Cavaco falou via Facebook e insinuou veto à lei de financiamento do ensino particular
O candidato presidencial Cavaco Silva congratulou-se com a mobilização dos jovens para as eleições, considerando que eles sentem que estão a ser tomadas muitas decisões que vão influenciar “não muito positivamente” o seu futuro. O actual Presidente da República respondeu ontem em directo a perguntas colocadas na rede social Facebook e deixou no ar a possibilidade de veto à lei de financiamento do ensino particular. (...)

Cavaco falou via Facebook e insinuou veto à lei de financiamento do ensino particular
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O candidato presidencial Cavaco Silva congratulou-se com a mobilização dos jovens para as eleições, considerando que eles sentem que estão a ser tomadas muitas decisões que vão influenciar “não muito positivamente” o seu futuro. O actual Presidente da República respondeu ontem em directo a perguntas colocadas na rede social Facebook e deixou no ar a possibilidade de veto à lei de financiamento do ensino particular.
TEXTO: “É um bom sinal que os jovens querem fazer ouvir a sua voz, sentem que muitas decisões que estão a ser tomadas vão influenciar não muito positivamente o seu futuro”, afirmou Cavaco Silva, num encontro com jovens, em Lisboa. Decisões que, segundo Cavaco Silva, estão relacionadas com “gastos públicos ineficientes, investimentos públicos eventualmente pouco reprodutivos, excesso de endividamento público e de endividamento externo”. Insistindo que os jovens não se podem alhear da actividade cívica e política, Cavaco Silva defendeu que o seu contributo é da maior importância, considerando que “podem contribuir significativamente para um Portugal melhor”. “Portugal atravessa uma hora decisiva, o dia 23 de Janeiro é um momento particularmente importante para Portugal, para o futuro de Portugal”, dramatizou. Antes - quando respondia em directo num feed de vídeo na categoria "em directo" no seu perfil do Facebook a perguntas enviadas pelos eleitores igualmente através dessa rede social -, Cavaco Silva, que se recandidata a um segundo mandato em Belém, já tinha exortado os jovens a não deixarem “o processo de decisão do futuro” na mão daqueles que são “menos capazes, daqueles que são menos sérios, daqueles que têm menos preocupação da ética de serviço público”. Cavaco não se sente “desconfortado" com a actual ConstituiçãoTambém em resposta a uma pergunta colocada no Facebook, Cavaco Silva falou da revisão da Constituição, confessando que não se sente “desconfortado com os poderes que a actual Constituição” confere ao chefe de Estado. Recordando que a alteração da Constituição é uma competência exclusiva da Assembleia da República e que essa é a única lei que o chefe de Estado não pode deixar de promulgar, o candidato presidencial apoiado por PSD, CDS-PP e MEP, recusou implicitamente qualquer alteração que permita uma intervenção mais directa do Presidente nas políticas do Governo. Neste momento, notou, o Presidente da República não é responsável, nem co-responsável pela política prosseguida pelo Governo e “se passasse a ter intervenção mais directa, passaria a sê-lo e deixaria de ser um moderador de conflitos, um amortecedor de conflitos na vida nacional, deixaria de ser um promotor de consensos na vida nacional”. Por outro lado, acrescentou, com uma mudança dessa natureza, a própria natureza do sistema político português seria alterada, na medida em que o Presidente passaria a ser um co-decisor, co-responsável da política do Governo. “Jurei esta Constituição e candidato-me nesta Constituição e eu levo os juramentos muito a sério e eu não me sinto desconfortado com os poderes que a actual Constituição me confere”, disse. Presidente insinua veto à lei de financiamento do ensino particularCavaco Silva deixou ainda no ar a possibilidade de um veto à lei de financiamento do ensino particular. Uma das perguntas instava Cavaco Silva a falar sobre o diploma do Governo que altera o regime de contrato entre o Estado e as instituições particulares de ensino e o Presidente respondeu que "todos devem dar o seu contributo" para se ultrapassar a actual crise, mas insistiu na necessidade de existir "bom senso" e "ponderação" quanto à nova lei. Acerca deste assunto, Cavaco disse ainda que todos os interesses devem ser tidos em conta, assegurando por isso que, se existirem prejuízos para alunos, professores e funcionários não deixará de exercer a sua "magistratura de influência e de influência activa". O diploma está neste momento em Belém à espera de uma decisão do Presidente da República. Ainda em resposta a uma pergunta colocada no Facebook, Cavaco Silva falou sobre a possibilidade de o Parlamento aprovar uma lei a proibir as touradas de morte.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Perguntas e respostas: o que é preciso saber sobre a bactéria E. coli O104:H4
Este tipo de bactéria Escherichia coli, conhecido como “bactéria dos hambúrgueres”, causa periodicamente intoxicações alimentares graves. Para evitar o perigo, basta respeitar sempre – e não apenas agora, quando a realidade no-lo lembra – algumas regras simples de higiene. (...)

Perguntas e respostas: o que é preciso saber sobre a bactéria E. coli O104:H4
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este tipo de bactéria Escherichia coli, conhecido como “bactéria dos hambúrgueres”, causa periodicamente intoxicações alimentares graves. Para evitar o perigo, basta respeitar sempre – e não apenas agora, quando a realidade no-lo lembra – algumas regras simples de higiene.
TEXTO: O que são as bactérias Escherichia coli?São bactérias na sua grande maioria inofensivas e importantes para a saúde. Fazem parte da flora intestinal normal dos mamíferos, incluindo os seres humanos. E as E. coli enterohemorrágicas (EHEC) como a que tem provocado o surto de infecções alimentares na Alemanha? São estirpes de E. coli que adquiriram a capacidade de fabricar uma toxina, a verocitotoxina ou shiga. A infecção do ser humano por uma bactéria deste tipo pode provocar gastroenterites agudas, com cólicas abdominais, diarreia com sangue, febre moderada e vómitos, requerendo uma hospitalização em 5 por cento dos casos. Nos doentes hospitalizados, pode evoluir para uma síndrome hemorrágica que se revela mortal em 3 a 5 por cento dos casos, chamada síndrome hemolítica-urémica ou SHU. O que é a síndrome hemolítica-urémica (SHU)? É a fase em que a infecção se espalha pelo organismo, causando estragos nos vasos sanguíneos – com especial afinidade pelos rins, onde os danos podem ser irreversíveis. A queda do número de plaquetas em circulação no sangue causa hemorragias. Qual é a origem destas bactérias tóxicas? A primeira estirpe foi identificada na carne picada nos anos 1980 nos EUA e designada por O157:H7. A bactéria responsável pelo actual surto de SHU na Alemanha é de uma estirpe muito próxima, O104:H4. Pensa-se que estas bactérias surgiram de uma combinação genética de E. coli normais com bactérias patogénicas (talvez shigella) devido à utilização de tecidos animais na alimentação industrial, nomeadamente bovina. Estas E. coli também costumam ser resistentes aos antibióticos, o que poderá ser devido ao tratamento dos animais com antibióticos. Qual é o habitat natural destas bactérias patogénicas? As estirpes patogénicas de E. coli vivem no intestino dos bovinos e suínos, animais a quem não causam doença. Quais são as principais vias de transmissão para os seres humanos? A infecção propaga-se sobretudo através da carne picada de vaca insuficientemente cozinhada, donde o nome de “bactéria dos hambúrgueres” por vezes dado a estas bactérias. No matadouro ou no talho, resíduos animais podem contaminar a carne e esta, ao ser picada, fica misturada com os produtos contaminados. Se não for bem cozinhada, a bactéria permanecerá viva no interior da carne. Algo que não acontece com os bifes, por exemplo, uma vez que a bactéria fica nesse caso à superfície da carne e é eliminada pelo calor da cozedura. Sem os devidos cuidados, as fezes das vacas contaminadas podem também fazer passar a bactéria para o leite, que é uma outra fonte de infecção humana quando consumido sem pasteurização. E a contaminação via os legumes? Não é a mais habitual, mas as hortaliças podem ser contaminadas por água de rega contaminada, por fertilizantes naturais ou por terem estado em contacto com fezes de animais contaminados em qualquer fase da sua produção, transporte, venda ou preparação. Os sintomas da infecção são sempre agudos? Conforme os casos, podem passar despercebidos ou dar origem à panóplia de sintomas já acima referida. Na maior parte dos casos, a situação resolve-se passados uns dias (com ou sem hospitalização). A infecção é transmissível de uma pessoa para outra? Se uma pessoa estiver infectada sem o saber (seja porque ainda não manifestou a doença, o que pode demorar vários dias, seja porque tem uma forma assintomática), ela é susceptível, em caso de insuficiente higiene das suas mãos ao sair da casa de banho, de contaminar os alimentos ao manuseá-los. A infecção responde aos antibióticos?
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Portugal e Espanha gastam 48 milhões em 150 mil cabras para prevenir fogos na raia
Foi ontem apresentado, na Guarda, o projecto Self-Prevention. A ideia, exposta por um agrupamento de cooperação territorial que abrange 187 entidades de ambos os lados da fronteira, consiste na reintrodução de 150 mil cabeças de gado caprino, nas zonas raianas dos distritos da Guarda, Bragança, Zamora e Salamanca, como "limpadores naturais" dos campos. (...)

Portugal e Espanha gastam 48 milhões em 150 mil cabras para prevenir fogos na raia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi ontem apresentado, na Guarda, o projecto Self-Prevention. A ideia, exposta por um agrupamento de cooperação territorial que abrange 187 entidades de ambos os lados da fronteira, consiste na reintrodução de 150 mil cabeças de gado caprino, nas zonas raianas dos distritos da Guarda, Bragança, Zamora e Salamanca, como "limpadores naturais" dos campos.
TEXTO: Tal medida permitirá, de acordo com José Luís Pascoal, presidente do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Duero-Douro, a prevenção de incêndios, mas também o "desenvolvimento económico e rural" daquelas zonas. O responsável do AECT garantiu que o objectivo é colocar os animais nos campos agrícolas e montes abandonados. Esta será a forma encontrada para evitar fogos florestais, uma vez que os terrenos ficaram "livres de vegetação", concluiu. A partir do próximo ano serão assim distribuídas 150 mil cabras pela área do agrupamento territorial. Um "método natural para a limpeza das florestas e dos campos", referiu ainda José Luís Pascoal, garantindo que o projecto Self-Prevention permitirá também o desenvolvimento social e económico das zonas raianas. "A sustentabilidade social, económica e ambiental" das regiões abrangidas passará pela criação de 558 postos de trabalho em diversas áreas, "desde pastores a comerciais", explicou. O estabelecimento de uma empresa, que ficará responsável pela distribuição dos efectivos caprinos e pela criação de equipamentos que sustentem a rentabilidade económica do projecto, a construção de 12 queijarias, 15 lojas e dois matadouros para abate dos animais surgem ainda como factores de importância neste projecto. A ideia, apoiada pelos Governos de Portugal e de Espanha e por fundos comunitários, implicará um investimento de 48 milhões de euros. Por sua vez, "a rentabilidade económica criada nos campos e terras será para as gentes que moram nelas", acrescentou o presidente do AECT. Para os governadores civis da Guarda e de Bragança, este é um projecto que "não poderá falhar". Uma ideia que é, para Santinho Pacheco, "uma flor de esperança para a região".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social abate
Tribunal garante corrida da Prótoiro em Viana do Castelo
A câmara não poderá reagir em tempo útil ao decretamento provisório da providência cautelar pedida pela PrótoiroPor via do decretamento provisório da providência cautelar pedida pela Prótoiro, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB) permitiu, definitivamente, a esta federação das associações taurinas realizar, no próximo domingo, uma tourada em Viana do Castelo - apesar da oposição da câmara municipal. Tal como no ano passado, ao optar por esta decisão - dispensando nomeadamente a Prótoiro de intentar uma acção de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias - o TAFB deixa a Câmara de Vi... (etc.)

Tribunal garante corrida da Prótoiro em Viana do Castelo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20130815160317/http://www.publico.pt/j1545697
TEXTO: A câmara não poderá reagir em tempo útil ao decretamento provisório da providência cautelar pedida pela PrótoiroPor via do decretamento provisório da providência cautelar pedida pela Prótoiro, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB) permitiu, definitivamente, a esta federação das associações taurinas realizar, no próximo domingo, uma tourada em Viana do Castelo - apesar da oposição da câmara municipal. Tal como no ano passado, ao optar por esta decisão - dispensando nomeadamente a Prótoiro de intentar uma acção de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias - o TAFB deixa a Câmara de Viana desarmada e condena a apreciação do mérito da causa à extinção, por inutilidade superveniente: é que qualquer resposta jurídica da autarquia, que declarou Viana uma cidade antitourada por deliberação do executivo em 2009, já só será apreciada depois da realização da tourada. A decisão do TAFB foi anunciada ontem pela Prótoiro, em comunicado. "Tal como sucedeu em 2012, o Tribunal Administrativo de Braga voltou a autorizar a instalação de uma praça de toiros em Viana do Castelo, agora na freguesia de Darque, na sequência de uma providência cautelar requerida pela Prótoiro". Na sexta-feira, apesar de considerar que tal não era necessário, a Prótoiro entregou na câmara o plano de mobilidade que esta exigiu para licenciar a arena, com capacidade para 3300 pessoas. Na altura a federação das associações taurinas afirmou que foi "muito para além" do que era exigido legalmente, ao apresentar este plano de mobilidade. Se a câmara "estiver de boa-fé e cumprir a lei, deferirá o pedido", concluiu então. "A Prótoiro já tinha entregado na Câmara de Viana do Castelo toda a documentação legalmente exigida para o efeito, tendo ido além do legalmente necessário, e entregue ainda um plano de mobilidade e declarações dos bombeiros e da PSP garantindo todas as condições de circulação rodoviária e de segurança do evento", refere o comunicado. A Câmara de Viana do Castelo tinha indeferido, no início deste mês, o pedido para a instalação da arena amovível alegando falta de condições de segurança e mobilidade no espaço e solicitando à organização um plano de mobilidade. A federação das associações taurinas diz ter sido "obrigada" a avançar para tribunal "de modo a garantir os direitos e liberdades do povo de Viana", uma vez que "o presidente José Maria Costa já tinha afirmado que iria tentar inviabilizar a tourada por todos os meios" e por considerar que o autarca "não estava de boa-fé neste processo e que iria atropelar todas as leis para, de uma forma maldosa, limitar a liberdade dos vianenses". Com esta decisão do TAFB, refere ainda a Prótoiro, "o presidente José Maria Costa volta a ser obrigado a cumprir a lei e, pelo segundo ano consecutivo, volta a passar pela vergonha de ver as suas práticas autoritárias serem corrigidas pelo tribunal, dando uma péssima imagem da cidade de Viana e das suas gentes". A Prótoiro sublinha que, "com esta decisão judicial, fica definitivamente garantida a realização da "tourada da liberdade"", no dia 18 de Agosto, às 17h, num terreno privado junto à antiga seca do bacalhau, em Darque, na margem esquerda do rio Lima. A promotora diz que vai disponibilizar "cerca de 540 lugares de estacionamento num terreno privado a menos de 100 metros do local do evento, sendo que na zona envolvente estarão disponíveis mais cerca de 250 lugares". A tourada de 19 de Agosto do ano passado mobilizou 2300 espectadores e cerca de 300 manifestantes, que protestaram contra a realização da corrida.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Autárquicas: PSP chamada ao mercado do Forno do Tijolo (Lisboa)
A PSP foi chamada esta manhã à secção de voto dos Anjos, em Lisboa, que funciona no mercado do Forno do Tijolo, pelos candidatos socialistas. Em causa estava a presença do presidente da junta, o social-democrata João Grave, que se recandidata ao cargo, à porta do mercado. "Não é permitido por lei", explicava um representante da candidatura socialista, João Valente, que além de chamar a polícia também apresentou queixa à Comissão Nacional de Eleições. Nesta freguesia a candidatura socialista é encabeçada por Margarida Martins, fundadora da associação Abraço. "De facto passei pelo mercado. Mas quando a PSP chegou j... (etc.)

Autárquicas: PSP chamada ao mercado do Forno do Tijolo (Lisboa)
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-29 | Jornal Público
TEXTO: A PSP foi chamada esta manhã à secção de voto dos Anjos, em Lisboa, que funciona no mercado do Forno do Tijolo, pelos candidatos socialistas. Em causa estava a presença do presidente da junta, o social-democrata João Grave, que se recandidata ao cargo, à porta do mercado. "Não é permitido por lei", explicava um representante da candidatura socialista, João Valente, que além de chamar a polícia também apresentou queixa à Comissão Nacional de Eleições. Nesta freguesia a candidatura socialista é encabeçada por Margarida Martins, fundadora da associação Abraço. "De facto passei pelo mercado. Mas quando a PSP chegou já nem lá estava", assegura João Grave. Um morador dos Anjos desmente-o: "Quando fui votar, cerca das 11h30, estava lá todo o executivo da junta. Foi a primeira vez que vi uma vergonha e uma tourada destas. A polícia chamou o presidente da junta à parte", critica Angélico Paulo, que também viu com maus olhos o facto de haver uma equipa de funcionários da junta fardada de amarelo a encaminhar os eleitores para as respectivas mesas de votação. Um incidente semelhante sucedeu em S. Domingos de Benfica, com queixas cruzadas junto da CNE. "O candidato do PS, que está na escola Delfim Gonçalves, onde decorre a votação, por ser delegado suplente de uma mesa de voto foi ouvido a dizer a uma pessoa "Conto consigo, faça o favor de entrar", relata o seu rival do PSD, Ricardo Crespo. O candidato do PS, António Cardoso nega peremptoriamente esta versão dos factos e acusa por seu turno os sociais-democratas de terem posto dois homens do "staff" da junta a persegui-lo escola fora.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD
Patrões querem revolucionar negociações salariais
Os "patrões" da indústria, comércio e serviços e turismo estão dispostos a adoptar a "reforma estrutural dos procedimentos da negociação salarial" - defendida desde Janeiro de 2001, pelo Governador do Banco de Portugal (BP), Vítor Constâncio, que voltou a propor esta medida na apresentação do relatório anual do BP de 2001, durante a semana passada - à mesa das negociações colectivas, com os sindicatos, já este ano. Com este novo modelo negocial, os salários passam a ser negociados para dois anos e tendo como referencial relevante o aumento dos custos na zona euro e não em território nacional. Se as negociações co... (etc.)

Patrões querem revolucionar negociações salariais
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DATA: 2002-09-23 | Jornal Público
TEXTO: Os "patrões" da indústria, comércio e serviços e turismo estão dispostos a adoptar a "reforma estrutural dos procedimentos da negociação salarial" - defendida desde Janeiro de 2001, pelo Governador do Banco de Portugal (BP), Vítor Constâncio, que voltou a propor esta medida na apresentação do relatório anual do BP de 2001, durante a semana passada - à mesa das negociações colectivas, com os sindicatos, já este ano. Com este novo modelo negocial, os salários passam a ser negociados para dois anos e tendo como referencial relevante o aumento dos custos na zona euro e não em território nacional. Se as negociações começassem hoje, as actualizações salariais seriam calculadas a partir de uma inflação de 2, 2 por cento (a inflação média europeia em Agosto) e não de 3, 7 por cento (inflação média portuguesa no mês passado). Para Francisco Vanzeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), "entrámos para a União Europeia e temos que aceitar algumas imposições, mesmo que estas acarretem sacrifícios". Contudo, Vanzeller contrapõe, desdramatizando, que o crescimento nominal dos salários em Portugal tem sido muito superior ao negociado por tabela, em consequência de promoções automáticas ou por mérito, aumento das diuturnidades, entre outros (ver tabela produtividade). Face à posição negocial dos sindicatos - a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) reivindica aumentos de 5, 5 por cento, nunca inferiores a 30 euros e a União Geral de Trabalhadores (UGT) exige actualizações anuais de cinco por cento -, o presidente da CIP considera-as "folclóricas". "É que, para além de pedirem cinco por cento de aumento, pedem também mais férias, redução do horário de trabalho, que se traduz em mais um ou dois por cento de aumento", esclarece o responsável, acrescentando que "por experiência própria são exigências sempre negados". Para Luís Faria, porta-voz da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), as "reivindicações dos sindicatos são irresponsáveis, absurdas e ridículas". A CCP defende, também, o modelo negocial proposto por Vítor Constâncio, posição partilhada pela Confederação do Turismo Português (CTP). Atílio Forte, presidente da CTP defende: "se estamos enquadrados no espaço económico-monetário europeu também temos que utilizar os referenciais europeus nas negociações salariais anuais". "Tem que se quebrar o ciclo vicioso de aumentar os salários acima do crescimento anual da produtividade", considera ainda o responsável. Os presidentes da CIP e da CTP defendem que há sectores que poderão ser mais "generosos". A lógica, segundo Vanzeller tem que ser premiar os melhores - quem mais trabalha e produz. Para compensar aumentos salariais mais baixos, a CTP defende ainda a aposta na qualificação, dignificação e valorização dos trabalhadores do sector do turismo, por forma a criar um mecanismo de "empregabilidade para a vida" - ou seja, que os trabalhadores tenham condições para terem sempre emprego, quer a economia esteja em recessão ou me crescimento - e não o modelo actual que é um "emprego para toda a vida". Luís Faria questiona porque é os sindicatos não exigem uma descida do IRS, que a CCP estava disposta a apoiar junto do Governo. Mas, os sindicatos também reivindicam para o próximo ano a descida dos escalões do IRS, a par dos aumentos salariais exigidos. Aumento zero para a função pública"Para a função pública, não vemos outra solução que não seja o aumento zero, em 2003. O sector público tem remunerações efectivas superiores. Temos que as aproximar", considerou o porta-voz da CCP. Francisco Vanzeller defende, por sua vez, a redução do funcionalismo público: "o bolo da produtividade é dividido por muita gente na administração pública; este bolo tem que ser reduzido". Atílio Forte é mais ponderado: "o Estado tem que adoptar critérios de racionalidade para a administração pública, mas é necessário um diagnóstico que torne as medidas objectivas. Não podemos dizer, a função pública tem pessoas a mais e começar a cortar a 'eito'". O representante do Turismo não poupou críticas ao facto de a entidade que preside continuar excluída do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e, portanto, de não estar actualmente a discutir o anteprojecto do Código do Trabalho. "Dez por cento da economia portuguesa estão à margem desta discussão, apesar de existir um consenso político-partidário e das outras associações de nos terem como parceiros sociais". A entrada da CTP para o CPCS está condicionada a uma alteração da legislação que rege o Conselho Económico Social (CES). Na prática, têm que ser alteradas duas alíneas desta lei, por forma a que a entrada de dois representantes da CTP seja compensada pela entrada de mais um representante das centrais sindicais e dois representantes do Governo. "Lamentamos que a Assembleia não tenha agenda para legislar sobre este assunto, mas arranje tempo para a liberalização das touradas de morte em Barrancos", lamenta Atílio Forte.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte lei social
A guerra esquecida de Portugal em África
Entre 1914 e 1918, Portugal enviou 39 mil soldados para África. Apesar desse enorme esforço de um país em crise, o registo da campanha africana resume-se a derrotas e insucessos frente aos alemães. Cerca de 2 mil europeus perderam a vida, de acordo com os números oficiais, e entre os africanos a tragédia foi ainda maior. Ainda assim, na história da I Guerra, África é pouco mais de uma nota de rodapé. (...)

A guerra esquecida de Portugal em África
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre 1914 e 1918, Portugal enviou 39 mil soldados para África. Apesar desse enorme esforço de um país em crise, o registo da campanha africana resume-se a derrotas e insucessos frente aos alemães. Cerca de 2 mil europeus perderam a vida, de acordo com os números oficiais, e entre os africanos a tragédia foi ainda maior. Ainda assim, na história da I Guerra, África é pouco mais de uma nota de rodapé.
TEXTO: No calor dos debates sobre a participação de Portugal na I Guerra Mundial que decorreram numa série de sessões secretas do Congresso da República entre 11 e 31 de Julho de 1917, o deputado Manuel Brito Camacho deixou aos seus pares uma denúncia que era ao mesmo tempo um aviso e uma provocação ao Governo: “Não é segredo para ninguém que se têm mandado tropas para a África como se não mandam reses para o matadouro”, disse o deputado alentejano que liderava o partido Unionista. Nesse Verão, ainda não havia más notícias da frente europeia e em África não acontecera ainda o desastre e a vergonha da batalha de Negomano, quando todo o esforço de guerra português sucumbe perante uma ofensiva alemã liderada por um oficial genial, Von Lettow. Mas o que se sabia até então era suficiente para justificar o pesar de Brito Camacho. Portugal estava a perder a guerra em Moçambique não pela inferioridade de meios humanos ou materiais, mas principalmente por incúria, por falta de planeamento, por insensibilidade para os dramas humanos dos soldados, por descuido com as condições de saúde e, principalmente, aos mosquitos e à água insalubre. Mas perdia também por falta de vontade de combater, por pura incapacidade da estrutura de comando acreditar que aquela guerra na bacia do Rovuma era uma imperativo da defesa do território nacional (era assim que as colónias eram consideradas) e não uma extravagância da elite republicana que mandava no país. Se a participação na guerra europeia foi um desejo das elites republicanas, que acolheram o conflito como uma oportunidade para se reforçarem no país e obterem reconhecimento internacional, a participação nas guerras de África foi, à luz do direito da altura, uma obrigação. Os alemães tinham chegado a África tarde e na disputa imperial que se seguiu jamais deixaram de manifestar cobiça pelas colónias portuguesas, que os jornais de Berlim comparavam a uma anomalia histórica. Por duas vezes, em 1894 e 1912, estabeleceram acordos secretos com os britânicos para repartirem entre si Angola e Moçambique. Instalados na actual Tanzânia e no Botswana, os alemães tinham o Norte de Moçambique e o Sul de Angola ali ao lado para poderem consumar os seus desejos expansionistas. Os incidentes na fronteira foram imediatos. Em Maziua, um posto remoto junto ao rio Rovuma, um ataque alemão ainda em Agosto de 1914 provoca a morte do comandante português e serve de aviso. Em Outubro, o choque acontece em Angola, em Cuangar, o primeiro episódio de uma série que acabaria no “desastre de Naulila”, no qual o Exército português mostrou todas as suas vulnerabilidades. As primeiras expedições preventivas tinham sido, entretanto, enviadas. Portugal não era beligerante, mas a guerra em África tinha uma forte probabilidade de acontecer. A débil resistência alemã na África ocidental face à pressão sul-africana acabou em Julho de 1915 e aliviou o perigo de uma guerra em duas frentes. Quando Portugal entrou definitivamente no conflito, em Março de 1916, o perigo estava na contracosta: em Moçambique. Depois de quase dois anos de marasmo, as tropas nacionais enviadas para Porto Amélia aproximam-se da frente. Uma nova expedição, a terceira, parte a 28 de Maio de 1916 sob o comando do general Ferreira Gil, um beirão na altura com 58 anos. Para um país numa grave crise económica, o esforço para a sua mobilização e organização foi notável: 4642 homens, entre os quais 149 oficiais, 1378 solípedes, 159 viaturas, entre as quais 60 camiões. Mas, depois de chegar a Palma, a expedição caiu na armadilha da incúria e, em poucas semanas, estava derrotada sem dar um único tiro. A falta de planeamento atrasou os desembarques, centenas de animais perderam-se, num voo de ensaio o primeiro avião em Moçambique despenhou-se, e, para agravar o cenário, a falta de condições sanitárias combinada com a negligência das chefias começa a dizimar os regimentos. Quando a pressão de Lisboa para que o Exército avance para a frente se acentua, a expedição de Ferreira Gil estava devastada. Os homens das expedições anteriores arrastavam-se por pequenos fortes isolados ao longo do Rovuma e, para lá da trágica memória da primeira tentativa de atacar os alemães no outro lado do rio, em Maio de 1916, defrontavam-se com as doenças, a fome e a degradação do equipamento militar. Com os britânicos que partiram do Quénia ainda em 1914 a ganharem cada vez mais terreno no Norte, os portugueses foram incitados a servir de “bigorna” no Sul, sobre a qual, acreditava-se, os alemães seriam esmagados. A verdade é que as forças nacionais invadem o território alemão em Setembro de 1916 e conquistam o forte de Nevala. Mas por semanas. Um contra-ataque cerca os portugueses no forte e, perante a falta de reabastecimentos, a fuga tornou-se inevitável. Numa noite chuvosa de Outubro, cerca de mil homens conseguem iludir e escapar aos alemães numa saga que daria um filme. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de Nevala, os alemães lançam um contra-ataque e chegam a ameaçar a base em Palma. As chuvas do Inverno salvam Ferreira Gil. Mas a sua expedição estava devastada — e ele próprio doente e incapaz de comandar. Uma nova expedição comandada por Sousa Rosa segue para África numa altura em que os alemães tinham recuado para escassas centenas de quilómetros da fronteira. Depois de três anos de resistência à brutalidade da Force Publique da Bélgica e do enorme exército britânico e sul-africano, as tropas alemãs reduziam-se a escassas centenas de soldados europeus e meia dúzia de milhares de askaris, soldados indígenas. A força de Paul Emil von Lettow-Vorbeck, cujas tácticas de guerrilha inspirariam o rumo das guerras não convencionais do século XX, de Che Guevara a Nguyen Giap, de Amílcar Cabral a Samora Machel, tinha agora um único ponto de fuga: o Norte de Moçambique. Sousa Rosa dispõe os seus homens ao longo de vários pontos da fronteira e fica a aguardar. Na madrugada de 25 de Novembro de 1917, os alemães atravessam o Rovuma e apanham os portugueses com uma alarmante facilidade em Negomano. Depois do cerco, bastou um dia para que os portugueses sucumbissem. A campanha em África acumulava a sua nódoa mais negra e os alemães, que se reabasteceram com armas e medicamentos em Negomano, penetraram no coração de Moçambique num “grande safari” que duraria quase um ano. Os portugueses foram depois remetidos para uma posição secundária e seriam os ingleses a partir no seu encalço. Von Letow chega a ameaçar Quelimane, mas inflecte para norte com o que restava da sua tropa e, depois de regressar à actual Tanzânia, volta-se para oeste. Acredita-se que pretendia chegar a Angola. Não teve tempo. O Armistício apanha-o em Abercorn, na actual Zâmbia. Rende-se então aos britânicos, que recusaram aceitar a sua espada. Do princípio ao fim, a aventura dos portugueses em África foi um desastre. A maior experiência africana de pouco valeu e a superioridade em homens e armas foi irrelevante para a construção de uma estratégia capaz de travar os alemães. O que se passou em África foi coberto pelo manto de silêncio no Estado Novo e é por isso que, ainda hoje, a campanha africana vale pouco mais do que uns parágrafos na história que o país dedica ao conflito. Entre 1916 e 1918, porém, o Norte de Moçambique, transformou-se no “mais fantástico atoleiro da história militar portuguesa moderna”, na opinião do historiador francês René Pélissier.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
A guerra que não acabou com todas as guerras...
