substância química – orexina –, que funciona como mensageiro químico entre os neurónios e regula a satisfação (o apetite), a vigília e a excitação. Quando um elefante ainda não comeu o suficiente, a orexina mantém-no acordado. “Uma vez que um elefante precisa de muitas centenas de quilos de comida de baixa qualidade por dia, o tempo que lhe resta para dormir é pouco”, conta o neurocientista sul-africano. “Contudo, no jardim zoológico – onde há comida em quantidade e a qualidade é melhor e é mais acessível do que na natureza –, o tempo que passa a dormir é maior do que na natureza. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas este estudo sobre o sono ainda não terminou, aponta Paul Manger. Vão observar-se elefantes macho e fêmeas que não são matriarcas. Por fim, terá de se perceber como é que a fase REM do sono funciona realmente nos elefantes. “A dificuldade é obter financiamento para este trabalho”, salienta. E ainda há outro problema que não deixa os elefantes africanos descansados: a intensa procura de marfim. Num estudo recente sobre a população de elefantes no Parque Nacional de Minkébé, no Gabão, entre 2004 e 2014, uma equipa verificou que morreram 25. 000 elefantes, o que equivale a 80% da sua população no parque. No artigo na revista Current Biology, cujo principal autor é John Poulsen, da Universidade de Duke (EUA), a equipa apelou à cooperação entre os governos para a criação de medidas internacionais que ponham fim à caça furtiva de elefantes.
REFERÊNCIAS:
Nova espécie de lémur em Madagáscar está em risco extremo de extinção
O lémur-anão-lavasoa vive no Sudeste de Madagáscar e só deverá haver 50 animais deste primata. (...)

Nova espécie de lémur em Madagáscar está em risco extremo de extinção
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 10 | Sentimento 0.005
DATA: 2013-07-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O lémur-anão-lavasoa vive no Sudeste de Madagáscar e só deverá haver 50 animais deste primata.
TEXTO: No Sudeste da ilha de Madagáscar, na época das chuvas, as poucas dezenas de lémures-anões-lavasoa param de hibernar e tornam-se activos nas florestas. Em 2001, estes primatas foram observados pela primeira vez por um cientista, mas só agora se compreendeu que pertencem a uma espécie nova para a ciência. O artigo com a descoberta foi agora publicado na revista Molecular Phylogenetics and Evolution. Madagáscar terá recebido há cerca de 60 milhões de anos a espécie de lémur antepassada das que hoje lá habitam. Não se sabe exactamente como é que lá chegou, mas teve oportunidade de prosperar e de se diversificar nas florestas distribuídas pela ilha – que tem 6, 3 vezes o tamanho de Portugal – sem a competição de outros primatas que, entretanto, levaram à extinção as antigas espécies de lémures que viviam no continente africano. Hoje, conhecem-se cerca de 100 espécies de lémures. Todas vivem em Madagáscar, à excepção de duas que habitam as ilhas Comores, mas que foram provavelmente introduzidas lá por pessoas. A nova espécie Cheirogaleus lavasoensis é um lémur-anão que se pensava pertencer à espécie Cheirogaleus crossleyi. Mas investigadores do Instituto de Antropologia da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz, na Alemanha, capturaram 51 lémures-anões em nove locais diferentes para lhes retirarem amostras de tecido. Os animais foram devolvidos à natureza. Com as amostras, os cientistas fizeram análises moleculares e genéticas, para compreender melhor a diversidade genética entre diferentes géneros de lémures. “Fizemos uma análise exaustiva para examinar a diversidade genética de dois géneros de lémures que têm um parentesco próximo, o género Cheirogaleus (lémur-anão) e o Microcebus. A comparação revelou que a diversidade de lémures-anões era maior do que o que se pensava anteriormente”, explica em comunicado Dana Thiele, uma das autoras do artigo. Dessa forma, a equipa identificou o Cheirogaleus lavasoensis. A espécie vive apenas em três pequenos fragmentos de floresta, isolados uns dos outros, e que ficam inundados na altura das chuvas quando este animal se torna activo. Uma estimativa preliminar da população aponta para a existência de apenas 50 indivíduos, o que coloca a espécie num risco extremo de extinção. A perda de habitat e a caça são duas ameças que fazem com que muitas espécies de lémures estejam à beira da extinção.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Queda de Gbagbo "está iminente" na Costa do Marfim
O regime de Laurent Gbagbo está a viver as suas últimas horas, segundo o governo francês. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé, disse ao início da tarde que “está iminente” a rendição do Presidente cessante e que estão em curso negociações com vista à sua deposição. (...)

Queda de Gbagbo "está iminente" na Costa do Marfim
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: O regime de Laurent Gbagbo está a viver as suas últimas horas, segundo o governo francês. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé, disse ao início da tarde que “está iminente” a rendição do Presidente cessante e que estão em curso negociações com vista à sua deposição.
TEXTO: O primeiro-ministro francês, François Fillon, declarou que “dois generais próximos de Gbagbo “estão neste momento a negociar as condições da sua rendição”. A França está “a dois dedos” de convencer o antigo Presidente a ceder o poder ao seu legítimo sucessor Alassane Ouattara, acrescentou Juppé. Horas antes, o chefe de Estado Maior do Exército leal ao Presidente cessante da Costa do Marfim já tinha anunicidado à AFP que as suas tropas "pararam os combates" e pediram um cessar-fogo às forças das Nações Unidas. "Após o bombardeamento pelas forças francesas de algumas das nossas posições e de certos pontos estratégicos da cidade de Abidjan, parámos os combates e pedimos um cessar-fogo ao comandante geral da ONUCI, [Missão da ONU na Costa do Marfim] ", disse à AFP o general Philippe Mangou. O cessar-fogo deve permitir "proteger as populações, os militares, a Guarda Republicana encarregue da segurança do Presidente da República, do Presidente da República e da sua família, e dos membros do Governo" do seu primeiro-ministro, Gilbert Aké N’gbo. "Pedimos à ONUCI para evitar que haja pilhagens e caça às bruxas", concluiu. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Presidente cessante da Costa do Marfim tinha-se anteriormente refugiado na casa do embaixador da França, devido ao avanço das forças do Presidente eleito, Alassane Ouattara. A informação foi dada à AFP pelo próprio ministro Alcide Djédjéà, segundo o qual, ao contrário de informações anteriores, e apesar dos ataques dos seus opositores, o Presidente cessante, Laurent Gbagbo estaria ainda na sua residência. Notícias não confirmadas mais recentes dizem que Gbagbo poderá já estar refugiado num "bunker" depois da sua casa ter sido atacada. Com a ajuda dos ataques aéreos dos helicópteros da ONU e franceses (o Presidente francês Sarkozy autorizou ontem os seus militares presentes na Costa do Marfim a disparar contra as posições dos leais a Gbagbo), os apoiantes de Ouattara deram nas últimas 24 horas tudo por tudo para afastar Gbagbo. Durante a noite, atacaram quer o palácio quer a residência privada do Presidente cessante. Ouviram-se tiros e explosões de armamento pesado nas imediações do palácio de Abidjan, a capital económica do país. De acordo com a Reuters, estes foram os mais fortes confrontos registados na cidade desde que as forças de Ouattara entraram na cidade, há cinco dias. Testemunhos citados pela Reuters informam igualmente que houve nas últimas horas intensos combates perto do edifício da televisão pública e ardeu uma importante base das tropas de elite de Gbagbo, perto das duas principais pontes que ligam a cidade ao aeroporto. Paralelamente, Barack Obama reiterou o apelo já lançado pelos Estados Unidos a Gbagbo, durante uma conversação telefónica que teve com o seu homólogo do Gabão, Ali Bongo Ondimba. Os dois homens exprimiram as suas preocupações quanto à violência em curso na Costa do Marfim e falaram da necessidade de pôr fim à crise “o mais depressa possível”, sublinhou a Casa Branca em comunicado. “O Presidente Obama reiterou a sua convicção em como o antigo Presidente Gbagbo deverá respeitar a vontade do povo marfinense e cessar de reivindicar a presidência”, explicou ainda a presidência norte-americana. Barack Obama agradeceu igualmente a Ali Bongo Ondimba “pelo importante papel que o Gabão joga no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, sublinhou ainda a Casa Branca. Mais de quatro meses após o início de uma crise pós-eleitoral que degenerou em clima de guerra civil, as forças da ONU e da França atacaram segunda-feira em Abidjan os últimos bastiões de Laurent Gbagbo, nomeadamente o seu palácio e a sua residência, justificando a acção com o mandato do Conselho de Segurança que autoriza a inutilização das armas pesadas contra civis pelas forças do Presidente cessante.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
BoJack, o cavalo deprimido que fala, na era #MeToo
Os 12 episódios da quinta temporada de BoJack Horseman, a série animada do Netflix sobre um actor que foi grande nos anos 1990, foram lançados esta sexta-feira. (...)

BoJack, o cavalo deprimido que fala, na era #MeToo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os 12 episódios da quinta temporada de BoJack Horseman, a série animada do Netflix sobre um actor que foi grande nos anos 1990, foram lançados esta sexta-feira.
TEXTO: Nos anos 1990, o cavalo BoJack Horseman era a estrela da sua própria sitcom, em que tinha de fazer de pai para crianças abandonadas. Horsin’ Around foi um êxito enorme, mas não o fez feliz. Passou os anos que se seguiram ao final da série sem a atenção que tinha tido na altura, a beber e a ficar cada vez mais deprimido. É essencialmente esta a premissa da série animada BoJack Horseman, que se passa numa Hollywoo (o “D” foi roubado por BoJack num episódio e a cidade mudou de nome: a preocupação com a continuidade é grande aqui) onde animais antropomórficos convivem com seres humanos. A quinta temporada desta comédia do Netflix foi lançada esta sexta-feira. Os novos episódios mantêm aquilo que sempre caracterizou a criação de Raphael Bob-Waksberg com os desenhos de Lisa Hanawalt: uma alternância entre momentos mais tristes e profundos de tragédia, com muito de novo para dizer sobre a condição humana e as relações, e comédia que vai dos trocadilhos mais básicos às piadas mais inteligentes, muitas delas sobre cultura pop, com gags visuais e muito de absurdo pelo meio. Isto além de episódios que fogem ao formato normal da série e, claro, numerosas vozes famosas, algumas a fazerem delas próprias. Desta feita, nomes como Laura Linney, Stephanie Beatriz, Rami Malek, Whoopi Goldberg, Issa Rae, Wanda Sykes, John Leguizamo, Eva Longoria, Angela Bassett, Daveed Diggs ou Brian Tyree Henry juntam-se ao elenco-base, que inclui Will Arnett como BoJack, Alison Brie como a sua amiga Diane, Aaron Paul como Todd, o amigo assexual de BoJack, a sempre hilariante Amy Sedaris como Princess Carolyn, um gato persa que é a agente e ex-namorada do protagonista, e o cómico de stand-up e rei dos podcasts Paul F. Tompkins como Mr. Peanutbutter, um labrador que é actor e rival de BoJack e está a finalizar o divórcio de Diane. Esta quinta época é a primeira depois de o movimento #MeToo ganhar fôlego. Não muda radicalmente a mecânica da série, que praticamente desde o início dedica episódios ao modo como os homens poderosos da indústria do entretenimento se safam dos seus abusos, mas esta leva de 12 episódios entra nessas questões ainda mais profundamente, com o protagonista no centro de tudo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No quarto episódio, por exemplo, há uma personagem com semelhanças com Mel Gibson a quem tudo é perdoado – há literalmente uma cerimónia de prémios para perdoar estrelas de Hollywoo. E BoJack, que tem o seu próprio passado sombrio, é aplaudido como um grande feminista pelas suas declarações a condenar esse actor. Tudo sem fazer o mínimo de esforço e sem dizer o que quer que seja de novo ou que numerosas mulheres não digam. Ao mesmo tempo, BoJack está a filmar uma nova série policial, que é vendida como uma desconstrução da masculinidade tóxica, mas que poderá apenas perpetuá-la e glorificá-la. BoJack Horseman debate-se com isso, com o papel da arte na normalização, para o bem e para o mal – e dá exemplos concretos, como Ellen Degeneres a normalizar a homossexualidade para o interior da América no campo do bem e Jimmy Fallon a normalizar fazer playback na televisão no campo do mal. E não se demarca disso, com plena consciência de que a própria série, que se centra num tipo viciado, narcisista e que provavelmente tem muitos casos #MeToo no currículo, poderá contribuir de alguma forma para humanizar pessoas assim e fazê-las sentirem-se melhores. Tudo isto enquanto continua a ter muita piada e argumenta que somos todos capazes do bem e do mal, o que não é nada fácil. É mais uma temporada de uma das melhores séries da actualidade. Lisa Hanawalt, a ilustradora e criadora de BD que desenhou as personagens e os cenários, está a preparar uma nova série animada para o Netflix, Tuca & Bertie, criada e escrita por ela, algo que não acontece em BoJack. Terá as vozes de Tiffany Haddish e Ali Wong, duas cómicas que são verdadeiras forças da natureza, encarnando uma tucana e uma ave canora. Raphael Bob-Waksberg produzirá. Ainda não há data para a estreia, mas deverá vir antes da próxima época de BoJack Horseman. Mal podemos esperar.
REFERÊNCIAS:
O leite já não é uma vaca sagrada
Foi durante muito tempo (e para muitos ainda é) considerado um superalimento. Mas, desde há uns anos, a unanimidade perdeu-se. (...)

O leite já não é uma vaca sagrada
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento -0.13
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi durante muito tempo (e para muitos ainda é) considerado um superalimento. Mas, desde há uns anos, a unanimidade perdeu-se.
TEXTO: Muito do que comemos tem vários “mas” na sua composição e para vários especialistas o leite não é excepção. Quando se pergunta à nutricionista Carmo Cabral se recomenda o consumo de leite, a resposta é mais que pronta: “Sim, recomendo: o leite materno. ” E termina aí. O de vaca nem pensar, “não somos bezerros”. Quando se pergunta ao nutricionista Pedro Graça se recomenda o consumo de leite, a resposta é mais que pronta também: “Sim, tem muitas vantagens. ”Em 2003, Anne Karpf começava assim um artigo devastador no jornal The Guardian: “Terá sido o próprio relações públicas de Deus o director da campanha a favor do leite? De que outra forma se explica ter conseguido manter a sua imagem imaculada, apesar de toneladas de provas em contrário?” As dúvidas, argumenta, vêm de longe: Karpf cita a resposta do Comité de Nutrição da Academia Americana de Pediatria quando, em 1974, foi questionada sobre se se deveria desaconselhar o consumo de leite pelas crianças: “Talvez” (e mesmo assim, entre 1993 e 2014, os americanos foram inundados com a campanha “Got Milk?”, onde personalidades conhecidas eram fotografadas com bigodes lácteos a recomendar que se bebesse leite). Actualmente, muitos nutricionistas não usam sequer o condicional. “O leite de vaca não faz sentido”, afirma peremptoriamente Carmo Cabral. “É espécie-específico. ” Ou seja, os humanos devem beber leite humano, enquanto são bebés, e é tudo. “A proteína do leite de vaca é muito diferente da do leite humano, praticamente o oposto. ”Quais são, então, os argumentos contra o leite? A começar pela intolerância à lactose (o açúcar dos lacticínios fica por digerir no intestino delgado, podendo provocar diarreia, cólicas e gases), a lista de acusações — demonstradas ou não — é longa: elevado teor de gordura saturada aumenta o risco de doenças cardíacas; o consumo de grandes quantidades de lactose aumenta as probabilidades de cancro no ovário; grandes quantidades de cálcio são um factor de risco para o cancro da próstata e também para a osteoporose (uma diminuição da massa óssea, que leva ao aumento do risco de fractura). Frequentemente, as investigações que apontam para resultados deste género fazem-no com base no consumo de três ou mais copos de leite por dia. Os ataques não se ficam por aqui. “O leite é muito mais do que [a soma de] proteínas, hidratos de carbono, gordura saturada, cálcio e outros minerais, e vitaminas”, afirma Carmo Cabral. “Tem uma série de compostos bioquímicos, hormonais e outros, que vão ter uma acção no corpo. ” A nutricionista adianta que o consumo de leite “está associado a diabetes de tipo 1 e à obesidade: o leite estimula o crescimento, ao aumentar os níveis de insulina” — a “insulina e outros processos bioquímicos”, dirá a seguir, é também uma das razões por que poderá estar associado a doenças oncológicas. “Habitualmente consumimos leite numa altura de crescimento exponencial, e essa modulação hormonal era importante para esse tipo de crescimento”, até aos dois, três anos. Depois disso, não só é dispensável como não é recomendável. “Só se for para substituir alimentos piores, como refrigerantes, snacks, bolos. ”80 litros de leite foi quanto bebeu cada português em 2013, menos 4, 5% de consumo em relação ao ano anteriorPedro Graça, coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, reconhece que “há uma discussão grande e muita polémica” à volta do leite. Mas “quem tem dificuldades de acesso a alimentos de qualidade não deveria prescindir do leite, que é um complexo vitamínico em forma de alimento”. As “muitas vantagens” começam pelo cálcio — “fundamental no crescimento ósseo e para os dentes”. Os ossos ganham densidade até aos 30 anos e a partir daí perdem-na. “Ficam mais ‘ocos’. Jovens que não consomem lacticínios acabam por ter ossos mais frágeis. ” A osteoporose afecta em Portugal mais de meio milhão de pessoas, sobretudo mulheres, segundo a Direcção-Geral de Saúde. Para os críticos do leite, este é um dos grandes embustes. A osteoporose pode ser combatida com exercício físico regular, vitamina D (através da exposição ao sol, por exemplo) vitamina K (vegetais verdes) e cálcio em quantidade suficiente. E é aqui que reside a questão. A quantidade certa e saudável de cálcio que devemos ingerir não foi ainda cabalmente determinada, segundo refere um artigo da Harvard School of Public Health, publicado no ano passado. Vários estudos salientam a importância do cálcio para fortalecer os ossos, mas há discrepâncias sobre a quantidade que deve ser ingerida por adultos (no mesmo artigo afirmava-se porém que um consumo moderado — um ou dois copos de leite por dia — parecia diminuir as probabilidades de tensão alta e sobretudo de cancro no cólon). Já um estudo de investigadores suecos liderados por Karl Michaelsson e publicado pelo British Medical Journal, em Setembro passado, concluía que maiores quantidades de leite levavam a mais fracturas em mulheres. Pior, havia até maior índice de mortalidade, num dos grupos estudados. Isto porque o leite é a principal fonte de galactose, que provoca stress oxidativo (ligado ao envelhecimento), inflamação crónica, neurodegeneração e menor resposta imunitária. Os autores do estudo — que comparava mulheres que bebiam três ou mais copos de leite por dia com as que bebiam um ou menos — concluem dizendo que “os resultados podem levar a questionar a validade das recomendações para o consumo de grandes quantidades de leite para a prevenção de fracturas ósseas”. Mas devem, contudo, “ser interpretados com cautela” e precisam de ser replicados, alertavam. O artigo inundou os media e animou os opositores aos lácteos, que muitas vezes se esqueciam de referir as reservas dos investigadores. Quando se trata de prevenir a osteoporose, Carmo Cabral aponta para outras “fontes fiáveis”: couve, brócolos, agrião, rúcula, nabiças, por exemplo, “têm bastante cálcio disponível, tanto como o leite”. Além disso, o cálcio não pode ser considerado isoladamente: “É a vitamina K [que não está presente no leite mas nos vegetais verdes, aponta] que o leva ao osso e não só para os tecidos moles. ”Em percentagens da dose diária recomendada, adianta o nutricionista, um copo de 250 ml garante 38% do cálcio; 16% de proteínas; 11% de potássio (que ajuda a manter a pressão arterial); 10% da vitamina A (importante para a pele); 13% da vitamina B12, que ajuda as células a transportar o oxigénio; 24% da vitamina B2, que tem riboflavina, que ajuda a converter os alimentos em energia; 20% de fósforo, importante também para os ossos. “Para cada estudo contra o leite, aparece um a favor”, afirma Pedro Graça. “Para a relação entre o consumo do leite e a doença cardiovascular, por exemplo, a evidência científica é quase nula. Mas há alguma discussão sobre a relação com doenças oncológicas: o consumo moderado parece ser protector, mas quando em excesso haverá um efeito negativo. Isso pode acontecer com muitos alimentos. ”José Camolas, nutricionista do serviço de endocrinologia do Hospital de Santa Maria, refere que “o leite faz parte dos cânones da alimentação equilibrada”. Mas tem de estar presente? A resposta não é “tem”, é “pode”. “Em nutrição, não temos a política de dizer que tem de ser assim ou assado. ”Em todo o caso, “faz sentido que um dos grupos alimentares seja dedicado aos lácteos”, defende. “São uma fonte barata e disponível de proteína de boa qualidade e uma das fontes mais biodisponíveis de cálcio. Alguma investigação demonstra que tem um efeito protector da saúde (nomeadamente no controlo de peso e glicémico). ”250 ml de leite, um copo, contém: 38% do cálcio; 16% de proteínas; 11% de potássio;10% da vitamina A; 13% da vitamina B12; 24% da vitamina B2; 20% de fósforoEm relação aos “senãos”, refere também que “a investigação tem sempre nuances, tem sempre uma verdade e o seu contrário. Há ecos de uma investigação norte-americana que apontava para maior incidência neoplásica. Mas é diferente dizer ‘isto aconteceu ao mesmo tempo que isto’ ou dizer ‘isto provoca cancro’”. Essa relação directa de causa-efeito é mais difícil de estabelecer, até pelas imensas variáveis que entram em jogo quando se fala de alimentação. Lacticínios a mais fazem mal, tal como qualquer outro alimento em excesso, adianta. O que parece uma evidência é que, à medida que o tempo vai passando, tendemos a tornar-nos mais intolerantes à lactose, um hidrato de carbono composto por dois açúcares, glicose e galactose — que para serem separados e digeridos precisam de uma enzima chamada “lactase”. “É uma enzima indutível, ou seja, é produzida em função da necessidade”, afirma Camolas. “Os adultos que bebem leite continuam a produzir lactase. . . Mas, com o envelhecimento, os processos metabólicos transformam-se e há mais intolerância à lactose, [tal como] às gorduras, as digestões são mais prolongadas. Todo o aparelho gastro-intestinal fica menos funcional. ”Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, cerca de um terço da população portuguesa sofre de intolerância à lactose (o que não é igual a alergia ao leite, que é uma reacção que envolve o sistema imunitário). A percentagem é bastante maior noutros grupos demográficos. Em 1965, um estudo da Johns Hopkins University concluía que quase três quartos da população negra americana não digeria a lactose, contra 15% da população branca. A intolerância à lactose é um traço da maioria da população mundial, sobretudo africana e asiática. Em Julho de 2013, o artigo da Nature “Arqueologia: a revolução do leite” explicava como, há 11 mil anos, quando a agricultura começou a substituir a caça, as populações do Médio Oriente aprenderam a reduzir a lactose — que não conseguiam digerir por falta de lactase — fermentando o leite para fazer queijo e iogurte. Dois mil e quinhentos anos depois, uma mutação genética ocorreu na Europa, mais precisamente na zona da Hungria, dando à população a capacidade de produzir lactase durante toda a vida. “Essa adaptação abria uma nova fonte nutricional que conseguia sustentar as comunidades quando não havia colheitas. ” Uma grande parte da população europeia descenderá desses primeiros agricultores que insistiam em continuar a produzir lactase na idade adulta. E é isso que explica que muitos caucasianos sejam a excepção a este número: 65% da população mundial não produz lactase depois dos sete, oito anos. A capacidade de o fazer perde-se à medida que se cresce. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pedro Graça afirma que em Portugal há “entre 1/3 e 77% da população com algum tipo de intolerância, que pode quase não se notar, e por vezes até podemos viver com ela”. Graça Cabral contesta e afirma que, mesmo não se manifestando, os efeitos serão nocivos a longo prazo. A razão por se achar que há agora mais pessoas intolerantes à lactose é o facto de “termos uma população cada vez mais envelhecida”, adianta Pedro Graça. “Aqueles que não são intolerantes aproveitem ao máximo as vantagens que o leite traz. ”
REFERÊNCIAS:
Consumo diário de carne e bebidas açucaradas aumenta risco de mortalidade
Consumir todos os dias carne de vaca, porco ou borrego aumenta claramente o risco de mortalidade, revela um estudo publicado ontem na edição online dos Archives of Internal Medicine, uma publicação do Journal of the American Medical Association (JAMA). Se a proteína animal for transformada (presunto, salsichas e salame), o perigo para a saúde é ainda maior. (...)

Consumo diário de carne e bebidas açucaradas aumenta risco de mortalidade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Consumir todos os dias carne de vaca, porco ou borrego aumenta claramente o risco de mortalidade, revela um estudo publicado ontem na edição online dos Archives of Internal Medicine, uma publicação do Journal of the American Medical Association (JAMA). Se a proteína animal for transformada (presunto, salsichas e salame), o perigo para a saúde é ainda maior.
TEXTO: “Constatámos que um consumo regular de carne vermelha implica um elevado risco de mortalidade por doenças cardiovasculares e cancro”, escrevem os investigadores. O consumo diário de uma porção de carne não transformada aumenta o risco de mortalidade em 12%, comparativamente às pessoas que a consomem pouco ou mesmo nada. No caso de ingestão de carne transformada, a percentagem de aumento de risco sobe para 20%. A substituição do consumo de carne por peixe ou carne de aves tem como consequência uma clara diminuição do risco de mortalidade associada, calculada entre 7 e 19%, consoante o alimento de substituição, precisa An Pan, investigador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard, Massachussets, EUA, e principal autor do estudo. A conclusão dos autores do estudo é que a opção por peixe, carne de aves, nozes, legumes secos, lacticínios magros ou cereais integrais reduz “nitidamente o risco de mortalidade”. Para esta investigação, foram analisados os dados de dois estudos que incidiram sobre 37. 698 homens e 83. 644 mulheres, acompanhados ao longo de mais de 20 anos. A carne vermelha é uma importante fonte de proteínas animais na alimentação. Estudos anteriores já tinham mostrado que o seu consumo regular aumenta o risco de diabetes em adultos, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancros. Bebidas açucaradas são um riscoOutro hábito alimentar perigoso para a saúde é o consumo de bebidas açucaradas. Um estudo publicado ontem na revista americana Circulation revelou que a ingestão diária daquele tipo de bebidas aumenta em 20% o risco cardiovascular nos homens comparativamente aos que bebem menos ou não as bebem de todo. Em contrapartida, o estudo constatou que o consumo de bebidas açucaradas com edulcorantes artificiais não está associado a um risco acrescido do mesmo tipo de doenças. Frank Hu, professor de nutrição e de epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard e principal autor do estudo, considera que os resultados encontrados “justificam fortemente a redução do consumo de bebidas açucaradas por parte de pessoas doentes e, sobretudo, da população em geral”. Recorde-se que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade nos Estados Unidos. O aumento em 20% do risco cardiovascular entre os que bebiam todos os dias um terço de litro de bebidas açucaradas manteve-se mesmo depois de se ter em conta outros factores que contribuem para aumentar a probabilidade de desenvolver aquelas doenças – caso do tabagismo, sedentarismo, consumo de álcool e antecedentes cardíacos familiares. O estudo foi levado a cabo num universo de 42. 883 homens caucasianos com idades compreendidas entre 40 e 75 anos, todos a trabalhar no sector da saúde. Teve início em 1986 e terminou em Dezembro de 2008, baseando-se em questionários bienais e análises de sangue.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
De Londres à Jamaica e à pesca na Nigéria, eis os finalistas do Man Booker 2015
Dois britânicos, duas norte-americanas, o primeiro jamaicano e o segundo nigeriano na shortlist do mais importante prémio literário britânico. (...)

De Londres à Jamaica e à pesca na Nigéria, eis os finalistas do Man Booker 2015
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 9 Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dois britânicos, duas norte-americanas, o primeiro jamaicano e o segundo nigeriano na shortlist do mais importante prémio literário britânico.
TEXTO: Os não-britânicos continuam a dominar a shortlist do prémio literário Man Booker nesta sua segunda edição anual aberta a todos os escritores de língua inglesa. Pelo caminho ficou já, o que é considerado uma surpresa, a norte-americana Marilynne Robinson, que já venceu o prémio Pulitzer. Os seis finalistas foram conhecidos esta terça-feira em Londres e há primeiros romances e vigésimas obras na lista. Os finalistas do importante prémio literário britânico, que em 2013 anunciou a sua expansão para escritores de todas as nacionalidades desde que tenham publicado originalmente a sua obra em inglês e que tenham edição no Reino Unido, vão do Reino Unido à Nigéria, passando pela Jamaica e pelos EUA. São então finalistas os romances Satin Island, do britânico Tom McCarthy, A Brief History of Seven Killings, a terceira obra do jamaicano Marlon James, The Fishermen, o primeiro romance do professor nigeriano de Literatura, Escrita Criativa e Inglês Chigozie Obioma, ou The Year of the Runaways, a recém-publicada segunda obra do britânico Sunjeev Sahota. As duas únicas mulheres na lista de finalistas do Man Booker 2015 são as norte-americanas Anne Tyler com A Spool of Blue Thread e a Hanya Yanagihara com A Little Life. Tyler recebeu já o Pulitzer pela sua obra, a vigésima, que versa sobre quatro gerações de uma família e Yanagihara tem sido muito elogiada pelo retrato de corações partidos nas relações de quatro recém-licenciados nesta sua segunda obra. Tom McCarthy e o “antropólogo empresarial” que criou para o seu romance passado na Londres actual, está pela segunda vez na shortlist do Booker (a primeira foi em 2010 com o romance C). Em 2015, há então também o britânico Sunjeev Sahota, que escreve sobre os imigrantes indianos a trabalhar e a viver numa cidade do Reino Unido. Atribuído anualmente desde 1969, o mais importante galardão literário da língua inglesa até 2013 só premiou escritores do Reino Unido, irlandeses, do Zimbabwe ou de países da Commonwealth. Agora tem apenas dois finalistas britânicos como finalistas depois de em 2014 terem sido três os britânicos e dois os americanos na lista – um dos principais temores e críticas feitos à mudança das regras no Booker foi que os pesos-pesados da literatura e mercado americanos eclipsassem os restantes autores. Este ano, apesar da contabilidade feita às nacionalidades mostrar equilíbrio, o júri confirma que quatro destes autores residem e trabalham nos EUA. Marlon James é o primeiro jamaicano a chegar a esta fase do prémio e escreve sobre a violência dos gangues e uma tentativa de assassinato de Bob Marley e o nigeriano Obioma, o segundo do seu país a ser nomeado, romanceia o confronto de quatro irmãos, durante a gazeta às aulas para ir pescar, com a profecia de um louco no seu país natal. Ambos leccionam em universidades norte-americanas. O vencedor, nome anunciado a 13 de Outubro em Londres, receberá mais 50 mil libras (71. 500 euros) e será escolhido por um júri encabeçado por Michael Wood, professor na Universidade de Princeton. O júri elogiou esta manhã a “variedade de estilos de escrita, de herança cultural e origens literárias dos escritores” finalistas – há “um extraordinário espectro de abordagens à ficção” e estão “em fases muito diferentes das suas carreiras”, destacou Wood. De fora ficaram então a irlandesa Anne Enright (The Green Road) e a americana Marilynne Robinson (Lila, acabado de editar em Portugal pela Presença), dois dos nomes mais consagrados entre os 13 semi-finalistas anunciados no final de Julho. Para trás ficaram ainda Did You Ever Have a Family, de Billy Clegg, The Moor's Account, da americana de origem marroquina Laila Lalami, Sleeping on Jupiter, da indiana Anuradha Roy, e The Chimes, da neozelandesa Anna Smail. O vencedor de 2014 foi o australiano Richard Flanagan com The Narrow Road to the Deep North (A Senda Estreita para o Norte Profundo, editado em Portugal pela Relógio d’Água).
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Toxicodependentes: "Tratam-nos cem graus abaixo de cão"
Carolina, Marguerite, Inácio e Isabel são rostos dos que consomem drogas a céu aberto no Porto, numa realidade que se agravou também em Lisboa. O presidente do SICAD, João Goulão, assume que as salas de salas de chuto são precisas. As autarquias, porém, atiram a bola para as organizações no terreno. (...)

Toxicodependentes: "Tratam-nos cem graus abaixo de cão"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 9 | Sentimento -0.25
DATA: 2017-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Carolina, Marguerite, Inácio e Isabel são rostos dos que consomem drogas a céu aberto no Porto, numa realidade que se agravou também em Lisboa. O presidente do SICAD, João Goulão, assume que as salas de salas de chuto são precisas. As autarquias, porém, atiram a bola para as organizações no terreno.
TEXTO: “Deixar passar mais um dia pode significar mais 20 hepatites C. Não consigo perceber como é que um decisor político pode deixar passar mais um dia sem avançar com a criação das salas de consumo. Vamos todos pagar muito mais”, enerva-se Rui Coimbra, membro da associação CASO (Consumidores Associados Sobrevivem Organizados). Está sentado numa esplanada, no centro do Porto, ao fim de mais de duas horas a conduzir o PÚBLICO por um dos locais da cidade onde o consumo de cocaína e heroína fumadas e injectadas a céu aberto regressou em força. Do bairro do Cerco ao Aleixo, passando pela Pasteleira, Viso e Ramalde, cruzam-se consumidores com crianças que passam e adultos que atiram pedras, havendo outros que estugam o passo, assustados. Enquanto isso, as salas de consumo assistido, previstas na lei desde 2001, marcam passo nos gabinetes das autarquias do Porto e de Lisboa — onde o consumo de rua de heroína e cocaína voltou a disseminar-se nos últimos anos em zonas como Alcântara, Lumiar, Mouraria e Intendente. Pudesse Rui Coimbra levantar-se da cadeira onde está e conduzir os decisores políticos pelo interior do Aleixo, um dos bairros camarários onde a droga se trafica e consome à vista de quem por lá se atreve a passar, para lhes apresentar Marguerite Hoffman, a fumar base de cocaína, naquela espécie de cachimbo de alumínio improvisado chamado “caneco”. Cabelo ruivo, dentes podres, está sentada num chão de preservativos velhos, embalagens de seringas e de medicamentos vazios e do lixo da construção civil que ali jaz desde as demolições, feitas em 2011, a pretexto de acabar com o tráfico e consumo de droga e onde ainda hoje se consome com a diferença de ser a céu aberto. “Ontem fumei um ‘caneco’ com uns amigos junto ao [bairro] do Cerco. Escondemo-nos nas escadas que lá há. Umas senhoras passaram e chamaram uns rapazes para atirar pedras a nós”, conta, num português contaminado pelo alemão de origem. Vive há sete anos em Portugal, consome drogas fumadas e injectáveis desde 1990. Em Hamburgo, onde viveu, fazia-o numa sala de consumo assistido. “Mais higiene. Era muito bom. Ficas na tua mesa, tudo limpo e tudo bom”, recorda. Partilha o “caneco” com Inácio José, 51 anos e consumidor intermitente, encostados ambos ao muro que restou do antigo mercado que também foi café antes de ser abrigo de toxicodependentes. Ao contrário de Marguerite, que injecta e fuma várias vezes ao dia e que se prostitui para arranjar o dinheiro necessário, José Inácio diz que só o faz de vez em quando. O aspecto limpo, o maço de tabaco inteiro no bolso do pólo verde às riscas e os sapatos sem pó no meio do entulho circundante confirmam a sua tese. “Fumo [base de cocaína] desde 1985. Nunca me injectei e por isso é que estou vivo”, apresenta-se. Trabalha na construção civil e diz que passa semanas “limpo”. “Tenho sempre um substituto em casa. Metadona não, nunca me dei bem com ela. Tenho uns comprimidos que me receitaram e que são uma maravilha. Tomo, vou reduzindo, e chego a um ponto em que já não preciso. ”Nesta segunda-feira de manhã, veio ao Aleixo “fazer uma festinha”. “Quando venho, chamo a Marguerite, também para a tirar um bocadinho desse mundo [da prostituição de rua]. ” Nos períodos em que trabalhou fora, nomeadamente na Alemanha, Inácio frequentou salas de consumo. “A primeira vez que vi essas salas foi em 1993, em Hamburgo. Era num contentor aquecido, ‘injectores’ para um lado e fumadores para outro. Havia mesas de metal, um balde ao lado para as pessoas cuspirem e forneciam o material todo menos a droga: seringas, pratas, ‘canecos’. ”Ao lado, relata, havia instalações para sem-abrigo. “A polícia é muito rigorosa. Não deixam que se fume na rua nem um charro. Mas são sempre muito educados e encaminham as pessoas. Até o banditismo diminuiu. ”O contraste com o Aleixo é gritante. “Na Alemanha quem maltrate um toxicodependente é punido. Somos considerados doentes. Aqui tratam-nos cem graus abaixo de cão. À Marguerite agridem-na, tiram-lhe a roupa, deixam-na abandonada. ” E, olhando em volta, Inácio prossegue no mesmo tom, indignado. “Não sei porque destruíram este edifício, se não era para construir nada a seguir. Ao menos as pessoas escondiam-se para consumir. Tinham quatro paredes. É que por aí andam crianças. ” E costuma ver caras novas? “Não falta chavalada nova. E a uma velocidade. . . Será o desemprego, a falta de trabalho”, admite. E acrescenta: “Introduzem-se uns aos outros. Mesmo com a informação que há hoje. ”Quem desça pela Calçada da Mocidade Portuguesa, espécie de esplanada para o bairro e para o descampado onde antes havia uma escola, ao lado do tal mercado e dos tanques públicos, tem uma visão panorâmica das tendas montadas pelos toxicodependentes ao longo da encosta. Entre elas, sobressai uma bandeira portuguesa, vários papelões para abrigar do frio nocturno e muitos vultos que se movem ao som dos “capeadores” — espécie de sinaleiros que se posicionam junto a uma boca de tráfico de droga para intermediar a ligação entre quem consome e quem trafica. Rui Salvador, um ex-toxicodependente que agora colabora com a CASO, conduz o PÚBLICO pelos caminhos de onde a cidade foge no Aleixo, até junto da Torre Um — a mais directamente conotada com o tráfico. “Hoje compra-se uma dose de heroína a dois euros e meio. E uma de cocaína por cinco euros. Está muito barato. Alguém conseguiu meter muita droga aqui”, explica. Reconhece pelo nome a maior parte dos que, espalhados pelo descampado, vão consumindo a sua dose. Mas também detecta a presença de muitas caras novas. Agora, vinda da Torre Um, passa uma mulher vestida de luto, apoiada numa bengala e a suar em bica. “Vou ‘dar um caneco’. Tem que ser agora?”, impacienta-se, quando Rui lhe trava o passo a explicar ao que vimos. “Apesar de que eu gosto de consumir sozinha, acho bem, porque ando sempre com medo”, diz sobre a hipótese de as salas de consumo poderem sair do papel. “Já me aconteceu [estar a consumir] e levar com um balde de água, ou de lixívia ou de mijo ou lá o que era. Sem pré-aviso, sem nada. Estou ali a consumir e, zás, fiquei toda encharcada, a ‘branca’ [heroína] na mão encharcada, ‘caneco’ encharcado. Se for para ali [e aponta o descampado], é o vento que nos espalha o ‘caneco’ ou são os colegas — está-se sempre de pé atrás. ”Chama-se Isabel Brito, fez 50 anos há dias. Conta que consome “p’raí há 20 anos”. São duas décadas de vaivém a arrumar carros pelas imediações do seu “bairro de adopção”. Arruma uns carros, vai ao bairro, compra a dose, consome. Volta a arrumar carros. Por estes dias, porque foi operada a uma perna, tem pernoitado na Casa de Vila Nova, um centro de acolhimento de toxicodependentes. “Lá tem enfermaria e tudo”, despacha-nos, apressada. Além de estar a ressacar, move-a necessidade de se preparar para o funeral da irmã. Avança uns passos, depois recua para sacar de umas fotografias que leva num saco de plástico. “Se puderem pôr isto na net ou qualquer merda, para mostrar a diferença”, sugere. O contraste entre a figura de Isabel, escura, magra, envelhecida e de dentes estragados com a rapariga das fotos, morena, sorridente, de traços exóticos não podia ser maior. “Eras tu?”, pergunta Rui. “Era eu na Suíça, antes de ter começado. Tinha uns vinte e tais, fumava uns charritos e mais nada. ”Pelo corredor, onde param todos os que se vêm abastecer ao bairro, já tinha passado Matilde. Reconhece o fotógrafo por se ter cruzado com ele quando cumpria pena na cadeia de Santa Cruz do Bispo. “Ele fotografou-me em 2007, estava eu já a sair. Estive [presa] quatro anos”, situa. Magra, cabelo com a sujidade disfarçada por um rabo-de-cavalo, dentes podres. “Antes de me separar era só ‘branca’, depois é que me enterrei no pó. Enterrei é um modo de dizer, não estou enterrada, prontos, fumo. Se não tiver Subitex [medicamento utilizado na dependência de opiáceos] fico com arrepios. ”Sobre as salas de consumo: “Devia haver, porque alguns tiram as calças para baixo e tudo, quando não conseguem encontrar uma veia. E há canalha por aqui. Eu, se vir uma criança, nem fumo, porque tenho uma filha de sete anos e também não gostava que ela visse”, garante. E acrescenta: “Eu fumo em casa, mas a minha filha nunca viu: punha-a no quarto a ver bonecos e ia para a casa de banho. Ela agora está com o pai. ” À medida que Matilde se afasta, Rui Salvador explica que a maioria mente quando diz que não se injecta. “Quando os consumidores dizem que se injectam, as pessoas criam logo mais distância, recuam fisicamente. ”Rui fala sem tirar os olhos do vulto de t-shirt vermelha que cambaleia há mais de meia hora com uma seringa espetada no braço. “Há sítios onde distribuem naloxona, o que ajuda a evitar algumas overdoses”, explica, em jeito de lamento pelo facto de as associações no terreno não disporem disso ou sequer da possibilidade de, juntamente com as seringas, os preservativos, as pratas, as carteiras de ácido cítrico, distribuírem os tais “canecos” para substituir os de alumínio usados pelos toxicodependentes. Fora deste território de “não cidade”, desde a sua esplanada do centro do Porto, Rui Coimbra sustenta que os estudos científicos sobre a eficácia das salas “estão todos feitos”. E “em nenhuma se verificou um aumento do consumo ou da conflitualidade social”. É olhar para os relatórios do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, cujos responsáveis explicaram ao PÚBLICO por correio electrónico: “A evidência científica não suporta as principais preocupações levantadas sobre este tipo de salas e aponta impactos positivos em termos de aumento do acesso dos consumidores aos cuidados de saúde e assistência social e de redução do consumo de drogas no espaço público e da conflitualidade que lhe está associada. ”“Criar uma sala não é chegar a um sítio e construir um edifício”, ou seja, exige “soluções [que] têm de ser adaptadas à realidade de cada cidade, em diálogo com os moradores”. Rui Coimbra gostava de ver a urgência atendida com uma unidade móvel que percorresse os locais de consumo mais problemáticos. “Imagino uma carrinha com chuveiros e possibilidade de troca de roupa. Uma carrinha com técnicos de proximidade, serviço social, psicólogos, um enfermeiro, que pudessem chegar lá e fazer a ponte. ” É que “uma carrinha pode estar a 50 metros, mas um utilizador que tenha os pés todos estragados porque injecta e já não tem veias não faz esse percurso”. "Eu fumo em casa, mas a minha filha nunca viu: punha-a no quarto a ver bonecos e ia para a casa de banho. Ela agora está com o pai. "Pudesse então Rui Coimbra conduzir os decisores políticos até à beira desta estrada, nas imediações do Bairro do Cerco, onde está estacionada Florina, à espera de quem lhe requisite o corpo. Cabelo sujo e preso num rabo-de-cavalo, faces chupadas, tez amarelada — o costume. Tem vestida uma camisola com a Torre Eiffel sobre a inscrição Je ne regrette rien. Parece ironia de propósito. “Estive três anos sem consumir, deixei em 2010, mas depois voltei-me a meter, em 2014. Porquê? Devido aos ambientes, às companhias. . . ”Manteve-se “limpa” num período de curta emigração para a Arábia Saudita. Recaiu quando se separou do pai das suas filhas, uma de nove anos e outra de dois, ambas entregues aos avós. “Esvaziei-me outra vez nisto. Isto não é desculpa, mas pronto. Foi o que foi. ”Vem de Valongo para consumir. Põe-se na beira da estrada, entra num carro, faz sexo, recolhe o dinheiro, vai ao Cerco comprar uma dose, consome-a na tal casa em ruínas. “Se tiver 50 [euros] vai 50, se tiver 100 vai 100. Mas à noite ninguém vai para a casa velha. É muito escuro. Junta-se tudo ali nas escadas. ” E aponta as tais escadas onde Marguerite diz ter sido apedrejada há dias. Quando consegue, Florina vai dormir a casa dos pais para ver as filhas. A maior parte das noites dorme no bairro, numa cama alugada a quatro euros e meio a noite. E se tivesse uma sala onde pudesse consumir abrigada? “Seria muito melhor. Ao menos ninguém me via. ”Caminha-se em direcção à ruína de uma casa de pedra, espécie de sala de consumo não assistido, onde está Carolina. Lá dentro (é uma forma de dizer porque a casa já quase não tem tecto), alguns afastam-se perante a invasão. Carolina não. Olhos azuis. Seriam bonitos, se não estivessem vazios de qualquer expressão. Parece saber que o seu aspecto pode ajudar a dissuadir novos consumidores. Daí deixar-se fotografar com um “caneco” entre os dedos, cheios de feridas calejadas de tão antigas. “Quando me dizem: ‘Eu ando há seis meses nisto’, digo-lhe logo ‘Como?! Tu deves ser mas é burro. ’ Isto pode ser bom, mas não dá. Como é que hei-de dizer? Não compensa. Toda a gente vê o que isto faz. Por muito bom que seja, leva à miséria, à desgraça. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com 48 anos a parecerem muitos mais, Carolina começou a consumir aos 14. Tem várias desintoxicações na sua biografia. Recaiu sempre. “Prostituir, roubar, fiz tudo. Quem diz que não faz mente. Faz e acontece. Eu entro em pânico. Só de saber que não tenho dinheiro para a droga fico com falta de ar. Não tenho forças para andar, não tenho nada”, diz, a meio da conversa. Valeu-lhe muitas vezes a mãe, que chegou a ir comprar-lhe algumas doses e que lhe criou os filhos. “Toda a toxicodependente que diz que consegue criar os filhos e andar na droga está a mentir. Uma drogada põe sempre a droga em primeiro lugar. Eu, graças a Deus, tenho uns filhos que nem os mereço. Não têm vícios nenhuns. Mas não é graças a mim. ” Carolina mora no Lagarteiro, à custa da reforma da mãe, que está acamada. O seu corpo já não dará para a prostituição. Garante que se tivesse uma sala onde consumir noutras condições não hesitava. “Estava-se mais à vontade, em todos os aspectos. ”O homem que ao lado prepara o “chuto”, mas que se recusara falar com os jornalistas atira-se à conversa: “Se fosse para deixar de andar aqui no meio do lixo, era bom. Muitos fazem as necessidades no mesmo sítio onde consomem. E às vezes onde comem. É uma badalhoquice. ”É mas é, na cabeça de Rui Coimbra, uma “terceiro-mundice”. Ei-lo, retomando o jorro da sua indignação: “Vamos todos pagar muito mais. Portanto, nem que seja por este argumento mais economicista — e já nem falo do respeito pelos direitos humanos —, deixar passar mais um dia acarreta mais despesas. E depois, se não se ignoram outras situações de doença, se a lei diz desde 2001 que o consumo de substâncias deixou de ser crime para passar a ser doença, porque é que havemos de ignorar o consumo de substâncias?!”, questiona. E concluiu: “Está mais do que na altura de deixarmos para trás a demonização das substâncias e de quem as usa. ”
REFERÊNCIAS:
Declínio do mamute-lanudo ficou marcado no seu genoma
Cientistas utilizaram dois animais que viveram em locais e alturas diferentes para descodificar por completo o ADN do mamute-lanudo. Este trabalho revelou a ocorrência de duas grandes reduções de população antes da extinção da espécie. (...)

Declínio do mamute-lanudo ficou marcado no seu genoma
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cientistas utilizaram dois animais que viveram em locais e alturas diferentes para descodificar por completo o ADN do mamute-lanudo. Este trabalho revelou a ocorrência de duas grandes reduções de população antes da extinção da espécie.
TEXTO: Do tamanho da Beira Baixa, a ilha russa de Wrangel, a norte do extremo leste da Ásia, foi durante alguns milhares de anos o último reduto do mamute-lanudo. Até que, há menos de 4000 anos, morreram os últimos animais. Não se sabe qual a causa da sua extinção. Mas um novo estudo genético, baseado na descodificação completa do genoma do mamute, ajudou agora a explicar a evolução da população antes daquele desfecho. O trabalho analisou o genoma de dois mamutes e avaliou a variabilidade genética de cada um. Segundo os resultados, divulgados esta semana na revista científica Current Biology, houve dois momentos na história desta espécie com uma redução abrupta da população de mamutes-lanudos. O momento mais antigo foi há cerca de 280. 000 anos. E o mais recente foi no fim da última era glaciar, há 12. 000 anos. As conclusões do trabalho, feito por uma equipa internacional com investigadores da Suécia, dos Estados Unidos, do Canadá e da Rússia, podem ajudar a estimar qual é a diversidade genética óptima de uma espécie em vias de extinção. "Dado que populações pequenas levam à redução da capacidade de reprodução (fitness) dos animais selvagens, é plausível que a baixa variação genética detectada neste estudo possa ter tido impacto nessa capacidade da população de mamutes-lanudos da ilha de Wrangel e ter contribuído para a sua subsequente extinção”, conclui Love Dalén, do Museu de História Natural de Estocolmo, na Suécia, e colegas, no artigo. Os fósseis mais antigos de mamutes-lanudos (Mammuthus primigenius) têm 700. 000 anos, de acordo com Love Dalén. A espécie dispersou-se pela Eurásia e pela América do Norte, alimentando-se da vegetação que existia nas estepes e na tundra. Estes mamíferos atingiam quatro metros de altura, eram cabeçudos e tinham enormes presas enroladas para dentro. Um dos mamutes analisados — o de um jovem cujo cadáver foi encontrado congelado no solo em Oimiakon, no Nordeste da Rússia — viveu há 44. 628 anos e pertencia a uma população continental. O ADN do segundo animal foi retirado do um dente molar de um mamute da ilha de Wrangel, que viveu há cerca de 4300 anos, poucos séculos antes da extinção da espécie. “Descobrimos que o genoma de um dos últimos mamutes do mundo tinha uma baixa variabilidade genética e uma assinatura que é consistente com a endogamia, provavelmente devido ao pequeno número de mamutes que sobreviveram na ilha de Wrangel”, defende Love Dalén, citado num comunicado do grupo editorial Cell Press. Os cientistas verificaram que os pedaços de ADN do mamute de Wrangel tinham muito menos variabilidade do que os pedaços de ADN do mamute mais antigo. Segundo o investigador, a população daquela ilha teria apenas cerca de 330 mamutes em idade reprodutível naquela altura. A comparação entre os dois genomas permitiu ainda concluir que a população sofreu uma redução abrupta em duas alturas diferentes. Desconhece-se os motivos que levaram à primeira diminuição — há cerca de 280. 000 anos —, pois não há nenhum fenómeno climático ocorrido nesta altura que possa explicar o sucedido. A análise genética do mamute de Wrangel indica que a população “parece ter-se mantido estável até uma [nova] redução drástica há cerca de 12. 000 anos”, diz o artigo. Por esta altura, deu-se o fim da última era glaciar. “A nossa melhor estimativa para a altura desde declínio rápido coincide com a transição do Plistoceno com o Holoceno e o subsequente isolamento da ilha de Wrangel, devido à subida do nível médio do mar. ” Ao mesmo tempo, a espécie desapareceu do continente euroasiático. O estudo mostrou ainda que os dois mamutes pertenciam a populações genéticas diferentes que se terão separado há cerca de 50. 000 anos. Para os autores, este estudo é importante para avaliar a diversidade genética normal de uma espécie e pode ter aplicações importantes: “Os resultados realçam o valor da sequenciação de genomas de animais antigos que viveram antes de um declínio da população de uma espécie, para se determinarem os níveis de referência da sua diversidade genética. Na biologia da conservação, esta abordagem pode ser usada para medir directamente a diversidade que já se perdeu nas espécies agora ameaçadas de extinção. ”A análise e descodificação do genoma do mamute-lanudo poderá ainda ser utilizada para tentar trazer este animal de volta à vida através de engenharia genética, usando elefantes fêmeas como barrigas de aluguer. Mas ressuscitar espécies extintas levanta muitas questões éticas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo espécie extinção animal
Nova estirpe da gripe das aves encontrada em pinguins na Antárctida
A estirpe H11N2 foi encontrada em pinguins-de-adélia. Apesar de a estirpe não parecer perigosa, mostra que o vírus da gripe consegue sobreviver naquele ambiente frio. (...)

Nova estirpe da gripe das aves encontrada em pinguins na Antárctida
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.136
DATA: 2014-05-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: A estirpe H11N2 foi encontrada em pinguins-de-adélia. Apesar de a estirpe não parecer perigosa, mostra que o vírus da gripe consegue sobreviver naquele ambiente frio.
TEXTO: Uma equipa de cientistas descobriu uma nova estirpe do vírus da gripe das aves na Antárctida, depois de fazer análises a pinguins-de-adélia, revela um artigo publicado nesta semana na mBio, revista de acesso livre da Sociedade Americana de Microbiologia. “Descobrimos que o vírus é diferente de todos os outros vírus conhecidos no mundo”, disse Aeron Hurt à agência Reuters. O investigador é um dos autores do artigo e pertence ao Centro de Colaboração para a Investigação e Referência da Influenza da Organização Mundial da Saúde. O novo vírus da gripe das aves é da estirpe H11N2, e foi descoberto em dois grupos desta espécie de pinguins, situados em dois locais diferentes na Península Antárctica, a região mais a norte do continente. No entanto, o vírus não parece causar nenhuma doença nestas aves. “É muito provável que as aves migratórias viajem para ali vindas da América do Norte e do Sul”, referiu Aeron Hurt, referindo-se à forma como o vírus pode ter chegado à Antárctida levada por outras aves. Os investigadores fizeram esfregaços nas vias respiratórias de 301 pinguins-de-adélia e retiraram sangue a 270. Depois, utilizaram uma técnica laboratorial para encontrar a impressão digital do material genético do novo vírus da gripe. Com esta técnica, encontraram o vírus da gripe das aves em oito amostras – seis pinguins adultos e duas crias. “Acho que esta estirpe em particular não é preocupante para a vida selvagem, mas é uma prova definitiva de que o vírus da gripe das aves chega à Antárctida”, diz o cientista. A equipa usou furões, os mamíferos que são modelo por excelência do vírus da gripe, já que a sua infecção é semelhante à dos humanos, para averiguar se o vírus H11N2 infectava aqueles animais, mas eles não contraíram a doença. “Fizemos algumas experiências para avaliar se o vírus tem o potencial de infectar os humanos, [mas] é improvável que os humanos sejam infectados por este vírus em particular”, explicou o especialista. Os cientistas também tentaram encontrar semelhanças genéticas entre este vírus e os outros vírus da gripe humana e de gripes animais. Surpreendentemente, apenas quatro segmentos de genes do novo vírus eram próximos de estirpes de vírus das aves das décadas de 1960 e 1980 encontrados na América do Norte. E dois genes tinham uma relação distante com um grande número de vírus da gripe das aves do Chile, da Argentina e do Brasil. A equipa calculou, através de um relógio molecular, que o vírus H11N2 está a evoluir isoladamente nos últimos 49 a 80 anos. Duas estirpes da gripe aviária ocorreram no Sudeste asiático nos últimos dois anos – a estirpe H7N9 e a estirpe H5N1 –, matando pessoas e aves. Em Fevereiro, a estirpe anteriormente desconhecida em humanos H10N8 causou uma morte na China. E em Abril, apareceu um surto de gripe das aves em aviários de codornizes na Califórnia, que obrigou cinco importantes mercados exportadores a barrar a importação de aves domésticas daquele estado norte-americano.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE