Uma mão cheia de resoluções para tornares o teu 2019 mais verde
Como juntar o planeta às resoluções de ano novo? Uma lista para quem quer começar o ano mais amigo do ambiente. (...)

Uma mão cheia de resoluções para tornares o teu 2019 mais verde
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como juntar o planeta às resoluções de ano novo? Uma lista para quem quer começar o ano mais amigo do ambiente.
TEXTO: 2018 foi o ano em que nos revoltámos contra o plástico. Cientistas, governos, políticos, empresas, comunidades, consumidores: desde o virar do século que uma campanha ambiental global não reunia em tão pouco tempo tantos apoiantes e despertava tanto interesse público, dizia ao P3 Will McCallum, responsável para os oceanos na Greenpeace do Reino Unido, em Setembro. Por aqui, criámos a hashtag #p3_antiplastico para nos ajudares a denunciar os piores exemplos e a valorizar os melhores. Em Dezembro, voltámos a ela. Fomos partilhando as tuas dicas e agora deixamos as nossas. Feliz Ano Novo. Em 2018, a União Europeia chegou a acordo para proibir os cotonetes, talheres de plástico e as palhinhas de plástico a partir de 2021. Mas porque não começar uns anos mais cedo? Não só em casa, mas também no café da rua, ou no teu bar favorito. A Straw Patrol, um movimento criado por uma bióloga portuguesa, criou uma simpática carta modelo que podes enviar por email para sensibilizar cafés, bares e restaurantes a abandonarem as palhinhas de plástico — ou a implementarem uma política de palhinha por pedido, já que há pessoas que não podem beber de outra forma. Mas mesmo na maior parte destes casos, há opções biodegradáveis ou, melhor ainda, reutilizáveis. Para o início da época de saldos propomos-te um leve 2 pague 1 diferente: poupa a carteira e o ambiente e não compres roupa. As fibras da roupa sintética — isto é, feita de plásticos como o nylon, acrílico e o poliéster – formam um terço dos microplásticos encontrados nos oceanos, rios e lagos uma vez que ao contrário do algodão, do linho, do cânhamo e da lã, por exemplo, não são biodegradáveis. Em época de camisolões e roupa polar, o Guppy Friend, um saco alemão que custa 30 euros, promete proteger as roupas durante a lavagem e “filtrar as poucas fibras que realmente partem” e se libertam dos tecidos sintéticos. Se esta não é uma despesa a considerar no orçamento, opta por lavar menos vezes as roupas, enche a máquina na capacidade máxima e escolhe um programa mais curto e com temperaturas mais baixas. Relembrámos que 2018 foi o ano em que, pela primeira vez, um estudo exploratório quantificou e caracterizou microplásticos encontrados em fezes humanas. E os resultados não são animadores. O ecoponto não é uma caixa mágica que transforma tudo o que lá deitámos em algo novo. As garrafas de água, por exemplo, não voltam a ser transformadas em garrafas de água da mesma qualidade, uma vez que ao contrário do vidro, o plástico vai-se deteriorando ao longo do processo de reciclagem. Portugal está alinhado com a média europeia na taxa de reciclagem de resíduos de plástico (42%), mas apresenta a pior taxa no papel e cartão (70%) e a terceira pior no vidro (58%), segundo dados do Eurostat referentes a 2016. Simplesmente não conseguimos reciclar todo o lixo que produzimos. Solução possível, para já: fazer menos lixo. O projecto Factura sem papel vai arrancar no início do próximo ano, mas cada empresa terá liberdade de decidir se quer ou não aderir — e quando — à nova iniciativa do fisco. E, em última instância, são os consumidores que decidem, em cada compra, se querem a factura em papel. Também quando vais ao supermercado podes optar por colocar a fruta e os vegetais num saco plástico. Propomos que te lembres de recusar tudo isto na altura da compra e que fales com a tua loja ou supermercado sobre a quantidade de resíduos que acompanham o que realmente queres comprar. A melhor forma de reduzir o lixo é não chegar sequer a levá-lo para casa (descobre aqui como fazer compras sem plástico). Inspira-te no grupo Lixo Zero Portugal, de Ana Milhazes. Em seis meses, há mais 900 casas com um compostor doméstico em Lisboa. O objectivo do Projecto Lisboa a Compostar é subir este número para quatro mil famílias, só em Lisboa, já em 2020. Os compostores são maiores do que um caixote do lixo, e não ficam normalmente dentro de casa, mas ocupam pouco espaço no exterior (à sombra no Verão e ao sol no Inverno). Para quem quiser aprender a compostar, a Revolução das Minhocas, projecto de Pierre Del Cos, realiza frequentemente workshops sobre vermicompostagem (compostagem com minhocas) em várias zonas do país. Principais benefícios: “além de reduzir a pegada ecológica do lixo, produzem fertilizantes naturais para cultivar alimentos saudáveis”. Pensa nisto: por dia, cada habitante produz 481 gramas de biorresíduos. 179 quilos por habitante por ano. Está na altura de começar a pensar em reduzir e reciclar também o lixo orgânico. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Outubro, investigadores avisaram que uma redução muito significativa na quantidade de carne de vaca e de porco ingerida por pessoa podia ser a melhor forma de diminuir as alterações climáticas, de uma vez só. Em percentagens: no Ocidente, o consumo de carne de vaca e de porco teria de diminuir 90 por cento, sendo substituído por cinco vezes mais feijões e leguminosas do que as que actualmente chegam ao nosso prato. Menos de 300 gramas de carne vermelha por semana. Isto para que seja possível alimentar, em 2050, uma população mundial de dez mil milhões de pessoas mantendo o aumento da temperatura da Terra abaixo dos dois graus celsius. Além do estudo que analisou o impacto do sistema alimentar no ambiente para chegar a estas conclusões (disponível online na Nature, em inglês, aqui), propomos-te a série do PÚBLICO sobre alimentação sustentável nas cidades e de duas entrevistas sobre o consumo de carne: Por detrás da “máscara” da indústria pecuária, esconde-se A Vaca que Não Ri e Porque é que não comemos cães?. Aqui está uma nova palavra para 2019: “flexitário” (um vegetariano em regime flexível).
REFERÊNCIAS:
Catarina Pedroso e Ricardo Duarte criaram os sapatos vegan Balluta
Marca de calçado portuguesa foi seleccionada para estar numa importante feira em Milão e já vende para o mercado internacional. (...)

Catarina Pedroso e Ricardo Duarte criaram os sapatos vegan Balluta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Marca de calçado portuguesa foi seleccionada para estar numa importante feira em Milão e já vende para o mercado internacional.
TEXTO: É vegan, feminina, tem sete meses de vida e já dá passos fora de Portugal com os direitos dos animais como bandeira. É a marca de calçado Balluta, “a única portuguesa seleccionada para o evento Emerging Designers, nas duas próximas edições da maior feira de calçado internacional, a MICAM, em Milão”, orgulha-se Catarina Pedroso que criou a marca com o marido Ricardo Duarte. Quando o casal se meteu nesta aventura, nenhum dos dois tinha conhecimentos na área do calçado. Tinham, sim, o gosto pelo design, moda e arte, assim como a vontade de fazer algo fora da caixa. Por essa altura, tinham (e ainda têm) uma empresa na área do turismo. Certo dia, Ricardo Duarte lançou o desafio: “Porque não criamos uma marca de calçado?”. “Ainda pensei que ele estava louco”, conta Catarina Pedroso, entre risos. Mas depois a ideia começou a fazer sentido, por causa do percurso académico de Catarina que é licenciada em pintura e tem uma pós-graduação em curadoria. Também já trabalhou como maquilhadora de moda e depois como gestora de marcas de maquilhagem. E pensou: “Porque não?” Tinha uma mão cheia de criatividade, experiência no mundo da moda e gosto pela arte, enumera. Regra de ouro: teria de ser um calçado sem materiais de origem animal e não testado em animais, ou seja, cruelty free. Primeiro, porque Catarina é defensora dos direitos dos animais depois de, em pequena, ter “crescido no seio de uma família com tradições tauromáquicas”, recorda. E ter assistido a touradas. Acabou por se tornar vegetariana e, como tal, os sapatos só poderia, ser vegan. Aliás, o nome escolhido para a marca significa “bolota”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O casal começou, então, por explorar o que existia no mercado e a bater a algumas portas de fábricas para ver onde produzir o calçado. “Vimos logo que a ideia tinha potencial”, diz Catarina Pedroso que frequentou, entretanto, um curso de design de calçado na Lisbon School of Design. É ela quem desenha, inspirada na arte e na natureza. “O curso também ajudou a perceber como funciona a produção do calçado”, recorda. Também teriam de ser sapatos, sandálias, sapatilhas, botins e botas “arrojados e divertidos” e a paleta de cores é exemplo disso. Sempre com a preocupação ambiental por trás, com materiais ecológicos e não poluentes, como plástico reciclado. “Ou material com percentagem de cereais no forro do calçado e os saltos feitos de cortiça ou madeira”, descreve. O casal procura sempre soluções sustentáveis. Em apenas sete meses, a marca já lançou duas colecções, seguindo-se uma terceira em Fevereiro de 2019. Inicialmente, vendeu mais em Portugal, mas agora 90% dos clientes são internacionais, dos EUA, Reino Unido e Alemanha. Os dois sócios, aos quais recentemente se juntou um terceiro, Susana Gomes da Costa, já começaram a colher os frutos. “É uma honra termos sido a única marca portuguesa escolhida para entrar na categoria de Emerging Designers e podermos estar lado a lado com os top players do sector”, diz satisfeita. Por enquanto, esta é uma marca online e os preços variam entre os 159 euros e os 400 euros.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Cinco razões para estarmos confiantes; e outras tantas para estarmos ansiosos
Estarão certas as previsões que apontam 2019 como um ano de crise económica? O Estado funciona em Portugal? Apontamos razões para ficarmos ansiosos. Mas também encontramos motivos para estarmos confiantes: a consciência ambiental cresce no mundo; e há muito tempo que não tínhamos tão pouco desemprego em Portugal. Que venha 2019. (...)

Cinco razões para estarmos confiantes; e outras tantas para estarmos ansiosos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estarão certas as previsões que apontam 2019 como um ano de crise económica? O Estado funciona em Portugal? Apontamos razões para ficarmos ansiosos. Mas também encontramos motivos para estarmos confiantes: a consciência ambiental cresce no mundo; e há muito tempo que não tínhamos tão pouco desemprego em Portugal. Que venha 2019.
TEXTO: A taxa de desemprego actualmente registada em Portugal — 6, 7% — é a mais baixa dos últimos 16 anos. É verdade que os ordenados se mantêm baixos, mas o aumento do salário mínimo — que vai subir agora para 600 euros — não impediu a criação de emprego, ao contrário do que anunciavam os patrões e os catastrofistas de serviço. A curva descendente do desemprego foi uma das razões do aumento da confiança em Portugal nos últimos tempos. O aumento do turismo é responsável por boa parte desta criação de emprego e tudo indica que a procura turística continue em alta. Ainda iremos a tempo? A verdade é que se assiste a um aumento da consciência ambiental entre as populações. A decisão da União Europeia de banir as “palhinhas” de plástico pode ser uma ínfima “palhinha” no imenso mar de coisas em que é preciso mexer para tornar o planeta sustentável. Mas o facto de as pessoas terem acordado para a emergência global forçará os políticos a tomarem mais medidas de protecção ambiental. O crescente vegetarianismo é um factor de confiança por duas boas razões: o consumo excessivo de carne faz mal à saúde e ao planeta. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma alimentação com overdose de carne está ligada a um maior risco de cancro e doenças cardiovasculares. Por outro lado, se queremos salvar o planeta, vamos mesmo ser obrigados a reduzir drasticamente o consumo de carne de vaca e porco, que consomem recursos inauditos (sobretudo a produção da primeira). Os avanços científicos ainda não conseguiram a cura para o cancro, mas estão a conseguir salvar cada vez mais vidas. O diagnóstico cancro já não é em muitos casos uma sentença de morte. Há uma revolução na ciência que todos os dias traz mais esperança às populações. A grande revolução no pós-25 de Abril foi tornar o direito à educação universal. A educação para todos e o Serviço Nacional de Saúde, com todas as suas falhas, produziram uma nova geração que teve acesso a coisas que nenhuma das anteriores teve, excluindo os mais privilegiados. Sim, eles são mimados e alguns não querem sair de casa dos pais. É verdade que convivem com uma competição nas escolas que não era tão visível nas gerações anteriores. Têm também os pais mais malucos de sempre a controlá-los, inclusive via telemóvel. Mas já não conduzem bêbados, são mais sabedores e empenham-se num mundo melhor. Ainda agora saímos da depressão que atingiu todas as famílias com a crise que começou em 2008 — e que trouxe a troika, os cortes, o desemprego e a angústia a Portugal — e já se fala de uma nova crise económica internacional. O Banco de Portugal mostrou todo o seu pessimismo, muito mais notório do que o do Governo, ao baixar as expectativas de crescimento. Há demasiadas incertezas no ar, as consequências do “Brexit” ainda são difíceis de prever, a bolha imobiliária em Portugal (principalmente em Lisboa e Porto e respectivos arredores) pode rebentar, a baixa poupança das famílias e o regresso em força do recurso ao crédito são factores de risco. Sim, é verdade que estávamos a respirar de alívio depois do inferno que foram os anos da troika e precisávamos de alguma alegria. Mas a economia europeia e internacional apresentam sintomas de ansiedade. Em vários fóruns económicos, já se fala na crise económica de 2019. Temos uma moeda partilhada, o euro, e não sabemos o que vai acontecer num dos países que usa a mesma moeda, a Itália. Para já, tudo indica que o Governo italiano, entregue agora aos populistas do movimento Cinco Estrelas e a Matteo Salvini (vice-primeiro-ministro), chegou a um acordo com a Comissão Europeia depois de dizer que recusava as metas impostas por Bruxelas. Por enquanto. Se Salvini cumprir aquilo que prometeu ao seu povo, vai embater de frente com as estruturas da União. E, ao contrário do “Brexit” que está a acontecer, ou de um “Grexit” que não aconteceu, um “Italexit” não é possível — dificilmente a Europa e o euro sobreviveriam. Pode ser que as coisas se componham — ao contrário do que muitos previram, a crise que começou em 2008 não rebentou com o euro. Mas o sistema bancário português afundou-se e pagámos todos com o corpo e a folha salarial. O Verão de 2018 em Portugal viu as temperaturas dispararem ao nível da Arábia Saudita. Os negacionistas do aquecimento global andam por aí, a começar na figura que é Presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Enquanto Donald Trump se ri, os cientistas assustam-se. Samantha Stevenson, especialista em clima na Universidade da Califórnia, prevê que “é perfeitamente possível que 2019 seja o ano mais quente de sempre” com o regresso do fenómeno El Niño. Os últimos quatro anos foram os mais quentes de sempre, impulsionados com emissões recorde de CO2, segundo a Organização Mundial da Meteorologia (WMO). Vamos ter mais fogos, como aqueles que arrasaram Portugal em Junho e Outubro de 2017? Os cientistas acreditam no aumento de fenómenos climáticos extremos, como incêndios, vagas de calor extremo e tempestades violentas. Nós, portugueses, que assistimos às tragédias de Pedrógão Grande e à devastação dos incêndios do Verão de 2017, temos razões de sobra para estarmos muito ansiosos. Segundo as sondagens, as eleições para o Parlamento Europeu, agendadas para Maio de 2018, vão ser marcadas por um crescimento da extrema-direita nunca visto com o consequente encolher dos partidos europeus que fundaram a Europa: o Partido Popular Europeu (a família política a que pertencem PSD e CDS) e o Partido Socialista Europeu (de que faz parte o PS). Em França, a Frente Nacional de Marine Le Pen lidera as sondagens e, depois da quase erradicação do Partido Socialista Francês (resultado dos anos patéticos de François Hollande), a imagem de Emmanuel Macron anda agora pelas ruas da amargura. O movimento dos Coletes Amarelos em França (não confundir com o que se passou na sexta-feira em Portugal) é politicamente transversal e não é arriscado dizer que muitos dos seus votos vão parar à Frente Nacional. Em Itália, a situação não é melhor. O profundo desconforto da classe média europeia é visível e os partidos tradicionais não estão a conseguir responder. Vamos ter o Parlamento Europeu com mais deputados de extrema-direita desde a fundação da Europa? É muito provável e, sim, arrepiante. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tem Facebook? Usa o Google? Claro, estamos a entrar em 2019. O acordar tardio para a necessidade da protecção de dados não chega para acabar com a certeza de que as nossas informações pessoais andam por aí e as nossas mensagens privadas são lidas por sabe-se lá quem. A reserva de intimidade é um bem desaparecido, até por vontade própria — se é daquelas pessoas que fotografam todos os jantares de família para pôr nas redes sociais está a oferecer ao mundo uma enorme quantidade de dados por livre iniciativa. Mas, evidentemente, isso não justifica que as suas conversas privadas tenham de cair nas mãos de alguém. O problema é que a segurança sobre a privacidade desapareceu. Os esforços legislativos não permitem que deixemos de nos sentir ansiosos sobre o Big Brother. E, quando esses dados servem para eleger Presidentes como Trump ou Bolsonaro, a medida da tragédia e da ansiedade é elevada. Foi há relativamente pouco tempo que Portugal deixou de ser um país de Terceiro Mundo. Até quase ao fim do século XX, efectivamente, foi. A entrada na União Europeia e o trabalho dos sucessivos governos melhoraram as coisas: hoje há estradas, água canalizada, um Serviço Nacional de Saúde e uma escola pública que, em geral, têm elevada qualidade. A entrada no primeiro mundo é recente e continuam a subsistir as memórias do terceiro. Para usar dois exemplos recentes: o que se passou na estrada de Borba, em que sucessivos avisos não foram suficientes para impedir a tragédia, é uma prova de que o Estado não funciona. A trapalhada que aconteceu com o 112 e a NAV no caso do helicóptero do INEM mostra um quadro de desorientação inadmissível em serviços de emergência. Perante um desastre em Portugal, nunca poderemos ficar descansados. A sucessão de falhanços das entidades a quem competia prestar a emergência mete medo.
REFERÊNCIAS:
Um ofício raro
Bons professores criam excelsas personalidades, desejosas de contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária e, nos tempos que correm, é mais necessário do que nunca. (...)

Um ofício raro
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-07-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bons professores criam excelsas personalidades, desejosas de contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária e, nos tempos que correm, é mais necessário do que nunca.
TEXTO: Numa altura em que o papel do professor é tão discutido, defeitos são apontados e qualidades são, infelizmente por escassos, ainda registadas, não poderia deixar de enfatizar o papel do professor enquanto artesão. Um professor, um bom professor, aquele que permanece na memória dos alunos ad aeternum, é aquele que é capaz de “moldar” o aluno, de desenvolver as suas capacidades e potencialidades ao máximo e, acima de tudo, que vê para além do momento presente. Quando recebe um aluno, após algumas aulas, independentemente de critérios, avaliações ou outras burocracias, tem a capacidade de saber como “trabalhá-lo” para que o rendimento do mesmo seja máximo e as eventuais limitações se transformem em estímulos e não em fonte de desmotivações. Um bom professor preserva a individualidade de cada aluno e respeita-o como um igual. Um bom professor é persistente, cauteloso e adapta-se e adapta os seus métodos de ensino à realidade dos seus alunos: é dinâmico, criativo, crítico e paciente, sem nunca descurar a exigência e a excelência no desempenho da sua missão. É também curioso e actualizado, disposto a aprender com aqueles a quem ensina. Mais do que 25 alunos para ensinar, tem na sala de aula 25 indivíduos com ritmos e formas de raciocinar distintas, o que envolve não só muita “ginástica mental” mas também uma enorme inteligência emocional para lidar com a diversidade em causa. Paralelamente, o artesão trabalha o barro calmamente e tem consciência, desde o início, que aquela argila que tem à sua frente se transformará em algo fenomenal, se bem trabalhada, se lapidada e moldada com a experiência que só um artesão dedicado e apaixonado consegue. Efectivamente, o que diferencia um bom professor dos seus pares é a paixão com a qual se entrega à profissão, a aposta que faz nos alunos, ainda que estes, por vezes, não apostem nele. . . Arrisca, de modo exímio, estratégias de ensino inovadoras, desafia dogmas e burocracias infindáveis e coloca sempre o bem-estar e a aprendizagem do aluno em primeiro lugar, apesar da desvalorização da qual é alvo por parte da sociedade civil e, frequentemente, dos próprios alunos. Note-se a resiliência. . . De facto, em Portugal, o número de artesãos está a diminuir drasticamente com a massificação dos variados bens de consumo, entre os quais peças de joalharia ou decoração de interiores. Da mesma forma, os professores, os bons professores, aqueles que se assemelham aos artesãos referidos, estão também em vias de extinção. São as “trilobites dos tempos modernos”. Como publicado e discutido na comunicação social, os bons alunos não querem ser professores. Porque será? Porque os modelos que tiveram no decorrer dos 12 anos de ensino obrigatório não foram os melhores? Porque as perspectivas de construir carreira são mínimas e enfadonhas? Porque é uma profissão desvalorizada na sociedade? Porque as regalias são escassas comparativamente com os deveres e obrigações?Da mesma forma, a pergunta “Porque é que a figura do professor perdeu o prestígio com o decorrer dos anos?” deverá ser levantada e discutida, na medida em que a educação é o pilar de qualquer sociedade. E se o papel do principal veículo de conhecimento é colocado em causa, considero que se torna urgente a discussão dos objectivos do sistema de ensino português e o meio para os atingir. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Gostaria de ressalvar que não está aqui em causa qualquer desumanização do mesmo. Porém, um bom professor constitui uma ferramenta para o sucesso do determinado grupo de alunos pelo qual é responsável. Tal como o artesão é um veículo para a construção de uma peça, de uma obra de arte, cabe ao professor transmitir o conhecimento, explicar as suas aplicações ao quotidiano e permitir a compreensão das matérias leccionadas da parte dos alunos. Para além de que estimula o seu pensamento crítico e crescimento enquanto ser humano equilibrado e sensibilizado em relação à sociedade na qual se insere. Não será esta a verdadeira obra de arte?Não nos podemos esquecer que o melhor cientista, o melhor atleta e o melhor académico têm algo em comum nos seus percursos: indivíduos que os inspiraram a superaram-se a si próprios e que, mais importante do que qualquer outro acto, que confiaram e acreditaram, por vezes, com várias razões para não o fazerem, que aquele aluno seria capaz de algo de extraordinário. Bons professores criam excelsas personalidades, desejosas de contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária e, nos tempos que correm, é mais necessário do que nunca. Nos dias que correm, embora possa não ser economicamente possível satisfazer as regalias às quais os professores têm direito, é fundamental que, em alturas de crise como estas, estes recordem, carinhosamente, as razões que, há alguns anos, os levaram a enveredar pelo ensino e que, simultaneamente, se lembrem de todos os alunos que os admiram e guardam na memória as suas aulas, conselhos e excelência. Ad aeternum.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação social consumo extinção deveres
Do caso Robles às trapalhadas de Tancos: os momentos políticos mais desastrosos de 2018
Frases menos pensadas, ataques cirúrgicos a outro partido, informações incorrectas que podem valer muitos euros na conta bancária. Com mais ou menos ética, mais ou menos sentido político, a imagem dos deputados pintada em 2018 pelos próprios ficou esborratada. (...)

Do caso Robles às trapalhadas de Tancos: os momentos políticos mais desastrosos de 2018
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento -0.09
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Frases menos pensadas, ataques cirúrgicos a outro partido, informações incorrectas que podem valer muitos euros na conta bancária. Com mais ou menos ética, mais ou menos sentido político, a imagem dos deputados pintada em 2018 pelos próprios ficou esborratada.
TEXTO: O Parlamento voltou a ser o palco principal das trapalhadas políticas do ano que chega ao fim. Mais ou menos graves, distraídas ou assumidas, todas contribuíram para afastar ainda mais os cidadãos dos políticos e da política. Para que se voltasse a ouvir frases como “eles são todos iguais”, ou “eles estão lá é para se servir”. Na maior parte dos casos não será verdade, mas são “eles”, os políticos, quem mais contribui para que haja essa percepção. Sabendo que não vai ser fácil em ano eleitoral, PÚBLICO deseja a todos um 2019 menos tranquiberneiro. Foi um mês em que Feliciano Barreiras Duarte, recém-escolhido para secretário-geral do PSD, não tinha para onde se virar sem que houvesse um dedo apontado. Depois dos dados falsos no currículo sobre um doutoramento em Berkeley, foi a morada: apesar de viver em Lisboa, o deputado indicou ao Parlamento, durante dez anos, a morada dos pais no Bombarral, sendo-lhe dessa forma creditado um subsídio para deslocações maior. Outros nomes surgiram associados à mesma prática, que indicam moradas diferentes ao Tribunal Constitucional e à AR – da socialista Elza Pais aos sociais-democratas Clara Marques Mendes e Duarte Pacheco ou o bloquista Heitor de Sousa. Fazem parte da lista de casos que o Ministério Público está a investigar. Em Abril, descobriu-se que havia deputados eleitos pelos Açores e Madeira que apesar de receberem do Parlamento um subsídio de 500 euros semanais para pagar as viagens entre Lisboa e as ilhas (mesmo que não as façam mas marquem presença na AR), pediam às transportadoras o reembolso de pelo menos parte do valor do bilhete através do subsídio social de mobilidade. O deputado do Bloco Paulino Ascensão admitiu a falha ética e deixou o Parlamento uns meses mais cedo que estava previsto e devolveu o dinheiro a uma instituição com a qual colabora. Sara Madruga da Costa (PSD) prometeu devolver o dinheiro. E Carlos César, presidente do PS e da bancada do partido, que admitiu que pedia o dinheiro de volta, fez finca-pé de que não estava a fazer nada de ilegal. Os serviços do Parlamento vieram dizer que não havia ilegalidades mas o manto de suspeição não mais se levantou. O caso andou a correr as portas dos serviços e das comissões, e acabou na gaveta da comissão da Transparência que há-de debater o assunto – sem se saber quando. Agora estacionou num grupo de trabalho criado pela conferência de líderes que vai rever um regulamento de 2004. O Tribunal de Contas já avisou que o melhor é só pagar a entrega de facturas de viagens feitas mas os deputados não gostam da ideia. Julho corria para o fim quando caiu a notícia que sacudiu o Bloco de Esquerda. Um velho edifício de três pisos numa rua da alfacinha Alfama foi comprado em Março de 2014 por 347 mil euros. O proprietário investiu 650 mil em projectos, licenças e respectivas obras de requalificação, e o edifício foi colocado, de novo, à venda, agora através de uma imobiliária de luxo e com uma avaliação de 5, 7 milhões de euros. Nada nesta transacção seria notícia, não fora o caso de um dos proprietários em causa ser o vereador do BE da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, que acusava o executivo que integrava de ser um “promotor da especulação imobiliária”. Robles, num longo comunicado, ensaiou uma desculpa evocando razões familiares e a líder do BE Catarina Martins saiu rápido em sua defesa. Nem um nem outro perceberam que só havia uma solução: a demissão. Demoraram quase três dias para verem o óbvio e, nesse tempo, o caso ganhou proporções que não teria se tivesse sido resolvido de imediato. Robles saiu de cena, remeteu-se, até agora, a uma total abstinência política e o prédio ainda não voltou para venda, mas deixou feridas graves no BE e, toca que não toca, ainda surge na actualidade política. O roubo de equipamento militar em Tancos, em Junho de 2017, e o seu achamento, em Outubro do mesmo ano, tem sido desde o início uma enorme trapalhada com dezenas de outras trapalhadas dentro. Muitas delas políticas. Este ano soube-se que afinal a recuperação do equipamento tinha por trás uma encenação entre a Polícia Judiciária Militar (PJM) e o alegado autor do fruto que foi deixado em liberdade a troco da entrega das armas. Há vários elementos da PJM e militares da GNR constituídos arguidos e o antigo director detido. Causou ainda a demissão de um ministro da defesa e de um Chefe do Estado-Maior do Exército. A sintonia de confusões acabou por descambar em algo muito mais grave e envolveu o primeiro-ministro e o Presidente da República. No início de Novembro começam a ser lançadas suspeitas de que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa podiam saber mais do que deviam saber sobre a investigação a Tancos. Ambos o desmentiram por diversas vezes. Até que uma frase do Presidente faz disparar os alarmes: “Se pensam que me calam, não me calam. ” Muitos viram o primeiro-ministro como o destinatário do recado. Belém também nunca o desmentiu. Foi suficiente para ambos enterrarem o machado de guerra. Nunca o clima entre ambos esteve tão tenso este ano. Por vezes, as trapalhadas, acabam em casos muito mais graves. Graça Fonseca tinha tomado posse como ministra da Cultura há 15 dias. A 30 de Outubro vai ao Parlamento apresentar o orçamento da sua pasta. À conversa veio a redução da taxa do IVA para a cultura, mas as touradas ficavam de fora. Questionada sobre as razões para esta decisão afirmou: “A tauromaquia não é uma questão de gosto, é uma questão de civilização. ” Estava lançado a alvoroço. Os antitouradas saudaram a “coragem” da ministra e os pró-toiros lançaram-lhe fortes críticas. Entre estes estavam alguns socialistas. Mas o pior ainda estava para vir. Um grupo de deputados do PS, com o líder parlamentar, Carlos César, à cabeça, acabaria por propor o IVA para as touradas descesse também para os 6%, como outros espectáculos culturais, contrariando a ministra da Cultura e o primeiro-ministro. Na votação no parlamento, os deputados socialistas pró-touradas acabariam por dar a vitória à descida do IVA para o sector. As touradas ainda haviam de causar mais um dissabor à ministra. Questionada sobre o assunto durante a feira do Livro de Guadalajara, no México, afirmou: “Uma coisa óptima de estar em Guadalajara há quatro dias é que não vejo jornais portugueses. ” Graça Fonseca também tem a tutela da comunicação social. Parecendo ter o dom da ubiquidade, o deputado do PSD José Silvano foi registado como presente no Parlamento quando estava a 400 quilómetros, numa acção do partido com Rui Rio. Só uma semana depois a deputada Emília Cerqueira veio assumir que marcara “inadvertidamente” a presença ao entrar na área de trabalho de Silvano através do computador do plenário e insurgiu-se contra as “virgens ofendidas” de Lisboa, uma terra “onde não há virgens”. Outros casos vieram depois a público como o de Feliciano Barreiras Duarte numa sessão do orçamento, Duarte Marques e José Matos Rosa. O banho de ética que Rui Rio prometeu tem sofrido de falta de água e, em Helsínquia, à entrada do congresso do PPE, puxou do alemão para fugir às perguntas dos jornalistas portugueses. “Ich weiß nicht was Sie sagen”, comentou, a rir – “eu não sei o que está a dizer”. Posta de lado a opção de se usarem dados biométricos dos deputados, Ferro Rodrigues demorou a reagir mas decidiu que teria que teriam que passar a fazer um duplo registo e pediu que se punam os infractores e as respectivas bancadas. O líder da bancada “laranja” fez ouvidos moucos, recusou sanções e limitou-se a dizer que só pode “sensibilizar”. Carlos César puxou dos galões para dizer que “comportamentos fraudulentos” destes dariam expulsão no PS e Negrão não tardou a lembrar-lhe os telhados de vidro dos subsídios de viagem. O Ministério Público abriu uma investigação ao caso. Se os primeiros casos são o resultado de guerras internas no PSD, há quem tema que o aperto da fiscalização destape também situações noutros partidos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Imagine uma ministra que se diz ideologicamente de esquerda sugerir que negociar com os grevistas é privilegiar o criminoso. É difícil, mas aconteceu no dia 18. Em plena greve dos enfermeiros que já levou ao cancelamento de milhares de cirurgias, a ministra da Saúde, Marta Temido, faz a seguinte declaração: “Isso [negociar com os enfermeiros em greve] nem sequer seria correcto para com as estruturas que decidiram dar-nos o benefício de continuar à mesa e a negociar connosco. Isso estaria a privilegiar, digo eu, o criminoso, o infractor. ” Tudo acabou, claro, com um pedido de desculpas aos enfermeiros.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD BE
Mercado de capitais em Portugal: declínio inevitável?
Quem investiu no PSI20 após 1998 e manteve o investimento até à atualidade terá, em média, registado perdas. (...)

Mercado de capitais em Portugal: declínio inevitável?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quem investiu no PSI20 após 1998 e manteve o investimento até à atualidade terá, em média, registado perdas.
TEXTO: O mercado de capitais apresenta um papel essencial no crescimento económico, criação de emprego e redução dos níveis de pobreza. Na realidade, corresponde a uma infraestrutura central no funcionamento das economias, uma vez que permite, nomeadamente, colocar em contacto os agentes que possuem poupanças com aqueles que apresentam necessidades de financiamento; disponibilizar fundos de longo prazo para investimentos de maior risco; e melhorar o governo societário das empresas que se financiam através de instrumentos de dívida ou de capital. Apesar da sua importância, o certo é que em Portugal o mercado de capitais apresenta uma trajetória decrescente, com o número de empresas com ações cotadas em bolsa a cair de 147 em 1997 para 57 em 2018. De igual forma, a capitalização bolsista apresenta valores abaixo dos registados no ano 2000, quer em termos nominais (62. 470 milhões de euros em final de 2017 face aos 65. 732 milhões de euros em final de 2000), quer em percentagem do PIB (34, 8% do PIB em final de 2017 face aos 39, 4% em final de 2000). Se o mercado de capitais em Portugal parece ser cada vez menos atrativo como plataforma de financiamento para as empresas portuguesas, em contraciclo com algumas das economias mais desenvolvidas, para os investidores o retorno obtido com a aplicação de fundos no mercado de capitais português também tem sido dececionante. Com efeito, utilizando como “proxy” de rendibilidade do investimento no mercado acionista português o índice PSI20, constatamos que quem investiu no PSI20 após 1998 e manteve o investimento até à atualidade terá, em média, registado perdas, as quais se situam muito acima do observado na generalidade dos mercados europeus (por exemplo, quem investiu 100 euros no PSI20 em janeiro de 1999 terá hoje 43, 3 euros, excluindo eventuais dividendos). Em sentido inverso, regista-se o comportamento do mercado norte-americano, com uma trajetória no mesmo período claramente positiva (por exemplo, quem investiu 100 euros no S&P500 em janeiro de 1999 terá hoje 213, 8 euros). Para além da fraca performance (ou associada a ela), o mercado acionista português regista uma fraca liquidez na generalidade dos títulos cotados. Para ilustrar esta situação, observe-se o comportamento das ações do Sport Lisboa e Benfica (SLB), Sporting Clube de Portugal (SCP) e do Futebol Clube do Porto (FCP). Na semana de 26 a 30 de outubro de 2018, o número de ações e o turnover registado em bolsa para as ações do SLB, SCP e FCP foi de, respetivamente, 3289 ações (5585, 4 euros), 3172 ações (2311, 7 euros) e 1360 ações (882, 9 euros). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O “definhar” do mercado de capitais em Portugal é talvez um indicador avançado da (in)capacidade da economia crescer e desenvolver-se no futuro próximo. Infelizmente, sobre esta matéria o Orçamento do Estado para 2019 nada diz e o que se discute são touradas em que, como diria Fernando Tordo, “entram vacas depois dos forcados que não pegam nada” e onde “só ficam os peões de brega cuja profissão não pega”. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Dragões e imperadores numa “enciclopédia viva”
Nascido há 140 anos no coração da capital, o Jardim Botânico de Lisboa é uma “caixa de biodiversidade” com mais de 1500 espécies diferentes vindas de sítios longínquos para contar histórias do mundo. (...)

Dragões e imperadores numa “enciclopédia viva”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nascido há 140 anos no coração da capital, o Jardim Botânico de Lisboa é uma “caixa de biodiversidade” com mais de 1500 espécies diferentes vindas de sítios longínquos para contar histórias do mundo.
TEXTO: Não se pode afirmar com certeza, mas as duas oliveiras que se contorcem à nossa frente, de azeitonas verdes camufladas entre as folhas, bem podem remontar ao tempo em que “tudo isto era um pomar e um olival”. A Quinta da Cotovia descia o Monte do Olivete até ao final do actual Parque Mayer. E se recuarmos a contagem até esse tempo, então “há mais de 400 anos” que este é um espaço verde na cidade, há-de contabilizar David Felismino. O historiador trabalhou durante oito anos no Jardim Botânico de Lisboa. E é ele quem nos guia esta manhã, acompanhado por Raquel Barata, bióloga e responsável pelo serviço educativo dos jardins da Universidade de Lisboa. O passeio começa junto às oliveiras como quem abre um livro na primeira página. “Não tendo descendentes, Fernão Telles de Menezes e a esposa resolvem doar esta propriedade à Companhia de Jesus para a construção de um noviciado. ” Dois séculos depois, viria a instalar-se aqui o Colégio dos Nobres. E é “muito provável” que o lago central seja vestígio desse tempo, conta David Felismino. Assim como o traçado geral da parte superior do actual jardim, a Classe, “um espaço de alinhamento das plantas de acordo com o sistema taxonómico da época”. Fechada ao público para obras de restauro, ficamo-nos pela parte de baixo, o Arboreto, composto pela flora de grande porte. Esta área terá sido concluída em 1878, data a partir da qual se assinala o aniversário do Jardim Botânico de Lisboa. Depois de meio século a servir-se do congénere na Ajuda para os estudos práticos sobre agricultura e botânica, a Escola Politécnica, fundada em 1837, tinha finalmente a sua própria “enciclopédia viva”. Nascia há 140 anos, no coração de Lisboa, um espaço com uma “tripla vertente”: científica, pedagógica e ambiental. Para Raquel Barata, esta mantém-se a principal função do jardim nos dias de hoje: dar a quem o visita “uma noção” da multiplicidade de plantas que existe no planeta. É uma “caixa de biodiversidade”, define, de sorriso largo. E nela podemos observar “quase 1500 espécies diferentes”, oriundas dos “quatro cantos do mundo”. Como as duas colecções que espreitamos em seguida, “raras em jardins botânicos” pela diversidade de espécies cultivadas pertencentes à mesma família: naquele canteiro, várias cicadófitas, “fósseis vivos” do “tempo dos dinossauros”; e ao longo desta alameda, “uma das maiores colecções de palmeiras ao ar livre”. “E já que estamos aqui”, intervém David Felismino, “uma história gira” sobre esta rua, que une os dois portões do jardim. “Este espaço sempre foi muito apetecível para a cidade, porque faz a ligação entre a parte baixa, na actual Avenida da Liberdade, e aqui a sétima colina, no Príncipe Real. E, por causa desta avenida, houve os projectos mais recambolescos”, conta o historiador, actualmente a trabalhar no Museu da Saúde. Um deles seria “construir um grande teleférico”, que “passaria por cima das nossas cabeças e iria dar ao actual Parque Mayer”, para onde se idealizava o prolongamento do jardim botânico num espaço verde aberto ao público. Três jardins botânicos portugueses celebram aniversários redondos este ano, incluindo o mais antigo do país. Acrescentámos mais dois e demos uma volta de Norte a Sul. Porque todas as desculpas são boas para redescobrir a biodiversidade das suas histórias. Jardim Botânico da Ajuda As árvores ensinam-nos a viajarJardim Botânico de Lisboa Dragões e imperadores numa “enciclopédia viva”Jardim Botânico do Porto Um jardim que divide dois mundosJardim Botânico de Coimbra Os tesouros do botânico cobrem uma encostaJardim Botânico da UTAD Quando uma universidade brinca às escondidas com um jardimMais à frente, junto a uma ponte de madeira, Raquel e David apontam para uma árvore -do-imperador. De tronco esguio, copa lá no alto, não daríamos por ela. “Está a ser abalroada por uma figueira”, ri-se Raquel. “Julga-se que terá sido oferecida pelo Imperador do Brasil ao conde de Ficalho, o primeiro director deste jardim”, por partilharem o mesmo título. Mas não é só pela história do imperador que paramos aqui. Contava há pouco David Felismino que o interesse pelo estudo da botânica, naquela altura, era indissociável da vontade de tirar o máximo partido económico de cada planta (das medicinas aos têxteis, por exemplo). E a madeira, “extremamente dura mas leve”, da árvore-do-imperador, oriunda da Mata Atlântica Brasileira, tornou-se demasiado apetitosa para a construção naval. “Está em vias de extinção no mundo e este é um dos seis jardins botânicos que tem um exemplar vivo desta espécie”, conta Raquel Barata. Esta é outra das principais funções de um sítio como este: não só preservar a planta viva como tentar que ela frutifique. “Se conseguirmos que isso aconteça, podemos conservar as sementes e ter a possibilidade de voltar a tentar a replantação. ” De que se tenha registo, esta árvore-do-imperador só frutificou uma vez. Teve “sementes férteis”, que “foram guardadas no banco de sementes do jardim”, diz Raquel, sem esconder o orgulho. Por estes dias, no entanto, é a bunia-bunia que está a lançar as suas pinhas ao chão, para que expludam e espalhem as sementes pelos terrenos circundantes. O chão mostra-nos que uma já cedeu à gravidade e o caminho está vedado. Raquel não quer que nos aproximemos muito: cada “bola de basebol gigante” pode chegar aos dez quilos. Mas antes de seguirmos caminho, a bióloga aponta para os ramos caídos no chão. “Quando há menos luz, esta araucária da Austrália não se esforça para produzir folhas muito grandes. ” Por isso, é possível aferir as estações do ano que aquele ramo viveu pela ondulação das folhas bicudas: as maiores correspondem à Primavera e ao Verão, as outras ao período Outono-Inverno. Lá em baixo, já se vislumbra o lago maior, que este ano voltou a ter água, depois das obras de reabilitação que encerraram o botânico ao público durante 18 meses. A estrutura não fazia parte do desenho original – foi construída “como compensação devido às obras do túnel do Rossio”, cujas explosões danificaram substancialmente a parte de baixo do jardim, incluindo o antigo observatório astronómico, que acabou substituído pelo edifício que vemos agora. “Um jardim é uma coisa mutável e viva, não só a parte vegetal como até em termos arquitectónicos”, defende David. “Acompanha a História da cidade e da nação. ”Ao longo de 140 anos, são muitas as histórias que se cruzam com o Jardim Botânico de Lisboa. Algumas “muito pouco sabidas”, como o facto de um dos primeiros discursos que Mário Soares proferiu depois de regressar a Portugal ter sido feito aqui. Ou os buracos na estátua de Bernardino Gomes e nas palmeiras circundantes, que a lenda diz terem sido feitos por balas perdidas durante as revoltas militares de 1927. “Tudo indica que aconteceu alguma coisa, não podemos jurar o quê. ” Outro mistério é a proveniência dos pedaços de “cantarias decorativas de um frontão qualquer” que surgem, inusitados, a desenhar parte das escadarias que percorrem o jardim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aos nossos pés, está agora o “jardim das cebolas”, um dos locais preferidos de David. Na verdade, um canteiro de monocotiledóneas, plantas que têm bolbo, tal como as cebolas. “Tem um riacho e é um espaço muito fresco e aprazível. ” Também adora “o monte dos eucaliptos lá em baixo”. “Isto são nomes que nós, que vivemos aqui há muito tempo, já damos”, interrompe Raquel, em gargalhadas. “A geografia é maravilhosa. É assim um montezinho que cresce na parte de baixo do jardim, completamente ensombrado e isolado, com vista para a cidade e para o Parque Mayer. É maravilhoso para se estar a ler ou até para dormir”, argumenta David. Despedimo-nos junto ao dragoeiro, uma das predilectas de Raquel. A partir dele se pode falar de muita coisa importante num jardim botânico, defende. Como dar a conhecer uma planta nativa em território nacional (neste caso, da Madeira e dos Açores). Mostrar uma espécie actualmente considerada vulnerável no seu habitat natural. E dar largas à imaginação: “Segundo a lenda, no 11. º trabalho, Hércules terá lutado com um dragão de 100 cabeças. Por cada gota de sangue de dragão que caiu no solo nasceu um dragoeiro”, conta Raquel. “É por isso que tem dentro dele o pigmento vermelho que vemos na base das folhas. E temos a língua do dragão, a espada do Hércules, as garras do dragão”, aponta para diferentes partes da planta. Ri-se: “Tudo indica que possa ser verdade. ”
REFERÊNCIAS:
Secretário de Estado não gosta das metas da descarbonização para a pecuária
Primeiro debate público discute esta terça-feira roteiro para a neutralidade carbónica para 2050. (...)

Secretário de Estado não gosta das metas da descarbonização para a pecuária
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro debate público discute esta terça-feira roteiro para a neutralidade carbónica para 2050.
TEXTO: O secretário de Estado da Floresta e do Desenvolvimento Rural, Miguel João de Freitas, está desagradado com a redução significativa de produção de bovinos prevista no Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050 (RNC2050). “Temos necessidade absoluta de ter a componente animal no sistema”, disse esta terça-feira. O documento, coordenado pelo ministro do Ambiente e da Transição Energética, indica, no cenário recomendado, que a produção de bovinos deve cair entre 25 e 50% até 2050 – a de maior peso –, admitindo que a de suínos possa crescer 18%. Miguel João de Freitas pede que se tenha uma “visão do sistema agrário” em que “a componente animal é absolutamente essencial” e o assunto seja “debatido em profundidade”. O secretário de Estado assegura que o sector quer “modelos de produção sustentável, não tem de ser biológica”, que incluam conceitos como o da “intensificação sustentável”. “Falta acima de tudo o conceito racional técnico”, que “o RNC tem também que incluir”. O primeiro debate público do plano junta durante toda esta terça-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, os representantes dos sectores abrangidos (energia, mobilidade, indústria, agricultura e floresta, e água e resíduos), os responsáveis pelos estudos das áreas sectoriais do RNC2050 e alguns membros do Governo. Menos vacas e menos incêndios florestais: como descarbonizar um país. Entrevista ao ministro do AmbienteA questão da produção pecuária é consensualmente uma das mais sensíveis: por ser uma importante actividade económica em Portugal e pelo forte impacto que pode ter na redução de emissões não de dióxido de carbono mas de metano, sendo que este gás fortemente contribuinte para o efeito de estufa é emitido pelos bovinos. Menos delicada parece ser a previsão de uma floresta que tenha mais capacidade de sequestrar CO2, sendo decisivo, para isso, reduzir a área ardida anualmente para cerca de metade e aumentar mesmo o seu espaço. “Aqui a ambição tem de ser maior”, sublinhou. “Não é só incêndios e carbono é também como melhorar a floresta que temos. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Francisco Avillez, responsável pela componente agrícola e florestal do roteiro, explicou que este trabalho de vários meses chegou agora à fase de audição pública e de estudo das implicações que decorrem do calendário e das metas e da adequação destas, por exemplo, à Política Agrícola Comum. Avillez não tem dúvidas de que “é possível uma contribuição significativa para a neutralidade carbónica” do sector agro-pecuário. Esta fase decorre até Março. Segundo este especialista, a questão “não é fazer desaparecer os ruminantes, mas ajustá-los melhor ao objectivo da neutralidade carbónica”. No debate houve quem sugerisse uma alteração da dieta dos portugueses, substituindo uma parte do consumo de carne de vaca pela de aves e porco.
REFERÊNCIAS:
PCP vota contra taxa de protecção civil e chumba proposta do Governo
Bancada comunista avançou com 176 propostas de alteração ao OE. (...)

PCP vota contra taxa de protecção civil e chumba proposta do Governo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-11-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bancada comunista avançou com 176 propostas de alteração ao OE.
TEXTO: O PCP vai votar contra a criação da taxa municipal de protecção civil, juntando-se ao PSD, CDS e BE, o que implicará o chumbo da proposta do Governo. A posição foi anunciada pelo líder parlamentar do PCP João Oliveira, em conferência de imprensa, no Parlamento, para a apresentação de propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2019. A proposta de OE prevê a criação de uma contribuição municipal para a protecção civil a suportar pelos proprietários de prédios urbanos e rústicos. PSD, CDS e BE já tinham anunciado o voto contra esta medida. Como contra-proposta, os comunistas vão apresentar uma medida para que as receitas provenientes dos prémios de seguro possam assegurar o “financiamento das câmaras municipais para que cumpram as competências que lhes estão atribuídas numa matéria tão relevante como a da protecção civil”, segundo um documento divulgado pela bancada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na questão do IVA da cultura, o PCP opta por reduzir a taxa para os 6% “mantendo o mesmo conceito de espectáculo”, ou seja, sem diferenciar locais nem as touradas. A proposta “abrange áreas e conceito de espectáculo e mantemos o local, não fazendo distinção. Apenas o colocamos na taxa reduzida”, esclareceu João Oliveira. Entre as 74 medidas anunciadas esta sexta-feira, na data limite de entregue, e que totalizam 176, está a da redução do IVA na potência contratada até 6, 9kw. João Oliveira não quis especificar se há alguma (incluindo esta relativa à redução nas tarifas da energia) já fechada com o Governo, remetendo para a “última fase” do OE que “é decisiva”. “Não isolando nenhuma delas, há uma fase de insistência com o Governo para que se vá o mais longe possível na resposta aos problemas”, afirmou. Nas propostas do PCP consta a não actualização das subvenções dos grupos parlamentares em 2019, decorrente da actualização do Indexante de Apoios Sociais, além de uma solução para as carreiras dos funcionários públicos, prevendo um limite máximo de sete anos para a contagem integral do tempo de serviço congelado como já foi noticiado pelo PÚBLICO esta manhã.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP BE
2050: Como produzir mais alimentos sem acabar com as florestas?
Para alimentar o mundo em 2050 vai ser preciso aumentar a produção em 56%. Um relatório do World Resources Institute propõe um conjunto de medidas para conseguir esse objectivo sem destruir o planeta. (...)

2050: Como produzir mais alimentos sem acabar com as florestas?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0
DATA: 2018-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para alimentar o mundo em 2050 vai ser preciso aumentar a produção em 56%. Um relatório do World Resources Institute propõe um conjunto de medidas para conseguir esse objectivo sem destruir o planeta.
TEXTO: Vamos precisar de produzir muito mais comida para alimentar o mundo em 2050 – mais 56% do que a que produzimos hoje e, no caso específico de produtos de origem animal, perto de 70%. Como poderemos fazê-lo sem comprometer de forma irremediável os recursos do planeta e sem agravar dramaticamente o aquecimento global?O relatório Creating a Sustainable Food Future (Criando um Futuro Alimentar Sustentável), do World Resources Institute (WRI, organização sem fins lucrativos criada com o financiamento da MacArthur Foundation), divulgado nesta quarta-feira, aponta várias soluções para tentar encontrar esse equilíbrio entre a necessidade de alimentar 9, 8 mil milhões de pessoas em 2050 e a urgência de manter o planeta viável. Mas, primeiro, desfaz o mito de que já se produzem alimentos suficientes – uma ideia “que não é realista” e que pressupõe que “o mundo não só consuma menos produtos de origem animal […] mas que até 2050 elimine praticamente todo o consumo de carne; que as pessoas mudem a dieta substituindo a carne por legumes e cereais de alto rendimento actualmente usados para alimentar os animais; que todo o desperdício de alimentos seja eliminado; e que a comida seja distribuída unicamente em função das necessidades nutricionais de cada pessoa”. O relatório parte de números de 2010 para fazer a estimativa do que poderá ser o cenário em 2050. Uma das primeiras conclusões é a de que, mesmo que não haja uma aceleração do crescimento das áreas destinadas à agricultura e pastagem, em 2050 precisaremos de mais 593 milhões de hectares para dar resposta à procura de alimentos – ou seja, será necessário libertar uma área que representa quase duas vezes o tamanho da Índia. Note-se que entre 1962 e 2010 desapareceram precisamente 500 milhões de hectares de florestas e savanas para dar lugar a terras agrícolas. Isto acontece ao mesmo tempo que é necessário reduzir drasticamente a contribuição da agricultura (e em particular da criação de gado) para a emissão de gases de efeito de estufa. Parecem objectivos incompatíveis, mas os autores do relatório mantêm algum optimismo, embora avisem que atingir as metas a que se propõem “exige acção de muitos milhões de agricultores, empresários, consumidores e de todos os Governos”. Fundamental, dizem, é aumentar a produtividade através de um uso mais eficiente dos recursos naturais. É preciso “produzir mais alimentos por hectare, por animal, por quilo de fertilizante e por litro de água”. E deixam um alerta: “Se os actuais níveis de eficiência na produção se mantiverem constantes até 2050, alimentar o planeta implicaria acabar praticamente com as florestas que ainda existem, fazendo desaparecer milhares de espécies e libertando gases com efeito de estufa que iriam exceder os limites de níveis de aquecimento de 1, 5 graus a 2 graus estabelecidos no Acordo de Paris – mesmo que as emissões de todas as outras actividades humanas fossem totalmente eliminadas. ”Como é que se consegue, então, uma produção mais eficiente? Entre 1960 e 2010, esse objectivo atingiu-se através da duplicação de áreas irrigadas e da utilização de sementes adaptadas (incluindo as geneticamente modificadas) e de fertilizantes – mas actualmente, só é possível um “aumento limitado destas tecnologias”, avisa o relatório. Que alternativas existem?Há margem para melhorar a relação entre a produção de um quilo de carne, a emissão de CO2 e a disponibilidade de terra (2/3 do total de área agrícola é para pastagem), dadas as diferenças em produtividade que existem entre as várias regiões do mundo. Para isso, é necessário que os Governos dos países em vias de desenvolvimento estabeleçam metas de produtividade e “as apoiem com maior ajuda financeira e assistência técnica” e que sejam postos em prática sistemas para controlar essa produtividade. A melhoria das sementes pode ser conseguida com a tecnologia de edição do genoma (CRISPR-Cas9), desenvolvida em 2013 e que tem ainda um grande potencial a explorar, considera o relatório, que defende a necessidade de se aumentar os fundos dedicados à investigação na agricultura, tanto por organismos públicos como por privados. Igualmente importante é apostar nas técnicas de revitalização dos solos degradados e também estabelecer uma ligação entre os ganhos de produtividade e a protecção dos ecossistemas (algo que pode ser feito através de medidas públicas e o relatório refere algumas já praticadas no Brasil). Outra área na qual as novas tecnologias podem ter um papel importante é a da redução da fermentação entérica, ou seja, dos gases dos bovinos, que são uma das maiores causas do efeito de estufa. Alimentar perto de dez mil milhões de pessoas vai também exigir um aumento substancial da produção de peixe em aquacultura. O WRI prevê que o consumo de peixe aumente 58% entre 2010 e 2050 e é impossível que o peixe selvagem dê resposta a esta procura, até porque, de acordo com a FAO (Food and Agriculture Organization) 33% dos stocks marinhos estavam sobreexplorados já em 2015. O crescimento da aquacultura, que tem emissões de CO2 semelhantes à produção de suínos ou aves (muito inferior à dos ruminantes), implica, por outro lado, o desenvolvimento de alimento para substituir o óleo de peixes selvagens, “um recurso que está já perto ou acima dos limites ecológicos”. Mas não basta aumentar a eficiência da produção agrícola. É necessário reduzir o consumo – e neste ponto é crucial pensar-se na carne. O gado bovino, ovino e caprino usa dois terços da área agrícola global e contribui para cerca de metade das emissões de gases de estufa ligados à produção agrícola. O problema é que o mundo parece pouco inclinado para comer menos carne: a previsão aponta para um aumento da procura de 88% entre 2010 e 2050. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os autores do relatório, lembrando que “até nos Estados Unidos esta carne (sobretudo de vaca) fornece apenas 3% das calorias”, estabelecem uma meta ambiciosa: que, até 2050, os 20% da população mundial com elevado consumo de carne o reduza em 40% relativamente ao que consumia em 2010. Por fim, a redução do desperdício. Os autores do relatório reconhecem que “existem poucos precedentes na obtenção de reduções numa escala desta dimensão, até porque quando as economias se desenvolvem, o desperdício na parte de consumo da cadeia alimentar tende a crescer, mesmo que diminua do lado da produção”. No entanto, acreditam que, no cenário a que chamam “esforço coordenado” (conjunto de medidas que estão convencidos que, com vontade política, o mundo poderia adoptar com custos económicos limitados ou até positivos) seria possível ter uma redução do desperdício de 10%. Já no cenário “altamente ambicioso”, essa redução poderia chegar aos 25% e no cenário “tecnologias revolucionárias” (que implicaria avanços científicos consideráveis) poderia mesmo atingir os 50%.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda carne consumo vaca alimentos animal aves