Cem anos depois, o mundo pauta-se muito mais pelos critérios imperialistas de 1914 que pelas lições de 1945. (...)

A guerra que não acabou com todas as guerras...
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cem anos depois, o mundo pauta-se muito mais pelos critérios imperialistas de 1914 que pelas lições de 1945.
TEXTO: Charles Sorley morreu aos 20 anos nas trincheiras, em 1915. A Grande Guerra começara havia meses e já ele pedia que “Quando, em sonhos, vires milhões de mortos sem boca / Que em pálidos batalhões partem, / Não digas as mesmas coisas bonitas que outros homens disseram já (. . . ) Não precisas de o fazer. / Não os louves. (. . . ) Nem derrames lágrimas. Os seus olhos cegos não verão as tuas lágrimas cair. / Nem fales de honra. É fácil estar morto. / Diz apenas, ‘Estão mortos’” (When you see millions of the mouthless dead). A guerra abrira um imenso buraco moral, humano e político que engoliria 9, 5 milhões de mortos, e de onde sairiam 23 milhões de mutilados; por causa dela, uma pandemia (a gripe espanhola) matou 50 a 100 milhões de pessoas. Máquina infernal de massacre de combatentes, em que o matadouro das trincheiras não teve paralelo sequer com a II Guerra Mundial, a Grande Guerra foi o primeiro “conflito no qual o ato de matar se transforma numa operação mecânica e onde a morte toma o caráter de uma experiência coletiva, anónima, inqualificável” (Enzo Traverso, 1914-1945. A guerra civil europeia, 2007). É esta sua natureza que a aproxima da experiência de Auschwitz: a eliminação industrial de uma massa de seres anónimos, arrastados quase sem resistência para a morte, uns obedecendo à ordem cega de avançar para o fogo das metralhadoras ou os gases químicos, outros para dentro de uma câmara de gás. Neste sentido, é completamente coerente que a homenagem aos combatentes Grande Guerra tenha concebido a figura do Soldado Desconhecido. E, no entanto, puro produto da era triunfal do nacionalismo, do imperialismo e do capitalismo confundido com civilização, para a guerre fraîche et joyeuse, como lhe chamaram os franceses, marcharam com aparente alegria milhões de soldados acabados de mobilizar. Uma febre patrioteira tomara conta da Europa e esmagara em poucos dias uma geração de socialistas que se comprometera a fazer Guerra à Guerra – mas que, na sua maioria, acabaria simplesmente por fazer a guerra. O verão de 1914 fica para a História como uma das melhores demonstrações da enorme capacidade socializadora do nacionalismo de Estado, descrito como consenso interclassista e como tradição, reproduzido pelos novos instrumentos de enquadramento social da modernidade: a escola, as Forças Armadas, os media. Quem partiu fê-lo em nome de uma nação que lhe tinha sido imposta como se tivesse existido desde sempre, e como se a ela devesse a vida – e esta tivesse o direito de lha reclamar de volta. E, contudo, como escrevia o soldado Wilfred Owen, morto aos 25 anos uma semana antes do fim da guerra, “Se tu pudesses ouvir, a cada golfada / o sangue que jorra dos pulmões [destruídos pelo gás], / obsceno como o cancro, amargo como quimo (. . . ) – não repetirias, meu amigo, com tanto entusiasmo / a crianças ansiosas por uma glória desesperada, / a velha Mentira: Dulce et decorum est / Pro patria mori [Como é doce e glorioso morrer pela pátria]” (Dulce et Decorum Est, 1918). Na batalha do Somme (julho-novembro de 1916) – a mais mortífera de quantas os britânicos participaram em toda a sua história: 19 mil mortos só no primeiro dia! –, os soldados cantavam já que “We’re here, because we’re here, because we’re here. . . ” (“Estamos cá, porque estamos cá, porque estamos cá”). Depois dos 320 mil mortos em Verdun, os soldados franceses atiravam-se aos “patriotas” que gritavam que “pela Pátria é preciso ir até ao fim”: “Mas nós gritamos abaixo a guerra / Aprendam-no, é o lema mais belo / Não mais canhões, nem espingardas, nem fronteiras / Abaixo a guerra e os seus carrascos!” (On les aura!, 1917). Se o Somme e Verdun são símbolos da infinita futilidade da guerra, juntemos-lhes La Lys ou A guerra que Portugal quis esquecer (Manuel Carvalho, 2015), feita em África por “comandantes cuja indiferença à sorte dos soldados era permanente, ministros que dos gabinetes de Lisboa davam ordens concretas sobre planos de ataque a decorrer em frentes imaginárias (. . . ), [a] corrupção de todos os que geriam depósitos”, ou, na memória da violência colonial, [as] “razias dos bens das populações [africanas], [a] violência sobre as mulheres ou [a] condenação de milhares de homens à condição escrava de carregadores”. Guerra de nacionalismos e de projetos imperialistas contrapostos, fechada com uma paz que guardava no ovo a serpente das novas guerras, temos muito a aprender com 1918. Cem anos depois, o mundo pauta-se muito mais pelos critérios imperialistas de 1914 que pelas lições de 1945. O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
REFERÊNCIAS:
As palavras (e erros) do ano
A minha votação de entre as dez palavras vai para populismo, ainda que o meu prognóstico para a vencedora esteja numa das duas profissões seleccionadas. (...)

As palavras (e erros) do ano
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A minha votação de entre as dez palavras vai para populismo, ainda que o meu prognóstico para a vencedora esteja numa das duas profissões seleccionadas.
TEXTO: Com o texto que se segue termina a minha crónica semanal no PÚBLICO, por decisão da sua Direcção. Quero agradecer a atenção de quantos pacientemente me leram, na concordância ou na discordância, ao longo de quase cinco anos ininterruptos. Agradeço também a confiança da então directora Bárbara Reis no lançamento do blogue “tudo menos economia”, que partilhei com Ricardo Cabral e Francisco Louçã, depois reforçada pelo ex-director David Dinis com esta minha coluna “(Uma)temática”. Pelo décimo ano consecutivo, a Porto Editora e a Infopédia promovem a votação da palavra do ano. Desta vez, estão em disputa dez termos: assédio, enfermeiro, especulação, extremismo, paiol, populismo, privacidade, professor, sexismo, toupeira. Como tem sido recorrente, as palavras candidatas estão algo enviesadas por força de uma tendência memorial que, em linguagem de stockagem, se poderia apelidar de FIFO (first in, first out), ou seja, as palavras seleccionadas tendem a acumular-se mais nos últimos meses do ano e as dos primeiros meses não resistem tanto à erosão do calendário. O caso mais evidente é o da palavra enfermeiro, que agora está bem fresquinha. E, por uma unha, colete não está entre as eleitas, em tons amarelos evidentemente. Desta vez, não há estrangeirismos ou mesmo evidentes neologismos. Nem sequer verbos ou adjectivos. E nenhuma das dez palavras tem ortografia diferente, na versão acordista ou não acordista. Uma selecção contida, dir-se-á. A propósito de palavras vencedoras e resultantes de moda efémera e estrangeirada, logo descartadas do uso e da memória, o caso mais estranho aconteceu em 2010 com a onomatopaica sul-africana vuvuzela. Assim como surgiu, logo se eclipsou. Nota-se a predominância dos vocábulos de origem ou natureza mais política ou laboral. Felizmente a palavra desemprego já há anos que não aparece, ela que é a única repetente três vezes em plena crise (2010, 11 e 12). Desde as siglas FMI e TSU aos acrónimos PEC e SCUT, volta a não haver estas palavras comprimidas. Paiol até pode ser entendido quase como um arcaísmo, ressuscitado por um emaranhado político-militar-laboral sem fim à vista. À palavra enfermeiro talvez lhe falte uma espécie de aposto ou continuado: greve. Sempre pensei que a palavra culpa tivesse sido escolhida para a votação final, mas compreendo as razões da ausência. É que de tão dita e maldita, não foi por cá encontrada e definhou solteira. Populismo está na lista sem surpresa, como surpresa não é muita gente desconhecer o seu significado preciso. Especulação, este ano, porquê se a há em doses avantajadas todos os anos? Há quatro palavras que, em linguagem matemática, se poderiam transformar em pares binários, dada a sua interligação por simpatia ou antagonismo: assédio e sexismo, privacidade e toupeira. Passam-se os anos a falar de futebol. Contudo, a futebolândia sempre foi pouco assídua nestas escolhas vocabulares. Nem mesmo VAR conseguiu esta façanha! Este ano, ainda que sob a forma capciosa de um mamífero roedor – a toupeira –, podemos entrever o esférico ou a redondinha numa quadratura do círculo. De todas as palavras há duas que se dão bem com meias-palavras: assédio e toupeira. A primeira, mais à superfície; a segunda, mais escondida. Continua a verificar-se a quase regra de a maioria das palavras ter uma carga aparentemente negativa e, ao invés, nem uma única transportar uma qualquer boa nova. Muito português, sem dúvida. A palavra turismo não surge entre as dez escolhidas, tal como alojamento (local ou nem por isso) ou gruta (a pensar nas crianças tailandesas) e, apesar da excitação dos últimos tempos, nem touro, tourada ou corno alcançaram a designação. Desta vez, também ficaram de fora palavras relacionadas com a saúde (ou melhor, da falta dela), o que é bom sinal, bem como da tecnologia para a qual nem a Web Summit valeu. A religião que, no ano passado, esteve representada com o vocábulo peregrino, voltou à estaca zero. Já a botânica está sempre ausente, a não ser, em 2017, com a palavra floresta (ainda que por causa dos incêndios) e apesar de este ano um sobreiro ter sido a árvore europeia do ano, não esquecendo o carvalho para os lados de Alvalade. A minha votação de entre as dez palavras vai para populismo, ainda que o meu prognóstico para a vencedora esteja numa das duas profissões seleccionadas – enfermeiro ou professor –, quem sabe se com o assédio, por via da votação, da toupeira. Já no Reino Unido (promovido pela Oxford Dictionaries), o termo proclamado vencedor foi toxic. Trata-se de uma palavra que é não apenas usada no seu sentido mais estrito e literal, como com alargados sentidos metafóricos. No Brasil, um pouco à semelhança da metodologia britânica, em 2017 a palavra vencedora foi, evidentemente, corrupção. Não sei se pode haver reincidência vitoriosa, pois voltaria a estar nas palavras (infelizmente) favoritas. Em suma, a última palavra – que será a primeira – pertence aos votantes online! E quando será que palavra virá a ser o termo escolhido? Pela minha parte, ficaria muito agradado ou, quem sabe, sem palavras! Palavra de honra. IPSIS VERBISSeleccionei alguns erros ou modismos com presença muito assídua em 2018:PLEONASMO: Há anos atrás (ou será à frente?) e alojamento local (ou será sem local?)OXÍMORO: Grande beijinho (mas não pequena beijoca)SOLECISMO: Vão haver muitas novidades. . . PRONÚNCIA: rubrica dita erradamente como se fosse “rúbrica” e acordos como se fossem “acórdos”CONJUGAÇÃO: interviu sem ter intervidoPOUPANÇA SILÁBICA: competi(ti)vidade, precari(e)dade e empreen(de)dorismo (muito habituais em São Bento)MODISMO: No fim do dia, uma tradução literal e afectada de “at the end of the day”MODISMOS FUTEBOLÍSTICOS: troca por troca (ainda que à condição)MODISMOS VERBAIS: Empoderar, elencar e impactarCONFUSÃO: o homem foi evacuado (coitado! Espero que não tenha sido troca por troca. . . )PARADOXO: Correr atrás do prejuízo (ou será à frente?)EUFEMISMO: politicamente correcto (eufemismo sobre o próprio eufemismo)À ESPERA DE NEOLOGISMOS: Amarar no rio ou aterrar em MarteCACOFONIA: um ováriosSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. CONFUSÃO ACORDISTA: ótico (dos olhos) e ótico (dos ouvidos)AMBIGUIDADE: ambiguação (na Wikipedia)O MAIS UNIVERSAL DOS ERROS: Tenho que acabar este texto (em vez de tenho de acabar este texto porque tenho muito mais que fazer)
REFERÊNCIAS:
Noudar não é o fim nem o princípio do mundo: é qualquer coisa de intermédio
Num canto de Portugal, a um salto de rio de Espanha, o Parque de Natureza de Noudar desenha-se como uma espécie de museu vivo do pré-Alqueva. Entre montados e azinhais, cultiva-se a tradição e alimenta-se o bravio à espera do lince-ibérico. Enquanto este não chega, assista-se à brama dos veados, observe-se o céu nocturno, suba-se ao castelo ou não se faça nada — de preferência, junto à piscina. (...)

Noudar não é o fim nem o princípio do mundo: é qualquer coisa de intermédio
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num canto de Portugal, a um salto de rio de Espanha, o Parque de Natureza de Noudar desenha-se como uma espécie de museu vivo do pré-Alqueva. Entre montados e azinhais, cultiva-se a tradição e alimenta-se o bravio à espera do lince-ibérico. Enquanto este não chega, assista-se à brama dos veados, observe-se o céu nocturno, suba-se ao castelo ou não se faça nada — de preferência, junto à piscina.
TEXTO: O cepticismo só dura até o dia se consumir em caldeirão alaranjado, por detrás do castelo de Noudar: os bramidos dos veados começam a encher a paisagem à medida que se instalam os contornos fantasmagóricos destas noites de lua brilhante e teimosa perante a escuridão. Não só os veados já estão em plena brama (cio) nesta segunda metade de Setembro, como os ouvimos bem perto do Monte da Coitadinha, em pleno Parque de Natureza de Noudar (PNN), a poucos quilómetros de Barrancos. São companhia omnipresente, estes sons guturais, nestas noites cálidas, estejamos nós sentados na esplanada ou percorrendo os caminhos do parque, a tentar cristalizar os animais num dos feixes de luzes dos faróis. Duas fêmeas atravessam-se-nos bem perto do rio Ardila, o macho vem logo a seguir. Uma aparição breve, seguida do grande nada, ainda que dêmos a volta ao parque. Apenas o som, sempre o som, claro — e o rasto de javalis, já bem afastados, em caminho de azinheiras como abóbadas quase translúcidas. Nada que nos desanime, ou com que já não contássemos: a natureza não tem hora marcada. E prova-nos isso no dia seguinte, ao final da tarde, quando, sem procurarmos, somos surpreendidos por nova perseguição. Um macho e uma fêmea a correrem ao lado da estrada que atravessa o PNN — várias centenas de metros, até nos despistarem com uma incursão perpendicular para os montados. Pelo meio, avistamos coelhos esquivos e o que nos dizem ser uma fuinha; perdemos a conta às aves, mas não esquecemos os abutres negros a planar, impávidos e senhoriais, sobre o Castelo de Noudar. Entretanto, no monte, a unidade de alojamento do PNN, as osgas e os morcegos tornam-se os nossos melhores amigos no terraço nocturno embalado pela banda sonora cortesia da brama dos veados, visceral, das cigarras, ininterruptas, dos badalos das vacas, quase etéreos. Se Noudar não fica no fim do mundo, fica no fim de Portugal, pelo menos: Espanha ao lado é tão literal como atravessar o rio Ardila, limite norte do PNN, limite norte deste pedaço caprichoso de Portugal do lado esquerdo Guadiana desenhado em forma de península. De um lado, o rio-fronteira Ardila, que corre escurecido pela tempestade recente; do outro, a ribeira da Múrtega, limpidez hesitante — no extremo ocidental da propriedade unem-se e é o Ardila que prossegue. Esta é região de fronteira, sim, e lá está, quase no extremo da “península”, o castelo devido, uma solidão recta de que a paisagem passiva parece troçar. Longe vão os tempos de lutas, em que Noudar se movia na dança de fronteiras; longe vão os tempos em que Noudar tinha gente. Raul é agora o habitante mais constante do castelo, o guarda de cara tisnada e sorriso acanhado e cansado que entretém a solidão com a pesca de achigãs, bogas e tudo o que vier à rede (“no Múrtega, porque o Ardila está poluído”) — os cigarros esporádicos e muitos pensamentos que convergem para uma cisma: “Todos os que trabalharam aqui já morreram. ”Já voltaremos ao castelo, incontornável no PNN. Mas o PNN não existiria não fora tudo o que rodeia a fortaleza, as colinas e vales que o final de Verão pinta de amarelo e verde pardo: é aí que se sucedem os domesticados montados de azinho, pastagens e campos de cultivo, os espontâneos azinhais e estevais (a intervenção humana de mão dada com a sua impossibilidade topográfica), a fauna e a flora (dócil e selvagem) que deram o passaporte de entrada na Rede Natura 2000. Um parque de natureza, portanto, instalado numa antiga herdade — da Coitadinha, mas sem lamentos: significa pequena coutada de caça — que renasceu porque algo morreu. Se hoje há o PNN é porque a albufeira do Alqueva engoliu milhares de hectares de montado. A aquisição da herdade pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA) foi a contrapartida pelo desmembramento dos ecossistemas de montado, matagais mediterrânicos e galerias ripícolas resultantes da construção e exploração do Alqueva, explica o director de património da EDIA, Diogo Nascimento. Se a Aldeia da Luz se viu replicada e com direito a museu, a natureza submersa tem também uma espécie de museu, vivo, na Herdade da Coitadinha, mil hectares de biodiversidade (devidamente inventariada, catalogada e publicada em cinco guias: aves nidificantes, mamíferos, flora herbácea, árvores e cogumelos) que se alimenta da espontaneidade da natureza e da disciplina da intervenção humana. Entre as práticas agrícolas tradicionais e a conservação da natureza, segue seguro (e formoso) o PNN. Um pequeno mundo onde o presente aproveita o passado e desvela o futuro; um presente onde o turismo é a porta de entrada. A entrada literal no parque de Noudar faz-se de forma lenta, pela estrada de terra batida onde a ponte, estreita, sobre a ribeira da Múrtega, nos deixa. Estradão fora entre os montados de azinho (intromissões de oliveiras e sobrados), troços de vegetação densa e os primeiros animais — sem caprichos da natureza: de um lado o “hotel”, como José Carlos, engenheiro agrícola há dois anos no PNN, chama ao cercado onde estão os novilhos de raça garvonesa; do outro lado, em 20 hectares, deambulam os adultos. Provavelmente alguns cavalos já fizeram a sua aparição, em altura de montanheira, também porcos pretos em busca de bolotas. Com muita sorte, veados, corças, javalis e até raposas dão-se a ver. Porém, se a ideia é um “safari”, o melhor é dar mais espaço à fortuna: deixar o estradão e vaguear no mato ou permanecer nos pontos de observação, pacientes, silenciosos e inodoros. À maneira dos caçadores, que de vez em quando se reúnem aqui para jornadas de “esperas ao javali” e, mais raramente, montarias. Já avistamos o monte, oásis branco com risca amarela, mas antes uma paragem na história da Guerra Civil de Espanha (e da solidariedade barranquenha). Em Setembro de 1936, 700 republicanos atravessaram o Ardila fugindo da morte às mãos dos franquistas, determinados em acabar com a II República. Junto ao Poço da Ferragadura, aqui na Herdade da Coitadinha, encontraram abrigo, no que ficou conhecido como “campo de refugiados”, onde permaneceram, com o apoio da população, até serem repatriados para o reduto republicano de Tarragona. O Monte da Coitadinha é o coração do PNN, para quem trabalha e quem visita. E quem pernoita, como nós: não temos tempo de ir à piscina, mas a sopa de cação no restaurante Pançona não nos escapa, assim como o pôr e o nascer do sol visto dos terraços — a observação do céu nocturno é que foi sugada pelo clarão da lua, mas, ainda assim, descortinamos Marte e Saturno e vislumbramos Cassiopeia, graças à paciência de Nuno Santos, uma espécie de caseiro do monte (e chef do restaurante) que teve formação da Reserva Dark Sky do Alqueva, que o PNN integra. Pelo meio, fazemos amizades canídeas: a Fiúza, a pastora belga que “pertence” à herdade, a Andorinha e o Dior, que são da Débora (que veio fazer um estágio em ecoturismo em 2006 e não mais saiu) e a acompanham para o trabalho. Da recepção saem visitas guiadas (é necessário reservar) e alugam-se bicicletas e carros eléctricos, os Noucar. Quem preferir andar sozinho, pode optar por um guia digital (que dá informação variada em função da localização) ou não passar sequer por esta casa de partida: o castelo fica no fim da estrada, fora desta há uma série de percursos sinalizados. O nosso passeio é abrangente, indisciplinado e multidisciplinar. Se nas visitas guiadas pode haver especialistas em história, botânica, ornitologia, etnografia ou geologia, a verdade é que aqui tudo está interligado e é com essa noção que deixaremos Noudar. Embrenhamo-nos de igual maneira pelas zonas de montado, mais limpas, para pasto e produção de cereais, e pelas zonas de azinhais e estevais, onde a vegetação é mais imponente e a biodiversidade maior. Não vemos calêndulas, nem crisântemos, tão-pouco a raríssima “trepadeira de Noudar”. Contudo, asseguram-nos, estão por aqui. Apontam-nos sementeiras, para a fauna silvestre, por estes dias sem cultivo. Quando o há, instalam-se fios eléctricos em redor para se ter a certeza de que apenas os animais selvagens aí comem: as aves descem, os veados saltam e os coelhos escavam. Passamos choças e malhadas, casa de pastores e dos seus animais, respectivamente, algumas recuperadas, e nas margens da ribeira da Múrtega, onda há lontras, visitamos um moinho de água que José Perdigão, o técnico de arqueologia do parque, pôs a trabalhar. Ainda há farinha nas mós (que vieram da região de Alqueva), apesar de aqui já só se moer trigo para visitante ver, apesar de por estes dias não funcionarem porque lhes falta a força: a ribeira corre aos solavancos, engasgando-se nos pegos (alguns de fonte natural) sem saltar os açudes. Uma seca aparente: este é um ribeiro torrencial e rapidamente tudo o que vimos, moinho incluído, pode ficar submerso. Na Horta da Senhora, assistimos à rega, por alagamento, de canteiros de alho francês, cebolas, pimentos, beringelas (a lista continua e inclui aromáticas plantadas por hóspedes) e, mais tarde, acompanhamos a colocação de ninhos, sempre virados a sul, tamanhos diferentes para aves de vários portes. Dos carriços e pintassilgos até aos mochos e pica-paus, sem esquecer, por exemplo, os chapins e picanços-reais, todos têm em comum o facto de serem insectívoros e, portanto, comerem os insectos que vivem nas cascas das árvores associados às doenças de sobreiros e azinheiras. Descobrimos, aliás, muitas azinheiras a morrer, grandes manchas de árvores quase brancas, e conhecemos os dois estagiários andaluzes, Alejandro e Ismael, que querem estudar o fenómeno para o relatório final deste que é o segundo estágio deles no PNN. Percebemos que a preocupação com estas mortes é compensada pelos sinais de regeneração do montado, com árvores grandes (algumas com 200 anos) e pequenas, quase arbustos, lado a lado, por vezes em zona vedada ou com protecções nos troncos delgados. “Intervimos na poda, escolhemos as melhores e damos forma”, assegura Diogo Nascimento, engenheiro florestal de formação. Na Fonte da Figueira, antigo espaço de lazer dos proprietários da herdade ao estilo do setecentista agora votado ao abandono, fazemos um piquenique: valem os cestos, de onde saem enchidos, mini-rojões, punheta de bacalhau, pão, geleias, bolos, fruta, patés, vinhos e água, e vale a vista, para a “pançona” do Ardila, a zona do rio onde este faz uma curva de 180 graus que parece ter sido desenhada pelo capricho de um demiurgo folgazão e onde os barranquenhos ainda hoje fazem uma romaria a cavalo. E já estamos à sombra do castelo. Diz-se que a qualidade da água na Fonte da Figueira foi um dos motivos para a construção da fortificação aqui — a par das suas óbvias qualidades defensivas naturais, no cimo de um monte, quase na ponta da tal península, com vista solta para os cumes que se desdobram como um oceano em dia de ventos desencontrados. Barrancos, alvíssima, aninha-se num desses montes já a fechar o horizonte e é o único vestígio de gente visto daqui. É também uma espécie de némesis de Noudar, crescendo à medida que esta se apagava até ao seu abandono definitivo no século XIX, provavelmente devido aos frequentes surtos de malária. Parque de Natureza de Noudar 7230-057 Barrancos Tel. : 285950000 E-mail SiteO assentamento humano neste morro já vem do período Calcolítico; a “fortaleza de bons muros” que chegou até nós é da responsabilidade de D. Dinis, que encarregou a Ordem de Avis da sua construção, sobre um antigo baluarte islâmico (que terá sucedido a um visigótico, que terá sucedido a um romano. . . ). “Uma parte desta muralha ainda existe, mas não está à vista”, diz a responsável do Museu de Arqueologia e Etnografia de Barrancos, Lídia Segão. É, aliás, no museu que peças recolhidas em várias campanhas arqueológicas desvendam um pouco do quotidiano de Noudar ao longo de muitos séculos. Porque o castelo é actualmente apenas uma casca: a alcáçova, com a torre de menagem e as cisternas, e a igreja de Nossa Senhora de Entre Ambas as Águas (que foi também do Desterro e da Encarnação), esventrada, tutelam a antiga vila, ruínas (a mais composta a da casa do governador) alinhadas nas duas ruas principais, paralelas. Uma casa foi reconstruída, usando as técnicas tradicionais, para servir de recepção e é à sombra da sua latada que encontramos Raul. Trabalhou nas escavações, passou pelo museu e regressou ao castelo que, desde a sua conquista, em 1167, e até ao Tratado de Utrecht, em 1715, passou de mãos em mãos, ora Portugal, ora Espanha (uma “indecisão” histórica que valeu aos barranquenhos o epíteto de “os traidores de Sevilha”). Em 1774, Noudar divide com Barrancos a sede de concelho, mas em 1836 o de Noudar é extinto — algumas décadas depois, já abandonado, é vendido em hasta pública. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Agora é uma vila-fantasma, mas fez parte da política de povoamento (e de defesa) do país: foi o primeiro Couto de Homiziados português, ou seja, local onde os condenados (por crimes “leves”) podiam viver “em liberdade” — condicional: não podiam sair daqui e tinham de defender a fronteira da cobiça vizinha. Lugar de desterros, portanto, uma mini-Austrália, onde agora o único desterrado parece ser Raul. Que continua à espera de Primaveras que pintam a paisagem e trazem mais visitantes. Não é o fim nem o princípio do mundo. É o PNN; é qualquer coisa de intermédio. Ainda se espera o regresso do lince ibérico no PNN e ninguém parece disposto a desistir, pelo menos se a quantidade de parques de coelhos montados servir de indicador. “Há registos de 1950, 1960, de captura de linces aqui”, conta Diogo Nascimento, justificando o envolvimento do PNN com o projecto Life+IberLince, que desenvolve o trabalho de preparar os territórios ibéricos para voltar a receber esta espécie que foi considerada extinta em Portugal no ano 2000. É aqui que entram os coelhos bravos, que constituem 80% da dieta do lince: a ideia é aumentar a densidade populacional dos primeiros, para poder sustentar a cadeia alimentar dos segundos. A criação do PNN foi uma obrigação, assume o presidente da EDIA, José Pedro Salema, que se tenta levar a sério, como modelo de uma gestão integrada e sustentada do território do interior, em que as preocupações ambientais e a conservação da natureza têm o palco principal. Entre a aquisição da herdade, em 1997, e a data da abertura ao público do PNN, em 2006, fez-se a recuperação integral da propriedade, desde a paisagem e fauna ao monte. O resto da sua vida tem sido uma busca pelo equilíbrio entre as práticas agrícolas (exploração agro-florestal e pecuária, sobretudo) e a conservação do lugar na sua dimensão natural e cultural — afinal, tudo está ligado. É neste sentido que entra a tentativa de recuperar o lince e também o gado autóctone. A raça mertolenga faz parte da tradição da herdade (e até teve uma das suas pelagens aqui apurada) mas, recentemente, introduziu-se também a garvonesa, que é a espécie bovina mais ameaçada em Portugal. Dos 400-450 exemplares existentes, 31 fazem parte deste novo núcleo do PNN: não vemos nenhum macho, dizem-nos que são imensos como búfalos; as fêmeas já impressionam com o seu “casaco” castanho-avermelhado. Ao todo, são 140 cabeças de gado no parque, “para não haver pressão na flora, na superfície” — estão em regime extensivo e estritamente biológico. “Se o nosso objectivo fosse apenas a rentabilidade económica teríamos muitas mais”, reconhece Diogo Nascimento. Nesta procura de harmonia, o PNN assume-se também como uma espécie de laboratório. Para, por exemplo, o estudo do efeito das alterações climáticas nos montados e a adaptação destes a elas. Em 200 hectares, desenvolve-se, então, o projecto Life Montado-Adapt. Em 200 hectares preconiza-se, então, o futuro.
REFERÊNCIAS: