Selvagem Grande, a ilha das cagarras
Não tem uma árvore, nem água doce. As gentes da Madeira iam caçar aves marinhas e pescar a este pedaço de terra no Atlântico, que agora é reserva natural. Rochedo apenas, como diz Espanha, ou ilha, como diz Portugal? A maior expedição portuguesa de sempre às ilhas Selvagens esteve a inventariar a biodiversidade e foi também uma afirmação de soberania. (...)

Selvagem Grande, a ilha das cagarras
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não tem uma árvore, nem água doce. As gentes da Madeira iam caçar aves marinhas e pescar a este pedaço de terra no Atlântico, que agora é reserva natural. Rochedo apenas, como diz Espanha, ou ilha, como diz Portugal? A maior expedição portuguesa de sempre às ilhas Selvagens esteve a inventariar a biodiversidade e foi também uma afirmação de soberania.
TEXTO: Agora que acabaram de tomar o pequeno-almoço no alpendre da casa encravada no sopé da Selvagem Grande, com vista para a baía das Cagarras, estão preparados para subir a encosta quase a pique da ilha e continuar o trabalho que os trouxe até aqui. Avançam escarpa acima, uma parede castanha árida que, num repente, brota mais de 100 metros do mar como o dorso de um animal marinho, com cabeça e cauda mergulhadas na água. Paulo Catry segue na dianteira, chapéu e mochila às costas, Ana Almeida de lenço na cabeça e também mochila, e pelo trilho íngreme delimitado por pedras, ziguezagueando como equilibristas, cruzam-se a cada passo com os principais habitantes da ilha - as cagarras, aves marinhas, migradoras admiráveis. Daqui elas têm vista privilegiada: os ninhos que fizeram nos buracos na escarpa escancaram-se para um azul imenso. Ao longe, a 11 milhas, podem aperceber-se de um pedaço de terra tão esborratado que mal se distingue entre o mar e o céu, a Selvagem Pequena, apenas com 20 hectares e 49 metros de altitude máxima. Ao lado, mais pequeno ainda, fica o ilhéu de Fora. E lá em baixo, deparam-se com a rampa que permite o desembarque de botes entre os rochedos na Selvagem Grande, com a casa dos dois vigilantes da natureza sempre presentes, os únicos habitantes humanos, mais a única casa privada da ilha uns metros acima na falésia - e, nos últimos dias, com um cenário nunca antes presenciado. Há agora um colorido de tendas no terreiro em frente à casa dos vigilantes e no pátio da casa privada, além de estendais com roupa dos 19 recém-chegados à Selvagem Grande, ilha do arquipélago da Madeira. Desembarcaram no fim de Junho por uma semana para inventariar a fauna e a flora marinhas (na semana anterior, fizeram o mesmo na Selvagem Pequena). Sem telemóveis, sem Internet, sem água doce para tomar banho ou uma praia, e sem um produto muito desejado por quase todos - queijo, que viria a protagonizar uma peripécia -, os cientistas vieram vasculhar a ilha, desde o topo do planalto até aos cinco metros de profundidade, passando pela zona entre marés. Podem sempre contentar-se em pôr um postal no marco de correio no alpendre da casa dos vigilantes, com carimbo das "Selvagens, Portugal" (vai é demorar até ao destino, uma vez que os vigilantes são rendidos a cada três semanas e é nessa altura que levam a correspondência num navio-patrulha até ao Funchal). Indiferentes aos passos de Paulo Catry e Ana Almeida, as cagarras chocam os ovos. Enquanto um dos elementos do casal permanece no ninho, o outro viaja durante uma semana no mar alto à procura de alimento. Depois ficam juntos alguns dias e revezam-se. É pelas cagarras que os cientistas caminham pela encosta abrupta - esta manhã, mais uma vez. Sem se deterem nos ninhos do varandim panorâmico, dirigem-se para as que optaram por se instalar no topo da ilha, mesmo no centro. Nova paragem, agora numa parte mais plana do trilho, quase, quase no topo, uff. Avistam-se os três navios da expedição que assentaram arraiais ao largo deste pedaço de terra, e que representam três tempos da descoberta e exploração dos oceanos pelos portugueses: a Vera Cruz, réplica das caravelas dos Descobrimentos, da Associação Portuguesa de Treino de Vela; o veleiro Creoula, construído nos anos 30 como bacalhoeiro na Terra Nova e agora ao serviço da Marinha; e o navio oceanográfico Almirante Gago Coutinho, também da Marinha, equipado com tecnologias do século XXI, de que o Luso, veículo não tripulado que mergulha até aos seis mil metros, é a estrela principal. O que faz tanta gente nesta ilha e à sua volta? Em terra e no mar, mais de 70 cientistas inventariam a biodiversidade marinha, naquela que é a maior expedição científica às ilhas Selvagens, 163 milhas náuticas a sul da Madeira e apenas 82 a norte das Canárias. O extremo sul de Portugal é aqui. A pergunta é: porquê uma expedição às Selvagens e não a outro sítio qualquer?As cagarras são a expressão mais visível da biodiversidade das Selvagens (e audível, dirá quem dorme nas tendas). Ou não albergasse a Selvagem Grande a maior colónia mundial desta ave do tamanho de uma gaivota - desde o final de Fevereiro, quando chegam as primeiras para a época de nidificação, até Novembro, quando partem as últimas. A equipa de Paulo Catry, de 42 anos, ornitólogo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa, estuda-as há cerca de sete anos. Por vezes, vira-se na escarpa e explica o seu trabalho, uma oportunidade para quem o acompanha recuperar o fôlego. "Há cinco anos contámos todos os ninhos de cagarras, por isso sabemos que os casais que nidificam na ilha são 30 mil. "É também possível saber o número aproximado de cagarras na Selvagem Grande porque lhes têm posto anilhas (serão, assim, mais de 60 mil). "Como têm uma taxa de sobrevivência elevada, a maior parte já foi anilhada. Há aves cuja idade é superior a 30 anos. "Nesta história há um nome incontornável: Paul Alexander Zino, ornitólogo de origem inglesa natural da Madeira, que luta pela preservação das cagarras das Selvagens. Participa na primeira expedição científica multidisciplinar: em Julho de 1963, o director do Museu Municipal do Funchal traz às Selvagens um grupo de cientistas europeus e, quando regressa ao Funchal, Zino quer salvar as cagarras. Nesses tempos, são um pitéu: apreciadas na Madeira pelos pescadores, organizam-se campanhas sazonais de recolha das crias na Selvagem Grande. Espalmadas, salgadas e secas ao sol, armazenam-nas em barricas que seguem para a Madeira. Numa campanha anual, podem matar-se 20 mil juvenis. Os adultos são poupados, senão esta actividade económica acabaria. Nada se desperdiça: das penas fazem-se colchões e até os excrementos se aproveitam como adubo. As Selvagens são na altura propriedade privada: concedidas a quem se distinguiu nas conquistas além-mar, em 1904 acabam por ser vendidas pelos herdeiros ao banqueiro madeirense Luiz da Rocha Machado. Por oito mil escudos, ou 40 euros. Na última caçada, que parte do Funchal em Setembro de 1967, o declínio das cagarras é tal que já só se apanham 13 mil. Nesse ano, Zino compra a licença de caça por alguns anos, quer que a colónia recupere. Tem também autorização do proprietário para construir a primeira casa da Selvagem Grande, como apoio ao estudo das cagarras, que o filho de Zino, médico e ornitólogo, ainda mantém. As anilhagens começam a partir de 1968, com Zino, entre outros ornitólogos portugueses e franceses. Ele defende que as Selvagens sejam uma reserva natural e, em 1970, negoceia a sua compra pelo Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), associação internacional de defesa da natureza. Mas, em 1971, o Estado português prefere comprá-las - por 1500 contos, ou 7500 euros (450 mil euros, no valor actual). Nesse ano, são classificadas como reserva natural. Não restam muitas aves anilhadas nos primeiros tempos, porque em 1976, na ilha até aí sem vigilantes, há uma matança indiscriminada de adultos e crias. "Alguém veio anilhar cagarras em 1976 e, em vez de milhares, encontrou menos de uma centena", recorda Paulo Catry. Anos sem pisar terraVinte minutos de escalada e está-se finalmente no planalto. Não há uma árvore. A vegetação é rasteira ou limitada a tufos, o terreno pedregoso. O ponto mais elevado, o pico da Atalaia, a 163 metros, ostenta o farol. Tudo o que se ouve é o vento que assobia. Mas encontra-se gente aqui - que tinha até agora os 245 hectares do planalto só para si. Hany Alonso, de 27 anos (do ISPA), e João Pedro Pio, de 22 (colaborador do Museu Nacional de História Natural de Lisboa), ornitólogo e biólogo, andam absortos com os ninhos. No centro do planalto dispõem-se quatro muros de pedra, com ninhos numerados. Quando chegam Paulo Catry e Ana Almeida, de 30 anos, bióloga marinha, eles já vão no buraco 52 de um dos muros. Os quatro, a equipa das aves na Selvagem Grande, continuam a ronda pelos ninhos. Há anos que acompanham perto de 400. "Verificamos se estão ocupados e por quem", explica Catry. "Estes muros são quase de certeza anteriores ao século XX. Não se sabe quem os fez, nem quando. Mas deixaram buracos para recolher os pintos. "Como um ritual, passam em revista cada ninho. Ajoelham-se, retiram a cagarra que choca um único ovo, tomam nota do número da anilha, verificam se é o macho ou a fêmea, cortam o pedaço de uma pena e marcam a ave com tinta. Na próxima ronda podem identificar logo se o ocupante é o mesmo e, se for o outro, repetir o ritual. Querem saber tudo da vida dos bichos. "A sobrevivência, o sucesso reprodutivo, a fidelidade entre casais, a taxa de divórcio - esse tipo de trabalho", acrescenta Alonso. O casal mantém-se junto para a vida? "Acasalam quase sempre com o parceiro do ano anterior. Há divórcios, mas a taxa é baixa, talvez da ordem dos três a quatro por cento ao ano", diz Catry. Para que querem a pena? "Para análise da composição química e de isótopos. " Através da análise de formas de carbono e azoto, pode saber-se onde comem e o quê durante o Inverno. "Não é possível ter informação directa sobre a alimentação nas zonas de invernada, porque elas estão no mar alto", explica Alonso, que faz o doutoramento sobre a ecologia alimentar das cagarras, co-orientado por Catry. Descobriu-se, através de receptores GPS nas costas das cagarras, que as das Selvagens vão alimentar-se muito longe durante a nidificação. "A maior parte vai à costa de Marrocos, a 400 quilómetros", diz Catry. Terminada a época de nidificação, os adultos abandonam as Selvagens em Outubro, as crias em Novembro. As ilhas ficam então desertas de cagarras. Os adultos regressam no ano seguinte, mas os juvenis ficam no mar alto. "Só voltam a pôr o pé em terra firme ao fim de três ou quatro anos. Mesmo passados esses anos, estão aqui uma semana, a socializar e a conhecer o sítio, e vão-se embora. Só nidificam em média aos nove anos. " Seleccionado o local de reprodução, é raro mudarem. No Inverno, as cagarras das Selvagens vão até ao largo da África do Sul, mas podem ir até Moçambique e Madagáscar. Algumas, porém, ficam no Atlântico Noroeste, entre os Açores e os EUA. A equipa de Catry seguiu a migração de 70 cagarras das Selvagens, com um aparelho na pata, e concluiu que têm seis áreas de invernada (além do Atlântico Noroeste, dirigem-se ao meio do Atlântico Sul e às correntes de Agulhas, de Benguela, do Brasil e das Canárias). Um dos juvenis fez algo extraordinário: "Em dois anos, visitou as seis áreas. Andou a explorar o mundo. Voou mais de 30 mil quilómetros por ano. " Nisto tudo, é hora de almoço. É a vez de o grupo das aves cozinhar para os 19 cientistas na ilha, mais aqueles que vêm e vão para os navios, e, por isso, há que descer à casa dos vigilantes. À noite, os quatro tencionam voltar a subir. Querem ter informação directa sobre a alimentação das cagarras. A coisa promete. Caravelas da descobertaHá que ter cuidado a atravessar o planalto. "A partir daqui é a colónia de calcamares. " Zona interdita aos caminhantes incautos portanto, porque estas aves marinhas que andam sobre o mar, daí o nome, escavam os ninhos no chão arenoso. Só há esta subespécie nas Selvagens. Desde a erradicação dos coelhos na Selvagem Grande, proliferam também os tufos acinzentados da Schizogyne sericea, planta endémica destas ilhas e das Canárias. Pouco depois da descoberta das ilhas no século XV, os coelhos e as cabras são introduzidos na Selvagem Grande como fonte de alimento de quem a visita. O navegador português Diogo Gomes é o descobridor oficial, pensa-se que em 1438. Encontra-as com as suas caravelas quando regressa de uma viagem à costa africana, ao serviço do Infante D. Henrique. Cedo começa a recolher-se urzela, um líquen que cresce nas escarpas, para tingir de púrpura tecidos e papel. Além das cagarras, a pesca e a salga de peixe são fontes de rendimento. Sobrevivem vestígios das tentativas de colonização humana, de que são exemplo os muros de pedra. A inexistência de água doce na ilha ditou o seu falhanço. As cabras extinguem-se devido à caça no século XIX, mas os coelhos persistem até ao início do século XXI. No fim do século XIX também é introduzida a planta tabaqueira para lenha, mas atinge uma área tal que prejudica as aves marinhas. Está a ser erradicada (desde 2001, pelo que restam poucas), tal como uma outra planta invasora, a Conyza bonariensis. O Serviço do Parque Natural da Madeira quer preservar os tesouros biológicos das Selvagens, de que é outro exemplo a osga Tarentola boettgeri bischoffi, subespécie que ocorre só nestas ilhas vulcânicas. O Governo Regional da Madeira tenciona recandidatar as Selvagens a património mundial natural da UNESCO (depois de a candidatura de 2002 ter sido retirada por falta de informação sobre a biodiversidade marinha) e esta expedição pode facilitar o processo. Se até há muita informação sobre a biodiversidade em terra, com as cagarras entre as espécies mais estudadas, a vida neste mar mantém-se bastante desconhecida. Por isso, os cientistas têm batido as costas da Selvagem Grande na zona entre marés, à procura de algas, cracas, peixes nas poças. . . Ao mesmo tempo, no Creoula, equipas de mergulhadores vão até aos 25 metros de profundidade recolher exemplares de fauna e flora, fotografar e filmar. Entre os afazeres obrigatórios para todos - limpar o navio ou ajudar na cozinha a escamar douradas e a lavar panelões -, cumprem-se cinco mergulhos por dia. Dispostos em tabuleiros no convés, os exemplares recolhidos são triados, identificados, preservados em frascos. Entretanto, o Luso, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), também tem mergulhado até aos dois mil metros e trazido amostras biológicas, rochas e água. Todos os dados, das equipas em terra e nos navios, vão sendo inseridos no M@rbis - Sistema de Informação para a Biodiversidade Marinha, desenvolvido pela EMEPC e o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. O projecto pretende inventariar de forma exaustiva as espécies marinhas em Portugal. Da passagem pela Selvagem Pequena, antes portanto de a expedição se mudar para a Selvagem Grande, encontram-se ecos no diário pessoal de Mónica Albuquerque, bióloga da EMEPC. "O dia promete ser animado, porque vem muita gente a terra e há o jogo de Portugal [com a Costa do Marfim]", escreve a 15 de Junho, acrescentando que, após o pequeno-almoço, as visitas começam a chegar para ajudar nas saídas entre marés e na recolha de lixo. "Chocou-me o facto de serem ilhas desabitadas, mas com muito lixo provocado pelo homem e que é lançado no mar chegando a destinos tão longínquos como este", anota. "De tarde, a vida em terra foi abalada com a chegada de 30 ou 40 pessoas para verem o jogo. Conseguiram mesmo trazer do Creoula uma televisão maior. " A noite dos vómitosVoltando ao almoço preparado pelo grupo das aves, atum com batatas e ovo cozido vai ser servido numa mesa ao correr do alpendre na casa dos vigilantes. Por esta altura, já muitos andam desejosos de queijo. A saga das bolas de queijo começou uns dias antes entre Mónica Albuquerque, em terra, e Manuel Pinto de Abreu, o responsável pela EMEPC, a bordo do Almirante Gago Coutinho. Quem estava no Creoula e na caravela Vera Cruz, que transportou cientistas até às Selvagens, também ouviu. "Professor, do Gago Coutinho preciso de queijo", disse Mónica Albuquerque via rádio. "Tenho aqui cinco testemunhas que carregaram as bolas de queijo. Não há mais queijo!", respondeu Pinto de Abreu. "Vou pôr toda a gente à procura do queijo perdido", devolve a bióloga, que voltará ao assunto. "Professor, queremos queijo!" "Vou telefonar para o Funchal para termos queijo à nossa espera", brinca. Inglaterra vai jogar com a Eslovénia, e na televisão na sala ao lado da kitchenette na casa dos vigilantes vai poder ver-se o jogo, até porque aqui há painéis solares. Os cadeirões convidam. Numa estante da sala guardam-se os diários da Selvagem Grande onde os vigilantes registam os pequenos nadas. "Terça-feira, 8 de Junho de 2010: dia dedicado a limpezas na estação, visto que amanhã está prevista a chegada de três embarcações com cientistas e outras pessoas para ficarem cá cerca de 20 dias. Ao fim do dia foi efectuada uma subida ao topo para ver se estava tudo bem e ainda arrancámos alguns pés de Conyza. " Cinco dias depois, a 13 de Junho: "[Na comunicação via rádio com a Selvagem Pequena] ficámos a saber que o [Almirante Gago Coutinho] ia para o Funchal reparar o robô submersível que tinha avariado. " Tinha-se partido a peça que permite determinar a posição do Luso em relação ao navio. Era um percalço menor face ao que viria a acontecer. Depois do jantar, pelas dez da noite, a equipa das aves volta a subir a encosta para descobrir o que jantaram as cagarras. Na escarpa e no planalto, o sossego do dia deu lugar a uma chinfrineira desde as sete da tarde, quando as cagarras começam a regressar do mar. Fazem voos rasantes e ouvem-se entrecruzados os característicos gritos dos machos "au, au, au, hã". Com uma lanterna no chapéu, Paulo Catry avança pelo escuro e apanha uma cagarra, que encandeou e que não pára de gritar. "Este, em princípio, é um novo reprodutor que veio do mar", diz Hany Alonso quando o recebe. João Pedro Pio: "Como sabes que é um novo reprodutor?"Paulo Catry: "Um macho adulto em reprodução não anda armado em parvo a meio da noite. Tem mais que fazer do que andar nas coboiadas da juventude. Os reprodutores podem dar dois gritos à entrada do ninho e vão lá para dentro. " Sentado no chão, com um tabuleiro e um garrafão de água salgada à frente, Alonso empurra um tubo pela boca da ave. Ana Almeida bombeia a água, até que o bicho vomita no tabuleiro o que parece um pedaço de lula. Com uma pinça, coloca-o num frasco com álcool, enquanto João Pedro Pio toma notas de tudo. "Pronto, já passou", diz Alonso, enquanto submete outra cagarra ao mesmo procedimento. Seis cagarras depois, finalmente uma lavagem ao estômago dá um resultado de jeito. "Há ali uma espinha", avisa Ana Almeida. "Olha, talvez carapau, talvez. . . ", diz Alonso, que observa melhor. "É carapau quase de certeza. " Nesta ilha não há sossego? "Não!", atira Ana Almeida. "Há no Inverno. Deve ser uma tristeza", e ri-se. "Uau, uma lula inteira", diz a bióloga marinha. "A pota-voadora é a espécie que mais aparece na dieta", explica Alonso sobre a lula em questão. "Disseste pota-voadora?! Que espectáculo!", comenta João Pedro Pio. Doze cagarras depois, os vómitos forçados terminam. "Queremos perceber melhor o ecossistema deste mar profundo e pouco produtivo. Há pouca pesca, só ao atum", explica Catry. Encosta abaixo à meia-noite, a iluminação do Almirante Cago Coutinho sinaliza que o Luso se encontra em operação. Está a terminar um mergulho a 615 metros, saber-se-ia depois, o quinto ao largo das Selvagens. Na manhã seguinte, dia da visita já programada de Marcos Perestrello e Humberto Rosa, secretários de Estado da Defesa Nacional e do Ambiente, chega à Selvagem Grande a má notícia. O cabo de ligação do Luso ao navio cortou-se, perto das 11 da noite. O veículo, que já estava a 130 metros de profundidade, voltou ao fundo. Seria montada mais tarde uma operação de resgate (o que já ocorreu com sucesso). Acto de soberaniaMesmo com este revés, vai começar um frenesim mediático. Ao início da tarde, aproxima-se da ilha das aves um helicóptero militar, que levanta uma nuvem de poeira no planalto onde pousa. Dele desembarcam também os chefes de Estado-Maior da Armada e da Força Aérea, o almirante Fernando Melo Gomes e o general Luís Araújo, e um batalhão de jornalistas. Da ilha seguem de bote para o Creoula, depois para o Almirante Gago Coutinho, há declarações de circunstância, sublinha-se a dimensão da expedição da EMEPC e a cooperação entre muitas instituições científicas, quer dar-se visibilidade política à missão, e ao fim da tarde quase todos os que vieram partem na ave metálica. Expedição e visitas podem também interpretar-se como um acto de soberania. "Não foi essa a razão por que pensámos ir às Selvagens, mas não podemos dizer que o que estivemos a fazer não teve importância na afirmação da soberania. Teve com certeza", reconhece Pinto de Abreu. Entre os motivos principais da expedição está o M@rbis, acrescenta, que precisava de ser testado no terreno. Aliás, em Julho de 2008, o El País publicava uma reportagem nas Selvagens, com o título O maior litígio, referindo-se aos cinco séculos de disputa por estes pedaços de terra. Apenas em 1997 Espanha reconheceu a soberania portuguesa, mas o conflito, lembrava o jornal espanhol, mantém-se quanto à delimitação da zona económica exclusiva (ZEE). Em causa está a natureza das Selvagens. São meros rochedos, incapazes de suportarem habitantes humanos e uma actividade económica, como diz Espanha? Ou são ilhas, como defende Portugal? Como rochedos, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, estabelece que o Estado apenas tem direito às 12 milhas do mar territorial e a uma zona contígua, até às 24 milhas. Como ilhas, o Estado tem por exemplo direito a uma ZEE, que pode chegar às 200 milhas. A distância entre as Selvagens e as Canárias é de 82 milhas, por isso Portugal defende que a delimitação da ZEE se trace a meio das duas - ou seja, a 40 milhas de cada uma. Esta proposta empurra a ZEE portuguesa cerca de 80 milhas mais a sul do que Espanha quer, refere o El País. Espanha quer que a linha seja traçada entre as Canárias e a Madeira, separadas por cerca de 245 milhas, o que traria a delimitação mais para norte. A pouco mais de 120 milhas da Madeira, que, recorde-se, fica a 163 das Selvagens. "As Selvagens são ilhas de facto", afirma Pinto de Abreu. "Em determinada altura, eram fonte de alimento para a população da Madeira e havia um comércio associado às cagarras. " Só por motivos de protecção ambiental se acabou com esse comércio e estão habitadas pelos vigilantes, escrevia o jornal espanhol sobre os argumentos portugueses: "No dia em que se decidir povoá-las, poderia desenvolver-se uma actividade económica baseada no turismo ecológico. Se dúvidas restassem, pregaram uma caixa de correio na maior ilha para deixar clara a sua soberania. "Por agora, as Selvagens recebem 500 visitantes por ano, vindos sobretudo nos seus iates, e a ida a terra requer autorização do Serviço do Parque Natural da Madeira. Afirmação ou não da soberania, na expedição na Selvagem Pequena e na Selvagem Grande os biólogos fizeram 100 mergulhos, houve 25 saídas de campo, apanharam-se mais de 3300 exemplares de fauna e flora, identificaram-se 900 espécies, há outras 700 por triar e uma imensidão de fotografias e vídeos. E, com as visitas governamentais, pôs-se fim a pelo menos um problema imediato. Mónica Albuquerque pediu um favor. As visitas não se esqueceram e trouxeram duas bolas de queijo. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2. A série Biodiversidade é patrocinada pelo Banco Espírito de Santo.
REFERÊNCIAS:
A genética vai revelar o mundo dos sacarrabos
Ao pé de coelhos, raposas e javalis, vive um carnívoro que prolifera cada vez mais. Uma equipa de cientistas está a descobrir os segredos de um animal que tem uma cauda usada para fazer pincéis de óleo. (...)

A genética vai revelar o mundo dos sacarrabos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao pé de coelhos, raposas e javalis, vive um carnívoro que prolifera cada vez mais. Uma equipa de cientistas está a descobrir os segredos de um animal que tem uma cauda usada para fazer pincéis de óleo.
TEXTO: O jipe voltou a parar pela terceira vez, a poucos metros da armadilha. Apesar de estar vazia como as outras duas armadilhas que tínhamos visto, havia uma diferença, as portinholas laterais estavam fechadas, e não havia nem um pombo morto, nem um pedaço de toucinho pacientemente à espera de serem comidos. Lá dentro, a prova do crime. "Ó engenheiro, é pêlo de sacarrabos ou quê?" "É, é. Nitidamente", disse Eduardo Oliveira e Sousa, dono da herdade de Agolada de Baixo, perto de Coruche, no Ribatejo, respondendo a Carlos Fonseca. O investigador, que estava agachado junto à armadilha, e já nos tinha convidado a cheirar o odor deixado pelo mamífero carnívoro de nome específico Herpestes ichneumon, não descansou antes de abrir a portinhola, esticar o braço lá para dentro e retirar o tufo. Pêlos cinzentos-claros, castanhos-escuros, o esperado. A atenção do cientista da Universidade de Aveiro desviou-se para as pegadas junto da armadilha. Carlos Fonseca tinha-nos falado da dificuldade em encontrar vestígios do animal: "Eu tenho um molde branco em gesso para as aulas que dou, porque no campo é muito difícil encontrar as pegadas. "Agora, desenhava no caderno uma das duas pegadas que se viam na terra. "A almofada [que o mamífero tem como têm os gatos] é maior, depois temos um, dois, três, quatro dedos afastados", explicou-nos. As pegadas eram a prova da fuga do sacarrabos. Segundo a teoria proposta ali pelos dois homens, o mamífero tinha aproveitado a folga entre o chão desnivelado e a armadilha para meter a cabeça, empurrar a portinhola para cima e fugir. "Se ele passa a cabeça, passa o corpo todo", constatou Eduardo Oliveira e Sousa, que conhece bem o animal. Semanas antes tínhamos visto outro indivíduo da espécie, numa gaiola noutro local da Agolada de Baixo. O mamífero, de focinho curto e corpo esguio e comprido, podia perfeitamente passar por um buraco assim. O sacarrabos ganhou o dia. Senão, o destino deste indivíduo seria igual ao de tantos outros. A espécie é cinegética, todos os anos milhares de sacarrabos são caçados entre Setembro e Fevereiro ou capturados e mortos nos restantes meses, mesmo que não tragam grande benefício para o Homem. A carne não é apreciada e, da pele, o máximo que se pode aproveitar é o final da cauda que serve para fabricar pincéis de óleo. O sacarrabos perdeu os predadores naturais como o lince-ibérico e o lobo, e mesmo com a pressão dos caçadores continua a expandir o seu território em Portugal, ajudado pelo avanço do mato nos terrenos que deixaram de ser utilizados para a agricultura. Há 20 anos, Castelo Branco seria o limite máximo da sua distribuição, hoje é avistado até em Vinhais, no Norte. Se não for controlado, pode pressionar demasiado as presas, como por exemplo o coelho. Por esta expansão continuar a aumentar, por se conhecer tão pouco sobre a ecologia da espécie, a genética da população portuguesa, as ligações sociais e o estado sanitário, o grupo de Carlos Fonseca vai utilizar as carcaças recolhidas pelos caçadores de norte a sul do país para fazer análises genéticas aos indivíduos. "Com a genética podemos determinar quais são as populações que se estão a expandir, se a reprodução é mais robusta nas fronteiras da expansão, como é que são as relações sociais entre os indivíduos", explicou ao P2 Carlos Fonseca. O cientista está à frente de um projecto que vai tirar uma fotografia à ecologia do sacarrabos através da genética. As conclusões podem alterar a forma como a gestão da espécie é feita e ter implicações no ordenamento do território e na conservação de outros animais como o lince-ibérico. Ele é nossoNo terreno, as pegadas do carnívoro estão a poucos metros de uma das estradas de terra batida que percorre a herdade de 1500 hectares. Perto passa um curso de água que está escondido por silvas e um arbusto chamado sargaço. Em redor, os eucaliptos altos oferecem manchas de sombra ajudados por alguns pinheiros-mansos. "Este pedacinho de terra é um bom exemplo do que o sacarrabos gosta", disse Carlos Fonseca. O curso de água proporciona anfíbios ao mamífero e no terreno preenchido por esconderijos podem encontrar-se coelhos, lebres e, provavelmente, ovos de aves. O engenheiro diz já ter visto um indivíduo com o coelho na boca, mas, apesar do que possa vir na literatura científica, não se sabe ao certo como é o resto da sua alimentação e se existem variações regionais. O projecto da equipa do biólogo também quer responder a estas dúvidas. O nome do sacarrabos deriva de um comportamento observado na espécie. "Quando se vê um grupo, as fêmeas com a ninhada seguem em fila indiana com a cara dos filhos a tocar na cauda do indivíduo que está à frente, por isso parece que estão a "sacar os rabos"", explicou o cientista. Esta figura também lhes deu o nome de cobra com pêlo, adianta Eduardo Oliveira e Sousa. Mangusto é outro nome comum desta espécie, que em Espanha se chama de meloncillo. Até agora, pensava-se que este animal endémico de África tinha sido introduzido na Península Ibérica durante a ocupação dos árabes. Estudos recentes mostram que a única população que existe na Europa é mais antiga e passou para cá através do estreito de Gibraltar, durante o processo de glaciação. "Estamos a publicar uma análise que demonstra que o sacarrabos já existe na Península Ibérica desde o Plistocénico, há cerca de 20 mil anos. É uma espécie que se expandiu, regrediu, expandiu, regrediu [no território ibérico]", explica Carlos Fonseca. O artigo ainda está por publicar, o primeiro autor é Philippe Gaubert, biólogo do Museu de História Natural de Paris, que também estará envolvido no projecto de Fonseca para ajudar à análise genética. Os resultados, apesar de surpreendentes, podem explicar diferenças no comportamento entre as populações, como a actividade diurna que se vê em Portugal e Espanha, mas que é nocturna nas populações africanas. Durante os últimos milhares de anos, o comportamento dos nossos sacarrabos provavelmente modificou-se. Safari portuguêsDe regresso ao jipe, o engenheiro levou-nos até ao local onde semanas antes tinha sido capturado o outro sacarrabos. Pela estrada, pode-se ver o milharal rasgado por clareiras feitas pelos javalis. Dos oito hectares de milho que se plantaram na herdade, Eduardo Oliveira e Sousa diz que só se aproveitam "três ou quatro". De dia, os javalis escondem-se no eucaliptal, de noite fazem incursões no milho e nos campos de arroz, que também é o habitat da lontra, da garça-real, da cegonha e do lagostim-vermelho do Luisiana, que "felizmente" hoje faz parte da dieta das lontras. No açude da Agolada, onde o engenheiro "não deixa dar um tiro", pode ver-se ainda um bando de patos-bravos, e do lado de lá um pinhal que é visitado por quem quiser. Perto do solar, há ainda um cercado onde estão gambos. Depois, entra-se na zona dos sobreiros, que têm os troncos despidos de cortiça desde 2007. Uma das árvores, enorme, tem metade dos ramos secos e outra metade cheios de folhas. "Daqui a dois anos esta árvore está morta", especulou o caçador, que ainda não tem uma explicação para a morte súbita de vários sobreiros no terreno, um fenómeno que assola o país. De repente, uma águia-de-asa-redonda solta-se de uma árvore e voa para outro ramo. É um dos poucos potenciais predadores do sacarrabos. A herdade tem ainda outros carnívoros como a doninha, o texugo, a raposa e o ginete. Os coelhos são dos animais que mais se vêem pelo campo, mas o seu número já foi bem maior. "Este ano não se vai caçar coelhos, mas os caçadores não acreditam", disse Eduardo Oliveira e Sousa, que também é presidente da Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça. Desde 1991 que o terreno é utilizado para caça. "No início caçávamos cinco a seis mil coelhos por época, agora uma época boa são 500 ou 600", tinha-nos contado o caçador. A doença hemorrágica viral e a mixomatose, outra doença causada por um vírus, têm vindo a dizimá-los. O jipe parou perto da armadilha que tinha capturado o sacarrabos. Estava novamente preparada para atrair outro indivíduo. No meio, um pombo morto pendurado serve de isco, se um indivíduo entra na gaiola e acciona o pedal que está por baixo do isco, as portinholas abertas dos dois lados caem imediatamente e prendem o sacarrabos. O carnívoro que tínhamos visto era um macho castanho-escuro, tinha menos de um metro de comprimento e estava assustado pela visita. A carcaça do indivíduo vai ser estudada pela equipa. "Como a captura vai ser completamente aleatória, vai ser possível extrapolar a estrutura da população através da genética", adiantou Carlos Fonseca. Os investigadores poderão compreender qual é a relação entre machos e fêmeas, quantas ninhadas existem por ano, com quantas crias. "Hoje caça-se e captura-se todo o tipo de sacarrabos por uma questão de controlo, não há uma selecção. Estes dados podem dizer se capturamos mais fêmeas ou indivíduos jovens machos para interferir na expansão. "As doenças deste carnívoro estão a ser analisadas pelo Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, em Lisboa. Segundo o biólogo, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade está interessado nesta informação para antecipar as doenças que o lince-ibérico pode estar susceptível nas zonas de reintrodução. A própria evolução da cobertura vegetal vai ficar retratada. "Osacarrabos vai servir de matéria-prima para o estudo dos ecossistemas do país", concluiu Carlos Fonseca. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2.
REFERÊNCIAS:
FUCCCS (Frente Unida Cavaco-Coelho Contra Syriza): #fazqueixinhasdosgregos
A “Casa Comum da Europa”, de Jacques Delors, está com uma acção de despejo. Ou não? Entretanto no Olimpo, Zeus já se disfarçou outra vez de touro branco e vai descer para raptar a Europa. Mas agora, em vez de Creta, leva a princesa para o Mar Negro, onde vão fazer filhos numa dacha de Putin ao lado. (...)

FUCCCS (Frente Unida Cavaco-Coelho Contra Syriza): #fazqueixinhasdosgregos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A “Casa Comum da Europa”, de Jacques Delors, está com uma acção de despejo. Ou não? Entretanto no Olimpo, Zeus já se disfarçou outra vez de touro branco e vai descer para raptar a Europa. Mas agora, em vez de Creta, leva a princesa para o Mar Negro, onde vão fazer filhos numa dacha de Putin ao lado.
TEXTO: Cavaco — Estás aí?Coelho — Estou. E tu?Cavaco — Também, ou não estávamos a falar no chat, def! Lol. Coelho — Baralhado com isto dos gregos. Amocham, não amocham, amocham, não amocham… Mas quando é que eles percebem a suprema beleza de obedecer às ordens?Cavaco — A alegria de ser o melhor aluno…Coelho — E de levar tampas das miúdas e porrada no recreio. Estes rufias do Syriza fizeram da Europa Unida uma montanha russa de negociações. Cavaco — Por falar nisso, e se os tipos desistem e se viram mesmo para os russos?. . . Coelho — Ora, temos uma almofada financeira até ao final do ano que nos dá para fazer ó-ó, como tu dizes. Não há risco de contágio. Somos um país rico e próspero sentado num monte de dinheiro, lol…Cavaco — Viste o Tsipras a sorrir?Coelho — Esse gajo enerva-me. Cavaco — E o vaidosão do Varoufakis?Coelho — Esse tem o ego cheio não sei de quê. Cavaco — Mulheres. O ego cheio de vitórias tenho eu. Não percebo por que é que não convidaram o maior especialista mundial em dívida grega para ir lá resolver a bronca. Coelho — Eu?Cavaco — Eu, ó tecla 3. Ainda não encheste o ego com eleições, jovem, só ganhaste uma vez e nem sabes se a repetes. Coelho — Em Setembro conto com a tua ajudinha, como de costume. Cavaco — Vejo na TV a Lagarde, vejo o Juncker e o (deixa-me ver aqui a cábula) Jeroen Dijsselboen…Coelho — Quem?Cavaco — Aquele que enrola os caracolinhos com gel, parece o dr. da bola da SIC, o Rui Santos. O holandês do Eurogrupo. Coelho — É cá dos meus. Sabes o que é que eu fazia à Grécia mais aos seus contos de crianças? Mandava-lhes uma SMS com a sua demissão irrevogável do euro, como o Portas, ahahah. Cavaco — Eu dizia lá em Bruxelas — muitos milhões estão a ser tirados dos bolsos dos portugueses para a Grécia, estamos fartos e não há excepções. Quem não cumpre as regras orçamentais europeias e do défice tem de ser punido, não há excepções!Coelho — A não ser a Alemanha. Cavaco — A não ser a Alemanha… Hum, e a França. Coelho — E a França, claro. Cavaco — Bom, e mais um ou dois países. Mas isso só acontece quando é mesmo preciso, não em situações em que abusam da nossa paciência como na Grécia. Há uma emergência social na Grécia, a dívida é impossível de pagar com este programa e está em risco o futuro da Europa? Isso são lá razões!Coelho — Não diria melhor. Em vez de cortarem mais nas pensões e salários, e aumentarem apenas o IVA dos bens essenciais, queriam ainda aumentar os impostos das empresas? É abusar da boa-fé dos investidores e dos credores e dos armadores. Cavaco — O FMI tinha mesmo de recuar perante uma proposta socialmente tão injusta. Coelho — Quando uma das partes não está de acordo com quem manda, é impossível negociar. Cavaco — Chantagistas. Se querem sair do euro, saiam. Nós felizmente temos uma almofada. Coelho — Uma gorda almofada… Sabes, eu até tinha uma simpatia de princípio com o Tsipras. Na campanha também fez promessas que não ia cumprir, como eu. Mas para quê este sofrimento desnecessário?. . . Cavaco — Do povo grego?Coelho — Dos credores, Cavaco — Claro, desculpa, agora baralhei-me. Coelho — Apetece-me gritar-lhe na cara — Alexis Tsipras, hello, já ganhaste as eleições!Cavaco — Já estás com o ego cheio, Tsipras!Coelho — Mas não. Para que é que ele continua a teimar em tentar cumprir as promessas. Quer o quê? Honrar a sua palavra?Cavaco — Receio que sim. Coelho — O irracionalismo ultrapassa-me. Ou será que é mesmo uma questão de orgulho nacional?Cavaco — Eu nem queria levantar o assunto, mas já me passou pela cabeça que os gregos estejam mesmo com essa na cabeça. Orgulho nacional! É um atentado contra a União Europeia, terra de solidariedade entre todos os seus membros e o capital privado. Os gregos, pelo contrário, só pensam em defender os próprios interesses. Coelho — Egoístas. Cavaco — É de uma irresponsabilidade total, o Tsipras. Devia ser já demitido. Coelho — Bom, nós estamos já a trabalhar para isso…Cavaco — É verdade. Mas só cumprimos os nossos deveres constitucionais como governantes eleitos democraticamente pelo povo da Grécia. Coelho — De Portugal. Cavaco — Ou isso. Coelho — Olha, está-me aqui a chegar o Relvas, ou melhor, o dr. Relvas…Cavaco — Lol. Ele não entrega mesmo o canudo?Coelho — Está em tribunal. Cavaco — Eu também não entrego as mais-valias do BPN. Era só o que faltava. Fossem a tempo!Coelho — O Miguel pergunta se depois da TAP podemos privatizar o edifício da Assembleia da República. Esse grupo de cidadãos do não-se vende-não-sei-quê dá boas ideias. Cavaco — Força, mas não se estiquem. Estamos no bom caminho. Bom, vou fazer ó-ó. Às vezes, vejo-me grego para adormecer este ego, ah, ah. Coelho — Eu mando-te a minha almofada financeira. É fofinha. Cavaco — Jokas. Coelho — Jokinhas.
REFERÊNCIAS:
Reportagem: “Nunca tivemos nada assim no Brasil”
Três meninas sentadas no passeio do cemitério. Têm os olhos vermelhos de chorar. Acabaram de assistir ao enterro das colegas. “Eu estava na sala ao lado”, conta Helizabella, 14 anos, sardas e rabo-de-cavalo. “Quando começaram os tiros a gente ficou desesperada. O professor Luciano disse: ‘Abaixa! Abaixa!’, para a gente deitar no chão. E ficou encostado na porta. Depois, saiu, nos trancou por dentro para o atirador não entrar e desceu para chamar a polícia. Foi um verdadeiro herói. Aí quando a polícia chegou arrombou a porta.” (...)

Reportagem: “Nunca tivemos nada assim no Brasil”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Três meninas sentadas no passeio do cemitério. Têm os olhos vermelhos de chorar. Acabaram de assistir ao enterro das colegas. “Eu estava na sala ao lado”, conta Helizabella, 14 anos, sardas e rabo-de-cavalo. “Quando começaram os tiros a gente ficou desesperada. O professor Luciano disse: ‘Abaixa! Abaixa!’, para a gente deitar no chão. E ficou encostado na porta. Depois, saiu, nos trancou por dentro para o atirador não entrar e desceu para chamar a polícia. Foi um verdadeiro herói. Aí quando a polícia chegou arrombou a porta.”
TEXTO: A turma saiu correndo, gritando, descendo para a rua. Há vídeos na Internet. “Eu conhecia todos os que morreram, todos, todos”, diz Helizabella. A gente já estudou juntos, alguns já repetiram…” Este é o cemitério Jardim da Saudade, onde cinco crianças vão ficar sepultadas. Por aqui passaram esta manhã o prefeito Eduardo Paes, o secretário estadual de Segurança José Mariano Beltrame, os chefes da Polícia Civil e da Polícia Militar, e muitas centenas, talvez milhares de pessoas. As crianças mortas são já 12 (10 meninas e dois meninos). Vários feridos, alguns em estado grave continuam no hospital, pelo que é possível que o número de mortos suba. Na manhã de quinta-feira, ao entrar com dois revólveres na escola Tasso da Silveira, bairro de Realengo, periferia do Rio de Janeiro, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, visou sobretudo as meninas, atirando à cabeça e ao tórax. O corpo do assassino, que segundo a polícia se matou com um tiro na cabeça depois de ter sido baleado, ainda não foi reclamado pela família. O referendo das armasDo Jardim da Saudade as três meninas ainda hão-de ir para o cemitério de Murundu, onde outros funerais estão a acontecer. Wellington não só tinha dois revólveres como muita munição. A polícia recolheu 60 balas deflagradas e 100 não deflagradas. “Tem que proibir as armas, com certeza”, diz Helizabella. Fora isso, ela só quer “pedir paz e agradecer a Deus e ao professor Luciano”. Em 2005, o Brasil votou um referendo que propunha a proibição de comércio de armas e munições para civis. Praticamente dois terços dos eleitores (63, 9 por cento) rejeitaram a proposta. Mas agora, desde o massacre, o tema está de novo em debate, nos blogues, nas redes sociais e entre as autoridades. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu o reinício das campanhas de desarmamento. O grito de Ágata e Ana Paula é outro. Elas estão na subida do cemitério, com t-shirts que dizem “Luiza, Saudade Eterna”. Família e amigos juntaram-se para fazer 50 t-shirts, e estão todos aqui em volta, com o nome e o rosto da morta ao peito. Ágata e Ana Paula são primas de Luiza, uma de sangue, outra de facto, e o protesto delas não é contra as armas, é contra a falta de segurança. “O Barack Obama veio cá e tinha até atirador de elite, mas na escola não tem nada!”, diz Ana Paula. “A gente está sem segurança. Já não confiamos em ninguém. A nossa segurança é Deus!”Continuando a subir, há grupos de estudantes e família com painéis lembrando outra morta, Karine. Mais adiante, no meio do relvado, colinas verdes ao fundo, está a ser enterrado Rafael. Família e amigos também estão com uma t-shirt a dizer Rafael, e o rosto dele. Um cartaz protesta contra a falta de segurança. Helicópteros da polícia zunem lá no alto. Andam a lançar pétalas sobre as campas do massacre. O horror inéditoEntre a multidão, anónima, está Benedita da Silva, ex-ministra de Lula e ex-governadora do Rio, actualmente deputada em Brasília. As câmaras estão longe dela, ou ela longe das câmaras, uma lágrima a escorrer pela cara, negra toda vestida de branco, óculos escuros, assistindo ao enterro de Rafael, sob um sol ardente. “O Brasil perdeu uma oportunidade de desarmar o povo quando fizemos o plebiscito”, diz, acompanhada por uma assessora muito discreta, quando a cerimónia termina. “Eu considero que esta foi uma das maiores tragédias do Brasil. Claro que uma pessoa que estudou na escola, que mora ali do lado, vai ter mais facilidade de entrar. Vai ler na cara dessa pessoa o que ela está planejando? Nós nunca vivemos uma situação dessas. Eu estava em Brasília, e quando vi o que tinha acontecido me senti… [recomeça a chorar] Fazer o quê diante disso?”
REFERÊNCIAS:
O último álbum da monarquia
D. Amélia fotografava e fazia-se fotografar. Exposição na Ajuda faz-nos folhear os álbuns desta mulher que parecia sentir-se tão bem numa tarde de touros e cavalos em Vila Viçosa como nos melhores estúdios de Cannes e Londres. (...)

O último álbum da monarquia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: D. Amélia fotografava e fazia-se fotografar. Exposição na Ajuda faz-nos folhear os álbuns desta mulher que parecia sentir-se tão bem numa tarde de touros e cavalos em Vila Viçosa como nos melhores estúdios de Cannes e Londres.
TEXTO: D. Amélia não se preocupava só em fotografar piqueniques de família, caçadas em Vila Viçosa, visitas de outros monarcas europeus amigos da casa, viagens pelo Mediterrâneo e tardes na praia da Adraga com direito a guitarras de fado. Organizava meticulosamente todas as imagens em álbuns que legendava com rigor, pondo muitas vezes por baixo de cada fotografia local, data, intervenientes e autor. Quem estava por trás da câmara era muito importante para esta princesa de França que veio a ser a última rainha de Portugal porque, para ela, fotografar era muito mais do que registar. “Quem folheia os seus álbuns vê que a noção de autoria está muito presente”, explica José Alberto Ribeiro, director do Palácio Nacional da Ajuda, onde acaba de inaugurar Tirée par…, uma exposição dedicada à rainha D. Amélia (1865-1951) e a fotografia (até 20 de Janeiro). “D. Amélia interessa-se muito por este meio que tem à disposição, como se interessa por desenhar. A fotografia faz parte da sua educação artística e é muito popular na casa real. ” O marido, D. Carlos, também fotografa, os filhos - os príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel - têm sempre câmaras à mão e até a rainha mãe, D. Maria Pia, é uma entusiasta. “A mãe de D. Carlos é uma verdadeira pioneira da fotografia em Portugal”, acrescenta o historiador de arte e autor de uma biografia de D. Amélia (edição Esfera dos Livros, 2013), “e é muito natural que visse com bons olhos esta inclinação da nora”. É Maria Pia, aliás, que aparece, por vezes de máquina em punho, em algumas das fotografias que estão agora na Ajuda, em grande parte expostas pela primeira vez, e que documentam os últimos 20 anos da monarquia portuguesa. São 130 imagens das colecções deste palácio nacional e sobretudo da Casa de Bragança, escolhidas pelo conservador de fotografia Luís Pavão, o comissário, e divididas em seis núcleos que vão do trabalho de estúdio ao retrato de grupo, passando pelo registo do dia-a-dia, em momentos de lazer e intimidade com familiares e amigos, pelos actos oficiais em que os reis são acompanhados por repórteres que trabalham para a imprensa nacional, como Joshua Benoliel e António Novais, e pelas viagens, sendo a mais documentada a que a rainha faz pelo Mediterrâneo, em 1903. Neste périplo, em que se faz acompanhar pelos filhos, já adolescentes, D. Amélia visita a Argélia, Tunísia, Malta, Egipto e Itália. Estão lá as fotografias que mostram a pequena comitiva da rainha num templo de Luxor, a grande necrópole, junto à esfinge do planalto de Guiza ou frente à pirâmide de Miquerinos. Está lá também a que lhe tiram a bordo de um iate, entre Nápoles e Capri, ao lado do jovem príncipe Wilhelm de Hohenzollern, ambos de câmara na mão. “O que vemos nas fotografias da exposição, para além do registo quotidiano ou oficial, é que há nesta família real uma proximidade das pessoas, do seu povo, que seria impensável noutras casas reais europeias, como a inglesa ou a russa”, diz José Alberto Ribeiro, apontando para uma das fotografias de José Goulart em que D. Amélia caminha de sombrinha entre a população do Faial, na visita dos reis aos Açores e à Madeira, em 1901. D. Carlos segue-a, sorridente, sem que seja possível ver qualquer elemento da segurança dos monarcas. “Esta é uma rainha que gosta de falar com as pessoas, que não tem medo de se aproximar. Há até um episódio que conta nos seus diários em que se cruza com um dos ciganos que fotografara em Vila Viçosa perto da propriedade da mãe, em Sevilha, e que a convida para uma sopa. D. Amélia é uma Orléans, uma Bragança, mas é também uma rainha que gosta de incutir nos filhos um sentido de serviço que a obriga a prescindir do estatuto de inalcançável. ”As fotografias e álbuns mostram-na ora descontraída e afável, em roupa de amazona no Alentejo ou a preparar o almoço num piquenique de praia em que a mesa na areia parece ter sido trazida de uma das salas do palácio, ora em poses formais nalguns dos melhores estúdios de Londres, Cannes e Lisboa, quando estava ainda noiva de D. Carlos ou já casada. Em qualquer dos casos, parece sempre haver espaço para alguma encenação. Rainha num mundo em mudança, D. Amélia presenciou o assassinato do marido e do filho mais velho, o seu preferido, assistiu ao fim da monarquia, viveu no exílio e enfrentou ainda a morte do filho mais novo, D. Manuel. Tinha 86 anos quando morreu, em Versalhes, pedindo que a sepultassem em Portugal e que queimassem os diários que manteve ao longo de 65 anos. O primeiro desejo foi cumprido, o segundo não. No próximo ano Tirée par… será instalada no Paço Ducal de Vila Viçosa, outra das casas dos Braganças, e no Centro Português de Fotografia, no Porto.
REFERÊNCIAS:
Lluis Montoliu: “É o início de um caminho perigoso para a eugenia”
Doutorado em genética molecular desde 1990, Lluis Montoliu é investigador do Centro Nacional para a Biotecnologia espanhol (em Madrid), onde tem sido pioneiro no uso (em animais) da técnica de “corte e cola” do ADN chamada CRISPR-Cas9 para compreender melhor o genoma. Fala ao PÚBLICO sobre a experiência de edição genética em bebés chineses. (...)

Lluis Montoliu: “É o início de um caminho perigoso para a eugenia”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Doutorado em genética molecular desde 1990, Lluis Montoliu é investigador do Centro Nacional para a Biotecnologia espanhol (em Madrid), onde tem sido pioneiro no uso (em animais) da técnica de “corte e cola” do ADN chamada CRISPR-Cas9 para compreender melhor o genoma. Fala ao PÚBLICO sobre a experiência de edição genética em bebés chineses.
TEXTO: Vem ao Porto esta sexta-feira para participar no seminário “O que é a natureza humana? – A ciência em diálogo com a filosofia”, organizado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e que decorre no Salão Nobre do Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. O investigador barcelonês Lluis Montoliu vem falar sobre intervenções no genoma, o que não podia estar mais na ordem do dia com o anúncio na segunda-feira de um cientista chinês que diz ter alterado o ADN de dois bebés, que entretanto já nasceram, usando a técnica de edição do genoma CRISPR-Cas9 (inventada em 2012). Lluis Montoliu, presidente fundador da ARRIGE – Associação para a Investigação Responsável e Inovação na Edição do Genoma, criada este ano, considera que, a ter existido tal experiência em seres humanos, ela é “absurda e altamente irresponsável” e que está “horrorizado”. Se o cientista chinês He Jiankui fez realmente experiências de edição do genoma humano para gerar bebés na China, que limites éticos foram ultrapassados?Na minha opinião, ultrapassaram-se dois limites éticos nesta experiência, partindo do pressuposto de que ela aconteceu realmente. Já houve antes outros embriões humanos que foram editados geneticamente, mas esta é a primeira vez (que saibamos) que foram implantados embriões em mulheres e se desenvolveram até ao fim da gravidez, resultando no nascimento de bebés geneticamente editados, duas gémeas e mais uma criança que nascerá em breve, segundo as afirmações do cientista. Até ao momento, não estão disponíveis mais provas de que esta experiência ocorreu. Segundo, será a primeira vez que ferramentas de edição do genoma são aplicadas in vivo em seres humanos não para fins terapêuticos – que a maioria dos cientistas é potencialmente favorável e a sociedade também –, mas para melhorar, para aperfeiçoar, características dos embriões que não tinham nenhum problema e não precisavam de nenhuma edição do genoma. Neste caso, ele declara que a sua intenção era inactivar o gene CCR5 que codifica a porta de entrada que o vírus da sida usa para infectar os linfócitos, tornando assim estas meninas praticamente resistentes à infecção pelo vírus da sida. Estas experiências (se aconteceram) são um exemplo claro de eugenia? Os grandes riscos e receios da edição do genoma humano são de facto o reaparecimento da eugenia, depois do que se passou [nas experiências nazis em seres humanos] na II Guerra Mundial?Na minha opinião, sim. Estamos a seleccionar características e a aplicar métodos para obter embriões e, subsequentemente, seres humanos com uma característica específica que foi escolhida. Podemos discutir separadamente os benefícios ou a utilidade dessa característica, mas, falando formalmente, este é o início de um caminho perigoso para a eugenia. Depois de se ter concordado em afinar esta característica, por que não reparar outra característica e outra e outra…?Que sanções podem vir a ser aplicadas a He Jiankui, se fez as experiências que diz ter feito?Aparentemente, fez estas experiências sem o conhecimento, o consentimento e as autorizações necessárias da sua instituição e do hospital associado, que estão a demarcar-se deste investigador neste momento. Vão investigar o caso e poderão vir a processá-lo. É espantoso como é que chegou tão longe sem que nenhuma autoridade ou instituição reparasse e sem que alguém parasse esta experiência absurda e altamente irresponsável. Depois de He Jiankui ter falado [esta quarta-feira] na Segunda Cimeira Internacional sobre Edição do Genoma Humano [em Hong Kong], ficou mais convencido de que fez essas experiências? Que provas é que ele apresentou – ou não apresentou – aos seus colegas cientistas?Ainda não vimos os dados a sério nem ele disponibilizou o seu manuscrito [de um artigo científico] à comunidade científica. Afirma que vai publicar esse artigo em breve. Nessa altura, poderemos avaliar em termos reais o que realmente fez. A partir dos slides e do que apresentou na cimeira, ainda há muitas incógnitas e muitas questões a que não respondeu. Por isso, estou tão convencido como estava na segunda-feira, quando vi os vídeos dele no YouTube. Esta é uma experiência tecnicamente possível mas ainda difícil. Os números apresentados não encaixam na minha compreensão sobre a técnica. Ou ele não nos está a contar a história toda ou teve imensa sorte. Quais são as suas impressões sobre os vídeos onde o cientista chinês fala da edição do genoma de bebés?Estou horrorizado. Ele subestima as consequências negativas ainda associadas à edição do genoma, que nós não conseguimos controlar. É por isso que estas ferramentas são extraordinárias no contexto académico, mas ainda não são suficientemente seguras para um uso clínico. É por isso que é muito irresponsável e imprudente ter permitido que duas crianças nascessem com a incerteza considerável que está associada a esta técnica. Esta experiência nunca devia ter acontecido. Que riscos enfrentam no futuro estes bebés geneticamente editados?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Muitos riscos. Estas meninas têm de ser monitorizadas ao longo de toda a vida, bem como os seus filhos e os seus netos. Muito provavelmente, são um mosaico, o que significa que as suas células não são geneticamente idênticas e que algumas podem ter mutações indesejáveis que podem afectar qualquer órgão ao longo das suas vidas. Claro que inactivar o gene CCR5 per se também pode ter consequências inesperadas. Considera urgente a criação de regulamentações internacionais sobre a edição do genoma humano?As regulamentações são uma necessidade. Esta experiência lamentável ilustra por que é urgente estabelecer algum tipo mínimo de regras internacionais para regular o que pode e o que não pode ser feito. Creio que as Nações Unidas são o fórum mais apropriado para promover esta regulamentação. Na ARRIGE – Associação para a Investigação Responsável e Inovação na Edição do Genoma, que lançámos na Europa, estamos empenhados em envolver nesta discussão todas as partes interessadas para que essa discussão venha a cristalizar-se em regulamentações reais aplicáveis a todos os países.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos cultura comunidade criança mulheres chinês
Na terra do sossegado as pessoas estão inquietas
Percorrem-se estradas paralelas aos campos de arroz, onde os animais ajudam os homens como há cem anos. Uma paragem no tempo. O carro entra para um ferry para chegar à pequena ilha de Divar, cruzando as águas devagar. (...)

Na terra do sossegado as pessoas estão inquietas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Percorrem-se estradas paralelas aos campos de arroz, onde os animais ajudam os homens como há cem anos. Uma paragem no tempo. O carro entra para um ferry para chegar à pequena ilha de Divar, cruzando as águas devagar.
TEXTO: Outra paragem no tempo. Homens e mulheres, velhos e crianças, dormem de calor em qualquer canto, desde que à sombra. Esta é a terra onde a palavra "sossegado", assim mesmo em português, invadiu os guias turísticos. Mas há muitas zonas de Goa onde as coisas andam mais depressa, como os hotéis que crescem como cogumelos em Calangute, as motorizadas que invadem as ruas como enxames de abelhas em Panjim, os carros que deixam as estradas superlotadas em Vasco, o betão que toma forma a toda a hora e em todo o lado. "As pessoas estão inquietas", comenta a jornalista Pamela D'Mello. O imobiliário, a extracção de ferro, o turismo. "Tudo isto traz dinheiro e traz trabalho. " Ou seja, muita mãode-obra vinda dos outros estados da Índia. "Para quem já cá estava, é demasiado. As pessoas sentem-se a perder o controlo porque não são tão agressivas. " Para a jornalista, a coisa até se resume com facilidade: "Estamos a perder a qualidade de vida. Compramos um carro maior, mas ficamos presos em engarrafamentos. " Quando em 1961 os portugueses tiveram de abandonar o território, ao fim de 451 anos, deixaram duas elites distintas: uma elite hindu, mais ligada ao comércio e que, culturalmente, não se tinha separado da Índia, e uma elite católica, "mais intelectual, pequena mas muito importante", resume a escritora Maria Aurora Couto. Depois da anexação, gerou-se uma elite profissional, de advogados, engenheiros, médicos e empresários, dando a Goa uma maior mobilidade social. Os católicos perderam o poder e o dinheiro porque eram "uma elite feudal". Tinham propriedades que no século XX se desvalorizaram. "A salvação dos hindus foi terem-se tornado empresários. Já os católicos não percebem de negócios nem querem perceber. Querem uma vida boa, sossegada [a escritora usa a palavra portuguesa], comer bem, dançar bem. " Pamela D'Mello aponta na mesma direcção. "Os católicos sentiram que perderam o controlo da terra e isso era crucial. E a propriedade da terra mudou realmente de mãos para proprietários de minas, pessoas vindas de Deli. . . ". É de Goa que sai 39 por cento de todo o minério de ferro que a Índia exporta. Anju Timblo saiu precisamente da capital indiana, há 38 anos, porque era aqui que vivia o marido. Recebe o P2 no seu hotel de cinco estrelas, Cidade de Goa, em cima do mar o turismo é a principal fonte de rendimentos do estado, que recebe 12 por cento de todos os estrangeiros que visitam a Índia. Admite que o boom económico de Goa, que tem o PIB mais elevado do país e 2, 5 vezes a média nacional, não chega a todos. Admite também que há uma elite empresarial, da qual a sua família faz parte, que tomou as rédeas. Mas "alguém tem de dar emprego, arriscar um projecto e avançar". O estado tem ficado bem situado nos índices de crescimento económico: 13, 95 por cento no ano passado (só o Arunachal Pradesh cresceu mais no país, com 22, 43 por cento, e a média nacional foi de oito por cento). Ainda assim, falta mão-de-obra goesa qualificada. "Eu prefiro contratar goeses, mas às vezes não encontramos pessoas com experiência. " É por isso que a família Timblo não se ficou pela exploração de minério de ferro e pelo turismo; "é preciso investir na educação e na saúde". E a indústria farmacêutica está a afirmar-se cada vez mais. O construtor de GoaAnil Conto será uma dessas pessoas a que Anju Timblo se refere, que agarram num projecto e avançam. Se olharmos sempre em frente na janela do seu escritório vemos uma Panjim antiga, com influência da arquitectura colonial. Se desviarmos o olhar estão os prédios que a sua empresa, a Alcon, ajudou a erguer. "A minha família não pertencia à elite [hindu que já dominava os negócios em Goa antes da anexação], mas tínhamos uma tradição. A minha comunidade era muito virada para o negócio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens educação comunidade social mulheres
Série Mar Português: Um mar de palavras
Ao longo de séculos, os poetas portugueses cantaram o mar. Muitos mares: o mar afável das praias e dos banhistas, o mar duro da faina dos pescadores, ou ainda esse mar que levou os navegadores quinhentistas à descoberta de um novo mundo. (...)

Série Mar Português: Um mar de palavras
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao longo de séculos, os poetas portugueses cantaram o mar. Muitos mares: o mar afável das praias e dos banhistas, o mar duro da faina dos pescadores, ou ainda esse mar que levou os navegadores quinhentistas à descoberta de um novo mundo.
TEXTO: A poesia portuguesa é uma praia constantemente batida pelas ondas do mar. Foi-o sempre, desde os primeiros trovadores galaico-portugueses até aos poetas dos nossos dias. Há setecentos anos, o jogral galego Martim Codax perguntava, assumindo a voz de um sujeito poético feminino: "Ondas do mar de Vigo, / se vistes meu amigo?/ e ai Deus, se verrá cedo?". Mas já na poesia medieval este mar próximo, costeiro, quase doméstico, cúmplice dos amores do poeta - "Ai ondas, que eu vin veer, /se me saberedes dizer/ porque tarda meu amigo/ sem min?", escreve o mesmo Codax -, podia também representar perigo e constituir um obstáculo à consumação do desejo, como acontece na notável cantiga de amigo de Mendinho, que abre com os versos "Sedia-m"eu na ermida de Sam Simiom/ e cercarom-mi as ondas que grandes som (. . . )". A donzela que fala no poema receia que o amado não venha resgatá-la e que, incapaz de voltar a terra, esteja condenada a morrer virgem: "Nom ei i barqueiro nem sei remar/ e morrerei eu fremosa no alto mar. / Eu atendend"o meu amigu". . . e verrá?". O mar, e por extensão toda a água, teve sempre um simbolismo ambivalente: é origem, fecundidade, vida, mas também é distância, desastre, morte. A água, escreve António Ramos Rosa, "(. . . ) é um móvel túmulo e um berço errante/ em que a vida e a morte se consumam unidas/ numa pátria de metamorfoses incessantes". No tempo das Descobertas, mais do que em qualquer outro período da história portuguesa, essa ambivalência tornar-se-ia uma realidade quotidiana, uma vivência colectiva. O mar que nos levava a novos mundos era o mesmo que separava famílias, amigos, amantes. O mar que nos trazia especiarias e riquezas várias era também o mar dos sucessivos naufrágios, que Bernardo Gomes de Brito depois compilaria na sua muito justamente intitulada História Trágico-Marítima. "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu", resume lapidarmente Fernando Pessoa no célebre dístico final do poema Mar Português. Sendo Portugal um país pequeno com uma costa extensa - "O meu país é o que o mar não quer", diz um verso de Ruy Belo -, não surpreende que o mar esteja obsessivamente presente em inúmeros poetas de sucessivas gerações. Mas o mesmo se poderia dizer, por exemplo, da lírica inglesa, que nos deu alguns dos mais notáveis poemas sobre o mar da literatura ocidental. Ou da grega, desde logo com a Odisseia, protótipo de todas as epopeias marítimas. Se algo distingue o modo como a poesia portuguesa, no seu todo, se relaciona com o mar, essa singularidade talvez decorra, antes de mais, da "intromissão" do facto histórico dos Descobrimentos, decisivo não apenas ao nível material, mas também de consequências duradouras no plano identitário e simbólico. Sem a aventura da expansão marítima, não haveria grande diferença entre o mar de Martim Codax e Mendinho e o mar de poetas do século XX, como Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade. Assim, e embora se trate sempre do mesmo "mar imenso solitário e antigo" evocado num dos primeiros poemas de Sophia, talvez seja lícito falar, na poesia portuguesa, de um mar anterior aos Descobrimentos e de um mar posterior aos Descobrimentos. E ainda, como a expansão foi um processo, e não um mero instante no tempo, do mar dos próprios Descobrimentos. Que não é apenas, ou nem sequer principalmente, o mar dos autores contemporâneos da expansão marítima. É sobretudo um mar lido a posteriori, na ressaca dessa aventura que levou o país, como escreve Camões, a mostrar "novos mundos ao mundo".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte donzela
Lojas em Beja usam sapos de barro para afastar ciganos
O sapo é uma figura maldita para os ciganos, que associam o animal ao azar e à infelicidade. E em Beja, onde vivem numerosas famílias ciganas no Bairro das Pedreiras, a figura daquele animal está espalhada por lojas e casas particulares, evidenciando a tensão que continua a existir naquela cidade do Baixo Alentejo. (...)

Lojas em Beja usam sapos de barro para afastar ciganos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Ciganos Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O sapo é uma figura maldita para os ciganos, que associam o animal ao azar e à infelicidade. E em Beja, onde vivem numerosas famílias ciganas no Bairro das Pedreiras, a figura daquele animal está espalhada por lojas e casas particulares, evidenciando a tensão que continua a existir naquela cidade do Baixo Alentejo.
TEXTO: A situação deve ser abordada na 37. ª edição da Pastoral dos Ciganos que hoje se reúne em Beja. Durante três dias, os responsáveis de todas as organizações Cáritas do país vão discutir os problemas das comunidades romani nacionais. O PÚBLICO encontrou exemplares de sapos em diversos locais, sobretudo lojas comerciais, desde cafés a lojas de produtos chineses, onde também já se terá aprendido que estes objectos decorativos exercem um efeito secundário sobre os ciganos do Bairro das Pedreiras. O presidente da Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja, Francisco Carriço, frisa que "o fenómeno dos sapos de barro não se circunscreve apenas ao comércio". "Estende-se até às casas particulares e, ultimamente, o problema tem assumido alguma dimensão", reconhece o representante dos comerciantes, frisando que se recorre aos sapos "como forma de afastamento dos elementos da etnia cigana, por causa do receio de que possam ser assaltados". O mesmo dirigente associativo condena, porém, esta atitude dizendo que é sua convicção de que "não podem ser imputados aos ciganos" os assaltos que são praticados na cidade ou na região. "É um mito que não deve ser alimentado, até porque não é um bom exemplo para ninguém", conclui. Prática vulgarizadaPor Beja, vêem-se batráquios de barro em montras e balcões de lojas comerciais, jardins e portas de acesso a casas particulares. "Temos azar a esse bicho", diz Joaquim Estrela Marques, 94 anos, patriarca da comunidade cigana naquela cidade. "Cada vez que surge um, arrepiamos caminho", acrescenta Vítor Marques, presidente da União Romani Portuguesa. Não se trata de um exclusivo de Beja. Basta pesquisar os arquivos dos jornais portugueses para encontrar relatos de casos idênticos no passado. Em 2004, alguns diários noticiaram o facto de muitos comerciantes do Campo Grande, em Lisboa, recorrerem aos sapos para afugentar ciganos. Três anos depois, o Jornal de Notícias dava conta de que o retrato se repetia a norte, em Marco de Canaveses. Nem sequer é preciso recuar no tempo, porque em diversas cidades continua a ver-se as ditas figuras em espaços abertos ao público, com o intuito de repelir a presença de ciganos. No Bairro de Santos (Rego), em Lisboa, por exemplo, há muitos moradores de origem cigana que se deparam com estas figuras bem visíveis em balcões de cafés. Estigma e estereótipoQuestionada pelo PÚBLICO sobre esta prática em Beja, a alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, sublinha que "importa saber qual é o motivo" por que se recorre aos sapos, admitindo que estes "também servem de adorno" nos jardins de casas particulares. Caso contrário, acrescenta, "estamos perante actos discriminatórios", o que reforça a necessidade de se promover "um caminho mútuo para acabar com este tipo de estereótipos", conclui a alta-comissária. O presidente da União Romani não tem dúvidas de que, no caso de Beja, há uma crescente presença de sapos em espaços comerciais devido à existência de um bairro de famílias ciganas e garante que as figuras de barro estão a ser usadas como "repelentes" desses moradores "para os estigmatizar". Vítor Marques invoca o que aconteceu em 2005, na cidade de Aveiro, onde em 24 horas apareceram muitos sapos de barro - e até vivos - em montras e lojas, depois de o próprio presidente da União Romani ter aludido à superstição que os ciganos têm em relação ao sapo, durante uma entrevista numa rádio local. "Pedimos na altura a intervenção do governador civil e boa parte dos comerciantes reconsiderou, através da associação que os representa, esse gesto" hostil, frisa Vítor Marques.
REFERÊNCIAS:
Treino com apenas um titular teve mais de dois mil espectadores
O avançado Danny foi o único titular no empate (0-0) entre Portugal e a Costa do Marfim a treinar hoje no regresso a Magaliesburg, numa sessão que teve mais de duas mil pessoas nas bancadas. (...)

Treino com apenas um titular teve mais de dois mil espectadores
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.25
DATA: 2010-06-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O avançado Danny foi o único titular no empate (0-0) entre Portugal e a Costa do Marfim a treinar hoje no regresso a Magaliesburg, numa sessão que teve mais de duas mil pessoas nas bancadas.
TEXTO: No dia seguinte ao nulo na estreia de Portugal no Mundial 2010, apenas estiveram no relvado da Bekker School os suplentes não utilizados em Port Elizabeth, Danny, único titular, e os suplentes utilizados Simão, Ruben Amorim e Tiago. Os restantes titulares ficaram no ginásio do hotel onde a equipa está a estagiar, na pequena localidade sul-africana. O dia é de feriado nacional na África do Sul, pelo que mais de duas mil pessoas, a grande maioria emigrantes portugueses, assistiram ao terceiro treino aberto da equipa das "quinas" em Magaliesburg. Já com o treino a decorrer e com as bancadas repletas, 200 pessoas esperavam ainda na fila para poder entrar para os campos da Bekker School. Na África do Sul, celebra-se hoje o Dia da Juventude, em memória dos confrontos de 16 de Junho de 1976, entre jovens estudantes negros e a polícia no Soweto. O segundo encontro de Portugal no Grupo G do Mundial 2010 será disputado na próxima segunda-feira frente à Coreia do Norte, enquanto o terceiro e último jogo do grupo será frente ao Brasil, no dia 25 de Junho.
REFERÊNCIAS:
Tempo Junho