Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol não
Pela primeira vez o Mundial de Futebol vai ter lugar no continente africano. E Portugal está na fase final. Por isso, no domingo, a Pública é dedicada a esta competição que começa no dia 11 de Junho. Portugal estreia-se a 15, frente à Costa do Marfim; Coreia do Norte e Brasil são os outros adversários da primeira fase. Fomos à Covilhã ouvir os sonhos dos rapazes que calçam as chuteiras de Portugal; reportagem de Hugo Daniel Sousa e Paulo Ricca. Na África do Sul pós-"apartheid" vimos que existe verdade mas falta reconciliação; reportagem de Alexandra Lucas Coelho e Pedro Cunha. Contamos a história de Didier Drogba, o carismático líder da selecção da Costa do Marfim. No estádio mais mítico do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, testemunhámos o que é a torcida brasileira. Oferecemos um poster com os 24 jogadores convocados por Carlos Queiroz e um calendário para seguir os jogos. (...)

Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol não
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pela primeira vez o Mundial de Futebol vai ter lugar no continente africano. E Portugal está na fase final. Por isso, no domingo, a Pública é dedicada a esta competição que começa no dia 11 de Junho. Portugal estreia-se a 15, frente à Costa do Marfim; Coreia do Norte e Brasil são os outros adversários da primeira fase. Fomos à Covilhã ouvir os sonhos dos rapazes que calçam as chuteiras de Portugal; reportagem de Hugo Daniel Sousa e Paulo Ricca. Na África do Sul pós-"apartheid" vimos que existe verdade mas falta reconciliação; reportagem de Alexandra Lucas Coelho e Pedro Cunha. Contamos a história de Didier Drogba, o carismático líder da selecção da Costa do Marfim. No estádio mais mítico do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, testemunhámos o que é a torcida brasileira. Oferecemos um poster com os 24 jogadores convocados por Carlos Queiroz e um calendário para seguir os jogos.
TEXTO: Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol nãoQuando a selecção da Coreia do Norte participou no Mundial de futebol em 1966 não tinha adeptos, mas foi adoptada de forma incondicional pela população de Middlesbrough, que os acompanhou até Liverpool para o jogo dos quartos-de-final em que perderam com Portugal. Mais de 40 anos depois, a equipa norte-coreana volta a estar num Mundial (será a segunda vez), mas não está a contar com o apoio espontâneo dos locais. Nem com o apoio presencial dos seus adeptos. O Governo de Pyongyang comprou mil bilhetes para formar um “exército voluntário de adeptos” composto por chineses para mostrar nos estádios sul-africanos as bandeiras da República Democrática Popular da Coreia. Na verdade, não serão muitos os norte-coreanos, tirando a comitiva oficial e algumas elites, que estarão nos jogos. A esmagadora maioria dos coreanos que vive acima do paralelo 38 não está autorizada a sair do país e, mesmo que estivesse, provavelmente não teria condições económicas para o fazer. Assim, os norte-coreanos estão resignados a seguir à distância a carreira dos “cholima” (é a alcunha da selecção, que é o nome de um cavalo alado mitológico), mas também não é garantido que tenham acesso às transmissões televisivas em directo dos jogos do Mundial. A estação televisiva da Coreia do Sul que detém os direitos de transmissão não vai ceder o sinal à Coreia do Norte devido às suspeitas de que o regime de Kim Jong-Il terá afundado um navio sul-coreano. A Coreia do Norte, 106. ª colocada no ranking FIFA (a pior entre as 32 selecções que estão no Mundial), pode até ser campeã do mundo de futebol sem que nenhum norte-coreano em território nacional esteja a ver. “É o desporto número 1 na Coreia, sempre foi. Acho que vão ver todos os jogos, mas penso que não os irão ver ao vivo”, diz à Pública Nick Bonner, um britânico que gere a Koryo Tours, uma agência baseada em Pequim e especializada em viagens para a Coreia do Norte. Bonner garante ter lá ido, pelo menos, uma vez por mês desde 1993, ano em que começou a organizar as viagens para um dos países mais fechados do mundo. Na verdade, os norte-coreanos têm um acesso regular a jogos das ligas europeias e sul-americanas. A televisão, controlada pelo Estado (tal como todos os outros media), transmite semanalmente jogos de várias ligas mundiais. “As transmissões são aos domingos. As ruas até estão mais sossegadas na altura em que está a dar futebol na televisão”, conta o britânico. Os norte-coreanos qualificaram-se às custas da Arábia Saudita, orientada pelo português José Peseiro, no play-off final. Segundo alguns relatos da imprensa internacional, os norte-coreanos nem sequer viram o decisivo jogo da segunda-mão em directo — só na noite seguinte, em diferido, é que terão assistido à histórica qualificação. Nick Bonner não confirma esta versão, mas revela que os norte-coreanos viram todos os jogos do Mundial 2006, por cortesia dos seus vizinhos da península, e observa que, se as relações com a Coreia do Sul se mantiverem tensas, sempre podem pedir o sinal emprestado à China. O contacto regular com as autoridades norte-coreanas para a organização das excursões facilitou a Bonner e Daniel Gordon, realizador britânico, investigarem uma das mais fascinantes histórias do futebol do século XX: o que realmente acontecera à equipa de 1966. Durante anos, nada se soube e circulavam rumores de que teriam sido castigados por terem participado em festas com muito álcool e mulheres após o jogo com Portugal nos quartos-de-final. A lenda era que haviam sido presos, torturados, alguns mesmo mortos, outros enviados para campos de trabalho. Depois de vários anos a tentar, Bonner recebeu um fax, em 2001, de Pyongyang a dar autorização para irem ao país entrevistar os sobreviventes daquela misteriosa equipa. “Depois de fazermos o documentário, até conhecemos mais jogadores”, recorda Bonner. E assim o mundo ficou a saber os destinos do elástico guarda-redes Lee Chang Myung, do avançado Pak Sung-Jin ou de Pak-Doo-Ik, o homem que marcou o golo da eliminação da selecção italiana. Os dois britânicos não só reuniram os sobreviventes (aparecem oito no filme, mais o treinador), como promoveram o regresso de todos a Middlesbrough. E todos os que aparecem no filme estão ou envolvidos no desporto, ou fazem parte do exército. Não há, no entanto, um único momento em que não apareçam com dezenas de medalhas ao peito. Os amigos de MiddlesbroughA qualificação norte-coreana para o Mundial de Inglaterra já é, em si, uma história. Na altura, para além das selecções europeias e sul-americanas, havia apenas um lugar na fase final para três continentes: África, Ásia e Oceânia. As equipas africanas retiraram-se todas da qualificação, como forma de protesto pela distribuição das vagas, tal como a Coreia do Sul. Restaram Austrália e Coreia do Norte para lutar pela vaga. Como os australianos não reconheciam a Coreia do Norte, o confronto teve de ocorrer em campo neutro, em Phnom Pehn, no Camboja. A selecção australiana estava confiante em vitórias fáceis nos dois encontros e levaram a preparação pouco a sério. Para os coreanos, era uma oportunidade única e isso mostrou-se nos resultados: 6-1 na primeira mão, 3-1 na segunda. Seria a primeira vez (e única, até 2010) que os coreanos chegavam a uma fase final de um Mundial, enquanto os australianos teriam de esperar até 1974 para lá chegar. O estatuto internacional da Coreia do Norte não ajudava em nada a vida da sua selecção de futebol. O regime comunista de Kim Il-Sung não tinha relações diplomáticas com a Inglaterra e a guerra da Coreia pertencia ainda a um passado muito recente. Como condição para poderem entrar no país, os norte-coreanos abdicaram, por exemplo, de terem o seu hino tocado antes do início dos jogos, que seriam, por esta ordem, União Soviética, Chile e Itália. Apesar de serem de um país fechado e longínquo, os norte-coreanos foram calorosamente acolhidos em Middlesbrough, a cidade que seria a sua base na fase de grupos, uma cidade industrial do Nordeste de Inglaterra. “Jogavam bom futebol — sabem, eram pequenos e uma novidade. Jogavam futebol de ataque e isto apanhou as pessoas de surpresa. Não tinham nada de defensivo e por isso as pessoas começaram a apoiá-los”, conta no documentário Dennis Barry, morador da cidade. Contra a União Soviética, os coreanos estrearam-se com uma derrota por 3-0 e o empate (1-1) que se seguiu com o Chile tinha sabor a eliminação do torneio, já que o adversário seguinte seria a poderosa Itália. Mas os italianos, que à data já tinham conquistado dois mundiais (1934 e 1938), não contaram com a organização e espírito de sacrifício dos seus pouco cotados adversários. Depois de Pak Doo-Ik marcar o golo, a “squadra azzurra” carregou e teve muitas oportunidades de dar a volta, mas os jogadores foram perdendo a confiança e o discernimento, e acabou por ser a selecção asiática a festejar juntamente com os seus amigos de Middlesbrough. Seguiu-se a selecção portuguesa, também ela com uma carreira de tomba-gigantes no torneio, deixando de fora o Brasil de Pelé. De Middlesbrough, os norte-coreanos foram para Liverpool e levaram atrás de si três mil adeptos da cidade que os acolhera. Na terra dos Beatles, não tinham alojamento marcado e foram obrigados a ficar nos quartos reservados pelos italianos numa residência de padres. Os “baixinhos com as caras iguais”, como disse José Augusto, um dos membros da equipa portuguesa, começaram por surpreender os “Magriços” de forma bastante afirmativa, colocando-se a vencer por 3-0. Mas Portugal tinha Eusébio, um dos melhores avançados do mundo, que, quase sozinho, destruiu os asiáticos, marcando quatro golos na partida dos quartos-de-final que terminaria em 5-3 para Portugal. Até ao Mundial 2002, organizado pela Coreia do Sul e pelo Japão, nenhuma equipa asiática fez melhor que eles na fase final de um Mundial. Nesse torneio, os sul-coreanos conseguiram chegar às meias-finais eliminando, sucessivamente, a Itália e a Espanha. Pelo menos numa coisa a Coreia do Sul imitou a selecção de 66 que representava um país com o qual nunca deixou de, formalmente, estar em guerra: eram a selecção fisicamente mais bem preparada para jogar no clima húmido da Ásia ocidental. Atlético Sorocaba do BrasilAo contrário da sua selecção feminina, que é a segunda melhor da Ásia e uma das melhores do mundo (sexta no ranking FIFA; a equipa portuguesa está no 41. º lugar), a selecção masculina tem pouca visibilidade internacional, para além dos jogos internacionais e de poucos jogadores que actuam no estrangeiro — dos 23 que vão estar na África do Sul, dois jogam no Japão e um na Rússia. Das competições internas, pouco se sabe para além do nome das equipas e do que é descrito no filme de Gordon e Bonner. Sabe-se, por exemplo, que uma das potências do futebol norte-coreano é o 25 de Abril. As excursões que Bonner promove também permitem algum contacto da Coreia do Norte com equipas estrangeiras, mas são, na sua grande maioria, equipas femininas que o inglês leva ao país. Em Novembro passado, já depois de garantida a qualificação para o Mundial, a selecção norte-coreana defrontou uma equipa brasileira em Pyongyang, mas não foi nem a selecção do Brasil, nem nenhuma das equipas de topo, como o Flamengo ou o Corinthians. Quem representou o futebol brasileiro foi o Atlético Sorocaba, da segunda divisão estadual de São Paulo, apresentado no placard do estádio como Brasil e com equipamentos amarelos. Como foi parar uma obscura equipa com pouca história ao país eremita? Devido às relações com uma universidade norte-coreana de Tóquio e ao facto de o clube ser propriedade da Igreja da Unificação do reverendo Sun Myung Moon, um coreano nascido da zona norte da península. “Eles queriam conhecer melhor o futebol brasileiro”, recorda à Pública Valdir Cipriani, na altura e agora vice-presidente do clube paulista. Nunca os homens do Atlético tinham jogado perante tanta gente — 80 mil espectadores no estádio Kim Il-Sung, e ficaram mais 30 mil fora do recinto — e, para todos os efeitos, era como se fosse a selecção do Brasil, o que terá motivado uma táctica cautelosa por parte do seleccionador da casa, Kim Jong-Hun. “Tecnicamente, da parte deles, foi um jogo muito na retranca. Tinham cinco zagueiros [defesas], três volantes [médios], um armador de jogo e um avançado sozinho lá na frente. Não estavam muito entrosados e tinham uma pontaria muito ruim. Nós éramos um pequeno clube de São Paulo e o que pensávamos era não perder por muitos”, conta Cipriani, que viveu durante dois anos na Coreia do Sul. O jogo acabou num empate sem golos. “Eles respeitaram-nos de mais”, observa o dirigente do clube paulista, que recorda ainda outro momento em que o treinador ficou de mão estendida quando tentou cumprimentar o seleccionador norte-coreano antes do jogo — cumprimentaram-se depois do jogo. Nos jornais do dia seguinte, acrescenta Cipriani, nem uma palavra sobre a partida. A propagandaNo documentário de Bonner e Gordon, os jogadores recordavam um encontro com Kim Il-Sung que, dizem, os inspirou para os feitos em 1966. O filme mostra, inclusive, um momento em que os sobreviventes dessa equipa são levados até uma grande estátua do “presidente eterno” e quase todos começam a chorar. Para o Mundial 2010, todas as poucas declarações públicas de jogadores e treinadores da Coreia do Norte falam do “Querido Líder” como uma fonte de inspiração. A propaganda difundida no país pelo Governo de Pyongyang reforça este sentimento. “O que aconteceu este ano prova, mais uma vez, que a liderança experiente do secretário-geral Kim Jong-Il e a sua grande devoção patriótica são a fonte de todas as vitórias, milagres e força inesgotável”, lia-se numa nota publicada pela agência de notícias norte-coreana. A máquina de propaganda funciona, essencialmente, para o interior. O sucesso na manutenção do regime está na sua capacidade de controlar a informação que chega aos cidadãos, que apenas recebem dados fornecidos pelo Estado e não têm acesso à Internet. E o futebol também serve para passar a mensagem. Por exemplo, durante a qualificação asiática, após um confronto entre as duas Coreias na China, a federação norte-coreana acusou a sua contraparte de Seul de ter envenenado os seus jogadores. “Os principais jogadores da República Democrática Popular da Coreia não se conseguiam levantar por causa de vótimos, diarreia e dores de cabeça. […] Pode ser dito, sem qualquer dúvida, que tal foi provocado por um acto deliberado de adulteração dos alimentos”, dizia, em comunicado, a federação norte-coreana, que acusava ainda o árbitro de “trabalho seriamente tendencioso”. Mas os norte-coreanos são realistas sobre as possibilidades do seu futebol contra potências como o Brasil, Portugal e Costa do Marfim, os seus adversários da primeira fase — o Brasil será o primeiro adversário, a 15 de Junho. Ainda assim, esperam emular os feitos dos heróis de 1966. “Depois de derrotar as probabilidades com a nossa qualificação, queremos espantar o mundo do futebol”, diz Jong Tae-Se, avançado dos japoneses do Kawasaki Frontale. Jong é um dos poucos jogadores conhecidos da equipa norte-coreana, um avançado de 26 anos forte, a quem chamam o Wayne Rooney da Ásia, por a sua entrega ao jogo ser semelhante à do jogador do Manchester United. Jong nasceu no Japão e diz-se que tem origens norte-coreanas, emboram outras fontes digam que os seus pais são da Coreia do Sul — parece, no entanto, certo que tenha estudado num colégio norte-coreano em Tóquio. O estilo de jogo dos norte-coreanos do presente contrasta bastante com o espírito ofensivo dos seus antecessores. Jogam apenas com um avançado e utilizam um superdefensivo sistema com cinco defesas. Tal táctica valeu-lhes, no entanto, terem sofrido apenas dois golos na fase de apuramento. “Jogamos um futebol feito de velocidade e boa técnica, de acordo com os padrões do futebol moderno, que incluem grande resistência física. O nosso espírito é um factor de união entre os jogadores. Apesar de a tendência global ser um futebol mais de ataque, o nosso estilo defensivo é o que melhor se adapta aos nossos jogadores”, reconhece o seleccionador norte-coreano. Nick Bonner acredita que ninguém tem mais a provar ao mundo que a Coreia do Norte e que, só isso, pode reduzir a diferença para os adversários mais poderosos: “Todos vão jogar a 100 por cento, a Coreia do Norte vai jogar a 110 por cento. Estão nos lugares de baixo da hierarquia e vão jogar por um país que é pária. Espero que o futebol seja mais forte que a política. ”
REFERÊNCIAS:
Manuel “Palito” levantava-se de madrugada para perseguir a ex-mulher
O homem que esteve fugido 34 dias ficou em prisão preventiva e não falou ao juiz. À chegada foi recebido por uma multidão que o aplaudiu. A GNR fechou ruas com um forte dispositivo onde nem faltaram homens a cavalo. (...)

Manuel “Palito” levantava-se de madrugada para perseguir a ex-mulher
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 11 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: O homem que esteve fugido 34 dias ficou em prisão preventiva e não falou ao juiz. À chegada foi recebido por uma multidão que o aplaudiu. A GNR fechou ruas com um forte dispositivo onde nem faltaram homens a cavalo.
TEXTO: Manuel Baltazar passou a perseguir a ex-mulher quase todos os dias nos últimos cinco anos, após esta ter decidido separar-se dele face a um quadro de violência doméstica. O alegado homicida de Valongo dos Azeites, que terá baleado mortalmente a ex-sogra, a tia e ferido a ex-mulher e a filha de ambos, ficou esta quinta-feira em prisão preventiva. Foi inquirido durante cerca de duas horas ao final da tarde, mas remeteu-se ao silêncio perante o juiz que o indiciou por quatro crimes de homicídio, dois deles na forma tentada. Apesar de ser considerado perigoso pelas autoridades e estar fortemente indiciado pelos crimes, o homem também conhecido como Manuel “Palito”, que esteve fugido 34 dias foi recebido como uma espécie de herói popular. À sua chegada, foi aclamado por mais de 200 habitantes locais, que o esperavam. Tiraram fotos com os telemóveis, bateram palmas e também assobiaram, mas numa manifestação de apoio. Ninguém o criticava e alguns até o elogiavam. A GNR mobilizou dezenas de elementos para o local, para fazer segurança e a delimitar a entrada do tribunal. Enviou para ali alguns dos mesmos militares a cavalo que, durante mais de um mês, não encontraram o suspeito. As ruas foram fechadas e quase ninguém conseguiu entrar no tribunal onde vários julgamentos foram adiados. Tudo por Manuel Baltazar. O homem, agricultor e com 61 anos, chegou pelas 15h20 ao Tribunal de São João da Pesqueira, mas só começou a ser inquirido pelas 18h. Até lá, o tribunal teve de arranjar-lhe um advogado oficioso, já que não tinha um nomeado. A medida de coacção, a mais gravosa (prisão preventiva), só foi conhecida à saída do tribunal, pelas 20h. Minutos depois a Polícia Judiciaria arrancou de imediato com Manuel Baltazar, cabisbaixo, em direcção à cadeia de Vila Real. A partir de Fevereiro de 2009, altura em que o casal se separou, o alegado homicida passou a levantar-se de madrugada para ver por onde a ex-mulher andava e para exercer coacção sobre ela, de acordo com o processo relativo aos episódios de violência doméstica ao qual o PÚBLICO teve acesso. Neste processo fica ainda claro que a pulseira electrónica, através da qual Manuel Baltazar era vigiado pelos serviços prisionais, visava impedi-lo de se aproximar da ex-mulher. Sem êxito, como se viu. A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, porém, afirmou nesta quinta-feira que o facto Manuel Baltazar ter cortado a pulseira electrónica, antes de praticar os crimes, não coloca em causa a utilização deste mecanismo de vigilância. Ainda de acordo com o processo, muitas vezes o arguido começava a perseguir a mulher logo pelas 6h de quase todos os dias. Depois de o divórcio ter sido decretado, passou a persegui-la “na rua e nos locais” onde a ex-mulher trabalhava, para a “ameaçar e amedrontar”. Chegava mesmo a ameaçar quem dava trabalho à ex-mulher, para a privar de meios de subsistência e a controlar. Por essa altura, Fevereiro de 2009, a ex-mulher estava numa casa abrigo da APAV, em Vila Real. Porém, teve de fugir dessa casa, onde esteve oito meses, até Agosto, quando Manuel Baltazar descobriu a sua localização. Foi, então, morar para uma casa de Peso da Régua, onde se achava mais segura. Certo é que, por esses dias, foi também localizada junto de uma paragem de autocarro onde aguardava transporte para o trabalho. Voltou a ser agredida e ameaçada de morte, o que não lhe era de todo novidade. Ainda quando morava com o ex-companheiro foi ameaçada com uma arma para voltar a dormir no quarto do casal. Antes disso, a 5 de Dezembro de 2011, foi o filho de ambos, de 30 anos, quem Manuel Baltazar ameaçou com uma arma, apontada ao peito, durante uma apanha de azeitona em Valongo dos Azeites. “Se queres matar, mata-me a mim”, disse a ex-mulher que intercedeu pelo filho. Esta actuação do arguido poderá explicar a circunstância de vários advogados terem sucessivamente recusado defender Manuel Baltazar em tribunal, como consta no processo. De acordo com a mesma fonte documental, Manuel Baltazar, que chegou a ter quatro espingardas e inúmeras munições em casa, ameaçava todos os familiares da ex-mulher e amigos que a defendessem. Não abria qualquer excepção, nem para os próprios filhos e incompatibilizou-se com dois dos quatro irmãos com quem deixou de falar. O relatório social apenso ao processo descreve-o como pouco sociável e aponta-lhe uma obsessão em relação à ex-mulher com quem esteve casado 25 anos. “Um e outro jurámos ser fiéis até que a morte nos separasse. Não sei por que ela quis o divórcio. Está deprimida e inventa coisas”, referiu o arguido durante uma das inquirições em tribunal relacionadas com os crimes de violência doméstica.
REFERÊNCIAS:
Só “reformas credíveis” podem travar o populismo, em Itália e na Europa
“Se a Europa me explica em detalhe como é que eu devo pescar um peixe-espada e não me diz nada sobre a forma de salvar um imigrante que se afoga, isto quer dizer que há qualquer coisa que não está bem”, diz o primeiro-ministro italiano. (...)

Só “reformas credíveis” podem travar o populismo, em Itália e na Europa
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 9 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Se a Europa me explica em detalhe como é que eu devo pescar um peixe-espada e não me diz nada sobre a forma de salvar um imigrante que se afoga, isto quer dizer que há qualquer coisa que não está bem”, diz o primeiro-ministro italiano.
TEXTO: Nas eleições de há uma semana teve o melhor resultado de sempre do centro-esquerda em Itália e mais votos do que qualquer outro partido europeu, 40, 8%. Mas não é por isso que Matteo Renzi, primeiro-ministro não eleito desde Fevereiro, decidiu ignorar os adversários internos: o Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, e a direita, liderada ainda por Silvio Berlusconi. Grillo, diz, não está acabado, “teve um resultado inferior às suas expectativas” mas “só estará acabado se nós fizermos reformas e formos credíveis”. “Se queremos salvar a Europa temos de a mudar. Mesmo se o PD [Partido Democrático] foi de todos os partidos europeus o que obteve o melhor sufrágio, mesmo se tivemos uma abstenção fraca, isso não significa que os eleitores estejam a favor do statu quo. Esta mobilização não é uma aspiração ao imobilismo”, disse Renzi numa entrevista aos jornalistas da rede europeia (Le Monde, Süddeutsche Zeitung, The Guardian, La Stampa e El País). Recusando dar lições aos outros líderes europeus ou afirmar-se como “um novo líder para a esquerda europeia” (“Não tenho receitas para os outros”) com solução pronta para combater o eurocepticismo, Renzi tem ideias para mudar a Itália e espera que isso contribua para mudar a Europa. E tem, também, o seu projecto europeu: “O que posso dizer é que é preciso mostrar os aspectos mais sedutores da Europa do serviço cívico, Erasmus e Estados Unidos da Europa, que continuam no meu horizonte”. Para que isto seja possível, defende, “é preciso que as pessoas voltem a interessar-se pela coisa pública e que consigamos acordar em objectivos comuns”. Uma das suas prioridades – já referida e que diz ir desenvolver quando falar no Parlamento Europeu, a 2 de Julho – passa pela política energética europeia, o que implica “a criação de equipas, que a infra-estrutura seja posta em rede”. Mas isso não basta. Renzi recusa apoiar um candidato à liderança da Comissão Europeia, preferia conhecer programas em vezes de rostos e desses escolheria quem apresentasse uma estratégia para combater o desemprego. “O próximo presidente da Comissão deve amar a Europa. Mas hoje, quem ama realmente a Europa sabe que ela não funciona. Deve amar a Europa com o olhar de um inovador. ”Numa altura em que todas as semanas são resgatados centenas de imigrantes pela guarda costeira italiana junto à ilha de Lampedusa (enquanto tantos outros se afogam a tentar alcançar a porta de entrada na Europa), o líder italiano diz que o seu país “não pede nada à Europa” neste campo. O que a UE devia fazer, defende, é pedir à ONU que tome medidas na Líbia (de onde partem muitos destes imigrantes árabes ou subsarianos) e, de forma mais geral, “procurar desenvolver uma capacidade maior na gestão dos fluxos migratórios”. Alma, desafios e sonhosDe resto, quanto à imigração, a Itália de Renzi continuará a fazer o que tem feito: “salvar os imigrantes” que consegue. “Deixar morrer crianças no Mediterrâneo é uma afronta à moral e às regras marítimas”, diz. “Se a Europa me explica em detalhe como é que eu devo pescar um peixe-espada e não me diz nada sobre a forma de salvar um imigrante que se afoga, isto quer dizer que há qualquer coisa que não está bem”, afirma. Depois, usa um termo que repete várias vezes durante a entrevista – “alma”. “Eu trabalho para dar uma alma à Europa e espero que o Partido Socialista Europeu esteja consciente deste problema. A questão é não ser ou deixar de ser um líder mas devolver a esperança”, defende. “E isso não é simples, sobretudo numa Europa que, nos últimos anos, perdeu o sentido da aventura, dos desafios e dos sonhos. E aqui o papel dos partidos é fundamental. ”É também a isto que Renzi atribui o seu resultado nestas europeias, explicando que conseguiu trabalhar a caminho da estabilidade ao mesmo tempo que foi rápido a avançar com reformas de que a Itália precisava há muito: a nova lei eleitoral já está aprovada; o texto base da reforma da Constituição também; a reforma da legislação laboral foi iniciada, seguir-se-á a da Administração Pública. Quanto ao seu futuro e ao da Itália, lembra que é “um país capaz de tudo, do bom e do mau, da genialidade e da loucura”. E é também por isso que “a atitude típica de superioridade moral e intelectual da esquerda não corresponde à realidade do país”. Se venceu, e como venceu, diz Renzi, foi por “ ter feito uma campanha de cara descoberta, no meio das pessoas”, “sem ignorar ninguém”.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU UE
O nosso corpo é aquilo que quisermos
Este domingo, em Serralves, vamos ver a artista e compositora Fatima Al Qadiri como nunca a vimos antes. No programa O Museu como Performance, apresenta Shaneera: o disco, a performance, a personagem. Uma party animal hipermaquilhada, através da qual questiona a performatividade de género e celebra a liberdade sexual. (...)

O nosso corpo é aquilo que quisermos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este domingo, em Serralves, vamos ver a artista e compositora Fatima Al Qadiri como nunca a vimos antes. No programa O Museu como Performance, apresenta Shaneera: o disco, a performance, a personagem. Uma party animal hipermaquilhada, através da qual questiona a performatividade de género e celebra a liberdade sexual.
TEXTO: Foi no mínimo surpreendente, no máximo muito, muito bizarro, perceber que aquela pessoa hipermaquilhada na capa do último disco de Fatima Al Qadiri era a própria Fatima Al Qadiri. Batom amarelo-laranja, sombra prateada aplicada sem moderação, brilhantes do pescoço até à roupa. Olhar matador. Nunca a tínhamos visto assim, nunca a tínhamos sequer imaginado assim. Ela, provavelmente, também não. “É uma forma de extrema de feminilidade que eu evitei durante toda a minha vida”, diz ao Ípsilon a compositora, produtora de música electrónica e artista visual nascida no Senegal e criada no Kuwait, actualmente a viver em Berlim. “Gosto de vestir roupas de homem. Uso batom duas vezes por ano, máximo dos máximos [risos]. Foi uma transformação completa para mim. ”Esta transformação tem um nome: Shaneera, que é simultaneamente o alter ego femme diabólico e extravagante de Fatima Al Qadiri e o título do seu mais recente EP, lançado em 2017 pela Hyperdub, editora de Kode9 que alberga outros músicos altamente recomendáveis, como Burial, Laurel Halo e Jessy Lanza. É com este disco e com esta persona que a artista se apresenta no auditório do Museu de Serralves, este domingo às 22h30, no encerramento da quarta edição do programa O Museu como Performance. Vai ser muito diferente da sua última passagem por Portugal, em 2016, no Festival Neopop. Porque as coisas estão diferentes. Com este trabalho, Fatima Al Qadiri viu-se “pela primeira vez” como uma performer. “Sempre me vi enquanto compositora, nos bastidores. Agora estou a actuar, estou em palco. Foi preciso metade deste ano para perceber como fazer esta performance; como passar isto para uma coisa ao vivo. ”Fatima pôs “muito trabalho nisto” – incluindo horas e horas a ver tutoriais de maquilhagem – e “muita ansiedade”. Mas acabou tudo bem. “É tão diferente de tudo o que fiz antes e é muito desafiante psicologicamente, fisicamente e tecnicamente. ” Nunca a tínhamos visto assim, dizíamos, e também nunca a tínhamos ouvido assim: as cinco canções de Shaneera são verdadeiros bangers para a pista de dança, tiro e queda, povoadas por um hedonismo feérico e luciferino, sempre ondulante, sempre sinuoso. É volúpia que lateja nos cantos escuros de uma festa onde o relógio parou. É excentricidade e júbilo bem calibrados por “batidas ocidentais” (molda-se as batidas graníticas do grime e os socalcos do trap), “melodias árabes” com vozes a condizer e “instrumentos de percussão do Golfo [Pérsico]”, muitos deles associados à música khaleeji, mas sem pretensões de registo etnográfico (ela gosta de estar cá e lá, suspensa entre mundos). “Foi muito divertido fazer um disco totalmente para dançar. Acho que nunca tinha feito nada assim, e isso foi outro desafio técnico para mim”, assinala a autora. “Não há uma canção que seja mais calma. ” Isto é o espírito Shaneera a acontecer. “Ela tem montes de energia. É uma party animal do mal, sabes?”O termo Shaneera surgiu por brincadeira entre o grupo de amigos de Fatima Al Qadiri, no Kuwait. É uma pronunciação errada e anglicizada da palavra árabe "shanee’a", que significa “escandaloso, perverso, abominável”. Fatima e os amigos apropriaram-se deste termo e subverteram a carga negativa que lhe está associada, dando-lhe uma roupagem queer, benigna, celebratória. “Shaneera é uma personagem que é uma espécie de rainha malvada. É como um espírito do mal que te possui, mas da melhor maneira possível. Qualquer pessoa pode activar a Shaneera dentro de si. ” Apesar de a artista usar pronomes femininos quando se refere a Shaneera – sempre que pode, faz questão de “feminizar” a língua –, o termo refere-se, na verdade, a uma persona que desafia os padrões binários e naturalizados da identidade e da expressão de género, desestabilizando a cisheteronorma. “Tenho estado fascinada por esta persona há muito tempo”, revela Fatima. Essa “obsessão” (a primeira de muitas de que nos fala, sempre entre risadas generosas e piadas bem metidas) começou com os desenhos animados. “Muitos vilões são um bocado camp. São um bocado femininos, o que é super interessante. O exemplo mais presente na minha vida é o Jafar [de Aladino]. Ele é 100% Shaneera. A voz, o visual, o traço do desenho; todo o conjunto. ” Outra obsessão que levou Fatima a delinear este alter ego foi uma tendência de maquilhagem exagerada que fez furor entre muitas mulheres do Kuwait no início dos anos 2000 e que serviu de inspiração directa para o look da capa do disco e das performances. “Era a loucura”, recorda a artista. Estava em todo o lado, dos salões de cabeleireiro às ruas, até aos sectores mais burocráticos do país. “Nunca me vou esquecer daquela vez em que aterrei no aeroporto do Kuwait e em que mostrei o meu passaporte a uma agente do departamento de imigração que estava com este tipo de maquilhagem. Quase que me passei! Estava tão impressionada com o facto de ser ok uma pessoa que vê os passaportes poder estar assim. ”Enquanto no Ocidente este visual de feminilidade hiperbólica e performática é lido principalmente como uma manifestação algo transgressora característica das e dos drag queens, no Kuwait foi simplesmente o pão nosso de cada dia durante um determinado período – o que muito pertinentemente põe em causa definições hegemónicas que julgamos serem verdades absolutas (as heranças do colonialismo estão sempre ao virar da esquina). “Em árabe não temos a palavra 'drag'; o equivalente é draga. Para mim, a minha imagem na capa do disco não é sequer draga. É um feminino extremo”, afirma Fatima. Afinal, como diz a escritora e filósofa Judith Butler, o “género é performance”. “O drag é, na verdade, uma performance de género exagerada. Mas a performatividade extrema de género é, muitas vezes, a norma no Kuwait”, aponta Fatima. E, de outros modos, acaba também por ser a norma na imagética ligada às estrelas pop, nota a compositora, que representam tantas vezes “o derradeiro homem” e a “derradeira mulher” de forma profundamente essencialista e normativa. “A capa do meu disco também foi inspirada nas capas de álbuns das estrelas pop femininas, que são as mulheres mais mulheres que existem. No Ocidente começas a ver uma pequena revolução contra este binário, mas ainda é muito assim no mundo árabe. ”Todas as canções de Shaneera, o EP, são cantadas em árabe por vocalistas não-profissionais, amigos de Fatima Al Qadiri: Bobo Secret, Lama3an, Chaltham e Naygow. Um é arquitecto, outro trabalha nas finanças, a profissão de um deles tem de ficar no anonimato. À excepção de Chaltham, também conhecido por Khalid al Gharaballi, colaborador e cúmplice de longa data da artista, em duo e no colectivo GCC, todos usam nomes falsos – e ela diz-nos “que não pode falar muito sobre isso” para não os meter em sarilhos. Já bastaram os “muitos, mesmo muitos, comentários homofóbicos repugnantes” que se desenrolaram após o lançamento do disco. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As letras, “meio improvisadas”, incluem material sacado de chats do Grindr (aplicação de encontros LGBT) e de sketches de comédia drag. Fatima queria ter feito um disco sexualmente ainda “mais gráfico”, mas teve de censurar algumas partes “obscenas” por respeito à mãe, que vive no Kuwait, para não lhe arranjar problemas. “Ela ouviu as letras e disse ‘nem pensar, minha menina!’. Não quero dar-te exemplos daquilo que cortei, vou deixar isso para a minha autobiografia [risos]. Ou para quando tiver cidadania de outro país. ”Fatima Al Qadiri sempre fez ecoar nos seus projectos as suas inquietações políticas. No álbum Brute (2016) explorava a questão da violência policial, inclusive contra o movimento Black Lives Matter, e o direito ao protesto. No EP Desert Strike (2012) processava as memórias da primeira Guerra do Golfo (1990-1991), que viu a partir da janela de casa quando tinha nove anos, enquanto se viciava em videojogos para manter alguma sanidade mental – ao mesmo tempo que “ficava obcecada” por um teclado Casio, com o qual começou a fazer música. Agora, Shaneera sacode a melancolia. É um de grito de resistência, afecto e celebração dirigido ao seu círculo de amigos – e, por arrasto, uma carta de amor às comunidades queer e não-binárias do mundo árabe, que vão ganhando cada vez mais espaço de manobra nas redes sociais. A canção Spiral e o respectivo vídeo – inspirados numa cena de dança do ventre excêntrica q. b. do filme Ayazon (2006), que se tornou “num hino queer não-oficial do mundo árabe” – funcionam como um resumo do “tema principal” do disco, diz Fatima. “Viver a vida ao máximo e estares a cagar-te para o que as pessoas pensam. ” Isto também é ser 100% Shaneera.
REFERÊNCIAS:
Étnia Árabes
“Isto não é uma inauguração do MAAT”
Com a reabertura, o novo museu da EDP inaugura a sua exposição-manifesto. Utopia/Distopia ocupa as quatro galerias. Numa delas, o mexicano Héctor Zamora propõe destruir ao vivo sete barcos de pesca portugueses. (...)

“Isto não é uma inauguração do MAAT”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a reabertura, o novo museu da EDP inaugura a sua exposição-manifesto. Utopia/Distopia ocupa as quatro galerias. Numa delas, o mexicano Héctor Zamora propõe destruir ao vivo sete barcos de pesca portugueses.
TEXTO: Quase podíamos dizer que Miguel Coutinho, director da Fundação EDP, encarnou esta terça-feira René Magritte e a sua célebre pintura, Ceci n'est pas une pipe, para negar aquilo que estávamos a ver: o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) finalmente terminado. À frente das novíssimas recepção e loja, com o merchandising do MAAT já no lugar, Miguel Coutinho começou o encontro com os jornalistas sublinhando a frase, com alguma ironia, e transformando-a num aviso-slogan: “Isto-não-é-uma-inauguração-do-MAAT. Isso, se bem se lembram, foi em Outubro. Isto é a inauguração de três exposições, momento muito interessante e relevante para a Fundação EDP. Esperamos que o MAAT e o seu campus se transformem num pólo de cultura e lazer de Lisboa. ”O novo museu da EDP teve uma soft opening no início de Outubro, para coincidir com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, e fazer a apresentação do novo edifício do campus da EDP, desenhado pela arquitecta britânica Amanda Levete. Agora, chamava a atenção Miguel Coutinho, ao lado do director do museu, Pedro Gadanho, é tempo de nos focarmos nos conteúdos. O novo edifício encerrou a 6 de Fevereiro, mantendo-se em funcionamento só o espaço MAAT-Central, que corresponde ao antigo edifício da Central Tejo, para reabrir com três novas exposições e as performances de Michelangelo Pistoletto, um nome histórico da Arte Povera, e Allard van Hoorn. “Estamos finalmente a ocupar integralmente todo o edifício”, explicou Pedro Gadanho. Ao contrário do que acontecia em Outubro, quando o espaço foi visto “em estado puro”, o que se descobre agora com a exposição Utopia/Distopia é um layout possível para a Galeria Principal, “em que vários volumes quebram uma escala difícil de controlar”. A mostra agrega também as outras duas galerias disponíveis no piso inferior, o Project Room e o Video Room. Gadanho chama-lhe uma exposição-manifesto, a única, acrescenta, que no horizonte dos próximos dois ou três anos vai usar todos os espaços disponíveis no novo edifício, inclusive a Galeria Oval, situada no piso da entrada, onde começou o encontro com os jornalistas. Exposição-manifesto também porque vai explicar com a ambição de um gesto fundador o que quer ser o MAAT, “onde artistas e arquitectos são colocados ao mesmo nível intelectual”. “Uns não são convidados dos outros. Precisamos de inverter a tendência e afirmar a função cultural da arquitectura”, argumenta, resgatando-a de uma dimensão meramente “funcional”. Com curadoria de Gadanho, João Laia e Susana Ventura, Utopia/Distopia junta cerca de 60 artistas e arquitectos, nacionais e estrageiros, em cinco secções: Cidades Ideais?, Ruínas da Modernidade, Visões Tecnológicas, Utopias Pessoais, A Situação Corrente. O tema da exposição é devedor dos 500 anos da Utopia de Thomas More, que logo em 1516 evocava um espaço imaginário para dar corpo aos projectos alternativos de sociedade. Utopia/Distopia chama a atenção para a substituição da tradição utópica pela ideia de um progresso distópico. Algumas das obras resistem à distopia, propondo micro-utopias ou as utopias realizáveis, de que falava Yona Friedman. Utopia/Distopia tem um prólogo que é, na verdade, uma outra mostra: Ordem e Progresso, uma instalação-performance na Galeria Oval do artista mexicano Héctor Zamora, com curadoria de Inês Grosso e apresentada em parceria com a BoCA Bienal e a Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana de Cultura. Sete barcos, entre traineiras e lanchas de madeira, foram recolhidos em cidades e vilas piscatórias portuguesas, de Sesimbra a Aveiro, passando por Ericeira, Nazaré e Figueira da Foz. Um recebeu o nome de Abutre, outro de Paraíso Encantado. Ordem e Progresso é a divisa inscrita na bandeira do Brasil, onde o artista viveu, mas recua também até ao pensamento positivista de Auguste Comte e às suas promessas de que depois da ordem virá o progresso. Héctor Zamora explica que a instalação dos sete barcos na Galeria Oval é apenas o começo. Na quarta-feira, com início marcado para as 18h, está prevista a parte da performance, em que 30 operários vão destruir os sete barcos com marretas, martelos e machados. “O progresso é os barcos a serem destruídos. Portugal não existiria sem esta relação tão íntima com o mar, uma das bases da sua cultura é a pesca, mas a indústria global e as quotas impostas pela Comissão Europeia estão a fazer desaparecer a pesca tradicional. ” O barco, que é um símbolo universal de viagem, representa também a tragédia do que está a acontecer no Mediterrâneo com os imigrantes. Ao contrário do que acontecia com a instalação que anteriormente ocupou a Galeria Oval, o público vai ficar de fora a assistir à performance, que como o artista explicou teve a sua apresentação original em Lima, no Peru, em 2012, e uma segunda versão no Palais de Tokyo, Paris, em 2016. Com essa disposição, explica a curadora Inês Grosso, evocam-se as naumaquias do império romano, memória sublinhada pela forma oval da galeria. Essas batalhas navais, que faziam a apologia da violência, têm uma declinação neste “espectáculo brutal”. Somos convidados a assistir ao “abate” dos sete barcos, para usar o termo da burocracia de Bruxelas. Os operários que vão executar o espectáculo são trabalhadores da construção civil. “Esperamos que na sua maioria sejam imigrantes negros, que trarão mais uma camada de leitura possível à obra. ” No MAAT, depois da performance desta quarta-feira, ficará apenas disponível o registo sonoro, ao lado dos destroços dos barcos, enquanto o vídeo terá a sua vida na Internet. Utopia/Distopia continua no andar inferior com uma imagem da gravura que fez o frontispício da primeira edição da obra de Thomas More. Outras cidades (ideais) que aqui aparecem? A síntese de várias cidades de vanguarda do WAI Think Tank, um atelier de Beijing, a Lagos do vídeo 360º, do arquitecto e artista de origem nigeriana Olalekan Jeyifous, ou a feira de cubos de açúcar do artista português Rodrigo Oliveira, que faz parte da colecção EDP. Pedro Bandeira, numa colaboração com o colectivo 18:25, já em plena secção dedicada às Ruínas da Modernidade, mostra um dos seus “projectos específicos para clientes genéricos”, em que interpela lugares da cidade do Porto que podiam ter outros usos. Desta vez, transforma o Pavilhão Rosa Mota num jardim tropical. Explora a distância curta entre utopia e distopia, numa peça intitulada Paraíso que é também um crítica ao turismo contemporâneo. Como explicou João Laia, as secções pretendem ser fluidas, híbridas e com muitas contaminações. Quem vê a exposição “tem de ter isso presente conceptualmente e espacialmente”. Também nas Ruínas da Modernidade encontramos o vídeo de Cyprien Gaillard, Pruitt Igoe Falls, que refere no seu título o infame complexo habitacional construído nos anos 50 em Saint Louis, nos Estados Unidos, e deitado abaixo em 1972. A última data foi usada posteriormente para assinalar a morte da arquitectura moderna. O autor do complexo, Minoru Yamasaki, é também o arquitecto das Torres Gémeas, destruídas em 2001 por um ataque terrorista. O trabalho de Timo Arnall, assinala Pedro Gadanho, “é capaz de ser a peça mais angustiante de toda a exposição” e está na secção Visões Tecnológicas, dedicada às questões das utopias tecnológicas vistas muitas vezes como soluções milagrosas. Somos colocados no ponto de vista de robôs que tentam mapear a realidade envolvente, espelhando o controlo do espaço urbano pela Inteligência Artificial. Ausente da exposição está o trabalho da artista alemã Hito Steyerl, que não foi possível trazer a Lisboa. Acabou por cair, explica o director do museu, porque na montagem de uma exposição há sempre adaptações a fazer. Do MoMA, por exemplo, em vez de viajar o original de 1968 do arquitecto Arata Isozaki, Re-ruined Hiroshima, project, Hiroshima, Japan (Perspective), que obriga a despesas grandes com seguros, está exposta uma reprodução. “Mas temos originais fantásticos como o do Aldo Rossi. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pedro Gadanho sublinhou também a importância de o MAAT chamar curadores externos para programar espaço e conteúdos. A colecção EDP, tema da terceira nova exposição a abrir agora ao público, é olhada por Inês Grosso (interna) e Luiza Teixeira de Freitas, numa exposição intitulada O Que Eu Sou. À excepção do director, os quatro curadores andam todos na casa dos 30 anos, porque, como disse em Outubro Gadanho, é preciso trazer pessoas mais novas para a curadoria em Portugal. Faltavam os últimos pormenores, como desmontar as protecções do estaleiro, mas o jardim do novo museu da EDP ficou pronto esta semana, e chegou com a Primavera. “Está todo plantado e já está concluído”, comentava o director da Fundação EDP, Miguel Coutinho, na conferência de imprensa de reabertura do MAAT. Inaugurado em Outubro, o novo museu da EDP encerrou no início de Fevereiro para acabar definitivamente os trabalhos e preparar as novas exposições que agora abrem ao público. Já a ponte pedonal do MAAT, que ligará a zona ribeirinha a Belém sobre a linha de comboio, promete estar pronta em Maio ou Junho. “Mais Junho do que Maio. A montagem, que é a parte mais fácil, deve ser rápida”, continua Miguel Coutinho. Esta semana deve também ficar escolhida a empresa que vai ficar com a concessão do restaurante, com uma vista deslumbrante sobre o rio. A Fundação EDP fez quatro convites e já recebeu as propostas. O restaurante-cafetaria deve abrir em Outubro ou Novembro. A colecção EDP de arte contemporânea, tratada numa das três exposições agora inauguradas, dispõe este ano de 200 mil euros para fazer aquisições, disse ao PÚBLICO Miguel Coutinho.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte violência cultura ataque corpo abate
Falta de verbas para desassoreamento ameaça encerrar portos do Norte
A informação está a indignar os pescadores, que renovam a ameaça de bloquearem por tempo indeterminado o porto de Leixões: não há nenhuma intervenção de desassoreamento prevista para os portos de mar entre a Póvoa de Varzim e Caminha, onde a acumulação de areias já está a pôr em causa a actividade piscatória. (...)

Falta de verbas para desassoreamento ameaça encerrar portos do Norte
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A informação está a indignar os pescadores, que renovam a ameaça de bloquearem por tempo indeterminado o porto de Leixões: não há nenhuma intervenção de desassoreamento prevista para os portos de mar entre a Póvoa de Varzim e Caminha, onde a acumulação de areias já está a pôr em causa a actividade piscatória.
TEXTO: A garantia foi dada por um dirigente do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM) ao presidente da associação de pescadores de Vila Praia de Âncora, Vasco Presa, na última semana. Os pescadores foram então avisados de que o instituto não tem qualquer indicação para avançar com dragagens nos portos da Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Esposende, Castelo de Neiva, Vila Praia de Âncora e Caminha. Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Associação Pró Maior Segurança dos Homens do Mar, José Festas, referiu que já tinha ficado com esta ideia numa reunião, em Novembro, com a ministra do Ambiente. Assunção Cristas terá dito na altura, segundo José Festas, que não havia dinheiro para avançar com as dragagens fundamentais para manter os portos de mar em actividade. O PÚBLICO tentou ouvir o IPTM e o Ministério do Ambiente sobre esta questão, mas não obteve respostas até ao fecho desta edição. Em Outubro, via email, o presidente do conselho directivo do IPTM, João Carvalho, informou que a dragagem de todos os portos sob a sua administração, prevista para 2012, estava dependente da "existência de verbas correspondentes". Estas informações, sobre a impossibilidade de realizar as intervenções por falta de disponibilidade financeira, são contraditórias relativamente às garantias recentemente avançadas pelo eurodeputado José Manuel Fernandes de que há fundos comunitários disponíveis para o desassoreamento dos portos de mar portugueses. Em Dezembro, este eurodeputado do PSD, eleito por Braga, declarou ter sido informado, pela comissária europeia para os Assuntos do Mar e das Pescas, Maria Damanaki, da existência de fundos comunitários, disponíveis através do Feder - Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional, passíveis de afectação às dragagens, que classificou como "prioritárias". José Manuel Fernandes alertava para a importância de aproveitar imediatamente as ajudas de Bruxelas, porque, argumentou, através do Feder era possível obter uma comparticipação de 95% para desassorear os portos de mar portugueses. Em declarações ao PÚBLICO, o eurodeputado acrescentou que o desassoreamento dos portos de mar do Norte do país, entre Caminha e a Póvoa de Varzim, era apenas uma questão de "vontade política". Acidentes omitidosImpedidos pela areia de irem ao mar, mesmo em dias de bom tempo, e sem soluções à vista, os pescadores começam a dar sinais de desespero. "Se até ao Verão a situação não estiver resolvida, pode haver uma guerra civil. Isso é garantido!" A ameaça é feita pelo presidente da Associação Pró Marior Segurança dos Homens do Mar. José Festas garante que os pescadores estão "dispostos a tudo", até a bloquear, por "tempo indeterminado", o porto de Leixões. O aviso surge numa altura em que os portos de pesca do Norte estão em risco de encerrarem, por falta de condições de segurança. A acumulação de areias é tal que as barras estão constantemente fechadas, impedindo os pescadores de trabalhar. Segundo os números avançados por José Festas, em causa está a continuidade da laboração de cerca de mil embarcações e três a quatro mil homens. Em Vila Praia de Âncora, onde está um dos portos mais assoreados, metade da frota de 30 barcos já está parada. O presidente da associação local de pescadores, Vasco Presa, adianta que muitos dos profissionais, desempregados, já emigraram. Conta que ele mesmo já teve de despedir dois dos quatro tripulantes do seu barco.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Pedro Costa leva a Locarno o testamento do sr. Ventura
Cavalo Dinheiro é uma fantasmagoria opaca e sumptuosa que tem deixado a imprensa internacional perplexa, entre a rendição e a confusão (...)

Pedro Costa leva a Locarno o testamento do sr. Ventura
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cavalo Dinheiro é uma fantasmagoria opaca e sumptuosa que tem deixado a imprensa internacional perplexa, entre a rendição e a confusão
TEXTO: Desde Juventude em Marcha (2006), a última das três “longas das Fontainhas”, que Pedro Costa fez da figura espectral e inteira do emigrante caboverdiano Ventura a trave-mestra das suas ficções. Cavalo Dinheiro, que teve esta quarta-feira estreia mundial a concurso no festival de Locarno, não foge a essa regra mas faz explodir uma outra dimensão, mais onírica e surreal, que não tem primado pela presença no cinema do realizador português. Ventura, envelhecido, doente, é aqui uma espécie de Orfeu em descida aos infernos em busca da sua Eurídice (Zulmira, a esposa que nunca encontra); os infernos são as catacumbas de um hospital, as ruínas de uma fábrica, um elevador avariado, as barracas onde viveu toda a vida. E Pedro Costa é o poeta altivo que acompanha Ventura e conduz o espectador por uma viagem sem regresso no comboio fantasma de um Portugal assombrado pela guerra colonial, pela revolução, pela descolonização. Sejam bem-vindos a Cavalo Dinheiro. Uma fantasmagoria que deixou perplexos aqueles que esperavam do novo filme a arte povera da trilogia das Fontaínhas; à saída da sessão de imprensa, havia muito quem expressasse “mixed feelings”, quem se perguntasse se tudo isto não era demasiado específico do passado português para ser apreendido por um público estrangeiro. Talvez sim, mas Costa nunca foi um cineasta linear e Cavalo Dinheiro é melhor visto como uma alucinação pictorial e narcótica, confimando o realizador como um dos mais extraordinários criadores de imagens do cinema moderno. É, aliás, aí que os observadores são unânimes: é um filme formalmente glorioso, cada imagem um quadro que pode ser estudado ad infinitum, cada fotograma ao mesmo tempo instantâneo e retrato, sugestão e descrição. Cavalo Dinheiro é uma obra de uma beleza plástica de cortar a respiração que parece “fechar o círculo” iniciado com O Sangue – ao longo dos anos, Costa foi despojando a sua imagem até nada restar e, depois do limite que foi No Quarto da Vanda, tem aplicado as lições desse hieratismo e retrabalhado o seu requinte formal de outro modo. Mas, como convém a uma alucinação, este é um filme elíptico, esquivo, fugidio, onde as coisas não seguem uma lógica narrativa convencional mas sim uma espécie de estafeta sensorial pontuada por imagens e sons, canções e conversas, objectos e vozes. Como se tudo fosse o delírio de Ventura no quarto de hospital onde o vemos no princípio do filme, o seu testamento à beira da morte, vendo a sua vida a passar à frente dos olhos com epicentro no 25 de Abril, mas sem que haja verdadeiramente diferença entre o “antes” e o “depois”. Ainda assim: Há uma questão de “ovo e galinha” que não é possível afastar face a Cavalo Dinheiro, que é a sua relação com Sweet Exorcist, a contribuição de Costa para o filme colectivo Centro Histórico. O cineasta nunca escondeu que aquela curta era um “fragmento” de um filme maior, mas dizer que esta longa é meramente uma expansão de Sweet Exorcist (ou que a curta era um “compacto” de Cavalo Dinheiro) é redutor. E, no fundo, nem é assim tão importante – mesmo que a “cena do elevador” que ancorava Sweet Exorcist seja aqui também uma das chaves do filme, confirmando a dimensão de “testamento”, ou de exorcismo, que paira por estes quadros quase renascentistas. O Nosso Homem, a curta com que Costa ganhou Vila do Conde 2012, era uma espécie de “súmula” dos filmes das Fontaínhas; Cavalo Dinheiro é outra coisa, só não sabemos se fecho de um ciclo, abertura de outro, filme de transição.
REFERÊNCIAS:
Papa Wemba morre em pleno concerto
O músico congolês, uma das figuras mais conhecidas do circuito da chamada world music, morreu em palco na Costa do Marfim. Tinha 66 anos. (...)

Papa Wemba morre em pleno concerto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.35
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O músico congolês, uma das figuras mais conhecidas do circuito da chamada world music, morreu em palco na Costa do Marfim. Tinha 66 anos.
TEXTO: O influente músico congolês Papa Wemba, uma das figuras mais conhecidas da chamada world music, morreu este sábado à noite, depois de ter tido um colapso em palco num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim. O músico tinha 66 anos. Vídeos do concerto, que decorria no Femua – Festival des Musiques Urbaines d'Anoumabou, mostram o artista caído no chão à terceira canção, com as bailarinas a continuarem a sua performance, sem se aperceberem do sucedido. O óbito foi confirmado pelo manager ao canal de notícias France 24. Era suposto Papa Wemba actuar novamente esta noite no encerramento do Femua. O seu verdadeiro nome era Jules Shungu Wembadio Pene Kikumba e o seu grande mérito foi o de ter fundido tradições musicais africanas com pop ocidentalizada e influências rock. Figura reconhecida em África desde 1969, era um dos nomes mais populares do soukous, género musical derivado da rumba cubana, que surgiu no Congo nas décadas de 1930 e 1940. Ao longo dos anos acabou por ser celebrado em todo o mundo como o “rei da rumba do Congo”, tendo actuado com celebridades como Stevie Wonder ou Peter Gabriel (fez as primeiras partes da Secret World Tour em 1993 e Gabriel produziu três discos seus na sua editora, a Realworld), e o seu álbum de 1995, Emotion, foi produzido por Stephen Hague (Pet Shop Boys, New Order). Foi co-fundador dos Zaiko Langa Langa em 1970, um grupo no qual permaneceu quatro anos, e que misturava R&B americanizado com música dançante do Zaire (actual República Democrática do Congo), tendo lançado vários êxitos como Pauline, C'est vérité ou Liwa ya somo. De alguma forma o grupo acabou por marcar a passagem da rumba, reapropriação de ritmos cubanos por músicos africanos, para o soukous, influenciado pelo funk e soul. Depois de ter deixado esse grupo formou as suas primeiras bandas, Isife Lokole e Yoka Lokole, mas seria em 1976 que viria a liderar a formação com a qual obteve mais êxito, Viva La Musica, que construiu a sua reputação com êxitos como Moku nyon nyon, Nyekesse Migue'l ou Cou cou dindon, onde se distinguia a sua voz singular. Mas não foi apenas a música que marcou o seu percurso. Foi ele também o grande inspirador do movimento de culto congolês dos Sapeurs, jovens do sexo masculino mestres na arte de bem vestir. Papa Wemba e os seus grupos sempre se distinguiram pelo aprumo e pelo cuidado com a roupa e os admiradores do músico, inspirados pelo seu sentido estético, começaram a vestir da mesma forma, surgindo aí os Sapeurs (o nome deriva do acrónimo S. A. P. E. , Société des Ambianceurs et des Personnes Élégantes). Em 1999, depois de um espectáculo no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o crítico do PÚBLICO, Fernando Magalhães, assinalava precisamente essa aliança entre música e moda na estética veiculada por Papa Wemba, falando da "folia" e da "extroversão" da música e da sua atitude em palco. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um dos momentos mais complicados do seu percurso aconteceu em 2004, quando foi condenado a três meses de prisão em França por ter participado num esquema de imigração ilegal, através do qual cidadãos africanos entravam no país fazendo-se passar por membros da sua banda.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração prisão sexo género ilegal marfim
Grandes voos turísticos sem passar pelo check in
Ao longe, de asas abertas, parece um avião a fazer-se à pista. O ganso-patola prepara um voo picado para apanhar os peixes que escapam das redes da armação do atum. O barco pára e em seu redor há uma nuvem de aves que se aproxima. Os golfinhos desta vez não apareceram. Quem não faltou foi a pardela-de-bico-amarelo (da família dos albatrozes) e a andorinha-do-mar. (...)

Grandes voos turísticos sem passar pelo check in
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.214
DATA: 2011-08-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao longe, de asas abertas, parece um avião a fazer-se à pista. O ganso-patola prepara um voo picado para apanhar os peixes que escapam das redes da armação do atum. O barco pára e em seu redor há uma nuvem de aves que se aproxima. Os golfinhos desta vez não apareceram. Quem não faltou foi a pardela-de-bico-amarelo (da família dos albatrozes) e a andorinha-do-mar.
TEXTO: A observação de aves (birdwatching) é uma das actividades turísticas em crescimento. Há até quem faça muitas centenas de milhas só para obter uma fotografia de um pássaro raro. Na zona no Ludo, junto à cosmopolita Quinta do Lago (Loulé), foram referenciadas mais de 250 espécies diferentes. Muitas delas são imigrantes, fizeram escala durante as longas viagens migratórias entre do Norte da Europa e África. Algumas passaram entretanto à condição de "turistas residentes". O ordenamento, a fauna e a flora são questões que vão estar hoje em debate na pousada de Estói, Faro, numa reunião em que participam hoteleiros e empresas ligadas ao turismo a natureza. O objectivo é criar com as associações de desenvolvimento local e empresários privados uma plataforma conjunta de todo o tipo de oferta turística existente na região, virada para as questões ambientais. À caça de raridadesO birdwatching acontece, em Agosto, nos sapais da ria Formosa, onde se podem observar a andorinha-do-mar anã, pernas longas, entre muitas outra espécies. As gaivotas, como é habitual, caem em bando quando lhes cheira a pescado, junto à armação de atum - um projecto de uma empresa japonesa, com a colaboração do IPIMAR - localizado ao largo da Fuzeta. George Schreirer, guia turístico especializado em observação de aves, aponta os binóculos e descobre um ganso-patola, com uma envergadura de asas de quase dois metros, em aproximação: "É bonito, não é?", pergunta, virando de imediato os binóculos para as gaivotas, descortinando os pormenores desta espécie: "Estão ali uma quinhentas", diz. Como é que contou? "É a experiência", responde. "Podem parecer todas iguais, mas não são - em Portugal estão referenciadas 18 espécies diferentes" de gaivotas. Na região, há apenas meia dúzia de profissionais que se dedicam a esta actividade, e não lhes falta trabalho. "Na Primavera, levei a Alcoutim [Nordeste algarvio] uns 30 clientes para fotografar um casal de andorinhão-cafre - espécie originária do Norte de África, que se fixou no Sul de Portugal, existindo apenas cinco casais referenciados". "A raridade é que atrai os turistas, não a quantidade", vinca. O rouxinol-do-mato atrai as atenções pelo canto, mas também por ser uma ave rara. Nesta altura já partiu para terras africanas. O mês de Agosto não é o mais indicado para quem gosta de estar em contacto com aves. A melhor altura o Outono e a Primavera, quando estão em migração ou nidificação. Porém, é nesta altura que a empresa dos Passeios da Ria Formosa, sedeada na Fuzeta, tem mais clientela. "Temos programas, e se não conseguimos ver as aves na ria, proporcionamos uma visita aos golfinhos no mar alto", diz Ricardo Badalo, acrescentando outra atracção: "Por vezes, também se avista tartarugas e tubarões". Os golfinhos, que nos últimos anos passaram a ser visita constante na costa algarvia, são a principal atracção dos que dedicam as férias ao turismo náutico. "As senhoras e as crianças até choram", diz Ricardo Badalo, recordando as cenas a que assiste com frequência, quando o animal se aproxima das pessoas. " O animal entra na brincadeira, e não nos larga", diz. Os golfinhos são avistados regularmente. Encontro em Sagres Os especialistas no birdwatching têm encontro marcado em Sagres, de 30 de Setembro a 2 de Outubro - onde são esperados 1000 participantes de todo o mundo. Nas rotas migratórias das aves entre a Europa e a África, este é o sítio de passagem obrigatório. As aves de rapina são uma das atracções. Durante três dias, cruzam-se conhecimentos de pessoas, oriundos dos cinco continentes, unidas pela magia do lugar, e pelo canto das aves.
REFERÊNCIAS:
Novo tipo de dinossauro descoberto em França
Durante anos, os paleontólogos mantiveram a máxima discrição. Mas agora a sua descoberta é pública: a de um novo tipo de dinossauro, da família dos titanossauros. Trata-se de um animal herbívoro, com cerca de 12 metros de comprimento, que viveu na Terra há 75 milhões de anos. (...)

Novo tipo de dinossauro descoberto em França
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2012-08-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Durante anos, os paleontólogos mantiveram a máxima discrição. Mas agora a sua descoberta é pública: a de um novo tipo de dinossauro, da família dos titanossauros. Trata-se de um animal herbívoro, com cerca de 12 metros de comprimento, que viveu na Terra há 75 milhões de anos.
TEXTO: Escavações realizadas no município francês de Velaux, perto de Aix-en-Provence, em três operações – em 2002, 2009 e 2012 –permitiram recuperar a maior parte dos restos deste animal de dentes cilíndricos, baptizado de Atsinganosaurus velauciensis, que em latim quer dizer qualquer coisa como "dinossauro cigano". “Recuperámos 70% do esqueleto do animal, mas não o crânio, infelizmente. Penso que vamos conseguir fazer uma reconstituição fiel”, disse à AFP Géraldine Garcia, especialista da Universidade de Poitiers, que esteve envolvida nas escavações, juntamente com o Instituto Real de Ciências Naturais de Bruxelas. Os trabalhos, realizados numa área de 300 metros quadrados, foram mantidos sob reserva durante anos, para evitar pilhagens. No mesmo local, foram encontrados outros fósseis do Cretácico superior, há 75 milhões de anos. No sítio paleontológico de Velaux surgiram também um crânio de crocodilo, carapaças de tartarugas e ossos de outros dinossauros.
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