A América no fundo de desemprego
Os americanos receiam que os seus melhores dias estejam para trás. Para uma parte da população, os efeitos da crise são hoje mais intensos do que há dois anos. Três desempregadas contam-nos como vivem. (...)

A América no fundo de desemprego
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os americanos receiam que os seus melhores dias estejam para trás. Para uma parte da população, os efeitos da crise são hoje mais intensos do que há dois anos. Três desempregadas contam-nos como vivem.
TEXTO: Nada dura uma vida inteira na América, diz Lisa Bass. Mas o que acontece numa recessão é que um mal nunca vem só. Depois de Lisa perder o seu emprego numa empresa de marketing em Bethesda, Maryland, em Novembro do ano passado, o namorado dela, que sempre trabalhara na indústria automóvel, foi despedido. “Portanto, vimo-nos os dois sem emprego e sem dinheiro, ao mesmo tempo. ” Recorreram ao subsídio de desemprego, mas o processo dele foi disputado pelo ex-patrão, que negou que ele tivesse sofrido um ataque de coração. “Durante vários meses, vivemos com o meu subsídio de desemprego. E a única coisa que nos aguentou foram doações de amigos e familiares. ” Lisa convenceu o namorado a pedir assistência alimentar. Existe um programa governamental que atribui subsídios alimentares a famílias com poucos rendimentos. São vulgarmente conhecidos como food stamps. “Dão-nos 100 ou 150 dólares por mês que só podemos gastar em bens alimentares no supermercado. Não podemos comprar comida preparada nem detergentes. ” O namorado de Lisa nunca tinha recebido assistência alimentar na vida, o seu orgulho atingiu o fundo. “Foi muito desconfortável para ele. ” Lisa também gastou as poupanças que tinha feito para a reforma. Dois anos depois de uma eleição presidencial histórica, em que a América acreditou que os seus melhores dias ainda estavam para vir, o sentimento que tem dominado a campanha das eleições para o Congresso é o oposto. Raiva, medo, desilusão e ansiedade têm sido as palavras usadas para descrever o temperamento do eleitorado. A classe média sente que está a ser comprimida. Nos últimos meses, repetiu-se que a economia e a criação de emprego são os temas decisivos dessas eleições – e, logo a seguir, a classe política e os media distraíam-se com qualquer outra coisa: o Tea Party, a imigração ilegal, a mesquita perto do Ground Zero. A pior recessão desde os anos 30 causou a perda de 8, 4 milhões de empregos. Há mais de um ano que a taxa de desemprego está nos 9, 5 por cento ou acima. O Fundo Monetário Internacional prevê que ela se deve manter inalterável em 2011. A crise económica nos Estados Unidos provocou recordes infelizes: o tempo médio para encontrar trabalho subiu para as 35, 2 semanas, o número de americanos a depender da assistência alimentar – os food stamps – ultrapassou este ano os 40 milhões, pela primeira vez. O número de habitações devolvidas aos bancos por incumprimento das hipotecas deverá atingir os dois milhões no final deste ano. Para uma parte da população, os efeitos da crise são hoje mais intensos do que há dois anos. Em Dezembro de 2008, uma sondagem do Washington Post revelou que 37 por cento dos americanos estavam “preocupados ou bastante preocupados” com o pagamento mensal das suas rendas ou empréstimos de habitação. Quase dois anos depois, 53 por cento dizem-se “preocupados ou bastante preocupados”. Muitos culpam a administração Obama por não se ter concentrado mais na economia, em vez de legislar como se não houvesse amanhã, particularmente em reformas não tão populares assim, como a do sistema de saúde. Excessivo optimismoÉ hoje sabido que a Casa Branca foi demasiado optimista. Em Dezembro do ano passado, o relatório do Gabinete Nacional de Estatística Laboral (U. S. Bureau of Labor Statistics) mostrou que o desemprego tinha parado de crescer, ao fim de dois anos. A tendência manteve-se durante breves meses. A equipa económica de Obama interpretou-o como um sinal de recuperação, o que retirou o sentido de urgência que existira até então. Obama e o Partido Democrata teriam melhores perspectivas neste momento se se tivessem focado exclusivamente na economia e criação de emprego? Ninguém sabe.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração ataque medo desemprego ilegal ansiedade
Fraude com fundo de vítimas do Holocausto nos EUA
Gestores de um fundo de compensação a vítimas do Holocausto estão a ser acusados de fraude nos EUA. Em causa estão mais de 42 milhões de dólares de verbas vindas da Alemanha. (...)

Fraude com fundo de vítimas do Holocausto nos EUA
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gestores de um fundo de compensação a vítimas do Holocausto estão a ser acusados de fraude nos EUA. Em causa estão mais de 42 milhões de dólares de verbas vindas da Alemanha.
TEXTO: Os responsáveis não só deram dinheiro a pessoas não elegíveis para receber as compensações, como desviaram ainda uma parte para si próprios. O alegado líder do grupo seria Semyon Domnitser, um imigrante russo que durante onze anos esteve encarregado de gerir dois grandes fundos na Conferência de Reclamações Materiais Judaicas contra a Alemanha, uma ONG criada em 1951 para distribuir verbas de compensação da Alemanha a sobreviventes do Holocausto. Mas segundo a acusação, uma boa parte do dinheiro foi dado a judeus idosos da antiga União Soviética e Leste europeu a viver em Brooklyn. Não é no entanto clara a extensão da fraude, dizem as autoridades dos EUA. “Em alguns casos as pessoas não era elegíveis, mas certamente sofreram durante a guerra. Ainda estamos a tentar perceber isto. ”Mas nem sempre: noutros casos, usando histórias – e documentos – falsas, para provar que as pessoas tivessem vivido num gueto, por exemplo, algumas pessoas candidataram-se a benefícios mesmo tendo nascido já depois da guerra. Segundo a acusação, um dos beneficiários nem sequer era judeu. Depois da organização ter desenvolvido procedimentos para impedir candidaturas fraudulentas, um funcionário que estava a ajudar os investigadores recebeu ameaças de morte. E pelo menos dois suspeitos tentaram alegadamente impedir a investigação oferecendo às testemunhas subornos de mil dólares para mentir às autoridades federais.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Casa de José Saramago em Lanzarote será uma "casa-museu vivida com cheiro a café português"
A viúva de José Saramago, a tradutora e jornalista espanhola Pilar del Río, não pára. Dá-nos uma lição sobre o que fazer quando a morte nos estraga a vida. (...)

Casa de José Saramago em Lanzarote será uma "casa-museu vivida com cheiro a café português"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A viúva de José Saramago, a tradutora e jornalista espanhola Pilar del Río, não pára. Dá-nos uma lição sobre o que fazer quando a morte nos estraga a vida.
TEXTO: Novembro é o mês de José Saramago. Numa entrevista à Visão, em 2005, o Prémio Nobel da Literatura 1998 contou que a determinada altura da sua vida foi "à procura da grande biblioteca, as Galveias, que não seria tão grande assim, mas para [ele] era o mundo". Na próxima terça-feira, dia em que o escritor português faria 88 anos, é atribuído o nome "Sala José Saramago" à principal sala da Biblioteca Municipal Palácio Galveias, em Lisboa. No dia anterior é lançado o livro José Saramago nas Suas Palavras, com organização e selecção do espanhol Fernando Gómez Aguilera (ed. Caminho) e a 18 de Novembro, no Palácio Galveias, realiza-se uma leitura da tradução de José Saramago do romance Anna Karenina, na iniciativa León Tolstoi e José Saramago - Dois Aniversários. Nessa noite, no Lux-Frágil, há o concerto de apresentação da banda sonora do filme José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, que se estreia também neste dia nas salas de cinema portuguesas. Pilar del Río estará em Lisboa na próxima semana, mas em São Paulo, na cerimónia do Prémio Portugal Telecom de Literatura 2010, onde o seu marido foi homenageado, falou com o P2 sobre os novos projectos da Fundação José Saramago, de que é presidente. A casa de ambos em Lanzarote irá funcionar como casa-museu com "cheiro a café português" e terá uma residência para escritores seniores. Lição sobre o que fazer quando a morte nos estraga a vida. José Saramago morreu a 18 de Junho e na próxima semana comemora-se o aniversário do seu nascimento. A Fundação José Saramago até chama a Novembro mês de Saramago. Estamos a trabalhar todos os dias: digitalizando material, preparando eventos. E além dos projectos que estão marcados para Lisboa durante a próxima semana, na comemoração do aniversário de José, a fundação projecta também acções de iniciação à leitura por todo o país, de norte a sul, um trabalho com miúdos para os iniciar no prazer da leitura. Um dos nossos objectivos é que a leitura seja um prazer. Queremos que as pessoas se vinculem a livros e, por isso, vamos lançar o Prémio de Fotografia Retratar Um Livro. A ideia é que, ao lerem um livro, os leitores encontrem uma imagem. Tirem uma fotografia, retratem algo. Vamos começar com a obra Nome de Guerra, de Almada Negreiros. Essas fotografias percorrerão depois o país, funcionarão como uma síntese desse livro. O projecto vai ser anunciado oficialmente por estes dias. Continuamos com a recuperação de autores que estão em zonas de sombra e está a ser feita a digitalização e reorganização de toda a obra de José Saramago que passará a ser de consulta pública na Casa dos Bicos. O que está a ser digitalizado? Os arquivos que se começaram organizar para a exposição A Consistência dos Sonhos?Sim e são arquivos vastíssimos. A exposição A Consistência dos Sonhos está montada e continua em exibição. Em breve vai para Madrid e depois para Itália, aumentada e completada, porque entretanto não só houve a morte de José, como se publicaram quatro livros novos, há umas quantas experiências novas, artigos de imprensa, etc. Onde ficarão esses documentos?Todo esse material irá para a Casa dos Bicos, em Lisboa. São papéis, primeiras versões, rascunhos, correspondência com outros escritores. Tudo o que é primeira mão de José Saramago ficará na Casa dos Bicos. Quanto ao resto. . . como a Casa dos Bicos não é um espaço infinito, é, aliás, muito limitado, a biblioteca de Saramago não cabe lá. Então, ficarão em Lisboa os livros que foram fundamentais para a formação de Saramago: os que ele traduziu; os que para ele foram definitivos. Os outros ficarão na biblioteca em Lanzarote, em Espanha, que vai ficar aberta ao público com uma dupla vertente. Funcionará tal como agora - já emprestamos livros -, mas estará também aberta para visitas do público. Tanto a minha casa de Lanzarote como a biblioteca. Vai haver um itinerário e durante várias horas do dia vai poder visitar-se o escritório onde Saramago escreveu Ensaio sobre a Cegueira. . . Como se fosse uma casa-museu?Uma casa-museu vivida. Durante várias horas estará aberta ao público e vai cheirar a café, porque vamos dar café português a todas as visitas. Passarão também pela cozinha, que é aberta, sairão pelo jardim. Irão à biblioteca e à sala de reuniões onde verão fotografias de Saramago em Lanzarote ou dele com escritores. A partir das três da tarde acabam as visitas e a casa continuará a ser vivida pelas pessoas que a habitam e que lá estão. Outro projecto que não é conhecido, porque ainda não se anunciou, é que por cima da biblioteca fizemos um apartamento. Um apartamento com uma vista maravilhosa, com uma sala grande, vários quartos, e estamos agora à procura de um patrocínio para passar a ser uma residência para um escritor sénior. Porquê sénior?Já há o Prémio José Saramago para escritores jovens, agora será para escritores já com alguma idade e que precisem de repouso. Estamos à procura de uma bolsa, que seja boa, patrocinada por uma entidade corajosa e nós colocamos à disposição a casa, a biblioteca. Queremos que os escritores que ali fiquem venham de todo o mundo, a única coisa que lhes vamos pedir é que dêem uma conferência, tenham um encontro com os leitores. Foi uma ideia de Saramago?Era uma ideia que ele tinha. As duas últimas visitas de escritores que tivemos em casa, que foram entre Fevereiro e Março, e o meu marido ficou doente em Abril, foram de dois escritores de reconhecido prestígio: Mario Vargas Llosa e Claudio Magris. A ambos Saramago ofereceu que, quando quisessem ir passar uma temporada ali, que fossem. Tem outras ideias para Lanzarote?Pretendo também que a sala de reuniões, onde se podem sentar 16 pessoas à volta de uma mesa grande, esteja à disposição de entidades culturais e de governos que queiram considerar que a jangada de pedra é Lanzarote. Que somos uma jangada entre a Europa, África e América e que, se querem reunir-se os países dos PALOP, se querem reunir-se para o Prémio Camões ou para o Prémio Cervantes, se querem reunir-se júris ou sessões culturais que tenham a ver com vocação de encontros entre América, África e Europa. . . a meio do oceano está uma jangada de pedra que ponho à disposição para esse fim. A sala estava idealizada assim, porque achávamos que a fundação também devia ter uma sede ali, enfim, tudo eram sonhos que não se puderam cumprir, porque a morte nos estragou a vida. A Casa dos Bicos, em Lisboa, onde ficará a funcionar a sede da fundação, abrirá para o ano?Espero e confio - e não ponho velas a santo António Costa porque não sei se santo António Costa é santo [risos] - que a 18 de Junho, aniversário da morte de José Saramago, se possam depositar as cinzas de Saramago em frente da casa e que esta esteja em condições. Há um projecto para mudar aquela área em frente à casa? Têm de remodelar a zona. Aquilo é um parque e tem de ser um jardim. Está dentro do plano de recuperação dessa zona de Lisboa. Então, o que vai ser? Diante da fundação, em algum lugar, vai haver simplesmente uma pedra, onde se inscreva: "Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia" (in Memorial do Convento) e um banco para que as pessoas se possam sentar olhando o rio, junto a uma oliveira. O resto têm de resolver. Tem de ser um lugar onde se possa espairecer e não pode ser um lugar de carros. É uma zona principal de Lisboa, tem um edifício emblemático de Lisboa, aquele lugar tem de ser recuperado. Estamos em Novembro e até Junho há tempo para o fazer, porque há muita mão-de-obra parada, muitas pessoas dispostas a trabalhar. São quantos andares?Quatro, quando vistos de fora, cinco na realidade. O piso da entrada é da Câmara Municipal de Lisboa e será o Centro de Interpretação Arqueológica, onde estão os restos romanos, árabes, as salgadeiras. No segundo piso, que se vê da rua, serão mostradas exposições temporárias, que vão rodando, relacionadas com o escritor e a obra: Saramago no seu tempo, Saramago e os escritores, livros que Saramago amou, como escreveu Memorial do Convento. . . No terceiro andar estarão as instalações da fundação propriamente dita e aí ficará também a direcção da Casa dos Bicos, que terá um responsável. E o quarto piso, que é o último que se vê da rua, é o da biblioteca. Será um sítio de trabalho, de investigação, de arquivo, etc. Esses arquivos estarão abertos a todo o público ou só a investigadores?Ainda não sei qual é tipo de protocolo que existe. Não sei como funciona, nem qual vai ser o tipo de segurança. Por fim, no último andar, que não se vê da rua, haverá todos os dias apresentações de livros, concertos, música de câmara, filmes não comerciais, debates, toda uma série de actividades que serão umas organizadas pela fundação e outras não. Pode ser uma apresentação de livro de uma editora que solicita o local, uma conferência de imprensa ou um congresso. Disse que a Casa dos Bicos terá um director?Haverá um director. José Saramago falou com uma pessoa, não posso dizer agora quem é, porque será o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, a anunciar esse nome. Será um curador para esses eventos e exposições?Será director da Casa dos Bicos, desde os actos que se realizarem no último andar até à organização da casa. Será uma pessoa com um altíssimo nível cultural, com capacidade para programar em distintos âmbitos culturais, seja da literatura, seja da música ou do cinema. É uma pessoa muito bem preparada, está relacionada com a universidade também, foi reitor. Pediu a nacionalidade portuguesa, já a conseguiu? Como está o processo?Um pouco atrasado, porque eu já não sou a mulher de um português, sou a viúva. Estou a fazer tudo pela via normal, como qualquer pessoa que pede a nacionalidade, alego coisas que para a burocracia não significam nada, como razões sentimentais. Quero pertencer ao país que produziu José Saramago e parece-me que sendo "presidenta" de uma fundação portuguesa, devo ser portuguesa. Não contam os anos que viveu cá?Nunca entendi a lógica burocrática. Claro que vivi ininterruptamente durante anos em Portugal. Suponho que não haverá problemas, porque estão a ser seguidos os trâmites burocráticos, como acontece com qualquer outro imigrante. O que não tenho é uma situação de privilégio. Um leitor colocou um comentário no Facebook da Fundação José Saramago e eu nunca tinha pensado nisto. Ele dizia que quando Pessoa morreu, Ricardo Reis, que vivia no Brasil, sentiu a necessidade de regressar a Lisboa. Quando Saramago morreu, Pilar del Río sentiu a necessidade de vir para Portugal e de ter a nacionalidade portuguesa. Parece-me uma razão mais do que suficiente para não ter a mínima dúvida. Entretanto em Espanha, em Abril, um acórdão do tribunal superior espanhol condenou Saramago a pagar ao Tesouro de Espanha impostos relativos aos anos fiscais de 1997, 98, 99 e 2000. São mais de 700 mil euros. O seu advogado pediu recurso ao Supremo Tribunal de Justiça. Ainda está em tribunal. Entendo pouco do assunto, porque não compreendo a lógica administrativa, legal. José Saramago tinha um só um centro de actividade económica - porque tudo o que ele recebia era através da sua agente literária, que enviava para a editorial Caminho, e por sua vez o editor Zeferino [Coelho] enviava para a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Era-lhe descontado nos impostos e ele pagava, religiosamente, sem aldrabar nada, sem engenharias financeiras. Saramago era cidadão português. Era em Portugal que tinha a sua residência fiscal e legal, uma casa. . . Em que momento tinha de retirar dinheiro para pagar em Espanha? Já o perguntei muitas vezes aos inspectores e não me explicaram. Não sei. É um processo que se arrasta há muito tempo. Houve uma inspecção. Houve quatro problemas: três conferências e um artigo jornalístico no El País, onde Saramago colaborava habitualmente. Parece que em vez de ter descontado os 23 por cento como cidadão estrangeiro, descontou apenas 17 por cento. Esse é o único problema que Saramago tem: um erro burocrático de que ninguém se apercebeu. É um erro e ele disse que pagava a multa por isso. Mas sempre disse que por pagar os impostos no seu país nunca pagaria nenhuma multa. Porque Saramago não era um tenista, nem fez como alguns cantores ou artistas que saem do seu país e dizem que moram num paraíso fiscal para não pagar impostos. Não. Saramago pagava no seu país e não vai ser penalizado por o fazer. Também não vai ser penalizado por estar casado com uma espanhola. Confirma que durante este processo ele pediu ajuda ao Governo português?Sim. Sentiu-se acusado injustamente e pressionado pelo fisco espanhol e, como cidadão, pediu amparo ao Governo de Portugal. Falou com o primeiro-ministro e com o ministro das Finanças. E pouco tempo depois, o primeiro-ministro de Espanha e o primeiro-ministro de Portugal disseram-lhe que o assunto estava resolvido, que era um problema burocrático. E agora estamos nos tribunais. Viveu até ao último dia com esta dor. Com a dor de ter vivido honestamente toda a vida e uns senhores, sem se saber porquê nem como, a questionarem a sua honestidade. O escritor deixou um inédito, Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas!, referência a um verso de Gil Vicente, um romance sobre o tráfico de armas de que escreveu 50 páginas. Já sabem o que vão fazer com ele?Não. O texto é tão absolutamente maravilhoso, tão útil e necessário que tem de ser publicado e vai ser publicado. Mas sairá de uma forma que tem de ser comovente, mas não comovedora de estremecimento emocional. Como? Ainda não o sei. Neste momento, o editor português, o brasileiro, a espanhola, o italiano e o norte-americano estão à procura da fórmula. São umas páginas tão extraordinárias que devem ser publicadas de forma especial. Na próxima semana estreia-se nas salas portuguesas José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes. Disse ontem [segunda-feira, dia 8] na cerimónia do Prémio Telecom que adorou o filme. As pessoas que nunca conheceram José Saramago diziam dele que era um homem vaidoso e distante. As pessoas de todo o Portugal que o conheciam - pois Saramago percorria Portugal - sabiam que era um homem acessível, cordial, afectuoso. Quem não o conheceu ou não pôde conhecê-lo, principalmente alguns fazedores de opinião, mostraram a imagem de um homem distante, soberbo. Esses vão ter agora de engolir um sapo, porque toda a gente vai ver como era Saramago. Era tímido? Claro que sim. Era melancólico? Sim. Mas era de uma afabilidade e cordialidade e de uma capacidade de expressão extremas. Era um homem de uma sensibilidade. . . era neto do avô Jerónimo. Era um camponês e um aristocrata do pensamento e das letras. Por outro lado, tinha o orgulho e a satisfação do homem da terra que vê crescer o trigo. Era um homem absolutamente admirável. Desde a sua morte, Pilar del Río ainda não parou. Olha, não tenho por que parar. Tenho só 60 anos. A jornalista viajou a convite da Portugal Telecom
REFERÊNCIAS:
Cáritas: Período negro da crise ainda não chegou
A Cáritas Portuguesa advertiu hoje que “o período negro da crise ainda não chegou” e que o desemprego vai subir e será de longa duração, recomendando “um menor despesismo” e uma “luta permanente contra as assimetrias sociais”. (...)

Cáritas: Período negro da crise ainda não chegou
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.16
DATA: 2010-11-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Cáritas Portuguesa advertiu hoje que “o período negro da crise ainda não chegou” e que o desemprego vai subir e será de longa duração, recomendando “um menor despesismo” e uma “luta permanente contra as assimetrias sociais”.
TEXTO: Uma vez “que a taxa de desemprego vai subir e este será de longa duração, o período negro da crise ainda não chegou”, lê-se no comunicado final do Conselho Geral da instituição, que reuniu em Fátima representantes de 19 das 20 Cáritas Diocesanas do país. No documento, a Cáritas reitera que “muitas famílias não conseguem fazer face às despesas, o que torna a crise mais profunda”, reconhecendo, por outro lado, que “uma parte significativa da população caiu no consumismo desenfreado, não alimentou hábitos de poupança e não cooperou civicamente a favor da solidariedade e da superação da crise”. A instituição considera também que existem na sociedade portuguesa situações que exigem “profunda reflexão”, como a “escassa penalização dos rendimentos mais elevados, incluindo as pensões de reforma”, ou a “diminuição de salários da administração pública”. “O notório prejuízo das famílias mais numerosas no que respeita ao abono de família, a diminuição de algumas prestações sociais, sem perspectivas da renovação da acção social a favor das pessoas mais carenciadas, o aumento do custo do sistema de justiça, que já era insustentável para os cidadãos de baixos rendimentos, e o aumento do custo de vida, através do aumento do IVA” são para a Cáritas outras matérias a merecerem reflexão. Perante os problemas económicos, a instituição aconselha a “menor despesismo na sociedade portuguesa” e à “luta permanente contra as assimetrias sociais”, formas de actuação que a Cáritas acredita que “ajudam na coesão social deste país e na eliminação da crise vigente”. Admitindo “dificuldades”, a Cáritas sustenta que este não é o momento para desistir, mas, pelo contrário, “empenhar-se cada vez mais no serviço da caridade”. “O auxílio destes organismos tem sido uma pedra preciosa às famílias fragilizadas”, realça a instituição, exemplificando: “O combate ao aumento do número de desempregados, situações de fome, ajuda na compra de medicamentos e no pagamento das rendas habitacionais, e o apoio a imigrantes, toxicodependentes, alcoólicos e idosos são formas das Cáritas mostrarem o seu serviço à luz da Doutrina Social da Igreja”. Segundo a instituição, além da “falta de recursos financeiros”, as famílias debatem-se igualmente com necessidade de “apoio na área psicológica e espiritual”, que entende ser “premente”. Sublinhando que “o actual modelo de desenvolvimento económico e, em especial, o sistema económico está em causa”, o comunicado final do Conselho Geral da Cáritas insiste no “carácter estrutural” dos problemas económicos e sociais do país e alerta para a insuficiente impregnação na economia e em toda a sociedade dos “valores e princípios éticos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome ajuda negro social desemprego
Faro: pedidos de ajuda para alimentação aumentam de 80 para 500 num ano
O número de refeições distribuídas diariamente pelo Centro de Apoio aos Sem Abrigo (CASA), em Faro, no Algarve, aumentou de 80 para 500 nos últimos 14 meses. (...)

Faro: pedidos de ajuda para alimentação aumentam de 80 para 500 num ano
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: O número de refeições distribuídas diariamente pelo Centro de Apoio aos Sem Abrigo (CASA), em Faro, no Algarve, aumentou de 80 para 500 nos últimos 14 meses.
TEXTO: “Estamos a dar de comer a um por cento da população de Faro. Há 14 meses cerca de 80 pessoas recebiam refeições, mas desde essa altura que as ajudas subiram, exponencialmente, e estamos a dar alimento a 500 pessoas por dia”, disse hoje à Lusa Pedro Cebola, coordenador da CASA, em entrevista à Lusa. A CASA, uma Instituição Particular de Solidariedade Social fundada em Faro há três anos, iniciou o seu trabalho entregando na rua refeições aos sem abrigo, especificamente a toxicodependentes e alcoólicos, e tem actualmente cerca de 300 voluntários. “Cerca de 70 por cento das pessoas que hoje nos pedem ajuda para comer são desempregados, casais em que ambos caíram no desemprego, avós com netos à sua guarda que ficaram sem apoios sociais e reformados por antecipação ou invalidez”, explicou Pedro Cebola. Os imigrantes de países do leste europeu, principalmente ucranianos, que trabalhavam na construção civil e nas estufas do concelho de Faro, também pedem ajuda à CASA e já representam 15 por cento do público que pede ajuda alimentar, acrescentou. Esta quarta-feira, a CASA recebeu 30 novos processos de pessoas que foram pedir ajuda e pelo menos 25 pessoas, com base nas despesas que têm e rendimentos, deverão ter direito a apoio. “Na freguesia da Sé há muita pobreza envergonhada, nomeadamente de profissões liberais, como professores que não foram colocados e estão no desemprego, mas também donos de restaurantes e cafés ou pessoas que trabalhavam em imobiliárias, acrescentou. O Centro de Apoio aos Sem Abrigo lança no Algarve este sábado e até 31 de Dezembro uma campanha de Natal denominada “Casa Mágica Solidária” para angariar cerca de dois mil brinquedos para crianças e para oferecer um almoço de Natal e cabazes de Natal a 600 carenciados da região. A maioria das autarquias algarvias reforçou este ano as verbas no orçamento municipal para a ação social, com câmaras a elevarem em um terço ou quase 50 por cento os apoios sociais.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda social pobreza desemprego
Família de Bragança internada devido ao consumo de cogumelos venenosos
Quatro pessoas da mesma família foram internadas na sexta-feira no hospital de Bragança com um quadro de gastroenterite devido ao consumo de cogumelos venenosos, disse a enfermeira chefe do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE). (...)

Família de Bragança internada devido ao consumo de cogumelos venenosos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2010-11-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quatro pessoas da mesma família foram internadas na sexta-feira no hospital de Bragança com um quadro de gastroenterite devido ao consumo de cogumelos venenosos, disse a enfermeira chefe do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE).
TEXTO: Trata-se de uma mãe, filha, neta e genro, sendo que a criança, de cinco anos, foi transferida de helicóptero, ontem à tarde, para o hospital pediátrico de Coimbra devido ao agravamento do seu estado de saúde. De acordo com a mesma fonte, a criança está hoje de manhã a receber um transplante de fígado nos Hospitais da Universidade de Coimbra. A mãe é a pessoa mais velha e, entre os adultos, é a que apresenta um estado de saúde mais grave. No entanto, está internada na unidade de cuidados intermédios do hospital de Bragança em estado considerado estável. A filha e o genro, com cerca de 40 anos, estão internados no serviço de urgência. Os três adultos estão a responder bem aos tratamentos, adiantou a fonte. Os quatro elementos deram entrada na sexta-feira, mas só mais tarde, em conversa, disseram que comeram cogumelos. O hospital pediu de seguida um parecer de uma investigadora do Instituto Politécnico de Bragança sobre a espécie de cogumelos em causa, dos quais havia amostras. Na quinta-feira cinco imigrantes tailandeses foram internados no hospital de S. Bernardo em Setúbal por ingestão de cogumelos venenosos, tendo sido posteriormente transferidos para outros hospitais e pelo menos quatro deles precisavam de transplante.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha criança espécie
Cáritas do Algarve quer criar novo refeitório social em Janeiro para dar refeições a 40 carenciados
A Cáritas Diocesana do Algarve quer criar em Janeiro um refeitório social em Faro para conseguir fornecer todos os dias refeições a 40 pessoas mais necessitadas. (...)

Cáritas do Algarve quer criar novo refeitório social em Janeiro para dar refeições a 40 carenciados
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.123
DATA: 2010-11-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Cáritas Diocesana do Algarve quer criar em Janeiro um refeitório social em Faro para conseguir fornecer todos os dias refeições a 40 pessoas mais necessitadas.
TEXTO: Os atendimentos sociais da Cáritas algarvia duplicaram no último ano. A instituição registou no ano passado “562 atendimentos” e este ano, até 31 de Outubro, tinham registado 1151 atendimentos a carenciados, disse o presidente da Cáritas algarvia, Carlos Oliveira, numa entrevista à "Folha de Domingo", jornal da Diocese do Algarve. Segundo Carlos Oliveira, o refeitório social que a Cáritas pretende criar em meados de Janeiro no edifício-sede da instituição, em Faro, deverá ter capacidade para dar comida a 40 pessoas. “Vamos ver se se reúnem as condições para podermos assisitir tantos utentes, porque sem qualquer tipo de apoio torna-se muito dispendioso e teremos de fazer algum enquadramento da realidade para não termos prejuízos crescentes”, refere o presidente da Cáritas algarvia. Segundo Carlos Oliveira, quem mais recorre ao apoio da Cáritas no Algarve são pessoas entre os “35 e 45 anos”, que se encontram empregadas mas que não estão a conseguir cumprir os compromissos. Mas não só. Também há "pessoas desempregadas sem conseguir cumprir o pagamento de rendas de casa ou de créditos para aquisição de habitação própria". Pessoas com falta de capacidade financeira para comprar medicamentos também fazem parte do rol dos carenciados que pedem apoio à Cáritas. O número de refeições distribuídas diariamente pelo Centro de Apoio aos Sem Abrigo (CASA), no Algarve, também aumentou de 80 para 500 nos últimos 14 meses, disse Pedro Cebola, coordenador do Centro de Apoio aos Sem Abrigo (CASA). “Estamos a dar de comer a um por cento da população de Faro. Há 14 meses cerca de 80 pessoas recebiam refeições, mas desde essa altura que as ajudas subiram, exponencialmente, e estamos a dar alimento a 500 pessoas por dia”, afirmou. Cerca de 70 por cento das pessoas que pedem ajuda para comer são desempregados, casais em que ambos caíram no desemprego, avós com netos à sua guarda que ficaram sem apoios sociais e reformados por antecipação ou invalidez, imigrantes de países do leste europeu, que já representam 15 por cento do público que pede ajuda alimentar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda social desemprego
Eleições na Catalunha a pensar nas gerais espanholas
Cerca de 5,3 milhões de catalães estão hoje a votar nas eleições autonómicas, depois de uma campanha marcada pela discussão sobre o futuro político do país. (...)

Eleições na Catalunha a pensar nas gerais espanholas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cerca de 5,3 milhões de catalães estão hoje a votar nas eleições autonómicas, depois de uma campanha marcada pela discussão sobre o futuro político do país.
TEXTO: Os temas que provocaram fortes polémicas na última legislatura desapareceram dos discursos dos principais partidos e líderes políticos e o que passou a estar em equação foi o futuro da política espanhola, da governabilidade do país às eleições gerais marcadas para Março de 2012. “O acordo catalão será condição indispensável para o apoio estável a qualquer Governo espanhol no futuro, com [Rodríguez] Zapatero ou com [Mariano] Rajoy”, disse em entrevista ao “El País” Artur Mas, o candidato da Convergência e União (CiU), que todas as sondagens colocam no Palau da Generalitat, a sede do Executivo catalão. É da alteração do sistema de financiamento da Catalunha, para uma cópia à imagem e semelhança do mais favorável sistema económico basco e navarro, que depende que os socialistas ou os conservadores tenham assegurado a sua sobrevivência no Palácio da Moncloa, a sede do Governo de Espanha, se da eleição prevista para dentro de 18 meses não sair uma maioria absoluta. Esta reivindicação económica, com altifalante dirigido para os dois principais partidos da política espanhola, foi o eixo da campanha da CiU. Para trás, ficou a alteração do Estatuto da Catalunha, cujo texto, depois de formulado por maioria no parlamento da Catalunha, referendado pelos catalães e aprovada pelas Cortes espanholas, foi chumbado, em artigos chave, pelo Tribunal Constitucional. Os nacionalistas da CiU, e o tripartido que, desde 2003, permitiu aos socialistas, republicanos independentistas e comunistas governarem em coligação, esqueceram a sua indignação pelo veto do Constitucional que os levou a mobilizações de rua e a uma crescente tensão com o Governo espanhol. Sinal de que o Estatuto era ponto do programa da elite política, mas não sentido como uma necessidade pela cidadania. Pelo que não figurou na argumentação eleitoral. Os socialistas de José Montilla fizeram desta votação a edificação da primeira trincheira na luta contra o regresso do Partido Popular ao poder em Espanha. Tentaram mobilizar o seu voto tradicional, operário, filho da emigração interna andaluza, murciana e extremenha, e nada sensível à questão catalã. Desta massa eleitoral, descrente com a gestão socialista, que foi quezilenta em Barcelona e incapaz de combater a crise em Madrid, depende o grau e a intensidade da queda. Por isso, mobilizaram Felipe González para os comícios mais exigentes, como o que na noite de quinta-feira encheu o Palau Saint Jordi. No PP, foi “chave nacional” que interessou. O partido tenta ser a terceira força no Parlamento catalão e, assim, evitar a tentação da CiU de se aliar aos independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). Seria o reencontro da burguesia espanholista da Catalunha com a direita, burguesa e católica catalã. Mas, o que mais motiva os populares é que esse protagonismo seja o início da marcha de regresso ao poder com paragem prevista nas eleições municipais e autonómicas de Maio próximo e chegada triunfal ao Palácio da Moncloa nas gerais de Março de 2012. O facto dos adversários se terem esquecido que foi o PP quem apresentou o recurso de constitucionalidade ao Estatuto da Catalunha que ditou a amputação de normas soberanistas, facilitou a campanha dos populares. Já a ERC vive em múltiplas angústias: a de deixar de ser decisiva, devido ao desgaste, e a de não estar imune à fragmentação eleitoral do movimento independentista. O seu discurso não resistiu aos sinais de incompetência que marcaram os sete anos de governação do tripartido e que levaram a sociedade catalã ao mal-estar pela destruição da sua auto-estima: da derrocada do bairro do Carmel, aos apagões de electricidade no Verão e à paralisação da Catalunha em Março por um nevão anunciado. Incógnitas e abstenção
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Palavras-chave filho tribunal
Lisboa pode ser competitiva na sua qualidade de vida
Mas há uma condição: um governo regional que harmonize o que a cidade tem de único e uma descentralização do poder até aos bairros que resolva os seus verdadeiros problemas. (...)

Lisboa pode ser competitiva na sua qualidade de vida
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mas há uma condição: um governo regional que harmonize o que a cidade tem de único e uma descentralização do poder até aos bairros que resolva os seus verdadeiros problemas.
TEXTO: Investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS), doutorado em Geografia Urbana pela Universidade Autónoma de Barcelona, João Seixas, 44 anos, foi um dos seis comissários que prepararam a Carta Estratégica de Lisboa 2010-2024, aprovada há um ano pela câmara da capital do país. A sua ideia é que Lisboa é ainda a metáfora da tradição centralista do país e que não terá grande futuro se não mudar de paradigma. Se conseguir vencer os problemas da sua governação, de cima a baixo, a sua identidade é tão forte e a sua geografia tão perfeita que pode construir uma vocação global a partir daí. Quando está um dia de sol, Lisboa é belíssima, mas quando está um dia triste, a pobreza, o caos, a hostilidade da cidade vêm dramaticamente ao de cima. Quando olhamos para Lisboa com os olhos da crise, temos a noção de que se perdeu um tempo irrecuperável. Construiu-se, muitas vezes de forma anárquica, em vez de recuperar e conservar. A crise vai provavelmente acabar com isso. Há uma oportunidade?Creio que a crise é não só reflexo de uma má governação, mas de um gap - um desfasamento e um descompasso - entre as estruturas políticas de governação às várias escalas. A Comissão Europeia publicou o relatório da coesão no mês passado, com dados muito actuais que mostram que Portugal e a Grécia são os países onde a despesa pública ao nível intranacional é, de longe, a mais baixa de toda a União Europeia. Estou a referir toda a despesa que não é central: à escala regional e à escala local até ao nível das juntas de freguesia. A mais baixa é a da Grécia e depois de Portugal. Paradoxalmente ou talvez não, os países onde a preocupação local ou regional é mais forte, incluindo os sistemas urbanos, são a Dinamarca, a Espanha, a Alemanha. . . São países federalistas ou mais ricos. Mas onde quer chegar com isso? Lisboa foge um pouco a esse quadro. Já foi mais. Há um efeito estrutural, uma tendência pesada nacional, em que a escala regional, até mais do que a local ou municipal, não tem preponderância na vida política e nas estratégias sociais e económicas do país. E, no meu entender, essa é uma das razões pelas quais existe o tal gap entre os anseios de cada um dos cidadãos e dos agentes económicos e a política real. Temos todos a consciência de que os portugueses se sentem extremamente afastados da política, muito também pelo facto de sentirem que as suas necessidades mais próximas não são contempladas pelos decisores políticos. Esse elemento que lhe dei - entre 11 e 12 por cento de toda a despesa pública nacional vai para as escalas regional e local - fala por si. Isso demonstra que somos um país extremamente centralista. Sem poderes intermédios?Nas últimas cinco décadas não houve uma estratégia - nem há ainda, apesar da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) - que se possa dizer regional. Cada município da área de Lisboa faz aquilo que quer. Esse poder municipal é historicamente muito arreigado e, depois do 25 de Abril e muito bem, ganhou uma grande força. Isso acontece numa área metropolitana cujos principais sistemas devem ser vistos como um todo, desde o económico ao urbanístico. É essa a razão para este resultado caótico. Depois, temos uma crise também de sustentabilidade: a pegada ecológica, como hoje se diz, na área metropolitana de Lisboa é muito grande. Não tanto por razões de produtividade económica - e antes fosse, porque tinha gerado um certo tipo de riqueza. Mas por via da expansão urbanística num sentido fragmentário, num sentido de uma dispersão metropolitana que não teve estratégia e que esteve muito dependente da construção e do seu financiamento. É esta a cidade que pode ter um futuro num mundo global e altamente competitivo? Lisboa, enquanto município, é hoje uma cidade para imigrantes, pessoas idosas ou ricos. Ou não é?
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Palavras-chave pobreza
Dois mil doentes à espera de um rim novo
Cerca de dois mil portugueses são obrigados a começar a fazer hemodiálise, todos os anos, porque os seus rins deixam de funcionar. (...)

Dois mil doentes à espera de um rim novo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2010-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cerca de dois mil portugueses são obrigados a começar a fazer hemodiálise, todos os anos, porque os seus rins deixam de funcionar.
TEXTO: Dia sim, dia não, logo que acaba o trabalho, Jorge Fonseca, de 33 anos, encaminha-se para o centro de hemodiálise da Amadora e ali passa quatro horas seguidas ligado a um monitor. Os seus rins não funcionam e a sua função é substituida pela mistura de água purificada com substâncias de um concentrado escolhido pelos médicos que lhe é administrada através do monitor. Natural de Angola, Jorge Fonseca veio para Portugal há quatro anos para “endireitar a vida”. Arranjou trabalho na construção civil, no estuque. Mas adoeceu. O sangue na urina levou-o ao hospital. As análises revelaram insuficiência renal. Ficou “preso” à máquina. Mas não diz nada ao patrão com medo de perder o emprego. A família está toda em Angola, ele reparte uma casa com um amigo e não tem outra alternativa senão trabalhar. Dia sim, dia não, depois do trabalho, às 17h00, vai passar mais quatro a fazer tratamento no centro da Amadora onde, “felizmente” pode comer. Agora, “só queria um trabalho compatível com o tratamento” diz. Sobretudo, queria ser chamado para fazer um transplante. “Deus queira que apareça algo que seja compatível”, deseja. A assistente social, Eduarda Reis, recebeu-o para tentar ajudar e ficou surpreendida quando ele lhe disse que “não tinha papéis”. Jorge Fonseca está só, ilegal e doente num país que não é o dele. Eduarda Reis vai fazer “o possível” para o ajudar. É mais um dos casos difíceis dos doentes que recorrem àquele centro da Amadora, um “concelho muito pobre, com muitos idosos e pessoas isoladas”. Cada vez é “mais difícil” intervir, diz, referindo o aumento de casos de “pobreza envergonhada, de fome, de acções de despejo” e de “imigrantes ilegais, clandestinos” que “caem num país onde não conhecem ninguém”. Todos os anos, em Portugal, cerca de duas mil pessoas começam a fazer hemodiálise porque os seus rins deixam de funcionar, revelam dados da Sociedade Portuguesa de Nefrologia. Em linguagem médica, entram em insuficiência renal terminal. Para sobreviver, não têm outra alternativa senão fazer um tratamento que consiste na remoção de substâncias tóxicas do sangue, substituindo a função renal, o que pode ser feito por hemodiálise (método mais utilizado) ou por diálise peritoneal. Há cerca de 16 mil insuficientes renais em Portugal incluindo aqueles que receberam um transplante renal. É assim um dos países do mundo onde este problema tem maior incidência: 232 casos por um milhão de habitantes. Três vezes por semana, o doente é ligado a uma máquina durante um determinado período, para receber tratamento. Dos doentes em diálise só 20 a 30 por cento é que têm condições para receber um rim novo, já que muitos insuficientes renais, por terem situações patológicas adicionais, não podem ser candidatos a receber um transplante. Actualmente há cerca duas mil pessoas na lista de espera para um transplante em Portugal. Em média, o período de espera é de quatro anos. No ano passado, 593 doentes receberam um rim novo. A importância de aceitarTodos as tardes o médico nefrologista Domingos Machado assegura o funcionamento do centro que dirige, na Amadora, onde trabalham mais quatro especialistas, outros médicos de outras especialidades, muitos enfermeiros e uma dietista. Ali são atendidas semanalmente cerca de 140 pessoas, a maioria das quais homens já idosos. Criada há 21 anos, esta é uma das 112 unidades de hemodiálise existentes no país. A grande maioria é privada e pertence a duas multinacionais que têm o Estado português como principal cliente. No seu gabinete, Domingos Machado ocupa-se, sobretudo, da gestão do centro e vai dando resposta aos problemas que surgem, intervindo nos casos mais graves que se verificam durante a diálise.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens fome social medo pobreza ilegal