Seis anos de prisão para homem que tentou matar ex-mulher em Amarante
Agressão ocorreu no passado dia 10 de Março. Arguido tinha um histórico de episódios de violência doméstica. (...)

Seis anos de prisão para homem que tentou matar ex-mulher em Amarante
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agressão ocorreu no passado dia 10 de Março. Arguido tinha um histórico de episódios de violência doméstica.
TEXTO: O Tribunal de Penafiel condenou nesta segunda-feira um homem a uma pena de prisão de seis anos pelo crime de homicídio, na forma tentada, praticado em Amarante, que teve como vítima a ex-companheira. O arguido, de 54 anos, foi também condenado por um crime de violência doméstica e posse de arma proibida. A pena de seis anos resulta do cúmulo jurídico das três condenações. O arguido vai ainda ser obrigado a pagar à vítima uma indemnização de cerca de 25 mil euros. Os factos que deram origem ao processo resultaram de um clima de desentendimentos no casal e de um quadro de agressões verbais e físicas, injúrias, ofensas e ameaças, segundo o acórdão. No dia 10 de Março de 2014, o suspeito cortou o dispositivo de pulseira electrónica a que estava sujeito e, segundo o tribunal, disparou contra a vítima, atingindo-a de raspão na cabeça. Na leitura do acórdão, o juiz considerou que o arguido "agiu de forma livre e consciente, com a intenção de lhe tirar a vida, tendo-lhe infligido dores físicas intensas e que o episódio continua bem presente na memória da vítima, que continua a ter medo do arguido". O advogado de defesa admitiu estar a ponderar recorrer da decisão do colectivo.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Como Sánchez percebeu a revolução feminista espanhola
Numa democracia consolidada com dezenas de mulheres assassinadas por homens todos os anos, o novo Governo, com onze mulheres na liderança de 17 ministérios , “é o da vitória do sofrimento e do fim do silêncio”. Um silêncio quebrado nos últimos anos e transformado há apenas três meses em revolta. (...)

Como Sánchez percebeu a revolução feminista espanhola
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa democracia consolidada com dezenas de mulheres assassinadas por homens todos os anos, o novo Governo, com onze mulheres na liderança de 17 ministérios , “é o da vitória do sofrimento e do fim do silêncio”. Um silêncio quebrado nos últimos anos e transformado há apenas três meses em revolta.
TEXTO: Sexta-feira, 8 de Junho, a nova porta-voz parlamentar do PSOE, Adriana Lastra, anunciou que a proposta de lei para formar juízes em matéria de igualdade será a primeira iniciativa que o seu partido vai defender no Congresso. “Era um dos acordos do Pacto Contra a Violência Machista que o anterior Governo não cumpriu”, disse Lastra, explicando que, com esta modificação da Lei Orgânica do Poder Judicial, “todos os operadores jurídicos terão formação em violência de género”. Às vezes, muitas vezes, as palavras não passam disso mesmo. Em Março, no Dia da Mulher, Espanha foi palco das maiores manifestações do mundo. E um homem, que também foram muitos a marchar, então líder do PSOE, na oposição, disse: “Vai haver um antes e um depois”. Agora que é primeiro-ministro, Pedro Sánchez parece decidido a fazer de todos nós São Tomé. O anúncio de Lastra chegou menos de uma semana depois de Sánchez tomar posse, dois dias depois de ter um Executivo em funções. Incrédulos (em lágrimas, como algumas jornalistas admitiram ter ficado), fomos percebendo quem era cada mulher que ele escolhia para o seu Governo, que pastas ocupavam; seria paritário, prometera, afinal são onze em 17, até à tomada de posse. Quarta-feira, 6 de Junho, dia em que a maioria jurou “manter o segredo das deliberações do Conselho de Ministras e Ministros”Ninguém ficou indiferente ao 8-M, que os espanhóis chamam tudo assim, dia e primeira letra do mês. Não era possível, as espanholas não deixaram. Cidades pintadas de lilás, mulheres mais velhas a chorar de emoção por verem tantas estudantes que nunca tinham feito um cartaz nem saído à rua para o empunhar a seu lado. “Foi transbordante, impressionante e emocionante. Tanto que é preciso deixar passar algum tempo para poder medir com precisão o que implicou este 8 de Março. A indignação lilás que encheu ruas de cidades grandes, médias e pequenas e aglutinou mulheres mais velhas, de meia-idade e jovens com um objectivo comum: dizer basta a todas as agressões que, na forma de desigualdade salarial, tecto de vidro ou violência machista – entre outras – nós, as mulheres, sofremos”, escreveu na altura a politóloga Cristina Monge. “Quem ignorar o grito das mulheres vai equivocar-se”, afirmou Sánchez. “A quarta vaga feminista nasce indignada: o pessoal é político”, era o título do texto de Março assinado por Monge no diário online infoLibre. Com formação em Sociologia e um percurso de investigação ligado aos movimentos sociais, Monge nota como “demasiadas coisas deste 8-M lembram o 15-M”, movimento social anti-austeridade nascido em 2011, conhecido como Indignados que levou ao nascimento do partido Podemos e o fim do bipartidarismo espanhol. “Antecedentes que vêm de outras partes do planeta [em 2011 eram as revoltas árabes] e geram uma rede global – as greves que se celebram há três anos na Argentina, a convocatória em mais de 40 países, o fenómeno #MeToo. . . –, um movimento feminista constante e militante que manteve a chama todos estes anos […], o uso protagonista das redes sociais, a pluralidade de manifestos e símbolos, que significa que cada uma faz sua a reivindicação como quer, a ausência de lideranças pessoias e hierarquias, o apoio e a simpatia de 80% dos cidadãos e, sobretudo, a vocação inclusiva e de maiorias”, enumera Monge. O então líder da oposição assistiu, ouviu e não ignorou. Há um passado, o de José Rodriguez Zapatero, chefe de Governo socialista entre 2004 e 2011, o primeiro em Espanha a converter o feminismo em política de Estado. É nesse passado que se inscrevem as acções actuais de Sánchez. Mas os tempos são outros e ele soube interpretá-los, ousando formar um Governo que envergonha os nórdicos, o Executivo com mais mulheres em toda a Europa, muito provavelmente, no mundo. Não é só uma questão de números. É o peso de entregar toda a política económica a mulheres, fazendo o mesmo com a Defesa (Zapatero escolheu pela primeira vez uma mulher para a pasta, tornando-se icónica a imagem da entretanto falecida ministra Carme Chácon, grávida de sete meses, a passar revista às tropas) ou a Indústria. É a decisão de ter apenas uma vice-presidente (Carmen Calvo) e de esta ser a ministra da Igualdade, como garante que todas as políticas de todos os ministérios terão de agir de acordo com este desígnio, para além da entrega do papel de porta-voz do Executivo a outra ministra, a da Educação e Formação Profissional, Isabel Celáa. Há as curiosidades e as inevitáveis piadas. A Real Academia Espanhola não aceita o termo “Conselho de Ministras” porque o feminino nunca faz plural, o que não impediu Carmen Calvo de usar a expressão “Conselho de Ministras e Ministros” na tomada de posse, repetida depois por oito das 14 ministras e ministros que se lhe seguiram no juramento constitucional perante o rei. “Que altos são”, ouviu-se no momento da fotografia oficial, com algumas ministras meio tapadas por Felipe VI e Pedro Sánchez. “Tenho de mandar elevar o estrado”, disse o rei. Há a linguagem verbal e simbólica que a realidade acabará por encaixar. Houve os tweets replicados por muitos em que os cinco ministros nomeados eram alvo de considerações com recurso aos preconceitos tantas vezes repetidos quando em causa estavam mulheres em cargos de poder. “Contei até cinco ministros. Espero que estejam ali pelo que valem, não para cumprir a quota masculina”, começou por escrever o utilizador com a conta Cronopia#YoSiTeCreo – um slogan tornado hashtag a propósito da sentença de violação do caso conhecido como La Manada, na qual os juízes condenaram os cinco acusados por abuso sexual continuado numa decisão denunciada pela ONU por “subestimar a gravidade da violação”, uma sentença conhecida em Abril, depois de dados da vítima, uma rapariga de 16 anos, terem sido divulgados e de esta ter sido alvo de ataques de carácter. “Se a ideia era alegrar-nos a vista, poderiam ter ido buscá-los mais jovens”, escreveu também Cronopia#YoSiTeCreo. E mais: “A vantagem é que pelo menos já têm os filhos criados, não lhes teremos de perguntar como é que vão conciliar o cargo com a vida familiar”. Ou ainda, a propósito da escolha de Pedro Duque para ministro da Ciência: “Outro dado importante sobre o simpático astronauta é que é marido de Consuelo Femenía, diplomata de ampla experiência que certamente saberá guiar os primeiros passos de Pedro na vida política”. Isto enquanto se escreviam perfis de ministras marcados por expressões habitualmente usadas para descrever homens. Como “negociadora implacável” para falar de Nadia Calviño, a nova ministra da Economia e Empresas, que regressa a Madrid depois de uma fulgurante carreira de 12 anos em Bruxelas, onde chegou a directora-geral para a elaboração dos Orçamentos Europeus, um novo cargo e uma tarefa de gigante que lhe tinha sido pedida pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. “São líderes nas suas áreas”, disse Sánchez a propósito da sua equipa e sim, estava essencialmente a falar das mulheres, Calvino mas não só. Há a especialista em pensões Magdalena Valerio, no Ministério do Trabalho, Migrações e Segurança Social; a Ministra da Justiça, Dolores Delgado, procuradora especialista em ETA que depois dos atentados de 2004 se especializou em jihadismo e que os colectivos de magistrados descrevem como “competente e qualificada”; Celáa, a ministra da Educação, com três décadas de experiência a desenvolver políticas educativas; ou a ministra das Finanças, María Jesús Montero, peso-pesado do PSOE (e logo andaluza, bastião da principal rival de Sánchez, Susana Díaz, que tinha em Montero uma das traves mestras do governo regional), a quem os rivais reconhecem “grande capacidade de trabalho, negociação e pedagogia política”. A quarta vaga feminista, de que se começou a falar recentemente, surge da análise das anteriores feita pela filósofa feminista Amelia Valcárcel: a primeira, entre 1673 e 1792, reivindicou o acesso à educação; a segunda é a do movimento sufragista e vai de 1848 a 1948; e a terceira, que se iniciou há 50 anos (a do “mal-estar que não tinha nome) e se prolongou até hoje, partindo da ideia de que se perpetuavam e agravam as descriminações de género nas democracias onde o direito ao voto e à educação estavam reconhecidos e generalizados, uma vaga que obteve vitórias como as quotas, resume Monge. A quarta, “a indignada”, a tal que estaremos a ver nascer, parte, segundo Monge, “do terror dos números da violência machista – cada mais visível nos meios de comunicação –, da constatação das desigualdades sociais e da continuação do tecto de vidro”. E acrescenta a politóloga: “Como se isto fosse pouco, estes insultos e esta violência machista permanentes exercem-se num cenário cada mais desigual na economia, mais precário no trabalho e mais decepcionante nas expectativas de futuro, o que faz com que as mulheres soframos estes problemas duplamente, como cidadãs de um mundo cada vez mais desigual, instável e precário, e ainda, como mulheres”. Ana Pardo de Vera, chefe de redacção do jornal online Público. es foi uma das que admitiram ter derramado lágrimas, num texto intitulado Feministras onde assume o “politicamente incorrecto de uma jornalista felicitar com entusiasmo um presidente do Governo” e nota como “é difícil deixar escapar lágrimas” na sua profissão, repleta de tragédias diárias que é preciso contar, ainda por cima “com décadas de experiência”, como é o seu caso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Hoje, 6 de Junho de 2018, foi um dia excepcionalmente importante para todas nós […]. As feministas lutam pela igualdade de todas e este executivo é uma vitória das feministas, da pressão social dos últimos anos e da revolução lilás do 8-M”, escreveu Vera. “Está tudo ainda por ver, mas a primeira porta, o portão da História abriu-se hoje. Sánchez captou a mensagem de mudança”. As lágrimas, essas, caíram-lhe com tudo o que lhe veio à memória depois de “constatar que o Governo seria maioritariamente feminino e feminista”. “Os 39 feminicídios e assassínios em 2018 e os 99 de 2017, mais as centenas que conhecemos e desconhecemos”, “a vítima de La Manada e a lei e os legisladores injustos, a adolescente violada cujo sofrimento se projecta no de todas as mulheres que sofremos violência social, que havemos de ser a totalidade, em maior ou menos grau”, “as que falam e as que calam; as que denunciam e são insultadas, vexadas ou estigmatizadas”. Para a jornalista, “este é o Governo da vitória do sofrimento e do fim do silêncio” como “o histórico Conselho de Ministras é das assassinadas às mãos de homens”, escreve. “A revolução era isto. E chegámos. E continuamos”.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Aprovada cedência do Hospital Termal ao Montepio Rainha D. Leonor
O hospital está encerrado desde 2013 devido à presença da bactéria legionella. Foi concessionado à câmara por 50 anos. (...)

Aprovada cedência do Hospital Termal ao Montepio Rainha D. Leonor
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O hospital está encerrado desde 2013 devido à presença da bactéria legionella. Foi concessionado à câmara por 50 anos.
TEXTO: A Assembleia Municipal das Caldas da Rainha aprovou a concessão da utilização do Hospital Termal ao Montepio Rainha D. Leonor, mas a autarquia suportará os encargos de exploração e representará as termas junto dos organismos oficiais. O protocolo de colaboração com o Montepio Rainha D. Leonor atribui a esta instituição a exploração do Hospital termal, Balneário Novo e dos respectivos tratamentos termais previstos para iniciar ainda este ano. O acordo aprovado pela maioria PSD na Assembleia Municipal (AM) realizada na terça-feira à noite estabelece que a Câmara das Caldas da Rainha [à qual o Estado concessionou o Hospital e restante património termal] assegurará as verbas "para o desenvolvimento dos referidos tratamentos", pode ler-se no documento a que a agência Lusa teve acesso. A despesa estimada será de 116. 860, 28 euros para este ano, subindo para 290 mil euros em 2019, 350 mil euros em 2020, 350 mil euros em 2021 e 525 mil euros nos anos seguintes. Ao Montepio caberá "garantir uma utilização prudente" do Hospital Termal, encerrado desde 2013 devido à presença da bactéria legionella, reactivando a prestação de cuidados de saúde na área da hidrologia médica para fins de "prevenção, terapêutica, medicina física, reabilitação, fisioterapia, manutenção da saúde e termalismo", refere o protocolo. O protocolo foi aprovado depois de ter obtido o parecer favorável da Comissão de Termalismo da AM, com o voto favorável do PSD e os votos contra do CDS-PP, do Bloco de Esquerda e da CDU e a abstenção do Partido Socialista. Os partidos da oposição contestam o facto de a autarquia suportar todos os custos de funcionamento do Hospital e questionaram o "papel do Montepio" na gestão daquele património. Em Janeiro deste ano, o Governo concessionou à Câmara a exploração da Água Termal por um prazo de 50 anos, o que permitirá, no âmbito do protocolo com o Montepio, retomar os tratamentos termais que o Estado já admitiu que voltarão a ser comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Fernando Tinta Ferreira, presidente da autarquia, afirmou na altura à Lusa que este ano irão ser retomados os "tratamentos com inalação", anunciando para 2019 a conclusão de uma ala para tratamentos com duche e banheira e, para 2020, a abertura de uma segunda ala com banheiras e uma piscina. O Hospital Termal Rainha D. Leonor foi o primeiro hospital termal do mundo e esteve na origem da cidade das Caldas da Rainha. O Montepio Rainha D. Leonor é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) com 157 anos dedicados à prestação de cuidados de saúde.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
O que é que a APAV tem a ver com a Avon? As marcas de beleza e as causas sociais
Marcas associam-se a causas e doam verbas de milhares de euros para ajudar mulheres com cancro ou vítimas de violência doméstica. (...)

O que é que a APAV tem a ver com a Avon? As marcas de beleza e as causas sociais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.033
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Marcas associam-se a causas e doam verbas de milhares de euros para ajudar mulheres com cancro ou vítimas de violência doméstica.
TEXTO: O que é que a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) faz numa uma acção de formação de revendedoras da marca de cosmética Avon? “Venho alertar para a questão da violência doméstica e consciencializar para depois saberem o que e como fazer quando estão perante uma vítima”, responde Ana Castro Sousa, gestora do Gabinete de Apoio à Vítima do Porto, alertando que em dez anos, já morreram 400 mulheres vítimas de violência doméstica. E as que vivem em casas de abrigo já foram apoiadas pela marca de cosméticos em mais de 81 mil euros desde 2009. A Avon não é a única. Há outras marcas de beleza que colaboram com associações ou organizações como é o caso da Jean Louis David que também já colaborou com a APAV e que agora apoia o Fundo iMM-Laço ou a Mary Kay que se solidariza com a Ajuda de Berço. No Hotel Ipanema Porto, a formação continua: “Se suspeitarem que alguém é vítima, devem conversar com essa pessoa num lugar seguro e nunca julgá-la”. Nem pensar em “confrontar” o agressor, pois pode pôr-se em causa a segurança da mulher, esta pode estar a viver uma situação de violência física, psicológica ou verbal, continua Ana Castro Sousa. “Também pode estar a sofrer violência de forma relacional que consiste no agressor mexer-lhe no telemóvel, proibi-la de conviver com outros, exigir palavra-passe das redes sociais e de e-mails”, adverte, perante uma sala cheia de revendedoras da marca. “Também podem ser vítimas de violência económica que é o controlo das contas bancárias”, acrescenta, sublinhando que este crime é transversal a todas as classes sociais. A APAV presta apoio psicológico, jurídico, social e emocional a estas mulheres. “Não vos vou contar situações, apenas queria que percebessem que a violência doméstica existe e estamos aqui para ajudar pessoas que foram vítimas deste crime que é público”, continua a responsável da APAV. Já Susana Pereira, da Avon, tinha avisado as revendedoras: “O tema é sério e é daqueles que me fazem sentir orgulho porque conseguimos mais um marco histórico nesta luta contra a violência doméstica ao angariarmos 12 mil euros a nível nacional. ”Entre 2009 e 2019 foram doados 81 mil euros, uma verba que resulta da venda de produtos, como colares, cujas receitas revertem na totalidade para a APAV. E surge no âmbito da campanha global da Avon contra a violência doméstica. A marca também apoia a luta contra o cancro da mama. No caso da APAV, o donativo vai contribuir para a manutenção e obras de melhoria de duas casas de abrigo, onde mulheres e filhos estão protegidas do agressor e começam a delinear o seu futuro projecto de vida. A APAV tem ainda uma terceira casa, mas destina-se a mulheres vítimas de tráfico humano. Às formandas, Ana Castro Sousa aconselha que, no caso de estarem diante de uma vítima, é importante ajudá-la, lembrando que “há mulheres que não gostam de si, que têm medo e vergonha, o que podem ser razões para se manterem em relações abusivas”. O que se pode fazer em caso de a mulher ser vítima? Pedir apoio a familiares e amigos, a organizações, às autoridades e aos serviços do Ministério Público. Por fim, a responsável da APAV deixou um pedido em forma de alerta: “Ignorar faz a violência aumentar. ”Desde 2015 que a cadeia de cabeleireiros Jean Louis David já doou mais de 86 mil euros ao Fundo iMM-Laço. Recentemente, angariou mais de 13 mil euros no âmbito da campanha Hair Fashion Weeks, que decorreu durante o mês de Março. Na prática, por cada pack e vouchers promocionais de cor e de corte, a marca doa dois euros ao Fundo iMM-Laço para apoiar projectos de investigação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pelo nono ano consecutivo que a Mary Kay Portugal vai doar um euro por cada batom em gel Semi Mate Midnight Red vendido à Ajuda de Berço – uma instituição particular de solidariedade social que, desde 1998, existe para apoiar bebés e crianças desprotegidas. A campanha solidária Pink Changing Lives decorre até 31 de Dezembro. A L'Oréal, por exemplo, realiza esta quinta-feira, em Miraflores, o primeiro workshop de maquilhagem e cabelos para pessoas cegas. A iniciativa decorre no âmbito do movimento Beleza para Todos que começou, em Março passado, em parceria com o Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P. , a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), a Federação Portuguesa das Associações de Surdos (FPAS) e a Associação Portuguesa de Deficientes (APD). Pretende-se, então, que as pessoas com deficiência visual e auditiva beneficiem do mesmo acesso à informação sobre beleza que a população em geral. Os conteúdos do site da marca passam a estar adaptados a pessoas com deficiência visual e auditiva. Há etiquetas em braille para identificação de produtos de higiene e beleza, que serão distribuídas através do INR e da ACAPO. Este projecto, 100% português é pioneiro dentro da L’Oréal, divulga a marca em comunicado. Também a Garnier Ambre Solaire juntamente com a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e com o apoio da Direcção-Geral da Educação lançou a 6. ª edição do projecto Heróis do Sol Saudável, um projecto a pensar nos alunos do 1. º ciclo, com o objectivo de os alertar para os perigos da exposição solar. Só no ano passado, estima-se que terão sido diagnosticados 12 mil novos casos em Portugal, dos quais mil são melanomas, adianta em comunicado a marca. A iniciativa já envolveu mais de 70 mil alunos de escolas públicas e privadas desde que arrancou em 2014.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime violência educação mulher ajuda social medo mulheres doméstica vergonha agressor
O testemunho de três mulheres em três fases diferentes da vida
Beatriz Reis conta que sair à noite "é um pesadelo": "Já sabes que vais passar a noite a dizer não". Na "rush hour of live", Maria Sá concilia o trabalho como gestora comercial com os cuidados aos três filhos. Maria de Fátima Monteiro, enfermeira e sindicalista, nunca viu os homens a saírem à pressa das reuniões para irem fazer o jantar ou dar banho aos filhos. (...)

O testemunho de três mulheres em três fases diferentes da vida
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Beatriz Reis conta que sair à noite "é um pesadelo": "Já sabes que vais passar a noite a dizer não". Na "rush hour of live", Maria Sá concilia o trabalho como gestora comercial com os cuidados aos três filhos. Maria de Fátima Monteiro, enfermeira e sindicalista, nunca viu os homens a saírem à pressa das reuniões para irem fazer o jantar ou dar banho aos filhos.
TEXTO: Em criança, Beatriz Reis recorda que lhe davam bonecas às quais nem ligava. Com cinco anos, a mãe inscreveu-a no ballet “por ser menina”. Uns anos mais tarde, ao irmão, foi-lhe dado a escolher entre o ténis e o futebol. Há “diferença de tratamento” garante Beatriz. Aos 18 anos, a jovem saiu de Beja, onde nasceu e cresceu, para estudar Comunicação em Lisboa. Agora, com 23 anos e com um mestrado quase completo integra uma geração de mulheres mais escolarizada do que a média da União Europeia e do que os homens da mesma idade. Mas que, mesmo assim, tem condições de trabalho mais precárias e sofre mais com desemprego e salários baixos. “Eu passei a minha infância e adolescência a ouvir falar do potencial das raparigas” na escola, diz Beatriz. Mas depois “ganham menos do que os rapazes, são menos respeitadas e têm menos condições de trabalho”. “Há aqui uma discrepância que não se percebe”, desabafa. Apesar de escolarizadas, e de escolherem cada vez mais cursos que são mais tradicionalmente associados ao sexo masculino, a taxa de mulheres em áreas que se identificam mais com o feminino ainda é superior à média europeia. Beatriz escolheu Comunicação, mas acredita que não foi influenciada pela “questão de género”. Ainda assim, reconhece que há raparigas que podem desistir de determinadas áreas por serem mais associadas com a presença masculina. Só por esta altura, Beatriz começa a planear a entrada no mercado de trabalho e diz que “os rapazes transparecem mais confiança” em entrevistas, por exemplo. No futuro, a jovem não se imagina a abdicar da carreira para ficar em casa a cuidar dos filhos. “Até é saudável para as crianças ver a mãe a trabalhar e a fazer o que gosta”, defende. O assédio é uma das preocupações de Beatriz. Sair à noite, por exemplo, “é um pesadelo nesse aspecto”. “Já sabes que vais passar a noite a dizer não”, lamenta. A situação só muda de figura se estiver um rapaz por perto, nota Beatriz. “É uma questão de propriedade. ” R. M. C. Com 39 anos, Maria Sá está em plena rush hour (do inglês hora de ponta) da sua vida. Trabalha como gestora comercial em Lisboa, tem três filhos e o marido passa longas temporadas fora, pelo que todas as tarefas familiares acabam por ficar a seu cargo. Mesmo que assim não fosse, “há certas exigências que estão estipuladas socialmente e nem sequer questionamos por que é que sou eu, mulher, mãe, que vou às reuniões de pais, dou a cara na escola, vou lá buscá-los e quando estão doentes sou eu que fico em casa com eles”, diz Maria. “Existe um preconceito relativamente ao papel da mãe nesse aspecto”, conclui. Quando o marido está presente então faz questão de equilibrar a balança das tarefas domésticas e familiares e tirar algum tempo para si. Maria licenciou-se em reabilitação e reinserção social pelo que faz parte do grupo de mulheres portuguesas na sua faixa etária — entre os 25 e os 49 anos — que tem um curso superior (35%). Também se integra no grupo das mulheres com formação superior que têm três ou mais filhos (são menos de 5% em Portugal). No trabalho, “nunca senti que não me fosse dado um desafio por ser mulher”, nota Maria. “Eu própria digo à minha chefia que neste momento não posso assumir cargos de maior responsabilidade porque tenho de dividir as minhas tarefas entre a casa e os meus filhos e o trabalho”. E reconhece que, como tem três filhos, a disponibilidade será menor do que os colegas “que não têm filhos ou não têm uma vida familiar que lhes exige tanto tempo”. Para conciliar o trabalho com a vida familiar, Maria Sá sublinha a importância das creches. “Não me posso dar ao luxo de ficar em casa com o bebé porque não consigo sobreviver monetariamente”, nota. “É sempre uma grande dificuldade” encontrar uma creche. Outro problema é o número de dias de férias das crianças. “A minha filha mais velha tem 14 semanas de férias por ano. ” As avós ainda são uma opção na ajuda a cuidar das crianças, mas “hoje em dia até as avós trabalham”. R. M. C. Quando Maria de Fátima Monteiro nasceu, em 1958, as mulheres portuguesas eram educadas para a conjugalidade e para serem mães. E às que insistiam em sair do reduto doméstico, como as enfermeiras, estava vedado o casamento. “Foi assim até 1963. Encarava-se a profissão como uma espécie de missão e a história da enfermagem também nos mostra que essa função estava, no início, muito ligada às freiras”, recua esta enfermeira, com 60 anos de vida, os últimos dez dos quais a trabalhar como dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Tantas décadas volvidas, a enfermagem continua a ser uma profissão predominantemente feminina, herdeira ainda, portanto, do acometimento às mulheres da função do “cuidar” – fosse de doentes fosse da casa ou dos filhos. E as enfermeiras continuam – à semelhança da imensa maioria de mulheres – sobrecarregadas com a necessidade de terem de articular horários laborais inconstantes e por turnos com os cuidados à casa e à família. “Quantas vezes, no final de uma reunião, vejo as mulheres cheias de pressa porque têm de ir a correr para casa fazer o jantar, dar banho aos filhos ou preparar-lhes a lancheira e a roupa para o dia seguinte. E não vejo isso nos meus colegas homens”, observa Fátima, encontrando aqui a principal explicação para a tão reduzida participação feminina nos “espaços de intervenção cívica”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando escolheu ser enfermeira, não se sentiu condicionada por ser mulher. Antes sim. “Jogava vólei – era atleta federada – e, quando tinha que ir jogar para fora, a postura do meu pai e da minha mãe era completamente diferente da que tinham para com o meu irmão”. Do mesmo modo, os irmãos rapazes não eram como ela e as irmãs chamados a pôr a mesa, ter de ir à cave buscar batatas ou a terem de limpar os batentes das portas. Isso pesou tanto que, ainda hoje, acontece Fátima estar na cozinha e virar-se para o marido com tiradas do género: “Sai daqui que o lugar na cozinha é das mulheres. ”Quando olha à volta, numa altura em que os homens começam a chegar à profissão, vê-os passar automaticamente à frente no momento da contratação, sobretudo no sector privado. “A enfermeira pode ser jovem mas há-de querer constituir família, pode ter uma gravidez de risco…”. E, entre os mais velhos, vê as enfermeiras pressionadas para se reformarem mais cedo para cuidar dos netos. “Abdicam do seu bem-estar, até monetário, para darem apoio aos netos. E são, mais uma vez, as mulheres que fazem isso: não os homens”. N. F.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha escola mulher ajuda social criança sexo género espécie mulheres desemprego casamento feminina assédio
Sudanesa condenada à morte por esfaquear o marido que a violou
O caso desencadeou uma onda de indignação no país e a nível internacional, face a questões relacionadas com a desigualdade de género como o assédio sexual, o casamento infantil e a violação conjugal no Sudão. (...)

Sudanesa condenada à morte por esfaquear o marido que a violou
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O caso desencadeou uma onda de indignação no país e a nível internacional, face a questões relacionadas com a desigualdade de género como o assédio sexual, o casamento infantil e a violação conjugal no Sudão.
TEXTO: Uma mulher de 19 anos foi sentenciada, nesta quinta-feira, à pena de morte por esfaquear fatalmente um homem – com quem tinha sido forçada a casar-se –, que alegadamente a violou, em Omdurman, Sudão. Durante o julgamento, que decorreu num tribunal em Omdurman – a mais populosa cidade do Sudão –, o juiz deu a possibilidade à família do marido da jovem de escolher entre uma indemnização financeira ou a pena de morte. "Sob a sharia [lei islâmica], a família do marido pode exigir compensação monetária ou a morte", explicou à agência Reuters Badr Eldin Salah, activista do Afrika Youth Movement. Sob acusação de homicídio premeditado, foi solicitado que a jovem sudanesa fosse executada, pelo que o tribunal condenou-a oficialmente à morte por enforcamento, de acordo com a Reuters. "Ela ainda está em estado de choque após a sua sentença", disse à estação CNN Adil Mohamed Al-Imam, um dos advogados de defesa da jovem, que aceitou defender o caso pro bono (sem qualquer compensação monetária) depois de o advogado inicial se ter demitido. Quanto à família do marido, esta "recebeu o veredicto com aplausos de alegria", contou à estação televisiva Aljazeera Amal Habani, activista dos direitos das mulheres que participou na audiência. "Como Noura, que era apenas uma criança quando se casou, há muitos casamentos de crianças e casamentos forçados no Sudão. A lei não vê isso como ilegal e também não considera a violação conjugal [ilegal]", explicou. Os advogados de Hussein têm agora 15 dias para recorrer da sentença. Noura Hussein, foi forçada a casar-se com o marido, que seria seu primo, quando tinha 16 anos. A primeira parte da cerimónia de casamento envolveu a assinatura de um contrato entre o pai da jovem e o marido. De seguida, Hussein terá sido forçada a ir viver com o homem após concluir o ensino secundário, de acordo com informações avançadas pela Amnistia Internacional. Na altura, fugiu e refugiou-se em casa de uma tia durante três anos. Porém, terá sido enganada pelo seu próprio pai que a convenceu a regressar a casa e depois a entregou novamente ao seu marido abusivo. Depois de a jovem se ter recusado a consumar o casamento e a ter relações sexuais, o marido, com a ajuda de alguns familiares que a seguravam, terá violado Hussein. "O seu irmão e dois primos tentaram convencê-la e, quando ela se recusou, foi esbofeteada e mandada para o quarto. Um segurava o seu peito e a sua cabeça, e os outros seguravam as suas pernas", disse à CNN o advogado Adil Mohamed Al-Imam. No dia seguinte, o marido terá tentado novamente violá-la, pelo que Hussein recorreu a uma faca para se defender, tendo esfaqueado o marido até à morte. A jovem terá recorrido aos pais em busca de ajuda, mas eles entregaram-na à polícia. "Foi um momento chocante quando o juiz me condenou com a morte. Soube que seria executada, deixando os meus sonhos por cumprir", disse Noura Hussein, após conhecer a decisão do tribunal, segundo o jornal britânico Guardian. Protestantes e activistas dirigiram-se ao tribunal para demonstrar o seu apoio a Hussein, exigindo a anulação da sentença. "As pessoas protestaram com cartazes e posters para mostrar a sua desaprovação do veredicto, (…) mas a polícia arrancou-lhes os cartazes das mãos e até começou a bater em alguns deles", contou Rasha Abualayla, uma das manifestantes, à Aljazeera. O caso de Noura Hussein suscitou o debate sobre a submissão das mulheres e o casamento forçado no Sudão, onde a idade legal para casar é de 10 anos. Nas redes sociais, surgiu um movimento em defesa da jovem com as hashtags #JusticeforNoura e #SaveNoura. Foi ainda lançada uma petição no site change. org, que já foi partilhada por mais de 86 mil pessoas. A Equality Now, uma organização de defesa dos direitos das mulheres, informou ainda que vai enviar uma carta ao actual Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, a pedir clemência para Hussein. "Noura não é uma criminosa, ela é uma vítima – e deve ser tratada como tal. Noutros países, as vítimas de violação e violência doméstica, como Noura, receberiam apoios para garantir que superassem o trauma das suas experiências", disse Tara Carey, representante da Equality Now citada pelo Guardian. A activista esclareceu que a condenação da jovem vai contra os seus direitos perante a Constituição do Sudão e a lei internacional. "A constituição prevê ainda que o 'Estado proteja as mulheres da injustiça e promova a igualdade de género' e que 'todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação, à igual protecção da lei'", esclareceu Carey ao jornal britânico. Ahmed Elzobier, investigador da Amnistia Internacional no Sudão, disse que esta é a primeira vez que um caso desta natureza atrai tanta atenção. "A violação conjugal acontece frequentemente no Sudão e as pessoas não falam sobre isso", esclareceu à CNN. A Amnistia Internacional, por sua vez, considera que a sentença destaca o "fracasso das autoridades sudanesas" na protecção dos direitos das mulheres e que a condenação deve ser anulada. "Noura Hussein é uma vítima e a sentença contra ela é um acto intolerável de crueldade", afirmou Seif Magango, representante da organização em África. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "A pena de morte é a mais cruel, desumana e degradante punição (…) As autoridades sudanesas devem anular esta sentença brutalmente injusta e garantir que Noura recebe um julgamento justo que leve em consideração as suas circunstâncias atenuantes", concluiu o representante da Amnistia Internacional. Texto editado por Maria Paula Barreiros
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte lei homicídio violência tribunal mulher ajuda homem violação criança igualdade género mulheres doméstica casamento discriminação ilegal
Beijar a vida em ambas as faces
Maria Teresa Cárcomo Lobo faleceu no Rio de Janeiro a 8 de Dezembro, aos 89 anos. O PÚBLICO reedita online o destaque sobre ela que editou a 5 de Agosto de 2002. Para a história ficou como a primeira mulher a integrar um governo em Portugal: foi subsecretária de Estado com Marcello Caetano. Um grande passo, que aparece apenas como uma etapa de uma vida cheia de realizações e de projectos. (...)

Beijar a vida em ambas as faces
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Maria Teresa Cárcomo Lobo faleceu no Rio de Janeiro a 8 de Dezembro, aos 89 anos. O PÚBLICO reedita online o destaque sobre ela que editou a 5 de Agosto de 2002. Para a história ficou como a primeira mulher a integrar um governo em Portugal: foi subsecretária de Estado com Marcello Caetano. Um grande passo, que aparece apenas como uma etapa de uma vida cheia de realizações e de projectos.
TEXTO: Começando por um lugar-comum, já que se trata de uma pessoa incomum, o livro que diz mais a ter marcado foi “Olhai os Lírios do Campo”, de Eurico Veríssimo, que leu com 11 ou 12 anos, em Angola. Não pensava, então, que parte substancial da sua vida se desenrolaria no país pátria daquele escritor, o Brasil. E logo aí bebeu uma frase da personagem Olívia que a tem alimentado desde então: “Eu quero agarrar a vida pelos ombros e beijá-la em ambas as faces. ” E é isso que Maria Teresa de Almeida Rosa Cárcomo Lobo faz desde que nasceu em Luanda, a 18 de Fevereiro de 1929, há 73 anos portanto: agarrar a vida, com um enorme despojamento. É uma senhora bonita, elegante, distinta, com um andar calmo e um olhar perscrutante, que sai de uns olhos negros, redondos e grandes. Um olhar que transborda desejo, de conhecer, de ver, e que acompanha uma voz que, quando se multiplica em palavras, irradia segurança, convicção, humildade, dúvidas e inteligência. Mas Maria Teresa Cárcomo Lobo não desperdiça palavras. Fala num estilo curto. Directo. Com matizes de tom de voz e carradas de entusiasmo, quando fala do presente, quando opina, ou mesmo quando se questiona, ou apenas diz: “Não sei. ” Já sobre a sua vida fala com inegável orgulho, mas sem presunção e quase que resume o muitíssimo que fez e faz a um outro lema de vida: “Eu tenho para mim que nós podemos não ganhar, mas não precisamos de perder logo de saída!”Aos 73 anos, volta mais uma vez a Portugal, onde tem dois irmãos, duas irmãs, e vários sobrinhos, com os quais através da Internet fez uma pesquisa sobre o seu nome e encontrou o currículo, referências a livros, palestras e até sentenças dadas como juíza federal do estado do Rio de Janeiro. Está de férias, oficialmente. Na prática, desdobra-se em encontros e trata de assuntos relacionados com a sua tese de doutoramento, sobre “A condição jurídica da mulher na União Europeia”, orientada pelo professor João Luís Mota Campos, na Universidade Católica portuguesa, ela que é professora de Direito Comunitário na Pontíficia Universidade Católica, a PUC do Rio de Janeiro, e senhora da cátedra 122 da Academia Brasileira de Ciências Económicas, Políticas e Sociais. As férias são curtas, duram menos de quinze dias, e gozou-as, sem os três filhos e cinco netos, para voltar ao Rio de Janeiro, onde dirige um projecto para a UNESCO, a Carta Judiciária do Brasil. Isto, além de não parar de proferir conferências, escrever livros e presidir a um lote de instituições e organismos ligados ao direito, no Brasil, país que escolheu para viver após o 25 de Abril. Uma mudança radical que explica dizendo apenas. “Depois da revolução, fiquei sem função no BNU, era consultora e disseram:‘Agora não precisamos. ’”O motivo da ruptura não se prendia propriamente com o conteúdo ou a necessidade dos pareceres e estudos que então elaborava, mas sim com o facto de ser, à época, uma figura proeminente da ditadura: era deputada à Assembleia Nacional, eleita como independente nas listas da União Nacional, e tinha sido, entre 21 de Agosto de 1970 e 6 de Novembro de 1973, subsecretária de Estado de Saúde e de Assistência, do Governo de Marcello Caetano, tornando-se, assim, a primeira mulher a integrar uma equipa governamental em Portugal. Uma estreia que surgiu por convite pessoal do presidente do Conselho, Marcello Caetano, que tinha sido seu professor na Universidade de Direito de Lisboa. Visitou-o, durante a licença graciosa que gozou quando era funcionária do BNU em Moçambique, território onde viveu longos anos — após ter exercido o notariado em Macau — e onde foi também consultora da Junta Provincial de Povoamento de Moçambique, do Instituto do Algodão de Moçambique e da Cooperativa Agrícola do Limpopo, publicista no “Diário de Lourenço Marques” e integrou como fundadora o movimento das cooperativas e os Estudos Cooperativos. Assim, aos 46 anos — “Nunca sei a minha idade, me sinto tão jovem”, diz enquanto faz a conta aos anos num papel —, muda de profissão, de casa, de cidade, de continente, de vida. “Quando cheguei ao Brasil, a minha principal preocupação era sobreviver. Ia aos bancos do Brasil, entregava o meu currículo e a resposta era: ‘Ah é bom de mais. ’” Contra si, diz, tinha a idade, num país como o Brasil à época. Acabou por ser convidada para uma empresa de média dimensão, com um salário abaixo da sua qualificação, mas correu o risco e ganhou a aposta: “Fui ascendendo na empresa e cheguei a vice-presidente. ”No início dos anos 80, esta mulher, que gosta de lançar desafios a si mesma, cansou-se da estabilidade aparente do cargo de gestão. E voltou a jogar os dados da vida. Em 1982, com 53 anos, inscreve-se na Ordem dos Advogados do Brasil. Começou a advogar e frequentou aulas nocturnas para se pôr a par do sistema tributário brasileiro. Meia dúzia de anos depois, impõe-se novo sobressalto, motivada pelas leitura de Carl Jung que lhe provocou uma “pancada”, ao dizer que a pessoa “tem obrigação de se realizar consoante o seu ideal de vida”. Com o Jung presente, passou, um dia, os olhos pelo boletim da ordem dos advogados do Brasil. Tropeçou num anúncio para juiz federal, onde não aparecia o limite de idade de 35 anos, exigidos no Brasil para ingressar na carreira geral de juiz. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi o realizar de um “sonho de toda uma vida” e que lhe foi incutido pelo facto de seu pai ser juiz: “Ele foi um sacerdote da justiça e eu tinha aquela concepção da justiça, do magistrado. ” O salto não foi fácil. Teve que fechar o escritório, arriscar mudar de profissão mais uma vez. E, em 1988, com 59 anos, ingressa na carreira de juíza federal, da 28ª Vara Federal do Rio de Janeiro. O sucesso foi tanto que, entre 1993 e 94, dirigiu o Foro da Justiça Federal do estado do Rio. Em 1997, a dois anos de se aposentar como juíza, começou a preparar-se: “Para que a Maria Teresa Lobo aparecesse não só como juíza federal — eu considero-me sempre juíza, até morrer serei juíza —, mas já noutras perspectivas, da docência, das conferências, das pesquisas, dos estudos, foi aí que eu comecei a interessar-me pelo direito comunitário e também numa perspectiva do Mercosul. ”Ora, quando Maria Teresa Lobo se interessa é para levar a sério. Daí ter-se tornado especialista em direito comunitário e nas relações jurídicas e económicas do Mercosul e da União Europeia. Mas os seus interesses actuais não se esgotam no espaço comunitário, olha também para o espaço lusófono, ela que nasceu em Angola, viveu em Moçambique, Macau, Portugal e Brasil. E diz sorrindo e os olhos brilhando qual seria o próximo beijo na face da vida que gostaria de dar: “Gostava de ser embaixadora da lusofonia, de andar pelos oito países que falam português na América, na Europa, na África e na Ásia, para aplicar a minha energia a potenciar a lusofonia a apelar para actos concretos. ”
REFERÊNCIAS:
Ainda não são livres, mas agora as sauditas já podem conduzir
Quem mais lutou por este dia não pode festejar a chegada das mulheres da Arábia Saudita ao volante. Num regime autoritário e patriarcal, onde elas são “legalmente menores”, só o tempo trará a igualdade. (...)

Ainda não são livres, mas agora as sauditas já podem conduzir
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181228200253/https://www.publico.pt/1835668
SUMÁRIO: Quem mais lutou por este dia não pode festejar a chegada das mulheres da Arábia Saudita ao volante. Num regime autoritário e patriarcal, onde elas são “legalmente menores”, só o tempo trará a igualdade.
TEXTO: Quase todas as mulheres que deveriam ser ouvidas para este texto estão detidas ou foram avisadas para não falarem publicamente sobre o dia histórico em que as sauditas ganham um direito comum a todas as mulheres no mundo: conduzir. Um direito que várias activistas sofreram para tornar possível desde o primeiro protesto, em 1990, quando 47 sauditas conduziram no reino. É um dia feliz, mas não é o fim da segregação das mulheres na Arábia Saudita. Nem do feroz autoritarismo com que o reino é governado, agora às mãos do jovem príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman (MBS, como é tratado), que surpreendeu ao prometer reformas e aberturas sem fim. No que respeita às mulheres, desde que MBS assumiu um poder que nunca nenhum monarca teve, ao longo dos últimos três anos, deixaram de precisar de autorização do seu “guardião” masculino para entrar na universidade ou candidatar-se a alguns empregos. Ao mesmo tempo, a polícia da moralidade (Brigadas da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício) recebeu ordens para não aplicar com tanto rigor as normas que as obrigam a vestir compridas abayas negras (túnicas) e a cobrir os cabelos com hijabs (lenços). Entretanto, começaram a ser autorizados concertos, reabriram os primeiros cinemas em décadas e as mulheres foram admitidas no estádio Cidade Desportiva Rei Salman, em Riad, para assistir a várias partidas de futebol numa zona própria. Hana al-Khamri, escritora e analista, que viveu toda a vida na Arábia Saudita e trabalhou “como jornalista durante cinco anos num escritório segregado dos colegas”, lamenta que as activistas que mais se bateram por este direito não o possam festejar. “É uma mensagem do sistema autoritário patriarcal saudita, as activistas de direitos humanos e as feministas não devem aspirar a mais mudanças nem desafiar as normas”, diz sobre as 17 mulheres e homens (advogados quase todos) detidos a 15 de Maio – já foram libertadas oito pessoas, mas pelo menos quatro mulheres e cinco homens continuam atrás das grades. “No mesmo mês do decreto a pôr fim à proibição de conduzir, o rei ordenou às activistas que não comentassem temas de direitos e ficassem em silêncio”, confirma Khamri, que em breve lançará o livro Female Journalist in Gender Apartheid Saudi Arabia. Khamri recorda as 47 “académicas, médicas, empresárias, funcionárias públicas e estudantes” do primeiro protesto, em Riad: “Estas mulheres corajosas foram detidas, viram os passaportes confiscados. Algumas perderam o emprego, outras foram expulsas da escola, todas enfrentaram campanhas de difamação”. De novo, em 2018O mesmo acontece agora. Mulheres como Loujain al-Hathloul, Aziza al-Yousef e Eman al-Najfan, que, para além de combater a proibição de conduzir, assinaram uma petição a pedir a abolição do sistema de guardiões, em 2016. São acusadas de ameaçar a segurança do Estado através de “contactos com entidades externas para minar a estabilidade e o tecido social do país”. Chamam-lhes “as agentes das embaixadas”. A Human Rights Watch fala numa “perturbadora campanha de difamação”. Alguns justificam estas detenções com a necessidade de MBS apaziguar os religiosos wahabitas (seguidores de uma versão ortodoxa e literal do islão). Mas a mensagem não deixa de ser algo como “isto, a liberdade para conduzir, fomos nós, os homens, que vos deram”. Khamri concorda. “Mostra a misoginia do sistema. Nada ameaça a existência do regime autoritário saudita tanto como permitir que as pessoas acreditem que a mudança vem de baixo e acontece graças às mulheres que por ela lutam desde 1990”, explica, numa troca de emails. “O regime teme que se os sauditas acreditarem nisso acabe por enfrentar uma revolução a exigir uma monarquia constitucional, democracia e representação política”. Mas é óbvio que a autorização para guiar “acontece graças a estas mulheres que desafiaram as normas e preparam a sociedade para ir aceitando as mudanças”. Depois de 1990 vieram os protestos de 2009, 2011 e 2013, sempre seguidos de perseguições. “E, de novo, em 2018, proeminentes activistas dos direitos das mulheres são mantidas ilegalmente sob detenção”, lamenta Khamri. Em benefício de todosHatoon al-Fassi, professora de História das Mulheres na Universidade Rei Saud e colunista, é uma conhecida investigadora que se especializou no pré-islâmico reino Nabateu, onde as mulheres beneficiavam de mais liberdades e direitos do que as sauditas. Esteve envolvida nas campanhas para dar às mulheres o direito a votar e a ser eleitas nas eleições municipais que se realizam desde 2005. O anúncio de que elas poderiam participar chegou, finalmente, em 2011, mas só foi levado à prática em 2015. Fassi tentou, sem sucesso, organizar sessões de treino e formação política para mulheres. É referida em diferentes notícias como uma das avisadas para não festejar o direito a conduzir, algo que não comenta. “Acredito que MBS é um pragmático, mas para seu benefício e não para conveniência das sauditas”, diz Hatoon. “Quer desenvolver o país economicamente e há recursos humanos muito qualificados entre as mulheres. Pesou os prós e os contras de dar poder às mulheres para criar uma alternativa aos 11 milhões de estrangeiros [que trabalham] no país”, analisa a professora. Ora “toda a gente acabou por ganhar, ao mesmo tempo que se melhorava a imagem da Arábia Saudita, ele é esperto e sabe usar a questão das mulheres em benefício de todos”. Mas “parece haver um controlo na atribuição de crédito pela mudança”. A mãe presa em casaKhamri é mais directa a avaliar o príncipe que anuncia aberturas internas enquanto se envolve em disputas como o bloqueio ao Qatar ou a sangrenta guerra do Iémen. “MBS não é feminista nem crente na igualdade de géneros. Segundo os serviços secretos dos EUA, pôs a própria mãe em prisão domiciliária, com medo que ela se opusesse às suas acções unilaterais”, recorda a analista. As aberturas resultam do seu pragmatismo. “O regime enfrenta uma pressão económica significativa desde 2014, exacerbada por ter metade da população inactiva, e entre as mulheres o desemprego é muito alto. Remover obstáculos, como a proibição de conduzir, é uma tentativa para aumentar a produtividade, encorajando a participação das mulheres na força de trabalho”, descreve. “O regime só está interessado em dar poderes às mulheres na medida em que isso servir a sua agenda de sobrevivência”. Mais: “MBS não é um reformista – como parece externamente –, pelo contrário, é o rosto do Estado neototalitário”. Os eternos guardiõesA maioria das sauditas sabe que ainda falta quase tudo, mas as que já obtiveram carta de condução (com aulas seis vezes mais caras do que para os homens) e têm carro vão pôr-se à estrada. Entre o que permanece fora do alcance conta-se a interacção com homens que não sejam familiares (há áreas exclusivas para elas nos transportes públicos, praias, ou parques, e portas separadas nos edifícios públicos ou bancos); a possibilidade de nadar em público (só em ginásios privados e segregados); a participação nos desportos, que nos últimos anos começou a ser autorizada em algumas modalidades; ou o simples acto de experimentar roupa numa loja, entrar num cemitério ou ler uma revista de moda. Mais importante do que tudo isto é o sistema de guardiões, descrito pela Human Rights Watch como “o mais significativo impedimento para a obtenção de direitos por parte das sauditas”. Todas as mulheres são vistas como tendo um wali masculino, um guardião oficial que costuma ser o pai, um irmão, tio ou marido. Não está em nenhuma lei, mas os serviços do Governo, os tribunais ou os comuns sauditas agem de acordo com o sistema. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na prática, uma mulher precisa da permissão do seu wali para viajar, assinar contratos, obter um passaporte, casar ou divorciar-se. Por causa disso, é quase impossível a uma saudita apresentar uma queixa por violência doméstica, já que a polícia insiste na autorização do guardião (mesmo se for este o atacante). “O rei recusou receber o abaixo-assinado organizado por Aziza al-Yousef, foi-lhe dito que voltasse para casa e o enviasse por Fax”, conta Khamri, a propósito da petição a pedir o fim deste sistema. “Isto mostra como os direitos só surgem quando servem os interesses do regime. Neste momento, com as detenções, não vejo nenhuma indicação nesse sentido. ” E assim as mulheres permanecem “legalmente menores”. A professora Fassi está moderadamente optimista. “Para obter a carta de condução não foi preciso a autorização dos guardiões, o que é bastante significativo”, diz. “Mas ainda há muitos espaços por preencher e questões por solucionar. Acredito que o fim do sistema de guardiões é inevitável, é só uma questão de tempo”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Sánchez lidera Governo do século XXI, elogiado da banca à oposição
A maior dificuldade do novo executivo será tentar não ser vítima da gestão das suas próprias expectativas. Nomes fortes e competência não faltam, numa equipa de 17 membros onde onze são mulheres, que obriga o país “a ver-se ao espelho”. (...)

Sánchez lidera Governo do século XXI, elogiado da banca à oposição
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A maior dificuldade do novo executivo será tentar não ser vítima da gestão das suas próprias expectativas. Nomes fortes e competência não faltam, numa equipa de 17 membros onde onze são mulheres, que obriga o país “a ver-se ao espelho”.
TEXTO: Pedro Sánchez prometera um “governo socialista, paritário e europeísta”. Fez mais do que isso. A presença de ministras no executivo que esta quinta-feira entra em funções é muito mais do que uma questão de números – sem tirar peso ao facto de as mulheres estarem em larga maioria pela primeira vez em Espanha. Para o novo primeiro-ministro espanhol, as suas escolhas constituem “um reflexo do melhor de Espanha”, agradecendo a disponibilidade às 16 ministras e ministros que vai liderar, figuras de “demonstrada e acreditada preparação de vocação e serviço público”, uma equipa “intergeracional, aberta ao mundo mas ancorada à União Europeia, à imagem de uma sociedade altamente qualificada”. Perfil político e técnico, competência reconhecida e prestígio nacional e internacional – assim são as ministras de Sánchez, que ocupam as pastas com maior peso de Estado (com excepção do Interior, entregue a Fernando Grande-Marlaska, juiz basco sem ligações ao PSOE; e do ministro dos Negócios Estrangeiros, ocupado pelo socialista catalão Josep Borrel), da Economia à Justiça, passando pelas Finanças, Trabalho, Indústria e Saúde. Um Governo de natureza social-democrata, resumem alguns comentadores, formado por sete homens (incluindo Sánchez) e onze mulheres. E isso no ano dos movimentos internacionais e nacionais #MeToo e #NoSin Mujeres, meses depois da gigantesca e histórica manifestação do Dia da Mulher em Madrid. Isto num país que, “visto ao espelho” no tema da igualdade de género, “aparece feio”, escreve Berna González Harbour num comentário no diário El País. A igualdade “não é mais importante do que outros direitos inscritos no segundo capítulo da nossa Constituição, mas está penosamente debilitado no nosso universo supostamente avançado”, defende a jornalista. “[José Rodríguez] Zapatero [que formou os dois únicos governos paritários que Espanha já teve] converteu o feminismo em política de Estado e Sánchez parece seguir o mesmo caminho”, continua Harbour. “O espelho que Sánchez coloca diante de nós é poderoso; ignorá-lo não só contribuiu para prolongar a fealdade, e por tanto, a injustiça, como também a má imagem de nós mesmos”. Para a jornalista, cabe agora ao resto do país “dar um passo em direcção ao futuro ou ficar para trás”. Na curta intervenção em que apresentou aos espanhóis os nomes das ministras e dos ministros, Sánchez não deixou de recordar que já dissera haver “um antes e um depois das manifestações de 8 de Março”, sublinhando que as mulheres que convidou para o executivo “carregam o peso da responsabilidade em matéria económica”, o que é também inédito. Para além da única vice-presidente ser a ministra da Igualdade, Carmen Calvo; o Ministério da Economia e Empresas será ocupado por Nadia Calviño, economista e advogada, até agora directora-geral da elaboração de Orçamento na Comissão Europeia; o Ministério das Finanças fica nas mãos de María Jesús Montero, que tratava das contas do executivo andaluz; na Justiça estará Dolores Delgado, procuradora especializa em jihadismo, grande defensora da Justiça Universal e dos direitos humanos; o Trabalho, Migrações e Segurança Social vai ficar a cargo de Magdalena Valerio, especialista em pensões. Entre as pastas ocupadas por mulheres contam-se ainda a Defesa (entregue a uma independente leal a Sánchez, Margarita Robles); a Política Territorial e Função Pública (a catalã, não muito bem vista entre os soberanistas, Meritxell Batet); a Saúde, Consumo e Bem-estar Social (Carmen Montón, licenciada em Medicina e grande defensora da saúde pública, que reverteu a privatização de alguns hospitais na Comunidade Valenciana); a Indústria, Comércio e Turismo (María Reys Maroto, do Departamento de Economia da Universidade Carlos III e deputada na assembleia de Madrid, onde era porta-voz na comissão de Orçamento, Economia, Finanças e Emprego); a Educação e Formação Profissional (Isabel Celáa, basca muito próxima de Sánchez); e a Transição Energética (Teresa Ribera, que já foi secretária de Estado do Ambiente e das Alterações Climáticas). “Um Governo aberto, proposto pelo PSOE mas que aspira a representar toda a cidadania, composto por líderes nas suas áreas, progressista, moderno e europeísta, preparado para abordar os grandes desafios do futuro, com a Ciência como principal motor de inovação”, descreveu ainda Sánchez. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O primeiro-ministro explicou ainda o porquê de o seu Governo ter mais quatro pastas do que o de Mariano Rajoy, que derrubou com uma moção de censura: para além da recuperação do Ministério da Igualdade, volta a pasta da Cultura, “que nunca deveria ter sido suprimida, é uma fonte de riqueza espiritual e económica”; e surgem a Indústria, para “dar visibilidade ao poderio industrial do país, em resposta a pedidos do sector”, e a Transição Energética, para “concentrar o debate sobre alterações climáticas, ao qual não se prestou demasiada atenção”. A presença de Calviño foi elogiada pela presidente do Banco Santander, Ana Patrícia Botín, e pelo próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a quem Sánchez telefonou para lhe dar conta do convite, uma vez que a agora ministra integrava a equipa do luxemburguês. O novo Governo espanhol, muito elogiado por ex-líderes socialistas (Alfredo Pérez Rubalcaba diz que é “magnífico”), mereceu o aplauso de um barão do PP, o presidente da Justa de Castela e Leão, Juan Vicente Herrera, que o descreveu como “muito sólido”. Um dos cargos mais importantes do que resta de legislatura não está no Governo mas também foi entregue por Sánchez a uma mulher. Trata-se de Adriana Lastra, a nova porta-voz socialista no Congresso, a quem caberá a complexa tarefa de tentar negociar apoios num Parlamento em que o PSOE conta apenas com 84 deputados em 350. Será Lastra, com Sànchez, a gerir as grandes expectativas que o executivo já gerou. Não esquecendo que falta pouco mais de ano e meio para o fim da legislatura.
REFERÊNCIAS:
Santo Ronaldo e as prostitutas
O profundo machismo entranhado em extensas partes da população feminina vai demorar séculos a erradicar. (...)

Santo Ronaldo e as prostitutas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O profundo machismo entranhado em extensas partes da população feminina vai demorar séculos a erradicar.
TEXTO: Cristiano é o nosso Cristo. É uma fé, uma iluminação, um dogma. Nos tempos que correm, vale muito mais, em unidades de medida de êxtase patriótico, do que a bandeira, o hino, o 25 de Abril, o castelo de Guimarães e os descobrimentos. É o único herói consensual do presente, o exemplo da determinação e superação, o orgulho pátrio. Os portugueses já decretaram a santidade de Ronaldo e a culpa da alegada vítima. Se fosse a teoria da denegação a explicar as reacções de fé total em Ronaldo e insultos vis à mulher que o acusou — que estão em todo o lado —, talvez uma sessão de terapia de grupo envolvendo os dez milhões de portugueses resolvesse o assunto. Infelizmente, é de temer o pior. Uma semana depois de a Der Spiegel ter publicado uma investigação jornalisticamente irrepreensível (talvez muita gente tenha falado sem a ter lido), muitos intelectuais portugueses expuseram à luz do sol a sua cabeça cavernícola, habitualmente disfarçada por uns livros e umas citações, mas muito a fazer pendant com a cabeça do juiz da Relação do Porto autor do famoso acórdão da “sedução mútua”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se Henrique Monteiro, ex-director do Expresso, manifestou que a queixosa, por ter aceitado subir a um quarto de hotel de um homem, “não é nenhuma santa”, Raquel Varela prontamente desqualificou a acusação de Mayorga por ela ser uma “prostituta”, o que não está provado em nenhuma parte do texto da Der Spiegel. Apesar de insistir que “a violação é um crime de enorme gravidade”, o ponto de argumentação de Varela é que Mayorga recebeu dinheiro e que ela, Varela, nunca recebeu dinheiro de “um homem com quem tivesse tido uma relação”: “Jamais andarei lado a lado numa manifestação ao lado destas tipas [sic]. ”O problema com este discurso desta professora universitária é a reprodução fidelíssima, de uma forma maquilhada para o século XXI, da tese de que as “mulheres sérias” não podem ser vistas ao lado das prostitutas, sob pena de perderem o seu estatuto social. Se fosse só Raquel Varela a debitar estas alarvidades, estaríamos todos bem. Mas as redes sociais encheram-se nos últimos dias de mulheres (algumas intelectuais, como Teresa Rita Lopes, que refere “os azares de Ronaldo de que os seus advogados hão-de tratar"”) a reproduzirem ipsis verbis o mesmo. Varela recusa-se a misturar as “verdadeiras violações” com o caso “Ronaldo e a garota de programa”. A diabolização da queixosa não podia ser mais cruel. É por estar em causa Ronaldo, a nossa bandeira nacional? É mais complexo: o profundo machismo entranhado em extensas partes da população feminina vai demorar séculos a erradicar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime mulher homem social violação mulheres feminina prostituta