Neopop: há (boa) vida para lá do palco principal
Nem todos os caminhos do Neopop vão dar ao palco principal. Que o digam Dopplereffekt, Conforce, Clark, 400PPM e James Holden & The Spirit Animals. (...)

Neopop: há (boa) vida para lá do palco principal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.433
DATA: 2018-07-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nem todos os caminhos do Neopop vão dar ao palco principal. Que o digam Dopplereffekt, Conforce, Clark, 400PPM e James Holden & The Spirit Animals.
TEXTO: O Neo Stage é o palco principal, mas quem não der um pulo ao Anti Stage arrisca-se a perder algumas das actuações mais excitantes do Neopop. É assim todos os anos, e este não vai ser excepção. Estão lá nomes como Dopplereffekt, Conforce ou 400PPM, que lançaram bravos e bem-aventurados discos no ano passado que, agora, vamos poder ouvir ao vivo em Viana do Castelo. E depois há o Teatro Sá de Miranda, que este ano recebe um par de concertos em parceria com a Red Bull: Clark, com provas dadas na editora Warp, a 10 de Agosto, e James Holden, que apesar de não ser um estreante no festival se vai apresentar num registo muito diferente, acompanhado por The Spirit Animals, no dia 11. Vale a pena ouvir estes artistas. Vale sempre a pena experimentar coisas novas. DopplereffektAnti Stage, 9 de AgostoConhece as sugestões aqui. O Anti Stage é o palco das actuações mais arriscadas, que não encaixam tão bem no cartaz, e dos nomes que não têm visibilidade para estarem no palco principal. Isso não quer, de todo, dizer que não se oiça lá muito boa música. Oiçam-se os Dopplereffekt, projecto de electro retro-futurista, expansivo e melancólico, a operar sob a liderança de Gerald Donald, dos lendários Drexciya, desde meados da década de 90. São dignos herdeiros dos Kraftwerk e editaram no ano passado o ominoso (e magnífico) álbum Cellular Automata. ConforceAnti Stage, 10 de AgostoBoris Bunnik não gosta de rotinas. E não é preciso conhecê-lo para saber isto. Basta prestar atenção ao trabalho desenvolvido pelo produtor holandês ao longo da última década, sob diferentes nomes. Há o house ácido de Vernon Felicity, o electro futurista de Versalife e, no meio de mais uns quantos projectos, o techno ambiental e influenciado pelo dub de Conforce. Foi com este nome que editou no ano passado Autonomous, pela Delsin, e agora apresenta-se ao vivo no Neopop. ClarkTeatro Sá de Miranda, 10 de AgostoConhece a história do vídeo de apresentação do festival aqui. Chris Clark é um relativo veterano da Warp, a inventiva editora de electrónica britânica, por onde editou quase toda a sua música desde que se estreou com o álbum Clarence Park, em 2001. As suas composições são electrónicas e abstractas, enraizadas no techno, mas transcendendo-o. Vem apresentar o álbum do ano passado, Death Peak, ao vivo no Teatro Sá de Miranda, numa programação da Red Bull Music e do Neopop. O bilhete compra-se à parte, mas vale cada cêntimo. 400PPMAnti Stage, 11 de AgostoNome de guerra de Shawn O'Sullivan, membro de banda indie Led Er Est, que também edita a solo como SOS, ShawNoEQ e, sobretudo, Vapauteen. Traz a Viana do Castelo o techno austero e ríspido, ainda que abertamente experimental, do projecto 400PPM, que editou no ano passado o primeiro álbum Fit For Purpose, com o selo da editora Avian. O techno é a peça central, mas escutam-se ecos de música industrial, pós-punk e alguma composição minimalista. James Holden & The Spirit AnimalsTeatro Sá de Miranda, 11 de AgostoSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao contrário dos restantes nomes apresentados, o DJ e produtor britânico James Holden é um velho conhecido do Neopop. Ao longo dos anos os seus sets integraram trance, electrónica progressiva, techno, música ambiental, de tudo um pouco, e mesmo assim o álbum de folk-trance The Spirit Animals, editado no ano passado, consegue surpreender. Holden, que é também o patrão da editora Border Community, encontra-se atrás dos sintetizadores, no papel de líder de uma banda com instrumentos de sopro e percussão. No meio das electrónicas escutam-se influências do free jazz e das músicas do mundo, e é neste registo, com estes músicos, que se apresenta no Teatro Sá de Miranda. Cortesia da Red Bull e do Neopop. Artigo apoiado pelo festival Neopop
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra
Homem morre em Almeida após alegado ataque de um boi
Junto ao corpo da vítima, de 80 anos, estava um animal de raça bovina com vestígios de sangue nos chifres. (...)

Homem morre em Almeida após alegado ataque de um boi
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Junto ao corpo da vítima, de 80 anos, estava um animal de raça bovina com vestígios de sangue nos chifres.
TEXTO: A GNR está a investigar a morte de um homem de 80 anos encontrado nesta segunda-feira, em Almeida, com indícios de ter sido atingido por um boi, disse à agência Lusa fonte do Comando Territorial da Guarda. O corpo do homem, residente em Almeida, foi encontrado pelas 14h de hoje no sítio do Vale de Campanários, nas proximidades da vila, por uma mulher que deu o alerta às autoridades. Quando a patrulha da GNR chegou ao local, verificou que “junto do corpo [do homem] estava um animal de raça bovina, com vestígios de sangue nos chifres”, disse a fonte policial. “Tudo indica que o senhor tenha sido morto pelo animal, porque apresentava ferimentos de ter sido atacado”, acrescentou, sublinhando que a GNR está a investigar as circunstâncias em que ocorreu a morte do idoso. O cadáver da vítima foi transportado para o gabinete do Instituto de Medicina Legal, na Guarda, para ser autopsiado.
REFERÊNCIAS:
FLAD cria fundo de investimento para empresas de base tecnológica
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento anunciou na ilha do Pico um fundo de investimento que não se destina apenas aos Açores. (...)

FLAD cria fundo de investimento para empresas de base tecnológica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento anunciou na ilha do Pico um fundo de investimento que não se destina apenas aos Açores.
