Nova Iorque, o caos afectivo
Nova Iorque pode ser um imenso território povoado por ex-namorados e amantes, para o embaraço e a culpa. No seu romance de estreia, Adelle Waldman constrói uma personagem que lhe serve para um livro tão íntimo quanto político sobre a solidão e a busca de afecto. (...)

Nova Iorque, o caos afectivo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nova Iorque pode ser um imenso território povoado por ex-namorados e amantes, para o embaraço e a culpa. No seu romance de estreia, Adelle Waldman constrói uma personagem que lhe serve para um livro tão íntimo quanto político sobre a solidão e a busca de afecto.
TEXTO: No seu romance de estreia, Adelle Waldman criou uma personagem que tipifica uma certa maneira de viver em Nova Iorque nos tempos actuais. A Vida Amorosa de Nathaniel P. , romance de costumes alicerçado na figura de um aspirante a escritor, foi publicado no verão de 2013 e pouco depois considerado um dos livros do ano por jornais como o New York Times ou o The Guardian, e Waldman viu-se referida como uma das estreias mais estimulantes na literatura norte-americana. No final de 2014, o romance tinha vendido mais de 40 mil exemplares na América e não demorou até que Nathaniel P. se tornasse quase independente da ficção onde se move e o seu nome passasse a ser usado como adjectivo que qualifica quem vive numa solidão mais do que ocasional, incapaz de ter uma relação estável; um intelectual ambicioso, por vezes uma “besta” com as mulheres, mas cheio de culpa por ter consciência disso. Alguém sempre a derrapar no seu próprio escrúpulo. “Nathaniel Piven era um produto de uma infância pós-feminista dos anos oitenta e de uma educação universitária politicamente correcta dos anos noventa. Sabia bem o que era o privilégio masculino. Além disso, possuía uma consciência funcional e, francamente, bastante importuna. ” É um dos habitantes frequentes do universo do dating, com tudo o que essa condição determina, alguém num “flirt incessante e implacável”, num “substrato de solidão e cinismo”, à procura de parceiros tão estimulantes sexual como intelectualmente, capazes de preencher um vazio comum a homens e mulheres. “Ele seria muito improvável, por exemplo, num romance de Philip Roth”, especula Adelle Waldman, 37 anos, natural de Baltimore, jornalista, crítica literária, freelancer e, como Nathaniel P. até há bem pouco tempo, à espera de publicar o seu primeiro romance. Nas primeiras páginas do livro, Nate está a viver mais um confronto com aquilo a que chama o seu “egoísmo” e mais uma vez denota constrangimento face ao que esse comportamento desencadeia nos outros. Aceitar-se e ser aceite é o grande desafio. No metro, a caminho de um jantar com amigos em casa de uma ex-namorada, encontra Juliet, quatro anos mais velha, jornalista, com quem teve um caso que seria inconsequente não fosse ela ter ficado grávida. Ela decidiu abortar, ele, inconfessavelmente aliviado com a decisão, passou o serão com ela a ver um filme, telefonou-lhe no dia seguinte a perguntar como estava e seguiu com a sua rotina de escritor a viver de um adiantamento generoso para um livro, num bairro povoado de gente com semelhantes ambições de reconhecimento intelectual, até que a encontra naquela estação de metro. O embate com a consciência de Nate serve a Adelle Waldman para escrever este livro, tão íntimo quanto político: o de uma geração educada na pós-revolução sexual americana, no pós-capitalismo desenfreado, na ideia de que a meritocracia é a forma mais democrática de promover o sucesso, na igualdade de género enquanto ideal social. Com Nate e companhia – homens e mulheres com uma educação privilegiada que gravitam à volta da literatura e da arte –, ela faz todas as perguntas, numa narrativa muito sustentada nos diálogos, com personagens que obedecem a vários tipos psicológicos e ideológicos, complexas, unidas pela necessidade de se revelarem únicas no seu trabalho, mas quase todas afectivamente descompensadas. “Não sei já se houve maior solidão do que a actual”, diz Waldman, segurando o copo de plástico cheio de café quente. Chove. A conversa acontece com vista para a rua, através de uma vidraça embaciada. São poucos os carros que passam numa das avenidas mais centrais de Clinton Hill, bairro de prédios de dois ou três pisos, casas de pedra castanha e uma população de classe media que se mudou para ali a fugir dos preços de Manhattan, mas também já quase estrangulada pelo escalar das rendas que a sua mudança para Brooklyn motivou. “Um ciclo pernicioso”, conclui Waldman, que prefere, no entanto, viver ali do que “na Manhattan dos turistas e de ricos pouco estimulantes” que se tornou nos últimos anos. Pequena, magra, olhos claros, Adelle Waldman podia confundir-se com um dos muitos universitários fixados nos ecrãs dos seus computadores portáteis que enchem aquele novo espaço numa das zonas mais fervilhantes de Brooklyn. Café, restaurante, ponto de encontro para conversas, lugar de escrita e criação. “Ainda não consigo entender muito bem o que me aconteceu com este romance”, continua numa voz pausada, cheia de hesitações, como se o nome que está na capa do livro que tem à frente não fosse o seu e isso não lhe tivesse mudado a vida, permitindo-lhe viver do que sempre quis: da escrita. “Passei anos com Nate e é como se só agora o estivesse o conhecer”, afirma, dias depois de ter publicado um artigo na New Yorker, uma reflexão sobre o estado actual do romance enquanto género literário, que era também uma resposta a quem questiona a “utilidade” e a “qualidade” do romance contemporâneo, considerando-o incapaz de se reinventar, alicerçado em “convenções obsoletas”. Para Waldman, mais do que questionar a forma – “pessoalmente, aí não estou interessada em experimentalismos", refere –, a questão está em tentar perceber a função do romance e o que ele ainda faz bem: “escrever sobre a vida”. Os exemplosÉ isso que ela faz em A Vida Amorosa de Nathaniel P. “Os tempos são outros, mas inspirei-me muito nos livros de Jane Austen, no modo como consegue falar do que há de mais pessoal dentro do quotidiano mais banal. " Em Austen, como em Evelyn Waugh ou em George Elliot, encontrou a génese literária desta vida amorosa que aqui retrata, e Middlemarch [romance que Elliot publicou em 1872] está mesmo no centro de uma conversa sobre igualdade de género liderada por Aurit, a amiga que nunca dormiu com Nathaniel, confidente que o confronta com o seu pior lado. Compara Nate e muitos dos homens que conhecia a Tertius Lydgate, personagem que quer deixar grande obra no mundo mas que se revela incapaz de fazer com que as suas ideias correspondam aos actos em muitos aspectos essenciais. “Aquela distinção de espírito que pertencia ao seu ardor intelectual não penetrava os seus sentimentos e opinião em relação à mobília e às mulheres. ”Era esse também o desacerto e o desconcerto de Nate, cuja essência está no facto de ter sido criado por uma mulher. É também aí que está a chave que faz funcionar este romance. “Estava a escrever este livro há muito tempo. Fiz muitas experiências, mas só consegui libertar-me quando a primeira pessoa passou a ser um homem. Antes, revia-me de mais na personagem, continha-me com receio da colagem autobiográfica. Via-me a fazer autocensura, a preocupar-me com a verosimilhança e ao mesmo tempo com medo de não descolar do real, da minha perspectiva. Por outro lado, não queria que o meu livro parecesse mais um daqueles livros olhados de lado: mais uma mulher a escrever sobre o universo feminino das emoções. . . É a tal história, um romance de emoções só parece ser respeitado literariamente quando é escrito por um homem, caso contrário é chamado literatura feminina. Nathaniel, como eu, é de Baltimore, também filho de imigrantes; veio para Nova Iorque depois da faculdade para escrever, como eu, e, como eu, vive em Brooklyn, onde não tanto como eu se movimenta uma certa intelectualidade muito preocupada com o tom, com a aceitação, porque essa aceitação social é quase é fundamental para pagar as contas. É muito caro viver aqui. Tudo isso gera códigos de comportamento que me interessava explorar, porque são experiências novas. A geração anterior teve uma vida muito diferente, passou-nos valores que agora parecem não se ajustar. Ao criar uma personagem masculina, tornei-me mais observadora do que interveniente, e isso deu-me uma maior clareza. E apesar de todas as semelhanças entre mim e Nathaniel, ele é homem e estudou em Harvard. Eu não. E isso faz toda a diferença no que se refere a expectativas e a círculos que se frequentam”, afirma Adelle Waldman, enquanto lembra uma das frases do livro: estudar numa universidade da Ivy League é pertencer à versão americana da aristocracia. Nate era, nessa perspectiva, um aristocrata, alguém que pensava que ao chegar a Nova Iorque teria oportunidade de mostrar que era bom. Descobriu que era tudo muito mais sórdido. À sua maneira, Waldman descobria o mesmo. Depois de se formar na Universidade de Brown, foi para Nova Iorque escrever. Seria empregada doméstica e escreveria um romance, era o projecto. “Percebi que se não fizesse mais nada seria sempre empregada doméstica e nunca escreveria um romance. ” Abandonou a coluna que escrevia no Wall Street Journal, deixou o apartamento em Manhattan e foi viver para casa dos pais. Em seis meses escreveu um livro que nunca publicou. Este levou anos. “Receava que acontecesse algo parecido, não arranjar editor. Queria fugir ao óbvio. Andam muitos escritores às voltas com estes temas, o que é natural. Eu queria salvar-me, não sei se me entende, mostrar que era capaz de fazer algo verdadeiro. Foi muito difícil. Reescrevi muito até chegar a esta versão. ”Aqui não há bons nem vilões. Nate não causa propriamente empatia, mas nunca será visto como um malvado. “Bom, às vezes…”, brinca Waldman. A sua errância é a de alguém que está permanentemente a justificar-se. O leitor está dentro da sua consciência e ouve a dos outros. Sobretudo a de Aurit, a melhor amiga de Nate. “Aurit não sou eu”, garante Adelle, embora também seja. Aurit é talvez mais forte de que Nate. Ouvimo-la através dele, é dele a perspectiva, mas Aurit irá contar a sua versão. “O editor achou que era bom explorar isso, ter a voz dela. Já escrevi uma espécie de continuação. Não é outro livro. É a vez do olhar de Aurit”, conta Waldman. E no romance é Aurit quem diz a Nate ainda que “o facto de a pessoa com mais poder numa relação recusar levar a sério a infelicidade da outra, simplesmente porque nada a obriga a isso, é a suprema sacanice”. Homem ou mulher. A consciênciaNate sempre esteve em vantagem. Quando a sua relação com Hannah, a mulher que parecia a sua alma gémea intelectual, começou a degradar-se, ele agiu como um sacana, limpou a consciência com a ideia de que ela era livre para ir. “A minha intenção não é a de que Nate seja visto como um vilão. Ele, como nós, move-se nessa área cinzenta que me interessa explorar. A mesma que nos leva a ir ao Whole Foods [cadeia de supermercados de produtos biológicos] fazer compras porque isso nos faz sentir que já cumprimos um dever ético e podemos seguir em frente. Ou que simplesmente votar nos democratas faz de nós melhores pessoas. As relações amorosas não existem independentes de tudo o resto, do modo como somos socialmente, e são cada vez mais difíceis de conseguir porque a pressão é tremenda”, continua. No começo do livro, assistimos ao exercício de Waldman para construir uma personagem complexa, capaz de ganhar simpatias e antipatias em escala quase paritária, para depois esse sentimento se assemelhar mais a um inquietante “podia ser eu”. Nate está à mesa, numa conversa em que a consciência é apresentada como “o luxo supremo” (“Pedimos a outras pessoas para fazerem coisas que somos demasiado sensíveis, moralmente para fazer nós próprios”); a vida normal das classes mais privilegiadas segue e a sordidez fica afastada. Ou, como refere outra vez Nate voltando ao exemplo do Whole Foods, “metade do que pagamos quando fazemos compras lá é o privilégio de nos sentirmos eticamente puros”. As questões de género, de raça, de exclusão social, de privilégio de classe atravessam a história sem que isso seja nuclear. Fala-se sobretudo de amor, quase sempre sem dizer a palavra, “porque ela cada vez se diz menos”, adianta Adelle Waldman, que desde que o livro saiu e está a fazer o seu percurso tem sido chamada a palestras e conferências sobre igualdade de género ou relações amorosas entre urbanistas ambiciosos. Ela sorri. “Eu não sou especialista. Posso falar unicamente do que observei, da pesquisa que fiz para escrever este livro, da atenção que dou ao que se passa à minha volta e na minha vida. Talvez seja por escrever sobre a realidade. " E ver que isso serve para muita coisa que lhe escapa. Um senador republicano veio defender depois de saber do livro que as mulheres deviam preservar-se mais e ser mais recatadas para se defenderem de homens como Nate. “Como se ser crítico em relação a muitas das atitudes de Nate fosse uma questão partidária”, sorri outra vez, depois de já ter feito alguns comentários públicos sobre o tema. Há também uma crítica tão mordaz quanto irónica ao universo literário nova-iorquino onde todos querem sacar um artigo positivo ao James Wood. Foi o caso? “Conseguir isso é ter portas abertas”, brinca. Refere-se à escrita como um exercício de vaidade irresistível que quase se sobrepõe a tudo na vida de quem quer ser escritor. “Talvez seja essa uma das grandes contradições: a escrita retira-nos da estabilidade dos afectos, mas estar nos afectos é uma tremenda ajuda quando se quer escrever um romance. Talvez na poesia seja diferente. Mas a energia que isso consome não deixa espaço para quase mais nada. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Joana Vasconcelos: “Se as pessoas saírem daqui a pensar e com um sorriso nos lábios, é excelente.”
É de Joana Vasconcelos a primeira individual de um artista português no Guggenheim de Bilbau. A artista plástica conversou com o PÚBLICO sobre I’m Your Mirror, que se inaugura esta sexta-feira. (...)

Joana Vasconcelos: “Se as pessoas saírem daqui a pensar e com um sorriso nos lábios, é excelente.”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.65
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: É de Joana Vasconcelos a primeira individual de um artista português no Guggenheim de Bilbau. A artista plástica conversou com o PÚBLICO sobre I’m Your Mirror, que se inaugura esta sexta-feira.
TEXTO: Iniciou-se a expor na década de 1990, tendo o seu trabalho começado a ganhar expressão internacional, principalmente a partir de 2005, o ano em que participou na Bienal de Veneza com a peça A Noiva. Em 2010, a sua primeira retrospectiva celebrou-se no Museu Berardo, em Lisboa, e em 2012 tornou-se na primeira mulher e artista mais jovem a expor no Palácio de Versalhes, em Paris, tendo, um ano depois, representado o país na Bienal de Veneza, com um cacilheiro transformado no pavilhão flutuante de Portugal. Agora ei-la no Guggenheim de Bilbau, em Espanha. Nesta exposição está reflectido o seu percurso de 20 anos, ao mesmo tempo que é revelada uma série de peças novas. Como é que olha para esta mostra, no contexto desse mesmo trajecto? Estive ontem a discutir isso com os comissários – o Enrique [Juncosa] e a Petra [Joos] – e eles acham que se deve chamar antológica a esta exposição, porque ela vai atrás – entre 1996 e 1998 – e depois vem daí para a frente, contendo peças de diferentes períodos. Nem todos estão representados da mesma maneira, mas tem esse cariz antológico. As peças novas que aqui estão foram desenvolvidas a pensar especificamente nesta exposição ou foram trabalhadas sem esse intuito?Aconteceram as duas situações. Quando o Enrique e a Petra foram ao meu atelier em Lisboa, pediram-me para fazer um site specific para o átrio de entrada, a Valquíria. Para a feitura desse trabalho vim cá e fui-a desenvolvendo a pensar nesse espaço. Depois perguntaram-me que projectos é que tinha entre mãos – tenho sempre coisas a serem trabalhadas – e mostrei-lhes o que estava a ser feito. Tinha acabado de fazer o Pop Galo, que eles adoraram, e desde aí quiseram-no ter aqui, e estava também a desenvolver a máscara I’ll Be Your Mirror e o Solitário, o anel de noivado, que eles acabaram por escolher também. A partir daí a máscara passou a ser a peça central da exposição, como se reflectisse as outras, e o anel de noivado, enquanto peça para o exterior, também. Foi fácil dialogar com as formas curvilíneas da arquitectura de Frank Gehry, seja no grande átrio do museu com a monumental valquíria, ou no exterior, no caso das duas peças que ficaram a rodear o edifício?Muito fácil. A arquitectura do Frank Gehry é muito emotiva e tem muito movimento, no interior e exterior, e as minhas peças, como a Valquíria, sendo uma peça muito barroca, foi-me fácil adaptá-la ao espaço escultórico do átrio. Na verdade, o átrio é tanto um espaço escultórico como arquitectónico. Há um diálogo com a minha peça a desenvolver-se em espiral acompanhando o movimento criado pelo Frank Gehry. Foi simples ler o lugar. No exterior, fomos andando à volta do museu, que tem uma linha de esculturas, das tulipas do Jeff Koons à aranha da Louise Bourgeois, até chegarmos a um pátio de água muito bonito desenhado pelo Gehry e que estava vazio. Acabou por ser aí, na água, que dispusemos o anel. Como o anel é feito das jantes metalizadas dos carros, acaba por jogar com as chapas metalizadas do edifício. Já o galo está no meio das árvores, à esquerda do Puppy do Jeff Koons. Esta mostra é muito ambiciosa. Que tipo de desafios é que a feitura e montagem de uma exposição desta envergadura acarretou para si?Esta exposição é uma espécie de fronteira que ainda não foi ultrapassada, portando não se sabe bem o que está do outro lado…[risos]. Não há historial. O Guggenheim é um colosso. Não conheço ninguém que tenha feito isto, portanto não consigo explicitar o que se tem de fazer. Nós temo-nos vindo a adaptar. Há dois anos que andamos a trabalhar com eles. É uma equipa muito diferente. O facto de ser uma equipa americana introduz logo diferenças na forma de trabalhar, nos contratos, na maneira como pensam. É um sistema ao qual não estamos habituados. Por norma, operamos com estruturas e museus europeus. A um certo nível, são mais exigentes. Há mais entraves e regras do que aquilo a que estamos habituados. Ou seja, é um sistema que exige uma adaptação contínua. Nesse sentido, o grande desafio é ser capaz de, profissionalmente, adaptar-me a estas grandes estruturas, que acabam por ser máquinas gigantes e complexas na forma como operam. O título da exposição (I’m Your Mirror), para além das alusões a Nico e aos Velvet Underground, e da dimensão individualizada do jogo de espelhos, poderia ter outra leitura, já que a sua obra funciona também como espelho reflector de Portugal. Pelo menos opera a partir de elementos simbólicos que remetem para noções de portugalidade. Sem dúvida. A partir do momento em que estou a fazer uma antológica, essa dimensão está lá, porque o meu percurso reflecte o país onde vivo e quem eu sou. I’m Your Mirror é, no fundo, uma maneira de afirmar que eu sou também o espelho do país onde vivo e daquilo em que me tornei enquanto pessoa e artista. Estas peças, de diversas épocas, mostram diferentes partes de mim e também, obviamente, de onde venho. A máscara é feita de espelhos e eles simbolizam essas partes em que acaba por estar reflectida a minha identidade, de onde venho ou o que me vai envolvendo – não é, aliás, por acaso que a exposição começa com o coração de Viana e termina com a peregrinação a Fátima. Quando expõe fora de Portugal, como é o caso, nessas peças as conotações simbólicas de alguma forma diluem-se. Existe um olhar mais imparcial ou estetizante. Em Portugal, pelo contrário, porque estamos conscientes desse sistema de representações e pela relação de proximidade, tanto podem provocar forte adesão como resistências. Sim, completamente. Ainda ontem estava aqui com um grupo de bascos (uns arquitectos e outros coleccionadores) e todos eles tiravam imensas fotos ao galo. Sabiam que era um símbolo português e um deles até dizia que a avó tinha adquirido um há uns anos, mas fixavam-se era nas luzes ou na música, e discorriam sobre a sua modernidade. Ou seja, não faziam nenhum tipo de projecção sobre o galo. Estudei a história do galo e recuperei os desenhos clássicos. Foi feito um trabalho sério e depois dei-lhe um aspecto contemporâneo. E isso é que conta para a visão e perspectiva do futuro. As pessoas, quando chegam aqui sem estarem contextualizadas na portugalidade, identificam o símbolo, reconhecem-no e acham que ele tem actualidade. É isso que faz a obra. Quando se fala da sua obra, nomeiam-se sempre os aspectos formais (a escala, as cores vibrantes, o sentido lúdico), mas também existe nela uma dimensão mais reflexiva, que remete para questões sociopolíticas ou identitárias. O que desejava que as pessoas levassem daqui?Ontem, numa visita guiada, uma senhora dizia-me: “Saio daqui com um sorriso nos lábios, mas a reflectir sobre a minha pessoa e o que me rodeia. ” É isso. Quando se tem uma peça como A Noiva e se fala sobre os tabus ligados à mulher, claro que há muitas pessoas que ficam a pensar nesses assuntos, o mesmo acontecendo com a peregrinação a Fátima, ou com a máscara. Há várias coisas que tocam as pessoas segundo a sua biografia e vida. Não é possível controlar o que levam daqui, mas se ficarem com mais sentido crítico e um olhar reflexivo sobre elas próprias, é óptimo. E se saírem a pensar e com um sorriso nos lábios, é excelente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Num dos textos que enquadra a mostra é dito que as suas novas peças representam também a “realidade do mundo à volta”. Nos últimos anos o mundo tornou-se muito convulso – crise económica, a imigração, a violência sexual, a democracia debilitada. Até que ponto a exposição acaba também por reflectir algumas destas coisas?Há peças como a Burka, que foi feita quando se discutia a questão do véu em França, e que não perderam a sua actualidade. O mesmo acontece com A Noiva, que acaba por espelhar muitos dos tabus em relação às mulheres que é algo perfeitamente actual, com os movimentos contra a exploração sexual das mulheres ou os movimentos feministas. Ou seja, existe uma série de questões que, finalmente, começaram a ser faladas e que eram tabu até há pouco tempo. Nesse sentido existe uma série de trabalhos que mantém a sua pertinência. A peça central da exposição, a máscara, é no fundo sobre isso – é essa ideia de deixar cair as máscaras, de nos deixarmos de ilusões. É essa ideia de as pessoas se atreverem a falar da realidade sem medos. Espero que no futuro as pessoas vivam com menos máscaras do que aquelas que estão habituadas a pôr. Já está confirmado que a exposição irá a Serralves no próximo ano?Essa história é do melhor e é muito portuguesa. . . [risos]. Até nisso a portugalidade, para o bem e para o mal, me acompanha. Não posso responder a isso porque não seria correcto. A exposição é produzida pelo Guggenheim e exportada para Serralves. É um assunto entre eles. O que posso dizer é que as conversações estão a correr bem e que estamos a trabalhar sobre a exposição. Agora os acordos entre eles não são comigo. . . Certo. Mas supomos que é seu desejo que tal venha a acontecer?Acho fundamental irmos a Serralves. Roterdão já está confirmado e existem outros museus pelo mundo interessados, porque o modo de funcionamento do Guggenheim é esse: trata-se de produzir e depois exportar. Seria uma pena que esta exposição não passasse por Portugal como é por de mais evidente. Mas parece-me que vai correr tudo bem.
REFERÊNCIAS:
As associações de jovens precisam de jovens
A alteração do regime jurídico do associativismo jovem, que o Governo aprovou em Conselho de Ministros, no princípio de Maio, só pode ser criticada por ser tardia ou tímida. (...)

As associações de jovens precisam de jovens
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-07-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A alteração do regime jurídico do associativismo jovem, que o Governo aprovou em Conselho de Ministros, no princípio de Maio, só pode ser criticada por ser tardia ou tímida.
TEXTO: O que se passa no associativismo juvenil é uma excelente metáfora do país: há 54 presidentes de associações juvenis com mais de 60 anos e praticamente um terço dos líderes das associações tem mais de 41. Os jovens nem sequer lideram as associações que foram criadas em seu nome: a lei actual obriga a que 75 por cento dos associados tenham menos de 30 anos, para que seja considerada juvenil, mas não tem a mesma preocupação com os dirigentes. Em suma, ela tem de ser jovem na base da pirâmide, mas pode ser gerontocrática (e masculina) no topo. Por muito banal que se tenha tornado o discurso político e mediático acerca dos jovens, a verdade é que este não passa de uma mera intenção de marketing junto de um público-alvo de consumidores, e que eles continuam sub-representados socialmente, à excepção de profissões e de modalidades nas quais a juventude e aptidões físicas são predicados incontornáveis. Por um lado, continuam a ser imbecilizados e tratados com paternalismo, por outro, continuam a ser as principais vítimas de um mercado de trabalho que lhes nega qualquer vínculo estável e que os confina à trilogia do desemprego, precariedade e imigração. Mas a questão também pode ser encarada por um outro prisma: o envelhecimento dos dirigentes e a forma como estes se foram apropriando das suas direcções. O registo das associações tornou-se obrigatório desde 2007 para que as mesmas pudessem receber uma fatia dos 5, 6 milhões de euros que lhes são destinados. Resultado: mais de metade delas teve somente um presidente desde aí e, em média, cada associação teve dois presidentes no espaço de 12 anos. A eternização do costume, que chega a prolongar-se durante décadas, segundo os dados do Conselho Nacional de Juventude. A alteração do regime jurídico do associativismo jovem, que o Governo aprovou em Conselho de Ministros, no princípio de Maio, só pode ser criticada por ser tardia ou tímida. Obrigar as associações juvenis a terem um presidente com 30 anos ou menos chega a ser ridiculamente redundante. O mesmo se pode dizer da simples subida de quota do número de jovens de 75 para 80 por cento. Foi preciso chegar aqui para acabar com uma farsa bem antiga. Mas uma outra questão ficou por tratar: só 31 por cento das lideranças são femininas. O associativismo juvenil não precisa só de jovens a liderá-lo. A igualdade de género não faz mal a ninguém.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei imigração igualdade género desemprego
V. S. Naipaul: “Sinto que tenho de escrever mais e mais. E outra vez, e outra vez”
No primeiro dia do Folio, em Óbidos, o Nobel da Literatura V S. Naipaul chegou ao palco numa cadeira de rodas, velho e doente, e só conseguiu exprimir algumas ideias muito simples. Mas seriam realmente só algumas ideias muito simples? (...)

V. S. Naipaul: “Sinto que tenho de escrever mais e mais. E outra vez, e outra vez”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2017-07-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170715053710/https://www.publico.pt/n1745034
SUMÁRIO: No primeiro dia do Folio, em Óbidos, o Nobel da Literatura V S. Naipaul chegou ao palco numa cadeira de rodas, velho e doente, e só conseguiu exprimir algumas ideias muito simples. Mas seriam realmente só algumas ideias muito simples?
TEXTO: “Escrevo para tentar perceber o que se passa no mundo”, disse quinta-feira à noite V. S. Naipaul no Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos. “A minha escrita flui, e não faço muitas revisões, porque escrevo com muito cuidado, com grande preocupação com o que se passa no mundo”. Esta foi uma das ideias que o Nobel da Literatura repetiu, de várias formas, no palco da Tenda de Autores, no primeiro dia do festival, quer respondendo ao que o entrevistador José Mário Silva lhe perguntava, quer não respondendo propriamente ao que ele lhe perguntava. “Sim, mais do que nunca”, respondeu Naipaul à pergunta “Ainda sente urgência em escrever?” Desta vez, sim, respondeu. Ele que, com 84 anos, chegou a Óbidos de cadeira de rodas, e, mal começou a falar, suscitou logo, na audiência que enchia o recinto, suspiros ambíguos, entre a indignação e a troça. Talvez estivesse já demasiado cansado para dar conferências, terá pensado a plateia. Demasiado velho. Talvez devesse ser protegido disto. “Mais do que nunca”, respondeu porém Naipaul. “Porque sinto que me empurram para o repouso, para uma atitude de não fazer nada, como se já tivesse escrito tudo. Mas eu sinto uma preocupação constante. Sinto que tenho de escrever mais e mais. E outra vez, e outra vez. É terrível”. Naipaul tem fama de ser antipático nas entrevistas. De ser antipático, ponto. Não é de agora, sempre tratou mal os jornalistas, sempre tratou mal toda a gente, diz-se. A começar pelos que lhe são próximos. Quando a primeira mulher, Patricia Ann Hale Naipaul, morreu, em 1996, ele próprio admitiu ser responsável pela sua morte, após 40 anos de maus-tratos. Agora, débil, esgotado, parecendo carregar nos ombros todo o sofrimento do mundo, continua a ser desagradável, com uma bela desculpa. “Tente outra vez”, disse várias vezes a José Mário Silva, que nem por um momento abandonou a humildade inteligente de um grande entrevistador. Terá sido a mais difícil entrevista da sua vida. A mais difícil entrevista de qualquer um. “Tente outra vez”, dizia Naipaul, após longos segundos de reflexão, que por vezes levavam a crer ter adormecido. Mas não, era mesmo reflexão. “Ele está a pensar”, dizia o jornalista e crítico literário do Expresso, para desfazer dúvidas. Naipaul pensava, e a primeira coisa que pensava era se gostava da pergunta. Se não gostava, pedia outra. Mas tinha algumas mensagens a deixar, e essas eram simples e claras. Interrogado sobre livros que tivesse eventualmente deixado inacabados, disse prontamente: “Não, não poderia fazer isso. É assim que eu defino a minha carreira: eu termino os livros”. Como se fosse apenas essa a definiçao de um escritor. Também esta ideia Naipaul exprimiu de várias maneiras, numa estranha e límpida coerência que emergia do aparente caos da entrevista. Um caos acintoso e rabugento em que todos pareciam um pouco embaraçados, e temer pelo momento seguinte. Pelo que o escritor pudesse não ser capaz de dizer, ou ser capaz de dizer. Só ele dominava realmente a situação. Nos seus silêncios, nas suas frases aparentemente fora de contexto. “Quando se escreve, não se deve pensar que se está a fazer algo inovador. Simplesmente faz-se o trabalho. É tão simples como isso”, disse Naipaul. E a emoção? Como se capta a emoção, tentava o entrevistador, interpretando a vontade que todos tinham de lhe arrancar alguma verdade última, algum truque que pudesse ser útil a todos os escritores, a todos os artistas, a todos os seres humanos com emoções maiores do que a sua capacidade de as exprimir. Como consegue ele? Qual é o segredo?“É não se pensar sobre isso”, disse Naipaul. “Faz-se o trabalho, e há um momento em que ele fica carregado de emoção”. E depois, sobre os seus temas, a imigração, os sentimentos de isolamento, desapego e desenraizamento, diria: “É o que eu faço, mas não penso muito nisso”. Ou: “É um dos mistérios da escrita, encontrar os temas. Ninguém o pode fazer por nós, ninguém nos pode ajudar. Quando começamos, não sabemos sobre o que escrever, porque não temos nada para escrever”. Não houve um momento morto em toda a conversa, apesar das pausas. Os espectadores fixavam com avidez o rosto de rapazola gozão de Vidiadhar Surajprasad Naipaul, Vidia, para os amigos, como quem não consegue parar de ler um livro. O rosto liso e belo de um dos autores que mais bem exprimiram, e pressentiram, os dramas do mundo contemporâneo. Um rosto afinal não muito diferente do do jovem escritor aventureiro de Uma Casa para Mr Biswas, ou A Curva do Rio. Apenas mais distante. “Utopia? Não penso muito nisso, nem lhe dou muita importância. Acho que o mundo não precisa de utopias”, disse Naipaul, arrasando de uma penada, e logo no primeiro dia, a ideia que inspira o festival, este ano. A uma pergunta sobre o momento em que decidiu escrever literatura de não-ficção, pareceu ficar sem saber explicar-se. Repetiu uma das frases que já ciciara várias vezes durante a sessão, como um lamento. “Não quero simplificar”. Acrescentou: “Estaria a ser tão injusto comigo próprio, se simplificasse”. Uma voz enérgica e feminina levantou-se da plateia, em seu socorro. Era Nadira Khannun Alvi Naipaul, a actual mulher do escritor. “Ele chegou ao fim da ficção”, disse Nadira. “Quando escreveu Um Milhão de Motins Agora, o meu marido estava tão chocado com o que acontecia no mundo muçulmano, que achou que não podia escrever ficção. As pessoas vinham ter com ele e contavam-lhe coisas terríveis. Isto antes do 11 de Setembro”. Naipaul calou-se, docilmente deixando fluir o pensamento através da voz da mulher. Ela compreendia-o. A preocupação com o mundo era a sua forma de estar vivo, de se agarrar à vida. A ficção podia esperar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O PÚBLICO está em Óbidos a convite do Folio
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Palavras-chave morte humanos imigração mulher maus-tratos morto feminina
Alguma coisa em que acreditar
Significativamente, em sentido contrário ao que pedia ontem João Miguel Tavares, são os eleitores que estão a dar aos partidos “alguma coisa em que acreditar”. (...)

Alguma coisa em que acreditar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Significativamente, em sentido contrário ao que pedia ontem João Miguel Tavares, são os eleitores que estão a dar aos partidos “alguma coisa em que acreditar”.
TEXTO: “Os adultos continuam a dizer que devem aos jovens a esperança. Mas eu não quero a vossa esperança, eu não quero que vocês tenham esperança. Eu quero que vocês entrem em pânico, eu quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. E então eu quero que vocês actuem, quero que vocês actuem como se estivessem numa crise”, disse Greta Thunberg, a sueca de 16 anos que se tornou o rosto e a voz de uma geração que entende o sentido de ultimato dos efeitos do aquecimento do planeta. Ela não falava para os eleitores europeus, mas para os líderes reunidos em Davos. Mas seja por medo, seja por esperança na mudança, a mensagem esteve na cabeça de muitos europeus no momento de actuar como eleitores. Milhões votaram pelos partidos que têm a luta pela causa ambiental entre as suas preocupações, o que garantiu um número recorde de lugares aos Verdes no Parlamento Europeu. Em França, ficaram em terceiro lugar, bem à frente dos partidos tradicionais, com 13, 5% dos votos. Na Alemanha, tiveram o melhor resultado numa eleição nacional, com 20, 5%. Na Inglaterra tiveram a maior votação desde 1989, à frente dos conservadores. Em Portugal, o PAN elegeu pela primeira vez um eurodeputado e mesmo o Bloco de Esquerda, mais identificado com as preocupações dos jovens, beneficiou certamente da “onda verde” para a sua noite de vitória. No Parlamento Europeu a bancada verde subiu 40%, conquistando 69 lugares e tornando-se o quarto maior grupo parlamentar. Mas o maior resultado das eleições de 26 de Maio talvez ainda esteja para vir. Nos últimos anos temos assistido, não sem alguma sensação de sufoco, a como muitos partidos ditos tradicionais incorporam no seu ideário as propostas de forças mais populistas, normalmente à direita, em áreas como a imigração, direitos das mulheres ou economia. Fazem-no na tentativa de conter a erosão do seu eleitorado que, consideram, é atraído pelas propostas mais extremistas, apesar dos resultados desastrosos – olhe-se para França, Espanha ou Áustria. Ao descobrirem que há um tema que parece estar na cabeça de muitos eleitores, especialmente da nova geração de votantes, como o demonstraram as eleições europeias, é natural que os partidos do sistema – os que normalmente estão em melhor condições de governar – venham a injectar nos seus programas as preocupações ambientais dos que agora lhes parecem disputar o eleitorado. Fá-lo-ão mais por medo do que por convicção genuína, mas deixai-los: o resultado final pode bem trazer mais alguma esperança para este planeta. Significativamente, em sentido contrário ao que pedia ontem João Miguel Tavares, são os eleitores que estão a dar aos partidos “alguma coisa em que acreditar”.
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Partidos PAN
António Barreto defende nova Constituição aprovada com referendo popular
O sociólogo António Barreto defendeu hoje uma nova Constituição para Portugal, aprovada pela primeira vez com um referendo popular e após um debate que envolva toda a sociedade. Pede, acima de tudo, uma Constituição "de princípios universais e permanentes". (...)

António Barreto defende nova Constituição aprovada com referendo popular
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.368
DATA: 2011-09-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: O sociólogo António Barreto defendeu hoje uma nova Constituição para Portugal, aprovada pela primeira vez com um referendo popular e após um debate que envolva toda a sociedade. Pede, acima de tudo, uma Constituição "de princípios universais e permanentes".
TEXTO: Numa intervenção na Universidade de Verão do PSD, que amanhã termina em Castelo de Vide, Barreto considerou mesmo a revisão da carta magna do país uma “tarefa muito urgente”. “A revisão constitucional, ou a refundação da Constituição, ou a elaboração de uma nova Constituição é uma tarefa muito urgente, muito séria e que não deve ser feita como no passado”, disse aos alunos sociais-democratas. Barreto alegou que os tempos de crise não são impeditivos de uma revisão da Constituição, lembrando que a de 1976 foi feita durante a maior crise que Portugal já viveu. “E foi essa Constituição que ajudou a resolver a crise”, acrescentou. Barreto não crê que a actual Constituição seja a causa dos problemas de Portugal, mas afirma não ter dúvidas que impede o país “de encontrar melhores soluções”. “Defendo uma nova Constituição, cuja estrutura, essência, dimensão, linguagem, propósito sejam muito diferentes da actual”. O presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos enumerou os argumentos que considera fundamentais para a mudança da carta magna do país. O primeiro prende-se com o facto de “haver muita gente que se queixa da Constituição” e desta estar “sempre a ser evocada a bem e a mal, estar sempre a ser posta em causa”. Também, a actual Constituição impede políticas e reformas. “Impede a procura livre de soluções para muitos dos nossos problemas”, disse Barreto. A “carga ideológica” da Constituição é outro dos argumentos – o que, segundo Barreto, “obriga a políticas concretas, contrárias à vontade do soberano” eleito. O facto de condicionar “excessivamente o Parlamento e o Governo, o legislador e as novas gerações” e de transformar “muito frequentemente os debates políticos em ‘a favor’ ou ‘contra’ a Constituição”, em vez de “se discutirem os méritos da proposta A ou B”, foram outros dos argumentos defendidos pelo sociólogo. Por fim, acrescentou “que todas as gerações têm o direito de rever a Constituição, sobretudo quando é muito política ou programática”. Quanto ao método de revisão, António Barreto propõe que o Governo e a Assembleia da República “digam ao povo o que pretendem” e que seja criada uma comissão de debate sobre a Constituição, com um mandato de uma ano e aberta a toda a sociedade. “Que ninguém diga ‘não tenho nada a ver com isso’”, afirmou. Tal debate terminaria com um referendo, “em que, pela primeira vez, os portugueses digam ‘sim’ ou ‘não’ à Constituição”. Barreto considerou ainda que a actual Constituição é “super-defensiva” e “cheia de ratoeiras”. Mas o principal defeito, acrescentou, “o mais importante defeito”, é que “diminui a liberdade dos cidadãos e dos seus representantes”. “Obriga as gerações actuais e futuras a aceitarem decisões de gerações anteriores e limita a liberdade de escolha e decisão dos governos e dos parlamentos para traçarem as políticas correntes”, disse António Barreto. “A maior parte da Constituição não é feita de princípios universais e permanentes, é feita de orientações tácticas e estratégicas a curto prazo e de circunstâncias”, explicou. Direitos universais Barreto quer uma Constituição escrita para os cidadãos “que acabe com a fragmentação dos direitos”: “Há mais direitos parcelares que universais. Os direitos das mulheres são às centenas, os dos jovens às dezenas, os direitos das crianças são diferentes dos direitos dos jovens, os direitos dos trabalhadores são centenas, os direitos dos deficientes, dos artistas, dos imigrantes. Isto não é uma Constituição é um programa político. A Constituição define direitos universais, não importa que seja homem ou mulher. ”Renovar a representação popular é outro dos objectivos que a nova Constituição deveria conter, “nomeadamente recriar um sistema eleitoral que não exclua cidadãos”. “A Constituição excluiu nove milhões de portugueses que não se podem candidatar a eleições”, afirma.
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Partidos PSD LIVRE
Lista de Seguro para a Comissão Nacional vence, mas Assis elege 81 mandatos
A lista A de António José Seguro para a comissão nacional (CN), liderada por Alberto Martins, e que apresenta José Vera Jardim em segundo lugar, foi a mais votada pelos delegados ao XVIII Congresso do PS que hoje encerra em Braga com 65% dos votos. A lista adversária de Francisco Assis arrecadou 31% dos sufrágios, uma percentagem muito idêntica à que conseguiu para a liderança do partido, nas eleições internas de Julho, mas bastante superior aos 25 por cento de delegados ao congresso. (...)

Lista de Seguro para a Comissão Nacional vence, mas Assis elege 81 mandatos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2011-09-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A lista A de António José Seguro para a comissão nacional (CN), liderada por Alberto Martins, e que apresenta José Vera Jardim em segundo lugar, foi a mais votada pelos delegados ao XVIII Congresso do PS que hoje encerra em Braga com 65% dos votos. A lista adversária de Francisco Assis arrecadou 31% dos sufrágios, uma percentagem muito idêntica à que conseguiu para a liderança do partido, nas eleições internas de Julho, mas bastante superior aos 25 por cento de delegados ao congresso.
TEXTO: Em termos de mandatos, o método de Hondt acaba por beneficiar mais a lista de Assis, que elege 81 mandatos, enquanto a do secretário-geral obtém pouco mais do dobro, 170 representantes. A presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, é a primeira mulher a surgir na lista da CN de Seguro. O presidente da Câmara de Baião que se candidatou à liderança do PS-Porto, a maior federação do partido, está em quarto lugar, logo seguido de António Galamba, ex-governador civil de Lisboa. Em sexto e sétimo lugares aparecem dois autarcas: Maria Amélia Antunes e Rui Solheiro, que presidem, respectivamente, às câmaras do Montijo e de Melgaço. Já as posições seguintes imediatamente a seguir são ocupadas por jamila Madeira, e pelos deputados José Carlos Zorrinho, que vai liderar o grupo parlamentar socialista, e Vieira da Silva. Joaquim Raposo (presidente da Câmara da Amadora), Maria Salomé Rafael e Rui Paulo Figueiredo (presidente da concelhia de Lisboa) surgem na lista para a comissão nacional em décimo, décimo primeiro e décimo segundo. O presidente da Câmara de Braga, distrito por onde António José Seguro tem sido eleito deputado, consta da lista na décima terceira posição. Já Francisco Assis optou pelo actual presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, para a sua lista, surgindo em segundo lugar, à frente de eurodeputada, Edite Estrela, Pedro Silva Pereira, Manuel Pizarro, Ana Catarina Mendes. O líder da FAUL e ex-secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, está na sétima posição. Já Renato Sampaio, próximo do ex-secretário-geral do PS, José Sócrates e que se demitiu da liderança do PS-Porto, é o oitavo lista que tem em nono lugar Maria da Luz Rosinha (presidente da Câmara de Vila Franca de Xira) e Carlos Teixeira em décimo. Seguro reelegeu para a comissão nacional de jurisdição o deputado António Ramos Preto, que já presidia a este órgão, com mais de 66%. Ricardo Saldanha surge em segundo lugar, seguido de Paula Esteves, António Reis, Luís Filipe Pereira, Rita Cunha Mendes, entre outros. Curiosamente, Rita Cunha Mendes, aparece duas vezes na lista, em sexto e décima quinta posição. O ex-líder da Juventude Socialista, depois de Arons de Carvalho, e ex-alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, José Leitão, encabeçava a lista de Francisco Assis para a comissão nacional de jurisdição e ficou-se pelos 30% dos votos. A deputada Luísa Salgueiro ocupa o segundo lugar. O antigo deputado e governador civil do Porto, Agostinho Gonçalves, está em sexto lugar, tendo atrás de si, Mário Balsa Gonçalves, Ana Passos e José Manuel Andrade. Na lista para a comissão nacional de fiscalização económica e financeira, a lista A apresenta Domingos Azevedo n a primeira posição e a lista B escolheu António Dias Baptista.
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Partidos PS
Perfil de Christian Wulff: um conservador moderno e o mais jovem Presidente
O mais jovem Presidente da Alemanha, Christian Wulff, que se demitiu na manhã desta sexta-feira, após uma sucessão de suspeitas de casos de corrupção, mantinha a reputação de conservador moderno e sem história até que uma série de escândalos o propulsionaram para o centro das atenções mediática. (...)

Perfil de Christian Wulff: um conservador moderno e o mais jovem Presidente
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2012-02-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mais jovem Presidente da Alemanha, Christian Wulff, que se demitiu na manhã desta sexta-feira, após uma sucessão de suspeitas de casos de corrupção, mantinha a reputação de conservador moderno e sem história até que uma série de escândalos o propulsionaram para o centro das atenções mediática.
TEXTO: Elegante, de sorriso fácil, Wulff, de 52 anos, foi eleito Presidente com dificuldade a 30 de Junho de 2010, à terceira e última volta do sufrágio, em que a maioria simples era suficiente para escolher o chefe de Estado. Foi uma humilhação para a chanceler Angela Merkel que o apresentou a votos, e cuja coligação governamental lhe oferecia teoricamente a maioria na Assembleia para garantir a eleição de Wulff sem percalços. Ao tornar-se Presidente – função essencialmente honorífica na Alemanha, mas que contém grande prestígio e pode influenciar a opinião pública – Wulff ocupava pela primeira vez um cargo político de abrangência nacional, não tendo antes sido sequer ministro federal. Antes do eclodir dos escândalos, este Presidente, considerado “muito brando” por alguns críticos, tinha uma excelente relação com os media, prestando-se com visível prazer a dar entrevistas e tirar fotografias com a segunda, loura e jovem mulher Bettina, mãe do filho pequeno de ambos. Ela era a primeira mulher de um Presidente a ter uma tatuagem (uma chama ardente, no cimo do braço direito), o que Wulff achava “ter pinta”. Os laços próximos de Wulff com empresários, forjados na altura em que dirigiu o governo regional da Baixa Saxónia (norte da Alemanha), entre 2003 e 2010, acabaram por ser-lhe fatais. Desde meados de Dezembro, Wulff tem estado sob fogo cerrado de críticas dos media alemães, que o acusam de se ter aproveitado dos cargos desempenhados para obter uma série de vantagens financeiras e, depois, de ter tentado abafar estes casos. O Presidente deixou mesmo uma mensagem de voz no telefone do director do poderoso tablóide Bild a ameaçá-lo, a qual veio a ser largamente divulgada. Poucos meses antes da sua chegada à chefia de Estado, Wulff, um católico praticante, provocou a ira entre os conservadores ao afirmar que o Islão também fazia parte da Alemanha, nas celebrações do 20º aniversário da reunificação do país, a 3 de Outubro de 2010. Já no passado, Wulff tinha dado provas da sua abertura aos alemães oriundos da imigração, tendo nomeado um ministro de ascendência turca para o seu governo na Baixa Saxónia, algo então inédito na Alemanha. Numa frente completamente diferente, surpreendeu tudo e todos com as críticas feitas, em Agosto passado, a compra das dívidas dos países em dificuldades pelo Banco Central Europeu, quando a crise do euro estava já ao rubro. Na Alemanha, país profundamente convicto da independência dos bancos centrais, uma tal intrusão do Presidente nos assuntos monetários foi vista como inesperada. Pouco antes da visita do Papa Bento XVI ao país, em Setembro, Wulff, que se divorciara em 2007 e casara pela segunda vez no ano seguinte, afirmou que a Igreja católica deveria mostrar maior compreensão em relação às pessoas divorciadas. O divórcio da primeira mulher, Christiane, com quem tem uma filha, então já maior de idade, fez ranger os dentes entre os conservadores. Nascido a 19 de Junho de 1959 em Osnabruck (noroeste da Alemanha), teve que assumir grandes responsabilidades ainda muito novo: aos 14 anos, após a partida do padrasto – os pais tinham-se divorciado quando ele tinha dois anos –, ficou a seu cargo a tarefa de cuidar da mãe, doente de esclerose, e ajudar a criara a irmã mais nova. Militante da União Democrata Cristã desde os 20 anos, actualmente presidida por Angela Merkel, Wulff tinha apenas 34 anos quando desafiou nas eleições regionais da Baixa Saxónia Gerhard Schröder, então o homem forte do Partido Social Democrata (SPD)e que viria a tornar-se chanceler. Em 2003, Wulff conseguiu finalmente conquistar aquele governo regional, tirando-o das mãos da esquerda então liderada por Sigmar Gabriel (actual presidente do SPD), e foi reeleito em 2008.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha imigração filho mulher homem social divórcio
Como “Bibi” deixou de ser “rei de Israel”
Netanyahu ignorou os protestos populares em 2011 e acreditou que se manteria no poder com uma confortável maioria de direitistas e ultra-ortodoxos. Foi surpreendido com um empate que o obriga a ponderar uma aliança com o “centro-esquerda”. (...)

Como “Bibi” deixou de ser “rei de Israel”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Netanyahu ignorou os protestos populares em 2011 e acreditou que se manteria no poder com uma confortável maioria de direitistas e ultra-ortodoxos. Foi surpreendido com um empate que o obriga a ponderar uma aliança com o “centro-esquerda”.
TEXTO: Nos meses que precederam as eleições desta terça-feira em Israel, Benjamin Netanyahu parecia obcecado com a “ameaça nuclear iraniana”, a ponto de ter dado um ultimato a Barack Obama quando este preparava o seu segundo mandato. Subitamente, porém, durante a campanha, a ênfase foi dada à expansão dos colonatos. Era preciso responder a outra “ameaça”: a ascensão do rival de extrema-direita Naftali Bennett, que prometia anexar 60% da Cisjordânia e “purificar o Estado judaico”. O primeiro-ministro ignorou, porém, que a maior preocupação dos israelitas não eram os conflitos com persas e palestinianos, mas a crise económica. E “Bibi”, ainda que o mais votado, foi derrotado por um voto de protesto. A aliança Likud-Yisrael Beiteinu, formada entre Netanyahu e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, mantém-se no Parlamento, mas com menos deputados – desceu de 42 de um total de 120 para 31 –, e será forçada, provavelmente, a formar uma coligação com o chamado “centro-esquerda”, graças ao surpreendente segundo lugar (19) do partido Yesh Atid (“Há Um Futuro”), de Yair Lapid. Em terceiro, ficaram os trabalhistas, de Shelly Yachimovitch (15). Na quarta posição, colocaram-se os ultra-religiosos mizrahim (judeus de origem no Médio Oriente e Norte de África) do Shas, que consideraram “um milagre” os seus 11 deputados face ao descalabro dos seus parceiros de governo. Ao contrário do que previam todas as sondagens (jamais fiáveis em Israel), o Habayit Hayehudu (“Casa Judaica”), do milionário, ex-dirigente dos colonos e antigo major de elite Naftali Bennett, ficou em 5º lugar e não em 3º, mas subiu de cinco para 11 deputados a representação parlamentar do antigo Mafdal, ou Partido Religioso Nacional, que ele refundou o Novembro de 2012. O Kadima, de Shaul Mofaz, deixou de ser o maior bloco – de 28 lugares restaram-lhe dois. O Meretz (esquerda sionista) duplicou o número de deputados para seis. O Hatnuah (“Movimento”, centro-direita), da ex-chefe da diplomacia Tzipi Livini que antes pertenceu ao Likud e ao Kadima, teve apenas seis assentos – previa 15 a 17. Quanto aos partidos onde predominam os palestinianos de cidadania israelita e que reclamam um “Estado de todos os cidadãos e não um Estado judaico”: a Lista Árabe Unida- Ta’al, subiu um lugar, para cinco; o Hadash e o Balad retiveram os seus quatro e três lugares, respectivamente. Uma das grandes esperanças da esquerda não sionista, a palestiniana Asma Agbaria-Zahalka, do Partido dos Trabalhadores Da’am (que inclui judeus e árabes), não conseguiu ultrapassar o limiar de 2% dos votos. Teria feito história como primeira mulher e primeira árabe a liderar um partido no Knesset. “Só em Israel um político ganha perdendo”, observou o analista judeu norte-americano Jeffrey Goldberg, na sua coluna no site Bloomberg. Lapid será agora o fiel da balança, embora a senhora Yachimovitch já o tenha desencorajado a juntar-se a Netanyahu. Talvez, para que ela própria (sob pressão do partido para se demitir), possa manter-se na liderança, face ao resultado “desencorajador” (como assumiu) dos trabalhistas. Perante o empate 60-60 no Knesset, comentadores como Ali Gharib, no Daily Beast, admitem a possibilidade de o Presidente, Shimon Peres, por alguns considerado “a verdadeira força da oposição”, optar por escolher o campo do “centro-centro” para formar uma coligação, se Netanyahu estiver mais inclinado a formar governo com Bennett, o Shas e outros religiosos. Seja qual for a solução, prevêem-se negociações difíceis nas próximas seis semanas – o prazo para formar nova coligação. O sistema eleitoral israelita, concebido após a criação do Estado em 1947, para que todos, grandes e pequenos, tivessem voz, não permite governos maioritários. Os potenciais primeiros-ministros são, assim, obrigados a regatear como comerciantes de bazar. Especula-se que “Bibi” possa oferecer os Negócios Estrangeiros a Lapid, retirando esta pasta a Lieberman, o imigrante russo com processos judiciais em curso. Lapid é uma antiga estrela do jornalismo televisivo, filho de um veterano da política israelita profundamente secular. O seu pai, Tommy, estava em permanente colisão com os ultra-ortodoxos, e é natural que a nova estrela que ofuscou Bennett mantenha a promessa de acabar com a isenção do serviço militar obrigatório dos mais religiosos (algo que Bibi” foi incapaz de impor). Embora inicialmente se manifestasse “a favor da paz, Yair fez campanha nos colonatos, defendendo o controlo sobre a maioria destas comunidades judaicas na Cisjordânia, e opondo-se a uma partilha da soberania de Jerusalém com os palestinianos – os grandes ausentes destas eleições. Muitos analistas locais vêem-no como uma personalidade ambiciosa e maleável que Netanyahu facilmente manipulará. E será fácil de manipular porque não são os palestinianos – os grandes ausentes da campanha apesar dos recentes combates com o Hamas na Faixa de Gaza – o que mais preocupa os israelitas. Há 18 meses, o país, que era o mais próspero do Médio Oriente, foi assolado por gigantescos protestos, sobretudo em Telavive e em Jerusalém. Entre as várias reivindicações de milhares de manifestantes estavam, designadamente, o fim da subida de impostos e a descida dos preços das casas, que registaram um salto recorde de 40% durante o mandato anterior de Netanyahu. No seu Relatório Anual da Pobreza 2012, a organização israelita Latet, que ajuda os mais desfavorecidos, apresenta elementos perturbadores: “metade das crianças de famílias carenciadas” (são sobretudo haredim ou ultra-religiosos e palestinianos de cidadania israelita) foram obrigados a deixar a escola e a trabalhar para subsistir; só 4% dos idosos com subsídios do Estado “conseguem viver com dignidade”; 15% da população teve de procurar um segundo emprego para aumentar o salário mensal; 18% precisaram de contrair empréstimos bancários, sobretudo para a habitação, cujos preços aumentaram mais de 40%. Tendo concentrado todas as energias no campo da segurança, Netanyahu descurou este flanco e foi agora penalizado pelos eleitores. Para Jeffrey Goldberg, acabou-se o reinado de “Bibi”, a figura arrogante que contratou estrategas eleitorais americanos e se fez fotografar ao lado do actor de filmes violentos Chuck Norris, para enfatizar a sua fama de “falcão”. Para os editorialistas do diário Ha’aretz, “Netanyahu é um homem do passado” que “perdeu na esfera política [doméstica], na esfera política externa e na esfera socioeconómica” . Com Israel perante um período de “incerteza”, o seu fracasso como líder “coloca em dúvida se ele se manterá no poder”.
REFERÊNCIAS:
MP acusa rede que usava dezenas de crianças para praticar crimes
Organização desmantelada há um ano integrava 46 arguidos, a maioria de nacionalidade bósnia. (...)

MP acusa rede que usava dezenas de crianças para praticar crimes
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Organização desmantelada há um ano integrava 46 arguidos, a maioria de nacionalidade bósnia.
TEXTO: O Ministério Público (MP) deduziu acusação contra 46 arguidos, a maioria de nacionalidade bósnia, que integravam uma rede desmantelada há um ano que usava dezenas de crianças para a prática de crimes. No comunicado publicado nesta sexta-feira no site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa lê-se que a acusação foi proferida a 30 de Setembro e que ficou indiciado que os arguidos formavam um grupo criminoso transnacional que se dedicava à prática reiterada de furtos em Portugal, “dos quais auferiam elevados proventos económicos, uma vez que viviam exclusivamente desta actividade criminosa”. Segundo o MP, estão acusados de associação criminosa, associação criminosa para o auxílio à imigração ilegal, imigração ilegal, furtos qualificados, burlas informáticas, falsificação de documentos e violência doméstica “em concurso aparente com maus tratos de menores”. Estes arguidos foram detidos há um ano (a 11 e 12 de Outubro), na zona da Grande Lisboa, numa operação conjunta do MP, a GNR e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, durante a qual foram localizadas 30 crianças sem documentos de identidade em estado “de abandono e de maus tratos” e usadas para a prática de crimes. Desde então que 16 arguidos estão em prisão preventiva. “Os líderes desta organização auferiam elevados proventos com esta actividade criminosa, mantinham uma logística em várias casas onde aparentavam constituir-se como famílias com crianças, mas onde na realidade as crianças permaneciam em estado de completo abandono, sem assistência médica ou a alimentação necessária, em estado de sofrimento e fome”, lê-se. Quando esta rede foi desmantelada, a GNR e o SEF emitiram um comunicado dizendo que se efectuaram 20 detenções e oito buscas domiciliárias, em que foram apreendidas sete viaturas de alta cilindrada e mais de 100 mil euros. A investigação, esclareciam, permitiu apurar que os elementos do grupo se dedicavam exclusivamente à actividade criminosa e que, oriundos da Europa dos Balcãs, praticavam múltiplos ilícitos criminais, como associação criminosa, auxílio à imigração ilegal, tráfico de pessoas, falsificação de documentos e de cartões de crédito e débito, branqueamento de capitais, furto simples e qualificado, maus tratos a menores, entre outros. Os homens, adiantavam, controlavam um grupo de mulheres que roubavam carteiras e tinham como alvo turistas estrangeiros, em sítios como Fátima, Algarve, Lisboa e Porto. Eram eles que transportavam as mulheres em carros de alta cilindrada; elas entregavam depois o que tinham roubado aos cabecilhas. "Os elementos do grupo habitam diversas casas, fazendo crer que se trata de famílias normais, incluindo a presença de crianças (. . . ), que se supõe serem filhos das mulheres que praticam os mencionados furtos. Durante o dia, as crianças são fechadas e abandonadas nas casas ou ficam na companhia dos homens, não frequentando a escola. "
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR SEF