“A mensagem do Papa não é só para a Igreja e isso é um problema para os políticos”
Quando Jorge Bergoglio foi escolhido para suceder a Bento XVI, o jornalista italiano Nello Scavo não gostou e fez investigação na tentativa de descobrir os podres do bispo de Buenos Aires. Descobriu um homem bom. Já escreveu três livros e só recentemente conheceu pessoalmente o Papa. (...)

“A mensagem do Papa não é só para a Igreja e isso é um problema para os políticos”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando Jorge Bergoglio foi escolhido para suceder a Bento XVI, o jornalista italiano Nello Scavo não gostou e fez investigação na tentativa de descobrir os podres do bispo de Buenos Aires. Descobriu um homem bom. Já escreveu três livros e só recentemente conheceu pessoalmente o Papa.
TEXTO: O Avvenire foi criado por Paulo VI, que decidiu que o jornal não devia ficar na Santa Sé, mas “longe do Vaticano” para “proteger os jornalistas do clericalismo”, conta Nello Scavo, repórter neste órgão católico sediado em Milão. Tem escrito para alguns jornais internacionais como The New York Times, The Washington Post, The Independent, Le Monde, El Mundo ou para a BBC e a CNN. É repórter de guerra, mas nos últimos tempos tem acompanhado a crise dos migrantes, entra incógnito na Síria, na Líbia, já fez a rota dos Balcãs, a pé, ao lado dos refugiados que fogem de guerras ou da pobreza.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra pobreza
Costa propõe regenerar periferias da Europa para combater terrorismo
A 9 de Setembro, o primeiro-ministro português participa na primeira Cimeira de Países do Sul da União Europeia para preparar a Cimeira Europeia de Bratislava a 16. E leva uma proposta. (...)

Costa propõe regenerar periferias da Europa para combater terrorismo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 9 de Setembro, o primeiro-ministro português participa na primeira Cimeira de Países do Sul da União Europeia para preparar a Cimeira Europeia de Bratislava a 16. E leva uma proposta.
TEXTO: O convite chegou em pleno Agosto. Alex Tsipras, primeiro-ministro grego, queria reunir em Atenas os líderes dos países do Sul da Europa, para todos poderem conversar sobre os desafios com que o bloco comunitário se debate. Um a um, os governantes do Chipre, de Espanha, de Itália, de França e de Malta foram dizendo que sim ao repto de Tsipras, recusando a ideia de que a Grécia estava cada vez mais isolada na Europa. Do lado de Portugal, também António Costa marcou viagem para participar na reunião. E, como o próprio confirmou ao PÚBLICO, leva na bagagem uma proposta. A ideia que o primeiro-ministro levará a este grupo dos sete resume-se numa frase: apoiar o “investimento na regeneração urbana contra o terrorismo”, ao nível de todos os países membros da União Europeia. António Costa considera que “há um enorme cansaço dos cidadãos da União Europeia em relação à capacidade de esta mudar”, ao mesmo tempo que “as pessoas estão preocupadas com o terrorismo, mas não vêem qualquer imagem de coordenação das instituições e dos governos europeus”, noemadamente em relação aos refugiados”. A proposta do primeiro-ministro parte da necessidade de recentrar o eixo da discussão sobre a segurança na Europa face ao risco do terrorismo. “As pessoas olham para as fronteiras, mas os atentados são cometidos por pessoas que trabalham, estudam, residem, e até nascem nos países da União Europeia”, sublinha António Costa, que quer contribuir para a busca de soluções que esvaziem o perigo terrorista. “Há uma tarefa fundamental para travar esta radicalização, que é haver políticas públicas para periferias urbanas e também políticas de integração”, defende o primeiro-ministro português que insiste na ideia de que “a população islâmica tem de ser bem integrada”. António Costa vai apresentar uma proposta sobre como essa integração deve ser feita: “Passa pela regeneração física dos bairros periféricos” em várias cidades europeias que alojam parte substancial das comunidades islâmicas, sendo que “muitos desses bairros terão de ser refeitos de raiz”, explica. Além da componente urbana e arquitectónica da proposta do primeiro-ministro, há também uma componente de inserção social. “Os governos dos Estados-membros da União Europeia e as instituições europeias têm também, de acordo com a proposta defendida por António Costa, de ter em atenção “a componente social de integração”, que passa pela “criação de emprego, de combate à delinquência juvenil, de resposta às drogas, de formação cívica”. A ideia do primeiro-ministro deverá ser formalmente posta a debate na Cimeira Europeia de Bratislava, na Eslováquia, a 16 de Setembro, na qual serão abordadas as consequências da vitória do "Brexit" no referendo no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia, mas também as questões relacionadas com o novo patamar de atentados terroristas na Europa e a vagas de refugiados que têm chegado ao território europeu. Apesar de o objectivo ser levar esta proposta à Eslováquia, ela será apresentada aos líderes dos Estados do Sul da União Europeia, que se realiza em Atenas por iniciativa do chefe do Governo grego. O objectivo desta primeira Cimeira dos Países do Sul da União Europeia é a de tentar instituir uma lógica de funcionamento em bloco, à semelhança do que já existe noutras zonas da União Europeia que assim funcionam, como é o caso dos países bálticos e do eixo Haia-Berlim-Helsínquia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lógica por detrás desta cimeira de países do Sul prende-se com a defesa de interesses comuns, nomeadamente o facto de serem os cidadãos destes países do Sul da União Europeia quem mais tem sofrido com as crises das dívidas soberanas e com o derrapar do desenvolvimento económico e quem mais tem sido assolado por exigentes políticas impostas pela Comissão Europeia. Agenda intensaNo dia 11, em Berlim, termina uma semana intensa de contactos internacionais levada a cabo pelo primeiro-ministro. Tudo começa em Milão (Itália), onde António Costa aterrará no sábado, dia 3, para visitar a maior feira de calçado do mundo. O ponto seguinte na agenda é São Paulo. Aí, Costa reúne-se na segunda-feira, dia 5, com o Governador do Estado e visita a Bienal de Arte da cidade. No dia seguinte, terça-feira, participa num almoço com empresários, recebe a comunidade portuguesa e janta com personalidades da área da cultura. Nos dias seguintes, antes de rumar a Atenas para se reunir com os outros líderes dos países do Sul, o que acontece a 9, Costa ainda passa pelo Rio de Janeiro, marcando presença na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos e recebendo os atletas. No dia 11, a convite de Angela Merkel, Costa participa num jantar que juntará chefes de Estado e do Governo de diversos países da UE, em Berlim.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Pacto das Migrações leva nacionalistas flamengos a abandonar governo belga
Primeiro-ministro Charles Michel “toma nota” da saída do partido flamengo, que recusou assinar o acordo da ONU. Mas diz que continua no cargo mesmo sem maioria no Parlamento até às eleições de Maio (...)

Pacto das Migrações leva nacionalistas flamengos a abandonar governo belga
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro Charles Michel “toma nota” da saída do partido flamengo, que recusou assinar o acordo da ONU. Mas diz que continua no cargo mesmo sem maioria no Parlamento até às eleições de Maio
TEXTO: O partido nacionalista Nova Aliança Flamenga (N-VA) anunciou a sua saída da coligação de governo belga por não concordar com a assinatura do Pacto Global da ONU para as Migrações. O primeiro-ministro, Charles Michel, disse este domingo que o Executivo continuará, mesmo sem maioria no Parlamento, e que iria fazer uma remodelação governamental. A aprovação do pacto da ONU pela Bélgica (cuja assinatura pelos países signatários está marcada para segunda-feira em Marrocos) está garantida: na semana passada, Michel assegurou que tinha uma grande maioria no Parlamento a votar a favor do texto. Michel, um liberal, formou a coligação com o N-VA e mais dois partidos em 2014. A tarefa de remodelar o Governo não é especialmente simples porque no país bilingue é preciso equilibrar o número de francófonos e flamengos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Michel é francófono e mantém-se no cargo com dois partidos flamengos de centro-direita, o CD&V e o OpenVLD. Como já estão marcadas eleições para Maio, os analistas não esperam mudança no calendário eleitoral. Já em Janeiro o N-VA ameaçara fazer cair o Governo por causa de uma polémica à volta do repatriamento de refugiados sudaneses, que depois foram torturados à chegada ao Sudão. O ministro responsável por esse repatriamento foi Theo Francken, da N-VA, que conseguiu manter-se no cargo. A Bélgica quebrou, em 2010-11, o recorde de país desenvolvido mais tempo sem governo, quando após as eleições de 13 de Junho de 2010 não conseguia um acordo para uma coligação governativa. Só houve novamente Governo a 5 de Dezembro de 2011, exactamente 589 dias depois da votação.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Orbán defende asilo na Hungria para ex-primeiro-ministro da Macedónia
Nikola Gruevski foi condenado por corrupção. Para o primeiro-ministro húngaro, o seu aliado foi vítima de “jogos” políticos. (...)

Orbán defende asilo na Hungria para ex-primeiro-ministro da Macedónia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nikola Gruevski foi condenado por corrupção. Para o primeiro-ministro húngaro, o seu aliado foi vítima de “jogos” políticos.
TEXTO: O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, defendeu a concessão de asilo pelo seu país a um antigo primeiro-ministro da Macedónia condenado a uma pena de prisão no seu país por corrupção. O facto de o Governo de Orbán ter dificultado a chegada de refugiados e posto grandes entraves à obtenção de asilo levou a imediatas comparações com a rápida concessão de asilo ao macedónio. “Orbán, o anti-asilo, faz excepção para amigo em apuros”, titulava o diário britânico The Guardian, referindo-se à boa relação entre os dois políticos, que data da altura em que Nikola Gruevski foi primeiro-ministro da Macedónia, cargo que ocupou durante dez anos. Gruevski deixou o cargo em Janeiro de 2016 e foi condenado a 9 de Novembro a uma pena de prisão de dois anos por corrupção. A polícia macedónia emitiu um mandado de captura depois de o antigo chefe de Governo não ter comparecido para começar a cumprir a sua sentença. De seguida, fugiu para a Hungria, acompanhado por diplomatas húngaros até Budapeste, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um porta-voz do Governo húngaro, Zoltán Kovács, justificou a medida porque “precedentes sugerem que casos extraordinários como este merecem consideração extraordinária”. Grueviski foi aliado de Orbán na oposição dentro da União Europeia a uma proposta de redistribuição de refugiados pelos estados-membros. O primeiro-ministro húngaro lembrou esta “luta lado a lado”. “Eu conheço este homem, foi meu colega muito tempo”, disse Orbán à estação de rádio estatal mr1. “Teria sido muito mais difícil, para não dizer impossível, defender a fronteira húngara sem ele. ”“Temos de tratar os nossos aliados com justiça”, continuou o primeiro-ministro. “Não podemos pô-los acima da lei, mas podemos garantir-lhe um processo justo”, acrescentou. As acusações contra Grueviski, disse ainda Orbán, são políticas e por isso não deveriam influenciar as autoridades húngaras. “Na Macedónia estão a acontecer lutas políticas complexas e jogos, e o sistema judicial faz parte disso”, acusou. “Os procedimentos na Macedónia não têm influência sobre nós. Só nos interessa se o pedido [de asilo] tem boa base legal. ”Se o asilo for confirmado, este é mais um gesto de provocação de Viktor Orbán à União Europeia. A Macedónia reagiu através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Nikola Dimitrov, que comentou ser “impossível de engolir” que um país da UE desse asilo ao antigo chefe de Governo depois de, em 2016, o ter acusado de tentar dominar a Macedónia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há dias o comissário para o Alargamento, Johannes Hahn, disse esperar “uma boa explicação dos motivos” de Orbán se fosse confirmada a decisão da Hungria conceder asilo político a Gruevski. "O estado de Direito é um princípio fundamental tanto para estados-membros [da União Europeia] como para países candidatos", como a Macedónia, disse ainda Hahn no Twitter, concluindo: "É surpreendente que a Hungria apoie a adesão da Hungria à União Europeia mas não a considere segura. "Até agora, na esfera interna, as ameaças de acção disciplinar da União Europeia têm apenas servido para alimentar a retórica de Orbán de que está sob ataque das forças “pró-migração” de Bruxelas.
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Entidades UE
Sírio obtém asilo no Canadá após oito meses a viver em aeroporto
Hassan Al Kontar esteve num limbo numa ala do aeroporto de Kuala Lumpur. Depois de lhe ter sido concedido asilo, aterrou hoje em Vancouver. (...)

Sírio obtém asilo no Canadá após oito meses a viver em aeroporto
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hassan Al Kontar esteve num limbo numa ala do aeroporto de Kuala Lumpur. Depois de lhe ter sido concedido asilo, aterrou hoje em Vancouver.
TEXTO: Durante dias, semanas, meses, Hassan Al Kontar viveu numa ala das chegadas no aeroporto de Kuala Lumpur, quando lhe foi recusado o embarque num voo para o Equador, e quando vários países lhe recusaram entrada. O seu passaporte sírio expirara e a única hipótese parecia ser regressar à Síria. Querendo tudo menos voltar para o país em guerra, Kontar, 37 anos, acabou por ficar num limbo, enquanto tentava que algum país o acolhesse. Kontar trabalhava no Dubai quando começou a guerra na Síria. O seu passaporte expirou e a embaixada síria nos Emirados Árabes Unidos recusou-se a renová-lo, diz o diário britânico The Guardian. Ficou ilegal no Dubai; perdeu o emprego, ficou sem casa. Entretanto, recebeu uma ordem para voltar à Síria e combater, o que Kontar não queria fazer. Ainda recebeu um documento temporário, com que tentou uma série de hipóteses, como o Camboja ou a Malásia. Acabou por procurar embarcar para o Equador em Kuala Lumpur, não conseguiu, ficou sem alternativas. No aeroporto, foi fazendo vídeos contando os seus dias e foi ficando cada vez mais desesperado. As refeições eram-lhe trazidas por pessoal das companhias aéreas. Tomava banho numa casa de banho para deficientes. Dormia debaixo das escadas, tentando escapar ao constante ruído dos anúncios e à luz que nunca se apagava. Ao quarto mês, um dos seus vídeos foi mais visto do que os anteriores. “Estou a começar a desistir. Consigo sentir aproximar-se o meu ponto de ruptura”, dizia. Solidão, tédio, medo, Kontar ia descrevendo a passagem dos dias, semanas, meses. Sempre disse que não era o único e que havia muitos sírios em situações parecidas, lutando para terem acolhimento seguro. A sua situação chamou a atenção de organizações de defesa de refugiados e direitos humanos. A Human Rights Watch lembrava que, por pertencer à minoria druza, Hassan Al Kontar corria ainda mais perigo, caso fosse obrigado a voltar à Síria. Uma das organizações que mais se empenharam no caso de Kontar era canadiana e foi aí que o seu caso finalmente teve uma hipótese: esta segunda-feira conseguiu embarcar num voo com destino a Taiwan, e daí seguir para Vancouver. Foi de um outro aeroporto internacional, desta vez o de Taiwan, que Kontar fez o mais recente vídeo que aparece na sua conta de Twitter, em que deu a novidade aos seus seguidores. “Peço desculpa por parecer saído da Idade Média”, diz. “Também peço desculpa por ter estado incontactável nos últimos dois meses. ”O que importa, continuou, “não é o passado mas sim hoje e amanhã”. E esse vai ser no seu destino final: Vancouver, Canadá. “Muito obrigado a todos”, disse. Kontar foi a dada altura detido pelas autoridades da Malásia e tudo parecia indicar que seria mandado para a Síria. Uma das pessoas que fizeram campanha de crowdfunding para patrocinar a ida de Kontar no âmbito do esquema dos chamados “refugiados patrocinados de forma privada”, Laurie Cooper, agradeceu às autoridades do Canadá por terem conseguido evitar esse desfecho. “Estou muito grata aos responsáveis canadianos que, quando Hassan esteve verdadeiramente em perigo, trabalharam muito, muito para acelerar o processo”, disse. “A situação dele é representativa das dificuldades que todos os refugiados encontram em todo o mundo”, comentou Cooper, citada pela emissora britânica BBC. “É cada vez mais difícil encontrarem um sítio seguro para viver. Ele foi um dos que tiveram sorte. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta terça-feira, Kontar aterrou em Vancouver, onde foi recebido por Cooper. Os media canadianos mostraram o abraço dos dois, e as primeiras declarações do sírio. “Para já preciso de um duche quente e de sair do aeroporto, estou farto de aeroportos”, disse aos jornalistas. À sua espera lá fora, chuva torrencial, conta a estação de televisão canadiana CBC, que seguiu a chegada do refugiado sírio. Dali, Kontar irá viver com Cooper até encontrar uma casa, e espera-o já um emprego a tempo inteiro num hotel, o Whistler. “Vou ficar bem”, disse, antes de sair para a rua. Desde 2015, o Canadá recebeu mais de 14 mil sírios patrocinados de forma privada e, em 2016, as autoridades canadianas foram elogiadas pelo Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) por terem participado na recolocação no país de pelo menos 46. 700 refugiados.
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Entidades ONU
ONU diz que militares birmaneses devem ser julgados por genocídio dos rohingya
Grupo que investigou a situação no terreno para as Nações Unidas acusa o homem mais poderoso da Birmânia, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, por crimes contra a humanidade, que devem ser presentes a um tribunal internacional. (...)

ONU diz que militares birmaneses devem ser julgados por genocídio dos rohingya
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grupo que investigou a situação no terreno para as Nações Unidas acusa o homem mais poderoso da Birmânia, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, por crimes contra a humanidade, que devem ser presentes a um tribunal internacional.
TEXTO: As chefias militares da Birmânia são responsáveis pelas violações e execuções em massa da comunidade rohingya, que começaram há um ano, e devem responder num tribunal internacional, por crimes contra a humanidade e genocídio. O parecer é de um grupo de investigadores das Nações Unidas que esta segunda-feira recomendou o julgamento do comandante e de cinco generais do Exército birmanês pela sua responsabilidade em conduzir um dos “mais graves crimes à luz da lei internacional” contra a minoria muçulmana. O relatório pede que a investigação seja encaminhada para o Tribunal Penal Internacional. Para a missão criada por decisão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Março de 2017, o Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz em 1991, não teve grande margem para controlar a acção do exército. Mas, "através dos seus seus actos e omissões, as autoridades civis contribuíram para que fossem cometidos crimes atrozes". O Governo civil "permitiu que o discurso de ódio prosperasse e não protegeu as minorias de crimes contra a humanidade e de guerra executados pelo exército nos estados de Rakhine, Kachin e Shan. Ao fazê-lo, Suu Kyi consentiu "crimes atrozes", lê-se no relatório citado pela Associated Press e Reuters. "Não usou sua posição como Chefe de Governo, nem sua autoridade moral, para conter ou impedir os eventos que se desdobram, ou buscar caminhos alternativos para cumprir a responsabilidade de proteger os civis”, afirma o documento. A minoria mais perseguida do mundoO painel de investigadores ouviu 875 vítimas e testemunhas e analisou documentos, vídeos, fotografias e imagens de satélite. Recolheu provas de violações em grupo, de violência armada – seja por via de armas de fogo, armas brancas (incluindo casos de decapitação), de destruição de aldeias inteiras, de tortura, de escravatura e de infanticídio, acusando o exército de ter recorrido a tácticas “consistentemente desproporcionais à dimensão das ameaças de segurança”, constituindo “sem qualquer dúvida, um dos crimes mais graves contra a lei internacional”. Em Dezembro do último ano, por exemplo, as estimativas dos Médicos Sem Fronteiras davam conta da morte de pelo menos 6700 pessoas num só mês. Destas vítimas, pelo menos 730 eram crianças com menos de cinco anos que foram mortas a tiro, queimadas ou agredidas até à morte, detalhou a organização humanitária. Para as Nações Unidas, o momento em que a intenção de genocídio ficou clara remonta a Agosto do último ano, quando as tropas do Governo da Birmânia lançaram uma operação de “limpeza étnica” numa suposta resposta aos ataques do Exército de Salvação de Arakan Rohingya (ARSA) contra 30 postos da polícia de Mianmar e uma base militar. Em declarações aos jornalistas, os investigadores ressalvaram que, apesar de considerarem que o ataque do exército foi o motor da revolta que expôs os problemas étnicos de um país profundamente dividido, os conflitos já estavam em curso. “Não foi nesse dia em que tudo começou. Assinalámos este dia [do ataque do exército birmanês] porque foi o dia em que para nós se tornou evidente o que estava a acontecer. Mas grande parte do que aconteceu é apenas uma demonstração máxima de um conjunto de tensões e abusos que estavam a acontecer há muito tempo”, esclareceu Christopher Sidoti, membro da Missão Internacional e Independente no Mianmar. Para as Nações Unidas, a responsabilidade do comandante e dos cinco generais é evidente. Não obstante, a organização não exclui a existência de mais responsáveis pelos crimes, explicou uma dos membros da comissão de investigação Radhika Coomaraswamy. “Existe uma longa lista de pessoas que não nomeámos mas que podem ser também indiciadas para uma investigação mais profunda por parte da Justiça”, declarou aos jornalistas. “No caso da Birmânia — como em quase todos os casos de genocídio — não há uma arma, não temos nenhuma cópia de uma ordem directa que diga ‘Começar genocídio amanhã, por favor’. Mas, de uma forma universal, os genocídios são levados a tribunal com base nas intenções apuradas. A intenção tem de ser inferida da natureza das circunstâncias nas quais acontecem. Neste caso, as duas coisas mais relevantes para nós são o contexto e a hierarquia que existe na Birmânia. Não há qualquer dúvida da nossa parte de que aquilo que aconteceu no Rakhine não aconteceu sem o conhecimento prévio dos líderes militares e sob o seu comando. E pela clareza desta hierarquia é que recomendamos a investigação e julgamento destes seis militares”, vincou Christopher Sidoti, membro australiano da missão de investigação das Nações Unidas. “Não excluímos a presunção de inocência, não estamos a dizer que individualmente está provada a intenção de cada um, mas que, de uma forma geral, sob todas as circunstâncias, com base em todos os factos, eles devem ser investigados”, rematou. Radhika Coomaraswamy apontou ainda a facilidade com que o discurso de ódio se propagou durante este período, até mesmo nas redes sociais como o Facebook, sem que o Governo nada fizesse. “Temos uma secção bastante longa em relação ao discurso de ódio”, sublinhou. “O Facebook é uma plataforma, e nós valorizamos a liberdade de expressão, mas devemos olhar com atenção para a facilidade com que se propaga o discurso de ódio, sendo que deve ser examinado por uma entidade privada”, acrescentou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A situação na Birmânia já motivou a fuga de mais de 700 mil refugiados. Entre as vítimas estão milhares de crianças, que enfrentam desnutrição e estão expostas a doenças infecciosas. No entanto, mesmo conseguindo escapar deste cenário na Birmânia, os refugiados que encontram refúgio noutros países não vêem os seus pesadelos terminar. No Bangladesh, por exemplo, continuam a enfrentar ameaças à integridade física, devido à falta de comida, água potável e cuidados de saúde. Em Outubro do ano passado, um relatório da UNICEF denunciava as condições nos campos de refugiado no Bangladesh como “um inferno na terra”. Ao governo da Birmânia foi enviada uma cópia antecipada do relatório das Nações Unidas, mas o Executivo não comentou o documento. O relatório completo da investigação será divulgado a 8 de Setembro. Algumas partes estão já disponíveis online.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte guerra lei humanos violência tribunal ataque comunidade minoria refugiado humanitária escravatura
Viktor Orbán e a aparente surpresa comunista
A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia. (...)

Viktor Orbán e a aparente surpresa comunista
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.05
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia.
TEXTO: É cada vez mais notório que há uma doença política séria a corroer grande parte das democracias nacionais do leste europeu. Contudo, em nenhum lugar se atingiu ainda o grau de putrefacção institucional observável na Hungria. Viktor Orbán, que está longe de ser um homem intelectualmente destituído, concebeu e tem vindo paulatinamente a concretizar aquilo que ele próprio designa como um modelo de democracia iliberal. Trata-se de um tipo de regime de natureza liberticida, alheio a qualquer tipo de preocupação com a protecção dos direitos fundamentais e permeável ao exercício do autoritarismo. Acrescentem-se ainda a estas características a exaltação de um nacionalismo xenófobo, o gosto pela perseguição das minorias, a propensão para um tratamento ultrajante aos refugiados e aos migrantes. Para completar o ramalhete associamos ainda a prática despudorada do nepotismo, do clientelismo e de comportamentos corruptos. Parece uma caricatura mas infelizmente não é. Trata-se da situação presentemente vivida na Hungria, um Estado-membro da União Europeia. Perante esta situação há muito que se vinham erguendo vozes críticas clamando pela adopção de uma atitude dura por parte das principais instituições europeias. Com o arrastar dos acontecimentos ia-se progressivamente instalando um compreensível cepticismo em relação à capacidade da União Europeia aplicar os mecanismos sancionatórios de que dispõe para reprimir comportamentos e práticas atentatórios dos princípios e dos valores de que se reclama e que a inspiram. A impunidade de que o Governo húngaro parecia beneficiar suscitava uma legítima incompreensão em todos quantos continuam a projectar uma elevada expectativa nos chamados ideais europeus. Essa impunidade, felizmente, começou a ser contrariada ontem no Parlamento Europeu de forma muito consistente. Foi nesse sentido que uma maioria expressiva de deputados, correspondente a cerca de dois terços dos mesmos, votou a favor de um relatório elaborado por uma deputada Verde holandesa. Esse relatório propõe o accionamento dos mecanismos previstos nos Tratados tendo em vista o sancionamento de comportamentos adoptados por governos nacionais que deneguem ou contraditem o acervo de valores democrático-liberais consagrados na ordem institucional europeia. Esta votação constitui um sinal político de extraordinária importância. Numa altura em que por todo o lado emergem discursos e soluções políticas adversos à tradição demoliberal, não podemos deixar de sentir algum reconforto com a manifestação deste amplo entendimento. É por isso mesmo desejável que ele se perpetue na abordagem de situações de natureza diversa mas onde igualmente possam estar em causa os mesmíssimos valores e princípios que agora se declararam lesados. É provável, aliás, que o Parlamento Europeu, bem como as demais instâncias de decisão europeias se vejam confrontadas num futuro não muito distante com a necessidade de ajuizar casos não muito diferentes daquele que foi agora objecto de apreciação. Infelizmente são vários os governos europeus predispostos a seguir por muito ínvios caminhos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados, em nome de uma anquilosada noção de soberania nacional, juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia. Este comportamento pode escandalizar, mas não deve surpreender. Se há coisa que os comunistas nunca esconderam foi a sua radical aversão por todas as formas e manifestações do pensamento liberal. É por isso natural se não sintam obrigados a censurar quem igualmente as despreza. Para o marxismo-leninismo todo o edifício de princípios, valores e regras de inspiração liberal não passa de uma cínica construção formal destinada a tentar camuflar o confronto de classes que constitui a verdadeira estrutura e a explicação da História. A origem dos crimes perpetrados por todos os regimes comunistas radica precisamente nesta desvalorização do Estado de Direito e do primado da autonomia individual. Orbán é um anticomunista feroz, propagandeia a visão de uma Europa etnicamente pura alicerçada nas referências religiosas do cristianismo, exalta um comunitarismo de índole reaccionária. Nessa perspectiva, um militante comunista só pode sentir repulsa por tal figura e pelas teses que propala. O que infelizmente os aproxima, sem nunca os identificar, é verdade, é justamente essa propensão antiliberal tão contrária ao melhor do espírito iluminista europeu. Esse é, aliás, o risco que correm todos aqueles que seja em nome do que for, nomeadamente de um pós-humanismo, se afastam do núcleo da tradição do racionalismo crítico que está por detrás, entre outras coisas, da noção de Direitos Humanos. Este episódio também demonstra o seguinte: é totalmente insensato promover a absolutização da linha divisória direita/esquerda. É-o no plano da política nacional e ainda o é mais no contexto da política europeia. Hoje há outras linhas de demarcação tão ou mais importantes do que essa. O reconhecimento desse facto contribui para uma melhor compreensão da presente realidade política. Àqueles que auguram a inevitabilidade do triunfo dos demagogos, dos extremistas de todas as espécies, dos vendedores de ilusões simplistas, haverá sempre que lembrar uma lição básica: o simplismo só pode ser derrotado por um apelo ao poder argumentativo de uma razão capaz de explicar a complexidade e a profunda subtileza de tudo quanto é humano.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Editorial: Um pingo de decisão
Dentro de alguns dias, os navios de guerra europeus vão passar a poder abordar, revistar, confiscar e desviar embarcações suspeitas de estarem a ser utilizadas para tráfico de seres humanos – e podem também fazer detenções. A medida poderia ser interessante se estivesse enquadrada numa política global e numa estratégica comum para a União Europeia enfrentar uma crise humanitária sem precedentes desde o fim da II Guerra Mundial. Chegam à Europa milhares de migrantes por dia, muitos dos quais migrantes forçados, aos quais muitos de nós passámos a chamar refugiados, apesar de, formalmente, não terem ainda esse estat... (etc.)

Editorial: Um pingo de decisão
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
TEXTO: Dentro de alguns dias, os navios de guerra europeus vão passar a poder abordar, revistar, confiscar e desviar embarcações suspeitas de estarem a ser utilizadas para tráfico de seres humanos – e podem também fazer detenções. A medida poderia ser interessante se estivesse enquadrada numa política global e numa estratégica comum para a União Europeia enfrentar uma crise humanitária sem precedentes desde o fim da II Guerra Mundial. Chegam à Europa milhares de migrantes por dia, muitos dos quais migrantes forçados, aos quais muitos de nós passámos a chamar refugiados, apesar de, formalmente, não terem ainda esse estatuto. Basta olhar para as fotografias de Damasco ou de Alepo hoje para compreender a razão por que milhares e milhares de sírios deixam o seu país todos os dias. Estas pessoas não procuram uma vida melhor, nem um melhor emprego. Procuram simplesmente um lugar seguro. Vêm com os seus bebés ao colo, querem dar uma vida aos seus filhos. Por isso vemos tantas crianças nestas multidões. A Europa continua sem uma posição credível concertada e o arrastar de pés passou de prazo. Mais de 400 mil estrangeiros chegaram à Europa com a roupa que traziam no corpo. Pedem-nos ajuda e falta pouco para o Inverno. A solução para este êxodo colossal é autorizar o recurso à força militar contra os traficantes de migrantes? Para o que vai isto servir? Era bom que no mundo não existissem traficantes de humanos. E eles devem ser combatidos e punidos. Mas é esse o plano europeu para esta crise? Enquanto houver procura, há oferta. Como no narcotráfico, prender os traficantes não faz parar o negócio da venda de droga. Enquanto milhares de pessoas saírem dispostas a pagar tudo o que têm a um traficante por um lugar num bote e um colete salva-vidas – e muitas vezes nem isso – haverá tráfico e gente sem escrúpulos a beneficiar do desespero. Só da costa líbia, chegam à costa italiana 450 pessoas por dia. Mas também chegam à costa grega e por terra são hoje cada vez mais. A resposta é necessariamente mais complexa. Não se resolve com muros, nem com prisões, nem deportações expeditas, nem arame farpado, nem gás pimenta. Como diz Guterres, que há dez anos fala com refugiados de todo o mundo, se fechamos a porta, quem quer sair sai pela janela; se fechamos a janela, quem quer sair abre um túnel. E vai sempre conseguir sair.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos ajuda corpo humanitária
Os “Donalds e as Melanias” deste mundo confrontam-se na Casa da Música
The Gender Agenda, de Philip Venables, cruza música e teatro para debater o sexismo, a misoginia e o slut-shaming. O objectivo é diluir a barreira entre palco e plateia, confiando na forte interacção entre as partes. (...)

Os “Donalds e as Melanias” deste mundo confrontam-se na Casa da Música
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: The Gender Agenda, de Philip Venables, cruza música e teatro para debater o sexismo, a misoginia e o slut-shaming. O objectivo é diluir a barreira entre palco e plateia, confiando na forte interacção entre as partes.
TEXTO: Não é bem um concerto, mas também não é bem uma peça de teatro. Esta terça-feira, o palco da Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, transforma-se numa espécie de concurso de televisão onde o público é convidado a participar em jogos que acontecem em tempo real e que abordam questões fracturantes da actualidade, como o sexismo, a misoginia ou o slut-shaming. The Gender Agenda, o espectáculo de Philip Venables que agora se estreia em Portugal, parte de um formato descontraído e familiar, fazendo suceder vários desafios mediados por um apresentador, intercalados por separadores com visual e banda-sonora muito característicos. “Uma vez que o foco principal é a participação do público, esta estrutura pareceu-me a mais adequada, porque toda a gente sabe do que se trata”, explica o compositor britânico ao PÚBLICO. A peça foi criada no âmbito projecto europeu Connect, da Art Mentor Foundation Lucern, que propõe a criação de obras musicais para interpretação conjunta de músicos e público, de igual para igual, numa tentativa de esbater a barreira entre uns e outros. Philip Venables serviu-se do cruzamento entre música e texto que é habitual na sua obra – já recorreu a excertos da poesia de Walt Whitman e Sylvia Plath, a recortes de jornais e a entrevistas – para criar um concerto que é também uma peça de teatro e um espectáculo multimédia. “O texto permite explorar temas políticos e questões sociais, o que é mais difícil de fazer apenas com a música”, admite, acrescentando que a camada teatral que se lhe sobrepõe "dá à audiência outro tipo de experiência”. Após a estreia em Londres, a 12 de Abril, The Gender Agenda materializa-se agora num encontro entre o público português, o Remix Ensemble Casa da Música, o maestro Pedro Neves, o coro de uma turma do 11. º ano do curso de Teatro do Balleteatro Escola Profissional, o Digitópia Collective – responsável pela componente electrónica – e, claro, a apresentadora do concurso televisivo, Raquel Couto. A maestrina, que não tinha experiência anterior em representação, é a actriz principal da peça e a moderadora dos jogos que decorrem em cena. “A parte teatral também está no canto e no coro [as áreas que trabalho diariamente], mas o maior desafio é coordenar tudo com a parte electrónica, porque não são propriamente coisas que vêm na partitura”, confessa. É Raquel quem dá o mote para o arranque do concurso, com o jogo Crab the Kitten, anunciado pela imagem satírica de um caranguejo com a cabeça de Donald Trump. Ao mesmo tempo, passa de forma intermitente um excerto do polémico vídeo de 2016 que mostrava o então candidato às presidenciais norte-americanas a utilizar expressões grosseiras relativamente a mulheres, em conversa com o ex-apresentador da NBC, Billy Bush. Neste desafio, são lançados para a plateia oito gatinhos de peluche, quatro azuis e quatro cor-de-rosa. O objectivo é que o público levante bem os braços e, independentemente do género e da cor, apanhe um dos bonecos para subir ao palco e responder a algumas questões sobre o tema. No intervalo fictício, há lugar para notícias de última hora que dão conta da invenção de uma “pílula anti-concepcional para homens que acham que a gravidez é cansativa”, acompanhadas de uma faixa que faz lembrar o genérico de um telejornal. Na publicidade, há anúncios a produtos como o “ASS – Spray Anti-Sexismo”: um canalizador vai arranjar uma tubagem e, ao ser recebido pela dona da casa, pergunta pelo marido, sendo imediatamente borrifado pelo spray. Nem os filmes da Disney escapam à crítica sagaz que é feita em palco. A história da “Cinderela, que deu cabo do pé para que ele coubesse no sapato”, é apresentada “num áudio-livro com narração de Harvey Weinstein”, o produtor de Hollywood que protagonizou o escândalo sexual de 2017, dando origem ao movimento #MeToo. “Esta peça não vai mudar o mundo ou fazer a diferença na desigualdade salarial ou na maneira como as pessoas são tratadas”, reconhece Philip Venables. “O nosso objectivo é, em primeiro lugar, que as pessoas se divirtam e, depois, que consigam falar sobre temas mais sérios através do humor e do entretenimento. ” A crítica não é propriamente subtil, mas também não se procuram impor opiniões ao público. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em vez disso, num concurso que opõe “os Donalds e as Melanias”, são lançados ao ar conceitos como slut-shaming (a reprovação sofrida por mulheres que se mostram sexualmente abertas e activas e são vistas como promíscuas) manspreading (a prática dos homens que se sentam de pernas abertas nos transportes públicos), ou masculinidade tóxica, concretizada nas vozes do coro que atiram ao ar frases-tipo de uma sociedade preconceituosa, como “Os homens não choram” ou “A música clássica é para gays”. The Gender Agenda não se assume como um espectáculo político, antes como um espectáculo musical e teatral que serve de trampolim ao debate político e social. A estrutura é leve e orgânica, as questões de género respiram entre as deixas, o vídeo e a música, mas não há hesitação na forma como se põe o dedo na ferida. Às 19h30 desta terça-feira, a bola – ou o gatinho de peluche – passa para o público, cuja adesão determinará a fluidez da peça. “A participação das pessoas será recebida com amor e empatia. No fundo, só queremos que todos se divirtam”, conclui Venables. O programa do concerto desta tarde passará ainda por Orango, do compositor Oscar Bianchi, em que o público sobe ao palco para criar os sons da peça a partir de instrumentos musicais ou de objectos do quotidiano. A obra conta com a participação especial do Coro Sénior da Fundação Manuel António da Mota e do Psiqué – Grupo de Teatro do Hospital de Magalhães Lemos.
REFERÊNCIAS:
O poder das palavras: a propósito do trabalho sexual
Não é julgando estas pessoas que resolvemos os problemas, é dando-lhes visibilidade e voz. (...)

O poder das palavras: a propósito do trabalho sexual
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é julgando estas pessoas que resolvemos os problemas, é dando-lhes visibilidade e voz.
TEXTO: A inspetora Vera Stanhope repreende os homens da sua equipa quando utilizam a expressão “whore” (puta) a propósito de uma vítima. Ríspida, corrige-os: “sex worker” (trabalhadora do sexo), e eles baixam os olhos. É uma série policial inglesa, claro, do mesmo país onde a rainha condecorou com a ordem de mérito a ativista Catherine Healy pela conquista de direitos laborais para trabalhadores/as do sexo. Até podem dizer que isto está muito longe das nossas realidades, mas a organização portuguesa de trabalhadores/as do sexo, Labuta, lança um apelo no mesmo sentido: “Negar os nossos direitos como trabalhadorxs é negar os nossos direitos humanos. ” Apelos semelhantes foram publicados pela Amnistia Internacional ou pela Associação para o Planeamento da Família (APF). Sublinhe-se, ainda, que esta semana a ILGA Europa se posicionou pela descriminalização de todos os aspetos do trabalho sexual, ouvindo e envolvendo os/as trabalhadores/as do sexo LGBTI+. Vêm estas notas a propósito de uma petição lançada pelo MDM, “Ninho” e Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, condenando o uso da expressão “trabalho sexual”, como um atentado aos direitos humanos, e da dúvida razoável sobre o que leva um conjunto de organizações a darem-se a este trabalho. No mesmo texto, aquelas organizações condenam, também, a plataforma criada no município de Lisboa, constituída por organizações com intervenção na área do trabalho sexual e em articulação com o pelouro do vereador do Bloco de Esquerda, para identificar as necessidades e a adequação das respostas para as pessoas que fazem trabalho sexual. Trata-se do mínimo necessário para conseguirmos fazer um trabalho em rede, coerente e articulado. Sejamos claros: quando usamos a expressão “trabalho sexual” e não “prostituição”, fazemo-lo com a consciência de que as palavras expressam valores e opções. Procurem na net o significado de “prostituta” e constatarão que é uma mulher que “obtém lucro através da oferta de serviços sexuais”, sendo sinónimo de “rameira”, “pega”, “meretriz”. Os juízos morais associam a prostituição ao desvio, ao pecado e ao crime, e não servem os direitos destas pessoas, porque as colocam sob o olhar paternalista de uma sociedade que as quer corrigir, recusando-lhes a autodeterminação. Nós entendemos que a firmeza de Vera Stanhope serve mais estas pessoas do que séculos de moral católica, ou décadas da moral do PCP, que, convenha-se, sempre defendeu a mesma coisa: as prostitutas são prostitutas, vítimas de exploração sexual. A única atualização que fez foi enviesar a questão, fundindo trabalho sexual e tráfico de seres humanos, no esteio do feminismo abolicionista, e tornando o crime a moldura de toda a realidade. Ora, nós não queremos emendar estas pessoas. Não entendemos que sejam todas vítimas, mas sabemos bem que o género, a pertença a uma minoria étnica ou racial, a homofobia, a transfobia, o “bullying” e a rejeição das famílias e próximos, entre outras formas de discriminação, podem empurrar muitas delas para a precariedade económica, e para o trabalho sexual. Não é julgando-as que resolvemos os problemas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É dando-lhes visibilidade e voz, é construindo uma agenda para os direitos, é descriminalizando todas as práticas associadas, para que não permaneçam nos subterrâneos da realidade, onde mais facilmente são vítimas de exploração, de violência e de discriminação. É apostando em políticas públicas que garantam direitos, nomeadamente o de poderem escolher esse ou outros percursos de vida. Escolher, se e quando quiserem. E criar condições para suportar estas escolhas não é a mesma coisa que entender que a sua vida tem sentido único e que as pessoas estão destituídas de vontade. Entendemos que a Plataforma é o começo de um caminho a fazer e, para ele, convidámos todas as organizações. Mas se há quem entenda que nesta questão, tal como noutras, a agenda conservadora é mais poderosa do que a unidade para o alargamento e protecção dos direitos das pessoas que fazem trabalho sexual, não será por isso que o caminho deixará de ser feito. Representantes da CML na PlataformaOs autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS: