A coragem da verdade
O complexo politico-mediático que impera na generalidade das nossas democracias normalizou de tal modo o discurso que acabou por favorecer as propostas mais primárias e extremistas. (...)

A coragem da verdade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O complexo politico-mediático que impera na generalidade das nossas democracias normalizou de tal modo o discurso que acabou por favorecer as propostas mais primárias e extremistas.
TEXTO: 1. Já perto do fim da vida, numa das últimas conferências que proferiu no Collège de France, Michel Foucault abordou um conceito de origem grega a que atribuiu enorme importância nos campos da política, da filosofia e do próprio pensamento cristão: o conceito de parrésia, que pode ser definido como a obrigação moral de falar a verdade. No plano político, que é o que nos interessa aqui, o significado é um pouco mais amplo, já que estipula o exercício dessa obrigação moral num contexto de risco sério, que no limite poderá ser o da própria vida. Sem entrar numa apreciação exaustiva do texto de Foucault, referirei tão só dois aspectos de particular importância: por um lado, o carácter moral e politicamente auto-constitutivo daquilo que é percebido como a coragem de falar a verdade; por outro, a necessidade de tal prática para a manutenção da democracia. A dado passo, Foucault remete-nos para um texto de Isócrates onde se estabelece uma diferenciação entre o bom orador, que pratica a parrésia, e o mau orador, que identifica com a figura do adulador. Isócrates considera que a prática da parrésia exige simultaneamente a coragem do orador, que terá de estar disponível para afirmar coisas imediatamente pouco agradáveis e, do outro lado, a coragem do público a quem tal discurso é dirigido para aceitar a discussão dessas afirmações. Infelizmente, na perspectiva deste autor grego, a democracia ateniense estava dominada por demagogos porque os cidadãos se tinham deixado seduzir pela bajulação. Qual a utilidade deste conceito no contexto das democracias contemporâneas? Creio que poderá ser diversa, mas no presente texto vou ater-me a um aspecto muito particular. Uma das razões pelas quais figuras como Donald Trump ou o ministro italiano do interior, Matteo Salvini, suscitaram e continuam a suscitar uma ampla adesão popular prende-se com uma característica que se pode identificar na recepção pública dos respectivos discursos políticos. Uma parte significativa dos cidadãos acreditam que eles, ao contrário dos demais intervenientes políticos, falam a verdade, enunciam os problemas que realmente contam e preconizam soluções não convencionais. Com base nisso suscitam facilmente fortíssimas paixões políticas. Subjaz a tudo isto uma perspectiva de transgressão dos códigos simbólicos estabelecidos. O êxito deste tipo de discurso político resulta em grande parte do seu contraste com o discurso demasiado estereotipado e na maior parte dos casos pouco corajoso que é hoje produzido pelas elites políticas tradicionais. É óbvio que nem Trump nem Salvini falam a verdade ou enunciam com rigor os reais problemas do nosso tempo, e muito menos apresentam soluções minimamente aceitáveis à luz de critérios civilizacionais largamente partilhados. Eles não praticam a parrésia, dedicam-se a levar a cabo um simulacro obsceno da mesma. O problema é que do outro lado também são muito poucos os que a praticam, já que a maioria se não consegue elevar para além de uma retórica empobrecida e vaga, amplamente formatada por profissionais da comunicação e quase exclusivamente preocupada em agradar às expectativas mais imediatas dos eleitorados. O complexo politico-mediático que impera na generalidade das nossas democracias normalizou de tal modo o discurso que acabou por favorecer as propostas mais primárias e extremistas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por pura preguiça mental, cedemos à tentação de rotular de populismo tudo o que é alheio a este discurso estereotipado. Como se o populismo não tivesse já impregnado grande parte deste mesmo discurso. O que verdadeiramente falta é essa vontade de liberdade discursiva que constitui condição imprescindível para a plena concretização de um compromisso com a verdade. É óbvio que ao enunciarmos a palavra verdade a perspectivamos de forma polémica e plural. É nesse sentido que as reflexões Foucault sobre a parrésia me parecem de uma grande actualidade. É preciso romper o círculo de uma linguagem feita de minúsculas interdições e pequenos tabus que prejudica fortemente a eficácia do discurso político democrático e abre espaço para um discurso grosseiro e de baixíssimo calibre moral e intelectual, que só pode antecipar enormes desastres colectivos. 2. O “politicamente correcto”, que nasceu por bons motivos nalgumas Universidades norte-americanas, adquiriu a dada altura proporções muito exageradas e originou mesmo práticas sectárias e intolerantes. Tudo isso é sabido, mas aquilo a que agora assistimos é a uma despudorada exaltação do “politicamente incorrecto”. Num exercício de pretensa virilidade retórica, há quem, a propósito e a despropósito, se reclame desse estatuto, passando seguidamente à enunciação de banalidades ou boçalidades. Na base desse comportamento nota-se a existência de um anti-intelectualismo básico e de muito má memória. A violência verbal inaudita que recaiu sobre o deputado do PAN pelo simples facto de ter apresentado um projecto-lei visando a proibição das touradas não pode deixar de suscitar inquietação. Era o que faltava que um deputado eleito com aquele projecto político não tivesse o direito de apresentar uma iniciativa dessa natureza. Tinha, aliás, não só esse direito como até esse dever. Acusaram-no de tudo, inclusivamente de cultivar propósitos liberticidas. Tudo em nome da tradição, como se esta não devesse passar pelo escrutínio da razão. Mas lá está, ao dizer isto serei imediatamente acusado de racionalista dogmático e autoritário. Não, não sou nem uma coisa nem outra. Há uma terceira coisa que também não sou: um cultor do irracionalismo.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
O serial e o experimental na fotografia portuguesa até ao infinito e mais além
Não lhes interessava nem a fotografia única nem o cânone. Nos anos 1970, um grupo disperso de artistas abriu caminho. Tomou o fotográfico como matéria plástica e deu-lhe uma prova de vida. O Fotógrafo Acidental — Serialismo e Experimentação em Portugal inaugura este sábado na Culturgest. (...)

O serial e o experimental na fotografia portuguesa até ao infinito e mais além
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não lhes interessava nem a fotografia única nem o cânone. Nos anos 1970, um grupo disperso de artistas abriu caminho. Tomou o fotográfico como matéria plástica e deu-lhe uma prova de vida. O Fotógrafo Acidental — Serialismo e Experimentação em Portugal inaugura este sábado na Culturgest.
TEXTO: Não se pode dizer que tenha sido um alvo pré-definido, nem tão-pouco (longe disso) um ataque organizado para abater um inimigo. Mas depois de se percorrer a exposição O Fotógrafo Acidental – Serialismo e Experimentação em Portugal, 1968-1980, que abre esta sexta-feira na Culturgest, em Lisboa, há, pelo menos, uma vítima a lamentar (e está identificada): é a obra-prima, a fotografia como realização única, aquela que vem da tradição do “instante decisivo”, do momento extraordinário e irrepetível. Quem o diz sem rodeios é o curador Delfim Sardo, o programador da Culturgest que nesta sua primeira exposição para o edifício-sede decidiu olhar para os usos da fotografia dentro do contexto das artes visuais, numa época em que um grupo de artistas portugueses procurava “abrir novos caminhos de relação com a imagem fotográfica” e “interromper relações históricas” vindas da tradição das belas-artes. Muito influenciados pelos usos da fotografia e dos processos de reprodução fotomecânicos vindos da Arte Pop e de várias famílias conceptualistas, nomes como Alberto Carneiro (1937-2017), Ângelo de Sousa (1938-2011), Fernando Calhau (1948-2002), Vítor Pomar (n. 1949), Julião Sarmento (n. 1948), Jorge Molder (n. 1947), Leonel Moura (n. 1948), Helena Almeida (n. 1934) e José Barrias (n. 1944) trouxeram à superfície duas atitudes para com o fotográfico, um uso serial e uma aproximação experimental, no sentido mais lato da palavra. E isto quer dizer que, no mesmo final de década em que se consumava a saída de cena de Salazar, em 1968, o universo “do fotográfico” (muito para lá da fotografia per si) começou a ser assimilado como matéria plástica, moldável, ao sabor de avanços e recuos, de técnicas e tecnologias, de tipologias de trabalho e de influências. Uma época artística particularmente ousada e que parece ter assimilado o aforismo segundo o qual “a única regra é não seguir regras”. Neste caldo artístico em que começa a imperar a diluição de fronteiras entre dispositivos artísticos, o trabalho com fotografia está, no entanto, longe de emergir como uma ilha isolada. A intersecção (rejeição, contaminação, simbiose) com outras artes (e em todas as direcções) seria uma constante ao longo deste período complexo de 12 anos marcado por grandes transformações sociais e políticas que vão desde a Primavera Marcelista, o 25 de Abril de 1974, o PREC e a consolidação da democracia parlamentar até à descolonização e à adesão de Portugal à CEE. À excepção de Jorge Molder e de Helena Almeida, que usaram (e usam) quase exclusivamente “o fotográfico” como meio de expressão artística, todos os outros balizaram o uso deste suporte em momentos precisos. É por isso que a exposição se chama Fotógrafo Acidental, um título que em nenhum momento significa desmerecimento ou diminuição do trabalho com esta génese tipológica. E é também para dar um contexto, uma expressão directa, às relações de familiaridade conceptual, aos cruzamentos de universos criativos, às interrupções e às continuidades na obra destes artistas, que Delfim Sardo decidiu erguer Simultânea, exposição siamesa de Fotógrafo Acidental, que mostra “o que está a acontecer noutros suportes” no mesmo período. No rectângulo expositivo da Culturgest, dividido em duas metades, surgem exposições simétricas que podem ser entendidas como dois ímanes, cujos pólos foram orientados para se atraírem: Norte com Norte, Sul com Sul; Helena Almeida a rejeitar a pintura, num lado, e a abraçar a serialidade de natureza fotográfica, no outro; Julião Sarmento e as primeiras pinturas depois da fotografia, num lado, e a usar a instalação com ajuda do fotográfico, no outro. As duas peças de Julião Sarmento escolhidas para O Fotógrafo Acidental são das mais multidisciplinares: a serialidade da imagem fotográfica é acompanhada de pintura, som, texto e mise en scène. Simultânea abre com uma sala onde, para além de duas peças de Helena Almeida, se mostram obras do início dos anos 70 de João Vieira e Eduardo Batarda, nas quais o corpo assume referências subtis e sedutoras. É o “momento erótico da exposição, um jogo de pernas” que ajuda a situar-nos num tempo em que cresce o interesse pela corporalidade, pela fisicalidade e pela epiderme, que será uma constante na serialidade e na experimentação com recurso à imagem fotográfica. Para Simultânea, construída sobretudo a partir da colecção da Caixa Geral de Depósitos, Sardo também convocou obras de autores que, apesar de não terem um corpo de trabalho em suporte fotográfico, são demonstrativas de uma atitude exploratória, pioneira ou idiossincrática no panorama artístico daquela época. Além de Batarda e Vieira, são os casos de Álvaro Lapa, Joaquim Rodrigo, Pires Vieira e Noronha da Costa. Na obra de Alberto Carneiro, o uso do fotográfico está, numa primeira instância, relacionado com o pragmatismo da documentação dos rituais performativos que opera na natureza, no mundo rural, mas também há séries imagéticas que se “apropriam” do espaço, formando obra per si. Entre as peças de artistas que usaram a fotografia dentro do arco temporal em causa, destaque para duas instalações pioneiras de Alberto Carneiro, O Canavial, Memória-Metamorfose de um corpo ausente (1968) e Uma Floresta para os teus Sonhos (1970) – esta junto de duas pinturas de Ângelo de Sousa da mesma tipologia que nunca tinham sido expostas em conjunto, conforme era desejo do autor –, que nos levam literalmente para dentro do universo criativo de um artista singular, que registou várias vezes as suas acções ritualistas (em modo privado) recorrendo a composições seriais em que coabitam colagem de imagem fotográfica, desenho e impressão serigráfica. E para uma instalação de Helena Almeida, em que se ouve o som da grafite no acto da criação de cinco desenhos, peça que também faz parte da série seminal Sente-me, Ouve-me, Vê-me (1979), que encontraremos mais adiante em mais quatro variações de suporte fotográfico. Ou ainda para Fernando Calhau, de quem, ainda em Simultânea, se apresentam trabalhos em tela fotossensibilizada e serigrafada, que depois seria pintada (à semelhança do que faz Noronha da Costa). Paralelamente a Ângelo de Sousa, em Londres (1967/68) e no Porto (1968/70), e de Alberto Carneiro, no início dos anos 70, Calhau é um dos primeiros a convocar a imagem fotográfica para os seus trabalhos. Não é através da fotografia que lá chega, contudo, mas sim através da gravura e dos processos mecânicos de reprodução que pratica na Sociedade Cooperativa dos Gravadores Portugueses, em Lisboa, a partir de 1968, altura que ali abre uma secção de fotogravura “que muito lhe interessou”. Esta vontade de experimentar um lado mecânico e algo “desmanualizado” do processo artístico, herdeiro da Pop, e um interesse crescente pelos processos de reprodutibilidade e serialidade confluem na perfeição para a superfície fotogravada. Esta tem a virtude de unir o melhor de dois mundos num suporte, que, “apesar de mecanicamente mediado, não deixava de ter uma componente de artesania que continuava a ser sedutora para alguns artistas”. Estava aberto o campo da serialidade com recurso à imagem fotográfica, ou seja “à concepção de trabalho artístico em séries de variações temáticas em torno de um espectro de questões estreito e conceptualmente definido”, resume Sardo. Embora conscientes de que aquilo que produziam assumia um carácter alternativo e vanguardista no exíguo panorama português, foram parcas as demonstrações públicas vindas desta “família fotográfica acidental”. Ainda assim, há três momentos marcantes na segunda metade da década de 70, que podem ser considerados passado arqueológico da exposição agora inaugurada na Culturgest: A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa, no Museu Soares dos Reis, Porto, em 1977; 18 x 18 – Nova Fotografia, no mesmo museu, em 1978; e A Fotografia como Arte/A Arte como Fotografia, na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1979. São ocasiões em que vem ao de cima a crítica aos dispositivos artísticos tradicionais, em que se assume um interesse pelo corpo enquanto matéria plástica, em que se despreza a expressão a favor de uma semiótica da imagem e em que surge uma vontade de aggiornamento de uma geração que foi sendo alimentada pelas práticas nascidas da Pop (Sardo). “Para estes artistas portugueses, a fotografia representava uma possibilidade de usar a imagens que não tinham passado, ou que eles queriam situar fora da história própria da imagem fotográfica. Não é a estética da fotografia que lhes interessa”, diz ao Ípsilon Delfim Sardo que em 2015 publicou Fotografia: Modo de Usar (Documenta), livro que pode ser visto como antecâmara de Fotógrafo Acidental. Comissário(s):Delfim Sardo Artista(s):Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Jorge Molder, José Barrias, Julião Sarmento e Vítor Pomar Culturgest, Lisboa, de 20 de Maio de 2017 a 3 de Setembro de 2017 das 11h às 19h Culturgest, Lisboa, Terça a Sexta, de 20 de Maio de 2017 a 3 de Setembro de 2017 das 11h às 18hQuando vai para Londres em 1967, Ângelo de Sousa fotografa o vernacular, o quotidiano de casa, o corpo e os micro-acontecimentos, num exercício de derivação do olhar para o que está em seu redor. Em projecção de slides, suporte que mais usou nesse ano, são mostradas a segunda série da mão esquerda, e uma selecção de fotografias captadas do ponto de vista da janela, onde “procura qualquer coisa que não é evidente e que está a passar-se num canto qualquer da imagem”. Haverá ainda impressões actuais da série Umanistas, feita no Porto, em que procura traços do quotidiano e jogos de olhares. De Helena Almeida, para além das séries de Sente-me, Ouve-me, Vê-me, Delfim Sardo decidiu, em conjunto com a artista, apresentar peças das séries Telas Habitadas, Pinturas Habitadas e Desenhos Habitados, nas quais já não existe a materialidade da pintura e onde se revela uma preocupação tipológica. Dentro da mesma prática que usa o fotográfico como registo de acções performativas, na sala ao lado surgem duas longas séries de Alberto Carneiro que fixam acções na natureza, no Alto de S. João, Aregos, em 1974-1975, e em Vilar do Paraíso, em 1973. Delfim Sardo: “Estas séries têm uma componente escultórica, uma relação gestaltica com o espaço. São peças muito intensas do ponto de vista da forma, não necessariamente da sua forma fotográfica, mas do seu conjunto. A serialidade e a repetição são usadas muito conscientemente. ” Há ainda Elemesmo/outro (1978-1979), uma instalação que inclui fotografia e texto e que investiga a relação fenomenológica que temos com um espaço, com os pontos cardeais e a orientação. De um espaço intuído, seguimos para um espaço em ruína, metáfora de ideais perdidos e revoluções falhadas, naquele que é o único eco do 25 de Abril na exposição: Vilarinho das Furnas, aldeia comunitária submergida por uma barragem, construída em 1971. Assim que o Verão quente de 1975 e a seca a põem a descoberto, corre para lá Jorge Molder, que faz o seu primeiro trabalho com direito a exposição (APAF, 1977). A este núcleo com trabalhos sobre as Furnas, juntam-se obras experimentais de Ernesto de Sousa (1921-1988), figura tutelar, teórico e organizador da Alternativa Zero, em 1977, – exposição que também poderia ser incluída na ascendência desta –, bem como os registos fotográficos e videográficos de uma instalação de José Barrias, que viria a apresentar esta série na Bienal de Paris, em 1980. Esta imagem das ruínas de Vilarinho das Furnas faz parte da primeira série de fotografias de Jorge Molder, que viria ser exposta na APAF, em 1977. Foram impressas em Kodalith, um tipo de papel fotográfico que sublinha os contrastes. Com uma prática conceptual elevada a níveis extremos, o trabalho de Fernando Calhau é representado por duas obras de Night Works (1978), uma compósita e outra serial e fotográfica, além de trabalhos em heliografia da série Stage, em que usa as 36 exposições de um filme fotográfico para registar, com velocidades muito baixas, transeuntes em frente a elementos arquitectónicos da Baixa Pombalina. É ainda mostrada uma série feita a partir de matrizes de papel ozalide, um processo em vias de extinção. As séries numerosas de Calhau encontram paralelo no trabalho de Vítor Pomar, que se está representado com um enorme conjunto de 122 fotografias da série Crush Proof Box (1972), que traçam um mapa íntimo e relacional com o seu estúdio de Amesterdão, onde viveu mais de uma década. De cima a baixo. De um lado e de outro. Ele e os outros, tudo é registado. E tudo é susceptível de ser reutilizado, como o foram estas imagens que surgem do preto a cada oito segundos num filme, R (1974-1977). De Leonel Moura são apresentadas as séries História (1976) e Leituras (1977), que Delfim Sardo classifica como as mais “claramente analíticas” do grupo aqui representado. São também “imagens declarativas” e “secas”, que ora trespassam a história da arte, ora apresentam um personagem que exibe um determinado arco de interesses temáticos, indiciados a partir de títulos de livros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A aparente candura da proposta conceptual de Moura, um dos artistas que mais trabalharam com o universo fotográfico nos anos 70 e 80, contrasta com o dispositivo cénico multidisciplinar das séries de Julião Sarmento, que apresenta D. Juan (1976) e 1947 (1978). A primeira é uma instalação complexa, construída em três partes, pertencendo “ao universo mais declaradamente indexal” do trabalho de Sarmento, onde se cruzam texto, fotografia e som (e um passarinho vivo numa gaiola), numa referência ao romântico e à ideia de listagem e catalogação. Tudo a partir do imaginário que rodeia a figura de D. Giovanni e do seu criado, Leporello, que obedientemente vai enumerando as conquistas amorosas do seu mestre (libreto de De La Ponte, música de Mozart). Em 1947, Sarmento intercepta mais uma vez vários suportes, pintura, fotografia e inscrição textual, para uma incursão detectivesca à procura de um suposto lugar de origem, o quarto de hotel onde terá sido concebido. É o trabalho que fecha o Fotógrafo Acidental e aquele, que segundo Delfim Sardo, “abre para um período posterior e marcadamente narrativo" na obra de Sarmento. Um passo que convida a entrar na sala que está logo ali do outro lado, para ver o que fez Sarmento depois de ter escapado ao seu “acidente” com a fotografia. Para o professor de fotografia e curador Sérgio Mah, que assina um dos ensaios do catálogo (o primeiro é de Delfim Sardo), Fotógrafo Acidental significa “uma oportunidade única de outorgar o devido reconhecimento histórico e crítico a um conjunto de obras e de artistas que tiveram um papel decisivo na renovação das atitudes e linguagens artísticas em Portugal". Mostrá-los agora em conjunto, prossegue Mah, “permite-nos aferir a sua relevância colectiva e obriga-nos de algum modo a reescrever a historiografia da arte portuguesa desde o final da década de 1960”.
REFERÊNCIAS:
Mirós vão ficar 25 anos em Serralves e nova exposição pode acontecer já em 2019
Câmara do Porto vai pagar 100 mil euros/ano pelo depósito da colecção e contribuir com um milhão para as obras da adaptação da Casa de Serralves, que deverá tê-la em exposição permanente. (...)

Mirós vão ficar 25 anos em Serralves e nova exposição pode acontecer já em 2019
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-10-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Câmara do Porto vai pagar 100 mil euros/ano pelo depósito da colecção e contribuir com um milhão para as obras da adaptação da Casa de Serralves, que deverá tê-la em exposição permanente.
TEXTO: A decisão política principal já tinha sido tomada há dois anos, mas agora ficou preto no branco: a colecção de 85 obras de Joán Miró (1893-1983) que pertenceu ao Banco Português de Negócios (BPN) vai ficar no Porto durante um período de 25 anos, à guarda da Fundação de Serralves. As obras deverão ficar em exposição permanente na Casa de Serralves. Fundação, Câmara Municipal e Governo anunciaram esta quarta-feira a assinatura de dois protocolos, numa sessão realizada nos paços do concelho portuenses que contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa, do autarca Rui Moreira e da presidente do Conselho de Administração de Serralves, Ana Pinho. Pelo primeiro, o Estado, através da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), cede a colecção de obras do pintor surrealista catalão por um período de 25 anos ao município do Porto, ficando este obrigado a “garantir a protecção, conservação, valorização e divulgação cultural das obras”. Seguidamente, a Câmara do Porto e a Fundação de Serralves irão celebrar um Protocolo de Depósito e de Promoção Cultural da colecção, pelo mesmo prazo de 25 anos, segundo o qual o município se compromete a pagar à fundação, pelo seu depósito, a verba anual de 100 mil euros e também a financiar, “até um milhão de euros, as obras de ampliação, remodelação ou conservação da Casa de Serralves, que receberá a exposição permanente”. À Fundação caberão a promoção e a divulgação das obras. O acordo entre as três partes foi alcançado há cerca de um mês, após um longo período de negociações mediado pelo advogado António Lobo Xavier. No final da cerimónia, Rui Moreira explicou ao PÚBLICO que o prazo de 25 anos agora estabelecido responde não só a uma exigência legal, mas “é também um prazo relativamente razoável para amortizar o investimento que vai ser feito pela Câmara no depósito em Serralves”. “Os valores a que chegámos foram negociados muito duramente e parecem-nos razoáveis para aquilo que seria o custo de colocar a colecção noutro sítio qualquer”, acrescentou o autarca. Recorde-se que, num primeiro momento, a autarquia admitiu colocar a colecção no antigo Matadouro Municipal, para o qual existe um plano de adaptação a centro cultural e tecnológico. Rui Moreira considerou ainda que o acordo vem “cumprir as expectativas” criadas há dois anos, quando o primeiro-ministro António Costa anunciou a decisão de ceder ao Porto a guarda da colecção Miró. “É um acordo satisfatório, na medida em que conseguimos garantir que a colecção estará sempre exposta – não poderíamos ficar com os Mirós para que eles ficassem nas reservas de Serralves e fossem exibidos só de vez em quando”, acrescentou o autarca, ressalvando que caberá agora à fundação decidir “como instalar” e também “como expor” este acervo. A colecção Miró vai ficar, de resto, também disponível para a itinerância pelo país, através da Rede Portuguesa de Museus, tutelada pela DGPC, e para exposições internacionais, através do intercâmbio que a Fundação de Serralves tem com várias entidades estrangeiras. O que de resto já aconteceu – referiu Ana Pinho, no decorrer da sessão – com a apresentação da primeira exposição, Joan Miró: Materialidade e metamorfose, em Pádua, Itália, depois da sua passagem por Serralves (onde recebeu mais de 240 mil visitas) e pelo Palácio da Ajuda, em Lisboa. Era também já do conhecimento público que o arquitecto Álvaro Siza tinha sido convidado a realizar o projecto de adaptação da bela casa cor-de-rosa de arquitectura modernista mandada edificar pelo Conde de Vizela para acolher as obras de Miró. No final da cerimónia oficial, a presidente do conselho de administração de Serralves disse ao PÚBLICO ser ainda cedo para avançar uma data para a realização das obras, e também não adiantou nenhuma verba relativa ao custo final da intervenção. Mas assegurou que “as obras não serão complicadas, e irão durar apenas alguns meses”. Na sua intervenção, a presidente de Serralves realçara, de resto, que o projecto de Siza responderá à preocupação de “conviver com a arquitectura da Casa”, através de uma solução que irá permitir “conciliar a identidade do edifício com a sua nova valência”. No final da sessão, Ana Pinho comunicou a António Costa a possibilidade de uma nova exposição com parte da colecção do pintor surrealista catalão ser apresentada já no próximo ano, de novo em Serralves; isso “poderá acontecer antes das obras”, confirmou a administradora ao PÚBLICO, lembrando contudo que os termos do protocolo com a Câmara do Porto têm de passar pelo crivo do Tribunal de Contas – o que, de resto, se aplica também ao acordo entre a câmara e o Estado, que carece igualmente ainda de aprovação pelos órgãos da autarquia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A cerimónia desta quarta-feira teve a particularidade de registar o primeiro acto público da nova ministra da Cultura, Graça Fonseca, que classificou a ocasião como “um dia feliz”. Lembrou que o acordo agora alcançado significa a concretização de mais “uma parceria fundamental para a política pública da cultura, que tem de ser feita sempre em rede, entre o Estado, as autarquias e os privados”. Depois de lembrar a história da colecção Miró e a reversão pelo actual Governo da intenção do anterior executivo de Pedro Passos Coelho de vender as obras (chegou a estar várias vezes agendado um leilão na Christie’s de Londres), Graça Fonseca puxou pelos números do Orçamento de Estado (OE), dizendo que “a Cultura é a área que mais subiu nos últimos anos, 38%”, e que o projecto de OE actualmente em debate na Assembleia da República significa uma subida de mais de 12% relativamente a 2018. Já António Costa relembrou que a decisão de escolher o Porto como sede da colecção Miró respondeu ao desejo de “potenciar e diversificar o acesso à cultura no conjunto do território nacional”. E associou a solução agora encontrada para este dossier – para a qual lembrou as relevantes contribuições dos anteriores ministros da Cultura João Soares e Luís Filipe Castro Mendes, além da do negociador Lobo Xavier – a um programa político que está a cuidar também de encontrar destinos para colecções como a do BES, citando a propósito a distribuição de algumas das obras desse acervo por diferentes museus do país, e da Fundação Ellipse, do extinto Banco Privado Português. “Porque Lisboa também faz parte do país, mas há mais país para além de Lisboa”, disse o primeiro-ministro.
REFERÊNCIAS:
Perigosos tempos menores
Alastra o terreno propício aos vendedores de ilusões, em que a menoridade e a mediocridade acicatam a agressividade e o autoritarismo. São tempos perigosos para os europeus. (...)

Perigosos tempos menores
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Alastra o terreno propício aos vendedores de ilusões, em que a menoridade e a mediocridade acicatam a agressividade e o autoritarismo. São tempos perigosos para os europeus.
TEXTO: Olhemos para a actualidade portuguesa e o que é que se nos oferece? Uma crónica anedótica de menoridades aflitivas e deprimentes, reflexo de um país perigosamente fechado na sua concha e correndo o risco de ficar asfixiado dentro dela. É a polémica “civilizacional” ou “cultural” sobre as touradas que divide o PS, é o caricato mas sintomático caso Silvino que espelha a desorientação total do PSD de Rui Rio, são as lutas pelo poder dentro da “geringonça” através dos imparáveis episódios de crispação social e sindical antes da aprovação final do Orçamento do Estado (para o qual já foram apresentadas cerca de mil — mil! — propostas de alteração), sem esquecer o PAN e o seu suposto braço armado de defesa dos animais, a interminável e surreal novela de Tancos ou ainda o tão avidamente mediatizado folhetim Bruno de Carvalho (e os outros que, no Benfica e no FC Porto, mostram a nossa selva doméstica do futebol e são igualmente reveladores do estado dos nossos costumes). Mas se o quadro é este dentro de casa, que é que observamos fora dela, neste mundo sem fronteiras onde vivemos? Entre múltiplos sinais de vertigem autoritária e populista, constatamos a tentação ilusória, perigosa e até suicidária de repor fronteiras onde elas deixaram de fazer sentido ou servem sobretudo para sustentar a ficção dos que vivem centrados sobre o seu umbigo e se encontram reféns dos complexos de sobranceria imperial (ou insular). Não por acaso, a vitória de Trump aparece associada ao triunfo do “Brexit” que, como temos verificado nos últimos dias, se encontra num verdadeiro beco sem saída. Como é que se chegou até aqui, ou seja, a um ponto em que não é possível vislumbrar nenhum cenário alternativo verdadeiramente satisfatório à permanência do Reino Unido na União Europeia? A explicação pode ser encontrada num ensaio já clássico — e tantas vezes justamente referido — sobre os comportamentos das elites europeias que conduziram à catástrofe da primeira Grande Guerra, cujo armistício ocorreu há precisamente um século. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tal como nesse livro de Christopher Clark, Os Sonâmbulos, o referendo sobre o “Brexit” foi um típico acto de sonambulismo. Nem quem o promoveu por razões de baixo oportunismo político (o conservador David Cameron, confiando em que o eleitorado votaria contra), nem quem o sufragou, embora por uma escassa maioria, sem pesar as consequências da sua escolha (comprovando, aliás, que o povo não tem sempre razão), se deram conta de que tinham aberto uma caixa de Pandora. Mas a miragem nefasta de que o Reino Unido podia regressar aos gloriosos tempos do Império e prescindir dos seus vínculos com a Europa é alimentada ainda por um grupo de demagogos irresponsáveis — cuja figura mais folclórica é Boris Johnson, esse sósia de Trump —, que persistem em não explicar como resolvem a quadratura do círculo. Aliás, é sintomático que, na sequência imediata do referendo, Johnson se tenha retirado do palco por não querer assumir as responsabilidades políticas que decorreriam do “Brexit”. Uma cena que se repete hoje, quando vemos que o mesmo ministro que negociou o “Brexit” com Bruxelas, Dominic Raab, foi um dos que abandonaram em protesto o Governo May, lavando também as mãos de qualquer responsabilidade. O caso “Brexit” é, de facto, um sinal dos tempos que ultrapassa as fronteiras britânicas. Vivemos tempos mesquinhos em que o destino da Europa se vê cada vez mais condicionado por gente sem visão ou oportunistas e demagogos populistas. O eixo franco-alemão sofre com a estatura diminuída de Merkel — que já anunciou a sua saída de cena — e de Macron em queda acentuada de popularidade — a que não é estranho o preço de uma postura imatura e arrogante. Alastra o terreno propício aos vendedores de ilusões, em que a menoridade e a mediocridade acicatam a agressividade e o autoritarismo. São tempos perigosos para os europeus.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD
CDS propõe “visão alternativa” ao Orçamento em 130 medidas
Centristas remetem carreira de professores para novas negociações. (...)

CDS propõe “visão alternativa” ao Orçamento em 130 medidas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Centristas remetem carreira de professores para novas negociações.
TEXTO: O CDS-PP apresentou cerca de 130 propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2019 para sinalizar uma “visão alternativa” e como forma de fazer o Governo “cumprir promessas”, segundo a vice-presidente da bancada Cecília Meireles. Entre essas “promessas” está a relacionada com a carreira dos professores, em que o CDS retoma a proposta de abertura das negociações (para as carreiras da função pública, que incluem os docentes) tal como estava expresso no OE para 2018. Os centristas exigem ainda que o Governo divulgue as contas do impacto da contagem do tempo de serviço que esteve congelado. Como a proposta é convergente com a do PSD, o consenso à direita neste caso é certo. “Espero que o PSD se junte a nós”, disse Cecília Meireles, também vice-presidente do partido, na conferência de imprensa de apresentação do pacote de medidas, esta sexta-feira à tarde, no Parlamento, depois de questionada sobre se votaria a favor da proposta do PSD. Cecília Meireles evitou responder sobre o sentido de voto da proposta do PCP dos professores e que prevê um prazo máximo de sete anos para a contagem do tempo integral de serviço. No caso dos manuais escolares, a proposta do CDS diverge daquela que foi apresentada pelo PSD. Os centristas querem alargar a gratuitidade dos livros ao ensino privado, enquanto os sociais-democratas impõem também uma condição de recursos para essa disponibilização dos manuais até ao 12º ano. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Entre as propostas do CDS está a revogação do adicional do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP), que já foi aprovada pelo Parlamento em Julho passado. No campo fiscal, o CDS defende ainda a actualização dos escalões do IRS para evitar a anulação dos aumentos salariais. Foram ainda confirmadas a eliminação da discriminação no IVA dos espectáculos – incluindo o das touradas – e medidas como os benefícios fiscais para o interior. Questionada sobre o impacto financeiro das propostas apresentadas, Cecília Meireles assegurou que as medidas foram estudadas e que a intenção era “sinalizar a alternativa” do CDS. Mas deu como exemplo o estatuto fiscal do interior: “As nossas medidas têm um custo, e se os partidos aceitassem, podia haver uma aceitação gradual das medidas”. Relativamente às cativações – que tem sido uma das bandeiras do discurso do CDS – é proposto um limite máximo de 70% do valor global de 2017.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP
Jutlândia, a Dinamarca por descobrir
Copenhaga, a capital dinamarquesa, é a maior e mais atractiva cidade do país. Porém, fora dela, há todo um país para explorar, com múltiplos pontos de interesse. É o caso da parte continental de uma nação de mil ilhas, a Jutlândia — uma ostra que, dentro da casca rugosa, encerra inúmeras pérolas. (...)

Jutlândia, a Dinamarca por descobrir
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Copenhaga, a capital dinamarquesa, é a maior e mais atractiva cidade do país. Porém, fora dela, há todo um país para explorar, com múltiplos pontos de interesse. É o caso da parte continental de uma nação de mil ilhas, a Jutlândia — uma ostra que, dentro da casca rugosa, encerra inúmeras pérolas.
TEXTO: Descobrir tesouros dá, em geral, muito trabalho. Em especial se quem os esconde não mostra muito interesse em revelá-los. Os dinamarqueses reservaram Copenhaga e arredores para os turistas e guardaram o resto para eles. A segunda cidade do país, Aarhus, do tamanho do Porto, é servida por um aeroporto quase local, Tirstrup, a 50km de distância. Billund, o aeroporto mais importante que serve toda a península dinamarquesa, dista 100km e não tem ligações directas com Portugal. Por isso, é compreensível que os turistas portugueses se quedem por Copenhaga. Mas quem queira descobrir algo diferente e se der ao trabalho para desenterrar tesouros, será amplamente recompensado. A Dinamarca (5, 8 milhões de habitantes e 43. 092 km2 de área — metade de Portugal e a mesma densidade populacional) é uma nação insular, com 444 ilhas com nome e centenas de outras sem designação. Porém, a maior parte do seu território, a Jutlândia, é uma península do continente europeu, que se estende por 394km desde Padborg, na fronteira sul com a Alemanha, até Skagen, na ponta norte. Tal como o resto da Dinamarca, a Jutlândia é plana — um dos pontos mais elevados, com 147m de altura, no centro da península, é Himmelbjerg (Montanha do Céu — uma designação que espelha o sentido de humor dinamarquês). Porém, planura não significa uniformidade e o se o verde da paisagem (mais escuro nas florestas, de um verde-claro inigualável nas planícies e prados floridos) é traço comum, as diferenças são muitas e marcantes. Por exemplo, a costa oeste, banhada pelo mar do Norte, caracteriza-se por extensíssimos areais e marés muito pronunciadas; já no Leste, o mar Báltico é menos salgado, muitas praias têm relva quase até à linha de água e a diferença entre maré alta e baixa é mínima. Desfrutar tudo o que esta península do Norte da Europa encerra requer semanas ou meses — com a agenda preenchida e num périplo compacto, o mínimo é uma semana. Embora haja um bom sistema de transportes, o aluguer de uma viatura é recomendável. Pode-se fazer isso a partir de Copenhaga ou Billund, mas o mais aconselhável para um turista português que só queira visitar a Jutlândia é partir de Hamburgo. As ligações aéreas entre Porto ou Lisboa e Hamburgo são mais frequentes, levam menos tempo e são mais baratas. Também o aluguer de automóveis na Alemanha tem um custo muito inferior. O Aeroporto de Hamburgo fica a norte da cidade, na entrada para a auto-estrada A7, que liga a Alemanha à Dinamarca — até Padborg, na fronteira, são 163km. O único e grande problema é ser uma via com intenso trânsito que está em remodelação há mais de sete anos, trabalhos que só têm conclusão prevista em 2019 (e ainda nos queixamos da lentidão das obras em Portugal…). Por isso, há que contar, no mínimo, com duas horas para fazer um percurso que deveria levar menos de hora e meia. As auto-estradas, tanto na Alemanha como na Dinamarca, não têm portagens. A única excepção, do lado dinamarquês, é a travessia de duas pontes. Para um carro normal, a travessia da Storebaelt, a ponte que liga a ilha de Fyn à Zelândia, no percurso para Copenhaga, custa cerca de 34€; a portagem da ponte de Öresund, entre Copenhaga e Malmö, na Suécia, importa em 28€ (há um passe anual por 46€, mais barato que uma travessia de ida e volta). Partindo de Padborg, pela costa leste, a 42km da fronteira, Sonderborg é uma bonita cidade num fiorde da península de Als, que merece uma visita. Também vale a pena percorrer Als, com florestas centenárias que se prolongam até a praias e ao mar pontilhado por dezenas de ilhas. A parte meridional da Dinamarca foi ocupada pela Prússia e Alemanha de 1864 a 1920. Sonderborg foi palco de sangrentas batalhas que terminaram com a derrota das forças dinamarquesas. Estas tiveram de abandonar a região de Schleswig-Holstein (até então dinamarquesa) e viram-se forçadas a recuar até Kolding, 88km a norte da actual fronteira. Em 1920, depois da I Guerra Mundial, foi proposto à Dinamarca reaver o território que tinha sido ocupado pela Prússia. No entanto, o governo dinamarquês optou por fazer um referendo. Dessa consulta, resultou que a maioria da população da parte sul de Schleswig-Holstein decidiu permanecer na Alemanha, enquanto a zona norte votou pela reintegração na Dinamarca. Ainda hoje, há uma minoria alemã na Dinamarca meridional e uma minoria dinamarquesa no Norte da Alemanha. Continuando para norte, a seguir a Kolding a auto-estrada bifurca-se — para leste, passa pela ilha de Fyn, cuja cidade mais importante é Odense, a terra natal de Hans Christian Andersen, e atravessa a ponte do Store Baelt, que liga Fyn à Zelândia e a Copenhaga. Mas continuemos em frente, por Vejle, a zona “montanhosa” da Dinamarca, com um desvio obrigatório por Billund para visitar o mundialmente famoso parque da Lego, segue-se Skandeborg, com o seu belo lago, até chegarmos a Aarhus. Aarhus, carinhosamente designada “a menor cidade grande do mundo” pelos locais, com cerca de 300. 000 habitantes, é a segunda urbe do país e até 2017, quando foi Capital Europeia da Cultura, pouco fazia para atrair os turistas (por exemplo, era difícil encontrar lojas de postais e recordações). Agora a situação melhorou e a zona portuária, degradada, foi objecto de requalificação similar à que ocorreu na zona do Parque das Nações em Lisboa. No entanto, essa requalificação não foi muito bem-sucedida na opinião da maioria dos seus habitantes — demoliram-se edifícios centenários, para construir em excesso num bairro de luxo sem zonas verdes e com muitos apartamentos ainda vazios — “o gueto dos ricos”, no dizer dos locais. Fora do centro e dessa zona, porém, existem muitos espaços verdes e floresta. Na cidade, para além da catedral e do centro, as principais atracções são Den Gamle By (A Cidade Velha), um museu medieval ao ar livre, onde se mostra o dia-a-dia de quatro séculos, em casas, oficinas e lojas da época. O museu Aros, no centro, é encimado por um círculo em acrílico colorido de onde se pode desfrutar uma boa vista da cidade. Ainda no centro, também é possível ter essa panorâmica, de forma gratuita, no topo dos armazéns Salling na zona pedonal. A nova biblioteca, na zona do porto, também merece uma visita. Imperdível, a 20km do centro, é o museu etnográfico de Moesgaard, um edifício impressionante, com o topo relvado e uma arquitectura similar (mas anterior) à do MAAT em Lisboa. E se a vista por fora já vale a pena, o seu interior, com inúmeros testemunhos do passado (incluindo o corpo mumificado de um homem pré-histórico) e espectáculos de multimédia, encerra muitas preciosidades. De volta à cidade: haverá um local mais desinteressante para situar um restaurante que um largo, no porto de Aarhus, onde se localiza um matadouro e uma refinaria de óleos? Porém, é aí, perto mas já fora do centro, que se situa desde 1907 o Kohalen, um dos melhores sítios em toda a Dinamarca para se apreciar uma gastronomia tradicional. Ao visual exterior, pouco apelativo, corresponde um espaço interior elegante, com algum requinte, um serviço impecável, atencioso e simpático, um extenso menu de pratos bem confeccionados (e em quantidade abundante). Comemos lá camarões dos fiordes com caviar dinamarquês e espargos, tarteletes de espargos e galinha, bife do lombo de porco com molho de cogumelos — tudo excelente, como o resto das iguarias que constam da lista. Esta jóia gastronómica é pouco frequentada por turistas, mas muito visitada pelos locais, sendo aconselhável reservar mesa. Os preços, pelos padrões dinamarqueses, são muito razoáveis (20€-30€ por pessoa) e há um bónus adicional para os comensais — o restaurante fornece um dístico que permite estacionar gratuitamente no largo adjacente das 11h até às 19h. Como não se está muito longe do centro, depois de comer, pode-se deixar lá o carro e fazer um passeio para ajudar à digestão do lauto repasto. Saindo de Aarhus para nordeste, em Kolind, a 42km, situa-se o Skandinavisk Dyrepark, um parque onde, em estado de semiliberdade, se pode observar a fauna característica dos países escandinavos (ursos, veados, lobos, raposas, renas, etc. ). A noroeste de Kolind, num enorme edifício em cúpula na cidade de Randers, encontra-se uma floresta tropical (Randers Regnskov – www. regnskoven. dk/), digna de uma visita (o equivalente terrestre do Oceanário de Lisboa). Prosseguindo a viagem, em Mariager encontra-se um museu do sal (http://saltcenter. dk/), com toda a história desse condimento ao longo dos tempos, os diversos processos de fabrico em muitos países (incluindo Portugal). Aí, além de se poder ver o processo tradicional de fabrico de sal no Norte da Europa, há uma piscina em que os visitantes se podem banhar, onde foram criadas as condições de temperatura do ar, da água e salinidade do mar Morto — uma experiência singular. E como o sal pede comida, 12km a sul de Mariager, em Spentrup, encontra-se uma das mais famosas estalagens do país — a Hvidsten Kro. Além de ser um templo de gastronomia tradicional é um museu recheado de história, tendo os seus proprietários sido fuzilados pelos alemães durante a II Guerra Mundial, por fazerem parte da Resistência. A especialidade da casa é aegekage, uma espécie de omolete, com mostarda e bacon caseiros — apesar da aparente simplicidade do prato, a sua textura e sabores são únicos e atraem comensais vindos de longe. O serviço pode ser por vezes demorado, mas a espera vale a pena. A par do restaurante-museu, a estalagem também tem quartos para hóspedes. Na viagem para norte, passamos por Rebild, um parque nacional que merece uma visita, incluindo uma mina de calcário e um museu da II Guerra Mundial, e chegamos a Aalborg, a quarta cidade do país, com cerca de 170. 000 habitantes. Aalborg, fundada pelos vikings, tem uma tradição industrial e comercial, pela sua localização no Limfjord, um braço de mar que praticamente corta a Jutlândia, do mar do Norte ao Báltico. Entre as várias atracções que a cidade oferece, para além de um bem preservado centro histórico, menção para o Kunstmuseum (museu de arte moderna); a Musikhus (casa da música, pela sua arquitectura), Lindholms Høje, um sítio arqueológico, com vestígios que datam do século V, cemitério e museu (onde se reconstitui o dia-a-dia na Idade do Ferro e no tempo dos vikings); e Springeren, Centro Marítimo, com exposição de barcos antigos em réplicas e tamanho real, incluindo um submarino onde se pode ver por periscópio Aalborg e o Limfjord, uma câmara de descompressão, diversos jogos e espectáculos multimédia, um parque Lego para os mais novos, uma cidade em miniatura, etc. De Aalborg, em direcção à ponta setentrional da Jutlândia, 65km a nordeste, deparamos com Frederikshavn, uma importante e bem preservada cidade portuária no Báltico. Entre os vários pontos de interesse, destaque para o Bangsbo Fort & Bunker Museum, com edificações militares construídas pelos alemães durante a II Guerra Mundial, e que graças à sua localização numa colina com 78m de altura, proporciona uma excelente panorâmica da cidade e do estreito de Kattegat no Báltico. De Frederikshavn são apenas 40km até Skagen, na ponta setentrional da Jutlândia. Esta pequena cidade (cerca de 9000 habitantes) é um importante porto de pescas e de ligação por ferry com Gotemburgo na Suécia e Oslo na Noruega. De regresso ao Sul pela costa Oeste, de Skagen até Tønder, na fronteira com a Alemanha, são quase 400km de extensos areais muito frequentados (maioritariamente por alemães), durante os meses de Verão. Podemos duvidar: praias na Dinamarca? Na verdade, graças à corrente do Golfo e à pouca profundidade do mar do Norte, a temperatura da água do mar em Junho e Julho (e, em alguns anos, também em Maio e Agosto) nunca é inferior a 20ºC. A verdade é que, no Verão, a água do mar é mais quente na Dinamarca que em Portugal (à excepção do Algarve) — e isso aplica-se tanto às praias do mar do Norte como às do Báltico (na costa leste e nas ilhas dinamarquesas). Enquanto o Báltico é quase um lago no que se refere às marés, com relva até quase junto ao mar e ondulação mínima, na costa oeste da Jutlândia a regra é centenas de metros de areia até à borda de água e amplitudes de marés de mais de 10km em alguns locais. A areia é fina e compacta e, em conjunção com a extensão do areal, permite que os carros circulem nela em muitos sítios. Para nos banharmos em segurança nas praias do Oeste da Jutlândia há que ter em atenção um aspecto importante: muitas delas apresentam três bancos de areia desde a borda de água até ao mar aberto; mesmo nos dias de ondulação mais fraca é imperativo nunca ultrapassar o primeiro banco de areia! A aparente tranquilidade do mar esconde correntes perigosas e todos os anos morrem alguns banhistas que, não cumprindo esse aviso, se aventuram mais longe e não conseguem voltar a terra. Isso sucede principalmente nos muitos quilómetros de praias não vigiadas. Porém, desde que se tenha o devido cuidado e se a temperatura do ar for boa, ir a banhos na Dinamarca, mesmo para os mais friorentos, é uma óptima experiência. De norte para sul, entre as muitas extensões de areia sem nome, referência para as praias de Løkken e Blokhus (onde ainda se podem ver restos de bunkers construídos pelos alemães durante a II Guerra Mundial), Fjerritslev e Klim Strand — na prática um areal de 55km que constitui uma baía — Jammerbugten. Prosseguindo para sul, vamos dar a Klitmøller, uma praia com dunas e falésia, englobada num parque nacional — Thy. No Sul de Thy, após uma breve travessia de ferry de Agger para Thyboron cruzando o Limfjord e mais cerca de 90km de costa e areais, vamos dar a uma fiada de praias conhecidas, como Hvide Sande (Areia Branca), Nymindegab, Vejers e Blåvand (Água Azul) — na prática uma só praia de 63km com diferentes denominações. Praticamente em frente a Hvide Sande, mas do outro lado (leste) do fiorde de Ringkøbing, encontra-se uma cidade com o mesmo nome e 17km a sul, ainda à beira do fiorde, um vilarejo, Stauning, onde se situa uma pequena destilaria que produz alguns dos melhores whiskies a nível mundial (www. stauningwhisky. com/). Pode-se visitar a destilaria mediante marcação prévia, degustar e adquirir os néctares aí produzidos. Não sendo baratos, são um bom investimento — a produção é limitada, esgotam-se e valorizam-se rapidamente. De Blåvand a Esbjerg, talvez a cidade mais importante do Sul da Jutlândia são apenas 35km. Esbjerg, cidade e porto de onde partiam os vikings que atacavam a costa leste inglesa, merece uma visita, mas imperdível mesmo é Ribe, 30 km a sul. Ribe é a mais antiga cidade dinamarquesa, datando do século VII, um museu vivo, à beira do Vadehav, um parque nacional marítimo que se caracteriza pela amplitude das marés — há uma diferença de mais de 10km entre a maré alta e a maré baixa. Uma experiência interessante é a visita a Mandø, uma ilha a 7, 5km da costa com a maré alta, que é acessível por carro na maré baixa (se não desejar usar a viatura própria, há excursões de Ribe a Mandø). O único cuidado a ter é a atenção ao movimento das marés — caso contrário fica-se preso na ilha até a água voltar a recuar. Mandø fica no meio de duas outras ilhas maiores — Fanø e Romø (esta, a ilha mais meridional da Jutlândia, com ligação por ferry a outra ilha, Sylt, uma famosa estância balnear alemã). O parque nacional Vadehav, para não variar, inclui várias praias até Tønder, mas de Ribe optamos por atravessar a Jutlândia de volta a Padborg e a Hamburgo, concluindo o nosso périplo. Para visitar apenas a Jutlândia, o mais aconselhável é ir de avião para Hamburgo e aí alugar carro (viagem mais directa e mais barata, tal como o aluguer de viatura). O maior aeroporto da Jutlândia situa-se em Billund (mesmo pegado ao parque da Lego). Outra hipótese é ir por Copenhaga. Em qualquer das opções, o aluguer de automóvel é recomendável. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Maio a Setembro, especialmente Junho e Julho, são os meses mais quentes e de menor pluviosidade (mas conte-se sempre com uns dias de chuva, ainda que pouco intensa). Como todos os serviços, hotelaria e restauração não são baratos na Dinamarca. Recomenda-se a consulta de sites como o Booking, Trivago ou Trip Advisor, que apresentam ofertas variadas em termos de preço, localização e qualidade. Para quem aprecia uma gastronomia local, existe uma rede de pousadas, que são hotéis e restaurantes (ver www. smalldanishhotels. dk/)Para famílias numerosas, há a possibilidade de se alugar casas de Verão (normalmente fora das cidades, junto às praias e às florestas (ver Site)Os contactos do restaurante e da estalagem mencionados no texto (aconselha-se a reserva) são:Restaurante Kohalen Jægergårdsgade 164 A 8000 Aarhus C Tel. : +45 86121481 Site Aberto das 11h às 18h, fecha aos domingos. Hvidstenkro Mariagervej, 450, Hvidsten 8981 Spentrup Tel. : +45 86477022 Site Aberto das 11h30 às 19h, fecha às segundas-feiras. A mais famosa especialidade dinamarquesa são os smørrebrød (sandes abertas com toda a espécie de acompanhamentos) e a chamada “mesa fria”, uma ampla variedade de carnes, peixe (salmão e arenque), camarões, que se come com vários tipos de pão, acompanhada por cerveja e aguardente dinamarquesa. Para quem gosta de cerveja, há-a para todos os gostos, da mais fraca à mais forte (a Dinamarca não fica atrás da Alemanha). Outras áreas onde a gastronomia dinamarquesa se evidencia é na produção de queijos, lacticínios ou bacon, tudo de excelente qualidade. A pastelaria é muito boa, com destaque para o pão da manhã (rundstykker, birkes, etc. , para se comer ao pequeno-almoço), para os bolos folhados (spandauer, hindbaersnitte, snail, kringler. . . ), bolos em camadas com frutas e natas, de massapão, etc.
REFERÊNCIAS:
Neste comboio olha-se “muito para trás” para explicar o desinvestimento na ferrovia
Entre o espanto dos carris pouco explorados e o desânimo pela situação precária da CP de simpatizantes a profissionais do sector, a Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro foi de Lisboa a Évora para assinalar o 41º aniversário (...)

Neste comboio olha-se “muito para trás” para explicar o desinvestimento na ferrovia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre o espanto dos carris pouco explorados e o desânimo pela situação precária da CP de simpatizantes a profissionais do sector, a Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro foi de Lisboa a Évora para assinalar o 41º aniversário
TEXTO: No interior das carruagens, a escassa distância da estação de Setil, em pleno Ribatejo, sente-se o entusiasmo contido da antecipação. A um quarto para as 11h, o comboio especial que tinha partido da estação de Lisboa - Santa Apolónia 37 minutos antes, faz naquele ponto o que um comboio de passageiros não fazia ali há muito: em vez de prosseguir pela Linha do Norte, diverge na bifurcação para a Linha de Vendas Novas. No momento da curva para Sul, para uma linha que se mantém operacional mas que apenas serve o transporte de mercadorias, saem de bolsos e malas as máquinas de filmar e os telemóveis, com a urgência de captar com a lente o equivalente a um animal arisco ou em vias de extinção. No interior da Unidade Tripla Eléctrica (UTE) vão mais de 130 membros da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC), que celebra 41 anos neste dia, com a viagem de percurso singular a servir para o assinalar. Segue-se a troca de experiências de quem passou na Linha de Vendas Novas pela última vez como passageiro e se lembra do tipo de comboio e das circunstâncias, nos já longínquos anos 1980 ou 1990; de quem ali passou numa locomotiva 1300 ou numa Nohab, automotora de origem sueca que já deixou de circular em Portugal. Jacinto da Silva Santos é dos que se recorda de ter passado nestes carris, em Dezembro de 1983, numa Nohab de bancos de madeira, conta. De óculos, boné azul escuro com a inscrição “Rail Facilities” e máquina de filmar que vai empunhando conforme a oportunidade, explica que veio de Viena de propósito para fazer esta viagem. Chegou apenas na meia noite anterior. O homem de 55 anos que trabalha em Bruxelas fala do gosto pelos comboios como “uma doença”, tanto que, para além de ser sócio da APAC, é também membro de associações congéneres em Espanha, França e Bélgica. “A situação em Portugal é muito triste”, assinala Jacinto da Silva Santos. “Não há um conceito de rede”, somando-se a “má gestão do material circulante”. A situação actual, considera, é de “tapa-buracos” e da qual “é muito difícil recuperar”. Do centro da Europa, analisa também a perspectiva internacional: “Não há países na União Europeia que estejam tão desconectados quanto Portugal e Espanha”. Na sucessão de apeadeiros e estações desactivadas, já depois de transposto o rio Tejo, há a curta paragem na estação de Vidigal. Apresenta-se num edifício de dois pisos, hoje com janelas e portas emparedadas, rodeado por figueiras e pinheiros mansos. Não havendo qualquer acesso de alcatrão, é uma oportunidade para tirar uma fotografia à UTE estacionária. Enquanto recolhe de novo à carruagem, Filipe Ferreira vai explicando que participa nestes passeios para ir mantendo o contacto com o sector dos transportes, no qual trabalhou ao longo da vida. Relacionado com a ferrovia, conta o aposentado de 76 anos, trabalhou no final dos anos 1960 na English Electric, que fabricava as locomotivas 1400 e 1800, mas que viria depois a ser absorvida pela General Electric. A rede portuguesa tem minguado, lamenta, considerando a ferrovia “um serviço público indispensável”. E prossegue: “Devemos ser o país da Europa com menos quilómetro de caminho-de-ferro por habitante”. O presidente da APAC, António Reis, diz que já vai sendo difícil encontrar “pontos interessantes para fazer [estes] passeios”, de “tão amputada” que está a rede ferroviária. Mesmo que tenha começado a ser tecida no século XIX e com a extensão ao longo do século seguinte, à rede ferroviária portuguesa têm sido subtraídos quilómetros. Entre os 1500 sócios da APAC há perfis variados. Desde simpatizantes a profissionais do sector, tanto da circulação como das infraestruturas. “Um conjunto de carolas que discute” a ferrovia “ao longo dos anos”, descreve o presidente. “Vamos ter um cruzamento!”, anuncia empolgado António Reis, enquanto a UTE (material circulante dos anos 1970, entretanto modernizado) vai passando o sinal luminoso amarelo, na linha de Vendas Novas. Isto significa que será avistado um comboio de mercadorias que ali circula no sentido contrário. Instantes depois, novo pico de entusiasmo, desta feita colectivo: “é uma Comsa”. E o que tem de especial uma máquina destas? Antes, havia uma grande variedade de material de tracção, explicam-nos. Hoje, pelo simples facto de ser diferente, é motivo de excitação para quem anda de olho nos comboios. A ligação de Fernando Pedreira aos caminhos-de-ferro é involuntária, mas nem por isso deixa de ser dedicada. Já vem desde antes dele, pelo pai, que era ferroviário, e desde antes dele ainda, pelo avô, que era chefe de estação. Dos seus 67 anos e bigode grisalho, assenta a palma da mão esquerda estendida no estofo laranja do banco ao lado: os últimos seis anos no activo foram passados a trabalhar numa empresa que vendia bancos para carruagens. “Estes”, afirma enquanto ensaia o gesto. “Tenho alguma dificuldade em encontrar culpados”, refere Fernando Pedreira, quando o assunto de conversa se encaminha para a situação actual da CP, que no último Verão diminuiu a oferta em várias linhas do país devido à falta de material circulante. Não que não existam. “Tenho que olhar muito para trás”, esclarece. O presidente da APAC confirma a tese de que os problemas na operação ferroviária em Portugal “não são de agora”, mas que tiveram um reflexo mais acentuado este ano. “Ao longo de décadas, o caminho-de-ferro tem sido alvo de um desinvestimento muito grande”. Esse aspecto mostra também uma “falta de opção estratégica por parte do Governo”. Não apenas de um executivo, mas de sucessivos. Fernando Pedreira tenta ser ilustrativo: “não é no mês a seguir a deixarmos de lavar os dentes que começamos a ter cáries”. Processo semelhante aconteceu com o material circulante. No entanto, se tal aconteceu, o “aumento dos ciclos de manutenção do material” também contribuiu para o desgaste, refere António Reis. “Nunca esteve em causa a segurança, mas tem-se verificado um número cada vez mais elevado de material encostado”, diz. Acrescem “determinados conceitos de padrões de qualidade”, refere o responsável, tendo-se assim encostado “material que podia ter tido uma vida mais longa”. “Muitas vezes, em ambientes turísticos, as pessoas não se importam de prescindir de determinado tipo de conforto se puderem abrir uma janela para ver a paisagem”, adensa, exemplificando com o caso das carruagens Schindler. Estes veículos, apesar de não terem ar condicionado, foram recuperados para pôr ao serviço na linha do Douro, no comboio Miradouro. No entanto, com a falta de material, a empresa estatal já os utilizou em comboios regulares nas linhas do Douro e Minho. Numa simplificação, Reis considera que é preferível “haver serviço do que não haver serviço”. E o exemplo de não haver serviço é a Linha do Oeste, “uma autêntica lotaria”. “Não vejo saída a curto prazo”, afirma Pedreira, que, por ter trabalhado no sector, sabe que os prazos de entrega de material não permitem resoluções imediatas. Num processo que corra bem, estima, entre o lançamento do projecto e a entrega, decorrem quatro anos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Évora serve de ponto mais afastado, numa viagem circular cujo regresso a Santa Apolónia se faz via Ponte 25 de Abril, passando antes por Poceirão, Águas de Moura e Setúbal, noutro trajecto que não está habituado a ver composições de passageiros. Jacinto da Silva Santos serve-se desta capital de distrito alentejana para fundamentar a sua tese de que a ferrovia portuguesa “já não é uma rede, mas sim um eixo com algumas ramificações”. Da cidade partia-se para Reguengos, Mora ou Portalegre. “Chamavam-lhe a estrela de Évora. Agora chega ali e acaba”, conclui. O economista João André Margalho não quer ser pessimista, como ele próprio declara. Mas os últimos anos não têm sido “os mais favoráveis” para os caminhos-de-ferro nacionais. À falta de material circulante, de manutenção e de renovação acrescenta a falta de respeito “flagrante” pelos passageiros, que se materializou em “supressões e avarias no meio do nada”, como o célebre episódio a caminho de Beja. Todavia, lembra Margalho, de 61 anos, há anúncios de modernização das linhas e de compras anunciadas. A espera pode durar anos, resta saber se os passageiros resistem até lá, sublinha. E prossegue: “Vamos ter anos complicados que, em vez de servirem para passarmos a um patamar superior de velocidade ou segurança, vão ser passados a tentar recuperar aquilo que se perdeu”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem doença extinção animal
Três autarcas já cumpriram penas de prisão
Apenas três autarcas cumpriram pena efectiva de prisão, após terem esgotados os possíveis recursos `as condenações por actividades ilícitas enquanto presidentes de câmara: Abílio Curto (Guarda), Luís Gabriel (Santa Cruz) e António Lobo (Ponta do Sol), na Madeira. Foram colocados em liberdade condicional depois de terem cumprido parte da pena nos estabelecimentos prisionais. (...)

Três autarcas já cumpriram penas de prisão
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apenas três autarcas cumpriram pena efectiva de prisão, após terem esgotados os possíveis recursos `as condenações por actividades ilícitas enquanto presidentes de câmara: Abílio Curto (Guarda), Luís Gabriel (Santa Cruz) e António Lobo (Ponta do Sol), na Madeira. Foram colocados em liberdade condicional depois de terem cumprido parte da pena nos estabelecimentos prisionais.
TEXTO: Noutros casos mais mediáticos, como de Valentim Loureiro (PSD) e Fátima Felgueiras (PS), os autarcas foram condenados a penas suspensas. O major foi condenado em Julho de 2008, pelos crimes de abuso de poder e prevaricação, no âmbito do processo “Apito Dourado”, a três anos e dois meses de prisão, com pena suspensa por igual período, sendo igualmente condenado à perda de mandato na presidência da câmara de Gondomar. Em 2008, o Tribunal de Felgueiras condenou a presidente da câmara local, Fátima Felgueiras, a três anos e três meses de prisão com pena suspensa por igual período, por crimes de peculato, de peculato de uso e de abuso de poder, relativo a alegado financiamento partidário. Em Julho deste ano foi absolvida de todos os crimes de que era acusada no âmbito deste processo conhecido como "saco azul", em julgamento repetido por ordem do Tribunal da Relação de Guimarães que obrigou à repetição do julgamento. Também em 2008, o Tribunal do Marco de Canaveses tinha absolvido o ex-presidente da câmara Avelino Ferreira Torres (CDS/PP) dos crimes de corrupção, peculato de uso, abuso de poder e extorsão. Em 2009 foi absolvido pelo Tribunal do Marco de Canaveses dos crimes de corrupção, peculato de uso, abuso de poder e extorsão de que estava acusado no âmbito do processo “Apito Dourado”. Na sequência de vários anos de sucessivos recursos para os tribunais superiores a pena foi considerada prescrita em 4 de Maio de 2011 pelos juízes do Tribunal da Relação do Porto. Mas há ainda outros casos de autarcas com penas suspensas. O presidente da câmara de Vagos, em Aveiro, João Rocha (PSD) foi condenado por corrupção, em 2007, a cinco anos de prisão com pena suspensa. Na Nazaré, o ex-presidente da câmara municipal Luís Monterroso (PS) foi condenado em Janeiro de 2007 a um ano de cadeia, com pena suspensa por três anos, por alegada participação económica em negócios no processo de adjudicação do PDM local. Abílio Curto (Guarda)Na Guarda, o antigo presidente Abílio Curto (PS) foi condenado em 1998 pelo crime de corrupção passiva, no âmbito de um processo em que terá exigido a dois empresários 20 mil euros para emitir uma licença de utilização de um edifício. Em 2002, Abílio Curto foi condenado a três anos e seis meses de prisão, no âmbito do “caso do Matadouro”, pelo crime de fraude na obtenção de subsídio. Esta pena foi reduzida em dois anos devido a cúmulo jurídico e a título de perdão do tribunal. Na véspera de Natal de 2006 saiu, após cumprir metade da pena de prisão. Luís Gabriel (Santa Cruz, Madeira)Luís Gabriel Rodrigues (PSD), ex-presidente da câmara de Santa Cruz, foi condenado, em Fevereiro de 2000, a cinco anos e meio de prisão, tendo ficado também inibido, por três anos, de exercer cargos públicos, pela prática dos crimes de peculato, burla agravada e falsificação de documentos. Contudo, só em finais de 2003, depois de esgotados todos os recursos, o autarca apresentou-se na cadeia para cumprir pena. Beneficiando de várias saídas precárias, cumpriu mais de três anos e oito meses de prisão, dois terços da pena, tendo saído em liberdade condicional em Março de 2009.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD
Renault prepara carro ultra low-cost por 2500 euros
A Renault está a desenvolver um veículo bem mais barato do que um Dacia Logan. A viatura deverá custar cerca de 2500 euros e tem como principal objectivo competir nos mercados emergentes, países com muita população que hoje anda de bicicleta, moto ou triciclos motorizados, mas que ambiciona comprar automóvel. (...)

Renault prepara carro ultra low-cost por 2500 euros
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-11-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Renault está a desenvolver um veículo bem mais barato do que um Dacia Logan. A viatura deverá custar cerca de 2500 euros e tem como principal objectivo competir nos mercados emergentes, países com muita população que hoje anda de bicicleta, moto ou triciclos motorizados, mas que ambiciona comprar automóvel.
TEXTO: A hipótese de este veículo ultra low-cost ser vendido na Europa está em cima da mesa, mas convém recordar que as exigências do mercado europeu, nomeadamente ao nível de segurança e emissões poluentes, tornam os automóveis mais caros. A ideia é desenvolver um veículo que seja três vezes mais barato do que um Dacia Logan, que, actualmente, é vendido a partir de 7700 euros, em França – em Portugal o Dacia mais acessível é o Sandero, à venda a partir dos 8950 euros. A equipa que vai desenvolver esse automóvel será liderada por Gérard Detourbet, responsável pelos projectos de baixo custo da empresa e que vai começar a trabalhar a partir de 1 de Janeiro de 2012, disse uma fonte da Renault ao jornal francês La Tribune. Este grupo vai desenvolver não só o automóvel (cujo tamanho deverá aproximar-se de um Renault Twingo), mas também uma plataforma específica e um motor de baixo custo, diz o diário francês. Em Setembro deste ano, no Salão Automóvel de Frankfurt, Gérard Detourbet tinha dito que estava a “trabalhar arduamente” num carro que fosse mais barato do que o Dacia Logan. Porém, a Renault não quis dar mais informações sobre o projecto, adiantando apenas que o novo carro de 2500 euros não seguirá o formato Dacia, pois este iria exigir uma plataforma demasiado cara para um projecto “tão minimalista”. Pelo que o PÚBLICO apurou, numa fase inicial, a Renault equacionou fazer um contrato com o fabricante indiano de triciclos motorizados Bajaj para produzir o veículo de 2500 euros na Índia. No entanto, o contrato não avançou. O possível contrato gerou algumas tiradas irónicas entre os quadros da empresa francesa, nomeadamente acerca da possibilidade de o veículo dispor de três ou quatro rodas. Piadas à parte, o futuro automóvel deverá ter mesmo quatro rodas, não se sabendo ainda onde vai ser construído. A intenção da Renault de construir um carro de 2500 euros faz todo o sentido, uma vez que o construtor está a conhecer um assinalável sucesso com a gama low-cost Dacia, que também é vendida com emblema Renault em algumas paragens, como o Irão, Rússia ou América Latina. A Dacia é uma marca romena que estava em vias de extinção quando foi adquirida pela Renault. Deverá render entre 750 mil e 800 mil unidades este ano e a Renault ambiciona atingir um milhão em 2013.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave extinção
Portugueses enfrentam em Janeiro vaga de aumento de preços
Do café às águas engarrafadas, aos refrigerantes, ao pão, Janeiro marca o início da vaga de aumentos de preços decidida pelo Governo para 2012. Os restaurantes que abrirem no domingo já têm de aplicar as novas taxas do IVA. Na saúde, as taxas moderadoras podem no próximo ano chegar aos 50 euros. Ir ao teatro ou ao cinema vai também ser mais caro. (...)

Portugueses enfrentam em Janeiro vaga de aumento de preços
MINORIA(S): Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Do café às águas engarrafadas, aos refrigerantes, ao pão, Janeiro marca o início da vaga de aumentos de preços decidida pelo Governo para 2012. Os restaurantes que abrirem no domingo já têm de aplicar as novas taxas do IVA. Na saúde, as taxas moderadoras podem no próximo ano chegar aos 50 euros. Ir ao teatro ou ao cinema vai também ser mais caro.
TEXTO: O café deverá ficar entre cinco e dez cêntimos mais caro, segundo prevê a Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) para um café que custe 60 cêntimos. O aumento (o preço será sempre definido pelos cafés e restaurantes) reflecte no consumidor um duplo efeito: a subida da taxa de IVA do produto e na restauração. Os industriais do sector encaram as subidas com preocupação. Segundo Maria José Barbosa, presidente da AICC, poderá haver estabelecimentos “que sacrifiquem as suas margens comerciais e suportem este aumento”, mas, antecipou à Lusa, “serão situações muito excepcionais”. O mesmo deverá acontecer com a água engarrafada. Se as empresas reflectirem no preço de venda ao público a subida do IVA de seis para 13%, o preço também deve aumentar, prevê Associação dos Industriais de Águas Minerais Naturais e de Nascente. Francisco Furtado Mendonça, que preside à associação, diz ser impossível prever qual o efeito, porque cada empresa tem abordagens diferentes, explica. “Não é uma boa notícia para o sector”, comentou à mesma agência. A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição admite que, na conjuntura económica adversa, “o sector não tem condições para acomodar a subida” do IVA, mas espera continuar a “apresentar propostas de valor aos consumidores”. Pão sobe para suportar aumento do IVAA indústria de panificação antecipa que o pão e os bolos fiquem mais caros, para as empresas minimizarem o impacto da subida do IVA na restauração e as quebras de 30 a 45% que prevêem no consumo. A secretária-geral da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), Graça Calisto, admite que a subida do preço vai ser incontornável, mas recusa falar de aumentos. “Não se pode falar de subida do preço, porque uma subida implica que os industriais tivessem lucro. Trata-se apenas de não ter prejuízos e de acomodar a subida do IVA”. Pelo contrário, o leite é um dos produtos que devem manter o preço em 2012. É o que prevê a Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL), tendo em conta a preocupação dos produtores em conter a quebra no consumo, apesar do aumento de custos para o sector. “As empresas têm uma preocupação muito clara: conter qualquer aumento de custos. As grandes superfícies estão a ser muito exigentes com os seus fornecedores e a possibilidade de haver aumentos é muito reduzida, pelo menos no primeiro trimestre”, afirmou à mesma agência secretário-geral da ANIL, Pedro Pimentel. Os preços de venda ao público do tabaco e das bebidas alcoólicas devem aumentar no próximo ano devido a uma subida de impostos que, em média, atinge 2, 3% nas bebidas e 4, 6% no tabaco. Nos cigarros, a estrutura das taxas será alterada segundo o Orçamento do Estado para 2012, que foi promulgado nesta sexta-feira pelo Presidente da República, Cavaco Silva, e já publicado no Diário da República. Actualmente, o tabaco é tributado através de um imposto específico, em euros, e um imposto denominado ‘ad valorem’, em percentagem do preço base. Taxas moderadoras podem chegar aos 50 eurosAs taxas moderadoras vão duplicar na maior parte dos casos em relação aos valores actuais, e passam ainda a ser cobradas em alguns serviços de saúde até agora gratuitos. As taxas das urgências polivalentes passam a custar 20 euros, quando custavam 9, 60 euros. A urgência básica e a urgência médico-cirúrgica, que custavam 8, 60 euros, passam a custar 15 euros e 17, 5 euros, respectivamente. Quanto às urgências dos centros de saúde, terão a partir do próximo ano um valor de taxa moderadora de 10 euros, o que representa um acréscimo de 6, 20 euros face aos atuais 3, 80 euros. A estes valores acrescem ainda as taxas moderadoras por cada meio complementar de diagnóstico e terapêutica (MCDT) efectuado no âmbito da urgência, podendo o total chegar aos 50 euros, mas nunca ultrapassá-lo. Outra novidade é o pagamento de taxas moderadoras em consultas de enfermagem, ou de outros profissionais de saúde: quatro euros se for nos cuidados de saúde primários e cinco euros se for nos hospitais. Pagar mais para ir ao cinemaA partir de domingo, os portugueses terão que pagar mais para ir ao cinema ou ao teatro, assistir a um concerto, a um espectáculo de dança e a uma tourada devido ao aumento do IVA nas actividades culturais. A proposta inicial do Governo era subir a taxa de IVA nas actividades culturais de seis para 23 por cento, mas acabou por se chegar à proposta da taxa intermédia de 13 por cento. O sector livreiro é o único que mantém a mesma taxa de IVA, nos seis por cento. Os agentes culturais prevêem uma quebra no consumo no sector no próximo ano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo tourada