Dêem-nos alguma coisa em que acreditar
Os portugueses lutaram pela liberdade em 1974. Lutaram pela democracia em 1975. Lutaram pela integração na Comunidade Europeia nos anos 80. Lutaram pela entrada na moeda única durante a década de 90. Não é fácil saber porque é que estamos a lutar hoje em dia. O discurso na íntegra de João Miguel Tavares nas comemorações do 10 de Junho, a cuja comissão organizadora presidiu. (...)

Dêem-nos alguma coisa em que acreditar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os portugueses lutaram pela liberdade em 1974. Lutaram pela democracia em 1975. Lutaram pela integração na Comunidade Europeia nos anos 80. Lutaram pela entrada na moeda única durante a década de 90. Não é fácil saber porque é que estamos a lutar hoje em dia. O discurso na íntegra de João Miguel Tavares nas comemorações do 10 de Junho, a cuja comissão organizadora presidiu.
TEXTO: Senhor Presidente da República Portuguesa, Senhor Presidente da República de Cabo Verde, Autoridades civis e militares, Minhas senhoras e meus senhores. IEu vivi e cresci a 100 metros do local onde me encontro, ali mesmo, no cimo da Avenida Frei Amador Arrais. Foi nessa casa que habitei até fazer aquilo que a maior parte dos portalegrenses faz após acabar o secundário: deixar a cidade para ir estudar fora, na universidade. Boa parte dos portalegrenses, infelizmente, já não volta a viver aqui. Eu não voltei. Mas aquela será sempre a minha casa. E esta foi, é e será sempre a minha cidade. Tenho a honra de ser o primeiro filho da democracia a presidir às comemorações do 10 de Junho. Não sei o que é viver sem liberdade. Devo ao Portugal democrático e ao Estado português boa parte daquilo que sou. Sou filho de dois funcionários públicos. Fiz o ensino básico e secundário numa escola pública. Licenciei-me numa universidade pública. Portugal não falhou comigo. Permitiu que um simples estudante de uma cidade do interior, sem qualquer ligação à capital e às suas elites, fosse subindo aos poucos na vida e chegasse até aqui. O meu crescimento acompanhou o crescimento da democracia portuguesa. Vi o quanto o país mudou. Até ao final da década de 90, Lisboa estava a mais de quatro horas de autocarro de Portalegre, e a essa distância física correspondia uma ainda maior distância cultural. Os livros eram poucos e vendiam-se nas papelarias; o cinema só funcionava ao fim-de-semana; as bandas que nós queríamos ouvir não passavam por cá. Mas o país progredia, e eu via-o progredir. Os meus pais estudaram mais anos e tiveram mais oportunidades do que os meus avós. Eu estudei mais anos e tive mais oportunidades do que os meus pais. Como acontecia em tantas casas, a minha família investia parte do salário a comprar livros e enciclopédias que chegavam pelo correio, a prestações. Esses livros representavam o conhecimento e a educação que as famílias ambicionavam para os seus filhos. Os pais lutavam por isso – lutavam menos por eles, do que pelas suas crianças, para que elas tivessem uma vida melhor, estudassem, fossem “alguém”. Os seus filhos chegariam às universidades. Estudariam dezasseis, dezassete, vinte anos, se fosse preciso. Viajariam mais. As suas férias não estariam limitadas aos 15 dias em Albufeira. Seriam grandes. Seriam felizes. Seriam europeus. A geração dos meus pais sacrificou-se para que os filhos tivessem o que eles nunca tiveram. Mas é possível que eles tenham tido aquilo que mais nos tem faltado nos últimos vinte anos: um objectivo claro para as suas vidas e um caminho para trilhar na sociedade portuguesa. Os portugueses lutaram pela liberdade em 1974. Lutaram pela democracia em 1975. Lutaram pela integração na Comunidade Europeia nos anos 80. Lutaram pela entrada na moeda única durante a década de 90. Não é fácil saber porque é que estamos a lutar hoje em dia. IIÉ nessa dificuldade que repousam tantas das nossas angústias. As pessoas de hoje não são diferentes das de ontem: enquanto indivíduos, continuamos a amar, a sofrer, a chorar, a rir, hoje como sempre. Boa parte de nós, talvez julgue mesmo que a política é somente um cenário longínquo, distante da vida que nos importa, que é aquela que está mais próxima de nós. Daí o chamado “desinteresse pela política”. Mas creio que este sentimento é já uma consequência dos nossos próprios fracassos. A integração na Europa do euro não correu como queríamos. Construímos auto-estradas onde não passam carros. Traçámos planos grandiosos que nunca se cumpriram. Afundámo-nos em dívida. Ficámos a um passo da bancarrota. Três vezes – três vezes já – tivemos de pedir auxílio externo em 45 anos de democracia. É demasiado. Perguntamo-nos como foi isto possível. Criámos comissões de inquérito para encontrar responsáveis. Descobrimos um país amnésico, cheio de gente que não sabe de nada, que não viu nada, que não ouviu nada. Percebemos que a corrupção é um problema real, grave, disseminado, que a Justiça é lenta a responder-lhe e que a classe política não se tem empenhado o suficiente a enfrentá-la. A corrupção não é apenas um assalto ao dinheiro que é de todos nós – é colocar cada jovem de Portalegre, de Viseu, de Bragança, mais longe do seu sonho. O sonho de amanhã ser-se mais do que se é hoje vai-se desvanecendo, porque cada família, cada pai, cada adolescente, convence-se de que o jogo está viciado. Que não é pelo talento e pelo trabalho que se ascende na vida. Que o mérito não chega. Que é preciso conhecer as pessoas certas. Que é preciso ter os amigos certos. Que é preciso nascer na família certa. Os miúdos que não nasceram nesse tipo de “família certa” têm direito aos mesmos sonhos que os filhos das elites portuguesas – todos nós concordamos com isto. Mas será que estamos a fazer alguma coisa para que aquilo com que concordamos se torne realidade? Será que podemos garantir que o talento conta mais do que a família em que cada um nasceu? Será que a igualdade de oportunidades existe?Quando eu digo à Carolina, ao Tomás, ao Gui ou à Rita – os meus quatro filhos – “leiam mais, trabalhem mais, que o vosso esforço será recompensado” – será que lhes estou a dizer a verdade?Os meus pais disseram-me isso a mim. E eu estou aqui. Mas será que a mesa está equilibrada e o elevador social funciona hoje da mesma forma? Ou a vida estará bem mais difícil para um jovem na casa dos vinte anos, que numa economia de baixo crescimento tem de competir com uma geração mais velha já licenciada, integrada num mercado de trabalho rígido, que confere muita protecção a quem tem um lugar no quadro e muito pouca protecção a quem não o tem?No nosso país instalou-se esta convicção perigosa: um jovem talentoso que queira singrar na carreira exclusivamente através do seu mérito, a melhor solução que tem ao seu alcance é emigrar. Isto é uma tragédia portuguesa. Não podemos condenar os nossos filhos ao discurso fatalista de um Portugal que é assim, porque nunca foi de outra maneira. O desespero não nasce do erro, mas do sentimento de que não vale a pena esforçarmo-nos para que as coisas sejam de outra forma – porque nunca serão. A falta de esperança e a desigualdade de oportunidades podem dar origem a uma geração de adultos desencantados, incapazes de acreditar num país meritocrático. Esta perda de esperança aparece depois travestida de lucidez, e rapidamente se transforma numa forma de cinismo. Achamos que temos de ser pessimistas para sermos lúcidos. Que temos de ser desesperançados para sermos realistas. Que temos de ser eternamente desconfiados para não sermos comidos por parvos. Guardamos os bons sentimentos para as nossas relações pessoais, onde somos certamente seres encantadores, mas quando se trata de reflectir sobre o nosso papel enquanto cidadãos, partes de uma nação e de um tecido social e político comum, colocamos uma mola no nariz e dizemos que pouco temos a ver com isso, porque os políticos não se recomendam. Há o “eles” – os políticos, as instituições, as várias autoridades, muitas das quais (receio bem) se encontram hoje aqui presentes. E há o “nós” – eu, a minha família, os meus colegas, os meus amigos. Entre o “nós” e o “eles” há uma distância atlântica, com raríssimas pontes pelo meio. “Eles” não têm nada a ver connosco. “Nós” não temos nada a ver com eles. IIIO senhor Presidente da República costuma dizer com frequência que os portugueses, quando querem, são os melhores do mundo. O senhor Presidente da República que me perdoe o atrevimento: não há qualquer razão para os portugueses serem melhores do que os finlandeses, os nepaleses ou os quenianos. Mas tenho uma boa notícia para dar: também não precisamos de ser melhores. Para quem ainda acredita numa ideia de comunidade, os portugueses são aqueles que estão ao nosso lado. E isso conta. E conta muito. Partilhamos uma língua, um país com uma estabilidade de séculos, sem divisões, e é uma pena que por vezes pareçamos cansados de nós próprios. Tivemos História a mais; agora temos História a menos. Passámos da exaltação heróica e primária do nosso passado, no tempo do Estado Novo, para acabarmos com receio de usar a palavra “Descobrimentos”. Simplificamos a História de forma infantil. No século XVI, Luís de Camões já cantava os seus amores por uma escrava de pele negra – tão bela e tão negra que até a neve desejava mudar de cor. Para desarrumar os estereótipos, talvez precisemos de um pouco menos de Lusíadas e de um pouco mais de lírica camoniana. Menos exaltação patriótica e mais paixão por cada ser humano – eis uma fórmula que me parece adequada aos tempos que vivemos. Sendo já poucos os que acreditam nas grandes narrativas, continuamos a acreditar nas pessoas que temos ao nosso lado. E esse é o caminho para a identificação possível dos portugueses com Portugal. Sozinhos somos ninguém. A velha pergunta bíblica “acaso sou eu o guarda do meu irmão?” tem uma única resposta numa sociedade decente: “Sim, és. ” Num país algo desencantado, o grande desafio está em tentar desenvolver um sentimento de pertença que vá além dos prodígios do futebol. IVQuando o senhor Presidente da República me convidou para presidir a estas cerimónias houve muita gente que ficou espantada, incluindo eu próprio. Mas com o tempo fui-me afeiçoando à ideia de que talvez não seja absolutamente necessário ter méritos extraordinários para estar aqui, e que Portugal precisa cada vez mais de um 10 de Junho feito de pessoas comuns e para pessoas comuns. Um 10 de Junho que aproxime as linhas entre o “nós” e o “eles”. Uma festa do português anónimo, da arraia-miúda, daquelas pessoas que todos os dias fazem mais por este país do que elas próprias imaginam. O 10 de Junho do meu avô, que tinha uma casa de pasto no fundo da rua de Elvas e oferecia um prato de sopa a quem não tinha dinheiro para pagar uma refeição. O 10 de Junho dos meus sogros, que tiveram de fugir de Moçambique em 1975 e reconstruir toda a vida em Portugal com seis filhos para criar, alguns dos quais ficaram dispersos pela família até eles voltarem a ter condições para os acolher. O 10 de Junho das três mulheres que criaram a minha mulher, uma delas originária de Timor, que viajaram desde o outro lado do mundo para acolher um bebé nascido em Moçambique e fazê-lo crescer numa pequena aldeia da Beira Interior. São histórias de vida impressionantes. Portugal não é composto apenas por instituições longínquas, Parlamentos em Lisboa, políticos distantes de quem dizemos mal no café. Portugal somos nós. Sou eu. São as pessoas que estão sentadas em lugares privilegiados nestas bancadas. São os militares que desfilam à nossa frente. São os portalegrenses debaixo do sol de Junho. São as pessoas lá em casa, a ouvir estas palavras. Todos temos nas nossas famílias histórias destas, de gente banal envolvida em feitos extraordinários. Temos o hábito de levantar a cabeça à procura de grandes exemplos, e nem sempre os encontramos – mas muitas vezes os melhores exemplos estão ao nosso lado, e alguns deles começam em nós mesmos. Sobre cada um de nós recai a responsabilidade de construir um país do qual nos possamos orgulhar. Aos políticos que dirigem Portugal, e representam os seus cidadãos, compete-lhes contribuir para esse esforço, propondo-nos um caminho inteligível e justo. Os portugueses podem não ser os melhores do mundo, mas são com certeza capazes de coisas extraordinárias desde que sintam que estão a fazê-las por um bem maior. A política não falha apenas quando conduz o país à bancarrota. A política falha quando deixa o país sem rumo e permite que se quebre a aliança entre o indivíduo e o cidadão. Aquilo que melhor distingue as pessoas não é serem de esquerda ou de direita, mas a firmeza do seu carácter e a força dos seus princípios. Aquilo que se pede aos políticos, sejam eles de esquerda ou de direita, é que nos dêem alguma coisa em que acreditar. Que alimentem um sentimento comum de pertença. Que ofereçam um objectivo claro à comunidade que lideram. Nós precisamos de sentir que contamos para alguma coisa. (Além de pagar impostos. )Cada português precisa de sentir que conta, precisa de sentir que os seus gestos não contribuem apenas para a sua felicidade individual, ou para a felicidade da sua família, mas que têm um efeito real na sociedade, e podem, à sua medida, servir o país. É preciso dizer ao velho que perdeu tudo nos incêndios de Pedrógão – tu contas. É preciso dizer ao miúdo que habita na pobreza do Bairro da Jamaica – tu contas. É preciso dizer ao cabo-verdiano que trocou a sua terra por Portugal, em busca de um futuro melhor para os seus filhos – tu contas, e os teus filhos não estão condenados a passarem o resto das suas vidas a limpar as casas da classe alta de Lisboa ou do Porto. É preciso dizer à mãe ou ao pai que se sacrifica diariamente para que o seu filho possa estudar numa boa escola – tu contas, o teu esforço não será desperdiçado, e enquanto cidadão português tens os mesmos direitos e a mesma dignidade que um primeiro-ministro ou um Presidente. E se alguma pessoa emproada vos perguntar pelo vosso currículo, digam-lhe que currículo tem tanto o académico que decide dedicar a sua vida ao estudo como o pai que decide dedicar a sua vida aos filhos. Currículo tem tanto o cientista que dedica o seu tempo à investigação como o reformado ou o jovem que dedicam o seu tempo a ajudar os outros. São diferentes tipos de currículo, mas são currículo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E se ainda assim vos perguntarem “quem é que tu achas que és?”, respondam apenas: “Sou um cidadão que todos os dias faz a sua parte para que possamos viver num Portugal melhor e mais justo. ”Isso chega – aliás, não só chega, como é aquilo que mais falta nos faz. Muito obrigado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos escola filho educação mulher comunidade adolescente social igualdade estudo mulheres pobreza negra salário assalto infantil
Exclusão social é um dos factores que explicam crimes de minorias étnicas
Tese de doutoramento tenta perceber criminalidade praticada por portugueses de etnia cigana e estrangeiros oriundos dos países do Leste europeu e dos países africanos de língua oficial portuguesa. (...)

Exclusão social é um dos factores que explicam crimes de minorias étnicas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.033
DATA: 2013-10-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tese de doutoramento tenta perceber criminalidade praticada por portugueses de etnia cigana e estrangeiros oriundos dos países do Leste europeu e dos países africanos de língua oficial portuguesa.
TEXTO: Os portugueses de etnia cigana e os estrangeiros estão em número desproporcionado nas prisões. Como justificam essas pessoas os actos que os conduziram até ali? E que ideias sobre isso transmitem os meios de comunicação social e profissionais dos serviços prisionais?A tese é da investigadora Sílvia Gomes. Intrigava-a a criminalidade associada às minorias étnicas. No doutoramento em Sociologia, que defendeu na Universidade do Minho no mês de Julho, tentou encontrar o sentido que lhe é atribuído. Deparou-se com as simplificações dos media e dos profissionais dos serviços prisionais, reprodutoras de estereótipos, e com explicações dos reclusos assentes em factores económicos ou decorrentes das pertenças de género, etnia ou nacionalidade. Optou por estudar apenas os mais visíveis nas estatísticas oficiais e nos noticiários: os portugueses de etnia cigana e os estrangeiros oriundos dos países do Leste europeu e dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP). Os primeiros representavam 5% da população prisional e os outros 15% em 2010. Começou por vasculhar arquivos do PÚBLICO, do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã. Juntou todas as peças sobre práticas criminais com referência àquelas minorias publicadas nos sites destes diários entre 1 de Janeiro de 2008 e 31 de Dezembro de 2009. Analisou as 114 peças. Eram, quase sempre, notícias curtas, que se cingiam ao acto praticado. A principal voz era policial ou judicial. As outras vozes, quando existiam, pertenciam a testemunhas ou vítimas. O perfil do agressor tendia a ficar apagado. Era como se não existisse contexto. Lendo bem, cada grupo aparecia associado a uma prática criminal: "Os ciganos a crimes contra o património com o uso de violência, os africanos a crimes relacionados com drogas, os europeus do Leste a crimes contra valores e interesses da vida em sociedade. " Todavia, entrando nas seis prisões que concentram a maior parte dos condenados daquelas minorias e analisados os seus processos, nenhuma associação directa havia entre qualquer crime e qualquer grupo. O tráfico de drogas era o crime mais comum nos três grupos: 319 dos 1048 crimes pelos quais aquelas 540 pessoas estavam presas. Seguiam-se o roubo, a condução sem habilitação legal, o furto, o porte de arma. "O crime mais noticiado é o crime contra pessoas, quando o principal crime nas estatísticas oficiais é contra o património", sublinha. Isso não é alheio aos critérios de relevância usados na produção de notícias (os jornalistas valorizam o que é novo, extraordinário), mas tem consequências: "Forma-se uma opinião pública unânime na designação pejorativa desses grupos. ""Os próprios funcionários do sistema prisional produzem estereótipos veiculados pelos media, mesmo quando eles vão contra a realidade existente no estabelecimento prisional em que trabalham", diz. Parece-lhe haver todo o processo de contaminação, que funciona nas duas vias. Entrevistou nove directores e 30 guardas. Registou ideias feitas, algumas associadas a "justificações de tipo culturalista", com certo odor a racismo. E isso levou-a a concluir que "estrangeiros e grupo étnico cigano são percepcionados como uma grande amálgama do que é diferente do "ser português" e como tendo, de certa forma, reificado em si o comportamento criminal". Os reclusos da Europa do Leste eram retratados como educados, mas calculistas e perigosos, o que não seria alheio à ideia de que possuem formação superior ou militar. Já os PALOP eram pobres, actores de criminalidade não pensada, e os ciganos "interesseiros, trapaceiros, preguiçosos". A análise dos processos revelou um "background social desfavorecido", como o dos portugueses não ciganos que lá estão. Eram jovens (excepto os portugueses de etnia cigana, de idade mais diversa, e as estrangeiras, mais envelhecidas), com habilitações literárias baixas (tirando os do Leste europeu), percursos laborais não qualificados, residência em bairros pobres ou acampamentos. A professora do Instituto Superior da Maia tentou, de forma mais aprofundada, perceber o que explica este envolvimento criminal. Entrevistou 68 reclusos - 48 homens e 20 mulheres. "As desigualdades e as exclusões sociais desempenham um papel muito forte - não a biologia", enfatiza. "Os estrangeiros que nasceram em Portugal e os imigrantes em idade escolar mencionam a privação económica, a influência de pares, a desestruturação familiar, as exclusões escolar e profissional e a residência em bairros sociais", lê-se, na tese. "Em vários casos, os percursos de exclusão escolar e profissional são apresentados como tendo na base situações de racismo flagrante. " O contexto social, avalia, "determina e limita as "opções" de vida destes indivíduos". Na sua opinião, "a questão geográfica é importante". Há zonas a que as polícias prestam mais atenção. Os jovens oriundos de África, por exemplo, sentem viver em bairros acossados. Há redes familiares e de vizinhança que se transferem para as prisões, como já há muito desvendou outra investigadora da Universidade do Minho, Manuela Ivone Cunha. Nos processos de tráfico, isso parece evidente a Sílvia Gomes, mais ainda entre ciganos, que funcionam muito dentro de uma lógica de família alargada. Há uma rusga num acampamento e a polícia leva "20 ou 30 pessoas". Muitos queixam-se do acesso à justiça, como tantos portugueses em posses. "Não conseguem pagar um advogado", resume. "Acontece muitas vezes o advogado oficioso aparecer só um dia para falar com eles ou conhecê-los só no dia do julgamento. Não dá para preparar uma defesa condigna. "A língua também pode ser entrave, apesar de a lei prever o recurso a intérpretes. A investigadora conheceu quem nem soubesse o motivo da sua reclusão. "Uma mulher estava presa por ser cúmplice num processo de tráfico de droga. Sabia que tinha sido condenada por estar num carro no qual havia droga, mas não sabia o que era ser cúmplice, não conhecia essa palavra. "Houve outros aspectos que a surpreenderam: "Entre os reclusos ciganos há a opinião generalizada de que tiveram pena superior porque o juiz tinha tido uma experiência negativa e não gostava de ciganos. " Relatavam episódios supostamente contados pelos seus advogados, talvez para se desculparem. Parece haver um longo caminho a percorrer, a começar pelos media, que muito contribuem para a construção do que Sílvia Gomes chama "pânico moral". Na sua perspectiva, o país tem de "saber pensar o crime nestes grupos": "Temos de arranjar forma de os conseguir estudar. " A Constituição não permite que a etnia figure na estatística oficial. "Muitos investigadores defendem que essa variável só viria acentuar estereótipos, mas eu acho que os estereótipos já existem e que era bom haver dados que permitissem perceber a realidade. Só assim podemos definir políticas eficazes. "
REFERÊNCIAS:
Entidades PALOP
White trash, ou a pobreza enquanto tradição americana
Brancos, pobres, sem instrução, vivem em comunidades economicamente decadentes e lembram a verdade incómoda: a pobreza é tão antiga na América quanto a própria América. Depois do racismo, a discussão transfere-se para a questão de classe em dois livros reveladores de que há uma história por contar. (...)

White trash, ou a pobreza enquanto tradição americana
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Brancos, pobres, sem instrução, vivem em comunidades economicamente decadentes e lembram a verdade incómoda: a pobreza é tão antiga na América quanto a própria América. Depois do racismo, a discussão transfere-se para a questão de classe em dois livros reveladores de que há uma história por contar.
TEXTO: Os olhos levantaram-se enquanto as bocas continuavam a sorver a sopa. Homens e mulheres debruçados sobre a mesa num restaurante de uma pequena cidade do Ohio reagiam assim, em silêncio, a um estranho que entrava. Nem uma palavra, só um olhar a seguir e a avaliar cada movimento. Vivem ali, raramente saem e desconfiam de quem vem de fora. Pela geografia, pelo ambiente socio-económico enquadram-se na definição geral do que são os hillbillies: operários, brancos, sem formação universitária. "Para esta gente, a pobreza é uma tradição familiar - os seus antepassados ganhavam à jorna na economia esclavagista do Sul, mais tarde foram rendeiros, e depois trabalhadores nas minas de carvão, e maquinistas e operários fabris nos anos mais recentes. Os americanos chamam-lhes hillbillies, rednecks ou white-trash. Eu chamo-lhes vizinhos, amigos e família. "Quem diz disto é um homem de 31 anos, chama-se J. D. Vance e conta num livro como é nascer e crescer nesta cultura. Hillbilly Elegy, a Memoir of a Family and Culture in Crises foi publicado em Junho nos Estados Unidos e está a ser lido como um dos mais profundos testemunhos do que é pertencer a uma comunidade à qual o agora Presidente Donald Trump dirigiu grande parte do seu programa e do seu discurso, e que nas horas imediatas aos resultados eleitorais foi apresentada pelos comentadores como a grande protagonista da sua eleição. O próprio Vance assumiu isso, logo na manhã seguinte e nas páginas do New York Times. "A classe trabalhadora branca de Rust Belt acabou de tornar Donald J. Trump presidente-eleito dos Estados Unidos. "Rust Belt designa a região nordeste e Midwest dos EUA que entrou em declínio económico após a crise industrial, provocando o encerramento de muitas fábricas e consequente perda de postos de trabalho. É esse o território natural de J. D. Vance, que no seu livro conta como conseguiu estudar em Yale e contrariar as estatísticas que apontam um futuro cruel para rapazes como ele: viver de apoio social ou morrer com uma dose de heroína em zonas onde o consumo de droga se transformou numa catástrofe social. "Cresci pobre no Rust Belt, numa cidade siderúrgica do Ohio, desde que me consigo lembrar, em hemorragia de emprego e de esperança", escreveu na introdução ao livro que o levou às principais cadeias de televisão e rádio, a dar entrevistas a jornais e revistas para falar, por exemplo, do que é sentir que não se tem controlo sobre a própria vida e culpar todos os outros - e não a si próprio - por isso. A classe trabalhadora branca de Rust Belt acabou de tornar Donald J. Trump presidente-eleito dos Estados Unidos. "Colocando o foco na questão de classe e não na racial, J. D. Vance afirma que o seu livro é sobre "o que acontece na vida de pessoas reais quando a economia industrial se desloca para Sul", e sobre reagir a circunstâncias más da pior maneira possível. Conclui: o livro é "sobre uma cultura que cada vez mais encoraja a degradação social em vez de a combater". Este é o mesmo Vance, assumidamente conservador, que, na manhã do último dia 9, acusou parte dos media e dos líderes de opinião de não entenderem que possa haver outras motivações que não o racismo a fazer com que muitos americanos brancos, pobres tivessem votado em Trump. "(. . . ) A degradação sentida em certos cantos do país não tem a ver apenas com a economia; é acerca de cada aspecto da vida - desde a família à esperança de vida, ao consumo de droga que tem afectado as comunidade. O sentimento partilhado por grande parte dos líderes de opinião de verem as nossas preocupações enquanto resultado de estupidez, na melhor das hipóteses, ou de racismo, na pior, confirma os piores receios de muitos. Eles sentem realmente que as elites costeiras [da Costa Leste e Oeste] não se importam com eles, o que muitos entre essas elites parecem consentir. "Filho de pais separados, J. D. Vance foi criado itinerante por uma mãe toxicodependente e durante a sua infância conta que conheceu quinze padrastos. Foi com os avós, na cidade de Middletown, sudoeste do Ohio, junto à fronteira com o Kentucky, que conheceu alguma estabilidade e solidificou a sua identidade. "Posso ser branco, mas não me identifico com os WASPs [acrónimo em inglês para branco, anglo-saxónico, protestante] do Nordeste. Identifico-me em vez disso com milhões de operários brancos americanos sem grau académico, descendentes de escoceses e irlandeses", um dos subgrupos que considera "mais diferenciados da América" e dentro do grupo mais pessimista de todos: o da classe operária branca, sem formação académica que votou maioritariamente em Donald Trump (67%). Um grupo, afirma Vance "socialmente mais isolado do que nunca" e que "passa esse sentimento aos filhos”, que possui um forte sentimento de lealdade, é dedicado à família e ao país. Mas. . . "Não gostamos de forasteiros ou pessoas diferentes de nós, seja uma diferença em relação ao aspecto, ao comportamento, ou, mais importante, ao modo como falam", diz J. D. Vance assumindo uma pertença ao grupo mesmo quando o grupo hoje o olha como uma espécie de traidor por ter saído. E a saída foi inscrever-se nos Marines e ir para o Iraque. Quando regressou, foi para a Universidade do Ohio e daí para Yale, uma das universidades da Ivy League. Lá, conheceu a sua mulher, alguém fora do seu grupo, com quem vive em S. Francisco. Vance acentua a importância justamente da linguagem para contar este estrangulamento de classe, mas também regional e social. “Na nossa sociedade tão racialmente consciente, o nosso vocabulário quase sempre se limita à cor da pele de alguém — negros, asiáticos, brancos privilegiados. Muitas vezes estas categorias são úteis, mas para entender a minha história é preciso ser mais detalhado. " A gente de Vance vive ao longo dos montes Apalaches, a gigantesca cordilheira de 2400 quilómetros que começa no Canadá e atravessa vários estados americanos: Nova Iorque, Pensilvânia, Ohio, Pensilvânia, Kentucky, Tennessee, Virginia, Maryland, West Virginia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Georgia, Alabama. "Mais pessimistas do que os imigrantes latinos, muitos dos quais vítimas de uma pobreza impensável. Mais pessimistas do que os negros americanos, para quem as expectativas materiais continuam atrás das destes brancos. Enquanto a realidade permitir algum grau de cinismo, o facto de hillbillies como eu serem mais sombrios em relação ao futuro do que outros grupos - mesmo muitos deles sendo mais miseráveis do que nós — indica que alguma coisa se está a passar”, refere J. D. Vance, transferindo a questão para fora do racismo e considerando que todos os discursos políticos à volta da questão rácica - com toda a carga de culpa, ressentimento, preconceito — têm dificultado e manietado um discurso lúcido sobre a pobreza e o modo como cada americano a vê. E a pobreza atravessa todas as etnias na América, como se entende da leitura de Hillbilly Elegy, mas também de White Trash: the 400-Year Untold History of Class in America, da historiadora Nancy Isenberg. 67% percentagem da classe operária branca, sem formação académica, que votou maioritariamente em Donald TrumpEnquanto o livro de Vance é um relato biográfico — pessoal e familiar — o de Isenberg é um trabalho académico que problematiza e coloca em contexto a pobreza enquanto fenómeno associado a um termo: white trash, ou lixo branco que designa os ignorantes, os irredutíveis, os de uma “crueldade congénita”, apenas capazes de replicar a vida em que nasceram e que corresponde, por exemplo, ao estereótipo da rapariga branca de ar enraivecido que insulta publicamente Elizabeth Eckford quando esta se dirige ao liceu de Little Rock, Arkansas, no momento em que foi permitido a um grupo de alunos negros frequentar uma escola para brancos. Sabe-se que essa rapariga branca nascera e crescera num cenário de extrema pobreza. Era o padrão adaptado ao seu tempo, do branco que servia na fazenda de escravos com trabalhos. “Qualquer seja o tempo, white trash lembra-nos de uma das mais desconfortáveis verdades americanas: a pobreza está sempre connosco”, afirma Isenberg, que coloca a questão de classe como um dos grandes geradores de tensão social do país. Sublinha que o cruzamento entre classe e raça é central para que se conte a história completa, mas enquanto o racismo é encarado como algo a combater por parte do discurso político, a pobreza é geralmente vista como “estando além do controlo humano”. Partindo de exemplos concretos, a professora da Universidade do Louisiana traça um quadro complexo mas claro do modo como a classe é vivida e entendida na sociedade americana. “Por detrás da ira e da ignorância brancas, está uma longa e complicada história de classe e de identidade que data do período da América colonial até às noções britânicas de pobreza. ” E depois o estigma, por incapacidade de adaptação ou inabilidade em criar riqueza. Por isso, tal como J. D. Vance, Isenberg insiste na importância de se perceber os códigos. Termos como trash ou waste (desperdício ou sobra) para designar estes brancos pobres “são cruciais para entender o vocabulário poderoso e duradouro”, escreve Isenberg, alertando ainda que não é mais possível “ignorar a estagnação e o lado descartável” associado às camadas mais baixas da sociedade como fundamentais para “explicar a identidade nacional”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os livros de Vance e de Isenberg foram lançados antes das convenções republicana e democrata, antes da campanha, e são, isolados ou em conjunto, um óptimo auxiliar para tentar perceber a América que acabou de eleger o único candidato que “tentou pelo menos”, como referiu Vance, falar para estes hillbillies ou para os white trash, coisa que não acontecia há décadas. A vitória de Donald Trump vai repercutir-se na cena política europeia. Esquerdas e direitas deverão “imaginar o inimaginável”, como ver Marine Le Pen vencer as presidenciais francesas ou Beppe Grillo dominar a política italiana. Se o querem evitar deverão mudar de vida desde já.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Umas eleições ao contrário com a Frente Nacional à espreita
Com a reforma territorial por terminar, a escolha dos representantes para os departamentos franceses tem muitas novidades e incógnitas. (...)

Umas eleições ao contrário com a Frente Nacional à espreita
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a reforma territorial por terminar, a escolha dos representantes para os departamentos franceses tem muitas novidades e incógnitas.
TEXTO: Nem os franceses entendem bem o que são estas novas eleições departamentais. Este domingo é a primeira vez que se realizam – até agora, para elegerem os órgãos de governação dos departamentos, os franceses votavam nas eleições cantonais, que tomavam o nome dos círculos eleitorais pelos quais elegiam os seus representantes. Mas, com a reforma eleitoral em curso, não foi só o nome que mudou: os próprios cantões foram redimensionados, as competências estão a ser redistribuídas e nem sequer é certo que no futuro próximo continuem a existir departamentos. O crescimento da Frente Nacional (FN) e a implosão do Partido Socialista, a que se junta ainda uma nova forma de escrutínio, deverá ainda fazer com que se inverta a lógica normal das eleições em duas voltas, analisa o jornalista Gérard Courtois, do Le Monde: em vez de se escolher na primeira volta e na segunda eliminar, nestas eleições “vai-se eliminar na primeira volta, e na segunda escolher. ” A UMP de Nicolas Sarkozy – o centro-direita tradicional – e a FN de Marine Le Pen devem ser os mais beneficiados. Mas não é de admirar uma abstenção superior a 55%, ainda que em causa esteja um nível da administração territorial intermédio com importância para a vida quotidiana: é aos departamentos que cabe a gestão dos apoios sociais – como o rendimento social de inserção e a acção social em geral, incluindo o apoio à infância, o turismo, a gestão das bibliotecas e património arquitectónico e museográfico, bem como as estradas e as escolas. Estas eleições, no entanto, podem trazer já uma reorganização de forças importante, ainda que a reforma territorial esteja por terminar. Desde logo, porque são as primeiras que pretendem garantir a paridade absoluta: em cada cantão (círculo eleitoral), as listas partidárias são compostas por um homem e uma mulher. O objectivo é feminizar o nível da administração onde mais imperavam os homens: nas últimas eleições, em 2011, apenas foram eleitas 13, 8% de mulheres para os conselhos gerais dos departamentos. Factor ainda mais importante para os resultados finais: para passar à segunda volta, um par de candidatos tem de ter tido um número de votos equivalente a pelo menos 12, 5% dos eleitores inscritos no cantão em que concorre. Isto terá um impacto especialmente forte à esquerda, que se apresenta desunida, com múltiplas listas, que mais dificuldades terão em conseguir os 12, 5%. Daí as perspectivas arrasadoras de que muitos candidatos PS – e também das outras esquerdas – serão logo eliminados na primeira volta. E se a FN conquistar de facto um ou mais departamentos, o que devemos esperar? O partido tem um programa único, igual para todos os departamentos, tal como para os municípios que obteve no ano passado, dizem os analistas: cortes orçamentais, sobretudo no sector social com a caça à “fraude” nas prestações sociais, a aplicação da política de “preferência nacional”, ou seja, dar prioridade aos franceses “de origem” e não aos que têm raízes na imigração – embora a lei francesa não os distinga – nas creches, nas escolas e outras instituições, por exemplo. Linhas políticas como a preferência nacional são inconstitucionais, explica o sociólogo Sylvain Crépon, especialista em FN. Por isso, é de esperar uma versão light destas ideias, até porque os departamentos não têm grande autonomia para fazer menos do que o previsto pela lei. “Só aplicamos os regulamentos de forma automática”, afirmou ao Libération o conselheiro geral socialista de Haute-Garonne Georges Méric. Mas há escolhas políticas, opções a tomar na redistribuição dos meios atribuídos pelo Estado. As diferenças estarão aí.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Narrativa romântica
Para o Governo, a crise das urgências nunca existiu. (...)

Narrativa romântica
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-03-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para o Governo, a crise das urgências nunca existiu.
TEXTO: Este episódio não é ficcional, apenas lhe retirei as referências do tempo, lugar e pessoa. Não se tratou de uma situação grave, apenas de uma consulta de urgência, entre milhares que acorrem aos hospitais, devido à fragilidade do sistema em cuidados primários. Não ocorreu nem em pico de gripe, nem no “frio extremo de dezembro”. Três conclusões imediatas: as urgências foram desfalcadas de pessoal; os hospitais foram compelidos a filar devedores de dez anos, sem consciência da dívida incumprida, quando em estado de necessidade se apresentem a solicitar tratamento. Um primor de humanização. Os doentes dirigem-se ao sector privado, onde são assistidos mais depressa, com conforto e até por menos dinheiro. Poderá haver quem entenda que os hospitais públicos se tornaram incapazes de resolver problemas ligeiros em tempo útil, estão obcecados pela recuperação financeira, não devolvem o que cobram por serviços não prestados e empurram involuntariamente os doentes para o privado. Nada disso. Para o Governo, na Saúde, apenas houve “frio extremo em dezembro”. Não se observou encerramento de centenas de camas de agudos, o pessoal saído foi sempre renovado, as unidades de saúde familiar continuaram a ser criadas a bom ritmo, os Cuidados Continuados Integrados alastraram como nódoa de azeite, as equipas de urgência não foram reduzidas ao mínimo, não houve emigração de médicos ou enfermeiros, a população não envelheceu, nem se tornou mais dependente, agora até come melhor e goza de boa vida, as horas extras continuaram a ser pagas pelo valor antigo, os ordenados do pessoal não sofreram cortes de um quinto, a classe média não empobreceu, o desemprego nunca existiu e até os chefes de equipa, atingido o limite de idade para urgências, se mantiveram galhardamente ao serviço como rapazes e raparigas de 30 anos. Para o Governo, a crise das urgências nunca existiu. Em 6 de Outubro passado, nestas colunas, anatematizei o comportamento da empresa produtora do, por vender o medicamento a mil dólares americanos, implicando um preço de 84 mil dólares por tratamento. Nos países de mais alta incidência do vírus da hepatite C, o Egipto e a Mongólia, o preço por tratamento baixava para 900 dólares, o que permitiria ao Egipto tratar os seus cinco milhões de infectados por 4, 5 milhares de milhões de dólares. Na Europa, os preços oferecidos eram 60 vezes superiores. Acabaram por descer para metade. O preço agora acordado, que o Governo ainda não revelou, pode até ser inferior. O medicamento é eficaz, teve vendas de cinco mil milhões de dólares logo no primeiro semestre de 2014, mas a concorrência com laboratórios que ultimam ensaios pode vir a fazê-lo baixar ainda mais. O acordo que o Governo celebrou é bom, nas circunstâncias, mas tardio, e fica-se sempre sem saber se não foi a morte de uma doente e outro doente ter exposto o drama perante milhões de telespectadores que sacudiram o Governo de um aparente torpor. O acordo é bom por o preço cobrir todo o tratamento, mesmo os que não tenham resultado na primeira administração; por se limitar a dois anos, dada a alta probabilidade de surgirem competidores que façam baixar o preço; por incluir não apenas osimples ou combinado com o. Mas poderia ser melhor, se tivesse sido obtido mais cedo, se todos os interessados nele estivessem envolvidos (hospitais, comunidade científica, médicos, agência reguladora de medicamentos e representantes de doentes) em tempo oportuno, carreando informação que teria sido útil para a posição negocial do Governo, em vez de deixar cada um a falar para o seu lado, permitindo ao laboratório mobilizar doentes contra o Estado. Todavia, para o Governo, foi o “melhor acordo da Europa”, e conduziu ao que chama "uma partilha de risco entre indústria e Estado"; partilha estranha, pois a única obrigação do laboratório é facultar a repetição sem custos, não a devolução do valor em caso de ineficácia. Um auto-elogio um pouco excessivo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No final da conferência de imprensa em que o Governo anunciou a sua vitória sobre as forças do mal, o presidente da agência reguladora dos medicamentos advertiu os produtores de outros medicamentos de que “este será o início do inferno”, dando a entender que se seguirão negociações com outros medicamentos, de outras indústrias. “Vão para as ruas e infernalizem-lhes a vida” (G), dizia o sargento da esquadra, quando terminava, manhã cedo, o plano diário de intervenção, na famosa série. À nossa modesta dimensão, não nego que seja consolador ver nos dirigentes superiores da administração a coragem que falta a Passos Coelho no diálogo europeu. Exaltante. Mas duvido que o melhor início de negociações tenha de ser uma ameaça. . Quando a narrativa romântica não produz mais efeito, o Governo recorre à bomba de neutrões: os socialistas deixaram os hospitais em falência técnica e graças a nós eles estão agora recuperados! Dois enganos e um pressuposto errado sobre o bom estado dos hospitais, só presente na fantasia ministerial. Os hospitais nunca podem estar em falência técnica quando são estreitamente vigiados, tutelados e dirigidos pela Administração Central do Sistema de Saúde. A falência a ocorrer, deve-se mais a erros de uma tutela abafante do que a fantasias de meros executantes. A perda de autonomia gestionária acentua-se quando a direita governa e mais ainda em alturas de ajustamento orçamental. O segundo engano tem a ver com os “rabos de palha” que este Governo vai deixar nas contas dos hospitais. Ao ritmo da actual suborçamentação o endividamento será a fatalidade necessária.
REFERÊNCIAS:
“O jihadismo não é um problema de integração”
Não há um choque de civilizações, mas diferentes comportamentos no quotidiano. Os muçulmanos querem estabelecer-se em comunidades como uma comunidade à parte, aproveitando a vantagem de viver na Europa. (...)

“O jihadismo não é um problema de integração”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não há um choque de civilizações, mas diferentes comportamentos no quotidiano. Os muçulmanos querem estabelecer-se em comunidades como uma comunidade à parte, aproveitando a vantagem de viver na Europa.
TEXTO: Professor catedrático de Estudos Árabes da Universidade Autónoma de Madrid e membro da Real Academia de História de Espanha, Serafin Fanjul analisa para o PÚBLICO a situação das comunidades muçulmanas na Europa. O seu discurso vai contra a corrente dominante, que encontra na Europa a causa do radicalismo das segunda e terceiras gerações de emigrantes. “O jihadismo não é um problema de integração”, sintetiza. Como vê a evolução do jihadismo na Europa?É bastante claro que o jihadismo está a aumentar de forma muito grave na Europa, sobretudo nos países com comunidades muçulmanas grandes, como a França, o Reino Unido e a Alemanha. Noutros países, como pode ser o caso de Espanha, têm sido detectadas e desarticuladas bastantes células e grupos que se preparavam para actuar na Catalunha, Madrid e Andaluzia. As prisões começaram em 2002, na Catalunha, mas há sectores da sociedade, como a esquerda, que resistem muito em abordar o assunto como o verdadeiro perigo que é. Já na Alemanha, onde a maior parte dos muçulmanos, alguns da terceira geração, são de origem turca, não têm sido defendidas teses de integrismo de tipo violento, e as comunidades tendem, assim, a integrar-se, o que é bem avaliado pela cidadania alemã. Na génese do jihadismo na Europa há um problema de integração?Não acho que seja um problema de integração. Alguns, indivíduos da segunda geração e nascidos em França, tiveram as mesmas oportunidades que os emigrantes espanhóis ou portugueses que nunca se organizaram em grupos terroristas e se dedicaram a trabalhar. A reacção terrorista deve-se a ressentimentos, frustrações pessoais que procuram no passado o refúgio contra a vida social, procuram o culpado na realidade francesa que os rodeia e não neles. Há indivíduos com estudos que arrastam um sentimento islâmico colectivo considerando que o que denominam como fracasso do islão tem origem na Europa, em França ou no Reino Unido, que a sua cultura e religião não foram consideradas como deviam nos últimos 150 anos. Culpam a Europa do atraso dos muçulmanos no século XIX e XX. Depois da Segunda Guerra Mundial, com as descolonizações, a Europa deixou vazios de poder imensos nas ex-colónias e protectorados que foram ocupados. No caso dos países muçulmanos, foram as religiões entrecruzadas com ditaduras militares ou regimes de partido único [que ocuparam o poder]. Esta base religiosa foi sempre respeitada, mesmo pelas ditaduras, tornou-se numa referência ideológica fundamental, única, o que também influenciou sociologicamente o poder do islamismo. O jihadismo tem grande presença em França, um país de um apurado laicismo. Há relação entre as duas situações?Sou partidário da liberdade religiosa, mas penso que na Europa há demasiadas contemplações para com as comunidades islâmicas, inclusivamente ajudas não dadas a outras confissões, como as ajudas para a construção de mesquitas. Um emigrante deve ter os mesmos direitos e obrigações de quem o recebe, mas os muçulmanos querem estabelecer uma comunidade à parte, com legislação própria e aproveitando as vantagens económicas e sociais de viver na Europa. O laicismo francês permite respeitar as actividades das comunidades religiosas sempre que não intervenham no Estado, o que é um bom princípio, embora na prática seja complicado. Já em Espanha há aspectos de tolerância que são absurdos. Dou um exemplo: para tirar o bilhete de identidade está estipulado que nas fotos seja visível todo o rosto, cabelo e orelhas incluído, um princípio aplicado a todos, até às freiras. Mas por decisão administrativa, às muçulmanas é permitida a foto com o cabelo tapado. Diz que há princípios que impedem a plena integração dos muçulmanos. Quais são?Antes de tudo, a endogamia, a política de casamentos das mulheres só com muçulmanos. Já no caso dos homens é diferente, ele é considerado o chefe de família, mas o papel das mulheres na sociedade muçulmana é, para dizê-lo de forma educada, extremamente secundário, de facto a sua representação social é mínima. Outro princípio é o proselitismo. Nos países muçulmanos, o proselitismo de outras religiões está proibido, mesmo em países considerados moderados, como a Tunísia e Marrocos, a conversão de um muçulmano ao catolicismo pode levar a uma pena de prisão de quatro anos. Aliás, na Tunísia e Marrocos, o direito de família está imbuído de princípios islâmicos. Finalmente, existe a apostasia. Se um muçulmano o deixa de ser, é perseguido, e nalguns países, como o Afeganistão e o Paquistão, pode levar à pena de morte.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
“Não podemos encarar o trabalho atípico como natural e irreversível”
Manuela Tomei, directora do departamento para as Condições de Trabalho da OIT, defende que os contratos precários não podem ser a regra. (...)

“Não podemos encarar o trabalho atípico como natural e irreversível”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.05
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Manuela Tomei, directora do departamento para as Condições de Trabalho da OIT, defende que os contratos precários não podem ser a regra.
TEXTO: A responsável da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que esteve em Lisboa para participar numa acção de formação para juízes e magistrados sobre trabalho digno, considera que não se devem “demonizar” os contratos a termo, o trabalho independente ou a tempo parcial que, em certos contextos, têm razão de ser. O problema, alerta a italiana Manuela Tomei, é quando estas formas atípicas passam a ser a normalidade e deixam uma parte dos trabalhadores - os jovens, as mulheres e os imigrantes – condenados “a um futuro de insegurança e falta de dignidade”. O que é que se entende por trabalho atípico?Não há uma definição internacional de trabalho atípico. Consideramos trabalho típico o que é tempo inteiro, sem termo e no quadro de uma relação subordinada com o mesmo empregador. Todo o trabalho que não entra nessa definição é considerado atípico. Tem muitas formas diferentes de se manifestar e várias categorias: o trabalho de duração limitada, ocasional e sazonal; o trabalho temporário que ocorre em regime de subcontratação; as relações de emprego ambíguas, como o caso dos trabalhadores independentes que estão numa situação de dependência económica de um ou dois empregadores; e o emprego a tempo parcial. São fenómenos que estão a aumentar. Identifica uma ligação entre o aumento das várias formas de trabalho atípico e a crise económica e financeira dos últimos cinco anos?Quando a crise financeira estalou, em 2008, Espanha esteve entre os países da União Europeia que registaram uma maior perda de empregos. Porquê? Por causa da elevada incidência de formas atípicas de trabalho, cerca de 40% dos trabalhadores tinham contratos atípicos. Essa experiência mostrou os riscos associados a um mercado de trabalho tão assentes em vínculos flexíveis e surgiu um sinal vermelho, alertando que essa elevada incidência de formas atípicas poderia minar a capacidade de lidar com a crise. Na mesma altura, alguns países, como a Alemanha, apostaram na contenção da perda de emprego. Como medida de emergência apostou-se na partilha de tempo de trabalho, reduzindo as horas de trabalho na mesma proporção a todos os trabalhadores de uma empresa, o que permitiu à Alemanha reduzir a sua taxa de desemprego. Contudo, logo a seguir ao pior período da crise, assim que houve alguma recuperação económica, assistimos novamente a um aumento dos contratos atípicos, o que até certo ponto foi compreensível. As empresas não queriam assumir riscos, dada a incerteza da retoma. Há o risco de os contratos atípicos deixarem de ser excepção e passarem a ser a regra?Não devemos demonizar o contrato atípico. Em certos contextos ele tem razão de ser. O mais importante é não abusar. Assim que a situação económica se consolidar, têm de se valorizar relações laborais mais produtivas para todos. Não podemos encarar certos desenvolvimentos como algo natural e irreversível. Independentemente do tipo de contrato, é preciso oferecer uma certa protecção a todos os trabalhadores. E, ao mesmo tempo, garantir que a transição entre vínculos precários e vínculos mais estáveis possa ser uma realidade, sem condenar as pessoas a um futuro de insegurança, ansiedade e falta de dignidade. Há pessoas que nunca conheceram uma relação clássica de trabalho. Que fenómenos estão a ganhar dimensão?Na última década, temos observado que está em expansão o número de pessoas a trabalhar poucas horas. São os famosos “contratos de zero horas”, muito comuns nos países anglo-saxónicos como o Reino Unido, os Estados Unidos ou a Austrália. Trata-se de contratos em que o empregador apenas chama o trabalhador quando precisa, sem garantir um mínimo de horas de trabalho, e por conseguinte, sem garantir um mínimo de salário. Esta modalidade era contida em termos do número de trabalhadores e respondia à necessidade de as empresas se adaptarem às oscilações da procura e da produção. Agora, mais e mais, há empresas onde a maior parte da força de trabalho é contratada dessa maneira. Este fenómeno traz um conjunto de dificuldades ao trabalhador na planificação e organização a sua vida. Os trabalhadores nessas situações correm riscos específicos?Os riscos dependem do tipo de contrato. Não tenho problema nenhum com um contrato a tempo parcial que dá ao trabalhador o mesmo tipo de direitos dos trabalhadores a tempo completo, que é voluntário e que permite mudar para tempo inteiro a qualquer momento. Mas muitas vezes há diferenças significativas em termos salariais, no acesso aos benefícios sociais, investimento na formação, porque o empregador não quer investir em alguém que vai sair daí uns tempos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos trabalhador mulheres desemprego salário ansiedade
Grávidas devem todas ter médico de família
Medidas de apoio à natalidade ficam aquém das propostas de especialistas. (...)

Grávidas devem todas ter médico de família
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.333
DATA: 2015-04-12 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150412172432/http://www.publico.pt/1692126
SUMÁRIO: Medidas de apoio à natalidade ficam aquém das propostas de especialistas.
TEXTO: O “pacote legislativo” apresentado pela maioria PSD/CDS para remover obstáculos e promover incentivos à natalidade fica muito aquém do proposto pela comissão nomeada pelo Governo para estudar esta questão. Mas há várias sugestões que foram levadas em conta, como a de tornar obrigatório, por lei, que as grávidas passem a ter prioridade na atribuição de médico de família, de forma a serem sempre seguidas pelo mesmo clínico nos centros de saúde. Liderada por Joaquim Azevedo, esta comissão de especialistas propôs, entre outras coisas, a redução, entre duas a quatro horas, do horário laboral para pais e mães com filhos até seis anos, com a diminuição salarial a não dever ultrapassar 50% do ordenado. Sugeriu ainda que as mães pudessem ficar um ano em casa, após a licença parental, recebendo o vencimento por inteiro e sendo substituídas no local de trabalho, sempre que possível, por desempregados. Olhando para os seis projectos de lei e os três projectos de resolução apresentados pela maioria na sexta-feira, o PSD e o CDS preveem agora a possibilidade de os funcionários públicos com filhos ou netos menores de 12 anos trabalharem metade do dia, em troca de 60% da remuneração habitual. A deputada Teresa Anjinho, do CDS, recorda que a hipótese de desempregados ficarem a substituir pais após a licença parental já foi anunciada pelo ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, no âmbito do plano de "empregabilidade parcial". A medida será financiada com fundos comunitários. Outras propostas do mega-pacote lançado pelo PSD/CDS incluem o alargamento, em cinco dias, da licença de paternidade, a reposição dos 4. º e 5. º escalões de abono de família na próxima legislatura, e a alteração do Código de Trabalho, de forma a permitir que quem tem filhos até três anos possa exercer a actividade em regime de teletrabalho, se isso for compatível com a sua actividade . A pediatra Maria do Céu Machado, que integrava a comissão de especialistas, estima, num cálculo por alto, que as medidas agora propostas pela maioria incluem "cerca de 30%" das sugestões apresentadas pelo grupo de trabalho. A solução prevista para os avós (funcionários públicos) faz sentido, acentua, lembrando que muitas vezes são estes que ficam a cuidar das crianças. “É melhor do que nada”, remata a médica. Satisfeita com a medida que prevê a obrigatoriedade de as grávidas terem prioridade na atribuição de médico de família, recorda que tentou, no passado, convencer os responsáveis políticos da importância de as mulheres serem acompanhadas sempre pelo mesmo clínico durante a gravidez, sem sucesso. "Diziam que os diabéticos, por exemplo, podiam reclamar o mesmo direito", recorda. Quanto à proposta que visa tornar universal o acesso à educação pré-escolar para as crianças a partir dos quatro anos (em vez dos actuais cinco), a directora do departamento de pediatria da Hospital de Santa Maria considera-a um avanço, mas lembra que é quando os filhos são mais pequenos que os pais têm mais dificuldades para encontrar creches que possam pagar. Os projectos, que vão ser discutidos na generalidade na próxima quarta-feira, prevêem ainda a elaboração de um relatório anual sobre natalidade em sede de Orçamento do Estado e a criação de um portal da família. O ginecologista Luís Graça não deposita grandes esperanças na eficácia destas medidas. São "apenas gestos de boa vontade", comenta. "Os que os casais querem é estabilidade financeira", diz o médico. "Basta olhar para a quebra da natalidade verificada nos últimos anos para perceber que coincidiu com a desgraça económica do país. Enquanto isso não estiver resolvido, será difícil inverter este fenómeno". A demógrafa Maria João Valente Rosa considera que estas medidas, ainda que possam ajudar, "vão demorar tempo a produzir efeitos". E questiona o facto de não surgir em nenhuma das propostas a questão da imigração e da emigração, que são "fulcrais", porque muitos casais que saem do país estão justamente em idade fértil. Lamenta ainda que não haja metas, custos e impactos quantificados. "Precisamos de uma estratégia, não de políticas aos soluços”, conclui. Já Ana Cid Gonçalves, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, acredita que, "em termos genéricos, as medidas são boas", ainda que observe que, no estudo que fizeram há dois anos, "a grande maioria das famílias" queria reduzir o horário de trabalho em "apenas duas horas". Mas reforça que há muitas medidas positivas e destaca a que permitirá às famílias numerosas pagarem menos 50% de impostos na aquisição de viaturas com mais de cinco lugares, tal como a possibilidade do teletrabalho.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
A Disney é uma máquina, mas faz sonhar
As crianças querem ser cantoras, bailarinas, patinadoras, à semelhança dos seus ídolos, personagens que vêem em programas de televisão como Violetta e, a partir de amanhã, Soy Luna. Investigadores e pais alertam: às vezes é preciso chamar as crianças à terra. (...)

A Disney é uma máquina, mas faz sonhar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: As crianças querem ser cantoras, bailarinas, patinadoras, à semelhança dos seus ídolos, personagens que vêem em programas de televisão como Violetta e, a partir de amanhã, Soy Luna. Investigadores e pais alertam: às vezes é preciso chamar as crianças à terra.
TEXTO: Num hotel no centro de Milão, Karol Sevilla e Ruggero Pasquarelli, as novas estrelas da Disney (ela é Luna, a protagonista de Soy Luna, ele é Matteo, o galã que a tentará conquistar) cantam e rodopiam nos corredores entre entrevistas com a imprensa. Estão a promover a nova série infanto-juvenil Soy Luna — ela de longos cabelos encaracolados, maquilhagem e vestido de saia rodada, sem grandes decotes; ele de blazer e camisa. A imagem deles vai, em breve, estar um pouco por todo o mundo, mas não receiam a máquina da Disney. É uma responsabilidade mas, acima de tudo, um sonho. “A Disney fala sempre de sonhos. Isto é um sonho para mim. O meu sonho está a cumprir-se”, frisa ao PÚBLICO Karol Sevilla, que tem 16 anos. Na série (que será transmitida diariamente no Disney Channel às 20h30), Luna Valente vive com os pais em Cancún, no México, e passa os tempos livres a andar de patins pelas ruas. Um desafio profissional força os pais a mudarem-se para Buenos Aires, na Argentina, e Luna terá de se adaptar a uma nova vida, nova escola e novas amizades, que a levarão a refugiar-se num rinque de patinagem. Estas séries são um ponto de ligação ao mundo. É importante que o entretenimento esteja actualizado e sintonizado com as questões que se colocam na sociedadeNo Clube Desportivo e Recreativo Os Lobinhos, em Belas, as gémeas Maria e Leonor, de sete anos, e Rita, de dez, entusiasmam-se quando se fala de uma nova série onde a patinagem será um dos destaques principais. (“São 80 capítulos sobre rodas. É a primeira vez que a Disney aposta numa série com patinagem”, diz Karol Sevilla, distinguindo-a de Violetta. ). As três irmãs têm aulas de patinagem artística há mais de um ano e a mãe, Sara Cunha Serra, suspeita de que vão ficar “malucas” com Luna. “A Violetta mexia muito com elas. Queriam ser cantoras. Vieram do concerto [no Meo Arena] fascinadas com os vestidos e as luzes. Com esta nova série de patinagem, acho que se vão comparar muito com a personagem. Vão ver se conseguem fazer igual”, exemplifica, pressentindo que esta será mais “educativa” do que Violetta, que se focava demasiado em “namoricos e cantorias”. E prevê que venha a haver “uma procura imensa pela patinagem artística. Quem não conhece vai querer informar-se, quem não faz vai querer fazer. Pode ser bom, é uma modalidade que está um bocadinho esquecida”. As crianças vão-se distraindo com o treino a decorrer no campo do clube desportivo e com um colega que aparece com uns ténis novos com luzes brilhantes, e dão respostas vagas. Maria entoa a música En mi mundo, de Violetta — é a única de que se lembra. “Agora já não está na moda”, esclarece Rita, que na altura da “febre” com a série chegou a ensaiar coreografias para as músicas com as colegas da escola e aprendeu algumas palavras em espanhol. Falam da dificuldade em aprender a patinar — em Milão, Karol Sevilla revelava, entre risos, que antes de começar as gravações de Soy Luna não se conseguia equilibrar nos patins e que todos os actores tiveram seis meses intensivos de aulas — e que até já ficaram com nódoas negras, mas nunca desistiram, uma mensagem também transmitida pelas telenovelas infanto-juvenis. Do ponto de vista narrativo, as séries da Disney têm sempre “uma alteração do estado das coisas, uma dificuldade, algo que é superado, que coloca um desafio e que faz com que a história se desenrole numa tensão entre dois palcos. No caso de Hannah Montana [Miley Cyrus] era entre a sua vida familiar e a vida do espectáculo, neste caso será entre um ambiente anterior, de origem e a mudança”, avalia a investigadora Ana Jorge, que trabalhou o tema das culturas infanto-juvenis durante o doutoramento e é professora na Universidade Católica. É, também, importante reflectirem a sociedade actual e ilustrar problemas com que os jovens se consigam identificar, para estarem preparados para as “vicissitudes da vida”, considera Sara Cunha Serra. “Há coisas que se passaram na Violetta que também já me aconteceram, como uma discussão com uma inimiga”, diz Luana, de dez anos, “ou o sentimento de solidão numa escola nova”, confirma Margarida Braga, da mesma idade. O cenário de mudança de país não é novo, mas torna a série actual. “Estas séries são um ponto de ligação ao mundo”, refere Ana Jorge, evidenciando que este caso de emigração forçada pela crise económica pode ter um apelo mais alargado e potenciar debates sobre o tema. A produção da nova série da Disney começou em 2012, quando Violetta ainda estava a crescer e a tornar-se, pouco a pouco, um ídolo infanto-juvenil. O primeiro vislumbre do que seria Soy Luna foi publicado no canal de YouTube da Disney latino-americana em Janeiro. A 14 de Março, data da estreia na América Latina, a primeira canção Alas já tinha sete milhões de visualizações, milhares de partilhas no Facebook e tornou-se um dos tópicos mais populares do Twitter. Rita sabe o que aí vem — “Deu um anúncio na televisão a contar um bocadinho da história dela”, justifica — mas Maria e Leonor ainda não tinham ouvido a música e ficam fixadas no pequeno ecrã do telemóvel enquanto ouvem Alas e vão perguntando quem é este e aquele personagem, dão palpites sobre quem será a vilã ou a melhor amiga de Luna e reconhecem Matteo como o Federico de Violetta. Margarida Braga e Luana também já sabem tudo o que há para saber sobre a série — sabem os nomes carinhosos que Matteo chama a Luna, como Luna lhe responde, os amigos e os inimigos. Pesquisaram na Internet, viram imagens, vídeos. “Isto tudo e ainda nem começou”, suspira a mãe, Carmen Gravata, que já chamou Margarida “à terra” umas quantas vezes para a menina perceber que o mundo não é só cantoria e que as coisas não são tão fáceis como parecem na televisão. “A Disney tem a fórmula muito bem estudada e é exímia em perceber como as culturas infanto-juvenis se caracterizam em determinado momento”, o que lhe serve para depois apontar para aí os seus produtos, considera a investigadora Ana Jorge. As redes sociais predominam entre os jovens. É lá que vídeos, excertos de episódios e músicas são distribuídos, apresentados aos públicos e depois partilhados. “Isso remete para uma cultura de comunicação e de recomendação entre pares que só acentua a pressão social para que os jovens consumam os mesmos conteúdos num determinado momento”, explica ao PÚBLICO. Ana Jorge realça que a Disney tem vindo a alargar o seu público-alvo (crianças e jovens entre os 5 e os 12 anos) a adolescentes, por “entender que é por aí que pode rentabilizar de outras formas o universo de ficção”. As gémeas Maria e Leonor e a irmã Rita respondem em uníssono quando lhes perguntamos se preferem desenhos animados ou séries televisivas interpretadas por actores. “Parece mais verdadeiro, são pessoas como nós. Nos desenhos animados é tudo falso, não têm quase piada nenhuma”, diz Leonor, confessando que vê alguns desenhos animados quando não é a irmã mais velha, que já gosta mais de assuntos de “crescidos”, a controlar a televisão. Também Margarida e Luana não têm dúvidas: preferem séries “com pessoas”. Perdida a vergonha, atropelam-se entre as frases e admitem que de vez em quando espreitam séries “de adultos” como Investigação Criminal, mas “as legendas são muito rápidas”. As favoritas, por enquanto, são Jessie (2011-2015) e Austin & Ally (2011-2016), actualmente a serem transmitidas no Disney Channel e das quais sabem relatar todos os episódios e vidas das personagens ao pormenor. Ana Jorge explica esta reacção imediata: “Estas séries com histórias ficcionadas com personagens humanas inspiram um tipo de ligação com o público diferente. Para os mais velhos, depois, são propostas outras formas de consumo, como os CD, os concertos, o merchandising”, enumera. Rita, Maria e Leonor tinham camisolas, cadernetas de cromos, lápis, mochilas da Violetta. Chegaram a ter o quarto coberto de posters e queriam, até, lençóis e capas de edredão para as camas. A mãe teve de dizer “não” e apelar ao bom senso. Margarida Braga ainda tem tudo — na Páscoa até recebeu um ovo de chocolate da Violetta, diz orgulhosa — e espalha as suas preciosidades no jardim do CCB. “Esqueci-me de trazer o microfone”, lamenta. “Quando se atinge um certo nível de popularidade, surge uma pressão para o consumo. Essa é uma dimensão importante e não surge por acaso, é pensada desde o início pela Disney. A série é apenas o primeiro ponto de contacto”, explica Ana Jorge. A irmã de Margarida, Bárbara, de 16 anos, acompanhou Hannah Montana e agora já não liga aos fenómenos — e as opiniões, entre os próprios jovens, não são unânimes. “Este tipo de telenovelas não tem grande interesse e as histórias não contribuem muito para adquirir novos conhecimentos. No geral, acho que o objectivo dos canais de televisão, ao passarem este tipo de programa, é fazer com que as crianças gostem das personagens e comprem todo o tipo de mercadoria relacionado com elas”, contrapõe uma adolescente de 14 anos, com uma irmã de sete, da rede Dream Teens — um projecto criado em 2014 pela associação Aventura Social, em parceria com a Fundação Gulbenkian e a Sociedade de Psicologia da Saúde, e que resultou na constituição de uma rede nacional de “adolescentes consultores de saúde”, com coordenação da psicóloga Margarida Gaspar de Matos. Quando se atinge um certo nível de popularidade, surge uma pressão para o consumo. Essa é uma dimensão importante e não surge por acaso, é pensada desde o início pela DisneyO que fazer, então, quando os miúdos querem ter tudo igual às personagens da série? Impor limites “serenos mas firmes”, diz Margarida Gaspar de Matos, que integra a equipa do Health Behaviour in School-Aged Children, da Organização Mundial de Saúde. É responsabilidade dos pais, mas também das escolas, dar “ferramentas aos jovens para se munirem face a estes fenómenos poderosos por parte das indústrias”, continua Ana Jorge, e “pensarem exactamente qual o nível de identificação com estes conteúdos e produtos, se realmente gostam, se é porque estão à frente dos olhos e a pressionar a compra”. Já Luana constata que “é para comprarmos tudo, sim. Eu já não peço nada da Disney há muito tempo. Guardo o dinheiro para as coisas boas, a comida, a água e as coisas para a minha casa nova”. “De uma forma muito prática, quando as crianças e jovens pedem algum tipo de objecto que seja igual aos das personagens das séries, a ideia é que os pais pensem com eles se têm realmente necessidade, o que é que aquele objecto significa, se têm recursos para o comprar, se não é uma questão de moda. E pensar com eles que a série foi feita exactamente para os fazer querer aquele objecto naquele momento, quando há muitas outras opções”, reforça Ana Jorge. Ser personagem da Disney traz uma carga de responsabilidade acrescida — os actores terão milhares de seguidores atentos, dentro e fora do pequeno ecrã. Antes de Karol Sevilla (Luna), já Martina Stoessel (Violetta, 2012-2015) e Miley Cyrus (Hannah Montana, 2006-2011) compunham o rol de celebridades juvenis. Cyrus marcou a passagem para a idade adulta com um corte completo com a Disney — “Não sou a Disney. Não quero saber”, dizia à norte-americana W Magazine em 2014 — com línguas de fora, nudez ou linguagem rude (e os álbuns Bangerz de 2013 ou Miley Cyrus & Her Dead Petz de 2015 que fazem esquecer Hannah Montana); Stoessel deu concertos em nome próprio e envolveu-se em nova produção cinematográfica, Tini — A Grande Mudança de Violetta (com estreia marcada para 5 de Maio), que aborda as pressões com que teve de lidar e a sua vida pós-Violetta. “Temos de ser muito responsáveis e passar mensagens sempre positivas”, diz Pasquarelli, de 22 anos, que também entrou no fenómeno Violetta, com um papel secundário. Ao seu lado, Karol Sevilla fica séria e reconhece a responsabilidade. “Temos uma equipa muito grande que cuida da nossa personagem e da sua história. Mas temos de cuidar de nós”, diz, sobre a aparência física e a linguagem que devem ter em entrevistas e contacto com o público. “A verdade é que também depende da forma como te educaram em casa, nós somos assim na nossa casa, somos pessoas bem-educadas e sem maus pensamentos e isso depois não custa quando o passamos para o trabalho”, continua. Temos uma equipa muito grande que cuida da nossa personagem e da sua história. Mas temos de cuidar de nós”Com o sucesso das séries televisivas, os actores têm um impacto crescente nas decisões de jovens e crianças — mas se os mais novos se querem vestir à imagem e semelhança da sua personagem favorita, a ideia de mimetização por parte de adolescentes em relação ao comportamento dos seus ídolos é “uma espécie de mito”, afirma Ana Jorge. No caso de Miley Cyrus, a hipersexualização pós-Hannah Montana traduziu-se em desilusão e ressentimento ou, por outro lado, criou um fascínio distante face à transgressão. “Por vezes, é uma oportunidade para viver, através da vida de outra pessoa, uma coisa que nós próprios não faremos”, exemplifica a professora da Universidade Católica. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os comportamentos dos ídolos juvenis criam, antes, “formas de questionar” e uma boa oportunidade de diálogo. O fenómeno deve ser desmontado, avaliado e criticado em ambiente escolar e familiar, defende Ana Jorge. “As coisas mais díspares podem ser aproveitadas para uma boa reflexão em família”, corrobora a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, realçando que os próprios comportamentos e atitudes das personagens podem “facilitar a comunicação em família”. “Em última análise, demasiado tempo em frente ao ecrã é menos tempo para outras actividades de lazer mais diversificadas, como ler, tocar um instrumento, conversar, pintar, desenhar”, prossegue Margarida Matos, “mas também ninguém vai querer ter um filho que é o único na escola que não sabe quem é a Luna”. É preciso conta, peso e medida e novos tipos de programação televisiva no serviço público. Deveria questionar-se a “dominação destes produtos de uma indústria poderosa como é a Disney como sendo a única forma de cultura/lazer para os jovens. O importante é dar-lhes mais opções”, defende Ana Jorge, e é urgente estes temas entrarem na agenda da educação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cultura campo filho educação adolescente social consumo espécie vergonha
Web Summit com 5% de portugueses entre os oradores confirmados
Durão Barroso, Luís Figo, e o banqueiro Horta Osório estão entre os nomes confirmados. A comissária europeia Margrethe Vestager também subirá ao palco. (...)

Web Summit com 5% de portugueses entre os oradores confirmados
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Durão Barroso, Luís Figo, e o banqueiro Horta Osório estão entre os nomes confirmados. A comissária europeia Margrethe Vestager também subirá ao palco.
TEXTO: A Web Summit divulgou os primeiros 200 oradores para a conferência deste Novembro: as vozes escolhidas – de sectores que vão desde o desporto, passando pela política, turismo e alterações climáticas – devem mostrar que a tecnologia é relevante em todas as áreas. Entre os oradores estarão o banqueiro e actual director executivo do banco britânico Llyods, António Horta Osório e a comissária europeia da competição, Margrethe Vestager. No total, vão existir 18 palcos para os mais de mil oradores previstos. Para já, há perto de 5% de portugueses a representar empresas nacionais ou internacionais na maior feira de tecnologia e empreendedorismo da Europa. O ex-futebolista Luís Figo é um dos nomes confirmados na área do desporto. Tal como o ano passado, vai falar da aplicação móvel Dream Football que permite que jovens com ambições no futebol partilhem um portfólio de vídeos a jogarem para clubes à procura de novos talentos. Entre os portugueses que sobem novamente ao palco está também o director executivo da Veniam, João Barros, para falar de tecnologia para carros autónomos, e o antigo presidente da Comissão Europeia e actual chairman do Goldman Sachs, Durão Barroso, para falar do sector financeiro. O impacto de decisões políticas como o Brexit e as novas políticas de emigração nos Estados Unidos será um dos temas de grande foco. “Há mais empresas de tecnologia a mudarem-se para a Europa, com as novas políticas de imigração de países como o Reino Unido e dos Estados Unidos", acentuou Eleanor Mc Grath, responsável pela comunicação da Web Summit, en declarações à imprensa. A empresa acredita que estas mudanças possam impulsionar o desenvolvimento do sector tecnológico europeu. Além das mudanças políticas, a Web Summit quer falar das mudanças climáticas. Para tal, o projecto Planet:tech – que se estreou no evento Collision da Web Summit – vai também ter um palco. “É importante perceber como é que a tecnologia pode estimular a luta contra as alterações climatéricas”, disse Mc Grath. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave, foca ainda o poder do Web Summit para juntar pessoas influentes dos sectores público e privado para debater o potencial da tecnologia com o Forum (um sub-evento integrado na feira, com um limite de 500 lugares). "[É] um local que une este grupo de figuras proeminentes para discutir os vários desafios que nos afectam diariamente", diz Cosgrave, em comunicado. Tal como nas edições anteriores, a feira de empreendedorismo também mantem a missão de trazer mais mulheres. Na lista de presenças confirmadas, os nomes de mulheres surgem primeiro na lista, mas ainda só representam 19% do total. Este ano há também uma promoção de 90% de desconto no bilhete para mulheres (ou seja, pagam 85 euros ao invés dos tradicionais 850). A Web Summit ocorre em Lisboa, entre os dias 6 e 9 de Novembro.
REFERÊNCIAS: