No Gambuzino, dá-se azo à imaginação e só é vegetariano quem quer
A chegar ao Largo do Intendente, na Rua dos Anjos, em Lisboa, serve-se “comida e bebida honesta”. O cliente pode ser o que quiser, como se de um gambozino se tratasse. (...)

No Gambuzino, dá-se azo à imaginação e só é vegetariano quem quer
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A chegar ao Largo do Intendente, na Rua dos Anjos, em Lisboa, serve-se “comida e bebida honesta”. O cliente pode ser o que quiser, como se de um gambozino se tratasse.
TEXTO: Nos Verões, enquanto os miúdos da sua idade mergulhavam nas ondas das praias do Algarve, Vasco Snelling, 29 anos, passava os três meses das férias escolares rodeado de pratos e alguidares na cozinha de um restaurante em Lagos. “Comecei a lavar loiça com 15 anos numa pizzaria durante o Verão. A verdade é que se ganhava bem para um puto daquela idade”, recorda. Passados uns tempos, ganhou-lhe o gosto, e começou “não só a lavar a loiça, mas a fazer saladas e pizzas ao longo dos primeiros anos”. Daí até abrir o Gambuzino, na Rua dos Anjos, em Lisboa, demorou uns anos. Mas o que podemos contar, para já, é que tudo o que se serve neste espaço é um espelho das suas vivências pelo mundo. Ora vamos então a uma volta ao mundo que termina num antigo prostíbulo do Intendente transformado em restaurante com “consciência ética”. Filho de pai inglês, Vasco tardou em descobrir o que lhe enchia de facto as medidas. Com 18 anos, mudou-se para a capital e foi estudar Engenharia do Ambiente, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, mas cedo percebeu que não era o que gostava de fazer. Dois anos depois, em 2010, foi estudar para a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e foi então que descobriu a sua verdadeira paixão: cozinhar. Saído do curso, percorreu uma série de estabelecimentos conhecidos, mas resolveu voltar a casa, no Sul, antes de se lançar na primeira aventura. Em 2015, partiu para bem longe. Primeiro para Sydney, na Austrália, e depois para Melbourne, a segunda maior cidade do país. Em Melbourne, o amor bateu-lhe à porta e juntou-se a Monica Graulund, de 27 anos. A namorada de Vasco nasceu na Dinamarca, mas mudou-se para a Austrália ainda muito nova. Conheciam-se de outros tempos, mas só quando perceberam que tinham ido para a mesma cidade, ao mesmo tempo, é que as coisas mudaram. Em 2016, Vasco ficou responsável por um restaurante, mas quando o seu visto de trabalho terminou passados dois anos, foi altura de fazer as malas. Desta vez com companhia. Durante seis meses, percorreram a Ásia. “Entrámos pela Malásia, fizemos por terra a Tailândia, Camboja e Vietname”, descreve. No final da viagem, à boleia de uns amigos, ainda passaram pelo Japão, antes de aterrarem definitivamente em Portugal. “A Monica queria vir para a Europa, e então decidimos voltar. ”No Verão de 2018, Vasco teve oportunidade de arregaçar as mangas para juntar algum dinheiro e rumou ao Algarve para trabalhar como chef privado nas vivendas de turistas estrangeiros. Às tantas, conta, “estava com uma certa comichão” de querer fazer coisas, e decidiu mudar-se para Lisboa. O objectivo? Abrir um espaço onde pudesse dar azo à criação e deixar fruir no prato todas as experiências dos últimos anos. O Gambuzino, o nome, esse surge de uma sugestão de Monica. Quando Vasco a ouviu soube que estava encontrada a identidade do espaço. “Isto é lindo”, pensou. Com esse nome, poderia fazer uma carta cujo objectivo seria pôr a imaginação a trabalhar, um pouco à semelhança do animal imaginário que povoa as mentes de milhares de pessoas em todo o mundo. “Não há imagens do gambozino e cada história contada por uma pessoa é sempre diferente. Então, pensámos em ter uma carta com elementos que desaparecem. ”Os produtos vão variando consoante a sazonalidade e disponibilidade. Há brunch e tostas para todos os gostos. Para as barrigas à procura de uma refeição mais composta, há hambúrguer de beterraba com chips de batata-doce (9, 5€), caril de legumes (8€), shakshuka (algo que se assemelha a uma tomatada com ovo escalfado e especiarias, 7€) e petiscos que vão desde a cenoura algarvia (2€) aos cogumelos salteados com alho, vinho e malagueta (5€). Para quem quiser beber um copo, o Gambuzino pode tentar ser encontrado entre as 12h e as 00h, de quarta-feira a domingo. A regar uma boa conversa ou somente a refeição, há cervejas artesanais e vinhos vegan, todos eles filtrados através de processos de origem vegetal. Há também cocktails clássicos como a caipirinha e mojito ou o expresso Martini algarvio (6, 5€) e o spritzer não alcoólico (2€). A Surf Brewery, um dos tipos de cerveja servida, é um projecto português em que todo o dinheiro obtido com a venda do produto é revertido para ajudar na limpeza dos oceanos. “Os pratos e as bebidas são tudo influências dos sítios onde estivemos. Gostamos muito de viajar e há sempre aquelas nostalgias”, explica. “Tentamos relembrar-nos dessas memórias e fazer algo vegetariano”. Ainda assim, o Gambuzino não se rotula como um restaurante vegetariano. Vasco e Monica decidiram “fazer esta casa porque as pessoas deveriam perceber e ter consciência de onde os alimentos vêm”. Ali, junto ao Largo do Intendente, a comida e bebida são simples. “Não é alta cozinha, é mais comida honesta. Com consciência e saudável. Assim sabemos de onde vêm as coisas. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Gambuzino, cada um pode ser o que quiser. Carne e peixe ali não entram, mas há opções para todos os gostos. “As pessoas não associam uma imagem ao gambozino, pois quero que o mesmo se passe aqui com o que servimos”, assegura Vasco. Este é um sítio que não é só vegetariano. A ética ponderada em relação ao consumo é o prato principal da casa. Rua dos Anjos, 5A (Intendente), Lisboa. Tel. : 21 886 3231 Facebook Quarta-feira a domingo, das 12h às 00h. Apesar da escolha vegetariana, a carta apresenta uma grande diversidade de produtos. Os petiscos dão para fazer uma refeiçãoEscolha limitada
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola filho carne consumo alimentos animal vegetariano
Já é lei: obrigatório um prato vegetariano em todas as cantinas públicas
Com os votos a favor de todos os partidos e com as abstenções do PSD e CDS, a lei deverá entrar em vigor daqui a cerca de dois meses. (...)

Já é lei: obrigatório um prato vegetariano em todas as cantinas públicas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-03-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com os votos a favor de todos os partidos e com as abstenções do PSD e CDS, a lei deverá entrar em vigor daqui a cerca de dois meses.
TEXTO: Foi esta sexta-feira aprovada, agora é esperar pela sua promulgação, publicação em Diário de República e depois pela entrada em vigor: em breve, todas as cantinas públicas e refeitórios do Estado serão obrigados a ter um prato vegetariano na sua ementa. Partindo de um projecto de lei do partido PAN - Pessoas-Animais-Natureza e depois do Bloco de Esquerda e de Os Verdes, a nova lei que define que todos os menus de cantinas e refeitórios do Estado devem ter pelo menos uma opção que não contenha quaisquer produtos de origem animal foi aprovada nesta sexta-feira no Parlamento com os votos a favor de PS, PCP, BE, PEV e PAN e com as abstenções do PSD e CDS. A previsão do deputado do PAN, André Silva, é que entre em vigor daqui a cerca de dois meses. A lei, pedida em petição assinada por mais de 15 mil pessoas, dá a garantia da diversidade e presença de nutrientes que cumpram as regras de uma alimentação saudável e equilibrada ao especificar que as ementas vegetarianas são orientadas por técnicos habilitados. Prevê que sejam elaboradas fichas técnicas das refeições, e capitações (distribuição de porções) das mesmas nos refeitórios e cantinas de escolas e universidades, hospitais, estabelecimentos prisionais, lares, autarquias e serviços sociais da administração pública. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A aplicação da lei será “simples”, comentou há dias André Silva, pois “qualquer cantina tem uma entidade gestora responsável, que [por sua vez] tem alguém da área da nutrição que faz as fichas técnicas e as capitações”. Não estão, assim, previstos custos adicionais, comenta, até porque as refeições vegetarianas são “mais baratas” do que as outras, acrescentou, citando a Direcção-Geral de Saúde (DGS), que fez um manual para quem quer seguir uma dieta vegetariana de forma saudável. Nos casos em que não exista procura suficiente de uma refeição vegetariana, a lei prevê que essa cantina seja dispensada deste cumprimento, mas em alternativa deve ter um regime de inscrição prévio. Segundo o diploma, será a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica a assegurar a fiscalização do cumprimento da lei e à qual qualquer cidadão pode enviar uma queixa.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP BE PEV
Japão sai da Comissão Baleeira Internacional e retoma caça de baleias
A pesca com fins comerciais será retomada em Julho. A caça das baleias vai estar limitada à zona costeira e à zona económica exclusiva do Japão e não nas águas da Antárctica e no hemisfério sul. (...)

Japão sai da Comissão Baleeira Internacional e retoma caça de baleias
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A pesca com fins comerciais será retomada em Julho. A caça das baleias vai estar limitada à zona costeira e à zona económica exclusiva do Japão e não nas águas da Antárctica e no hemisfério sul.
TEXTO: O Japão vai sair da Comissão Baleeira Internacional, um dos organismos encarregados da conservação de cetáceos, informou um porta-voz do Governo nipónico nesta quarta-feira. A caça com fins comerciais vai recomeçar em Julho. Ao sair da Comissão Baleeira Internacional, que desde 1986 proíbe os seus membros de pescarem baleias com fins comerciais, o Japão passará a ficar livre para caçar espécies que estão actualmente protegidas por este organismo. Não que não fossem caçadas antes, ao abrigo de um "programa científico", que permitia ao Japão caçar entre 200 e 1200 baleias por ano, estudá-las, e revender a carne no final. Não vai valer tudo, garante Tóquio. De acordo com o porta-voz do Governo, Yoshihide Suga, a caça das baleias vai estar limitada à zona costeira e à zona económica exclusiva do Japão – o que significa que o Japão vai deixar de caçar nas águas da Antárctica e no hemisfério sul. “A caça da baleia vai acontecer de acordo com a lei internacional e de acordo com os limites de captura calculados de acordo com o método adoptado pela Comissão Baleeira Internacional para evitar o impacto negativo nos recursos cetáceos”, disse o porta-voz. O Governo japonês emitiu ainda um comunicado no qual acusou a comissão de não estar comprometida o suficiente com um dos seus objectivos, que é a caça sustentável da baleia com fins comerciais – e focar-se, em vez disso, nos números de conservação. O rol de críticas surge depois de, em Setembro, o Japão ter tentado aprovar quotas para a caça comercial. A proposta foi rejeitada pela Comissão Baleeira Internacional. De acordo com o porta-voz, isso serviu para mostrar que será impossível alcançar um consenso entre os apoiantes da caça da baleia e os que se lhe opõem. Da Austrália, já chegaram críticas ao Japão. Num comunicado conjunto, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Marise Payne, e a ministra do Ambiente, Melissa Price, disseram estar “extremamente desapontadas” com a decisão japonesa. “A Austrália continua resolutamente oposta a todas as formas de caça comercial ou aparentemente 'científica'”, acrescentava-se no comunicado. O ministro dos Negócios Estrangeiros neozelandês, Winston Peters, saudou a decisão do Japão de terminar com a caça no Sul, mas mostrou-se desapontado com a decisão “antiquada e desnecessária” de voltar a caçar para vender. A Greenpeace no Japão já pediu aos líderes nipónicos que reconsiderassem a sua decisão, e alertou para o facto de poderem ser criticados na próxima reunião do G20, que será em Junho em Osaka. “A declaração de hoje está em desacordo com a comunidade internacional, sem falar na protecção necessária para salvaguardar o futuro dos nossos oceanos e estas criaturas majestosas”, disse Sam Annesley, o director executivo da Greenpeace Japão, citado em comunicado. “É claro que o Governo está a tentar que este anúncio chegue no fim do ano, longe dos holofotes dos meios de comunicação internacional, mas o mundo vê as coisas como são. ”"O Japão procurou sempre artimanhas para continuar a caçar baleias", criticou Pilar Marcos, bióloga e coordenadora para a área da biodiversidade da Greenpeace Espanha, explicando que, a coberto da "caça científica", os baleeiros foram pouco a pouco acabando com estes animais para outros usos. Em declarações à agência Efe, a bióloga define o anúncio do Governo nipónico como "algo já temido" pela organização e "um retrocesso em todas as iniciativas de conservação de cetáceos, reguladas pela moratória sobre caça comercial da baleia desde 1986", e materializadas na Comissão Baleeira Internacional, criada para a conservação das baleias e o controlo da caça. O anúncio do Governo de Tóquio representa um "triplo perigo" para estes animais, uma vez que se desconhecem as quotas de pesca que o Japão fixará, "ao não estar já sob a salvaguarda de um organismo internacional", dificultará o estudo das baleias, "das quais se sabe muito pouco ao viverem em mar aberto", e pode produzir um "efeito bola de neve sobre os países que as caçaram historicamente, como a Noruega e a Islândia", advertiu Pilar Marcos. O Japão já era membro deste organismo bem antes de a comissão proibir a pesca com fins comerciais – entrou em 1951 e a proibição foi decretada em 1986. A decisão começou por ser uma moratória temporária, com o objectivo de dar às espécies tempo necessário para que os números de indivíduos recuperassem e se chegasse a um consenso sobre quotas. Mas, em vez disso, tornou-se uma proibição permanente. Para os responsáveis japoneses, comer carne de baleia faz parte da cultura do país e, por isso, tentaram fazer passar, em Setembro deste ano, quotas para a caça comercial – proposta chumbada pela comissão. Há séculos que os japoneses caçam baleias, mas o consumo da carne tornou-se mais relevante durante a Segunda Guerra Mundial. Actualmente, o seu consumo é residual: representa apenas 0, 1% do consumo de carne dos japoneses, de acordo com o jornal Asahi. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mesmo depois da entrada em vigor em 1986 da moratória da Comissão Baleeira Internacional, a pesca continuou a existir no Japão – com fins “científicos”, ainda que a carne acabasse nas prateleiras das lojas. Agora, com este anúncio, o Japão ficará livre para caçar espécies protegidas pela Comissão Baleeira Internacional – pelo menos em teoria. Apesar de deixar esta comissão, o Japão ainda tem de cumprir algumas leis internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (ou Lei do Mar da ONU). Essa lei prevê que a conservação seja feita ao nível “das organizações internacionais apropriadas”, sem as nomear. O Japão pode então juntar-se à Comissão dos Mamíferos Marinhos do Atlântico Norte, que junta vários países a favor da caça da baleia, como a Noruega e a Islândia, nascida da frustração com a proibição de caça da Comissão Baleeira Internacional.
REFERÊNCIAS:
Menos vacas e menos incêndios florestais: como descarbonizar um país
Para além dos carros eléctricos a 100% e partilhados que aí vêm, o plano do Ministério do Ambiente e da Transição Energética prevê uma redução entre 25 a 50% de bovinos e de metade da média da área de foresta ardida. (...)

Menos vacas e menos incêndios florestais: como descarbonizar um país
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para além dos carros eléctricos a 100% e partilhados que aí vêm, o plano do Ministério do Ambiente e da Transição Energética prevê uma redução entre 25 a 50% de bovinos e de metade da média da área de foresta ardida.
TEXTO: O roteiro do Governo para a neutralidade carbónica em 2050 preconiza mudanças profundas, como a redução da produção de bovinos entre 25 a 50% e o aumento da capacidade de sumidouro da floresta em quatro megatoneladas de dióxido de carbono. Para que o saldo líquido de emissões de CO2 passe das 60 megatoneladas em 2015 para zero em 2050, explica o ministro João Pedro Matos Fernandes. Governo leva plano à conferência de Katowice, na Polónia. O RNC 2050 - Roteiro para a Neutralidade Carbónica que apresenta esta terça-feira concretiza mais algumas medidas para a meta que foi anunciada pelo primeiro-ministro, para chegar a 2050 em neutralidade carbónica reduzindo os gases com efeito de estufa (GEE) em 85-99% em relação a 2050. As medidas pedem muito aos vários sectores da economia. Quais são principais medidas?Este roteiro mostra que é possível Portugal ter uma economia neutra em carbono em 2050. Quando o compromisso foi anunciado nós já tínhamos a percepção da sua exequibilidade, mas tivemos de trabalhar com todos os sectores para definir um caminho com cenários diferentes para poder lá chegar. O cenário business as usual é aquele em que, desde 2005, Portugal tem vindo a reduzir as suas emissões. Se nós deixássemos simplesmente as coisas acontecer, chegaríamos a 2050 com uma redução de 60% das emissões, quando temos de reduzir pelo menos 85% para sermos neutros em 2050. É um esforço que passa por todos, pelo comportamento dos próprios cidadãos, mas passa por todos os sectores, desde logo pelo eléctrico e da mobilidade. É verdade que o sector das florestas consegue subir a sua capacidade de sumidouro florestal, aproximadamente das 8 megatoneladas que temos hoje para 12 megatoneladas em 2050, isto com uma floresta mais bem gerida e com uma redução para aproximadamente metade da média da área ardida dos últimos anos. Mas se todos os sectores contribuem, o dos resíduos contribui de forma muito expressiva. É muito regulado por regras comunitárias, portanto vamos fazê-lo mesmo sem roteiro, não temos alternativa e queremos fazê-lo, mas é sobretudo nas opções de produção de energia e na mobilidade que são mais evidentes os ganhos. Para sermos neutros em carbono em 2050, já em 2030, 80% da electricidade produzida e consumida em Portugal tem de vir de fontes renováveis e quando chegarmos a 2050 tem mesmo de ser 100%. Isto dá-nos um enorme ganho económico que tem que ver com a diminuição expressiva da dependência energética em relação ao exterior. Hoje 75% da energia que consumimos em Portugal é importada, de combustíveis fósseis, em 2030 já serão só 65%, mas quando chegarmos a 2050 não poderá ultrapassar os 17%. Isto é poupar 125 mil milhões de euros em importações entre a data de hoje e 2050. Para que custos em concreto os sectores económicos têm de estar preparados?Não falaria em custos, mas em investimento. Para atingirmos este objectivo vamos investir dois mil milhões de euros a cada ano, o que é uma verba com expressão. Corresponde aproximadamente a 1% do PIB à data de hoje. É obvio que tem que haver planos para um conjunto de sectores onde vai haver uma transição razoavelmente brusca, que tem a ver com as duas centrais a carvão, e para essas tem de haver planos específicos de reconversão profissional dessas mesmas pessoas que o próximo quadro comunitário de apoio não deixará de contemplar. Não serão sequer mil trabalhadores. É mandatório que as duas centrais [a carvão] em Portugal encerrem antes de 2030. A data que temos prevista aqui é entre 2025 e 2029. E em relação à indústria e agricultura e florestas?Estas não são áreas, no contexto deste roteiro, libertadoras de mão-de-obra. Se estamos a falar de um aumento muito expressivo da agricultura de precisão, dentro da qual consta o regadio, que é muito mais eficiente no uso da água e consome muito menos fertilizantes, não falamos de forma alguma de perda líquida de emprego, mas de emprego muito mais qualificado para se poder trabalhar nesses mesmos sectores. Serão os fundos europeus a pagar?A agricultura, florestas menos, está muito dependente do que são as políticas de investimento e apoio à produção que Bruxelas define. Há meia dúzia de dias, apresentou as linhas orientadoras da aposta para toda a UE da neutralidade em 2050. Este compromisso não pode deixar de ter reflexos na própria política de apoios até 2050 no sector da agricultura e agro-pecuária. Do ponto de vista da área agrícola, ela pode e deve ser estendida, mas há aqui uma redução de facto no que respeita à produção pecuária [entre 25% e 50% menos]. Tudo isto vem também no quadro de uma maior liberalização do comércio no mundo, onde a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos em muitos casos em relação aquela que conseguimos produzir. Por isso, o aumento da área agrícola, particularmente nos cereais e pomares, está contemplado no roteiro como da maior importância para consolidar a capacidade de neutralidade de sumidouro que temos. É sobretudo no sector electroprodutor e na mobilidade que vão surgir as maiores diferenças. Acreditamos mesmo, pelas contas que temos, que em 2030 um terço da mobilidade terrestre em Portugal já vai ser eléctrica e que nessa década vai deixar de ser compensador um carro com motor a gasóleo. Esta é a área em que acreditamos que haverá uma maior disrupção. Os dados podem ser mais favoráveis do que estamos a apresentar. No passado mês de Outubro, 5% das viaturas vendidas já são eléctricas ou híbridas plug-in. Ou seja, este é um valor superior ao valor de base do roteiro. Aqui vai haver mesmo uma grande mudança. Em 2030, um terço da mobilidade vai ser eléctrica e a totalidade da logística urbana, das pequenas carrinhas e camionetas, vai certamente ser toda eléctrica e tem de o ser. Não conseguimos dispensar a presença do petróleo por causa da indústria petroquímica, porque não conseguimos antever um transporte aéreo e marítimo eléctrico no ano 2050. Haverá certamente maior presença de biocombustíveis. As nossas contas dizem que dos quase 70 milhões de barris de petróleo que hoje são importados, serão 10 milhões de barris/ano em 2050. É uma redução muito expressiva. A Comissão Europeia acaba de anunciar a meta de neutralidade carbónica nos transportes em 2050. Não se corre o risco de Bruxelas ter planos menos ambiciosos do que alguns países?É verdade que Portugal está na linha da frente nesta transição. Portugal foi um dos seis países que escreveu à Comissão Europeia - um foi também Espanha, uma novidade absoluta - a pedir ambição para esta COP [24ª Conferência da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas que começou este domingo em Katowice]. Temos, enquanto União Europeia (UE), de apresentar uma nova proposta. Se é verdade que a proposta apresentada em Paris pela UE é a mais ambiciosa no mundo, isso não pode ser álibi para não sermos ainda mais ambiciosos. Estamos na linha da frente, não temos dúvidas do contributo que temos de dar para o planeta como grande grande emissor que a Europa é, mas acreditamos que este é um projecto de criação de riqueza, de emprego e de bem-estar. Faz a diferença para um país como Portugal apresentar este roteiro no quadro da UE ou não?Faz a diferença, à escala mundial, apresentarmos agora. Um dos eventos paralelos na próxima semana tem a ver com o roteiro português para a neutralidade carbónica. Há de facto um statement político muito forte, alinhado com a CE, mas estando nós na linha da frente. Da mesma forma, fez imensa diferença o ano passado termos apresentado o plano de acção para a economia circular, relativamente ao qual temos feito algum proselitismo europeu, e tenho sido desafiado por muitos colegas meus para participar em apresentações do nosso plano. Estes momentos têm um foco comunicacional muito grande, sentimos que este era o momento certo para fazer esta apresentação. Quantos países vão apresentar o seu roteiro em Katowice?Alguns países da UE começam a comprometer-se com o ano de 2050 para a neutralidade. Já vi o roteiro francês, o nosso tem um grau de detalhe que o francês não tem ainda, com metas muito claras, com a introdução a cada tempo das tecnologias que são mais custo-eficazes. É por aí que se faz a mudança. Podemos dar liberdade às autarquias que proíbam a circulação dos veículos a diesel ou a gasolina, mas o que é verdadeiramente importante é percebermos que na década de 2030 não haverá qualquer racionalidade económica por trás da compra de um veículo a diesel. Vai ser mesmo muito compensador a aquisição de veículo eléctrico e a seguir movido a hidrogénio. O que vai mudar na fiscalidade para dar coerência a estas orientações?A diferença em relação ao que já está a ser feito hoje tem expressão mas não é um número megalómano. Só com a expansão dos metros, a aquisição de material circulante, a aquisição dos autocarros dos novos comboios e locomotivas para a CP, estamos a falar de um investimento de mil milhões de euros. Isto é só investimento público que está a ser iniciado agora. No âmbito do que já se conhece para o próximo ciclo de fundos comunitários, 25% tem de ser dedicado ao combate às alterações climáticas, são verbas mais robustas para o investimento público neste sector, como também exige que os programas de incentivo directo à economia tenham uma componente maior no domínio da circularidade e da descarbonização. Se na próxima década estamos confortáveis com a capacidade de haver fundos comunitários que nos ajudem a fazer esse investimento, por outro lado, temos mesmo de começar a emitir obrigações verdes. O meu colega das Finanças referiu isso na semana passada. A cada ano uma parcela das obrigações públicas emitidas tem que ser para investimentos no domínio ambiental e consigná-las a esses mesmos investimentos. Vamos trabalhar muito isso no primeiro semestre do próximo ano. Os financiadores clássicos da economia, que são a banca, olham cada vez mais para a finança verde como uma hipótese até de reduzir risco nos próprios investimentos que financiam. Se pensarmos na economia circular, que tem um papel muito importante aqui, porque a extracção e processamento de matérias-primas é um grande emissor de CO2, ter as matérias-primas como materiais secundários gerados na proximidade da unidade fabril que os volta a reprocessar, reduz mesmo o risco deste tipo de projectos. No sector electroprodutor, temos de dar um salto muito grande a caminho de uma cada vez maior penetração das renováveis, em 2030 será 80%. Temos de criar aqui um pano de fundo estável para esses investimentos, através de leilões que certamente produzirão tarifas garantidas em valor muito inferior ao que se estima ser as tarifas com sobrecusto. A ERSE diz que a tarifa com sobrecusto vai para cima de 45 euros por MWh. No último leilão feito em Espanha foi fixado em 33 euros por MWh. É o nosso melhor benchmark. Todo este roteiro cria um pano de fundo de previsibilidade, isto é, temos mesmo de criar um modelo de política pública com as consequências que isso tem do ponto de vista fiscal e regulatório, para que Portugal seja conhecido como uma pátria deste tipo de investimentos e atraia investidores no mercado mundial para contribuir para que o nosso sistema electroprodutor evolua depressa. Pede-se aos sectores económicos que façam a revolução e o acordo de Paris continua a ser voluntário. Não é preciso mais do que isto para que as pessoas acreditem?No mesmo dia em que o painel das Nações Unidas disse que temos 12 anos para nos salvar, porque já vamos em 1, 2 graus a mais do que no tempo da Revolução Industrial, muito discretamente um relatório do FMI dizia que a economia acaba de entrar em slow-down, que temos de investir, extrair e acumular stock. São relatórios contraditórios entre si. Estas receitas do FMI são sempre as mesmas e provam no passado recente duas coisas: que o crescimento da economia é cada vez menos impulsionado por esta forma clássica de gerar emprego e bem-estar no curto prazo, como o seu ciclo é cada vez mais curto. Estes shots na economia acabam por produzir efeitos menores e por um período mais curto de tempo. Não tenho a mais pequena dúvida que a economia tem de crescer. Não sou nada agnóstico em relação ao crescimento. Se somos um planeta com sete mil milhões e seremos 10 mil milhões em 2050, a economia tem de crescer para garantir que, pelo menos, a percentagem das pessoas que estão na classe média hoje é a mesma que estará em 2050. Temos é de saber crescer numa economia hipocarbónica e regeneradora de recursos que é mesmo criadora de riqueza muito mais sustentável e de bem-estar muito mais partilhado. Os quilómetros percorridos em 2050 serão mais dos que são hoje, mas a partir de fonte eléctrica e com uma mobilidade em que os transportes colectivos são importantes e novos modelos de partilha também. Caminhamos para uma meta que já não funciona?O Acordo de Paris é um exemplo extraordinário de multilateralidade e o somatório das contribuições leva-nos para um aumento da temperatura de 3 graus no final do século, o que é um falhanço se acontecer. Mas definiu que a cada cinco anos, cada país/região apresentaria uma contribuição mais ambiciosa. Não digo que Paris está em causa, mas há a Administração norte-americana a pretender retirar os EUA de Paris e espero bem que o Brasil não o faça. A sociedade americana é muito mais do que a sua Administração e a quantidade de cidades e estados que estão a comprometer-se com Paris para reduzir a sua pegada carbónica é muito expressiva. Mas a saída dos EUA tem um problema: o dinheiro de apoio aos países em desenvolvimento, esse sim, depende muito da Administração e a redução desses apoios tem uma expressão nos países mais pobres. Importantíssimo é que nesta COP se defina o livro de regras comuns, sobre o que cada um tem de fazer, e a uniformização dos modelos de reporte. É fundamental que a próxima COP seja marcante no somatório de contributos que forem apresentados e que nos conduzam a uma perspectiva muito mais favorável, de menor aquecimento da Terra do que a que resultou de Paris. O que pode dizer aos sectores em concreto sobre os ganhos e custos que pressupõe este roteiro?Numa boa parte sim, o roteiro entra em discussão pública até à Primavera e acredito que aqui haja questões a serem afinadas. No que diz respeito ao sector electroproductor, com a evolução tecnológica vamos conseguir produzir energia muito mais barata e muito menos sujeita aos preços das commodities do mercado mundial. Quanto à mobilidade, que é 95% das emissões dos transportes, tem de haver um contributo grande dos transportes colectivos, mas estamos também a falar do carro de cada um. E aí é muito evidente o que vão ser os ganhos num prazo que não é nada largo para adquirir um carro eléctrico, em vez de um a combustível fóssil. Em relação à agricultura, este é um sector muito dependente de ajudas externas e das que vêm da PAC. Por isso, temos de ser um pouco mais cautelosos, este é também um sector que contribui menos para o nosso sucesso. Mas um sim inequívoco no que à floresta diz respeito: temos de mudar a paisagem do país, ter muito maior presença florestal e diversidade de mosaicos de paisagem que vão ser suportados - não há outra forma - com os serviços de ecossistemas. As obrigações verdes são uma forma excelente de poder pagar esses serviços de ecossistemas. No próximo OE, no fundo ambiental, temos três primeiras experiências a serem feitas, dois milhões de euros por ano a serem consignados a esse fundo. Mas se pensarmos numa área florestal com cerca de quatro milhões de hectares pelo país todo, é óbvio que este é um valor exíguo e aqui as obrigações verdes podem ter um papel muito importante na remuneração desses serviços de ecossistemas. Não podemos ter um país onde as regiões de baixa densidade tenham menos actividade económica e menos rendimento do que têm hoje. Um valor ambicioso neste roteiro é a redução expressiva da área ardida para se atingir a meta de neutralidade. Como é que a esta distância e face às condições altamente vulneráveis da floresta portuguesa, se garante esta variável aparentemente fora de controlo?Tudo isto se passa entre hoje e 2050, num cenário já de adaptação [às alterações climáticas]. Estamos a falar num crescimento enorme da produção de energia a partir de fontes renováveis, com um aumento muito expressivo da energia solar, da eólica. Da hídrica também há um aumento durante uma parte deste período até 2050, depois há um decréscimo por necessidade de dar outros destinos a essa mesma água. Estamos na bacia mediterrânica e o consumo que temos é maior do que a água que cai a cada ano pela chuva e que repõe os ecossistemas aquáticos. O valor médio da área ardida ao longo dos próximos anos foge à média. Os 68 mil hectares [previstos] são em média um valor superior ao que tivemos este ano, o que dá consistência a este mesmo valor. É um valor inferior em cerca de metade do que foi a média da área ardida dos últimos 10 anos, ainda que essa média seja muito influenciada pelo ano trágico de 2017. Mas sim, temos de ter uma floresta mais bem gerida, mais adaptada ao próprio território, onde as folhosas têm de ter um papel muito mais relevante, estamos a falar de um ciclo longo e onde a compensação entre as espécies que dão mais rendimento aos produtores e as de crescimento mais lento, mas mais adaptadas ao território, têm de ser compensadas com serviços de ecossistemas. Têm de ser remunerados aqueles que fizerem essas opções. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E a indústria? O que tem de fazer?Vai essencialmente electrificar-se. Quando falava do ponto de vista fiscal temos necessariamente de reduzir gradualmente os benefícios fiscais perversos associados aos combustíveis fósseis. Estamos a espera desse relatório desde Julho. Está à espera mas antes do relatório coisas foram feitas. Produzir energia eléctrica a partir do carvão tinha uma isenção de 100% no ISP até 2017, em 2018 passou a pagar 10% e em 2019 vai pagar 25%. Esse caminho de desmame de benefício fiscal a partir dos combustíveis fósseis já está em curso, não é só no roteiro. Em 2017 os subsídios aos combustíveis fósseis chegaram aos 415 milhões de euros. Temos de ter uma electricidade mais barata, mas quem se choca e pretende confundir energia renovável com renda excessiva esquece que o carvão é subsidiado há 300 anos em Portugal, o petróleo é só há 120, 130 que é usado. Há centenas de anos que estes combustíveis são subsidiados e por isso tem de haver uma redução desses incentivos fiscais.
REFERÊNCIAS:
Criança esteve 40 minutos debaixo de neve. Foi salva por um cão
Aconteceu nos Alpes franceses. As equipas de resgate classificaram a situação como um “milagre”. (...)

Criança esteve 40 minutos debaixo de neve. Foi salva por um cão
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aconteceu nos Alpes franceses. As equipas de resgate classificaram a situação como um “milagre”.
TEXTO: Uma criança sobreviveu depois de ter passado 40 minutos debaixo de neve na sequência de uma avalanche ocorrida esta quinta-feira, 27 de Dezembro, numa estância de esqui em Savoie, nos Alpes franceses, situação já classificada pelas equipas de resgate como um “milagre”. O menino de 12 anos foi apanhado por uma grande massa de neve quando estava a sair, acompanhado pelos respectivos pais, de uma pista de esqui na estância de La Plange. Cerca de 40 minutos depois, a criança foi encontrada consciente por um cão das equipas de resgate, que chegou ao local momentos depois da avalanche. “É um milagre porque (o cão) não estava a usar um detector de vítimas de avalanches. As hipóteses de sobrevivência são escassas após 15 minutos debaixo de neve. Teve muita sorte pelo facto de o cão ter conseguido marcar o local”, sublinharam as equipas de socorro. A par de um grande susto, a criança sofreu uma fractura numa perna, indicaram as mesmas fontes, e foi transportada para um hospital de Grenoble (Centro-Oeste de França), onde está sob observação.
REFERÊNCIAS:
Carne de laboratório. A próxima revolução no nosso prato tem dedo português
É uma proteína animal, mas livre de animais. Confuso? Até ao final do ano, alguns restaurantes devem incluir carne celular no menu. Os desafios, dúvidas e avanços da tecnologia que pode revolucionar a alimentação. Pelas palavras de um engenheiro biomédico português a cozinhar num laboratório. (...)

Carne de laboratório. A próxima revolução no nosso prato tem dedo português
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: É uma proteína animal, mas livre de animais. Confuso? Até ao final do ano, alguns restaurantes devem incluir carne celular no menu. Os desafios, dúvidas e avanços da tecnologia que pode revolucionar a alimentação. Pelas palavras de um engenheiro biomédico português a cozinhar num laboratório.
TEXTO: Vítor Espírito Santo come carne e não pretende deixar de o fazer. A Just, empresa que busca uma alimentação sustentável e saudável está a desenvolver carne em laboratório, não quer acabar com o consumo convencional da proteína animal nem ocupar o lugar dos pequenos produtores. Vejamos as duas informações como uma espécie de epílogo ao texto que se segue: aqui não há fundamentalismos, ainda que existam certezas importantes de sublinhar: “A forma como produzimos carne hoje não é sustentável”, aponta o engenheiro biomédico que em Fevereiro se mudou para os EUA para integrar o projecto de clean meat da empresa Just. Até ao final do ano, a startup vai entrar no mercado, ainda que com pezinhos de lã, estacionando primeiro em restaurantes com estrela Michelin, “uma comercialização mais controlada” pensada também para “testar reacções” dos consumidores. Em 2020, poderá estar em algumas lojas. Comecemos pela nomenclatura. Para Vítor Espírito Santo, o termo “carne artificial” não é o mais adequado porque aquilo que desenvolvem não é uma reprodução ou falsificação da proteína animal — “é real meat”, diz. Em português, a melhor terminologia será algo entre a “carne celular” e “carne de laboratório”. Mas como é que ela se cria, afinal?Na Just, inicialmente denominada Humpton Creek e criada por Josh Tetrick, tudo começou com células extraídas da raiz de penas de Ian, uma bem-constituída galinha branca recrutada numa fazenda. Um processo, sublinhe-se, que não implica qualquer tipo de sofrimento para o animal. Depois dessa recolha celular, o trabalho dos cientistas consiste em manter esse pequeno volume de células vivas em laboratório, fazendo com que elas proliferem e se multipliquem, “simulando os processos normais de desenvolvimento de órgãos e tecidos nos próprios animais”, explica Vítor Espírito Santo. Para isso acontecer as células são cultivadas numa solução de nutrientes, o chamado meio de cultura, que incluem, por exemplo, proteínas, açúcares e vitaminas. Numa imagem, simplifica o investigador português, seria uma espécie de “sopa que contém todos os nutrientes aos quais as células têm acesso no animal a partir da sua nutrição e absorção”. Vítor Espírito Santo estava na Holanda a participar num congresso sobre o futuro da alimentação quando foi descoberto pela equipa da Just. O português de 33 anos formado na Universidade do Minho tinha passado os últimos anos de trabalho a desenvolver modelos celulares úteis na criação de novos fármacos e esse conhecimento soou útil aos norte-americanos que coleccionam elogios de vários empresários (incluindo Bill Gates, que sinalizou a Just como um foco de esperança no futuro da alimentação), mas também algumas polémicas (a Business Insider noticiava em 2015 a alegada prática de uma ciência de pouca qualidade, com manipulação de rótulos e problemas com trabalhadores). Na Just, como noutras empresas que nos últimos anos trouxeram à baila a possibilidade de criar carne de forma artificial, estão a usar-se “processos de cultura celular já descritos para várias áreas de investigação, como a farmacêutica e a médica”. E é algures nesse momento de criação do meio de cultura que os problemas começam. É que alguns dos principais componentes dessa “sopa” têm “origem animal e são excessivamente caros” — além de colocarem questões éticas, como no caso do uso de soro bovino, extraído do coração de fetos ainda vivos. O grande obstáculo à comercialização de carne feita em laboratório tem sido financeiro. Recorde-se o primeiro hambúrguer-proveta do mundo, criado por uma equipa de cientistas holandeses com células estaminais de vaca: os primeiros 140 gramas produzidos, e apresentados em 2013, custaram qualquer coisa como 250 mil euros. Insustentável, portanto. Numa estratégia de encolher as contas, a Just optou por substituir os componentes de origem animal do meio de cultura por proteínas e extractos de origem vegetal. E para isso contaram com uma plataforma automatizada e uma base de dados com milhares de proteínas extraídas de plantas e sementes que começaram a ser estudadas há coisa de sete anos, quando a Just abriu portas. Se nos primeiros produtos criados e já comercializados pela empresa — como maionese e outros molhos, massa de bolacha ou ovos sem. . . ovos — as proteínas vegetais foram usadas no produto final, no projecto da clean meat foram um importante suplemento e o alimento das células animais em cultura. A “complexidade” desta carne celular “não é a mesma da carne a que estamos habituados”. Mas o caminho está a ser feito e é constantemente testado. Vantagens de uma empresa que não é de biotecnologia mas de comida efectivamente. Após identificarem a melhor mistura de nutrientes para fazer as células crescer, o objectivo passou a ser fazer essas culturas “em biorreactores de escala progressivamente maior”. “Nesta fase estamos prontos para produzir células em grande quantidade e a um custo competitivo e podemos trabalhar em conjunto com a equipa de desenvolvimento de produto”, anuncia Vítor Espírito Santo. A equipa inclui chefs, alguns com estrela Michelin. Sempre que no laboratório do português se criam células que consideram boas, elas passam para a sala do lado: a cozinha onde se testam sabores. “Nós somos as primeiras cobaias”, graceja, para logo de seguida deixar uma garantia. “Já comi e gostei. Fazemos testes cegos e há quem não distinga. Uma das coisas que mais nos surpreendeu foi o cheiro. Era mesmo de frango. ” Palavra de carnívoro. O produto obtido é, para já, “uma pasta celular que se assemelha muito a carne picada” e que pode ser usada “para fazer uma salsicha, um chouriço ou um nugget”. Para já será frango, mas outras serão também desenvolvidas. Mas afinal será ou não esta carne de laboratório uma resposta para vegetarianos? “Depende”, opina Vítor Espírito Santo, para logo de seguida contar que tipo de posições tem encontrado. “Há vegetarianos que deixaram de comer carne por causa da crueldade animal. Esses poderão comer esta carne. Mas também há quem já se tenha desabituado da proteína animal e não a queira incluir na sua dieta. ” De uma forma genérica, os consumidores parecem estar disponíveis para novas experiências. Segundo um inquérito aos leitores do jornal The Guardian em 2013, 69% das pessoas estariam disponíveis para provar carne criada em laboratório. O objectivo da Just é, acima de tudo, criar um produto que funcione como “alternativa à produção industrializada de carne”. E esse assunto deveria tirar o sono a todos: é que com o crescimento da população global, a produção de carne terá custos ambientais cada vez mais penosos, pelo consumo de energia, de água e de gases com efeito de estufa. E a saúde também é para aqui chamada: quando comparada com a carne industrializada, afiança Vítor Espírito Santo citando análises nutritivas já feitas aos produtos da Just, a carne celular é “mais saudável”. E não estaremos a resolver um problema e a inaugurar outro, condenando a agricultura tradicional e asfixiando ainda mais países em vias de desenvolvimento onde ainda há muita produção para consumo próprio? Vítor acredita que não: “Seremos sempre um mercado de nicho e queremos ser alternativa à produção industrializada. Não queremos competir com pequenos produtores nem ir para África. Acho muito saudável que esse tipo de produção continue. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A única porta que o engenheiro biomédico gostava de ver abrir em África era, na verdade, algo que pudesse ser uma ajuda. A Just já desenvolveu na Libéria, com produtos recolhidos localmente, uma espécie de farinha de aveia que funciona como um pequeno-almoço nutritivo e garante os nutrientes essenciais na alimentação. “Seria excelente se pudéssemos ter um produto semelhante de carne. ”Na lista de sonhos já com projectos delineados está também a criação de uma quinta de clean meat, com janelas de vidro, para que todo o processo seja transparente, e painéis solares. Terá “a dimensão do maior matadouro dos Estados Unidos” e reunirá uma “série de biorreactores” (tanques cilíndricos com um volume de 400 mil litros) para cultivo a larga escala. Desses biorreactores sairão células em linhas de montagem já em forma de bife e outras carnes. O mediático fundador da Just já sublinhou que o objectivo da sua empresa é pôr o mundo a comer melhor. Vítor Espírito Santo não tem dúvidas de que o futuro da alimentação passará necessariamente por aqui: empresas tecnológicas a investir no sector alimentar e uma carne livre de animais, com cozinha instalada num laboratório.
REFERÊNCIAS:
PAN obtém o fim da isenção de IVA dos artistas tauromáquicos
Governo e PS satisfazem reivindicação antiga do Pessoas Animais Natureza. (...)

PAN obtém o fim da isenção de IVA dos artistas tauromáquicos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-05 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181005182427/https://www.publico.pt/n1846342
SUMÁRIO: Governo e PS satisfazem reivindicação antiga do Pessoas Animais Natureza.
TEXTO: Há quatro anos que o PAN-Pessoas Animais Natureza reivindicava a abolição da isenção de IVA, na negociação do Orçamento do Estado (OE) – foi desta. Segundo o deputado André Silva, que nesta quinta-feira se reuniu com o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, e com o líder do grupo parlamentar do PS no âmbito da negociação do OE 2019, o PAN obteve a garantia de que vai acabar a isenção de IVA de que beneficiam os artistas tauromáquicos. É uma medida que ainda não tem expressão financeira, uma vez que o compromisso dos socialistas, reconhece André Silva, é apenas o de acabar com a isenção e de não aplicar a taxa reduzida de IVA, reservada tendencialmente aos bens essenciais, aos artistas tauromáquicos. Fica assim em aberto a possibilidade de estes profissionais virem a beneficiar da chamada taxa intermédia, de 13%, ou da taxa normal de 23% (valores de Portugal continental). André Silva salienta que, mesmo muitos aficionados, discordavam da isenção de IVA na tauromaquia. “E uma questão de justiça tributária, de moralização: se até o acesso à justiça, a um advogado, ou à alimentação pagam IVA, não faz sentido deixar isenta uma actividade que consiste em maltratar um animal”, argumenta o parlamentar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. André Silva não sabe se esta é uma medida que vai antecipar o fim das touradas em Portugal, que o PAN preconiza. Acredita que há uma grande maioria na sociedade portuguesa que defende o fim das touradas e que este só ainda não aconteceu “por falta de coragem política de deputados que não sabem ler a sociedade”. Em Julho, a proposta do PAN para a abolição das touradas em Portugal foi chumbada no Parlamento, só recolhendo o voto favorável de André Silva, do BE, do PEV, de oito deputados do PS e de um do PSD. André Silva vê os resultados de sondagens, inquéritos online e atitudes como as das academias que acabaram com as garraiadas nas queimas das fitas e conclui que o público das touradas é cada vez mais residual e que o espectáculo tauromáquico já depende de “balões de oxigénio, como as isenções, as corridas de touros na TV, os milhões de euros que alguns municípios dão a touradas e os apoios que o Ministério da Agricultura dá à criação de gado bravo”. Mas se assim não for, se for verdade que o sector não depende do Estado e tem muito aficionados – ironiza André Silva -, então “não terá qualquer temor em pagar IVA como toda a gente e contribuir para a justiça tributária”. O PAN apresentou-se nas negociações do OE 2019 com o Governo e o PS com um caderno reivindicativo que inclui, entre outras medidas, a inclusão de intérpretes de língua gestual portuguesa nas urgências hospitalares, o reforço do apoio a estudantes com necessidades educativas especiais no ensino superior e não só, o aumento e alargamento a veículos pesados de passageiros do incentivo à aquisição de automóveis eléctricos e a aplicação de uma taxa aos sacos de plástico mais leves, semelhante à que vigora há já vários anos para os sacos de plástico mais grosso.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD BE PEV
Função Pública: BE propõe recuperação salarial de 20% até 2023
Bloquistas querem subir IVA das touradas para tecto máximo. (...)

Função Pública: BE propõe recuperação salarial de 20% até 2023
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bloquistas querem subir IVA das touradas para tecto máximo.
TEXTO: A proposta do Bloco de Esquerda (BE) para a contagem do tempo de serviço das carreiras da função pública, onde se incluem os professores, prevê um faseamento de cinco anos até 2023 ao ritmo da negociação sindical. Mas caso as conversações falhem essa recuperação salarial terá de ser 20% ao ano. A solução foi apresentada pela deputada Mariana Mortágua, esta sexta-feira à tarde, em conferência de imprensa no Parlamento para a divulgação de propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2019. No caso de os funcionários se encontrarem muito perto da reforma podem optar pela conversão do tempo de serviço não contabilizado em antecipação da idade da reforma em termos a determinar em negociações em 2019. A deputada bloquista referiu não haver “nenhuma articulação particular” com as restantes bancadas sobre esta matéria e disse esperar que “se encontre uma proposta comum” no debate orçamental que resta. Mas assinalou não ter muita expectativa sobre a direita que “tem tido uma visão um pouco oportunista nesta matéria”. Entre as 190 propostas apresentadas pelo BE está a do IVA dos espectáculos. Os bloquistas querem baixar já a partir de Janeiro para a taxa mínima de 6% para todos, independentemente do local onde se realizam, com excepção das touradas. Neste caso, a proposta é mesmo para subir para os 23%, a taxa máxima. “O Estado não tem de financiar estes espectáculos, não é forma de arte, tem de estar no máximo”, justificou a deputada.
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Partidos BE
Comporta ficará preenchida de "elefantes brancos" se for vendida a promotores imobiliários
Os núcleos de desenvolvimento turístico previstos para o Sítio Comporta-Galé vão ocupar a Rede Natura 2000, classificada pela União Europeia para fins de conservação da biodiversidade, alertam associações. (...)

Comporta ficará preenchida de "elefantes brancos" se for vendida a promotores imobiliários
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.200
DATA: 2018-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os núcleos de desenvolvimento turístico previstos para o Sítio Comporta-Galé vão ocupar a Rede Natura 2000, classificada pela União Europeia para fins de conservação da biodiversidade, alertam associações.
TEXTO: Várias organizações não-governamentais (ONG) vão endereçar ao ministro do Ambiente uma carta aberta criticando a venda da Herdade da Comporta a promotores imobiliários, uma decisão que previsivelmente, dizem, irá transformar “um vasto espaço agro-florestal num complexo residencial e turístico”. Se uma tal opção vier a confirmar-se, significa deixar “entregues a particulares algumas decisões cruciais para o futuro ambiental e social do território”, acusam as ONG. E acrescentam: Compete à Caixa Geral de Depósitos (CGD) definir critérios “supletivos” para a venda da Comporta, “substituindo uma escolha baseada unicamente nos valores de licitação por uma escolha baseada nos valores ambientais”, frisa o documento que será divulgado hoje. Nele lembram ao governante que o banco público “é por larga margem o principal credor da Gesfimo”, o Fundo Imobiliário que colocou à venda a Herdade da Comporta, assistindo-lhe por esse facto “o poder de executar os créditos que detém”. As ONG recordam que na sua página institucional, a CDG “declara que entre os seus valores” se inclui o desenvolvimento sustentável. Estes últimos já anunciaram o seu propósito de urbanizar a área da Comporta “segundo a máxima extensão contemplada em diplomas legais promulgados em 1993 e em 2008”, referem as associações. Com efeito, a urbanização de 744 hectares repartidos por dois “núcleos de desenvolvimento turístico” na Herdade da Comporta foi prevista, pela primeira vez, no Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo Litoral (PROTALI), promulgado em Agosto de 1993 para ser viabilizada em 2008. Decorrida uma década, continua a apostar-se “numa fórmula de ordenamento prevista, em abstracto, há 25 anos com o primeiro PROTALI” e replicada há dez anos por um despacho ministerial assinado durante uma “profunda crise” nos sectores da construção e do imobiliário, e quando falta resolver as controvérsias da Reserva Ecológica Nacional, criticam as ONG. Recorde-se que, com a promulgação do novo Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional em 2008, instrumento legislativo que norteou a revisão do traçado daquela restrição de utilidade pública em todos os concelhos do país, constatou-se que as metodologias técnicas previstas nesse diploma tinham produzido “resultados inesperados”, observa o documento enviado ao ministro. Várias propostas de revisão apresentadas caíram num impasse depois de se perceber que os critérios seguidos na delimitação da REN necessitariam de ser aperfeiçoados. Na Comporta que se distribui pelos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola, os núcleos de desenvolvimento turístico previstos situam-se em plena Rede Natura 2000, mais precisamente no “Sítio Comporta-Galé”, uma área classificada pela União Europeia para fins de conservação da biodiversidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As ONG lembram o passado recente quando Portugal se “afundou numa crise financeira devida às avultadíssimas imparidades nas carteiras de activos imobiliários do sector bancário, agravadas com o excedente de stock”. Este cenário colocou o país em segundo lugar na Europa com o maior número de prédios devolutos. O resgate a que o país foi sujeito, a partir de 2011, “destinou-se em grande medida a permitir a injecção de capitais públicos na banca privada, de modo a cobrir essas mesmas imparidades”, realça a carta endereçada ao ministro do Ambiente, com uma advertência: A retoma do sector imobiliário a partir de 2015 “foi súbita, mas desequilibrada”, pormenor que justificou do Fundo Monetário Internacional e do Banco de Portugal um sinal de alerta para a “existência de bolhas imobiliárias no país. ” É perante este quadro de incertezas quanto ao futuro imediato que as ONG consideram que, “ao autorizar-se a urbanização densa de um espaço rústico como a Herdade da Comporta, poderá reconduzir os portugueses a um cenário que já lhes é infelizmente familiar: a proliferação de bairros devolutos, dispersos pela paisagem, cujo valor financeiro foi inscrito como imparidades em bancos resgatados pelos contribuintes ou seja: “elefantes brancos a expensas de todos” conclui a carta aberta das ONG.
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Palavras-chave social
Kirill Serebrennikov e Milo Rau, dois elefantes numa sala russa
Por motivos políticos, dois encenadores não puderam estar presentes na cerimónia de entrega dos Prémios Europa de Teatro do último sábado em São Petersburgo. Um está em prisão domiciliária, o outro não obteve o visto em tempo útil. (...)

Kirill Serebrennikov e Milo Rau, dois elefantes numa sala russa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Por motivos políticos, dois encenadores não puderam estar presentes na cerimónia de entrega dos Prémios Europa de Teatro do último sábado em São Petersburgo. Um está em prisão domiciliária, o outro não obteve o visto em tempo útil.
TEXTO: A cerimónia de atribuição dos Prémios Europa de Teatro 2018 que decorreu este sábado no Teatro Alexandrinsky, em São Petersburgo, ficou marcada não tanto pela celebração dos presentes quanto pelos “dois elefantes na sala”, nas palavras do encenador e dramaturgo polaco Jan Klata, um dos distinguidos (tal como o português Tiago Rodrigues) com o Prémio Realidades Teatrais. Depois de nomear Milo Rau e Kirill Serebrennikov, os dois grandes ausentes da cerimónia, Klata fez saber que sentia “a língua como se estivesse em prisão domiciliária" e remeteu-se ao silêncio, que "é de ouro”. O caso do encenador e cineasta russo Kirill Serebrennikov, que foi um dos vencedores do Prémio Europa – Realidades Teatrais em 2017, é conhecido. Assumido crítico do regime de Putin, foi detido em Agosto desse ano, acusado de desvio de dinheiros públicos, e mantido desde então em prisão domiciliária, tendo o seu polémico julgamento começado há pouco mais de um mês, sob forte contestação internacional. Tiago Rodrigues, que em São Petersburgo fizera já uma menção a Serebrennikov na leitura do texto Burning the Flag, dedicou-lhe também a recitação em russo do Soneto nº30 de Shakespeare (que em By Heart, espectáculo que levou ao programa oficial do prémio, é usado como símbolo de resistência, das ideias e das palavras que os regimes não podem cercear). Aquilo que o silêncio de Klata deixou por explicar foi em que medida o encenador suíço Milo Rau, premiado nesta edição, estava também implicado. O esclarecimento chegou passados alguns minutos, quando o crítico francês George Banu leu a mensagem enviada pelo próprio Rau, em que este se confessava “pouco surpreendido” perante as dificuldades em obter o visto que lhe permitiria a entrada na Rússia. “Desde o nosso projecto The Moscow Trials, há cinco anos, em que examinávamos criticamente a liberdade artística na Rússia, deixámos de poder entrar neste país”, escreveu o artista. Os problemas burocráticos alegados desta vez só ficaram resolvidos na sexta-feira, tendo o artista suíço sido instado a dirigir-se à embaixada russa em Antuérpia no espaço de duas horas, quando já nem sequer se encontrava em território belga (onde habita) e numa altura em que o seu filme The Congo Tribunal estava já a ser exibido em São Petersburgo, sem a sua presença. Numa edição do Prémio Europa de Teatro em que muito se falou sobre o papel a desempenhar pelos artistas num continente a braços com restrições das liberdades, o ausente Milo Rau veio questionar “como podemos celebrar o poder e a liberdade do teatro, como podemos celebrar-nos e às trocas europeias, se ao mesmo tempo ficarmos calados perante o facto de um dos vencedores do ano passado se encontrar à mercê de um julgamento-espectáculo”. No palco do Teatro Alexandrinsky, desta vez a realidade não cedeu muito espaço à ficção. O PÚBLICO viajou a convite do Teatro Nacional D. Maria II e do Prémio Europa de Teatro
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal prisão