A desesperança brasileira encontrou casa em Portugal
Fogem da violência, da crise política e social, de um futuro que parece impossível. Cada vez mais brasileiros cruzam o oceano e criam raízes em Portugal. As motivações, a dor de dizer adeus, os desafios e os possíveis tropeções de uma vida de imigrante (...)

A desesperança brasileira encontrou casa em Portugal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fogem da violência, da crise política e social, de um futuro que parece impossível. Cada vez mais brasileiros cruzam o oceano e criam raízes em Portugal. As motivações, a dor de dizer adeus, os desafios e os possíveis tropeções de uma vida de imigrante
TEXTO: A decisão veio empurrada por um país à beira do precipício. Por causa dele, ou apesar dele. O desejo de cruzar fronteiras estava até inscrito numa espécie de lista mental de ambições a cumprir um dia — mas talvez não ganhasse vida tão cedo sem esse Brasil em colapso político, económico, social. Mergulhado num vazio de futuro. “A crise maior é a desesperança. A gente não tem esperança numa recuperação a médio prazo”, diz Paula Oliveira, tom de voz entristecido. “O que se ouve é: não vou viver tempo suficiente para ver o Brasil recuperar”, conta numa conversa telefónica, a manhã ainda há pouco saída da madrugada no lado de lá do Oceano Atlântico e já ensolarada em território luso. Se tudo correr como Paula e o marido Rafael Lima Joia anseiam, o casal e a filha Beatriz, de três anos, vão integrar, no primeiro trimestre do próximo ano, as estatísticas de brasileiros a abandonar o país. E a escolher Portugal como nova casa. A imigração brasileira não é tema novo. Desde os anos 80 que a travessia acontece tendo Portugal como destino, com maior ou menor fluxo. Numa linha de tempo mais recente, viu-se a crise portuguesa a fazer brasileiros regressar ao seu país, primeiro, e a crise brasileira a fazê-los sair de novo, depois. Em 2017, eram 85. 426 os que por cá tinham morada, fazendo dos “canarinhos” a maior comunidade estrangeira residente em Portugal. Os números são do Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), e falam de um crescimento de 5, 1% em relação a 2016. Em Lisboa e no Porto, são já os brasileiros quem domina o mercado de compra de casa por estrangeiros (representam 19% do total de compras a nível nacional, segundo dados de 2017 da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal). “Chegamos a uma fase da vida em que queremos ter mais segurança e qualidade de vida. E achamos que Portugal nos dará isso”, diz Rafael, a sublinhar o sobrenome Lima, prova da ligação genética a Portugal. Estava o ano passado a dobrar e Júlio Morais aterrava em Lisboa. Desta vez para ficar. Tinha feito a mesma viagem por duas vezes na pele de turista e sentido desde o primeiro momento que aquela podia ser a sua casa. Há cerca de ano e meio, a ideia começou a invadir “mais fortemente” a sua cabeça: “Comecei a procurar um jeito de viabilizar a minha saída do Brasil. ” Motivação maior: fuga da violência. “Já não podia sair de casa tranquilo. Sempre que saía, mesmo de carro, vivia olhando à minha volta, de portas trancadas. À noite, era já impensável. ” Músico, cantor e compositor natural de Recife, Júlio Morais sabia não estar a dar o passo mais prudente do ponto de vista profissional: “Portugal não é óbvio para ganhar dinheiro. O Canadá, por exemplo, seria melhor. ” Mas o resto pesava mais. O resto era a língua partilhada, a cultura semelhante, um clima que lhe soava amigável. Acesso mais fácil à educação e à saúde. E a possibilidade de viver sem medo. “É impagável essa sensação”, atesta a pernambucana Yone da Fonte, em Portugal há menos de um ano, ao tentar relatar o mesmo sentimento e rendida à falta de palavras capazes de o explicar: “Não sei descrever a sensação de poder andar na rua tranquila, sem medo. ”Pedro Góis, sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, anda há vários anos a estudar as relações entre os dois países. Desde 2009, altura em que publicou um trabalho focado nas características desta imigração, o investigador tem notado alterações no perfil de quem vem para Portugal. Até esse ano, os imigrantes eram sobretudo ligados ao mercado de trabalho — “os muito qualificados, que desde os anos 80, com a chegada dos dentistas, foram chegando e alterando as profissões; e os menos qualificados, que vinham sobretudo para a construção civil, limpezas, trabalho no shopping”. Com a crise lusa a ganhar dimensão, houve um regresso a casa dessas pessoas. E agora que Portugal ganhou fôlego e o Brasil vive sem ele, essa “migração laboral voltou”. Mas não exactamente igual. Aos perfis já falados, Pedro Góis junta mais dois: os estudantes, um “grupo que está a crescer muito” (dados governamentais apontam para 13. 785 alunos inscritos), e os “estrangeiros residentes, que mudam a sua vida por razões económicas” (e onde se incluem os chamados vistos gold). Além disso, sublinha Pedro Góis, é preciso ter em atenção que os números do SEF pecam sempre por defeito, uma vez que as pessoas podem ficar no país até 180 dias sem iniciar o seu processo de legalização. “Pode haver gente a chegar agora que só entra nos números totais daqui a uns tempos”, explica. E o que é previsível que se veja nessas estatísticas no futuro? “A tendência não será apenas para aumentar mas para acelerar bastante o número de pessoas que vêm. ” É que à medida que a “rede migratória” se vai formando do lado de Portugal, os “riscos” para quem vem decrescem. E, acrescenta o sociólogo, “os salários no Brasil estão muito baixos e a vida não está muito barata”. Foi essa intenção de debandada que detectou um estudo recente da Datafolha, instituto de pesquisa ligado ao jornal Folha de São Paulo. Quase metade (43%) da população adulta dizia ter vontade de sair do país. E se o olhar se fixava em faixas etárias mais baixas (16 a 24 anos) essa percentagem subia para 62%. Ainda que o destino preferido dos brasileiros para emigrar continue a ser os Estados Unidos, mostra o estudo, os pedidos de cidadania portuguesa são cada vez mais — assim como o número de vistos para empreendedores, reformados e estudantes. Yone da Fonte conseguiu o visto graças à academia, em Outubro de 2017. Jornalista formada em 2003, tinha no Recife um emprego estável como repórter num canal de televisão. Mas há muito acumulava uma vontade de fazer uma pausa no trabalho para estudar. “Juntando a crise com questões pessoais pensei que talvez fosse hora de emigrar”, contou. Cogitou o Canadá, os EUA, a Irlanda. Mas um dia, numa feira na sua cidade, viu anúncios de um mestrado em Tecnologias de Informação, Comunicação e Multimédia em Portugal e começou a fazer planos. “Despedi-me, vendi o carro, a casa, matei o dinheiro que tinha. E vim. ” Yone sorri ao perceber a narrativa aparentemente imprudente para logo de seguida dar provas de que o risco valeu a pena: “Vim para fazer o mestrado e regressar ao Brasil depois. Mas me surpreendi muito com o quanto gostei de cá estar. A minha vontade é ficar. ”Desta vez, porém, o risco será mais moderado. “Tudo depende do mercado de trabalho”, diz: “Se conseguir emprego fico. ” Por estes dias, Yone anda a percorrer o país de Norte a Sul com os pais. E agora, apaixonados por Portugal e encorajados pela viagem da filha, até eles ponderam uma mudança de país. Foi essa influência que caiu também sob a actriz Juliana Montenegro. Depois do encanto relatado pelo namorado Júlio Morais, também ela quis fazer as malas e trocou o Nordeste do Brasil por Lisboa há cerca de um mês. “Como 99% dos brasileiros, para não dizer todos, estávamos insatisfeitos com o nosso país. É uma coisa antiga, mas depois do impeachment [de Dilma Rousseff] tudo piorou. E por incrível que pareça continua piorando”, justifica Júlio. Que Brasil é esse, afinal, e o que se está vivendo agora que não acontecia antes?Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista brasileira, anda há cerca de três décadas a calcorrear o país em busca das histórias por detrás da fachada. E o que ela nunca vê é um Brasil conjugado no singular: “São Brasis, muito diferentes entre si. ” E alguns deles “com uma imensa força criadora”. Ainda que muitas vezes se vejam esmagados por esse “Brasil que detém o poder económico e político” que não só ignora os “Brasis mais originais” — como aquele que ela conheceu na Amazónia, onde faz trabalhos nos últimos 20 anos e onde vive actualmente — como, “aceleradamente, os destrói”. É uma crise climática e da democracia, diz Eliane Brum, ampliada por um “profundo desencanto”. Mas nessa renúncia ao país de sotaque açucarado cabe também o diagnóstico de uma geração. Desistir não está nos planos de Rafael Lima Joia e Paula Oliveira. Querem sair por agora, mas a ideia de não olhar para trás não está programada. No Rio de Janeiro, vivem num T2, 70 metros quadrados, condomínio fechado. A filha Beatriz — cujo nascimento foi também “muito motivador” para a decisão de emigrarem — anda numa escolinha privada. É lá que encontram a garantia de qualidade. Tal como na saúde. “Não é negado atendimento a ninguém nos hospitais públicos, mas muitas vezes não existe um atendimento adequado. ” Palavra de Paula Oliveira, médica especialista em Cardiologia, neste momento a tentar obter um reconhecimento do diploma para poder trabalhar em Portugal. “O número de funcionários é baixo, os meios são insuficientes. Há hospitais públicos, mas actuam de forma precária. ”A auscultação ao país tem detectado fraquezas. Mas para Paula Oliveira são “problemas crónicos que se perpetuam na história do país”. Rafael Lima Joia fala de um fosso social histórico, mas agora ampliado. “Há quatro anos, com a Copa e depois as Olimpíadas, houve um excesso de expectativas e gastos públicos”, diz, dando o exemplo do investimento feito no estádio do Maracanã (cujo nome oficial é Estádio Jornalista Mário Filho) em oposição ao abandono da favela da Mangueira, mesmo ao lado. “Investiu-se achando que isso seria a salvação do Brasil. E não aconteceu. ”Filho de pai português, Marcelo Migowski viu muitos brasileiros a chegar a Portugal que, “por desconhecimento — sobretudo de legislação e de funcionamento dos órgãos públicos portugueses —, deixaram de atentar para várias coisas que comprometeram a vida deles no país”. Por causa disso, decidiu atirar-se à escrita de um livro que ajudasse a evitar fracassos como o de “gente formada em áreas como engenharia e informática que, em Portugal, trabalhava em lojas porque não sabia que era preciso um reconhecimento do diploma”. Chama-se Destino. . . Portugal, sonho ou realidade? e procura orientar quem quer emigrar, respondendo a questões como os vistos, a aquisição de nacionalidade portuguesa, o arrendamento e compra de casa, emprego, envio de dinheiro para o exterior, abertura de conta, transferência de contribuições para a segurança social para a reforma, validação de diplomas, matrículas em escolas, entre outros. “Uma grande quantidade de pessoas emigra sem estar preparada. Isso ainda acontece”, aponta Migowski, para logo de seguida dar conta do bê-á-bá para não haver deslizes: “planeamento, consciência do que se vai buscar, tendo bem definido o que se quer fazer, documentação e uma reserva financeira”, aconselha. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ainda há pouco tempo Pedro Góis esteve no Brasil a dar seguimento a um estudo encomendado pela Organização Internacional das Migrações, onde se procura perceber a imigração brasileira que corre mal. E sim: “Há um número importante de imigrantes para quem a experiência corre mal. ” O projecto integrado pelo sociólogo, com apoio do estado português e da União Europeia, ajuda aqueles que “já não têm outra possibilidade que não regressar ao Brasil, mas não têm sequer condições económicas para pagar a viagem de regresso”. E nos últimos dez anos foram cerca de duas mil as pessoas nesta situação. Portugal como o novo el dorado da emigração brasileira, como tem sido nomeado em alguma imprensa brasileira, não é certamente uma realidade, sublinha Pedro Góis: “E devemos tentar não vender essa ideia. ”Gerações de portugueses cresceram a respirar a cultura brasileira: literatura, música, novelas, futebol. Do outro lado do oceano, gerações de brasileiros sabem ter Portugal inscrito no ADN, mesmo que durante muito tempo as referências não fossem muito além dos ranchos folclóricos, do fado, Camões, Pessoa e Madredeus. Ainda que a imagem lusa não estivesse livre de anedotas, do António e do Manuel da padaria, do fantasma do colonialismo. De preconceitos e estereótipos — estes nas duas direcções. Para lá disso, há uma ponte afectiva entre os dois países, umas vezes com trânsito num sentido, outras noutro, biografias mescladas, de gravata e havaianas, um eterno ir e voltar. Afinal, diz Júlio Morais em modo retórico, “vimos todos do mesmo, não é?”
REFERÊNCIAS:
Eis as vozes que mais se fizeram ouvir (em 2018) com o megafone do P3
De piropos a emigração, passando por crises de idade e amor entre irmãos: são estas as cinco crónicas mais lidas este ano no P3. (...)

Eis as vozes que mais se fizeram ouvir (em 2018) com o megafone do P3
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231195926/https://www.publico.pt/n1856141
SUMÁRIO: De piropos a emigração, passando por crises de idade e amor entre irmãos: são estas as cinco crónicas mais lidas este ano no P3.
TEXTO: Aconteceu. Liliana Borges, jornalista do PÚBLICO, pegou no megafone e berrou contra os piropos, naquela que foi a crónica mais vista — por larga maioria — do P3. Contra o piropo e o assédio sexual, a jornalista relatou uma série de experiências, num texto que quer acabar com a típica desculpabilização: "Não tem mal, não ligues, é gente doida, o melhor é ignorar". Desta vez, Liliana não ignorou e fez com que milhares de leitores não ignorassem. Em época de férias de Verão, Carlos Daniel Barros, investigador, fez um pedido: “Vamos calçar os sapatos dos outros”. O investigador deixou o apelo para que acabassem os massacres aos emigrantes nas caixas de comentários das redes sociais e defendeu a coragem dos que deixam o conforto de casa em busca de melhores condições de vida. Carlos Daniel Barros quis acabar com o estereótipo do emigrante que traz "um carro XPTO" e fala com uma pronúncia "que baila entre o português e os inúmeros estrangeirismos" — e isso valeu-lhe o segundo lugar das crónicas mais vistas. Que levante o dedo quem já chegou ao quarto de século. É verdade que aos 25 se aprende a ouvir mais os pais? A ser mais independente? A fazer compras? Para Ana Carolina Rocha, licenciada em Ciências da Comunicação, os 25 são a idade dos novos “porquês” e uma “ponte desequilibrada”: de um lado, a loucura característica da juventude e, do outro, o “não ser tão jovem assim”. Se os 30 são os novos 20, a crise dos 25 há-de ser a nova crise dos 40. Se estás nessa fase, nada temas — lê o texto e encontra inquietações semelhantes às tuas. Quem tem irmãos sabe que, apesar das lutas pelo último biscoito, não há amor que se compare ao fraterno. Pedro Sampaio Minassa, estudante de Direito no Brasil, escreveu sobre a sorte de ter alguém com quem partilhar experiências (e o último biscoito que tanto querias). Num texto onde se destacam os sentimentos — às vezes escondidos — entre irmãos, o estudante brasileiro tocou corações e pôs milhares a identificar os irmãos e as irmãs nas caixas de comentários com mensagens de amor. Foi bonito de se ver. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Voltar a casa depois de dez anos emigrado. Deixar as saudades, para sentir o abraço da mãe, o cheiro a sal e o calor na varanda. O cenário parece bom demais para ser verdade — e neste caso não é. O texto fictício da autoria de João André Costa foi o quinto mais visto e traz, depois do cenário agradável de regresso a casa, a falta de oportunidades de quem volta, que obriga a pedir ajuda aos familiares e amigos, até à inevitável decisão de emigrar outra vez. E termina com uma dura conclusão: "Portugal está na mesma, melhor só para quem pode mas nem por isso para quem quer. " Que em 2019 a crónica tenha um desfecho diferente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda sexual emigrante assédio
Digital detox: nesta casa os telemóveis ficam à porta
Trocaram Londres por Aljezur para abrir um projecto de "digital detox" onde o surf e o yoga são centrais. A marca "Offline Portugal" foi um dos 20 negócios apoiados pelo VEM, programa de incentivo ao regresso dos emigrantes do anterior governo. Para Bárbara e Rita foi apenas um incentivo financeiro — o regresso já estava decidido (...)

Digital detox: nesta casa os telemóveis ficam à porta
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181120204437/https://www.publico.pt/n1825662
SUMÁRIO: Trocaram Londres por Aljezur para abrir um projecto de "digital detox" onde o surf e o yoga são centrais. A marca "Offline Portugal" foi um dos 20 negócios apoiados pelo VEM, programa de incentivo ao regresso dos emigrantes do anterior governo. Para Bárbara e Rita foi apenas um incentivo financeiro — o regresso já estava decidido
TEXTO: O telemóvel e a tecnologia como bengala permanente. As amizades programadas, a espontaneidade a zeros, a falta de contacto visual. Bárbara Miranda traçou o perfil da cidade em pouco tempo: em Londres, a metrópole gigante, as pessoas viviam “solitárias”, dependentes da tecnologia, na sua “própria bolha” — e isso soava-lhe deprimente. Naquele momento, com a amiga Rita Gomes como parceira, decidiu que queria fazer algo em relação ao assunto. E assim foi. Neste fim-de-semana, em Aljezur, abrem as portas da “Offline House”, projecto de digital detox (é isso mesmo: desintoxicação digital) que esteve entre os vinte negócios apoiados pelo VEM, programa de incentivo ao regresso dos emigrantes do anterior governo. Querem desconectar da rede para conectar com as pessoas. As duas amigas não entram no típico perfil de emigrantes empurrados pela crise. Bárbara, 34 anos, arquitecta, despediu-se de um atelier em Lisboa em 2010 depois de quatro anos de trabalho. Queria especializar-se em design de interiores e sobretudo viajar — e sabia que o salário português nunca lhe daria fôlego para isso. Rita, 36 anos, fez o curso de psicologia clínica e encontrou emprego logo de seguida na câmara de Torres Vedras. Mas cinco anos de trabalho depois, em 2010, sentia-se assustada com a ideia de ter um “emprego para a vida”. Seria mesmo aquilo que queria fazer para sempre? Pediu uma licença sem vencimento e partiu. Fez voluntariado, trabalhou nos jogos olímpicos, passou por uma ONG que lutava contra a fome e o desperdício alimentar. Deu aulas de inglês na Tailândia e em Barcelona. Rita e Bárbara conheceram-se em Londres. Por lá, descobriram sonhos comuns — e decidiram, cinco anos depois de terem emigrado, que haviam de regressar a Portugal. Não foi o VEM que as fez voltar, mas o apoio de 20 mil euros do programa concebido pelo ex-secretário de estado Pedro Lomba — apontado como "inconsequente" por alguns analistas e criticado pela oposição — "veio mesmo a calhar”, graceja Rita. A psicóloga estava na Tailândia a dar aulas (e a fugir do frio londrino) quando uma jornalista da RTP, amiga de uma amiga, a contactou. Estava a fazer um trabalho sobre emigrantes portugueses pelo mundo e queria saber o que achavam sobre o programa VEM. “Eu não conhecia. Fiquei a saber nessa altura que havia um apoio para aquilo que queria. ”Aquilo que Rita e Bárbara queriam era abrir em Portugal um espaço onde a tecnologia não tivesse lugar e as pessoas se relacionassem sem essa bengala, fazendo do yoga e do surf os principais meios para a “desintoxicação”. Um espaço onde um jantar fosse apenas um jantar — e não uma sessão fotográfica para o Instagram. Onde ninguém pudesse fazer “check-in” à entrada através de uma qualquer rede social. Onde as pessoas falassem apenas olhos nos olhos. Onde os telemóveis, "tablets" e computadores ficassem à porta. O reverso do que encontraram no Reino Unido nos anos em que lá viveram: “Em Londres, ninguém olha nos nossos olhos. Os ‘dates’ são combinados online, já não se fala sequer ao telefone. Usa-se Whatsapp, Facebook events. . . Perdeu-se o encanto de um primeiro encontro”, diz Bárbara em conversa com o P3. A “Offline Portugal”, marca que criaram, não tem uma filosofia fundamentalista contra a tecnologia: defende apenas que precisamos de pausas do online e a felicidade fica mais próxima assim. “De forma alguma queremos que os telemóveis e a internet desapareçam, apenas chamamos a atenção para o uso excessivo. ”A medicina dá-lhes razão. O estudo da dependência da internet foi recomendado na última edição do Manual de Doenças Mentais (DSM-V), lançado pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013, e em Portugal o SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências) alargou a área de intervenção a dependências sem substância, onde a internet é incluída. Um estudo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) feito no final de 2014 também fazia coro: três quartos da população até aos 25 anos apresentava dependência do mundo digital e 13% destes mostravam mesmo sinais severos de adição, concluiram os investigadores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As criadoras da marca “Offline Portugal” — cujo primeiro grande projecto é a “Offline House”, na Arrifana, mas que irá integrar também organização de eventos à volta do conceito “offline” — conhecem bem este diagnóstico. Antes de desenharem o projecto final, Rita e Bárbara leram vários estudos sobre dependências e "digital detox", um conceito nascido nos Estados Unidos da América em 2011 para responder a esta realidade. E perceberam que apesar da dependência crescente há também “um número crescente de pessoas a tentar reduzir o uso de redes sociais e tecnologia”. No Reino Unido, “mais de metade (53%) afirmam querer passar mais tempo de qualidade” com amigos e família. Os encantos da Arrifana, em pleno parque natural do sudoeste alentejano e costa vicentina, eram velhos conhecidos da dupla. E quando pesquisavam o local ideal para a casa foi fácil chegar ali. Na “Offline House” há oito quartos — um deles com beliches, para estadias mais económicas — jardim e piscina. Há instrumentos musicais espalhados por todo o lado (e à disposição dos hóspedes), jogos de tabuleiro, xadrez, cartas e uma televisão que raramente vê o “on” accionado. Para ajudar na desintoxicação há surf, yoga e outros actividades feitas em parceria com instituições locais, com pacotes de três ou sete noites. Desde Janeiro a viver na casa, as duas amigas e Sten, namorado de Bárbara que se juntou ao projecto como professor de surf, têm feito vários “testes” com amigos. E com eles próprios. Uma vez por semana, e alternadamente porque têm um negócio para gerir e precisam de estar contactáveis, desligam por 24 horas seguidas. E todos os dias ao final da tarde ficam “offline” e incontactáveis para o mundo. A principal diferença? “Passamos a ter mais tempo para tudo”, diz assertiva Bárbara Miranda. E Rita Gomes acrescenta: “Não é imediato. A gestão de emoções demora. Mas depois de nos habituarmos a estar sem rede a diminuição do stress é enorme. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome social estudo salário
Governo italiano ameaça vetar Orçamento europeu
Roma exige uma política comum de imigração e diz que a aprovação do Orçamento "não é um dogma". (...)

Governo italiano ameaça vetar Orçamento europeu
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190522160058/https://www.publico.pt/n1842342
SUMÁRIO: Roma exige uma política comum de imigração e diz que a aprovação do Orçamento "não é um dogma".
TEXTO: O Governo italiano reforçou esta semana a ameaça de paralisar a União Europeia com um veto durante a votação do próximo Orçamento que desbloqueará fundos para os próximos sete anos. No centro da discórdia está a política de imigração europeia – ou a falta dela, segundo o vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio. Apesar de algumas divisões nos dois parceiros de Governo em Itália, com a Liga a defender medidas ainda mais duras do que o Movimento 5 Estrelas, numa coisa o executivo está unido: "Se a situação da imigração não se altera em breve, o veto será certo", disse Di Maio, do Movimento 5 Estrelas, num texto escrito na sua página no Facebook. "Acima de tudo, a aprovação do Quadro Financeiro Plurianual para os próximos sete anos, que eles gostariam de aprovar à pressa antes das próximas eleições europeias, não é um dogma", ameaçou o governante italiano. Antes dele, já o ministro da Administração Interna, Matteo Salvini, tinha ameaçado deixar de transferir dinheiro para o Orçamento europeu. No dia da queda da ponte em Génova, o líder da Liga disse mesmo que situações como essa resultavam das políticas de austeridade aplicadas por Bruxelas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As desavenças entre a União Europeia e o novo Governo italiano não são uma novidade – foi por causa dessa atitude de distanciamento que a Liga e o Movimento 5 Estrelas foram os partidos mais votados. Mas a situação agravou-se quando o comissário europeu para o Orçamento, Günther Oettinger, desmentiu o Governo italiano sobre o montante que Roma transfere anualmente para os cofres europeus. "Não são 20 mil milhões de euros por ano. A Itália paga 14, 15 ou 16 mil milhões por ano. Mas se contabilizarmos o que eles levam do Orçamento europeu, a contribuição fica-se pelos três mil milhões por ano", disse Oettinger. "Ninguém gosta de pagar. Mas se mandamos vir, temos de pagar", concluiu.
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Palavras-chave imigração
200 mil portugueses saíram do país nos dois últimos anos
Secretário de Estado das Comunidades diz que número de emigrantes é o dobro do indicado pelo INE. (...)

200 mil portugueses saíram do país nos dois últimos anos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Secretário de Estado das Comunidades diz que número de emigrantes é o dobro do indicado pelo INE.
TEXTO: O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, desvalorizou nesta sexta-feira, em declarações à TSF e à Lusa, os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que, na semana passada, indicou que teriam emigrado, em 2011, 44 mil portugueses. Considerou que aqueles dados não são “minimamente fiáveis” e manteve que, nos últimos anos, terão saído do país 100 mil a 120 mil portugueses por ano. Frisando que o INE se baseia em inquéritos de opinião feitos em Portugal, o secretário de Estado disse-se convencido de que, em 2012, emigraram mais de 100 mil pessoas. “Temos plena consciência de que a emigração portuguesa em 2012 aumentou – e só não aumentou mais porque as oportunidades de emprego no exterior diminuíram”, disse, em declarações à TSF. Segundo a Lusa, José Cesário prevê que o número de emigrantes portugueses tenderá a estagnar nos próximos anos, apesar do crescimento pontual registado para destinos como Angola, França e Suíça. Segundo disse, em 2012, terão ido para Angola “entre 25 mil e 30 mil portugueses” (mais cinco mil a dez mil do que no ano anterior), para a Suíça cerca de 18 mil e para Moçambique 2500.
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Tempo sexta-feira
Fundador do Facebook quer lançar grupo de lobby político nos EUA
Mark Zuckerberg quer que o Congresso aprove uma "reforma abrangente" do sistema de imigração, que permita atrair talento para os Estados Unidos e resolver a situação de onze milhões de trabalhadores clandestinos. (...)

Fundador do Facebook quer lançar grupo de lobby político nos EUA
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.1
DATA: 2013-03-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mark Zuckerberg quer que o Congresso aprove uma "reforma abrangente" do sistema de imigração, que permita atrair talento para os Estados Unidos e resolver a situação de onze milhões de trabalhadores clandestinos.
TEXTO: O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, está a colaborar com outros empreendedores e executivos de empresas tecnológicas para constituir um comité de acção política e pressionar o Congresso dos Estados Unidos a adoptar legislação que reforme o sistema de imigração, promova a educação e a investigação científica. Segundo o The Wall Street Journal, Zuckerberg está a apresentar a sua ideia a amigos e colaboradores de Silicon Valley, informando-os da sua intenção de avançar com a criação de uma organização política independente que faça lobby junto do Congresso e da Casa Branca, para a consideração e aprovação de uma série de projectos legislativos na área da imigração e do ensino. Os relatos de que Zuckerberg se terá comprometido pessoalmente com 20 milhões de dólares para a constituição do grupo não foram desmentidos pela porta-voz do Facebook, que, no entanto, se escusou a fornecer outros pormenores sobre o assunto. Alegadamente, Zuckerberg já garantiu comparticipações de monta para a sua iniciativa: o fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, foi apontado como outro dos principais financiadores. Vários líderes empresariais do sector de alta tecnologia têm alertado para a necessidade de uma reforma urgente no sistema de imigração, de forma a torná-lo “mais aberto e flexível”. Este grupo, que inclui os CEO de gigantes como a Microsoft, Google, Oracle, Intel, eBay e Yahoo, diz que o Governo deve facilitar a atribuição de vistos de trabalho e residência para indivíduos altamente qualificados. No início do mês, o fundador do Facebook foi um dos signatários de uma carta aberta dirigida ao Presidente Barack Obama, pedindo-lhe para não desistir do seu propósito de reforma do sistema de imigração. “No século passado, as pessoas falavam na corrida às armas. Agora falamos de uma corrida aos cérebros. E quem for capaz de atrair os melhores cérebros, as mentes mais brilhantes, os maiores talentos, vai ganhar essa corrida”, compararam os subscritores do documento. “Quando se está a debater a imigração, é nisso que se deve pensar: que os Estados Unidos precisam de atrair estes recursos que estão dispersos por todo o mundo”, explicou Rey Ramsey, o organizador da rede TechNet responsável pela divulgação da carta aberta. Mas, segundo as notícias, Zuckerberg pretende ir mais além nas suas propostas, defendendo – tal como a Administração Obama – uma “reforma abrangente” do sistema de imigração que estabeleça critérios e condições para que os cerca de 11 milhões de trabalhadores clandestinos nos Estados Unidos, muitos dos quais sem qualificações, possam permanecer no país. E essa não será a única causa que o novo comité de acção política pretende promover. A missão da organização também declara que o crescimento económico e o combate às desigualdades sociais passa pelo investimento na educação, que, segundo defende, também deve ser alvo de uma profunda reforma. O financiamento da investigação científica é a outra preocupação imediata dos financiadores da iniciativa. A imprensa norte-americana dizia que um sinal claro do compromisso de Mark Zuckerberg com a nova organização era a contratação de dois consultores políticos que são considerados como “pesos pesados” no circuito de lobby de Washington: o antigo director de comunicação do Presidente Bill Clinton, e um conhecido estratego republicano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração educação
Governo espanhol quer exame para dar nacionalidade e admite tirá-la por razões de ordem pública
Plataforma de Imigrantes de Madrid acusa executivo de querer criar "uma segunda categoria" de espanhóis sem plenos direitos civis. (...)

Governo espanhol quer exame para dar nacionalidade e admite tirá-la por razões de ordem pública
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.066
DATA: 2013-03-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Plataforma de Imigrantes de Madrid acusa executivo de querer criar "uma segunda categoria" de espanhóis sem plenos direitos civis.
TEXTO: Os estrangeiros que queiram ser espanhóis terão de passar por um “exame oficial” em que mostrem conhecer a língua e estar socialmente integrados. É o que prevê a versão preliminar de um anteprojecto de lei que também admite a perda da nacionalidade por razões de segurança nacional ou ordem pública, o que está a preocupar defensores da imigraçãoO Código Civil espanhol já determina que a concessão da nacionalidade depende de “boa conduta cívica e suficiente grau de integração na sociedade”. Mas, como explica o diário El País, quem avalia as situações são os juízes de cada região. E os seus critérios não são uniformes. O estrangeiro deve procurar mostrar que está integrado, mas só é submetido a “exame” quando os juízes o exigem. Alguns obrigam a uma prova de cultura geral, outros entrevistam os requerentes para avaliar o conhecimento que têm do país. Segundo a agência Europa Press, que revelou as linhas orientadores do anteprojecto, a nacionalidade continuaria a ser concedida pelo Ministério da Justiça, mas o processo burocrático correria no registo civil competente. As mudanças pretendidas pelo Governo constam precisamente do anteprojecto de Reforma Integral dos Registos. A ideia de criar um “exame oficial” fazia parte do programa eleitoral do Partido Popular, liderado pelo actual chefe do Governo, Mariano Rajoy, nas eleições que em 2011 lhe deram a vitória. Os documentos e provas apresentadas pelo requerente de nacionalidade devem fazer parte de uma “acta notarial” da qual deve constar declaração que confirme aaprovação no “exame oficial”. Seria também o notário a atestar que foi feito correctamente o juramento de fidelidade ao Rei e obediência à Constituição. Fonte do ministério da Justiça citada pelo diário El País disse que “o anteprojecto ainda está em elaboração e o exame não é assunto encerrado”. “Estamos a falar com o Ministério da Educação para ver se se pode fazer e quais seriam os conteúdos. A ideia é acabar com a discricionariedade actual, estabelecer uma prova objectiva e homogénea para todos”, acrescentou. Caso vá para a frente o exame terá um nível “básico”, afirmou também. O Governo quer também modificações nos motivos de perda de nacionalidade para quem não é originariamente espanhol. Actualmente, isso podem acontecer nos casos em que alguém continue a fazer uso da nacionalidade a que declarou renunciar, se for militar ou desempenhar um cargo político num país estrangeiro, ou se tiver falsificado informações ou declarações para obter a nacionalidade de Espanha. No caso da função militar a ideia é alargar o impedimento, porque a prevista revisão do Código Civil passaria a determinar a perda da nacionalidade em todas as situações. Agora isso só acontece se o exercício de funções for feito contra a “proibição expressa do Governo” de Madrid. Aos motivos actuais para a perda de nacionalidade seria somado outro: “razões imperativas de ordem pública, de segurança ou interesse nacional”. É este que preocupa particularmente a Plataforma de Imigrantes de Madrid. A associação vê no anteprojecto “uma nova tentativa para coarctar os direitos das pessoas estrangeiras”. “Senhores [Mariano] Rajoy e [ministro da Justiça, Alberto Ruiz] Gallardón, que fique claro que continuaremos a denunciar os vossos atropelos”, refere um comunicado da associação, divulgado pelo diário El Mundo. “Pretende-se atemorizar os nacionalizados para que não participem na política nem nos movimentos sociais. “Quer criar-se uma segunda categoria legal de espanhóis, os que têm plenos direitos civis e os que estão limitados a exercê-los, porque correm o risco de o Governo de turno lhes retirar a nacionalidade de modo discricionário”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei cultura educação
Portugueses emigrados nos EUA estão envelhecidos e trabalham na indústria e construção
Apesar de continuarem a ser o terceiro país do mundo com mais portugueses emigrados, os EUA atraem cada vez menos emigrantes portugueses. Em 2012, foram apenas 811. E, entre 2000 e 2013, aquela comunidade perdeu cerca de 60 mil portugueses. (...)

Portugueses emigrados nos EUA estão envelhecidos e trabalham na indústria e construção
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento -0.1
DATA: 2014-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apesar de continuarem a ser o terceiro país do mundo com mais portugueses emigrados, os EUA atraem cada vez menos emigrantes portugueses. Em 2012, foram apenas 811. E, entre 2000 e 2013, aquela comunidade perdeu cerca de 60 mil portugueses.
TEXTO: Tem entre 40 e 64 anos de idade, é pouco escolarizado e trabalha na indústria transformadora, construção ou no sector dos transportes. Este é, em pinceladas muito gerais, o retrato-tipo dos portugueses emigrados nos Estados Unidos da América. Apesar de continuar a ser o terceiro país do mundo com mais portugueses emigrados (cerca de 166 mil), os EUA são hoje um destino secundário da emigração portuguesa. Na última década, e segundo o Observatório da Emigração, entraram anualmente naquele país mil portugueses em média. Além de envelhecidos, os 166, 582 portugueses que vivem actualmente nos EUA têm tendência a diminuir, porque a entrada de novos imigrantes (foram 811 em 2012, contra os 20 mil emigrados para o Reino Unido, naquele mesmo ano) não tem sido suficiente “para compensar a mortalidade e eventuais movimentos de retorno”, segundo o retrato da emigração portuguesa naquele país esboçado pelo Observatório da Emigração. Contas feitas, entre 2000 e 2013, a população portuguesa emigrada nos EUA perdeu cerca de 60 mil pessoas. E, apesar de menos desqualificados do que os que se encontram noutros destinos, os níveis de qualificação escolar e profissional dos portugueses emigrados nos EUA são muito baixos quando comparados com os imigrantes de outras nacionalidades. Apenas 10% dos portugueses emigrados nos EUA tinham, em 2001, um diploma do ensino superior. Entre os restantes, cerca de 60% tinham, no ano passado, apenas um diploma do secundário e 30% do ensino básico. “Não surpreende quando se tem em conta os níveis de escolarização da população portuguesa à data dos últimos grandes movimentos de saída de Portugal para aquele país”, lembram os autores do relatório. Quanto às profissões que desempenham, apenas um quinto trabalha por conta própria, sendo que a grande maioria (70%) encontrou emprego no sector privado. Onde? Na indústria transformadora, na construção, no comércio e na reparação de veículos automóveis, motociclos e bens de uso pessoal e doméstico, pormenorizam os autores do relatório. São, em síntese, “actividades pouco qualificadas”. A situação melhora um pouco quando a análise incide sobre os descendentes de portugueses já nascidos nos EUA, entre os quais 22% trabalhavam já nos serviços de educação, saúde e protecção social. Com uma história marcada por sucessivas vagas de emigração portuguesa – a última das quais na década de 1960 em que chegaram aos EUA mais de 175 mil portugueses –, os EUA parecem ter perdido atracção migratória nos últimos anos. Desde a entrada de Portugal na União Europeia, em 1986, mas também a partir do ataque às Torres Gémeas de Setembro de 2001, que levaram os norte-americanos a adoptar políticas migratórias mais restritivas. Este declínio da emigração portuguesa para os EUA traduziu-se, como era de esperar, numa queda das remessas enviadas a partir deste país: de 395 milhões, em 2000, para apenas 140 milhões, em 2013. No total das remessas dos emigrantes portugueses, aqueles montantes, que correspondiam a cerca de 13% das remessas, em 2000, representavam apenas cerca de 5%, treze anos depois. Os EUA tornaram-se assim no sétimo país de origem das remessas de emigrantes recebidas em Portugal, apesar de continuarem a ser (a par com a França, com quase 600 mil portugueses) um dos países com maior presença de imigrantes portugueses. Entre a população de luso-americanos contam-se mais de um milhão de descendentes das várias gerações de emigrantes portugueses. Quase todos nascidos nos EUA, “três quartos apenas falam inglês em casa” e também cerca de três quartos dos indivíduos nascidos em Portugal adquiriram entretanto a nacionalidade americana. Cerca de 37% dos emigrantes nascidos em Portugal vivem na região de Nova Inglaterra, onde se situam os estados de Massachusetts e de Connecticut, e outros 37% nos estados de Nova Jérsia e de Nova Iorque. Independentemente do local onde se encontram, a estrutura de idades dos portugueses naquele país é reveladora da antiguidade deste fluxo migratório: “os mais jovens, entre os 15 e os 39 anos, representam apenas 15% do total”. Entre os restantes, 56% têm entre 40 e 64 anos. Em 13 anos, entre 2000 e 2013, a percentagem de emigrantes com 65 e mais anos de idade quase que duplicou: passou de 16% para 28% do total.
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Entidades EUA
Casa Branca de Trump tenta defender o indefensável
Donald Trump culpa os democratas pela crise na fronteira com o México, republicanos no Senado tentam resolver crise da “tolerância zero” com imigração que separa famílias na fronteira (...)

Casa Branca de Trump tenta defender o indefensável
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Donald Trump culpa os democratas pela crise na fronteira com o México, republicanos no Senado tentam resolver crise da “tolerância zero” com imigração que separa famílias na fronteira
TEXTO: Crianças a chorar desesperadamente e a gritar pelos pais. A certa altura, um agente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras diz, em espanhol, que há ali “uma orquestra” e que só falta mesmo o “maestro”. Este é o cenário que se pode ouvir numa gravação, captada na semana passada num centro de detenção no Texas, publicada na segunda-feira pelo ProPublica. Este áudio serviu apenas para aumentar a pressão sobre a Administração Trump devido à política de “tolerância zero” relativamente à imigração, em que filhos menores são separados dos pais que tentam entrar ilegalmente nos EUA. Sem que nada mude no Governo, os próprios senadores republicanos iniciaram movimentações para resolver a questão. Desde que, em Abril, o attorney general (equivalente a ministro da Justiça) Jeff Sessions anunciou a instauração desta política, mais de duas mil crianças foram separadas das famílias na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sob estas ordens, as autoridades detêm automaticamente qualquer pessoa que passe a fronteira ilegalmente, até requerentes de asilo. Como não podem ser detidas, as crianças são levadas para outros locais, longe dos pais. No Partido Republicano, o desconforto é latente. E mesmo no interior da Administração o assunto é alvo de discórdia. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, revelou ontem que vai reunir-se com os senadores democratas para chegar a um entendimento sobre a crise. O objectivo, disse, é aprovar uma lei sobre a separação das famílias e não uma lei mais abrangente sobre a imigração. Internacionalmente, a condenação é generalizada — o porta-voz do Governo de Paris afirmou que actualmente França e EUA não partilham os mesmos valores. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, o jordano Zeid al-Hussein, foi particularmente duro e exigiu, na segunda-feira, que Washington ponha imediatamente um ponto final nesta actuação. “A ideia de que um Estado conseguiria deter os pais cometendo abusos contra crianças é inconcebível”, disse. O ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano, Luis Videgaray, descreveu as separações como “cruéis e desumanas”, pedindo aos EUA que recuem. Anunciou ainda que o seu país pretende trabalhar com os países de origem destes imigrantes para tentar repatriar as famílias separadas. “A lógica sugere que a Casa Branca, sob uma esmagadora pressão política, seria forçada a recuar na sua dura política de imigração”, escreve Stephen Collinson, correspondente da CNN na Casa Branca. Mas a Administração Trump insiste em desafiar todas as leis da lógica, coerência e verdade para defender o que cada vez mais consideram ser indefensável. Na segunda-feira, o briefing diário na Casa Branca da porta-voz da Administração, Sarah Sanders, foi repetidamente adiado. Até que Sanders revelou que seria Kirstjen Nielsen, secretária da Segurança Interna, a falar aos jornalistas para abordar a situação da imigração. Quando Nielsen entrou na sala de imprensa tinha passado pouco mais de uma hora desde a divulgação da gravação do choro das crianças no Texas. Questionada sobre possíveis abusos, Nielsen garantiu que Washington “tem padrões elevados” e que as crianças estão a ser bem tratadas: “Damos-lhe refeições. Damos-lhe educação. Damos-lhe cuidados médicos. Há vídeos, televisões”, disse. Mas já tinham sido divulgadas imagens das crianças presas dentro de uma espécie de gaiola em armazéns no Texas e com apenas alguns colchões e coberturas térmicas. “O Congresso e os tribunais criaram este problema, e apenas o Congresso pode resolver isto”, acabou por afirmar Nielsen, pressionada pelos jornalistas, acrescentando que as separações “não são uma política” e que a acusação de que estão a ser usadas para enviar uma mensagem de dissuasão a quem queira atravessar ilegalmente a fronteira norte-americana é “ofensiva”. Ora, estas declarações acabaram por contrariar outros membros da Administração. Como John Kelly, chefe de gabinete de Trump e antecessor de Nielsen, que disse à rádio pública NPR em Maio que a separação de pais e filhos podia funcionar como um “poderoso travão”. No domingo, o New York Times publicou afirmações de Stephen Miller, conselheiro político do Presidente Trump, em que diz que a “mensagem é a de que ninguém está acima da lei da imigração” e que esta medida é um acto humanitário pois acaba por impedir os pais de levarem os filhos na “perigosa viagem” até aos EUA. Na semana passada, na Casa Branca, Donald Trump disse aos jornalistas que os “democratas têm de mudar a sua lei”. Ontem, em inúmeros tweets, repetiu a mesma ideia: a culpa é do Partido Democrata. Apesar de os democratas serem minoritários no Congresso. A verdade é que esta situação foi gerada apenas devido à instituição desta “tolerância zero” desde Abril. Não houve nenhuma directiva para que as famílias fossem separadas. Mas, devido ao facto de os adultos sem documentos terem de ser detidos quando chegam à fronteira, a separação é inevitável. Não há também nenhuma ordem dos tribunais a exigir medidas deste género e esta situação foi evitada por todas as Administrações anteriores. Ontem, Trump voltou a escrever no Twitter que os “democratas são o problema, não se preocupam com o crime”, e chegou ao ponto de dizer que querem que os imigrantes ilegais “entrem e infestem o nosso país”. “Das 12. 000 crianças, 10. 000 são enviadas pelos seus pais numa viagem muito perigosa, e apenas 2000 estão com os seus pais. ”“Mudem as leis”, pediu repetidamente o Presidente norte-americano, para concluir: “Se não existirem fronteiras, não existe país”. “Enquanto uma turbulenta crise política causada pela ‘tolerância zero’ a imigrantes não documentados poderia convencer uma Casa Branca convencional a procurar uma saída, esta Administração está a cavá-la. Está a acusar falsamente os democratas e as administrações anteriores por uma prática que decidiram adoptar e que podem alterar quando quiserem”, explica Collinson na CNN. Jeff Sessions demonstrou como a Administração Trump agrava a crise ao tentar dar explicações na Fox. Disse que as comparações com os campos de concentração são injustas: “Na Alemanha nazi tentavam impedir os judeus de saírem do país”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Temos de pensar nisto bem, ser racionais e cuidadosos. Queremos autorizar o asilo para pessoas qualificadas para isso. Mas se procuram a imigração económica para seu benefício financeiro pessoal, isso não serve de base para um pedido de asilo”, acrescentou Sessions. Na semana passada, Sessions recorreu à Bíblia para justificar a decisão de Washington. “Cito-vos São Paulo e o seu claro e sábio comando para obedecer às leis do governo porque Deus as ordenou para que haja ordem”, disse, referindo-se à Epístola de São Paulo aos Romanos, 13:1 (“Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus”).
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Entidades ONU EUA
Joaquim Pinto, James Franco e Gore Vidal no QueerLisboa 2013
17ª edição do festival de cinema gay e lésbico decorre de 20 a 28 de Setembro e foi apresentada esta quarta-feira em Lisboa. (...)

Joaquim Pinto, James Franco e Gore Vidal no QueerLisboa 2013
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: 17ª edição do festival de cinema gay e lésbico decorre de 20 a 28 de Setembro e foi apresentada esta quarta-feira em Lisboa.
TEXTO: E Agora? Lembra-me, o documentário auto-biográfico de Joaquim Pinto que saiu do recente festival de Locarno com o Grande Prémio do Júri, terá a sua primeira exibição oficial em Portugal integrado no 17. º Queer Lisboa. A edição 2013 do Festival Internacional de Cinema Queer (de temática LGBT - lésbica, gay, bissexual e trans-género) decorre de 20 a 28 de Setembro próximo no cinema São Jorge e no Teatro do Bairro, em Lisboa, e a sua programação foi esta quarta-feira divulgada. O Queer 2013 vai trazer igualmente a ante-estreia em Portugal do filme de James Franco e Travis Mathews, Interior. Leather Bar. , sobre as lendárias "cenas cortadas" do policial de William Friedkin com Al Pacino A Caça, bem como o documentário de Nicholas Wrathall The United States of Amnesia, retrato do recém-falecido escritor e ensaísta americano Gore Vidal. Com 93 filmes nas suas várias secções, escolhidos de entre cerca de 700 obras submetidas à organização, o 17º Queer Lisboa tem este ano uma forte presença portuguesa, num total de 15 entradas. Entre elas encontram-se duas longas-metragens na competição oficial: Noches de Espera, de Tiago Leão, e O Carnaval é um Palco, a Ilha uma Festa, de Rui Mourão. O festival exibirá igualmente a curta de João Pedro Rodrigues O Corpo de Afonso, encomenda de Guimarães Capital da Cultura. A organização do certame apontou o modo como a actual situação política e económica europeia afecta as comunidades LGBT como "fio condutor" da programação da edição 2013 do Queer. Uma das secções paralelas, Queer Focus, olha aliás este ano para a ligação entre a cidade e a comunidade LGBT. Quatro júris distintos serão encarregues de escolher os melhores filmes nas quatro principais secções competitivas do festival: Melhor Longa-Metragem, Melhor Curta-Metragem, Melhor Documentário e a nova In My Shorts, dedicada às curtas "escolares" realizadas no âmbito de cursos de cinema. Cinta Pelejà, directora do DocLisboa, os realizadores Cláudia Varejão, António da Silva e Carlos Conceição e a produtora Maria João Mayer são alguns dos nomes escalados para os quatro júris internacionais. Entre as longas a concurso encontram-se Interior. Leather Bar. , que, estreado nos festivais de Sundance e Berlim, terá estreia portuguesa no início de Outubro, e In the Name of, da polaca Malgoska Szumoska (realizadora de Elas, com Juliette Binoche), sobre a atracção homossexual de um padre por um jovem delinquente. Mantêm-se as populares retrospectivas Queer Pop e Queer Art (este ano sob o genérico Queer Sci-Fi Art) e as Noites Hard, dedicadas ao cinema pornográfico, destacam este ano o realizador Avery Willard. A abrir o festival, no dia 20, estará o documentário do americano Malcolm Ingram Continental, sobre a lendária sauna nova-iorquina do mesmo nome, e a encerrar, a 28, o filme de Michael Mayer Out in the Dark, sobre uma história de amor entre um israelita e um palestiniano. O programa pode ser consultado a partir de hoje no site oficial em www. queerlisboa. pt, e os bilhetes encontram-se já à venda nas bilheteiras das salas. Seis escolhasE Agora? Lembra-me, o documentário/ensaio auto-biográfico sobre a vivência de vinte anos com o HIV e com a hepatite C do cineasta Joaquim Pinto terá a sua estreia portuguesa na 17ª edição do Queer Lisboa. Apresentado a concurso no Festival de Locarno, venceu aí o Grande Prémio do Júri e ainda o prémio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI). O Carnaval é um Palco, a Ilha uma Festa é o título do documentário de Rui Mourão apresentado na secção competitiva do 17º Queer Lisboa. Trata-se de um olhar sobre as festas de carnaval açorianas na ilha Terceira, inspirada pelo comentário casual de uma terceirense “apaixonada” por elas. O filme-ensaio Interior. Leather Bar. chega ao Queer Lisboa 2013 com assinalável notoriedade internacional, antes de uma estreia portuguesa em início de Outubro. O encontro entre James Franco, actor de filmes como Homem-Aranha ou Oz, o Grande e Poderoso, e o cineasta Travis Mathews ocorre sob o signo do controverso policial de 1980 de William Friedkin A Caça, ambientado no submundo gay nova-iorquino. Gore Vidal – The United States of Amnesia é o título do documentário que Nicholas Wrathall dedicou ao escritor e ensaísta norte-americano, exibido no Queer Lisboa. Vidal ainda colaborou activamente com o cineasta, que rodou parte significativa do filme antes da sua morte em 2012. The Comedian, apresentado na secção competitiva do Queer Lisboa, é um dos objectos mais peculiares do recente circuito de festivais. A primeira longa do britânico Tom Shkolnik, sobre a vida pessoal e amorosa complicada de um comediante londrino, foi inteiramente improvisada pelo elenco frente à câmara, em takes únicos, e montada ao longo de um ano a partir de 90 horas de imagens. I Am Divine é outro dos documentários apresentados no Queer Lisboa. O realizador Jeffrey Schwarz conta a história de Harris Glenn Milstead, aliás Divine, o ícone queer popularizado através dos filmes do cineasta de culto John Waters, como Pink Flamingos, Female Trouble ou Laca, falecido em 1988 com apenas 42 anos.
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