TEXTO: A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) prepara-se para constituir um fundo de investimento dirigido “às empresas de base tecnológica de países atlânticos”. A medida inscreve-se na nova missão que o presidente da FLAD, Vasco Rato, preconiza para a fundação e foi anunciada no IV Fórum Franklin D. Roosevelt, que terminou nesta sexta-feira na ilha do Pico, nos Açores. Antes debatia-se geoestratégia ou cultura, agora passou a discutir-se economia e empreendedorismo. Durante dois dias, a FLAD congregou empresários, engenheiros, responsáveis públicos e académicos para descortinar Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para os Açores. A base das Lajes e o impacto económico da redução do efectivo militar americano andou arredado dos painéis de discussão. Mas esse problema económico e social — ainda que os responsáveis não o queiram admitir publicamente — é também uma razão para essa viragem estratégica nos objectivos da fundação criada à sombra do acordo que definiu a utilização da base pelos EUA. E essa nova abordagem vai reflectir-se nas próximas iniciativas que a FLAD está a preparar. O administrador e membro do conselho executivo Jorge Gabriel confirmou no Pico que a fundação está a ultimar os preparativos para “utilizar parte do seu investimento privado para constituir um fundo de investimento dirigido às empresas de base tecnológica de países atlânticos”. O prazo definido pela FLAD é que a “ideia de negócio esteja pronto até ao final deste ano”. Juntando a “banca de investimento, investidores privados americanos e investidores institucionais” por forma a ter disponível entre “três a cinco milhões de euros” no arranque da iniciativa. Os beneficiários do fundo serão empresas de Portugal, dos EUA, África e América do Sul — por exemplo, “empresas americanas que pretendam instalar-se em Portugal ou empresas portuguesas que queiram apostar ou exportar para os EUA ou África”. No fim, o objectivo é que se verifique o “cruzamento de participações sociais” entre empresas dos países atlânticos, fortalecendo assim os laços comerciais e fazendo crescer a economia dos países em causa. Jorge Gabriel escusou-se a enunciar quais os parceiros com que pretende trabalhar no fundo de investimento, com o argumento de que as negociações estão ainda a decorrer. Na mente da administração da FLAD está o objectivo do estímulo à economia e ao empreendedorismo. No fundo, transformar a FLAD numa espécie de mini-AICEP especialmente focada no mercado norte-americano. Os responsáveis da FLAD não gostam da comparação, mas, na prática, é isso que se prepararam para ensaiar. Jorge Gabriel confirmou estar a ser ponderada a ideia de aproveitar a rede de contactos norte-americanos — tanto a nível académico como a nível empresarial — que a FLAD acumulou ao longo dos anos para agilizar a entrada de empresas portuguesas e açorianas em particular no mercado dos EUA. A FLAD quer criar um programa alargado, por exemplo, de apoio ao empreendedorismo que comece com a identificação de “ideias de negócio e de pessoas com potencial” em Portugal e “ajudá-las” através de “canais de marketing e estudos de mercado”. Gabriel acrescenta ainda a possibilidade de apoio à incubação de empresas, à formação básica de gestão e até de dotar esses projectos de “meios financeiros” que permitam depois a internacionalização nos EUA. E a verdade é que a FLAD tem verbas que podem fazer a diferença para as PME portuguesas. “A FLAD tem um portfólio financeiro de 150 milhões de euros/ano”, contabiliza Jorge Gabriel. Mas a mais-valia da FLAD não se esgota aí. Pelo que Jorge Gabriel afirma, a rede de contactos da FLAD chega aonde o AICEP não alcança. Desde logo devido à proximidade com os “legisladores americanos”. “Ao longo destes anos, houve muitas oportunidades perdidas” por empresas portuguesas que teriam sido aproveitadas, caso estas tivessem algo mais do que as isenções e incentivos estatais norte-americanos com que os legisladores luso-descendentes estão familiarizados. “Em New Bedford há um projecto já concessionado a grande operadores no sector eólico off-shore. Nós em Portugal temos gente que sabe fazer tudo nessa área”, exemplifica Jorge Gabriel. No encerramento do IV Fórum Roosevelt, Michael Baum, administrador da FLAD que organizou o evento de dois dias no Pico, assumia a “esperança de que [a iniciativa] seja um primeiro passo” nessa estratégia. “Para não morrer na praia”, o fórum tinha de ter seguimento. Mas foi precisamente aí que o fórum ficou aquém do que prometia. Somaram-se palestras sobre oportunidades de negócio e de investimento nos mais variados sectores. Nas energias renováveis, por exemplo, William White apresentou o preojecto de eólica off-shore que estava a arrancar ao largo de Massachusetts. Reconheceu até que nas renováveis “os americanos têm muito que aprender com os europeus e até com os portugueses, que estão bem mais à frente nessa inovação”. No entanto, no auditório do Museu dos Baleeiros, não estava presente nenhum responsável da EDP Renováveis ou da EDA (Electricidade dos Açores) para ouvir estas palavras .
REFERÊNCIAS:
Quercus contra aerogeradores em Montemuro que colocam em perigo o lobo-ibérico
Associação ambientalista alerta para a própria lei que é “explícita” na proibição de alteração e perturbação do habitat desta espécie (...)

Quercus contra aerogeradores em Montemuro que colocam em perigo o lobo-ibérico
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Associação ambientalista alerta para a própria lei que é “explícita” na proibição de alteração e perturbação do habitat desta espécie
TEXTO: A Quercus está contra a instalação de mais aerogeradores nas serras de Montemuro, Freita e Arada. A associação ambiental alerta para os impactos negativos que o investimento numa zona que pertence à Rede Natura 2000 vai ter, nomeadamente na população do lobo-ibérico. A Associação apela aos investidores e aos promotores que optem por outras localizações, por forma a que se evitem “conflitos desnecessários e o uso de recursos em projetos insustentáveis”. A consulta pública ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do Projeto de Sobreequipamento do Parque Eólico da Arada/Montemuro – 2ª fase terminou no início do mês. Trata-se de um investimento promovido pela empresa Eólica da Arada e licenciado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) com o objetivo de reforçar a capacidade de produção média anual de energia elétrica no Parque Eólico da Arada/Montemuro e ao qual a Quercus deu o seu parecer negativo. Em causa está a instalação de mais seis novos aerogeradores, que se juntarão aos 56 já existentes nos três subparques que constituem este parque eólico. “A instalação dos novos equipamentos, para além de implicar, na fase de construção, a destruição de coberto vegetal e perturbações irreversíveis ao nível da flora e fauna selvagens, acarreta igualmente, durante a fase de exploração, um elevado risco de morte de espécies da avifauna por colisão com os aerogeradores, impactes que são inadmissíveis tratando-se de áreas inseridas na Rede Natura 2000”, alerta João Branco, vice-presidente da Quercus. Mas o ativista reforça que o maior perigo está na população do lobo-ibérico, espécie que se encontra em “grave risco de extinção”, um facto sustentado também pelo parecer do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas que refere que “as soluções propostas geram impactes não negligenciáveis (. . . ), designadamente, sobre o lobo-ibérico”. “Este facto deveria ser um motivo suficiente para que o projeto não fosse sequer ponderado”, sustenta João Branco que disse que esta posição já foi comunicada à autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental. “Isto é uma violação clara à lei do Lobo. Por um lado, o próprio Estado está a promover um plano para a conservação da espécie e, por outro, permite que se ocupe o seu território com novos aerogeradores”, frisa. A Quercus aguarda agora que a Agência Portuguesa do Ambiente se pronuncie. “Vamos ver o que prevalece, se a própria lei ou os interesses das eólicas”, finaliza João Branco, O ambientalista recorda que é nesta zona das serras que se encontra a maior população do lobo a sul do Rio Douro, uma população que “tem cada vez menos território para se reproduzir”. “À medida que o espaço natural é ocupado, o lobo vai perdendo território”, lamenta.
REFERÊNCIAS:
Queijos para dias frios e mesas de Natal
Que queijo escolher para as festas? Pedimos sugestões a duas queijarias e a duas mercearias – as propostas vão do britânico Stilton ao Queijo Serra da Estrela, passando pelo Monte d’Or francês, um queijo de vaca do Faial ou o caprino de Odemira. (...)

Queijos para dias frios e mesas de Natal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento -0.6
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Que queijo escolher para as festas? Pedimos sugestões a duas queijarias e a duas mercearias – as propostas vão do britânico Stilton ao Queijo Serra da Estrela, passando pelo Monte d’Or francês, um queijo de vaca do Faial ou o caprino de Odemira.
TEXTO: Mercearia CriativaQuando ligamos para a Mercearia Criativa para pedir sugestões de queijos para o Inverno e o Natal, Rita Ferreira convida-nos a visitá-la à mesma hora a que uma das produtoras com quem trabalha também vai lá estar. Uma das coisas que distingue esta pequena mercearia na Av. Guerra Junqueiro, em Lisboa, é este trabalho de proximidade com os produtores, dos quais conhecem não apenas os produtos, mas as histórias. Av. Guerra Junqueiro nº 4 A, Lisboa Telf: 218485198 Horário: Todos os dias das 10h às 20h, domingos das 11h às 18h. (consultar a página do facebook para ver a agenda de provas com a presença de produtores). Passamos à hora combinada, ficamos a conhecer a Joana Garcia, produtora do Monte da Vinha, que durante um café que dura não mais do que três minutos consegue contar-nos resumidamente a aventura que a fez mudar de vida e trocar a advocacia pelo queijo. E saímos da Mercearia com – para além de duas sugestões de queijos – vários outros produtos que, garante Rita, temos mesmo que conhecer, como o Bolo Príncipe, do Rogil, recheado com batata-doce. Monte da Vinha – Feito apenas com leite cru de ovelha, sal e cardo, sem aditivos, o Monte da Vinha (nascido entre Arraiolos e Estremoz) é um queijo amanteigado que existe em versões pequenas – e até em unidose, criada para poder ser servida nos voos da TAP. Mas, para os fãs de queijos com curas longas, também há um duro e outro bem mais duro, que é conservado em sal (e vende-se em sacos com três pequenos queijos cada). É difícil acreditar que quando Joana Garcia se lançou nesta aventura com queijo não fazia ideia de como se fazia. “Sabia exactamente o que queria, só não sabia como lá chegar”, conta. Antes de ter sucesso, entrou quase em pré-falência. Estragou muitos queijos até acertar (o primeiro saiu para o mercado em 2004), mas hoje, garante, é “muito mais feliz como queijeira do que era como advogada”. O Morro – É um queijo dos Açores, mais exactamente da Ilha do Faial, que Rita provou uma vez e nunca mais desistiu de tentar ter à venda na Mercearia. Não foi fácil consegui-lo porque os produtores, dois irmãos açorianos, não têm ainda a escala que lhes permita, a par da exportaçõ, fornecer muitos sítios no continente. Mas quando finalmente, Rui, um dos irmãos, passou pela Mercearia ficou convencido de que ali era o sítio certo para vender O Morro. Existem três variedades – curado simples, curado com alho e salsa e apimentado (com a casca laranja devido à massa de pimentão). A alimentação cuidada das vacas é um dos factores da qualidade d’O Morro, explica Rita. Como o tipo de queijo que os clientes mais procuram é o de pasta mole, decidiu sugerir este – que, apesar disso, avisa, deve ser cortado à fatia e não comido à colher. Mercearia das FloresHá queijos mas há muitos outros produtos, portugueses, procurados pelo país com carinho e atenção pelas proprietárias da Mercearia das Flores, Joana Osswald e Joana Oliveira. O projecto começou em 2012 e nasceu da vontade de trazer para o centro do Porto alguns dos melhores produtos que se fazem em Portugal e dar uma montra aos pequenos produtores. Rua das Flores nº 110, Porto Telf: 222083232 Horário: Aberto todos os diasMas a Mercearia não é apenas loja, é também um bonito espaço, onde apetece ficar a provar os produtos que ali se vendem, as saladas, a charcutaria, os queijos. “Todos os anos temos uma prova comentada”, lembra Joana Osswald. No dia 16 de Novembro receberam Maria Cândida Marramaque, da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios, para falar do Queijo de Nisa da Monforqueijo, do Queijo de Azeitão da Queijaria Santiago e do Queijo de Serpa Tradiserpa. Aqui ficam as sugestões das duas Joanas. Caprino Forte de Odemira – O projecto Caprino de Odemira começou com uma portuguesa, Paula Oudman, e um italiano, Massimo Villa, que decidiram fazer queijo de cabra em Odemira. No início deste ano trocaram esse projecto por outro, a guest house A Bela Aurora, no Porto, mas os queijos vão continuar a existir. Quem tomou conta do negócio foram os Lacticínios do Sudoeste, conta Joana Osswald, por isso a Mercearia das Flores pode continuar a vender este queijo “tipo camembert”, com uma cura de dez dias (e, atenção, validade de apenas um mês). “É óptimo com frutos secos, mel de castanheiro, que é menos doce e umas gotas de azeite, é assim que o servimos na Mercearia. ”Amanteigado de ovelha – É amanteigado, pode-se cortar à fatia e é “semelhante ao Queijo Serra da Estrela”. É assim que Joana Osswald descreve o queijo que descobriram numa queijaria perto de Penela, na zona do Rabaçal, “um projecto pequeno, que já vai na neta”, mas que tem uma grande variedade de queijos, entre os quais o DOP Rabaçal. Sugere-o para esta quadra porque as pessoas procuram muito queijos com este tipo de consistência e este, que é feito com leite pasteurizado, tem uma óptima qualidade. Maitre RénardQuando era pequeno, Ulysse Jasinsky vinha de férias a Portugal com os pais, na altura em que o país “era ainda muito selvagem e nada turístico”. Passados muitos anos, e depois de uma temporada a viver em Xangai, voltou a Lisboa, com a namorada, para estudar. Rua Ferreira Borges nº 30, Lisboa Telf: 967482689 Horário: de 3ª a sábado das 10h30 às 20hAqui encontrou Quentin Bouyaghi, que trabalhava numa empresa de peças para aviões, e, sendo ambos franceses com saudades dos queijos do seu país, decidiram abrir na capital portuguesa uma queijaria. A Maitre Rénard abriu portas em Campo de Ourique em meados de Setembro e quando a visitamos está a preparar-se para o Natal, reforçando a oferta de vinhos franceses biológicos, biodinâmicos e naturais, cervejas artesanais, compotas, mostardas, vinagres, charcutaria e, claro, queijos. Para o Inverno e as festas que se aproximam, Ulysse e Quentin deixam duas sugestões. Mont d’Or – Servido numa caixa de casca de abeto, é um queijo feito com leite de vaca cru, produzido entre os meses de Agosto e Março e que se vende entre Outubro e Abril. Da região do Haut-Doubs, pode, explica Ulysse, comer-se não cozinhado, bastando para isso abrir a caixa e levantar a crosta do queijo. No entanto, uma das formas mais tradicionais de o consumir é cozinhado no forno, embrulhado em papel de alumínio, com lâminas de alho, vinho branco seco e, se se quiser, algumas ervas aromáticas. Pode-se depois mergulhar nele batatas cozidas ou pão tostado, à semelhança de um fondue. É ideial para esta altura, diz Ulysse, “é um queijo de Natal”. Mothais sur feuille – Era difícil um queijo ter um ar mais outonal do que o Mothais sur feuille, precisamente por causa da folha de castanheiro, castanha, que o envolve, para controlar a humidade. Feito com leite cru de cabra, é proveniente de Deux Sévres em Poitou Charentes. “Tem um aroma de caprinos, e a folha dá-lhe esse gosto outonal”, descreve Ulysse. “Vem de uma região com muita floresta e produção agrícola, muitas trufas. ”Sugere que o acompanhemos com figos secos ou nozes e com um vinho branco seco ou um tinto que não tenha muitos taninos, como o Les Galets – Chinon, que se vende também nesta queijaria francesa. A QueijariaN’A Queijaria encontramos queijos dos países mais famosos nesta arte de transformar leite num produto delicioso. Mas, na hora da escolha, Pedro Cardoso, português apaixonado por queijos do mundo e proprietário desta loja especializada, situada no Príncipe Real, confessa que tem uma preferência pessoal, um queijo de sabor intenso que os amantes de queijo adoram mas que para os iniciados pode ser um pouco mais difícil: o Stilton. E, como Natal em Portugal pede Queijo da Serra da Estrela, essa é a sua segunda sugestão. Rua do Monte Olivete nº 40, Lisboa Telf: 213460474 Horário: 3ª a 6ª das 11h às 21h, sábado das 10h às 21h, domingo das 10h às 16hQueijo Serra da Estrela – N’A Queijaria os queijos não aparecem como o nome dos produtores. Pedro Cardoso explica que prefere trabalhar como os afinadores franceses (apesar de não ser um afinador), sendo a sua loja a garantia de que os produtos que vende são genuínos e de qualidade. No caso do Queijo Serra da Estrela, e para ser DOP, isso significa que se trata de queijo feito com leite de ovelhas da raça bordaleira. “Prefiro trabalhar com pequenos produtores que têm os seus próprios rebanhos”, explica o proprietário d’A Queijaria, que se preocupa sobretudo em garantir a consistência do queijo, que tem uma pasta “entre o cremoso e o amanteigado” – e que é presença fundamental para muitos portugueses na ceia de Natal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Stilton – Pertence à família dos queijos azuis (como o Gorgonzola ou o Roquefort, reconhecíveis pelos veios azulados provenientes do bacilo Penicillium, responsável também pelo sabor pungente. Feito com leite de vaca pasteurizado, foi baptizado com o nome da vila de Stilton e crê-se que terá surgido no século XVIII. Com uma cura entre dois e três meses, fica com uma textura cremosa e é considerado um acompanhamento perfeito para o Vinho do Porto. Outras combinações possíveis para o Stilton, para além de bolachas neutras, são peras ou figos – a doçura oferece, por contraste, por contraste, com a intensidade de sabor do queijo.
REFERÊNCIAS:
Estão amanhadas as melhores sardinhas das festas da cidade
"Salvem as sardinhas" foi o mote para a oitava edição do concurso. Há novas vistas para Lisboa, sonhos e preocupações de pescadores pintados nas sardinhas vencedoras. E nem a escassez do peixe foi esquecida. (...)

Estão amanhadas as melhores sardinhas das festas da cidade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Salvem as sardinhas" foi o mote para a oitava edição do concurso. Há novas vistas para Lisboa, sonhos e preocupações de pescadores pintados nas sardinhas vencedoras. E nem a escassez do peixe foi esquecida.
TEXTO: O pórtico da Lisnave como “símbolo de uma paisagem da boca do rio Tejo menos pitoresca, mais contemporânea e democrática ”. Uma sardinha montada com o lixo que aparece na praia, que é uma chamada de atenção à “consciência” ambiental de cada um. Uma homenagem aos sonhos dos pescadores que giram em torno da sardinha. E, claro, um apelo à contenção da pesca se queremos sardinhas para mais anos de festas. Já não há santos populares em Lisboa sem a pescaria artística anual. Ainda que o mote tenha sido “Salvem a Sardinha!”, foram muitos os que morderam o isco para conseguir a melhor. As vencedoras foram conhecidas esta sexta-feira e, apesar das propostas serem dedicadas a uma festa bem portuguesa, confirmam que este é um concurso com toques de todo o mundo. No oitavo ano de vida, as redes da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), da câmara de Lisboa, apanharam 3726 propostas, de 63 países - da Argentina à Bielorússia e dos EUA ao Japão, passando pela Nova Zelândia ou Vietname. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Das cinco vencedoras, apenas uma tem mão nacional. É Paulo Veiga, de nome artístico Paveia, o português que lembrou o lixo que anda pelos mares e o mal que pode fazer à sardinha. Mas há também sardinhas do Brasil, da República Checa, da Itália e do Canadá, pela mão de Arthur Duarte, de 29 anos, Anna Kocová, 30 anos, Stefanos Antoniadis, 35 anos, e Boris Biberdzic, 32 anos, respectivamente. Cada um recebe um prémio no valor de dois mil euros. Além das propostas escolhidas pelo júri, o público, através de uma votação online, escolheu mais cinco para menções honrosas. Os responsáveis por atestar a qualidade da espécie foram o artista plástico Bordalo II, a ilustradora Catarina Sobral, a locutora Joana Cruz e o “pai da sardinha”, Jorge Silva, e ainda a EGEAC. Para que não se desperdicem as sardinhas, nem a arte de quem lhes preencheu a silhueta, a Galeria Millenium, na rua Augusta, vai acolher uma exposição para dar a conhecâ-las. De segunda a sábado, das 10h00 às 18h00, vai poder ver o resultado da pescaria. De terça a sábado, no piso 2 da galeria, os que quiserem poderão criar o seu peixe, com a ajuda de ilustradores no Atelier Sardinha.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Novo modelo de apoio às artes vai fazer a volta a Portugal
Secretaria de Estado da Cultura leva esta semana a proposta do novo decreto-lei a diferentes cidades do país. Orçamento, calendário dos concursos e a questão dos intermitentes podem motivar reservas e críticas. (...)

Novo modelo de apoio às artes vai fazer a volta a Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Secretaria de Estado da Cultura leva esta semana a proposta do novo decreto-lei a diferentes cidades do país. Orçamento, calendário dos concursos e a questão dos intermitentes podem motivar reservas e críticas.
TEXTO: A diminuição, de quatro para três, das tipologias dos apoios, incluindo uma nova orientação para as parcerias com as autarquias e as entidades privadas; a manutenção do regime de concursos, obrigatórios mesmo para os apoios sustentados; uma apresentação mais detalhada das disciplinas contempladas e uma nova dinâmica de transversalidade; a definição de uma data (até 31 de Janeiro de cada ano) para a divulgação do plano estratégico para o sector, do montante financeiro disponível e das datas de abertura de cada concurso. São estes os pontos centrais do novo modelo de apoio às artes, que a Direcção-Geral das Artes (DGArtes) vai apresentar a representantes e profissionais do sector a partir desta segunda-feira, com um primeiro encontro no Palácio da Ajuda, seguindo-se sessões regionais, amanhã e quarta-feira, respectivamente em Lisboa (Teatro Nacional D. Maria II) e Faro (Teatro das Figuras), e em Coimbra (Convento de São Francisco) e no Porto (Mosteiro São Bento da Vitória). O novo modelo tinha sido já prometido, no final do ano passado, pelo secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado. “Vamos corrigir todos os desfasamentos que têm sido criados ao longo destes anos. Uma das prioridades é precisamente a correcção do grande desfasamento dos apoios”, disse então o governante, no Parlamento. E, na semana passada, no decorrer de uma visita ao Barreiro, Honrado – que tutela o sector, através da DGArtes – anunciou a realização dos encontros regionais de apresentação do novo documento, que virá substituir os decretos-lei n. º 225/2006 e 196/2008. “Após uma década de vigência do regime de atribuição de apoios do Estado às artes estabelecido em 2006, considera-se importante progredir para uma configuração que, a partir dos resultados já alcançados, seja ajustável às dinâmicas próprias de um sector em permanente evolução”, diz o preâmbulo do novo decreto-lei, a que o PÚBLICO teve acesso, e que deverá entrar em vigor em 2018. A alteração mais notória está na diminuição das tipologias dos programas de apoio, que passam das quatro actualmente em vigor para apenas três: apoio sustentado, para as estruturas profissionais com actividade continuada, mantendo-se o regime bienal e quadrienal; apoio a projectos, de horizonte anual; e apoio em parceria, a estabelecer com outras pessoas colectivas públicas ou privadas, nomeadamente a administração local. “Considerou-se que as anteriores modalidades de apoio indirecto – o protocolo ou acordo tripartido celebrados com as autarquias locais – ficaram aquém dos objectivos subjacentes à sua criação”, justifica a DGArtes. O novo texto explicita ainda que se “mantém o concurso como regra para a atribuição dos apoios”, sendo este “a única forma de acesso às modalidades de apoio sustentado, bem como a possibilidade de celebração de protocolos, desta feita limitada ao programa em parceria”. Plano estratégico em JaneiroCaberá ao secretário de Estado da Cultura, sob proposta da DGArtes, “aprovar o plano estratégico plurianual, que fixa as principais linhas do apoio às artes”, diz também o documento, especificando que esta direcção-geral publicará esse plano no início de cada ano, até 31 de Janeiro. E aqui surgem algumas das dúvidas e reservas previsíveis a este modelo. Na data acima referida, a DGArtes anuncia a abertura de concursos para esse ano civil, ou para a temporada seguinte? “Os calendários e os prazos dos concursos não são definidos; é tudo muito confuso e ambíguo”, diz Jorge Louraço Figueira. O dramaturgo, encenador e ex-crítico de teatro do PÚBLICO lembra que “este decreto-lei surge no fim de um ano de interregno, com a justificação de se querer acertar o calendário”, e lamenta que ele não esclareça "se o financiamento é para seis ou 12 meses, ou para que temporada", o que significa que estará sempre atrasado relativamente às necessidades das companhias e dos profissionais. O PÚBLICO fez uma ronda por vários grupos de teatro e companhias de dança a pedir uma primeira apreciação à nova proposta do Governo, mas a maioria dos contactados disse não o conhecer ainda, tendo apenas recebido a convocatória para as reuniões desta semana. André Albuquerque, da direcção do novo Cena/STE - Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo, do Audiovisual e dos Músicos, eleita no passado dIa 28 de Junho após a fusão das duas entidades, explicou que só irá conhecer o texto esta segunda-feira, quando se deslocar ao Palácio da Ajuda para o primeiro encontro agendado pela Secretaria de Estado da Cultura (SEC). “Ficámos espantados quando fomos convocados apenas um dia antes da apresentação e discussão pública do documento, sem nos ter sido dado conhecimento prévio do mesmo; mais ainda quando nos pedem uma opinião sobre ele”, comentou Albuquerque (que, como a restante direcção do sindicato, tomou posse este domingo). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A SEC realizou, durante os últimos meses, reuniões com representantes do sector, e promoveu um inquérito, coordenado por uma equipa do Centro de Investigação e Estudos em Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, do Instituto Universitário de Lisboa. Comentando ainda o novo documento, Jorge Louraço Figueira vê como positivo o facto de apresentar “uma aparente simplificação do modelo, com menos tipologias de apoios e uma segmentação maior do tipo de actividades que podem ser apoiadas”. Mas teme que “uma grande parte da decisão do financiamento fique dependente dos serviços da DGArtes – que tem os recursos humanos reduzidos ao mínimo –, e não de comissões de avaliação”. O encenador e dramaturgo lamenta também que o novo modelo não se refira aos orçamentos, e deixe de fora “a regulamentação das situações de precariedade e da intermitência”, além de ser igualmente omisso quanto à questão da rede de cineteatros e equipamentos culturais espalhados pelo país. E argumenta ainda que o novo decreto-lei “foca-se excessivamente na administração e na fatia profissional do sistema”, e continua muito pensado na óptica da criação e dos profissionais do sector. “Esquece a fruição; esquece os amadores, os espectadores, ou seja, a comunidade, que faz a outra metade que está consagrada na Constituição e legitima a política cultural do Estado”.
REFERÊNCIAS:
Médicos têm "a obrigação ética" de envolver-se no alerta global sobre as alterações climáticas
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna diz que clínicos devem aconselhar doentes a privilegiarem as deslocações a pé ou de transportes públicos e a reduzirem o consumo de carne. (...)

Médicos têm "a obrigação ética" de envolver-se no alerta global sobre as alterações climáticas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sociedade Portuguesa de Medicina Interna diz que clínicos devem aconselhar doentes a privilegiarem as deslocações a pé ou de transportes públicos e a reduzirem o consumo de carne.
TEXTO: Os médicos têm “a obrigação ética” de envolver-se no alerta global sobre as alterações climáticas, porque estas já estão a afectar a vida dos doentes e “vão condicionar o futuro dos cidadãos em geral”, defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Luís Campos. Recordando que a Organização Mundial de Saúde estima que “as alterações climáticas já estejam a custar 150 mil vidas todos os anos” e que Abril passado foi “o mês mais quente dos meses homólogos desde há 86 anos [em Portugal]”, o médico avisa que “vão acentuar-se as consequências directas do calor, que já afectam principalmente os idosos, as crianças, os sem-abrigo e outras populações mais vulneráveis”. Com a poluição do ar, “estão a aumentar as doenças alérgicas e a asma e o mesmo vai acontecer com as doenças transmitidas por vectores”, como por exemplo a malária e o dengue e as doenças relacionadas com a qualidade da água, sublinha. A propósito do Dia Mundial do Ambiente, que se assinala na segunda-feira, a SPMI avança com esta tomada de posição pública, em comunicado, em que recorda que “em 2016 arderam 160 mil hectares [em Portugal], o correspondente a 160 mil estádios de futebol, o valor mais elevado desde há uma década”. Face a um problema que tem consequências inequívocas – “em 2013, a onda de calor em Portugal foi responsável por 1700 mortes” –, Luís Campos considera que cada médico deve assumir a obrigação de alertar as pessoas para as consequências do aquecimento global na saúde. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como? Aconselhando os doentes a privilegiarem as deslocações a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, recomendando a redução da carne na alimentação e a opção por peixe que resulte de pesca sustentável, exemplifica. Os médicos devem ainda aconselhar as pessoas a comerem fruta e vegetais locais e sazonais, a aumentarem o consumo de produtos biológicos e a não beberem água ou outras bebidas em garrafas de plástico, acrescenta. Luís Campos traça um quadro negro do futuro: “A escassez de água e alimentos agravarão a fome, a malnutrição e a diarreia. A degradação do ambiente e dos ecossistemas acentuarão os movimentos migratórios, os conflitos e as doenças mentais. As catástrofes naturais provocarão muitas mortes violentas. No fim, será a própria sobrevivência do homem a estar ameaçada. ”Face a este cenário, e dando voz às recomendações da SPMI, pede que sejam intensificadas as medidas com impacto na redução da emissão de gases com efeito de estufa e que, no sector da saúde, “se adopte uma estratégia eficaz de resposta às consequências do aquecimento global que já se fazem sentir”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome negro homem carne consumo alimentos
A sanduíche de Quarteira que Vera Mantero leva para a praia
A coreógrafa fez a trouxa e foi até Quarteira, ver-se rodeada de redes de pesca, campos de golfe e prédios que roubam a vista. Pão Rico é a sanduíche de uma cidade entalada entre duas volumosas fatias de vivendas milionárias. (...)

A sanduíche de Quarteira que Vera Mantero leva para a praia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A coreógrafa fez a trouxa e foi até Quarteira, ver-se rodeada de redes de pesca, campos de golfe e prédios que roubam a vista. Pão Rico é a sanduíche de uma cidade entalada entre duas volumosas fatias de vivendas milionárias.
TEXTO: Começa por umas mãos que remexem a areia da praia até nela encontrarem algumas notas soltas. Dinheiro, portanto. Uma espécie de “e tudo começou aqui” para a cidade de Quarteira, rapidamente transformada de aldeia piscatória em cidade buliçosa, mas cheia de estrias e dores de crescimento provocadas por essa demasiado lesta passagem de uma condição para a outra. Foi à procura da história desse lugar que a coreógrafa e bailarina Vera Mantero partiu para o Algarve, com vista à criação de Pão Rico, em apresentação na Culturgest, Lisboa, sexta e sábado. A imagem imediata suscitada pelo título serve tanto de alusão às sanduíches preparadas para comer durante as longas jornadas de praia, quanto de sugestão da condição de localidade ensanduichada entre Vale do Lobo e Vilamoura. Quarteira, cidade albergue da classe média portuguesa rendida ao modelo das “férias na praia” nos anos 80, está hoje cercada por dois símbolos gigantes do poderio financeiro, numa imagem possível das fortes assimetrias sociais do país. À procura do que isto significa e provoca, Vera Mantero foi recolhendo imagens, objectos e sons que atira para cima do palco, insinuando “o caos daquela região e daquela cidade”. As enormes bolas de praia de uma marca de protectores solares roubam-lhe o espaço de que necessita para estender a toalha; as bolas de golfe que bate repetidamente enrolam-se e ficam presas nas redes de pesca. Os sinais são vários e não complicam aquilo que a coreógrafa explora de contradições e de invasão daquela terra pertencente a uma região pobre portuguesa, e que, com o fenómeno mais ou menos coincidente da conquista de direitos laborais (o início das férias pagas) e a abertura do Aeroporto de Faro em Julho de 1965, se transformou num cobiçado destino balnear e jogou todas as fichas nesse preciso papel de destino de férias. Não há julgamento moral implícito. “Não é fácil apontar o dedo”, diz em relação ao descontrolo urbanístico no Algarve de que Quarteira é um exemplo flagrante. “Vi-me nesta dificuldade de não moralizar, porque também não tenho nenhuma resposta. Ando nesta peça a tentar falar disto sem me arvorar em alguém que sabe o que seria melhor e como se podia fazer. ” Daí que Vera Mantero afirme que a sua situação é ainda a de uma turista. Instala-se no papel de alguém que, propondo-se uma aproximação das gentes daquela terra e com uma obra criada a partir de dois períodos de residência com várias entrevistas e centenas de páginas de leituras sobre a região e sobre o turismo, continua a ser uma “estrangeira”, uma visitante cuja permanência será sempre temporária. “O meu olhar é muito exterior”, confirma, “é muito de uma pessoa que conseguiu perceber umas coisas ou ter a impressão de que as percebeu e sacar uns elementos, mas não posso dizer que conheço profundamente aquela realidade. Não sei o que é viver ali todo o ano. ” Foi, por isso, em busca de quem ali vive e tem dedicado o seu tempo a estudar a História da região, recolhendo a informação suficiente para saber que o Algarve nem sequer constava do livro As Praias de Portugal – Guia do Banhista e do Viajante, de Ramalho Ortigão, e que esta outrora terra modesta rodeada por pinhais passou a filão turístico em que a paisagem é frequentemente de betão. Talvez as coisas pudessem ter sido diferente com “uns políticos espectaculares, com uma visão brutal e que fizessem as coisas como deve ser” no pós-25 de Abril, mas quando numa região desvalida se descobre uma mina de ouro as decisões tendem a ser pouco lúcidas e menos focadas no longo prazo. Agora, admite Vera, começa a falar-se de recuperação da paisagem. E o turismo já não é o mesmo. “Os turistas já não querem ir para um hotel gigante, com uma piscina gigante, e ficarem ali parados. Agora querem experiências. ”Coreografia:Vera Mantero Culturgest, Lisboa, Sexta e Sábado, de 26 de Maio de 2017 a 27 de Maio de 2017 às 21h30Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Ramalho Ortigão a coreógrafa vai ainda buscar “um texto muito curioso” em que o escritor reivindica “uma estada balnear quase filosófica”. “O que é incrível”, diz, “é ele escrever isso naquela altura [a primeira edição data de 1876] em que ainda se podia ouvir o mar, ainda se podia contemplar. E ele diz-nos que o mar tem o poder de nos transformar, tem um impacto enorme de nos fazer ver o que é o mundo e pensar o mundo. E se vamos para o mar e não deixamos que isso nos aconteça, então estamos a desaproveitar completamente essa oportunidade. ” Se Ortigão escreve quando “a loucura da construção e do bronze” não tinha ainda tomado conta das zonas balneares, Vera chama as suas palavras para pouco depois se deitar no chão e acolher em si todo o tédio que faz parte também dos dias de praia sem a nobreza de espírito a que o escritor apelava. Vera Mantero chama a esta crescente obsessão “o advento da pele bronzeada”, fenómeno edificado sobre toda uma operação de propaganda, uma vez que “quem tinha pele bronzeada era o povo, e a pele branquíssima, transparente era sinal de primeira categoria”. A pele curtida pelo sol era, afinal, sinal de trabalho duro no campo ou no mar; só depois se tornou sinónimo de prolongado tempo de lazer de uma classe alta que se foi instalando no Algarve e povoando de vivendas as zonas ao redor de Quarteira. Vera percorreu essas vivendas com a visão aérea permitida pelas ferramentas do Google e deixou-se impressionar por “tanta vivenda com piscina e tanto prédio que quase deixa o mar em segundo plano”. Pão Rico é Vera Mantero a rodear-se de tudo isto. É Vera Mantero a ouvir os relatos de um historiador local pertencente à primeira geração que teve a oportunidade de escapar à vida na pesca e formar-se na Universidade do Algarve para depois, dadas as dificuldades financeiras familiares e a escassez de trabalho na região, ter de se fazer pescador e descobrir, afinal, que “não há vida mais bela do que a pesca”. É Vera Mantero a percorrer impressionada as ruas de Vilamoura e de Vale do Lobo, sabendo que estão ali as propriedades mais caras do país, e a descobrir campos de golfe por todo o lado, como se a região fosse um parque de diversões para adultos, mas onde só certos adultos entram. É uma sucessão de imagens em que um pequeno jornal em defesa dos interesses regionais acaba por expulsar a língua portuguesa das suas páginas, é um contínuo de camareiras arrumando quartos, preparando os meses de Verão enquanto as suas vidas não ficam em suspenso – à espera de um novo Verão que se seguirá.
REFERÊNCIAS:
“Fui eu que inventei o design democrático e fui eu que ganhei essa luta”
Philippe Starck, um dos mais importantes designers de sempre, vive em Portugal por ser “um país que não se baseia em materialidade ou dinheiro”. Continua a falar como um céptico do design e, numa altura em que desenha para o espaço, prefere “utilizar mal o plástico do que matar animais”. É contra o machismo dos objectos e pelo humor. (...)

“Fui eu que inventei o design democrático e fui eu que ganhei essa luta”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Philippe Starck, um dos mais importantes designers de sempre, vive em Portugal por ser “um país que não se baseia em materialidade ou dinheiro”. Continua a falar como um céptico do design e, numa altura em que desenha para o espaço, prefere “utilizar mal o plástico do que matar animais”. É contra o machismo dos objectos e pelo humor.
TEXTO: Philippe Starck trabalha com as maiores empresas e está nos melhores museus do mundo e em Cascais, onde mora, vê-se como “um vizinho”. Na vida profissional, vê-se como “o príncipe do inútil”, como disse, risonho, ao PÚBLICO. Em breve terá projectos em Portugal. Aos 69 anos, o seu nome é quase sinónimo de design e o seu estatuto um marco geodésico no mapa da descoberta desta disciplina pelo grande público. Os espremedores de fruta aracnídeos, as cadeiras transparentes, os candeeiros metralhadora, o uso do plástico e do metal e de linhas cheias de intenções influenciaram a cultura material desde os anos 1980, e também geraram discórdia em torno de 40 anos de carreira de Philippe Starck. Os seus trabalhos de design ou arquitectura mobilaram a vida das últimas décadas. Com objectos mais acessíveis, como a escova de dentes Dr. Kiss ou o espremedor Juicy Salif, mas também os interiores dos aposentos presidenciais de François Mitterrand no Eliseu ou do iate Venus para Steve Jobs, fundador da Apple. Vão agora equipar a vida do futuro, a que viajará para o espaço com a estação espacial da Axiom Space, a primeira estação espacial comercial. O PÚBLICO falou com o francês quando se tornaram públicas as imagens dos habitáculos que criou para os futuros residentes (a estação espacial privada deve inaugurar em 2020), confirmando-o como personagem da mais exclusiva galáxia de autores. Este novo feito, criar os interiores das cabines espaciais, afasta-o momentaneamente do discurso autodepreciativo que adoptou há anos sobre como o seu trabalho não é vital. Por vezes, apresenta-se publicamente quase como um céptico do design, o que contrasta com o papel de profuso produtor de objectos e veículos para todas as idades, da sua própria cerveja, de interiores para hotéis de luxo, de um edifício que pôs uma chama dourada na paisagem de Tóquio ou mesmo da “primeira casa de banho bela do mundo” (no Café Costes, em Paris). Um conversador sorridente, vive desde 2013 com a mulher e filha mais nova em Portugal, entre Cascais e uma quinta em Grândola (mas também vive entre Veneza e França). “Vamos ficar até morrer”, disse no anúncio dos vencedores do Lumina Design Contest, os estudantes Pedro Martins e Vítor Silva. Visitante do Festival Lumina nos anos anteriores, foi abordado informalmente nas ruas de Cascais por Carole Purnelle, que com Nuno Maya dirige o atelier o Cubo e o festival, e tornou-se assim presidente desse júri. Em entrevista ao PÚBLICO proclama novamente a sua vergonha quanto ao seu trabalho no design e foca-se no valor da criatividade. Philippe Starck, que se afirma como homem de esquerda, encontra sintomas de inteligência no humor. E no plástico. O humor tem um papel muito importante nos seus trabalhos mais conhecidos. . . Sim, humor — não diversão. Não somos obrigados a rir quando fazemos algo com humor. Basta sorrir. Ou nada. . . . mas ainda se diverte a trabalhar?A minha mulher vive um drama. Nunca me rio. Não é da minha natureza, não sou um tipo muito engraçado. Pode dizer-se que sou um homem um pouco sombrio. O humor não é uma escolha, é um dos mais belos sintomas da inteligência humana. Há a criatividade, o amor — o mais importante — e o humor. Conheço muitos donos do mundo, muitos homens a quem chamamos génios. Mas um génio que não é uma boa pessoa, um génio que não tem humor não é um génio. E, mais, o humor tem uma relação com a relatividade einsteiniana, que nos explica que de facto nada existe. A física explica-nos que este vidro é feito de moléculas, esta madeira também, tudo é estruturado por correntes eléctricas que podem mudar de um momento para o outro. Isso confirma que a matéria não existe — e o humor é a mesma coisa. Quando brincamos com algo, pomos em causa a sua natureza, o seu sentido, a sua materialidade. Por isso, o humor não é um acaso, de todo. Tem uma relação com a nossa verdadeira natureza, com o nosso ADN de criatividade, tem uma relação directa com a inteligência e com esse conceito avançado da física. Perante esse apreço pelo humor no trabalho, será um paradoxo ou uma contradição que há mais de uma década diga que tem vergonha da sua área de trabalho. . . De mim [risos]. O design é muitas coisas, pode ser luxo, ou superficial, mas sobretudo pode ser a possibilidade de melhorar vidas — onde reside então a vergonha?O motivo disso é que por alguma razão tenho falta de confiança em mim, desde que nasci. E isto torna-me cobarde. Recebi por osmose uma educação muito avançada, sobretudo quanto à tecnologia. O meu pai fabricava aviões e eu via-o trabalhar, e, em vez de herdar o conhecimento através da companhia dos aviões, herdei a forma de pensar do meu pai, de como ir mais longe e fazer coisas verdadeiramente úteis para a sociedade. E não o fiz. Por medo de mim mesmo. É essa a minha vergonha, porque, não sendo uma pessoa muito inteligente, é claro e comprovado que tenho uma criatividade fora da norma. Para o bem ou para o mal. É uma pena que uma criatividade fora da norma, que me ultrapassa, que é quase como uma doença mental, não seja utilizada para fazer coisas mais úteis do que cadeiras, escovas de dentes ou candeeiros. Acho um desperdício, porque há um dever na vida que é a obrigação de usar tudo o que temos para servir a nossa comunidade. Ninguém é obrigado a ser um génio, mas todos são obrigados a participar. Todos devem ajudar a nossa evolução, a nossa mutação. Eu, em vez de subir de patamar nos meus genes, não usei o ADN que recebi para fazer melhor do que o meu pai. É muito raro que os filhos se saiam menos bem do que os pais. Mas eu saí-me menos bem do que o meu pai. E tenho vergonha. Como tive muito sucesso, isso não se vê [risos]. Mas eu sei disso. Mas o que o envergonha no design como disciplina?Há duas acções na vida, as que salvam vidas e as que não salvam vidas. Dizem-me que melhoro vidas, e, sim, trabalho muito para isso, mas não salvo vidas. Tive uma pequena, pequena compensação [para esse sentimento] esta manhã — o meu novo projecto na nova estação espacial internacional [comercial], o que é fantástico. Trabalhamos nele há meses, fui felicitado pelas equipas e encontrei uma série de soluções para as questões que tinham há anos. Estou muito orgulhoso, não por ter desenhado a estação espacial, como já se disse, mas por ter melhorado muito, segundo eles, a vida das pessoas no seu interior. É uma pequena consolação. Uma vez identificada essa vergonha, o que se faz com ela? Fala e justifica-a do ponto de vista pessoal, mas também há uma leitura política, sociológica, da vergonha na participação neste sistema. . . Há um problema muito importante na sociedade. Não damos a palavra e não reconhecemos o valor das pessoas que devem ter a palavra — os cientistas em geral. Que cientistas são entrevistados nos jornais de grande audiência? Nenhuns. Que designers, cantores, pintores, estrelas de cinema entrevistam? Todos, a toda a hora. Isso não é normal. Por isso, a minha vergonha vem de mim, mas o meu incómodo vem da sociedade, porque é preciso equilibrar isso. E o público tem uma reacção de enorme interesse pela inteligência. É verdade que ter vergonha da minha posição não é fácil, porque desde sempre tive sucesso, tive glória, tive reconhecimento; há gente que me odeia, mas também gente que me ama muito. Podia ter-me contentado, dito: “Está bom, chega, espectacular, para quê incomodar-me?” Mas baseio-me na honestidade, no rigor, não posso aceitar que haja impostores e sobretudo o desperdício, o desperdício é inaceitável. E sou uma forma de desperdício muito bem feita. Chamo a mim mesmo o príncipe do inútil [risos] – dentro deste contexto. A ideia hollywoodesca de um star system contaminou há muito o design e a arquitectura. Com a sua visibilidade, sente uma responsabilidade extra de comunicar estas reflexões e de desmistificar o design?Claro. Mas o “Starck system”, como muitos jornalistas lhe chamam, foi fabricado pelos media. Nós vivemos fora disso, encerrados nesta casa [de Cascais], ou nas dunas e montes de Grândola, numa ilha no Sudoeste de França, ou no Norte de Veneza. Não vemos ninguém, não vamos ao cinema, a jantares ou cocktails. Não sou de todo tocado por isso. Não colho nem as vantagens nem as desvantagens disso. Por um lado, há no star system coisas muito negativas que fazem com que as pessoas se projectem, sobretudo nas estrelas de cinema, e vivam por procuração — é como as pessoas que usam roupas com marcas muito visíveis — e no fim de contas já não são elas, são o sonho que têm de si mesmas através de outros e isso é muito, muito mau para a saúde. Por outro lado, para alguém como eu e na minha profissão, e para as pessoas que vão usar ou não os meus produtos, é assaz prático. Já sabem quase tudo de mim e do que eu sei de mim por 40 anos de entrevistas, e podem detestar-me ou gostar do que digo. Quando precisam de uma cadeira ou de um candeeiro, vêem um produto feito por mim, não vão ao engano. Ou há quem me deteste e diga: “Ah não, ele não. ” Isso aumenta a legibilidade do produto, de um lugar — que nem sempre são muito claras, porque por vezes as pessoas não têm a cultura para compreender profundamente o que uma coisa quer dizer. Tudo é político e tudo é semântico. Tudo quer dizer algo. Se quiserem levar um mau objecto para sua casa, terão problemas com ele. E as pessoas vão ler-vos de forma diferente. Sente também a responsabilidade de devolver o design à realidade e até à ideia hoje tão dominante da sustentabilidade? É a grande luta da minha vida. Fui eu que inventei o design democrático e fui eu que ganhei. Sou militante, ganhei. Em 30, 40 anos de trabalho aumentei a qualidade dos produtos, baixei o preço de vários produtos e tornei-os acessíveis a quase todas as pessoas. Esse foi, na realidade, o meu principal trabalho. Ao mesmo tempo, graças aos meus reais conhecimentos tecnológicos e ao facto de desde os 16 anos, por acaso, me ter iniciado na urgência da ecologia, isso permitiu-me compreender muito depressa e tomar rumos e decisões muito claras quanto a ela. Já vi duas modas ecológicas — a actual não é uma moda, porque a urgência chegou — e num dado momento, para fazer algo ecológico, a estupidez da resposta foi extraordinária, porque as pessoas compravam coisas em madeira, cortando florestas, e em pele, para evitar os sintéticos, matando animais. Aberrante, ridículo, uma estupidez assustadora. Continua a defender que o plástico, tão criticado, é mais duradouro e por isso mais sustentável?O plástico é nobre, porque foi inventado pelo ser humano, e sobretudo há plásticos de uma inteligência e competência extraordinárias. Hoje uma cadeira em plástico bem feita não tem fim. Mas, claro, se o plástico é mal utilizado, é mau. Contudo, prefiro utilizar mal o plástico do que matar animais. Somos vegetarianos [na família]. A única posição ecológica que podemos ter hoje em dia é consumir menos. Não podemos deixar de consumir, mas consumir menos. A minha estimativa não científica é que se reduzirmos todo o nosso consumo em não mais que 15%, deixa de haver um problema ecológico no mundo. A única solução ecológica é a diminuição positiva: continuar a ser criativos está no nosso ADN, somos antes de mais criadores, mas produzindo menos. A única solução ecológica é a longevidade, voltar à ideia ridicularizada nos anos 1960 e 1970 da transmissão e herança [de bens e objectos]. Acredita que “temos os símbolos que merecemos”. Que elementos do seu trabalho fizeram com que ele tivesse tanto eco na cultura material nas últimas décadas?Pode ser estranho, mas sou antes de mais um funcionalista — no sentido em que com [Sigmund] Freud, com [Jacques] Lacan reconhecemos o sentimental, a representação social, o simbolismo, e se alargou enormemente o território da função. E, depois, sou um político. Só me interessa o resultado do que faço, e não o que faço. O objecto nunca me interessou, estou-me borrifando para o objecto, estou-me borrifando para o design. Ele escolheu-me, assumo-o, [mas] sou demasiado velho para mudar. Mas cada miligrama, cada kilojoule de peso, de energia, de matéria tem um significado político e há que saber controlá-lo. O importante é passar mensagens muito claras e justas para nós mesmos sobre o que consideramos bom. Um dos meus principais trabalhos de limpeza dos símbolos foi claramente remover a representação do dinheiro. Mesmo as coisas caras e tecnológicas na minha casa são “limpas”. Substituí a palavra “luxo” pela palavra “qualidade”. Diariamente tenho uma luta extrema contra o machismo, contra a virilidade idiota, inútil e exagerada dos objectos que nos rodeiam. Lembro-me de uma publicidade que dizia que uma lâmina de barbear era “bela como uma arma”. Como é que é possível dizer isso, quando todos os dias pessoas morrem por causa de armas?E as linhas simples dos seus objectos mais simbólicos conjugam-se com essa politização?Evidentemente dar intenção aos meus projectos, aos meus objectos, é a parte mais interessante do meu trabalho. Diria mesmo que eles não valem senão pela intenção que carregam. E aqui está a resposta à pergunta: é tentar dar uma dimensão maior do que aquela que o objecto pode conter. Dar uma razão de existir ao objecto. Servir uma função obrigatória, como lavar os dentes, e dar uma outra atenção, uma interpretação, a uma escova de dentes. Por isso é que o meu trabalho ecoa junto das pessoas que usam os meus produtos — que as pessoas não lêem forçosamente. Não é necessário ler as coisas, se calhar o importante não é explicá-las. O que se sente e o que se vive é que é importante. Quando se vive objectos como os meus, eles vão ter uma influência. Espero que boa [risos]. Um “projecto Starck” torna-se um símbolo — tem algum novo projecto significativo para Portugal?Tenho um problema paradoxal muito claro. Vivo em Portugal não pela beleza do país, que é real, mas pelos portugueses. São extraordinários, adoro-os, e, como não preciso de trabalhar, gostaria de evitar poluir esta relação que tenho com o trabalho. Durante cinco anos consegui evitá-lo. Mas não posso evitar tudo, porque há grandes e bons amigos portugueses que precisam de mim para fazer algumas coisas. Fá-las-ei, mas por obrigação de amigo. Não estou cá para tirar o trabalho aos outros, estou cá para viver feliz com as pessoas que me fazem feliz num país que não se baseia em materialidade ou dinheiro. O que pode dizer mais sobre esses projectos?Haverá algo de produtos high tech, revolucionários, com uma óptima empresa portuguesa, e um pouco de arquitectura. Mas é o mínimo possível. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já desenhou muito em torno da luz e agora presidiu ao júri de um concurso do Festival Lumina, em Cascais, com o qual quer colaborar mais. Elogiou a “luz única” de Portugal. O que é que o entusiasma na luz?Nada existe sem a luz. Podemos ter a mais bela escultura do mundo ou o maior diamante; se não forem iluminados, não existem. Certas tribos índias dizem que há quem caminhe na sombra e quem caminhe na luz. Todas as civilizações têm pequenos grandes exemplos de como a luz é tudo. E, ao mesmo tempo, a luz nada é. Esta coisa totalmente vital para nós é totalmente imaterial — bom, existem os fotões, mas para nós são imateriais, intangíveis. É muito belo, muito poético que algo tão poderoso seja intangível. É um paradoxo que é um dos fortes parâmetros da modernidade inteligente. Toda a produção humana inteligente ruma à desmaterialização, ao aumento da potência da inteligência e à diminuição da matéria que a carrega. Assim, a luz é quase o símbolo absoluto. Por isso, nos meus trabalhos de arquitectura esforço-me por vezes muito para fazer luzes muito sofisticadas que têm como principal finalidade tornar os humanos mais belos. Dar ambientes mais interessantes, mais românticos, mais sexy, mais inteligentes. E estou sempre a dizer às pessoas com quem trabalho que não me ponham luzes por todo o lado — só onde houver algo de interessante para ver. Se há alguém interessante ou um móvel interessante, fazemos incidir a luz sobre ele. Não quero luzes no chão, numa parede, se não há lá nada. Vamos ao encontro do trabalho da arquitectura que diz que a luz faz existir as coisas, mas somos nós que escolhemos quais são as coisas sobre as quais a luz vai incidir. Quem não fizer incidir a luz sobre um tesouro é um imbecil.
REFERÊNCIAS: