Ano de luxo para os portugueses do Curtas Vila do Conde
Marta Mateus, Carlos Conceição, Francisco Carvalho e João Pedro Rodrigues também brilharam numa edição que, entre novidades e repescagens, confirma o bom momento da produção nacional. (...)

Ano de luxo para os portugueses do Curtas Vila do Conde
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170716230820/https://www.publico.pt/n1779235
SUMÁRIO: Marta Mateus, Carlos Conceição, Francisco Carvalho e João Pedro Rodrigues também brilharam numa edição que, entre novidades e repescagens, confirma o bom momento da produção nacional.
TEXTO: Tínhamos falado, há alguns dias, dos “bons augúrios” que se sentiam na competição nacional do 25. º Curtas Vila do Conde – e, vista a totalidade das obras a concurso, os presságios iniciais sobre um bom ano de curtas confirmaram-se. Claro que nem todos os 16 filmes seleccionados estão ao mesmo nível, mas, num ano em que tanto se falou de crise, a produção portuguesa de curtas cerrou fileiras, “ergueu-se à ocasião” e respondeu com alguns dos melhores exemplos do formato em tempos recentes. Se problema houve, esteve no risco de ter cineastas com nome feito a “afogar” os nomes jovens que por aqui apareceram. Seria pena, por exemplo, que se passasse ao lado de Longe da Amazónia, de Francisco Carvalho, delicada teia de imagens evocativas inspirada pelas viagens de um explorador esquecido do século XVIII, Alexandre Ribeiro Ferreira, que faria uma boa “sessão dupla” com A Cidade Perdida de Z, de James Gray. Mas é o risco inerente a ter a concurso Coup de Grâce, o ballet mecânico e formalista-emocional de Salomé Lamas sobre pai e filha em reencontro alegórico, ficção assumida que abre novos rumos ao cinema da realizadora; Altas Cidades de Ossadas, o encontro secreto e opressivo de João Salaviza com Karlon Krioulo que ao mesmo tempo abre e fecha portas para o olhar urbano que tem marcado a obra do cineasta; ou Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?, “ponto da situação” de 20 anos de cinema, da primeira curta Parabéns até O Ornitólogo, construído ao ritmo de imagens de arquivo e memórias pessoais. Encomendado pelo Centro Pompidou para a retrospectiva que dedicou a Rodrigues em 2016, Où en etes-vous … é um filme que faz muito mais sentido exibido em contexto, ou para quem tiver um profundo conhecimento da sua obra, mesmo que articule o pessoal e o universal, a natureza e a urbanidade com apreciável desenvoltura e até um toque de emoção universal que nem sempre o realizador atingiu noutros filmes. De resto, os véus que Où en etes-vous… levanta podem também ter o efeito oposto, de instigar aqueles que não conhecem a ir à procura (se a isso ajudarem os deuses do DVD…). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O risco da reciclagem não é forçosamente problemático, já que a própria exposição da galeria Solar que acompanha os 25 anos do Curtas, sob o genérico Terra, recorre em parte à “reciclagem” de filmes que já fizeram “carreira”. Um Campo de Aviação, de Joana Pimenta, por exemplo, ganha muito em estar exposto no “cubo espacial” da galeria, mais do que numa sala tradicional; já O Corcunda, a colaboração de ficção científica fajuta de Gabriel Abrantes e Ben Rivers, sobrevive melhor no ecrã tradicional. E, num pequeno parêntesis, foi absolutamente revigorante perceber como quase todos os filmes escalados para o Curtas prestaram especial atenção à dimensão comunal e ritualista do grande ecrã e recusaram o funcionalismo das plataformas múltiplas. Com raras excepções, a classe de 2017 do Curtas foi composta de obras para serem vistas na maior tela possível. Ainda assim, e já que estávamos a falar de repescagem, dois dos melhores filmes do programa vieram das selecções de Cannes. Farpões, Baldios, primeira curta de Marta Mateus, tem sido uma das estreias mais aclamadas da recente produção nacional, e percebe-se porque: o filme olha para o universo rural do Alentejo de um ponto situado algures entre António Reis (no ritmo contemplativo e atento à natureza, no recurso a habitantes locais e a tradições orais) e Pedro Costa (na estrutura em quadros pictoriais e na narrativa oblíqua, quase aforística). Há em Farpões, Baldios um olhar de cineasta que nos parece francamente interessante, no modo como faz da realidade algo de simultaneamente fiel a si próprio e transfigurado pela presença de fantasmas ou tradições, mas estes 25 minutos francamente sedutores não chegam ainda para identificar uma voz própria. E Coelho Mau de Carlos Conceição “redime” os resultados algo dispersos do anterior Acorda, Leviatã num regresso assumido à ficção mais “tradicional” (embora, para o autor de Boa Noite, Cinderela, a dimensão de “tradição” seja algo de muito relativo…). Jogo delicado de contornos pop entre desejos lúbricos e canduras protectoras, Coelho Mau tem qualquer coisa de conto de fadas pós-moderno e transgressivo onde um adolescente é capaz de tudo para proteger e cumprir os desejos da sua irmã doente, por entre sugestões de fetichismo softcore e arquétipos de candura marota. É o melhor filme do realizador até agora, e não nos surpreenderia que estivesse entre a shortlist dos candidatos ao prémio máximo – que se conhecerá ao fim da tarde de domingo, em fim de festa dos 25 anos.
REFERÊNCIAS:
A tragédia de um homem piccolo, piccolo
Eis Villagio Coppola, perto de Nápoles, uma ruína na cidade. Aqui vive como se fosse um sonho um estúdio de cinema a céu aberto. Neste cenário de western o realizador Matteo Garrone filmou uma fábula, Dogman: a iniciação à violência de um tratador de cães, um homem piccolo, piccolo. (...)

A tragédia de um homem piccolo, piccolo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Eis Villagio Coppola, perto de Nápoles, uma ruína na cidade. Aqui vive como se fosse um sonho um estúdio de cinema a céu aberto. Neste cenário de western o realizador Matteo Garrone filmou uma fábula, Dogman: a iniciação à violência de um tratador de cães, um homem piccolo, piccolo.
TEXTO: O início, aqui, é o rosto de Marcello Fonte. Marcello não é igual a Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi ou Alberto Sordi. Mas a sua plasticidade permite uma síntese evocativa, poética, lunar, pictórica, da violência e fantasia que os anos do boom económico impuseram à personagem do homem comum italiano — levaram-no a carnavalescas performances. . . — a que aqueles “monstros” insuflaram vida. Foi o período da chamada “comédia à italiana”, série de gloriosos títulos iniciada pelo I Soliti Ignoti, de Monicelli, em 1959, e que foi terminada pelo próprio com um golpe de misericórdia chamado Un Borghese Piccolo Piccolo, no ano de 1977 — porque, dizia Monicelli, já não encontrava humanidade, só fealdade, na sociedade italiana. Marcello Fonte, então, premiado em Cannes 2018. O filme chama-se Dogman, realiza Matteo Garrone, chega esta semana às salas. Garrone apaixonou-se pela “doçura” deste Buster Keaton da Calábria. Marcello interpreta Marcello, um tratador de cães ligado pelo fascínio e pelo medo face ao bruto cocainómano, Simoncino, de quem está refém — toda a comunidade vive aterrorizada por essa violência como nas pequenas e cobardes cidades dos cowboys. O que coloca Marcello numa aventura de sobrevivência e com uma necessidade de reconhecimento que vão comprometer a sua humanidade. Garrone, cineasta de Roma mas afectivamente e sensualmente ligado a Nápoles, é o homem destas personagens que julgam partir à descoberta do mundo mas acabam por mergulhar nas suas solitárias fantasias — recorde-se Reality (2012) em que uma personagem (interpretada por um actor de olhar tão ardente como o de Marcello e que se chama Aniello Arena) acabava encerrado num reality show. Garrone, et pour cause, está neste momento a trabalhar no projecto de Pinóquio. . . Realizador de Gomorra (2012), é um destes cineastas italianos em que a poética de um património estético e ético que foi ameaçado, destruído pela televisão, pelo audiovisual, sobra ainda como ruína e como sonho no seu cinema. É isso que o pode ligar, por exemplo, a alguém em tantas outras coisas tão diferente dele como a Alice Rohrwacher de O País das Maravilhas (2014) e de Lázaro Feliz, 2018). Não será apenas coincidência, aliás, o facto de os últimos filmes de ambos demarcarem os contornos de territórios de fábula sonâmbula, com personagens de linhagem morta-viva no panorama do cinema contemporâneo e com actores com rostos e olhos de um mundo antigo. Dogman é, no caso de Garrone, um ponto de chegada: é uma depuração. Podia ser um filme mudo: é um mundo assente na realidade, mas em contacto com a essencialidade do arquétipo. A uma ética “antiga” pertence o imperativo que se afirma em Garrone: mesmo num filme sobre a violência e a brutalidade, não brutalizar as personagens. Na luta de Marcello para conseguir preservar a sua humanidade está a estirpe, hoje minoritária certamente, de um cinema que, nos tempos áureos, foi uma de uma grande crueldade mas ainda de maior doçura para com as extravagantes criaturas que somos. Sobre Dogman já aqui falámos em western e em Buster Keaton. Vai dar para falar sobre cinema mudo com Garrone na entrevista que se segue. E sobre, a propósito de western, um cenário a que o cineasta sempre regressa a cada filme, Villagio Coppola, perto de Nápoles, uma ruína da cidade em que vive, como um sonho, um estúdio de cinema a céu aberto. Sabe-se que está na fase de pré-produção de Pinóquio, filme com Roberto Benigni adaptando a obra de Carlo Collodi que foi marcante na sua formação. Não resisto a começar por aí. Porque quer em Reality (2012) quer em Dogman (2018), na “viagem” que as personagens fazem nesses filmes, há uma aprendizagem do mundo, da violência, da traição, que são arquetípicas e que se calhar já eram o “seu” Pinóquio. . . Preferia enfrentar o tema Pinóquio mais à frente, mas, sim, é verdade, Pinóquio está em todos os meus filmes, não apenas em Reality ou Dogman. Há muito por onde fazer a conexão. Mas tudo isso me aparece naturalmente. Dogman, então. E o rosto de Marcello Fonte. Mas também o de Aniello Arena de Reality. Revi os filmes: há algo de comum no olhar dos dois actores — no sentido amplo de desejo de mundo nesse olhar. Foi isso, que lhes pertence, que teve a ver com a escolha deles para as personagens?É verdade que as minhas escolhas nascem frequentemente da força expressiva de um vulto e do mundo que ele tem dentro de si, logo, com os olhos, com o vivido, com a sua humanidade. Depois, faço um percurso com o actor em que se casam a personagem escrita e a pessoa que a interpreta. Provavelmente a minha relação com a pintura, tendo sido pintor antes de ser realizador, me leva também a escolher rostos que têm uma grande expressividade. Os rostos de Aniello e de Marcello são antigos, de uma Itália que está a desaparecer. De um mundo que está a desaparecer. Aniello Arena — falamos de Reality — estava preso durante a rodagem — ainda está, é um condenado a prisão perpétua. Há aqui uma rima poética, porque a personagem que ele interpretava era alguém que saía para o mundo e que entrava dentro da sua fantasia — no caso, um programa televisivo. Acabava sozinho. A personagem de Marcello Fonte em Dogman também tenta experimentar o mundo e no final fica só. Porquê acabar assim os seus filmes, com as personagens enjauladas na sua solidão. . . numa prisão, de alguma forma?As personagens fazem percursos diferentes, as temáticas dos filmes são diversas, mas no final, sim, ambas experimentaram uma viagem ilusória. Um dos filmes [Reality] é a narrativa de um homem que é vítima de um contágio, porque é convencido pela família e pelo bairro a entrar num programa televisivo, como se através desse programa pudesse finalmente existir, ser alguém — e através dele, o bairro poder existir também. É um tema existencial. A história de Marcello [Dogman] é a história de um homem não violento, pacífico, que tenta desesperadamente manter boa relação com todos, mas que se encontra encarcerado dentro de um mecanismo de violência do qual não consegue sair. Sendo uma pessoa não violenta, vive o pesadelo de ter de reafirmar aquele mecanismo. No fim, atravessa uma série de estados de alma, entre eles o da ilusão de ser aceite — pela comunidade e assim reabilitar-se —, mas ao mesmo tempo dando-se conta de que o seu gesto, sendo heróico, não se diferencia do do amigo violento. Ou seja, no fim há duas vítimas. É verdade: há um aspecto obsessivo e alucinatório que liga as duas personagens. Inicialmente, o intérprete de Dogman seria Roberto Benigni, que estará consigo em Pinóquio. É uma solidão diferente a de Marcello Fonte? A personagem mudou quando encontrou Marcello?Quando, há 12 anos, pensei em Benigni já tinha em mente uma personagem que pudesse reclamar algumas das figuras cómicas que foram importantes na minha formação. Por exemplo, Buster Keaton ou Charlie Chaplin, actores de uma comicidade natural. Acreditava que era importante na primeira parte do filme haver uma ligeireza e que depois a personagem ficaria ligada a um labirinto, a um vórtice mais sombrio. Foi por isso que me aproximei de Benigni. O argumento era bem diverso, o filme era diferente. Felizmente optei por não o fazer porque hoje reconheço que o argumento era mais débil. Tive a sorte de realizar Gomorra (2008) e de ter feito um percurso que me fez chegar a Dogman no momento certo — do ponto de vista de maturidade e de conhecimento. Tenho um filho de dez anos, sei o que é ser pai, sei o que é sentir amor por um filho, e pude contar a relação de Marcello com a filha de forma decididamente mais profunda do que podia ter feito há 12 anos. E o tema do filme não é centrado na vingança, como há 12 anos quando se tratava de ser fiel a um faits-divers real — naquela versão o filme partia do tema da vingança do mais fraco contra o mais forte. Hoje, o tema é mais subtil. Não é a vingança, é o desejo de um sentido de justiça. A personagem mantém-se não violenta até ao fim. E quando comete um acto de violência para se defender não quer de modo algum tornar-se assassino — e pagará com as consequências do seu gesto toda a vida. A escolha de Benigni era a escolha de um grande actor cómico. Mas quando, por acaso, encontrei Marcello encontrei nele características que tinha avistado em Benigni. E foi uma coincidência ter sido Roberto Benigni a dar a Marcello o prémio de interpretação em Cannes. Realização: Matteo Garrone Actor(es): Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Nunzia Schiano, Alida Baldari CalabriaBuster Keaton e Charlie Chaplin. . . Dogman partilha a abstracção e a síntese do cinema mudo. Tentei trabalhar nesse sentido. . . Mas continuando com Marcello: como o encontrou?Uma coincidência. Estava à procura de actores para papéis secundários. Achava que já tinha encontrado o intérprete para o protagonista. Estava à procura em companhias de teatro formadas por detidos ou ex-detidos. Havia uma companhia de ex-prisioneiros num centro social, montavam ali um espectáculo. Marcello vivia nesse centro social e assistia aos ensaios da peça diariamente. Num dos dias, um dos ex-detidos às tantas foi à casa de banho, sentiu-se mal, morreu. Marcello, que conhecia a peça de trás para a frente, tomou o seu lugar. Desta maneira, casual, passou a fazer parte da companhia. Quando o meu director de casting foi ver o grupo, viu Marcello. Daí o nosso encontro. Vi-o, apaixonei-me pela sua doçura e humanidade e decidi ficar com ele como protagonista e rompi o contrato com o outro actor. Já no caso de Reality encontrou o seu actor no universo prisional — Aniello Arena estava mesmo detido. Tem consciência de procurar uma relação, nos rostos e corpos, entre o encerramento da vivência física e a liberdade do olhar, a evasão pela fantasia, para voltarmos à questão inicial sobre Pinóquio?Marcello não era um detido, embora fosse uma testemunha dessa experiência — era o guarda do centro social, onde ainda hoje vive. Mas evidentemente que ao procurar actores para papéis secundários, como o fiz, naquele meio, isso fez-me de facto encontrar Marcello. Que já interpretou papéis secundários em outros filmes, um deles inspirado na sua vida. Não era totalmente inexperiente. Embora fosse a primeira vez que se encontrava a interpretar um protagonista num filme. Ele carrega Dogman aos ombros, foi um enorme desafio. Há caras, mas há um lugar, Villagio Coppola, onde já filmara antes. Mas parece-me que utiliza o lugar em Dogman de forma diferente: com isso se faz a abstracção do filme, a sua poética expressionista. O que significa para si Villagio Coppola?É uma aldeia que existe, a poucos quilómetros de Nápoles. Nasceu nos anos 70 para as famílias dos soldados da NATO em Itália. No fim dos anos 90 foi abandonada pelos americanos e entrou num lento abandono. Comecei a trabalhar ali no início de 2000 com L’imbalsamatore (2002), depois, em 2008, com Gomorra, agora com Dogman. Regresso ali porque para mim era ideal para a história. Uma das minhas referências era o cinema mudo. Mas para além disso devo acrescentar o western. Villagio Coppola recordava-me uma certa atmosfera das aldeias de fronteira: de alguma maneira, isso está na comunidade presente na vida da personagem de Marcello, no olhar dessa comunidade sobre ele que determinará depois algumas das escolhas da personagem. De alguma forma esse lugar torna-se aqui metáfora. Villagio Coppola tinha uma série de elementos que para mim eram fundamentais. Até porque é um lugar onde se pode trabalhar com muita calma, concentração, como um grande set cinematográfico. É-me familiar. Tem uma luz extraordinária. Amo muitas coisas daquele lugar. Para outras pessoas pode ser feio e decadente, pessoalmente acho-o muito forte em termos expressivos. O western pode ser dos géneros mais abstractos, é verdade. Falou no lugar como metáfora. O trabalho de luz caminha sempre no sentido de colocar uma realidade concreta num outro lugar maior. Penso que isso já estava em Gomorra. Esqueçamos por um momento o facto de ter rodado Gomorra com um estilo mais documental do que o de Dogman. A escolha de um lugar que se pode tornar metáfora, sendo também esse lugar personagem do filme, presidiu também às escolhas de Gomorra. Por exemplo, as personagens daqueles dois rapazes que confundiam a realidade com a ficção e que não queriam obedecer a nenhuma lei, a nenhuma regra, para além das da criminalidade, e que por isso correm livres pelos campos. . . essa história foi ambientada no lugar onde filmei agora Dogman e que é um território aberto, onde não há limites. Quando escolho um lugar ele torna-se personagem e ajuda a compreender melhor os conflitos das personagens. Não vejo numa diferença no processo criativo dos filmes entre a história e a escolha de lugares. Há uma continuidade. É verdade que Dogman, ao contrário de Gomorra, é uma viagem que em vez de caminhar pelo território de forma horizontal, vai na vertical para dentro dos conflitos da personagem de Marcello. Ou seja, temos possibilidade de contar aquele lugar como um filme interior. É uma diferença decisiva. Para além disso, em Gomorra há várias personagens e episódios. Dogman é essencial, mais simples até, e é isso que lembra o mudo. Se há um Buster Keaton em Marcello, há em Simoncino (Edoardo Pesce) um Lon Chaney. A relação deles, visceral, alimenta-se da “monstruosidade”. Concordo. A primeira imagem de Dogman é um cão. Tratando-se, como se trata, de resgatar a humanidade das personagens e não encarcerá-las numa tipologia, fale-me desse início em que se estabelece a temperatura do filme, de uma comunidade, se calhar de um país. . . A primeira sequência é simbólica. Enfrenta o tema do filme. A personagem de Marcello está diante de um cão que é agressivo, violento, trata-se de perceber como é que consegue acalmá-lo para fazer o que tem de fazer. É uma metáfora do que lhe acontecerá na relação com Simoncino. Estou de acordo em relação à simplicidade do filme mas no fim de contas a simplicidade de Dogman é para mim um ponto de chegada que não tinha ainda atingido com os filmes anteriores. Acontece com o seu cinema: ter no ADN o cinema italiano do passado. Pensei muitas vezes na “comédia à italiana”, pensei no Borghese Piccolo Piccolo (1977), de Mario Monicelli, a propósito do qual o realizador disse que terminava com ele a “comédia à italiana” porque a Itália não podia já rir-se de si própria, do que lhe estava a acontecer. Vi e amo o cinema de Monicelli. É daqueles de que mais gosto. Mas claramente procurei encontrar uma estrada pessoal, mais ligada aos meus interesses, à minha personagem — a ideia da vingança, como em . . . Borghese, como em Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah, do fraco que se torna vingador, parecia ter sido já usada. E foi bom termos compreendido, eu e Marcello, que a personagem deveria manter-se não violenta até ao fim. Não é uma vingança, é um desejo de reconhecimento e de respeito por parte do outro. É como uma criança. Por isso, quis que fosse diferente dos outros filmes de vingança. Há um grande actor hoje em Itália que faz comédias que são as mais populares no nosso país, Zalone, e em que consegue contar a Itália em toda a sua degradação. . . . . . recordo também Bernardo Bertolucci, quando disse, depois de Tragédia de um Homem Ridículo (1981), que não conseguia mais filmar a fealdade italiana, precisava de sair — foi o que fez, aliás, foi pelo mundo à procura da “beleza”. . . Sabe o que me distingue? Não sou melhor do que as minhas personagens. Não posso colocar-me em cima a olhar para delas. Estou dentro da corrupção. Nos meus filmes conto a degradação de que faço parte. Não há um juízo. Estou dentro de Itália, vivo e faço parte dessa degradação. Essa diferença é muito importante. Estas personagens têm laços comigo. O que significou a experiência internacional de O Conto dos Contos (2015), entre Reality e Dogman? O facto de ter trabalhado com estrelas e de em outros filmes os actores serem desconhecidos, abre um abismo entre as experiências? Trabalhar com Salma Hayek e com Marcello é diferente?No centro dos meus interesses está sempre o ser humano com os seus desejos, medos e conflitos e fraquezas, com a sua busca de prazer. Procuro contar histórias através de personagens que sinto próximas de mim, que me são vizinhas, e com uma ideia figurativa que seja justa. O Conto dos Contos é uma experiência que, por exemplo, vai repercutir-se em Pinóquio. Procuro o que é expressivo num actor. Escolho a cara que penso ser certa para o papel. Alguns são mais conhecidos do que outros, e se calhar quando são conhecidos são menos puros para o espectador, e isso pode ser um problema. Mas penso que o desafio nesse filme era pegar num actor famoso e mostrá-lo de forma diferente do habitual. É importante escolher actores famosos e dar-lhes coisas que nunca fizeram ou filmá-los de maneira diferente. Naquele momento era a ocasião para me colocar à prova com estrelas e uma língua, o inglês, que não era a minha. Serviu para me testar, para testar os meus limites a dirigir actores em inglês. Quando se faz um filme com um orçamento grande há contingências comerciais, porque o cinema é uma indústria. E há uma parte do público que gosta de ir ao cinema para reencontrar os actores de que gosta. Não tem nada de mal, mas levanta uma série de desafios. Penso que um deles é colocar os actores num filme, famosos ou não famosos, de uma forma que seja inédita. É o que tentarei fazer em Pinóquio com Benigni, Benigni já tinha realizado Pinóquio (2003), e a obra de Collodi já tinha estado na origem de um maravilhoso filme de Luigi Comencini, As Aventuras de di Pinocchio (1972). . . Se o faço agora eu é porque penso conseguir algo de diverso. Que é algo que devo ter começado a fazer há 45 anos, porque aos cinco anos já tinha desenhado o meu primeiro storyboard de Pinóquio. Quando, no início desta conversa, me disse que havia Pinóquio em todos os meus filmes, isso mostra que é algo que me diz respeito, que está muito próximo de mim. Mas sei que será difícil. Pinóquio foi tomado em todo o mundo e por cineastas diversos, foi transformado, mudado. Não será fácil fazer um filme com uma frescura e que seja surpreendente — a Disney está a fazer um filme, Guillermo Del Toro está a fazer outro. É um enorme desafio, mas estou muito feliz e orgulhoso desta oportunidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estou no pleno da minha carreira, tenho toda a energia para me deparar com um projecto complicado como este. E em todos os filmes há sempre uma componente de mistério, nunca se sabe o resultado, podemos enganar-nos com toda a boa-fé. Mas desejo que seja um belo filme. As premissas que me levam a fazer Pinóquio são as mais sinceras. Sobre o mistério. . . quando trabalha com a animais a coisa é misteriosa não é? Pelo menos imprevisível. Uma das cenas mais bonitas de Dogman é o TV dinner entre Marcello e o cão. Aconteceu por causa de Marcello. Criámos uma relação entre cão e ele. O cão começou a conhecê-lo, ele ficou com ele durante semanas. Marcello é um actor muito inteligente, ele próprio começou a seguir os movimentos do cão em vez de ser só o cão a segui-lo.
REFERÊNCIAS:
Os genes da vida gigante de Lonesome George
Análise ao genoma de duas tartarugas-gigantes forneceu pistas importantes sobre o seu tamanho e longevidade destes animais. Foram identificadas marcas associadas ao risco de cancro que podem explicar o facto de os tumores serem raros nestas espécies. (...)

Os genes da vida gigante de Lonesome George
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Análise ao genoma de duas tartarugas-gigantes forneceu pistas importantes sobre o seu tamanho e longevidade destes animais. Foram identificadas marcas associadas ao risco de cancro que podem explicar o facto de os tumores serem raros nestas espécies.
TEXTO: Começamos pelo fim: “Lonesome George – o último representante de Chelonoidis abingdonii e um conhecido símbolo da situação das espécies em extinção – deixou um legado que inclui uma história escrita no seu genoma cuja revelação começa agora”. Esta é a última frase de um artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution que apresenta uma primeira análise ao genoma de duas espécies de tartarugas-gigantes, entre as quais está Lonesome George, que morreu em 2012 nas ilhas Galápagos quando teria (há várias estimativas) mais de cem anos. Para quem não sabe, a gigante-tartaruga Lonesome George (ou George Solitário, numa tradução literal) faz parte da história da ciência, por ter sido considerada uma das mais raras criaturas animais na Terra. Foi vista pela primeira vez em 1972 na ilha de Pinta e depois acompanhada de perto até ao fim, quando teria já mais de 100 anos. Depois da sua morte, Lonesome George foi embalsamado, foi estrela principal em várias exibições de história natural e regressou em 2017 a casa, às Galápagos. Quando morreu era o último exemplar da sua espécie, Chelonoidis abingdonii. Apesar das muitas tentativas de acasalamento do macho com fêmeas de espécies próximas, Lonesome George não deixou descendentes. As tartarugas-gigantes, que podem alcançar 225 quilos, são das mais famosas criaturas das ilhas Galápagos, no Equador, que foram estudadas pormenorizadamente por Charles Darwin. Além deste local, também é possível encontrar estes exemplares de grande porte no atol de Aldabra, nas Seicheles, no oceano Índico. Agora, uma equipa internacional de cientistas sequenciou o genoma de Lonesome George e de uma tartaruga-gigante de Aldabra (Aldabrachelys gigantea), a única espécie viva de tartaruga-gigante do oceano Índico. Comparando os seus genomas com outros de espécies relacionadas, os investigadores encontram assinaturas de famílias de genes que estão associadas a uma melhor regulação do metabolismo e resposta imunitária. Estes serão, segundo os autores, dois factores que podem explicar o tamanho e a longa vida destas tartarugas. Mas há mais dados e pistas que podem esclarecer alguns dos mistérios associados a esta espécie e ajudar a proteger outras tartarugas-gigantes nas Galápagos. Aliás, em 2015, uma equipa de cientistas identificou uma nova espécie de tartaruga-gigante nas Galápagos (a Chelonoidis donfaustoi), usando informação genética para determinar que um grupo de 250 tartarugas era distinto de outra espécie residente no arquipélago do oceano Pacífico. Mas voltando ao estudo do genoma de Lonesome George e da sua “prima” do oceano Índico, os cientistas encontraram outros sinais importantes, além da questão do metabolismo e da resistência do sistema imunitário inato. Na análise, os autores apoiaram-se no que já se sabe sobre o papel de alguns genes e das suas variações noutras espécies de mamíferos e vertebrados. A partir daí, é possível especular e extrapolar. Um exemplo: procurando um conjunto de genes que tem sido associado a uma protecção para doenças ligadas ao envelhecimento, os investigadores encontraram correspondências que podem justificar a longevidade destes animais. Assim, encontraram o que os geneticistas chamam “assinatura de selecção positiva”, genes que serão dominantes nesta espécie. Além de indicadores que podem explicar a formação da carapaça da tartaruga ou o (pobre) desenvolvimento dos seus dentes, os autores fazem referência aos genes que regulam o metabolismo da glucose. “Os resultados levam-nos a levantar a hipótese de que variantes genómicas que afectam o metabolismo da glicose podem ter sido um factor no desenvolvimento de tartarugas. ”Numa investigação orientada para a resposta ao stress e para os mecanismos naturais de reparação do ADN, encontraram também vestígios do passado. “Juntamente com os celacantos [enormes peixes considerados fósseis vivos que existem há cerca de 400 milhões de anos], as tartarugas, incluindo as tartarugas-gigantes, são os únicos organismos conhecidos por possuírem todos os oito tipos diferentes de globinas (proteínas capazes de transportar oxigénio)”, referem no artigo, acrescentando que encontraram nos genomas das duas tartarugas-gigantes uma variante genética “que tem sido associada à resistência à hipoxia em alguns mamíferos e peixes”. E concluem que a descoberta “sugere fortemente um processo de evolução convergente na adaptação à hipoxia, provavelmente impulsionada por um ambiente aquático ancestral, que deixou essa pegada nos genomas das tartarugas-gigantes terrestres”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outra das questões investigadas foi o cancro. Isto porque se sabe que os vertebrados de grandes dimensões têm uma necessidade de possuir mecanismos mais afinados de protecção ao cancro para fazer face à deterioração celular inerente a uma longa vida. “Curiosamente, acredita-se que os tumores sejam muito raros em tartarugas. Portanto, analisámos mais de 400 genes classificados como oncogenes e supressores de tumores”, escrevem os investigadores. Na sequência desta busca, foram detectadas alterações em alguns genes, entre os quais vários que adquirem uma função de supressores tumorais. Foram ainda detectados sinais genéticos que sugerem que as tartarugas-gigantes beneficiem de um sistema melhorado de “imunovigilância” e alterações que afectam dois genes que são reconhecidos como oncogenes (cuja expressão em excesso é conhecida por contribuir para o cancro). “Em conjunto, os resultados sugerem que múltiplas alterações no número de cópias de genes podem ter influenciado os mecanismos de crescimento espontâneo de tumores”, concluem os autores acrescentando, no entanto, que são necessários mais estudos “para avaliar as características genéticas de mecanismos específicos associados ao cancro das tartaruga-gigantes”. Uma importante parte do trabalho já foi feita com este pontapé de saída que levou à identificação de marcas genéticas que afectam a reparação do ADN, mediadores inflamatórios e o desenvolvimento de cancro. E assim se alimenta a esperança de recuperar as populações de tartarugas-gigantes ameaçadas de extinção. Era bom acreditar que um dia possam não ser tão raras e solitárias como foi Lonesome George.
REFERÊNCIAS:
Palme Dog
Há cães ferozes e jaulas, pressente-se que os humanos poderão ser engaiolados em Dogman. Filme brutal, Matteo Garrone arranca esta história de fascínio e medo entre um “monstro” e a sua “vítima”, com paisagem de western apocalíptico em fundo, ao mecanismo da brutalidade. (...)

Palme Dog
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231204013/https://www.publico.pt/n1830416
SUMÁRIO: Há cães ferozes e jaulas, pressente-se que os humanos poderão ser engaiolados em Dogman. Filme brutal, Matteo Garrone arranca esta história de fascínio e medo entre um “monstro” e a sua “vítima”, com paisagem de western apocalíptico em fundo, ao mecanismo da brutalidade.
TEXTO: Nesta busca, que se aproxima do final, para encontrar o grande filme da competição da 71. ª edição de Cannes, talvez seja preciso encore un effort. Ou talvez isso já não adiante, contentemo-nos com o que Jia Zhang-ke ou Alice Rohrwacher ou Hirokazu Kore-eda mantiveram em lume brando, uma delicadeza em que se acenderam fulgores. Numa edição em que um francês e um suíço, Stéphane Brizé e Jean-Luc Godard, incendiaram e incendiaram-se – são títulos que não têm nada em comum, En Guerre e Le Livre d’Image, a não ser o facto de terem calculado o fogo de artifício. Os cães ladram e a caravana passa e acaba de passar Dogman, de Matteo Garrone, duas vezes Grand Prix em Cannes (2009, Gomorra; 2012, Reality). Quem sabe se não haverá uma terceira, ou mesmo a Palma, d’Or ou Dog. É que uma das notáveis coisas deste filme brutal é Garrone prolongar-lhe a vida arrancando-o ao mecanismo da brutalidade. Há cães ferozes e jaulas, pressente-se que os humanos poderão ser engaiolados, tipificados, mas todo o trabalho, e a conquista do filme, é resgatar a humanidade de uma história de “monstros” e “vítimas” em paisagem de western apocalíptico (Villaggio Coppola, o Monument Valley de Garrone, onde filmara já Gomorra), fazendo do fascínio e medo entre “monstro” e “vítima” um bailado complexo, espesso. Se no horizonte está sempre a possibilidade de a vítima se tornar monstro, até porque era esse o fait divers sanguinolento de que Garrone e os argumentistas partiram, uma história horrível de vingança, e se os exemplos cinematográficos, de Un borghese piccolo piccolo (Mario Monicelli, 1967) ao Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah, indicavam a Garrone o caminho a seguir, os três anos que o realizador e os argumentistas levaram até à versão final foi o tempo necessário para resistirem à tipificação. Entretanto Garrone enfeitiçara-se por Marcello Fonte, o seu actor, que interpreta um tratador de cães abusado por um bully cocainómano, refém do medo dele e do fascínio por ele, e não menos menosprezado pelo resto da comunidade, que são os cobardes de uma cidade de cowboys. O “dogman” acaba por ser uma personagem típica da comédia italiana, a do tipo que se faz à vida, disposto a todos os compromissos para se desenrascar – logo, os argumentistas assumem que, sendo o cinema uma realidade porosa, a sociedade italiana está de facto ali. Mas é como se Alberto Sordi encontrasse a poesia lunar de Buster Keaton, o ídolo de Garrone que o cineasta disse ter reencontrado materializado em Marcello Fonte – a costela burlesca já era um dado anterior, uma das versões iniciais do argumento chegou a ser proposta a Roberto Benigni. É como se Garrone ganhasse uma luta, nada fácil à partida, a de evitar que a deformação, a distorção, a pintura expressionista a partir do cinema e da realidade italianas, que são o seu traço, não fossem um atentado à humanidade das personagens. É a partir também da relação de fascínio e rivalidade entre duas personagens masculinas, impregnada de ressentimento social, que Burning, do coreano Lee Chang-Dong, adaptando um conto de Murakami, se espraia a partir do thriller. Faz de seguida a mímica, o fantasma, de outros géneros. Fundamental para isso, para essa perturbação de sonambulismo que ziguezagueia pelo filme, é a presença do actor principal, Yoo Ah-in, o veículo para a experiência extática que, mesmo não partilhando entusiasmos excessivos, Burning ensaia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A propósito de filmes que já deram outros filmes: na presença em competição de Under the Silver Lake, de David Robert Mitchell, espécie de remake de Mulholland Drive, de Lynch, em que se abrem caixas do imaginário funesto de LA e se encontra algo como um filme dos Monty Python (e Terry Gilliam anuncia-se para o fecho desta edição), está o pior filme da competição e está um gesto promocional apressado dos programadores de Cannes, a quererem mostrar que o concurso se abre “aos novos” – a propósito de histórias exemplares, não foi em Cannes que se deu a queda de Richard Kelly, o tipo de Donnie Darko, no ano de Southland Tales?O japonês Ryusuke Hamaguchi também foi promovido ao concurso com Asako I & II, os caminhos insólitos e banais do amor – como o objecto, que é sempre insondável sobre a sua hipotética originalidade, não se perdendo a impressão de que esta entrada em competição incentiva sinergias no mercado francês, já que as salas acabaram de receber a série de culto, ou “film fleuve”, Senses, obra anterior. Nas salas francesas, já, Plaire, Aimer et Courrir Vite, de Christophe Honoré, crónica dos anos de Sida em França, resgate, por um cineasta, de um património de mortos (e que se chamaram Hervé Guibert ou Bernard Marie Koltés). Mesmo se o registo é a crónica — o amor breve entre um jovem de 20 anos e um escritor num Verão que vai acabar — e não o épico, como em 120 Batimentos por Minuto, o filme de Honoré não afasta nunca a memória recente do filme de Robin Campillo. Mas podemos sempre encontrar o que é específico de Honoré, a gravidade e o preciosismo, a sensibilidade e a afectação, como naquele momento em que as personagens dão por si sobre o túmulo de François Truffaut.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
“Como é que faço isto?” Respondemos às questões que os portugueses fizeram ao Google
Algumas perguntas nunca mudam, outras reflectem tendências. Desde o típico “Como emagrecer?” ao “Como se chama o cavalo de Dom Quixote?", há perguntas (e respostas) para todos os gostos. (...)

“Como é que faço isto?” Respondemos às questões que os portugueses fizeram ao Google
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Algumas perguntas nunca mudam, outras reflectem tendências. Desde o típico “Como emagrecer?” ao “Como se chama o cavalo de Dom Quixote?", há perguntas (e respostas) para todos os gostos.
TEXTO: Se a Internet fosse um teatro, o papel do Google seria na certa o daquele sábio amigo, pai ou parente próximo a quem recorremos sempre que alguma questão do dia-a-dia nos apoquenta e em quem confiamos para nos dar uma resposta directa e acertada (ou uma receita de última hora). Ao percorrer o top 10 das questões começadas por “como” mais procuradas no Google em 2018, pelos portugueses, concluímos que depois de dez perguntas só poderiam vir dez respostas. Este foi o “como” mais pesquisado em 2018 pelos portugueses. E não é de admirar porque, para quem é apreciador deste ofício que já se tornou uma forma de relaxamento, o slime pode ser sublime. Para fazer slime caseiro precisas apenas de borato de sódio, água, cola branca (ou cola vinílica), um corante à escolha para dar cor ao teu brinquedo pegajoso e uma dose generosa de paciência. O primeiro passo é misturar duas partes da cola e de água num recipiente. A seguir, podes diluir uma colher de café de borato de sódio em quatro colheres de sopa de água. À mistura de cola e água podes juntar as purpurinas ou tinta para decoração. Depois é só juntar o bicarbonato de sódio e mexer a mistura com uma colher até que esta comece a descolar do recipiente e o teu slime está pronto a ser usado. Há centenas de receitas espalhadas pela Internet que te ensinam a fazer slime, mas o que nenhuma te diz é que não convém que o coloques na roupa, na boca, no nariz, nos ouvidos ou no cabelo — ou em qualquer outra parte do corpo que pretendas usar no futuro. A Eleven Sports começou a transmitir em Portugal em meados de Agosto, fazendo com que, pela primeira vez, a Sport TV enfrentasse concorrência a sério no mercado. Para além dos campeonatos espanhol, francês, belga e escocês, e a Youth League, o canal desportivo adquiriu os direitos de transmissão da maior competição europeia, a Liga dos Campeões. Para ver a Eleven Sports tens duas opções: ou és cliente da operadora de telecomunicações NOWO ou aderes ao serviço de streaming que o canal disponibiliza por 9, 99 euros por mês (ou 99, 99 por ano). A terceira opção — ver os conteúdos do canal, ilegalmente e de graça, na Internet — não parece ter muitos interessados, uma vez que quase ninguém, ou mesmo ninguém, vê conteúdos ilegalmente na Internet e de graça. Já diz o ditado popular: "No São Martinho assam-se as castanhas e prova-se o vinho. " Mas seja no pico do Outono ou na altura do Natal, meia dúzia de castanhas sabe sempre bem e assá-las não tem de ser um bicho de sete cabeças. E ter castanhas prontas em menos de uma hora também não. Esta é uma receita de nível fácil: vais precisar apenas das ditas castanhas, sal grosso e um forno que atinja os 200 graus. Primeiro passo: lavar as castanhas e aplicar em cada uma um golpe pequeno na horizontal, sem as cortar completamente ao meio. Segundo passo: cobrir generosamente o tabuleiro que vai ao forno com sal grosso e colocar as castanhas em cima sem que fiquem sobrepostas e polvilhar com sal outra vez. Terceiro passo: dependo do tamanho das castanhas, entre 35 e 45 minutos já devem estar prontas. Enquanto esperas, recomendamos que coloques umas luvas de cozinha nas mãos e te sentes ansiosamente em frente ao forno para que as tuas castanhas fiquem prontas mais rápido. Esta é fácil: basta que instales a aplicação de encontros, que sincroniza com a tua conta do Facebook para conseguir localizar pessoas com os mesmos interesses e geograficamente próximas de ti. O swipe right or left acontece depois, altura em que visualizas perfis de outros utilizadores e arrastas para a direita se gostares do que vês ou para a esquerda se não estiveres interessado. Do outro lado há alguém a fazer o mesmo e quando duas pessoas fazem um swipe right mútuo, a magia acontece e passam a poder falar num chat privado. Não te preocupes: não é possível saber se foste ou não rejeitado no Tinder. É um tema que deveria ser ensinado nas escolas e não aprendido de forma autodidacta quando começamos o nosso primeiro emprego — mas não é. A verdade é que para quem é novo nestas andanças e não percebe o funcionamento da plataforma ou da entrega do IRS, este pode ser um processo extenuante, capaz de nos retirar anos de vida. Felizmente, o P3 tem um guia para iniciados com tudo o que precisas de saber na hora de entrar no Portal das FinançasSe ainda continuas com duvidas, a Autoridade Tributária e Aduaneira redigiu um PDF com todos os passos a dar para entregares o teu IRS. Podes aceder ao documento aqui. Talvez seja uma das grandes questões da humanidade ainda por responder, lado a lado com "Os aliens existem?" ou "Há vida depois da morte?". No que toca a perder peso, podemos muitas vezes ganhar a batalha, mas nunca ganhamos a guerra —principalmente na altura do Natal. Para isso, há passos que te ajudam a controlar os danos causados pela ceia de Natal. Podes ler tudo aqui. Mais uma receita com dois passos. Se já tens o camarão, basta que o fervas num recipiente com sal a gosto durante dois ou três minutos, dependendo do seu tamanho. Depois de cozido, coloca-a num recipiente com gelo para arrefecer. Um minuto depis está pronto a servir. O Google não te vai conseguir ajudar nesta. Para descobrires se estás ou não grávida, basta que compres um teste de gravidez em qualquer farmácia. Para saberes como se faz o teste podes consultar o folheto ou as instruções na parte de trás da embalagem. Se não puderes comprar um teste de gravidez no momento, a Clearblue incentiva-te a responder ao questionário "Estou grávida?" para ver se os teus sintomas são um sinal inicial de uma possível gravidez. Não sabemos o porquê de esta ser uma das perguntas mais pesquisadas, mas calculamos que o facto de fazer parte do jogo de tabuleiro Trivial Pursuit possa ter tido alguma influência. De qualquer forma, o nome do cavalo de Dom Quixote, a personagem que deu o nome ao romance de Miguel de Cervantes, chama-se Rocinante. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A verdadeira questão aqui só pode ser "Como perder gordura ou volume na barriga?" e vai de mãos dadas com o que já respondemos em cima sobre "Como emagrecer?". No entanto, se queres diminuir o perímetro abdominal, existem alguns exercícios que podes fazer, aliados sempre a uma alimentação saudável. Podes encontrar aqui vários desafios de 30 dias nos quais o número de repetições de abdominais, flexões ou pranchas vai aumentando sucessivamente e que podem ajudar-te a chegar ao teu objectivo.
REFERÊNCIAS:
Esgotos de Olhão já não vão directos para a ria
Inaugurada nova ETAR de Faro-Olhão, uma obra de 23 milhões, para livrar da poluição a ria Formosa. (...)

Esgotos de Olhão já não vão directos para a ria
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Inaugurada nova ETAR de Faro-Olhão, uma obra de 23 milhões, para livrar da poluição a ria Formosa.
TEXTO: Os esgotos da cidade de Olhão, não tratados, vão deixar de ser lançados na ria Formosa. A Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) Faro-Olhão, que vai servir uma população de 113 mil habitantes, foi inaugurada nesta quarta-feira pelo ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes. A obra, no valor de 23 milhões de euros, vai permitir desactivar os sistemas de lagunagem das ETAR de Faro nascente e Olhão poente, cujo mau funcionamento - várias vezes denunciando por mariscadores e viveiristas - foi relacionado com a poluição da ria e a mortandade das amêijoas e de outros bivalves. O ministro Pedro Matos Fernandes garantiu que, com esta obra, “a qualidade da água da ria Formosa vai muito depressa sentir uma grande melhoria e todo os ecossistemas lagunares vão melhorar bastante”. No entanto, admitiu, “isto não quer dizer que não existam algumas pequenas ligações clandestinas, que devem ser combatidas”. Quanto ao facto do investimento vir a traduzir-se de forma directa na factura dos consumidores, o governante passou a decisão para o lado das autarquias. A nova proposta de regulamento tarifário, explicou, prevê que as câmaras possam também assumir uma parcela dos custos. “Essa é uma opção municipal que está em aberto”, sublinhou. A reutilização dos efluentes desta ETAR para rega é uma possibilidade que está a ser desenhada mas ainda sem data para concretizar. A proposta anda a ser discutida, na região, há alguns anos mas tem encontrado várias resistências, incluindo dos proprietários dos campos de golfe. “Essa etapa está a ser equacionada e tem viabilidade”, garantiu, em declarações aos jornalistas, à margem da cerimónia, o presidente da empresa Águas do Algarve, Joaquim Peres, adiantando que já recebeu manifestação de interesse por parte de um agricultor de Faro. “Falta o licenciamento por parte da APA [Agência Portuguesa do Ambiente]”, disse. A construção de um parque fotovoltaico junto à ETAR para tornar o equipamento auto-sustentável, em termos energéticos, é também um projecto que está em carteira mas o financiamento não está ainda assegurado. A nova ETAR de Faro-Olhão, além tratar os esgotos destas duas cidades contínuas, recebe também os efluentes do concelho de São Brás de Alportel. Em paralelo à construção desta nova ETAR, foram reabilitadas sete estações elevatórias, situadas nos concelhos de Faro e Olhão, para garantir o funcionamento de um sistema que se propõe reduzir em 40% o consumo da energia face aos processos convencionais.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo
Este bar é uma grande sala de estar na Graça. E não é só para "Camones"
Tem música ao vivo, tudo assente no improviso, sessões de open mic para dizer (quase) tudo o que apetecer. Na Graça, este bar quer ser um ponto de encontro entre os do bairro e os "camones" que vão chegando. E os animais também são bem-vindos. (...)

Este bar é uma grande sala de estar na Graça. E não é só para "Camones"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.214
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tem música ao vivo, tudo assente no improviso, sessões de open mic para dizer (quase) tudo o que apetecer. Na Graça, este bar quer ser um ponto de encontro entre os do bairro e os "camones" que vão chegando. E os animais também são bem-vindos.
TEXTO: Foram os operários que fizeram aquele bairro quando Agapito Serra Fernandes, um industrial de confeitaria de origem galega, mandou construir um bairro para os seus trabalhadores. Era início do século XX, quando esta vila operária, com 120 casas, se formava na Graça, seguindo o traçado do arquitecto Norte Júnior. Ali, acabaria também por nascer o Cinema Royal, e um clube, o Recreativo do Bairro Estrela d'Ouro. E havia de ser por causa deste clube que o Camones nasceria. Não se sabe como este clube acabou, mas nos últimos anos de actividade acabou por se tornar um reduto de homens que ali se juntavam para jogar a dinheiro como num casino ilegal. Depois disso, acabou abandonado. Passaram mais de 100 anos, os operários desapareceram, os turistas chegaram e as casas estão a ser recuperadas. O bairro continua como propriedade privada, por isso, numa zona onde o corrupio de tuk-tuk em direcção ao miradouro da Senhora do Monte não pára, estes veículos ainda não passam. Um dia, Cláudia Loureiro, 50 anos, entrou por ali dentro e ficou "deslumbrada". "Tenho gravado na minha cabeça como isto estava. Era escuro, tinha mesas, armários com prateleiras com troféus, livros. Tinha um minipalco", conta. Cláudia queria aproveitar a onda turística dos alojamentos locais (AL). Ela própria tinha alguns AL e começou a perceber que, enquanto as casas não estavam prontas, entre um hóspede e outro, os turistas acabavam por não ter um sítio onde guardar as malas. Era ali naquele espaço, da Rua Josefa Maria, que Cláudia queria abrir um espaço que os pudesse acolher durante a espera. "Eu já andava a sondar este clube que sabia que estava abandonado", conta Cláudia. Só que o clube tinha acabado de ser arrendado a outra associação e a ideia teve de ir para outro lugar. O espaço que Cláudia idealizava acabou por surgir em Agosto de 2016 na Rua dos Bacalhoeiros, ao pé da Casa dos Bicos. Um escritório que transformou numa casa para ser uma "base de apoio" aos turistas que chegam para alojamentos locais. Passados dois anos, a associação que tinha arrendado o clube saiu. E as portas fecharam-se novamente, para voltarem a abrir depois de sete meses de obras. "Sabe o que é que me levou mais a ficar com o espaço? Se eu não for alguém vai. E eu não aguentei. Era uma sensação quase de ciúmes", confessa Cláudia. Arrendou o espaço, e quis adaptá-lo também a um espaço de espera dos turistas. Mas as coisas não correram como o esperado. "Não tenho vergonha de dizer que não resultou", diz. Acabou por abrir em Setembro e, desde então, tem sido "um fenómeno, um fenómeno maravilhoso". "Muita gente muito gira, a vir tocar”. De todas as idades, de todas as nacionalidades que ali deixam os instrumentos. Deu-lhe o nome de Camones como referência aos estrangeiros que chegam aos magotes à cidade. Mas este é um espaço que se quer também do bairro. E quis fazer dele “uma sala de estar gigante”. “Há duas noites estava um casalinho, ela pôs as pernas por cima dele e tapou as pernas com um casaquinho. E estiveram assim a noite toda. Eu adoro. É exactamente isso. A ideia é as pessoas se sentirem aqui como uma grande família numa sala de estar gigante”, diz Cláudia. A única regra é a do bom senso e do respeito pelos artistas que, espontaneamente, ali acabam por se conhecer e tocar juntos. Ali, apesar das mesas e das cadeiras de cada nação, é de se puxar a almofada e sentar no chão a ver um concerto ou um filme. A jogar com monopólios “velhinhos”, cartas, dominós, setas ou numa velha máquina do Pac-man. Rua Josefa Maria, 4B (Graça) Lisboa Tel. : 933 297 441 Facebook: Camones Cine Bar Horário: De quinta a terça-feira, das 17h às 23hA máquina de costura Singer da entrada é de uma casa do bairro. Há um bidé na zona das casas de banho que sobrou de umas obras do bairro e que hoje está cheio de flores. Não peçam rotinas a Cláudia. O que ali é recorrente é a jam session de domingo, sempre informal, e o open-mic às terças-feiras de 15 em 15 dias. Nestes dias, há dez minutos para quem quiser pegar no microfone e fazer o que lhe apetecer: cantar, dizer um poema, filosofar, contar umas piadas. O Camones abre todos os dias, excepto às quartas, às 17h e fecha um pouco depois das 23h. Os animais de estimação também são bem-vindos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Bebe-se Oitava Colina à pressão (2 euros) e em garrafa (4 euros). Bebe-se vinho tinto e branco a copo de Reguengos (2 euros). Há também ginjinha, amêndoa amarga, moscatel, licor Beirão, vinho da Madeira e vinho do Porto (entre os 2 e os 4 euros). "Isto não é um café. Não é o conceito", nota Cláudia. Ainda assim, há também o que petiscar: hambúrgueres (entre os 6 e os 7, 5 euros), que Cláudia diz serem comprados num talho do bairro, servidos com batata frita, e bifana no pão (4 euros), tábua de chouriço e queijo (7, 50 euros), sopa do dia (3 euros), gaspacho com croutons (4 euros). O futuro do Camones é continuar a abrir as portas, principalmente aos artistas. "Quando era clube recreativo tinha as portas fechadas. Quando era casino clandestino as portas estavam fechadíssimas", diz Cláudia. Por isso, a porta está sempre aberta a quem venha da China ou das Olaias.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens vergonha ilegal
Vacas com cornos ou sem cornos? Suíça decide este domingo
Na Suíça, os cornos das vacas estão nas bocas do povo — salvo seja. Um agricultor conseguiu levar a referendo nacional uma proposta para que sejam dados subsídios a criadores de vacas com chifres. Os suíços votam este domingo, 25 de Novembro. (...)

Vacas com cornos ou sem cornos? Suíça decide este domingo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181212042517/https://www.publico.pt/2018/11/22/p3/noticia/vacas-1852031
SUMÁRIO: Na Suíça, os cornos das vacas estão nas bocas do povo — salvo seja. Um agricultor conseguiu levar a referendo nacional uma proposta para que sejam dados subsídios a criadores de vacas com chifres. Os suíços votam este domingo, 25 de Novembro.
TEXTO: Foi ao “ouvir” as suas vacas que Armin Capaul, agricultor suíço de 66 anos e auto-proclamado rebelde, se inspirou para uma campanha que se transformou em referendo nacional a ser votado este domingo: subsídios para os criadores que não retirem os cornos às suas vacas. O agricultor, que acredita que a acção vai ajudar a preservar a “dignidade da criação existente” e a promover o bem-estar animal, reuniu mais de cem mil assinaturas, as necessárias para levar o assunto a votação nacional. 190 francos suíços anuais (168 euros): é este o subsídio que o agricultor pede para os criadores de vacas com chifres. Capaul defende que os cornos ajudam as vacas a comunicar e regulam a temperatura corporal. “Devemos respeitar as vacas como elas são. Deixar os cornos. Quando as vemos, elas têm sempre sempre as cabeças levantadas e estão orgulhosas. Quando retiramos os cornos, elas estão infelizes”, disse Armin Capaul à Reuters. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ainda que as típicas imagens dos postais ou dos chocolates suíços mostrem sempre uma vaca com cornos, a verdade é que três quartos das vacas vêem os seus chifres retirados ou já nascem sem eles, por modificação genética. Os criadores removem-nos para reduzir o espaço que os animais ocupam nos estábulos. Para isso, as crias são sedadas, enquanto os chifres são queimados com um ferro quente, uma prática que tem reunido alguma oposição entre aqueles que a consideram uma forma de crueldade animal. Há, por outro lado, quem defenda que este é um processo seguro, semelhante à castração de cães e gatos. O governo suíço diz que, a ser aplicada, a nova medida terá um maior peso no orçamento da agricultura. Por seu turno, os agricultores e criadores estão divididos. Alguns preferem que os chifres sejam retirados, para que as vacas não se magoem umas às outras ou aos humanos. A União Suíça de Agricultores, por exemplo, decidiu permanecer neutra e deixar os membros votar livremente. A AgorA, uma associação francófona ligada à agricultura suíça, rejeitou a ideia de Capaul, afirmando que é "uma forma indesejada de intervencionismo". Por outro lado, a Associação de Pequenos Agricultores e a Associação Suíça de Produtores Orgânicos recomendaram o voto no "sim" para que seja possível, não só limitar as operações feitas às vacas, mas também promover formas de criação compatíveis com as necessidades dos animais. A iniciativa foi ainda louvada por várias associações de defesa dos direitos dos animais, entre as quais a Greenpeace e a Associação Suíça de Protecção dos Animais.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos vaca cães animal
Europa prepara novas restrições a antibióticos na agro-pecuária. Objectivo: travar as superbactérias
Cerca de 70% dos antibióticos na Europa são usados na criação de animais para consumo humano. O que exige ao sector da agro-pecuária um papel mais activo no combate ao desenvolvimento e disseminação de bactérias resistentes a estes farmácos, dizem responsáveis europeus. (...)

Europa prepara novas restrições a antibióticos na agro-pecuária. Objectivo: travar as superbactérias
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.068
DATA: 2018-11-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cerca de 70% dos antibióticos na Europa são usados na criação de animais para consumo humano. O que exige ao sector da agro-pecuária um papel mais activo no combate ao desenvolvimento e disseminação de bactérias resistentes a estes farmácos, dizem responsáveis europeus.
TEXTO: Lidar com o problema da crescente resistência de bactérias a antibióticos não é apenas um desafio para os hospitais. A agro-pecuária tem uma responsabilidade central no facto de alguns destes fármacos se estarem a tornar ineficazes, pois é na criação de animais para alimentação que são usados 70% dos antibióticos consumidos na União Europeia, diz o comissário europeu para Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis. Por isso, estão na calha novas restrições à administração de antibióticos neste sector. O que se passa é que os animais, ao serem tratados com antibióticos, podem acabar por ser portadores de bactérias resistentes a estes fármacos que, por sua vez, podem ser transmitidas aos vegetais através do estrume usado como fertilizante. E quando se consome estes alimentos — carne ou vegetais —, as ditas bactérias podem, por fim, passar para os humanos. Alguns fármacos vão tornar-se exclusivos para uso humano, anunciou Andriukaitis, nesta quinta-feira, em Bruxelas, no evento que assinalou o Dia Europeu dos Antibióticos, promovido pelo Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC). Na apresentação dos últimos dados sobre prevalência de infecções, consumo de antibióticos e resistência aos mesmos, dominou entre os especialistas o alerta para a necessidade de uma acção concertada entre as áreas da saúde humana, ambiental e animal. Há uma preocupação crescente quanto à presença de antibióticos no meio ambiente, com origem na pecuária, no tratamento de águas a céu aberto e na indústria. Seguindo uma recomendação da Comissão Europeia, a Agência Europeia do Medicamento e o ECDC estão a fazer uma lista de novos antibióticos a proibir na agricultura, que deverá estar em breve em consulta pública. “Hoje é preciso perguntar aos nossos agricultores e produtores de carne se estão dispostos a contribuir” para a mitigação da crescente da resistência antimicrobiana, na origem de cerca de 33 mil mortes por ano, na Europa. A partir de 2022, caso o Conselho da Europa dê luz verde à legislação proposta, os produtores vão ser ainda proibidos de administrar antimicrobianos de forma preventiva em animais para consumo humano. Haverá igualmente restrições à chamada medicação metafilática, ou seja, a medicação de animais doentes aos primeiros sintomas e todos os que com eles contactaram. Na UE já é proibido, desde 2006, usar antibióticos para estimular o crescimento de animais destinados à indústria alimentar (sendo, no entanto, comum entre os grandes produtores fora da união) e é obrigatório o registo das prescrições em caso de doença. Os últimos dados são já “animadores”: entre 2011 e 2016 as vendas de antimicrobianos veterinários caiu 20% em 30 países europeus, segundo dados da EMA citados por Nicola Holsten, directora-geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural na Comissão Europeia. Os países fora da UE também “terão que respeitar estas proibições”, sublinhou o comissário europeu, esperando que este apertar da malha legislativa “mude o jogo” na Europa e no Mundo. Em alternativa os produtores devem implementar medidas de reforço da higiene, de vacinação e melhores técnicas de diagnóstico. Acima de tudo, terá que haver “uma mudança cultural” na forma como se cria gado. Mas, além da legislação, a margem de manobra da Comissão Europeia é limitada. “Isto são tudo palavras vazias se não conseguirmos medidas concretas dos Estados-Membros a nível nacional e regional”, afirmou Andriukaitis. Nada disto minimiza a necessidade de actuar nos hospitais, onde a intervenção pode ser mais fácil e ter resultados mais rápidos. Os estudos divulgados esta quinta-feira pelo ECDC demonstram que as infecções por superbactérias continuam a ser um dos principais problemas dos sistemas de saúde na Europa. Muitos países – Portugal incluindo – continuam a ter níveis preocupantes de consumo de antibióticos de longo espectro, considerados de fim de linha. Entre 29 países analisados (28 do Espaço Económico Europeu mais a Sérvia), a proporção de antibióticos de largo espectro administrados nos hospitais varia entre 16 e 62%. No topo está a Bulgária, logo seguida pela Itália. Portugal aparece em oitavo lugar, perto dos 50%. O que quer dizer que quase metade dos antibióticos prescritos na amostra de hospitais e unidades de cuidados continuados portugueses analisada são fármacos que actuam sobre um grande número de espécies de bactérias (como as cefalosporinas de terceira geração, piperacilinas e inibidores da beta-lactamase). Os custos, sociais e económicos, da resistência são elevados – “um bilião de euros em despesas anuais com saúde”, notou a directora do ECDC, Andrea Ammon. Já as medidas de prevenção e controlo nem por isso, frisou Francesca Colombo, chefe de divisão de saúde da OCDE, cujo mais recente relatório demonstrou que “três em cada quatro mortes [por bactérias resistentes a antibióticos] poderiam ser evitadas com apenas dois dólares por pessoa". As intervenções desta quinta-feira fizeram também notar a necessidade de desenvolver os sistemas de vigilância, criar novos antibióticos e vacinas – com representantes da indústria farmacêutica presentes a pedir incentivos nos casos de sucesso na investigação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Alguns países estão a ser bem-sucedidos em contrariar a tendência [de disseminação e criação de novas resistências]. Outros nem tanto. Mas [a resistência antimicrobiana] não é uma situação inevitável”, frisou também a directora do ECDC. Andrea Ammon espera que, da mesma forma que surgiu, “esta epidemia demore alguns anos a desaparecer”. “Mas são precisos grandes esforços. Não há tempo para complacência”, afirmou. Ainda assim, estes responsáveis temem que os europeus não estejam suficientemente atentos aos perigos das infecções por superbactérias. Um estudo do Eurobarómetro com opiniões de mais de 27 mil cidadãos europeus, também divulgado esta quinta-feira, mostra que, embora 85% dos inquiridos saibam que o uso desnecessário de antibióticos contribui para que estes deixem de funcionar, mais de metade desconhecia que estes são ineficazes contra vírus. Isto explica porque é que 20% dos que tomaram antibióticos no último ano o fizeram, erradamente, por causa de uma constipação ou gripe. É ainda preocupante que 7% dos que tomaram antibióticos se tenham automedicado. A jornalista viajou a convite do Centro Europeu de Prevenção de Doenças (ECDC)
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Amesterdão: do plástico dos canais fazem-se barcos e móveis inspirados em baleias
Depois de barcos feitos de plástico, a empresa holandesa que põe turistas a pescar lixo começou a fazer peças de mobiliário. Inspiradas em baleias. (...)

Amesterdão: do plástico dos canais fazem-se barcos e móveis inspirados em baleias
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180830201636/https://www.publico.pt/2018/08/30/p3/noticia/g-1842385
SUMÁRIO: Depois de barcos feitos de plástico, a empresa holandesa que põe turistas a pescar lixo começou a fazer peças de mobiliário. Inspiradas em baleias.
TEXTO: A “primeira empresa profissional de pesca de plástico” — sim, plástico — está a transformar as garrafas que encontra nos canais de Amesterdão e no porto de Roterdão em mobiliário. A Plastic Whale organiza tours nas quais, durante duas horas, os turistas não se limitam a passear. A bordo de um barco feito de plástico reciclado, calçam luvas e, com redes, apanham o lixo que virem a boiar na água. Enquanto limpam os canais, conhecem o centro histórico da cidade holandesa, a partir da água. E ajudam a tornar a paisagem mais agradável. Mas a novidade não está aqui. Até ao início do ano, o plástico recolhido era utilizado para construir barcos como os que são utilizados nestas travessias. Marius Smit fundou a startup em 2011 e, sete anos depois, tem uma frota de dez barcos (cada viagem custa 25 euros por pessoa). “A sobrepesca é um fenómeno positivo no nosso caso”, brincam, na apresentação do projecto que tem como objectivo final “ficarem sem negócio”. Isto é, sem “peixe” para apanhar. Enquanto isso não acontece, as garrafas PET que alguém atirou para o chão, ou directamente para a água, estão, desde Fevereiro, a ser transformadas em mesas de reuniões, cadeiras, candeeiros ou painéis para isolamento acústico. São toneladas de plástico retiradas das águas por milhares de pessoas, todos os anos. Além deste material, usam os desperdícios de produção da fábrica da Vepa, uma empresa holandesa de mobiliário, parceira no projecto da Plastic Whale. “Nada vai para o lixo. No final do ciclo de vida do teu produto até o recolhemos em tua casa — e pagamos por isso, porque o vamos usar como matéria-prima de produtos novos”, garantem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O design das peças para escritórios “sustentáveis” ficou a cargo da LAMA Concept, uma empresa local, especializada em design sustentável de alta qualidade. A inspiração: as “habitantes mais impressionantes do oceano, as baleias”. Que, tal como as águas onde habitam, estão em perigo. Para o conceito da mobília, foi usada toda a baleia (salvo seja). A mesa da sala de reuniões imita a superfície da baleia, a cadeira a forma da cauda. Os painéis assemelham-se à parte debaixo do animal, às riscas, e os percebes que habitam na pele da baleia deram luz à forma do candeeiro. “Adoramos mesmo baleias – sem plástico no seu estômago. ”
REFERÊNCIAS: