Há uma cidade a dar bicicletas às crianças que convencerem familiares a deixar de fumar
Kilis, na Turquia, é um dos principais pontos de acolhimento de refugiados sírios. Mas a cidade quer ser vista como mais do que um local abalado pela guerra no país vizinho, e tem um plano ambicioso para mudar os modos de vida e de locomoção dos seus habitantes. (...)

Há uma cidade a dar bicicletas às crianças que convencerem familiares a deixar de fumar
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Kilis, na Turquia, é um dos principais pontos de acolhimento de refugiados sírios. Mas a cidade quer ser vista como mais do que um local abalado pela guerra no país vizinho, e tem um plano ambicioso para mudar os modos de vida e de locomoção dos seus habitantes.
TEXTO: Kilis é uma pequena cidade turca, junto à fronteira com a Síria, que nos últimos anos tem sido notícia por ser um dos principais locais de acolhimento dos milhões de refugiados que escaparam à guerra no país vizinho. E é também uma cidade barulhenta, cheia de motas e scooters, que quer passar a ter nas bicicletas o seu principal meio de transporte. Para concretizar esta mudança, a autarquia de Kilis começa pelos mais novos. As autoridades estão agora a oferecer bicicletas a crianças e jovens que assumam alguns compromissos: convencer um familiar a deixar de fumar; terem boas notas na escola e melhorarem o rendimento numa disciplina em que tenham maiores dificuldades, e prometerem usar a bicicleta pelo menos uma hora por dia. “Até agora, distribuímos mais de 4 mil bicicletas e nossa meta é distribuir pelo menos 15 mil”, explica o presidente da câmara de Kilis, Hasan Kara, citado pelo jornal britânico The Guardian. O objectivo do autarca é criar na cidade um ambiente habitável para toda a população. “Demos prioridade ao projecto das bicicletas porque o uso de motocicletas e carros é muito comum. Agora já vemos crianças a fazer o caminho para a escola de bicicleta", diz ao diário londrino. Além deste projecto para crianças, a autarquia construiu uma ciclovia de seis quilómetros ao longo de uma rua na periferia da cidade, à qual deverão juntar-se em breve outras ciclovias que irão ligar toda a urbe. A câmara de Kilis conta com o apoio financeiro do Governo turco mais vai procurar também a ajuda da União Europeia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Desde 2011, ano em que se iniciou a revolta contra o regime sírio Bashar al-Assad que acabou por se transformar numa sangrenta guerra civil que dura até hoje, milhões de sírios procuram um porto seguro na Turquia — ou fizeram daquele país um ponto de passagem rumo à Europa. Kilis é uma das cidades turcas que mais refugiados acolheu em termos relativos, duplicando rapidamente a sua população para mais de 200. 000 pessoas — o árabe passou a ser a língua mais falada e muitas lojas passaram a exibir sinais e ementas naquele idioma. E foi também atingida, em algumas ocasiões, por artilharia disparada pelo lado sírio da fronteira, tanto pelo Daesh como pelos rebeldes curdos. Agora, Hasan Kara quer que Kilis afaste a imagem de um local destabilizado pela guerra e que seja vista como uma cidade acolhedora para refugiados e para todos os que queiram viver em paz.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra escola ajuda
Desobediência ou solidariedade? Nuno filmou o vale francês que abre a porta aos migrantes
Nuno Escudeiro encontrou num grupo de “cidadãos comuns” a “solidariedade” que faltava mostrar nos documentários sobre migração. O premiado The Valley segue uma comunidade que começou a albergar refugiados nas suas casas. É, também, uma chamada à acção. (...)

Desobediência ou solidariedade? Nuno filmou o vale francês que abre a porta aos migrantes
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nuno Escudeiro encontrou num grupo de “cidadãos comuns” a “solidariedade” que faltava mostrar nos documentários sobre migração. O premiado The Valley segue uma comunidade que começou a albergar refugiados nas suas casas. É, também, uma chamada à acção.
TEXTO: Começaram por dar comida a quem viam chegar a pé, exaustos, pelo meio das montanhas. “E depois”, vemos sorrir um dos habitantes do vale de Roya, nos Alpes franceses, “depois…”. Depois, as acções humanitárias daquela comunidade na fronteira franco-italiana tornaram-se políticas. Jurídicas. Mediatizadas. Altamente policiadas. E um hino a um dos três pilares da democracia francesa: fraternité (fraternidade). Naquele vale, passa-se um pedaço de história que Nuno Escudeiro, realizador de 32 anos, raramente via discutida quando se fala em refugiados que, neste caso, fogem de África e procuram asilo na Europa. “Sempre senti que não houve uma responsabilização por parte da sociedade civil”, diz, ao telefone com o P3. Isto até conhecer pessoas como Cédric Herrou, um agricultor com uma plantação de oliveiras que já foi várias vezes detido e julgado por não conseguir ignorar “o caos que se estava a passar imediatamente atrás da sua propriedade”. The Valley segue os “actos de solidariedade” — para uns, de desobediência civil, para outros — de “cidadãos comuns”, como Cédric, que alteram rotinas diárias e abrem a porta de casa a pessoas que estão de passagem, depois de arriscarem a vida numa viagem com poucas certezas. Não é sobre esta travessia que fala o documentário que valeu a Nuno Escudeiro o prémio de Melhor Realizador Emergente Internacional no Hot Docs, o festival canadiano onde o filme se estreou (ainda não há datas de exibição em Portugal). Já há “muitos outros” filmes que falam sobre o assunto, diz-nos agora. Ao realizador tomarense importava mostrar “humanidade”. É por isso que The Valley é, também, uma chamada à acção. Como diz um advogado que trabalha com o grupo, a certa altura, no filme: “Muitas vezes, enquanto cidadãos, dizemos: Porquê eu e não os outros? E normalmente paramos por aí. ”Eles não. Os membros da associação Roya Citoyenne, além de providenciarem comida, abrigo e ajuda legal, transportam migrantes “em situação irregular” — um crime — tentando passar pelos vários bloqueios policiais que, entretanto, começaram a vigiar o vale. “Tu hoje se lá fores a cada cinco quilómetros vês um carro da polícia”, descreve o realizador que durante dois anos e meio visitou a zona. Uma forma de “pressão” para dividir e enfraquecer as acções da comunidade, acredita, que também tem opositores entre os vizinhos franceses. Em Abril, depois de a equipa responsável pelo documentário deixar o vale, um dos membros da associação, que albergava na altura seis nigerianos, foi agredido, em casa, por “15 pessoas”. Desde que deixou Portugal, há sete anos, Nuno Escudeiro viveu na Finlândia e depois em Itália. Para este filme acontecer, mais importante ainda foi o realizador ter vivido “sempre junto de fronteiras”. “Conseguimos saber mais sobre a identidade de um país quando estamos na fronteira e vemos o contraste do outro lado. ” É lá, analisa, que se questiona “realmente o que é um país”. Foi também junto a essas fronteiras europeias que o realizador começou a conhecer pessoas que ajudavam refugiados — sempre de forma clandestina. Mas em Roya e Durance os grupos de auxílio eram vocais, andavam à procura de mais membros, começavam a desafiar o próprio Estado francês. E a sentir as “repercussões” dessas decisões. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A relação entre migrantes e cidadãos com polícias e militares está no centro de alguns dos momentos mais tensos do documentário. “Tudo está ali muito presente naquela área. E tu consegues senti-lo”, lembra-se Nuno. Cédric Herrou, que consegue ver os carros da polícia enquanto anda pelo meio dos olivais, acusa-os de o deixarem “paranóico”. Há quem acuse as autoridades de “distorcerem a lei”, “mentirem” e “forjarem documentos oficiais” de forma consciente para enviarem migrantes, muitos deles menores de idade, de volta para Itália, sem registarem o pedido de asilo. Desde que a fronteira entre Ventimiglia e Menton foi fechada, as autoridades locais foram condenadas por 417 violações de direitos humanos. Culpa de “medidas usadas para comunicar medo e não para estar do lado da dignidade humana”, acredita Nuno, que defende que “pouca coisa mudou” na sequência de políticas como o fecho dos portos. O fluxo migratório que o fecho da fronteira não conseguiu travar é concretizado numa imagem do filme onde se vê, ao amanhecer, uma fila de dezenas de pessoas a descerem pela montanha em direcção à cidade. “Eu perguntou-me: como é que chegamos aqui? Foi possível passo a passo. Habituamo-nos a isto”, discursa Cédric em frente a uma pequena plateia a quem apela: “É importante continuarmos a repetir: Isto não é normal. Nós não podemos nunca nos habituar a isto. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos lei humanos ajuda comunidade medo
Panda Biggs cortou beijo homossexual na série infanto-juvenil Sailor Moon
Os cortes, que se alargaram às cenas em que se fala da identidade de género, motivaram queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Entidade Reguladora da Comunicação Social decidiu arquivar o processo. (...)

Panda Biggs cortou beijo homossexual na série infanto-juvenil Sailor Moon
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os cortes, que se alargaram às cenas em que se fala da identidade de género, motivaram queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Entidade Reguladora da Comunicação Social decidiu arquivar o processo.
TEXTO: Há muito que a natureza da relação entre duas personagens numa série de animação infanto-juvenil alimentava discussões acesas nos fóruns da Internet: Haruka e Michiru, da série Sailor Moon Crystal, não são primas, como foram apresentadas nalgumas das versões internacionais da série japonesa, mas namoradas. E, apesar de se vestir como um rapaz, Haruka é, afinal, uma rapariga apaixonada por desporto e corridas de automóveis. Mas a sua aparência andrógina e a relação homossexual que mantém com Haruka são aparentemente de “apreensão complexa” para as crianças dos oito aos 14 anos a que a série se destina, pelo que o canal Panda Biggs decidiu cortar as cenas que abordavam as temáticas da homossexualidade e transgénero. A decisão motivou várias queixas à Entidade Reguladora Para a Comunicação Social (ERC), uma das quais apresentada pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), o organismo responsável pela promoção e defesa desses princípios. A ERC entendeu, porém, que não resulta do corte dessas cenas qualquer apelo à discriminação em razão da orientação sexual, pelo que determinou o arquivamento do processo. Na decisão publicada esta sexta-feira, a ERC refere-se a quatro participações contra o Panda Biggs relacionadas com a transmissão da série de animação japonesa Sailor Moon Crystal 3, além da queixa apresentada pela própria CIG. Todas aludiam aos cortes da cena em que as duas personagens femininas se beijavam, bem como de todas as demais cenas em que se aflorava a questão da identidade de género de uma das personagens, Haruka, uma rapariga com gostos, comportamento e aparência geralmente associados ao género masculino. No entender dos queixosos, tais cortes reforçam a “invisibilidade de expressões afectivas não-normativas”. E a alegação de que se tratou de um acto discriminatório com base na orientação sexual assentou na constatação de que as cenas de assédio sexual, em que uma personagem masculina força o beijo de uma rapariga, foram transmitidas “sem qualquer pudor sobre o público-alvo”. Decisões destas traduzem-se na “desvalorização social destas pessoas [não normativas], colocando-as numa situação de fragilidade e marginalidade social”, alegam os queixosos, um dos quais sustenta que o corte da cena em que uma personagem revela que é andrógina configura uma “discriminação de género” que vai contra o artigo 13. º da Constituição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À ERC, o Panda Biggs alegou que tais cenas eram desadequadas ao público-alvo e ao perfil do canal e que a sua retransmissão poderia “não ter o melhor acolhimento”. "Tratou-se tão-somente de uma apreciação de natureza editorial que nada tem a ver com censura”, alegou o canal, reivindicando o direito à liberdade editorial. A ERC reconhece que os artigos 37. º e 38. º da Constituição consagram tal liberdade e sustenta que não resulta de tais cortes qualquer incitamento ao ódio gerado pelo sexo e pela orientação sexual mas um silenciamento das temáticas homossexuais e transgénero de um programa infantil tidas como desadequadas ao público jovem. “Tal preocupação até é legítima, dado que se está perante um assunto fracturante na sociedade portuguesa”, concede a ERC. “É forçoso reconhecer que as temáticas da homossexualidade e do transgénero ainda não são, no contexto social actual, inteiramente aceites por toda a sociedade portuguesa, originando controvérsia. Pode admitir-se até que sejam de uma apreensão mais complexa para as crianças", reforçou a ERC, para concluir: "Não se põe, por isso, em causa a liberdade editorial do serviço de programas Panda Biggs, que tem a liberdade de escolher os programas que transmite. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social sexo igualdade género sexual homossexual rapariga assédio discriminação infantil
Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”. (...)

Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 Homossexuais Pontuação: 10 | Sentimento 0.5
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”.
TEXTO: Aos 23 anos, Abdessamad Dialmy leu um livro, apercebeu-se que a sua vida era um erro, e pediu o divórcio. “Foi o início da minha revolução”, garante. O desassossego foi ganhando espaço enquanto o marroquino procurava perceber por que razão a liberdade sexual não passava de um sonho, principalmente para as mulheres do seu país. Foi à procura de respostas que se tornou num dos pioneiros nos estudos da sociologia da sexualidade e na relação entre o islão, sexualidade e feminismo. Mais de 40 anos depois, Dialmy, professor na Universidade Mohammed V, sociólogo e feminista, investiga, agora, como a sexualidade em Marrocos se divide entre a liberalização das práticas e a rigidez das normas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave sexual mulheres sexualidade feminista divórcio feminismo
Mesmo com Globos pela igualdade, Hollywood continua a ser um substantivo masculino
Novo estudo mostra que dos 250 filmes mais rentáveis de 2014 só 7% tiveram uma realizadora. Atrás das câmaras nos EUA, entre guionistas ou produtores, menos de um quinto são mulheres. (...)

Mesmo com Globos pela igualdade, Hollywood continua a ser um substantivo masculino
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501175228/http://www.publico.pt/1682028
SUMÁRIO: Novo estudo mostra que dos 250 filmes mais rentáveis de 2014 só 7% tiveram uma realizadora. Atrás das câmaras nos EUA, entre guionistas ou produtores, menos de um quinto são mulheres.
TEXTO: No ano passado foi preciso esperar por Março e pelos Óscares para sermos confrontados com os números da (des)igualdade de género em Hollywood. 2015 começa mais cedo a debater o tema, tanto com uma cerimónia dos Globos de Ouro com um pendor feminista como por mais um estudo que mostra que o tecto de celulóide continua rijo: só 7% dos filmes mais rentáveis nos EUA foram realizados por uma mulher. O estudo Celluloid Ceiling do Center for the Study of Women in Television and Film (CSWTF) – baptizado como trocadilho com a expressão “glass ceiling” que simboliza os limites à ascenção na carreira para as mulheres – foca-se nos trabalhadores por trás das câmaras. Ou seja, é menos sobre actrizes e protagonistas e mais sobre realizadoras, decisoras, produtoras, argumentistas, montadoras, directoras de fotografia e outras profissionais de bastidores, que estão e continuam a estar em minoria. No ano passado, só 17% das pessoas em tais lugares eram mulheres. Um sinal muito negativo em termos de oportunidades de trabalho e de empregabilidade no feminino no sector cinematográfico e no principal mercado de cinema do mundo. Este ano há apenas um filme realizado por uma mulher entre os favoritos para os Óscares – tem nome de mulher e chama-se Selma, realizado por Ava DuVernay e centrado na vida de Martin Luther King, e saiu com um único prémio dos Globos de domingo, a melhor canção, estando nomeado nas principais categorias. No ano passado apenas um filme realizado por uma mulher entrou na lista dos cem mais rentáveis nos EUA – Invencível, o filme de Angelina Jolie sobre a odisseia de Louis Zamperini. E em 86 anos só uma mulher recebeu o Óscar de Melhor Realização – Kathryn Bigelow por Estado de Guerra. Tal como só uma mulher tem uma Palma de Ouro de Cannes - Jane Campion. Domingo à noite, as mulheres do cinema e da TV contra-atacaram e não foi só com a piada de Amy Poehler sobre o humorista Bill Cosby, acusado de violação por mais de 15 mulheres e que se nega a comentar o assunto aos jornalistas mas brinca com ele nos espectáculos de stand-up. Nem com a sequela à brincadeira com um dos mais poderosos agentes da indústria na cerimónia de 2014 sobre Gravidade, “um filme sobre George Clooney preferir flutuar sozinho pelo espaço e morrer do que passar mais um minuto com uma mulher da sua idade”: “George Clooney casou-se este ano com Amal Almuddin. Amal é advogada de direitos humanos e trabalhou no caso Enron; foi conselheira de Kofi Annan sobre a Síria; e foi seleccionada para uma comissão da ONU de três pessoas para investigar as regras das violações de guerra na Faixa de Gaza. Por isso esta noite… o marido dela recebe um prémio carreira”, atirou Tina Fey para uma plateia e para o casal visado que se ria. Fey e Poehler serviram de anfitriãs numa noite em que os temas da igualdade estiveram presentes no discurso de vitória da série Transparent sobre um pai de família que revela ser transgénero e nas afirmações de Amy Adams ou Maggie Gyllenhaal. "O que é novo [hoje] é a nova riqueza de papéis para mulheres de verdade na televisão e no cinema. É o que acho revolucionário e evolucionário e é o que me excita”, disse esta última, protagonista de The Honourable Woman. Gina Rodriguez, vencedora de TV por Jane the Virgin, evocou a sua ascendência latina, Joanne Froggatt de Downton Abbey fez da sua a voz das sobreviventes de violação e Lily Tomlin inverteu a ordem dos factores e desfez-se finalmente “daquele estereótipo negativo de que os homens simplesmente não têm piada”. Ecoando assim várias chamadas de atenção feitas na temporada de prémios de 2014 por actrizes como Cate Blanchett ou Lena Dunham, mas também dados concretos. Como aqueles revelados pelos hackers da Sony e que mostrava várias disparidades nos ordenados ou ascensão nas carreiras de homens e mulheres da indústria – em Golpada Americana, Jennifer Lawrence e Amy Adams receberam menos do que os seus co-protagonistas Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Renner. Ou que os dois actores que protagonizam o filme The Huntsman recebem salários desiguais – Chris Hemsworth, o Thor do cinema, recebeu mais dez milhões de dólares do que a oscarizada Charlize Theron. Ao saber disso há semanas, noticiou o New York Post, Theron exigiu e terá agora recebido mais dez milhões para equilibrar a balança de pagamento. Esta terça-feira há ainda mais argumentos a reforçar as reivindicações femininas. Os números agora revelados mostram que apesar de ter havido uma melhoria do cenário para as mulheres que trabalham atrás da câmara em Hollywood, essa mudança não é significativa. De acordo com um novo estudo anual do CSWTF da Universidade Estadual de San Diego, dos 250 filmes mais rentáveis nas bilheteiras norte-americanas em 2014 só 7% tiveram mulheres realizadoras – mais 1% do que em 2013. “Não é uma mexida nem numa nem noutra direcção”, comenta à Reuters Martha Lauzen, autora do estudo há vários anos. “O género do realizador é incrivelmente importante porque a investigação mostra que está relacionado com a percentagem de personagens femininas que vemos no ecrã. ”
REFERÊNCIAS:
Tudo a poder de lágrimas e de ais
Quantas marchas haverá ainda que cumprir para que a igualdade de géneros no plano discursivo encontre paralelo no dia-a-dia de tantas mulheres. (...)

Tudo a poder de lágrimas e de ais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quantas marchas haverá ainda que cumprir para que a igualdade de géneros no plano discursivo encontre paralelo no dia-a-dia de tantas mulheres.
TEXTO: “O meu avô foi apaixonado pela mulher toda a vida. Deve ser tão bom, tão bom. Um homem sozinho não pode ser feliz”, contava na passada semana António Lobo Antunes, na entrevista que deu ao Expresso. E quando a jornalista Cristina Margato lhe pergunta se uma mulher pode ser feliz sozinha, o escritor responde: “Pode. São muito mais fortes do que os homens. Aguentam melhor a solidão. São mais corajosas diante da doença. Vi isso quando estava a fazer quimioterapia”. E eu, que desconfio sempre que nestas coisas a educação é chave explicativa mais eficaz do que qualquer determinismo genético, fico a matutar na coisa. Nos meses que passei num hospital, eram as mulheres que davam colo aos seus filhos, enquanto havia crianças a morrer ao lado. Quando comentava a omnipresença feminina com a enfermeira-chefe do serviço (e, a propósito, na neonatologia não havia um único enfermeiro homem para amostra), a resposta foi: “Em dias como este, os homens não aguentam. Vão-se embora”. E lembro-me a propósito as palavras do realizador João Canijo enquanto explicava, a propósito do seu filme que há de estrear daqui a poucos meses, por que é que prefere filmar com mulheres. “Dão mais trabalho, mas são muito mais interessantes. São mais disponíveis, entregam-se mais e têm mais disposição ao sacrifício e ao esforço. Eles são muito mais preguiçosos”. Quantos séculos passados desde que o Marquês de Sade diminuía as mulheres a mero objecto de prazer e ordem. “Estremecei, adivinhai, obedecei, antecipai e (…) talvez não sejais completamente infelizes”, vaticinava no seu 120 Dias de Sodoma, escrito na mesma França que, daí a alguns anos, inventaria a roda para permitir que as mães solteiras (ou adúlteras) lá despejassem os filhos e assim escapassem ao degredo social, ao mesmo tempo que se evitava o infanticídio, o aborto ou o abandono dos seus filhos bastardos, enquanto os homens se passeavam incólumes durante todo o processo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E, muito mais recentemente, em 2001, recordo-me dos vultos das 17 mulheres julgadas na Maia, pelo crime de aborto, e que calavam histórias de abandono e de uma pobreza tal que algumas, à falta de dinheiro, haviam pago a interrupção da gravidez com peças de ouro. E da pergunta que o médico e ex-secretário de Estado da Saúde, Albino Aroso, lançava então para o meio da confusão mediática onde se perdeu sem resposta: “Então e os pais, não se responsabilizam?”. Quando tento encontrar conexões nestes fragmentos soltos, a única coisa que me ocorre é que hão-de ter sido estes séculos todos de secundarização do papel das mulheres que as densificaram e tornaram mais resilientes. E, numa altura em que a roda não existe, o aborto é possível e a PMA também, nomeadamente para mulheres solteiras, e já ninguém se atreve a confundir mulher com domesticidade, pergunto-me quantas marchas haverá ainda que cumprir para que a igualdade de géneros no plano discursivo encontre paralelo no dia-a-dia de tantas mulheres. É verdade que se mostram mais fortes do que os homens, como diz Lobo Antunes, e mais dispostas ao sacrifício e ao esforço, como corrobora Canijo, mas, como acrescentava na mesma entrevista Lobo Antunes, parafraseando uma frase de uma doente, “é tudo a poder de lágrimas e ais”.
REFERÊNCIAS:
Idosos e crianças vítimas de quase metade dos homicídios em 2016
Nos últimos quatro anos, quase 400 pessoas pediram o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. O número de homicídios em Portugal teve uma diminuição significativa no ano passado mas um terço dos homicídios aconteceu em contexto de violência doméstica. (...)

Idosos e crianças vítimas de quase metade dos homicídios em 2016
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.16
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos últimos quatro anos, quase 400 pessoas pediram o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. O número de homicídios em Portugal teve uma diminuição significativa no ano passado mas um terço dos homicídios aconteceu em contexto de violência doméstica.
TEXTO: Os dados do mais recente relatório da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), apresentados esta quarta-feira, mostram que houve uma redução do número de homicídios em Portugal nos últimos dois anos e que quase metade das vítimas de homicídio em 2016 eram idosos e crianças. O Observatório de Imprensa de Crimes de Homicídio em Portugal e de Portugueses Mortos no Estrangeiro (OCH), criado pela APAV em 2014, contabilizou um total de 446 crimes nos últimos três anos, entre 352 homicídios em Portugal e a morte de 94 portugueses no estrangeiro. Em 2014, o OCH registou 127 homicídios em Portugal, um número que tem tido uma tendência de descida, com uma diminuição significativa entre 2015 e 2016. Das 103 pessoas mortas no ano passado, 19 casos (18, 4%) são crianças e jovens até aos 20 anos, entre os quais oito tinham menos de dez anos. Foram registadas também 22 mortes de pessoas com mais de 66 anos, dez das quais tinham mais de 81 anos - um número que, segundo destaca o relatório da APAV , “evidencia a fragilidade em que se encontram as pessoas idosas”. As vítimas de homicídio são predominantemente do sexo masculino, sendo o sexo feminino quem mais tem recebido o apoio especializado da Rede de Apoio a Familiares e Amigos de Vítimas de Homicídio (RAFAVH). Os dados recolhidos pela APAV apontam para uma predominância dos crimes ocorridos “em contexto de relação de intimidade, em curso ou já cessada”, com um total de 17 casos entre os homicídios ocorridos em Portugal. No outro extremos estão os casos em que não existe uma ligação entre homicida e vítima directa, com 20 dos crimes reportados perpetrados por desconhecidos. A APAV chama ainda a atenção para os crimes que ocorrem em contexto de violência doméstica – seja em relações de intimidade, relações parentais ou família mais alargada –, responsável por um terço dos homicídios ocorridos em Portugal. Em termos gerais, quase metade dos 75 processos de apoio iniciados pela APAV em 2016 tiveram “como móbil uma situação de violência doméstica”. Nas situações de homicídio na forma tentada, mais de dois terços dos processos de apoio iniciados tiveram a sua origem num contexto de violência doméstica. O relatório da APAV sobre vítimas de homicídio revela ainda que 391 pessoas pediram o apoio da associação nos últimos quatro anos, 205 por causa de homicídios na forma tentada e 186 por causa de homicídios consumados. Olhando para os dados do ano passado, ao longo do qual 75 pessoas precisaram da ajuda da APAV, três quartos dos que procuram a APAV nos casos de homicídio tentado são as próprias vítimas, sendo também acompanhados pelos filhos, pais e, em um dos casos, do cônjuge. No caso do apoio a familiares e amigos de vítimas de homicídios consumados, a maioria destas “vítimas invisíveis” apoiadas em 2016 eram pais e filhos, contando-se ainda avós, irmãos e cônjuges das vítimas. A duração média de um processo de apoio à vítima é de um a dois anos, um prazo ligado à “duração do processo judicial, que tende a ter a sua conclusão (leitura de sentença/acórdão) neste prazo”. Trata-se de um período difícil para os familiares e amigos das vítimas, relata a associação, durante o qual as diligências até à conclusão do processo “reactivam a memória e o impacto do crime”, dificultando o regresso à normalidade. O processo de apoio termina, de acordo com a APAV, “quando a vítima consegue recuperar a normalidade possível na sua vida”, quando desiste do processo de apoio ou quando passa a ser acompanhada por outra instituição de apoio psiquiátrico ou médico. A Rede de Apoio a Familiares e Amigos de Vítimas de Homicídio foi criada pela APAV em 2013 para dar resposta ao sofrimento destas pessoas "que muitas vezes não são consideradas vítimas". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Temos frequentemente familiares – pais, mães, filhos, tios, avós – que nós chamamos de vítimas invisíveis a sofrerem em silêncio porque não se reconhecem enquanto vítimas por direito e, por outro lado, não lhes é oferecido o apoio que deveriam ter", apontou à Lusa Bruno Brito, o gestor da rede. Para o responsável, esta realidade "tem muito que ver com o facto de o sistema judicial estar muito virado para a acusação do arguido", havendo "alguma dificuldade em reconhecer os direitos das vítimas enquanto vítimas directas, dos familiares e amigos ainda mais". "Estamos a trabalhar para que esta sensibilização aumente, não só da sociedade em geral, mas das entidades que lidam com estas pessoas nos momentos mais críticos, seja quando os homicídios acontecem, seja depois, durante todo o processo judicial", adiantou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte homicídio violência ajuda sexo doméstica
Elas ainda passam mais do dobro do tempo em tarefas domésticas do que eles
É na cozinha dos lares portugueses que "os homens marcam presença de forma crescente". Mas a casa ainda é o grande palco da desigualdade de géneros num país que continua a valorizar o “vinco na calça e a comida sempre pronta”. (...)

Elas ainda passam mais do dobro do tempo em tarefas domésticas do que eles
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: É na cozinha dos lares portugueses que "os homens marcam presença de forma crescente". Mas a casa ainda é o grande palco da desigualdade de géneros num país que continua a valorizar o “vinco na calça e a comida sempre pronta”.
TEXTO: Devagar, “muito devagarinho”, porque quando se fala de mudanças neste campo tudo leva muito tempo. Os homens portugueses estão a participar mais na vida familiar. Mas “a família constitui ainda um palco de desigualdades de género persistentes”, mostram os mais recentes dados sobre a divisão de tarefas nos lares portugueses. Números de 2014, que nesta quinta-feira serão tornados públicos, revelam as seguintes médias: eles gastam oito horas por semana em “tarefas domésticas”, como passar a ferro ou fazer refeições, elas 21. Junte-se agora o tempo despendido nos chamados “cuidados a familiares”, desde logo aos filhos: eles 9 horas por semana, elas 17. Parece desequilibrado?A disparidade era maior em 2002, garante ao PÚBLICO a investigadora do Instituto de Ciência Sociais (ICS), da Universidade de Lisboa, Karin Wall, que apresentará estes e outros resultados do International Social Survey Programme. No âmbito deste inquérito foi inquirida em Portugal, em 2014, uma amostra representativa da população nacional com 18 ou mais anos sobre o tema “família, trabalho e papéis de género”. A apresentação decorre no ICS, num workshop internacional do projecto O Papel dos Homens na Igualdade de Género, que tem como objectivo produzir um Livro Branco sobre os homens, os papéis masculinos e a igualdade de género em Portugal — uma parceria do ICS e da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego que tem o financiamento do Programa EEA Grants e da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Mas já vamos a este Livro Branco. "Vinco na calça”Regresse-se para já aos números. “Em 2002, no último inquérito, os homens portugueses gastavam sete horas por semana com as tarefas domésticas e as mulheres 26 horas”, diz Karin Wall. Nesse estudo não se questionava especificamente sobre o tempo empregue com cuidados a familiares, lembra. “Com as tarefas domésticas, houve em 2014 um aumento do tempo gasto pelo homens [para oito horas semanais], que estão quase ao nível dos nórdicos, que fazem 11, 12 horas por semana, e uma ligeira redução [para 21] entre as mulheres. Mas, em comparação com outros países, as mulheres portuguesas ainda usam muito tempo com as tarefas domésticas”, explica a socióloga. Será porque as portuguesas contam menos com a ajuda de uma empregada doméstica? Karin Wall garante que não reside aí a explicação, “porque nos países nórdicos esse modelo da mulher-a-dias não é significativo”. A verdade é que em Portugal “há uma cultura de bem-estar doméstico muito diferente”, que resulta de uma “socialização, de décadas, em que se insistiu no brio do trabalho doméstico, na necessidade do vinco nas calças e de ter a comida sempre pronta”, uma socialização “consistente até aos anos 70”, diz Wall, que passou de geração em geração. E que ainda subsiste. Mas há sinais de mudança. Os dados do International Social Survey compilados na publicação Homens, papéis masculinos e igualdade de género, de Leonor Rodrigues, Vanessa Cunha e Karin Wall, preparada para o workshop no ICS, são claros: entre os casais mais jovens notam-se diferenças. “A cozinha é a dimensão da vida doméstica onde os homens marcam presença de forma crescente, quer dividindo tarefas, quer chamando a si a responsabilidade. ”Com efeito, mais de um quarto dos casais jovens dividem as tarefas relacionadas com a confecção das refeições. “E são 12% os casais [jovens] em que é o homem que cozinha sempre ou habitualmente, o dobro em relação ao total de casais. ”Karin Wall nota que já em anteriores inquéritos, a cozinha era uma espécie de porta de entrada dos homens nas lides caseiras. “Primeiro as compras, depois a cozinha, que é uma actividade valorizada, criativa. ”A equipa centrou-se, na sua análise, em “quatro tarefas específicas”: fazer reparações, cozinhar, tratar da roupa e tratar de doentes (ver infografia). “Os casais mais jovens têm de facto uma divisão menos desequilibrada das tarefas domésticas” e é “entre os casais dos 45 aos 64 anos que a desigualdade de género é maior e não nos casais mais velhos, provavelmente devido a um efeito de ciclo de vida, sendo os homens chamados a dar uma maior contribuição doméstica quando as mulheres começam a ter dificuldade em executar alguma tarefa”, lê-se. Roupa: em 92% dos casais é com elasHá, contudo, tarefas que permanecem pouco dadas à partilha. Descrevem as investigadoras: “As reparações constituem uma atribuição masculina, já que em 82% dos casais são os homens que realizam esta tarefa sempre ou habitualmente; e o tratamento da roupa é a tarefa em relação à qual estão mais arredados, pois são as mulheres que a realizam esmagadoramente (em 92% dos casais). Aliás, esta é a tarefa doméstica menos partilhada, pois apenas 6% dos casais” a dividem entre si. Já noutros campos há mais divisão. Sobretudo nos cuidados aos doentes — com 47% dos casais a dizerem que partilham as actividades desse tipo. O inquérito também questionou homens e mulheres sobre se “todas as tarefas domésticas” devem ou não ser divididas de forma igualitária. E 74% e 81, 4%, respectivamente, acreditam que sim. “Estes resultados desvendam o desacerto entre a norma da igualdade a nível dos valores e as práticas dos casais que estão longe de ser igualitárias”, conclui-se. De resto, no capítulo do trabalho remunerado, as diferenças entre horas gastas por homens e por mulheres são mais reduzidas. Mulheres que trabalham a tempo inteiro, por exemplo, têm em média horários de 36 horas por semana. Homens com o mesmo regime laboral chegam às 39 horas por semana. Já o ganho médio mensal é, em valores ilíquidos, de 1093 euros para os homens e de 958 euros para as mulheres. Contando com salários e suplementos remuneratórios. O Livro Branco sobre os homens, os papéis masculinos e a igualdade de género deverá incluir um conjunto de recomendações de políticas públicas a adoptar nesta área, explica Karin Wall. O ponto de partida é este: “Temos de perceber a realidade do ponto de vista dos homens para conseguir promover a igualdade. É preciso um enfoque nos homens, como é que eles vêem estas questões? Será que têm percepções diferentes da vida familiar? Será que acham que a mulher deve dedicar-se mais às crianças ou até querem entrar mais na vida familiar? Será que há obstáculos para que entrem? É claro que há. ” Vários dados sobre os homens e a educação, o emprego e a família, que procuram dar resposta a algumas destas interrogações, estarão em debate nesta quinta-feira. As recomendações virão depois.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens cultura campo educação mulher ajuda homem social igualdade género estudo espécie mulheres doméstica
Conheça as portuguesas que foram pioneiras nas profissões liberais e no activismo
Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas". (...)

Conheça as portuguesas que foram pioneiras nas profissões liberais e no activismo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas".
TEXTO: Várias mulheres destacaram-se na medicina, na engenharia, na advocacia, na escrita, no activismo político e na defesa dos direitos das mulheres durante a primeira metade do século XX, numa sociedade em que imperava a figura masculina do "chefe de família". Esta quarta-feira passam cem anos da publicação do decreto, promulgado por Sidónio Pais, que legitima o acesso das mulheres a "várias funções públicas". Conheça algumas mulheres que se destacaram na luta pelos seus direitos:Regina QuintanilhaA primeira mulher a licenciar-se em Direito e a exercer a advocacia ainda antes do decreto de 1918 que consagrou a abertura da profissão às mulheres. Conseguiu uma autorização do Supremo Tribunal de Justiça e estreou-se em 1913, no Tribunal da Boa Hora. Nasceu a 9 de Maio de 1893, em Bragança, no seio de uma família abastada. Aos 17 anos pediu a matrícula na Universidade de Coimbra e terminou o curso em três anos. Carolina Beatriz ÂngeloFoi a primeira mulher a exercer o direito de voto, alegando reunir todas as condições estabelecidas na lei, em 1911: era portuguesa, viúva, chefe de família, com formação superior. Mas não foi fácil para esta mulher que nasceu na Guarda, que se formou em Medicina e morreu aos 33 anos. Então, o regime não aceitou. Por isso, Beatriz Ângelo levou o caso a tribunal, conseguiu recensear-se e votar nas eleições para a Assembleia Constituinte. A lei foi posteriormente alterada para explicitar que só os homens podiam votar. Deixou um intenso legado na luta pelos direitos das mulheres. Maria Amélia ChavesA primeira engenheira, licenciada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, em 1937. Morreu no ano passado. Ao prestar-lhe homenagem numa publicação, o Técnico afirma que depois de concluir a licenciatura voltou a surpreender "tudo e todos" ao ir para o terreno liderar um grupo de operários. “Quando lutamos e sabemos o que fazemos, somos aceites”, dizia. Adelaide CabeteRepublicana, médica e professora. Pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, como o voto e um período de descanso (um mês) antes do parto. Natural de Alcáçova, em Elvas. Órfã, de origem humilde, estudou depois de se casar. Concluiu o curso em 1900, com a tese "Protecção às Mulheres Grávidas Pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações". Na sua biografia, consta que foi a primeira mulher a votar a Constituição Portuguesa que instala o Estado Novo, ao qual se opôs. Ana de Castro OsórioEscreveu em 1905 As Mulheres Portuguesas, que é considerado o primeiro manifesto feminista português. Natural de Mangualde, profetizou que a mulher portuguesa só no trabalho encontraria a sua carta de alforria, não no trabalho esmagador, exercido como castigo, mas “no trabalho que enobrece o espírito, que dá o belo orgulho dos que só contam consigo e nunca foram um peso para ninguém”, conforme recorda a investigadora Irene Pimentel no livro Mulheres Portuguesas, em co-autoria com Helena Pereira de Melo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aurora de Castro GouveiaA primeira notária, não apenas em Portugal, mas na Europa, e a segunda mulher a exercer advocacia no país, segundo a historiadora Irene Pimentel. Maria José EstancoA primeira mulher arquitecta. Natural de Loulé começou por frequentar Pintura, em Belas Artes, optando mais tarde pelo curso de Arquitectura, que concluiu em 1942. O Arquivo Distrital de Faro prestou-lhe este ano homenagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, dando conta do seu percurso: “Tentou o ingresso em vários ateliers de arquitectura, porém viu a entrada no mercado de trabalho ser barrada pela sua condição feminista, pelo que se dedicou à decoração de interiores e à criação de móveis". Integrou a direcção do Conselho Nacional para a Paz e o Movimento Democrático das Mulheres. Manuela AzevedoA primeira jornalista com carteira profissional (morreu no ano passado com 105 anos). Escreveu romances, poesia e teatro. Viu uma das peças censurada pelo regime de Salazar e enfrentou a censura num artigo que escreveu em 1935 sobre eutanásia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens lei tribunal mulher mulheres feminista eutanásia
Nas Caldas da Rainha há 93 hectares de mata do Estado ao abandono
Área arborizada gerida pelo ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) está coberta de mato e silvas. Risco de incêndio é elevado. (...)

Nas Caldas da Rainha há 93 hectares de mata do Estado ao abandono
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Área arborizada gerida pelo ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) está coberta de mato e silvas. Risco de incêndio é elevado.
TEXTO: Se algo destaca a freguesia do Carvalhal Benfeito, no concelho das Caldas da Rainha, é a Mata Nacional das Mestras, uma área de 93 hectares, dos quais 84 estão arborizados, sobretudo com sobreiros, mas também com algum pinheiros mansos e carvalhos. Contudo, o que poderia ser um espaço de lazer e de fruição, é hoje em dia um sítio abandonado onde as silvas e o mato chegam a atingir dois metros de altura, cobrindo por vezes os próprios sobreiros, que mal se vislumbram no meio do matagal. A rede viária interior, com uma extensão de quatro quilómetros, está também invadida pelo mato e com locais onde até um veículo todo-o-terreno teria dificuldade em passar. “Revolta-me ver a mata neste estado!” O desabafo é do presidente da Junta de Freguesia de Carvalhal Benfeito, António Colaço, que se sente impotente perante uma administração que não só não cuida daquele espaço, como nega a existência do problema. “O Estado é que deveria dar o exemplo e a mata deveria estar mais cuidada e mais limpa, mas quando lhes pergunto [ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas — ICNF] respondem-me que está tudo bem, que a gente não se preocupe porque está tudo sobre controlo”. Pedro Roque vive na localidade das Mestras, que confina com a mata nacional, e não esconde a preocupação pela elevada probabilidade de ali ocorrer um incêndio. É ele que mostra ao PÚBLICO a visível a falta de limpeza da mata. ?Casa da guarda abandonadaDe repente avista-se uma casa em alvenaria. Uma construção sólida, com vários anexos, mas abandonada desde 1990 e agora coberta de vegetação. Era a casa do guarda, num tempo em que a Mata Nacional das Mestras estava sob a alçada da guarda florestal. Naquela época, conta Carlos Ribeiro — que nasceu e viveu a sua infância naquela casa porque o pai era o guarda da Mata — tudo estava limpo e devidamente cuidado e podia-se circular entre os sobreiros sem precisar de uma roçadora mecânica. Foi o que aconteceu no ano passado quando se realizou a extracção de cortiça dos sobreiros. Para os homens poderem acercar-se aquelas árvores, foi necessário uma roçadora para abrir uma picada por onde passava o pessoal e a cortiça. De acordo com o ICNF, aquele instituto vendeu em hasta pública 1540 arrobas (23. 100 quilos) de cortiça por 18. 762 euros. Já em 2011 a Mata das Mestras também proporcionou receitas ao Estado. Desta vez foram 60. 800 euros obtidos através da venda, também em hasta pública, de um lote de 7, 7 hectares de povoamento puro de pinheiro bravo que proporcionaram 2627 metros cúbicos de madeira. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto à falta de limpeza, o ICNF realça que se trata de “uma mata com estatuto de conservação e, nessa medida, tem tido o grau de intervenção adequado ao seu estatuto”. A mesma resposta, enviada por email, refere ainda que “o ICNF já concluiu a realização das faixas secundárias de gestão de combustível na Mata Nacional das Mestras” tendo, por isso, dado cumprimento, ao previsto na legislação. Quanto à vigilância da Mata, o instituto diz que esta esteve cometida ao Corpo de Sapadores Florestais, mas após a integração deste na GNR, a responsabilidade passou para esta entidade. Refere ainda que “existem vários postos de vigia fixos que têm bacias de visibilidade sobre a área”.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR