Um quinto das plantas do planeta está ameaçado de extinção
Uma em cada cinco espécies de plantas no planeta está ameaçada de extinção, a maioria nas regiões tropicais, revela hoje um estudo científico internacional que atribui as maiores responsabilidades às intervenções humanas no meio. (...)

Um quinto das plantas do planeta está ameaçado de extinção
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma em cada cinco espécies de plantas no planeta está ameaçada de extinção, a maioria nas regiões tropicais, revela hoje um estudo científico internacional que atribui as maiores responsabilidades às intervenções humanas no meio.
TEXTO: A destruição da floresta em Madagáscar está a empurrar para a extinção a pequena palmeira Dypsis brevicaulis. Estima-se que a população mundial esteja agora reduzida a 50 plantas em três locais. Mas não é caso único. O grupo mais ameaçado é o das Gimnospérmicas, onde se incluem os pinheiros e as araucárias e o habitat que, de momento, mais preocupa é a floresta tropical. E é nos trópicos que se concentra a maioria das espécies ameaçadas. Para chegar a estas conclusões, os investigadores dos Kew Gardens, do Museu de História Natural de Londres e da UICN (União Mundial de Conservação da Natureza) estudaram uma amostra de 7000 espécies – dos principais grupos de plantas, como os Briófitos, Pteridófitos, Gimnospérmicas e Angiospérmicas -, representativas das 380 mil conhecidas actualmente. Do trabalho resultou o primeiro estudo à dimensão da ameaça ao mundo vegetal. “Pela primeira vez temos uma ideia clara do risco de extinção das plantas conhecidas no mundo. Este relatório mostra que as mais urgentes ameaças e regiões em maior perigo”, comentou Stephen Hopper, director dos Kew Gardens. E os resultados não surpreenderam ninguém. “O estudo confirma aquilo que já suspeitávamos, ou seja, que as plantas estão ameaçadas e que a principal causa é a perda de habitat induzida pelo ser humano”, acrescentou o responsável. O relatório refere, especificamente, a conversão de habitats em solos agrícolas e para pastagens. No Sudeste asiático, as plantações de óleo de palma estão a causar um “efeito devastador nas florestas tropicais nativas”, ameaçando “muitas espécies de plantas”. Já na Austrália, ecossistemas inteiros estão a entrar em colapso devido à infestação do fungo Phytophthora cinnamomi que causa o apodrecimento das raízes. E se os Estados Unidos, Europa e Ásia não têm espécies muito ameaçadas, os autores alertam para a crescente expansão e intensificação de práticas agrícolas e desenvolvimento urbano. Relatório será levado à cimeira de NagoyaA partir de aqui, este relatório faz caminho até à Cimeira da ONU dedicada à Biodiversidade, em meados de Outubro em Nagoya, Japão. “A meta para a biodiversidade em 2020 que será discutida em Nagoya é ambiciosa. Mas numa altura em que aumenta a perda da biodiversidade, é inteiramente apropriado intensificar os nossos esforços”, considerou Hopper. “As plantas são a fundação da biodiversidade e o seu significado em tempos climáticos, económicos e políticos incertos tem sido descurado há muito tempo”. “Todo o nosso esforço terá merecido a pena se os líderes mundiais tomarem medidas significativas para reduzir o actual ritmo de perda da biodiversidade”, disse Neil Brummitt, responsável pelo projecto no Museu de História Natural de Londres. Os responsáveis adiantam que este projecto vai ser revisto periodicamente, para “monitorizar o destino das plantas”, mostrando onde e que tipo de acção é necessária. Ainda assim, esta não será uma missão fácil. Avaliar a ameaça às plantas (com 380 mil espécies estimadas) é mais complicado do que fazer o mesmo em relação às aves (9998 espécies), mamíferos (quatro mil) ou anfíbios (6433).
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Fabricante japonês inventa aparelho que traduz miados para linguagem humana
Depois de ter vendido 300 mil aparelhos que, alegadamente, traduzem o ladrar dos cães para linguagem humana, o fabricante japonês de brinquedos Takara Co. está a planerar fazer o mesmo para os gatos. Chamado Meowlingual, o aparelho previsto entrar no mercado japonês em Novembro, traduz os miados dos gatos para frases como "Estou farto", apesar das palavras exactas ainda não estarem definidas, informou ontem a empresa, sediada em Tóquio. O aparelho deverá custar 74 dólares (65 euros), ligeiramente mais barato do que o dos cães, o Bowlingual, que custava 125 dólares (111 euros). Ambos os aparelhos utilizam dados ci... (etc.)

Fabricante japonês inventa aparelho que traduz miados para linguagem humana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2003-07-17 | Jornal Público
TEXTO: Depois de ter vendido 300 mil aparelhos que, alegadamente, traduzem o ladrar dos cães para linguagem humana, o fabricante japonês de brinquedos Takara Co. está a planerar fazer o mesmo para os gatos. Chamado Meowlingual, o aparelho previsto entrar no mercado japonês em Novembro, traduz os miados dos gatos para frases como "Estou farto", apesar das palavras exactas ainda não estarem definidas, informou ontem a empresa, sediada em Tóquio. O aparelho deverá custar 74 dólares (65 euros), ligeiramente mais barato do que o dos cães, o Bowlingual, que custava 125 dólares (111 euros). Ambos os aparelhos utilizam dados científicos sobre os sons que os animais fazem, trabalhados por um laboratório japonês que também analisa vozes humanas para ajudar a resolver crimes e fabricar telemóveis. Ao contrário do que acontece com o Bowlingual, o Meowlingual não vai ser colocado na coleira do animal. Maiko Hasumi, porta-voz da Takara, explicou que os donos têm que segurar o aparelho e aproximá-lo da boca do gato. Depois, é só esperar que ele "diga" alguma coisa. Takara pretende começar a vender o Bowlingual nos Estados Unidos no próximo mês. Quanto à versão felina, a empresa espera ter vendido 300 mil exemplares no mercado asiático até Março de 2004.
REFERÊNCIAS:
Leilão da colecção de arte da família Espírito Santo rendeu 1,5 milhões de euros
A estrela do leilão foi a rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, arrematada por 204,6 mil euros. (...)

Leilão da colecção de arte da família Espírito Santo rendeu 1,5 milhões de euros
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A estrela do leilão foi a rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, arrematada por 204,6 mil euros.
TEXTO: Foram 149 lotes no total e nem todos foram comprados. A colecção de arte de Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva (1928-2014) foi leiloada nesta quarta-feira pela Christie’s, em Londres, e rendeu 1, 5 milhões de euros. A estrela do leilão foi, como se esperava, a rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, decorada a partir de uma pintura de William Hogarth, que acabou arrematada por 120 mil libras (167, 7 mil euros), com a comissão da leiloeira o preço da peça fixou-se nas 146, 5 mil libras (204, 6 mil euros). Surpresa para a pintura a óleo Circle de Jakob Bogdáni que foi à praça por 30 mil libras (cerca de 42 mil euros) e acabou vendida também por 120 mil libras (com a comissão o preço foi o mesmo da taça chinesa). O leilão começou com alguns lotes a não encontrarem comprador e outros a serem arrematados por valores abaixo das estimativas apontadas pela Christie’s até que ao lote 28 a leiloeira levou à praça a pintura a óleo Circle do húngaro Jakob Bogdáni (1660-1724). As estimativas mais altas da Christie’s apontavam para que a obra fosse arrematada por 50 mil libras (cerca de 70 mil euros) mas esta acabou por ser vendida por mais do dobro do preço. Numa venda muito disputada, a pintura foi arrematada por 120 mil libras (167, 7 mil euros). Segundo o leiloeiro responsável pela venda, o quadro terá sido comprado por um licitador online a partir de Itália. Este foi também o valor da rara taça chinesa do século XVIII e que era anunciada como a estrela deste conjunto que pertencia à neta de José Maria Espírito Santo Silva, o fundador da empresa que deu origem ao Banco Espírito Santo, e filha mais nova de Ricardo do Espírito Santo Silva (1900-1955), que dirigiu o BES nos anos 1930 e foi um importante mecenas e coleccionador de arte. Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva morreu no ano passado e era a mãe da ex-ministra da Cultura Maria João Bustorff e tia do banqueiro Ricardo Salgado. A peça chinesa foi à praça por 48 mil libras (67 mil euros). Foi disputada não só por licitadores na sala como ao telefone e na internet. Acabou arrematada por um licitador na sala, cuja identidade não foi revelada. O antiquário Jorge Welsh, especializado em porcelanas orientais, considera esta taça “uma peça muito rara no mercado internacional”, e pergunta-se mesmo como “terá vindo parar a Portugal” este objecto decorado com armas inglesas. Já as restantes porcelanas da colecção, acrescenta, incluem “algumas peças interessantes”, mas que "vão aparecendo em leilões e não são de grande raridade". Estas foram as duas peças mais caras de todo o leilão, seguindo-se o par de pastéis de Jean-Baptiste Pillement (1728-1808) vendido por 92, 5 mil libras (129 mil euros), acima das esperadas 60 mil libras (83 mil euros). Uma destas telas é uma vista do Tejo, com pescadores na margem do rio, e a outra mostra uma paisagem ribeirinha escarpada e um rebanho de ovelhas e respectivos pastores. São ambas datadas de 1782, pouco posteriores ao regresso do pintor a Portugal, onde chegou a fundar uma escola. Pillement tinha apenas 17 anos quando chegou pela primeira vez a Lisboa, empregando-se como pintor e decorador. E o seu talento era já então suficientemente reconhecido para que D. José I lhe tenha oferecido o cargo de pintor real, que então recusou para regressar a Londres. Hoje sobretudo reconhecido pela influência que as gravuras que executava a partir dos seus próprios desenhos vieram a ter na disseminação do estilo rococó na Europa, Pillement foi um importante paisagista, e terá justamente atingido o seu apogeu no período em que realizou o par de telas agora leiloado. A colecção integrava ainda várias outras pinturas e esboços do artista, mas que não alcançaram preços significativos. Do total da colecção que era composta por pinturas, desenhos, móveis, porcelanas e pratas de várias épocas e proveniências, 40 lotes não foram vendidos. Quando em Março, a Christie’s anunciou este leilão referiu-se a este conjunto da família como o “mais consistente núcleo da colecção original de peças francesas, chinesas, italianas e inglesas” que Ricardo do Espírito Santo Silva reuniu. Para a leiloeira, Ricardo do Espírito Santo Silva foi um “verdadeiro conhecedor”, “um dos maiores coleccionadores do seu tempo” e “um dos mais importantes patronos das artes em Portugal". Parte da colecção foi doada ao Estado português em 1953, tendo-se criado a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS), que se mantém activa até aos dias de hoje. Ao doar a colecção Ricardo do Espírito Santo Silva doou também o Palácio Azurara (nas Portas do Sol), para que ali as obras pudessem ser expostas. A outra parte da colecção ficou então com a sua filha, Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva. É essa colecção privada que nesta quarta-feira a Christie’s leiloa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha escola cultura
Um gato de mil milhões de dólares
A aquisição da empresa que criou o Talking Tom Cat por uma companhia chinesa sem credenciais na área tecnológica é apenas o mais recente exemplo de uma tendência asiática. (...)

Um gato de mil milhões de dólares
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: A aquisição da empresa que criou o Talking Tom Cat por uma companhia chinesa sem credenciais na área tecnológica é apenas o mais recente exemplo de uma tendência asiática.
TEXTO: Quanto vale um gato falante? Para uma empresa chinesa de água oxigenada, a resposta é mil milhões de dólares (898 milhões de euros). Não falamos literalmente de nenhum felino que tenha aprendido a falar, mas não é por isso que a história deixa de surpreender. No início do ano, a Zhejiang Jinke, uma companhia sem qualquer tradição na área da tecnologia (ou dos animais de estimação), resolveu passar um cheque de dez dígitos a um jovem casal da Eslovénia, Samo e Iza Login, pela Outfit7, a empresa de Ljubljana responsável pelo Talking Tom Cat – o popular gato de olhos verdes que repete o que dizemos, com uma voz de desenho animado, através de uma aplicação de telemóvel. Para Samo e Iza, namorados desde o liceu, foi o negócio de uma vida. Ao fim de oito anos a tentar a sorte no mercado das aplicações que a Apple de Steve Jobs inaugurou em 2008, o casal esloveno vendeu a empresa à conta do seu maior sucesso (e como é recorrente nestes casos, com um produto em que depositavam pouca esperança). Agora, e segundo conta esta semana a Bloomberg, os Login preparam-se para aplicar a sua fortuna numa fundação para a sustentabilidade e segurança alimentar. Se é fácil imaginar a satisfação dos eslovenos, torna-se difícil perceber a lógica que presidiu, do lado chinês, ao negócio multimilionário. O que levará uma empresa de água oxigenada a embarcar em semelhante aventura? Tal como a BBC o fez em 2016, a Bloomberg explica que a Zhejiang Jinke não está sozinha, e que são várias as companhias chinesas a irem além-fronteiras e além das suas áreas de negócio para adquirir empresas ocidentais de videojogos, aplicações móveis e entretenimento. O caso mais caricato será o de dois estúdios de videojogos, o canadiano Digital Extremes (co-autor da serie Unreal) e o britânico Splash Damage (envolvido no desenvolvimento de Quake e Doom 3), que foram comprados por um aviário chinês. Mas há também empresas de canalização, construção civil e imobiliário às compras na Europa e na América do Norte. E, claro, empresas tecnológicas como a gigante Tencent. RuneScape, Clash of Clans, League of Legends, World of Warcraft ou Candy Crush Saga são alguns jogos populares que se encontram, em parte ou na totalidade, em mãos chinesas. O mercado justifica estes investimentos. Apesar do abrandamento da economia, a dimensão demográfica da China torna-a inevitavelmente na maior consumidora mundial de videojogos, pelo que até um produto de sucesso modesto pode render uma fortuna. Mas a principal explicação está na bolsa de Xangai. Entrar no principal índice chinês é atingir, a prazo, uma valorização em Bolsa dezenas ou centenas de vezes superior ao valor inicial (e real) da empresa. Ao mesmo tempo, as regras para conquistar e manter o lugar no índice são muito exigentes, e a apresentação obrigatória de lucros torna-se difícil perante a desaceleração da economia. Por isso, e graças à facilidade de financiamento, a compra de um estúdio de videojogos com facturações milionárias para melhorar as contas da empresa-mãe é um recurso útil e relativamente barato. O único obstáculo à multiplicação destes negócios são as leis chinesas de controlo de capitais, o que leva as empresas a conduzirem as aquisições através de sociedades offshore. No caso da Outfit7, o cheque entregue aos Login veio na verdade das Ilhas Virgens Britânicas.
REFERÊNCIAS:
A fábrica de fitas que está presa por um fio
A história da Francisco Soares da Silva não chega para lhe garantir um futuro. Fundada em 1840, a empresa que fabrica as fitas de seda para as medalhas e condecorações do Estado português, começou a definhar com a concorrência dos produtos chineses e agora luta por manter-se à tona. (...)

A fábrica de fitas que está presa por um fio
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DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A história da Francisco Soares da Silva não chega para lhe garantir um futuro. Fundada em 1840, a empresa que fabrica as fitas de seda para as medalhas e condecorações do Estado português, começou a definhar com a concorrência dos produtos chineses e agora luta por manter-se à tona.
TEXTO: Longe vão os tempos em que “choviam encomendas” e a Francisco Soares da Silva “tinha mais de 40 operários e sustentava três famílias”. Instalada desde 1840 à beira do Jardim das Amoreiras, na freguesia lisboeta de Santo António (antiga freguesia de S. Mamede), onde o metro quadrado vale hoje cerca de quatro mil euros, é a única fábrica de fitas, elásticos, cordões e galões de Lisboa, de onde saem, por exemplo, as fitas de seda para medalhas e condecorações atribuídas pelo Governo e pelo Presidente da República. É uma empresa mais do que centenária, que já viveu dias mais felizes. “Enquanto eu for vivo, a fábrica não fecha, mas levamos uma luta tremenda contra os chineses, que estão a fechar os nossos clientes todos”, queixa-se Carlos Manteigas, que tem 90 anos e desde há 30 lidera a empresa. Chegou à Francisco Soares da Silva porque era “amigo da filha do último administrador, ainda da família do fundador”, o próprio Francisco Soares da Silva. Veio para ajudar com as contas e os balancetes e acabou por ficar e converter-se no sócio maioritário, abrindo, entretanto, o capital a parceiros (como gravadores de medalhas), clientes (os armazéns de revenda e as retrosarias de norte a sul do país) e colaboradores. “A base da empresa eram as fitas, eu é que a levei para o caminho da importação”, conta ao PÚBLICO. Durante anos, a Francisco Soares da Silva forneceu retrosarias de Portugal inteiro com fechos, botões, velcros e os artigos mais variados (“Chegámos a ser o maior centro de compras do país”). O negócio ia de vento em popa e, a dada altura, a importação ultrapassou a produção na facturação da empresa. Mas há dez anos, tudo mudou: chegou a concorrência chinesa e, com ela, “metade do negócio foi ao ar”. Se antes a facturação anual rondava os 2, 5 milhões de euros, agora anda em torno do milhão de euros, diz Artur Ricardo, responsável de vendas da empresa, que gostava de ver um novo accionista, “com uma visão mais moderna e abrangente”, a assumir as rédeas da Francisco Soares da Silva. “Precisamos de uma lufada de ar fresco e sangue novo”, diz. Mas Carlos Manteigas, o patrão, garante que a empresa não anda à procura de um investidor: “Procurámos em tempos e vieram para cá pessoas que não tinham competência. ” Por isso, agora, o que o líder da administração ambiciona é “encontrar pessoas que queiram trabalhar”, que percebam de gestão industrial, que saibam o que a empresa produz e como “despachar” os produtos de importação armazenados num edifício do outro lado da rua. Pôs um anúncio no jornal e deposita esperança nos candidatos “que vêm no fim do mês” a entrevistas. “Isto tem potencial, mas comigo tem poucas possibilidades, dada a minha idade”, lamenta o gestor, que continua a chegar ao escritório todos os dias às oito da manhã. Uma “benessezita”Certo é que os desafios da Francisco Soares da Silva estão longe de se esgotar na necessidade de encontrar alguém que assegure a gestão no futuro. Nos últimos anos, fecharam várias retrosarias e as que continuam de porta aberta também encomendam cada vez menos. Carlos Manteigas reconhece que o problema se transformou numa espécie de pescadinha de rabo na boca. Os vendedores, que ganham à comissão, “começaram a sair”— com isso, a empresa também deixou de ter uma força de vendas capaz de chegar a potenciais clientes e gerar negócio. E, “se não houver vendas, não há nada”, nem ordenados, nem dinheiro para pagar as dívidas, que entre a banca e o Estado (fisco e Segurança Social) já somam 400 mil euros. “Se o Estado desse uma benessezita. . . mas não vai dar. Aos grandes perdoam dívidas, aos pequeninos esfolam-nos vivos”, queixa-se. Felizmente, “as máquinas estão todas amortizadas”. Se antes “não se faziam esforços e as encomendas apareciam”, agora a Francisco Soares da Silva tem de fazer o possível para retirar o máximo dos produtos em que é especialista. “As condecorações do Governo, como são um exclusivo nosso, têm uma boa margem de lucro. Mas isso não chega para aguentar a firma. ” Outra aposta são as fitas universitárias. A empresa já trabalha directamente com várias universidades em Portugal, mas Artur Ricardo, que diz que “cada aluno que se forma precisa de 20 metros de fita”, não esconde a ambição de elevar a fasquia e aponta a mira ao gigantesco mercado universitário norte-americano. Assim o novo accionista o quisesse. Enquanto não chega a tal lufada de ar fresco, a empresa (que tem cerca de uma dezena de funcionários) vai procurando agarrar-se a oportunidades de negócio, seja na produção, seja para escoar o material que tem em armazém (muito do qual, ironia do destino, importado da China, e com “qualidade muito superior” aos produtos que inundam o mercado). Agora tem a expectativa de fechar um grande contrato com a Inditex, a dona da Zara, para vender fechos éclair que estão em armazém e outro com a TAP, neste caso para fornecer os elásticos para as cabeceiras dos assentos dos aviões, conta o responsável de vendas. “Estamos sempre a visitar as feiras nacionais e internacionais para estar a par das cores e das tendências”, diz Artur Ricardo. Explica que este ano a moda deu uma mãozinha a um dos produtos que a empresa tem em catálogo: as faixas de gorgorão (as faixas laterais) que enfeitam as calças de senhora em várias colecções de vestuário. “A moda vai e vem e há sempre lugar para os nossos produtos; houve uma altura em que eram os vestidos de praia com as rendas nas bainhas e agora os galões bordados antigos também se estão a ver muito”, explica. No pulso dos festivaleirosO desaparecimento dos clientes tradicionais também obrigou a empresa a “diversificar muito à base das parcerias, como, por exemplo, com a indústria gráfica”. A Francisco Soares da Silva fabrica as fitas de tecido que adornam os pulsos de muitos festivaleiros por esse país fora (as gráficas ganham os contratos com os promotores dos festivais de Verão e encomendam as pulseiras onde depois imprimem os nomes dos eventos). Se a localização no centro de capital dá à Francisco Soares da Silva condições privilegiadas para distribuir os seus produtos por todo o país, também tem um senão, reconhece Artur Ricardo. Esse é o da distância face aos principais centros de formação, que dificultam a tarefa de encontrar pessoal especializado. “Os cursos técnicos estão todos da Covilhã para cima”, porque o coração da indústria têxtil continua a estar no Norte do país. “A rapaziada jovem não quer saber disto”, resume D. Olívia, enquanto se desdobra em cuidados com uma fita de embaixador, “que chega a levar mais de mil fios” de seda (importados do Japão, de Espanha, ou de Itália), colocados um a um nos vários teares da marca suíça Muller. A tecedeira, que chegou à fábrica em 1961, quando “tinha 14, 15 anos”, na companhia de duas irmãs que, entretanto, mudaram de vida, é a única que se orienta hoje no meio das várias máquinas, que estão na maioria paradas. Confessa que se lhe “aperta o coração” quando pensa que a fábrica pode fechar. Diz que ainda tem “mãos eléctricas”, do mais rápido que há “a torcer fio”, capazes de “fazer em três dias 600 metros de fitas” para medalhas. E reconhece que o seu maior desejo era ter a quem ensinar “o ofício mais lindo do mundo”. A Francisco Soares da Silva faz parte do lote restrito de Lojas com História (um projecto da Câmara Municipal de Lisboa) e tem o compromisso de preservar a estrutura do edifício (que já recuperou), e a maquinaria, como o gigantesco tear mecânico da Muller, com 140 anos. “Só existe o nosso e um outro que está na fabricante, na Suíça”, diz Artur Ricardo. O tear centenário disputa o protagonismo com a muito mais discreta “máquina de moiré, inventada em Portugal ainda no tempo do fundador”. Fabricada na metalúrgica Nery, de Torres Novas, é com ela (e com outra, de fabrico mais recente) que a Francisco Soares da Silva aplica a técnica francesa que imprime um efeito marmoreado às fitas e que a distingue de todos os outros fabricantes. Sem o efeito moiré “o Estado nem aceita”, diz Artur Ricardo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A empresa instalou-se na Praça das Amoreiras precisamente porque foi aqui que o Marquês de Pombal mandou construir o jardim onde se plantaram as 331 amoreiras destinadas a dinamizar a indústria da seda e alimentar a antiga Fábrica de Tecidos de Seda, que hoje acolhe a Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva (paredes meias com a Francisco Soares da Silva). Teve como vizinhas um conjunto de pequenas fábricas (de lenços, botões, pentes, louças e chapéus, entre outras) e é a única que resiste. “Somos a mais antiga e a única a sul do país e temos artigos que mais ninguém sabe fazer no mundo”, garante Carlos Manteigas. “A minha vida está feita, não tenho medo da morte, agora não queria que isto fechasse”, afirma o empresário, que, entre apelos “a que alguém ajude” a Francisco Soares da Silva, também diz ter “a impressão de que, quando chegar a hora da verdade, o Estado não vai deixar cair isto”.
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Palavras-chave morte filha social medo espécie desaparecimento
"Onde está Ai Weiwei?" Em Londres, Nova Iorque e numa prisão algures na China
Ai Weiwei não esteve ontem na inauguração da sua instalação junto à Somerset House, em Londres, tal como não estará hoje na abertura da exposição na Lisson Gallery, a mais importante sobre a sua obra realizada até hoje no Reino Unido. O mais famoso artista chinês da actualidade está preso na China - em parte incerta e sem direito a advogados ou a contactos com o exterior - desde o dia 3 de Abril. (...)

"Onde está Ai Weiwei?" Em Londres, Nova Iorque e numa prisão algures na China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ai Weiwei não esteve ontem na inauguração da sua instalação junto à Somerset House, em Londres, tal como não estará hoje na abertura da exposição na Lisson Gallery, a mais importante sobre a sua obra realizada até hoje no Reino Unido. O mais famoso artista chinês da actualidade está preso na China - em parte incerta e sem direito a advogados ou a contactos com o exterior - desde o dia 3 de Abril.
TEXTO: "É terrível montar a exposição na ausência de Ai Weiwei", desabafou, no The Guardian, Nicholas Logsdail, director da Lisson Gallery. Logsdail conta que a última conversa que teve com o artista foi em Janeiro, em Pequim. Weiwei, feroz crítico do regime chinês, que estivera em prisão domiciliária e fora entretanto libertado, estava preocupado com a eventualidade de não conseguir sair do país para as exposições que tinha agendadas nos Estados Unidos e na Europa. Os receios tornaram-se realidade, mas nem os colaboradores de Ai Weiwei na China nem as galerias ocidentais desistiram: na semana passada inaugurou em Nova Iorque a escultura pública Circle of Animals/Zodiac Heads (semelhante à que inaugurou ontem na Somerset House), e ontem e hoje acontecem as inaugurações em Londres. Mais: a Tate Modern exibe uma mensagem onde se lê "Libertem Ai Weiwei", a galeria Neugerriemschneider, em Berlim, inaugurou uma exposição do artista e colocou na fachada um pano com a pergunta "Onde está Ai Weiwei?", e em Paris, na segunda-feira, o artista britânico Anish Kapoor inaugurou no Grans Palais uma escultura monumental, intitulada Leviathan, e dedicou-a a Ai Weiwei, ao mesmo tempo que apelava aos museus e galerias de todo o mundo para fecharem um dia em protesto contra a detenção do artista chinês. Serão estes protestos eficazes? João Fernandes, director do Museu de Serralves, no Porto, e Pedro Lapa, director do Museu Berardo, em Lisboa, têm muitas dúvidas sobre a eficácia deste tipo de acções. "Não podemos deixar de nos sentir revoltados. Mas julgo que a China é mais sensível a argumentos mais pragmáticos", diz João Fernandes ao PÚBLICO. "Acho que todos os que têm qualquer relação económica com a China, que colaboram com o sistema oficial de arte e cultura, deviam sistematicamente confrontá-la com a questão do Ai Weiwei, que é escandalosa. " Como? Não indo à China, por exemplo. "Se fosse convidado, não iria a um país que tem um artista na prisão", afirma. João Fernandes deixa uma pergunta: "A China terá um pavilhão na Bienal de Veneza quando tem um artista preso? É espantoso que o mesmo mundo que atribuiu o Nobel da Paz a um dissidente [Liu Xiaobo] se mexa agora tão pouco. "Pedro Lapa assinou uma petição, subscrita por vários artistas e curadores, de apoio ao artista chinês, mas diz ter consciência de que "serve para muito pouco", sobretudo porque "estamos a lidar com uma ditadura tenebrosa, que conta com a escandalosa complacência do mundo ocidental". O que poderia, então, ser eficaz? "Talvez uma acção conjunta por parte, por exemplo, dos ministros da Cultura de toda a Europa. Seria preciso uma acção política, com boicotes muito efectivos. "Mas, para já, o que há é a mobilização da comunidade artística - ontem em Londres, artistas, directores de galerias e académicos juntaram-se na Somerset House para ouvirem ler textos de Ai sobre a liberdade de expressão. Na Lisson Gallery, os responsáveis colocaram uma fotografia gigante do artista e os visitantes podem ser fotografados com um sinal dizendo "libertem Ai Weiwei". E há, claro, o próprio trabalho de Ai - as doze cabeças de animais do zodíaco em bronze agora no exterior da Somerset House, réplicas de esculturas feitas no século XVIII pelo jesuíta Giuseppe Castiglione para os jardins de um imperador da dinastia Qing, e que foram pilhadas por tropas francesas e inglesas no século XIX, acabando por aparecer em leilões de colecções ocidentais, como a do estilista Yves Saint Laurent. E, na Lisson Gallery, um conjunto de vídeos e esculturas que, escreve o crítico de arte Adrian Searle no Guardian, são "belos e assombrados, assombrados sobretudo pela ausência de Ai" - duas cadeiras vazias, um caixão vazio, longos vídeos de ruas de Pequim, vazias, uma câmara de vigilância praticamente igual (só que em mármore branco) às que Ai tinha no exterior do seu estúdio e através das quais era vigiado pelas autoridades chinesas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura prisão comunidade chinês
O genoma do porco foi desmanchado ao fim de nove anos
Quando o javali surgiu há cerca de quatro milhões de anos, no Sudeste asiático, não iria adivinhar que iria ter uma ligação tão estreita com um hominídeo que nessa altura evoluía em África. Há dez mil anos, o homem começou a domesticar esta espécie que hoje faz parte da alimentação global. Agora, o porco doméstico e também o javali viram os seus genomas sequenciados ou, para usar uma expressão apropriada, desmanchados. O estudo está na revista Nature desta semana. Além das implicações para a história evolutiva deste mamífero e a pecuária, o trabalho é importante para a investigação de doenças que nos afligem. (...)

O genoma do porco foi desmanchado ao fim de nove anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando o javali surgiu há cerca de quatro milhões de anos, no Sudeste asiático, não iria adivinhar que iria ter uma ligação tão estreita com um hominídeo que nessa altura evoluía em África. Há dez mil anos, o homem começou a domesticar esta espécie que hoje faz parte da alimentação global. Agora, o porco doméstico e também o javali viram os seus genomas sequenciados ou, para usar uma expressão apropriada, desmanchados. O estudo está na revista Nature desta semana. Além das implicações para a história evolutiva deste mamífero e a pecuária, o trabalho é importante para a investigação de doenças que nos afligem.
TEXTO: Só faltava a sequenciação do genoma do porco para ficarmos a conhecer profundamente o ADN das três fontes de carne mais importantes para alimentação humana. O genoma da vaca e da galinha já eram conhecidos, e desde 2003 que o Consórcio de Sequenciação do Genoma do Porco trabalhava neste objectivo. "De todas as carnes utilizadas na alimentação, a do porco é a mais popular e, com o crescimento da população global, precisamos de melhorar a sustentabilidade da produção alimentar. O conhecimento melhorado da composição genética do porco deverá ajudar-nos na procriação de animais mais saudáveis e mais produtivos", disse um dos coordenadores do projecto, Alan Archibald, do Instituto Roslin da Universidade Edimburgo, e que é um dos 136 investigadores que assinam o artigo. O genoma do porco tem 21. 640 genes. Apesar de o número ser semelhante ao dos humanos, o genoma do porco, mesmo das raças mais comerciais, tem duas a três vezes mais variabilidade do que o nosso. Isto pode-se explicar pela grande diminuição do número de humanos que aconteceu há cerca de 120. 000 anos, antes de a nossa espécie ter saído de África, para se espalhar pela Terra. O principal trabalho de sequenciação centrou-se na T. J. Tabasco, uma fêmea de porco doméstico, da raça europeia duroc, que estava na Universidade do Illinois (EUA), uma das instituições envolvidas na investigação. Do ponto de vista genómico, os investigadores identificaram uma rápida evolução de genes ligados à defesa imunitária. Dos 158 genes relacionados com a actividade imunitária estudados pelo consórcio, 17% "demonstraram uma evolução acelerada". Um fenómeno também encontrado nos humanos e nas vacas. Um olfacto poderosoOutra característica descoberta, esta distintiva do porco, explica a sua capacidade de descobrir trufas, um cogumelo que vive escondido no solo. Os cientistas identificaram 1301 genes que comandam a produção de proteínas de receptores olfactivos, importantes na identificação de diferentes odores. Até agora, nunca se tinha sequenciado o genoma de um animal com tantos genes do olfacto. "Este número reflecte provavelmente a forte dependência do olfacto que os porcos têm quando procuram comida", escrevem os cientistas. A equipa não restringiu a análise a um único porco doméstico e, além disso, sequenciou ainda genomas de javalis, que são porcos selvagens. Ao comparar os dois tipos de genomas, conseguiu olhar para o passado da domesticação do porco. Existe uma diferença genética significativa entre o genoma do javali na Europa e o do javali na Ásia, que reflecte a separação das duas populações há um milhão de anos. Esta diferença está patente nos genomas dos porcos domésticos da Europa e da Ásia e reforça um fenómeno de que já se desconfiava: a domesticação dos porcos ocorreu mais do que uma vez na Europa e na Ásia. Além disso, os porcos domésticos foram-se cruzando com o seu antepassado selvagem ao longo dos milénios. "Ao contrário da vaca doméstica, cujos antepassados, os auroques, estão agora extintos, ainda resta muita diversidade genética à linhagem suína. Facilmente encontramos genes que ainda estão em javalis que poderão ser utilizados para fins reprodutivos", explica Lawrence Schook, da Universidade do Illinois. Mas o genoma do porco pode também ajudar no estudo de várias doenças humanas, já que a sua fisiologia é mais parecida com a nossa do que a dos ratinhos. "Observámos 112 posições [de aminoácidos, os tijolos das proteínas] onde as proteínas têm o mesmo aminoácido implicado em doenças humanas", lê-se no artigo. Os genes que comandam a produção destas proteínas estão relacionados com a obesidade, a diabetes, a dislexia, a doença de Parkinson ou a de Alzheimer. Estes genes identificados agora podem tornar o porco um modelo biomédico ainda mais importante.
REFERÊNCIAS:
Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português). (...)

Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português).
TEXTO: Há um mês que a carrinha de Susi Cruz está parada numa oficina nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia — e para quem anda na estrada há um ano, um mês com o mesmo cenário é “mesmo muito tempo”. Como é que uma jovem alemã que quer chegar à China por terra vai parar à garagem no meio do nada do Sr. Manuel, já reformado? Susi, 25 anos, tira a máscara, sacode o pó da roupa e estende a mão. “Uma lição: as coisas nunca acontecem como tu imaginas”, ri-se. Com Peño, um cão de porte pequeno e grande energia, partiu de Düsseldorf, na Alemanha, em Setembro de 2017. Já passou pela Bélgica, França, Espanha, Portugal e Marrocos. Desistiu da universidade quase no final do curso — “design de moda não era 100% o que eu gostava” — deixou o trabalho — “a vida é mesmo muito curta para não fazermos o que queremos, não é?” — e pegou no dinheiro que tinha juntado durante dois anos a servir às mesas e a gerir Airbnbs (continua a ser uma forma de rendimento durante a viagem). Os pais, a razão pela qual fala chinês e quer chegar à China, “eram completamente contra”. Mas Susi Cruz procurava, na vida real, a mesma “liberdade” das publicações marcadas pela hashtag #vanlife, que lhe apareciam no Instagram. Famílias inteiras que partilhavam as viagens por parques naturais ou estradas desertas, a bordo de uma carrinha que “tem o conforto de uma casa”. Casais que tentavam perceber se conseguiam viver de forma minimalista, num espaço confinado, onde têm de estar sempre na cara um do outro. Jovens que se recusavam a pagar uma renda e a voltar sempre ao mesmo sítio, no final do dia. “Eu vi aquelas histórias e só disse: tenho de fazer isto. Vou construir a minha carrinha. E vou viajar pelo mundo. ”Foi descobrindo o "como" pelo caminho. Spoiler: “Não foi assim tão difícil. ” “É incrível o quanto eu aprendi só porque estava realmente interessada em aprender”, partilha. Comprou a camper van Vw T3 com a caixa vazia e remodelou-a, sozinha, ao longo de quatro meses. Leu muito sobre mecânica, viu tutoriais no YouTube (agora faz os dela), aderiu a grupos no Facebook de pessoas que estavam a tentar fazer o mesmo. “A entreajuda é um valor muito importante neste estilo de vida”, aprendeu. No início da viagem, “ligava pouco às redes sociais". Um ano depois, passa duas horas por dia só a responder às mensagens que lhe chegam, de desconhecidos. “Apercebi-me que quando viajas sem parar torna-se um bocadinho aborrecido. ” Interrompe-se rapidamente: “É estranho dizer isto, porque toda a gente quer viajar. Mas eu estava habituada a um horário de trabalho muito pesado, a ter aulas ao mesmo tempo e comecei a sentir-me muito vazia. Houve alturas em que em vez de achar que estava a aproveitar a vida, achei que a estava a desperdiçar”, justifica. “É bonito veres esta cidade. É muito bom estares nesta praia, mas depois de 200 cidades, 400 praias, só dizes: ‘Boa, mais uma’. ”Como parar não estava nos planos, arranjou maneira de transformar “paixões numa ocupação”. Gostava de vídeo, fotografia e divertia-se com o “poder de inspirar” das redes sociais. “Fico muito contente por termos esta oportunidade, hoje em dia. ” Agora, concentra-se em fazer crescer a comunidade que, a partir de um ecrã, entra directamente na sua carrinha: 60 mil seguidores no Instagram e 120 mil subscritores no YouTube. A porta de entrada, defende, é “a honestidade”. “Não tens a noção profunda do que é a van life se só vês fotografias bonitas, em paisagens espectaculares e onde tudo parece um sonho. O feed faz com que te sigam, porque ninguém quer ver pessoas tristes o tempo todo. Mas quando vês os meus vídeos, percebes que uma carrinha antiga avaria muitas vezes, que a minha experiência em Marrocos não correu nada bem, que às vezes me sinto sozinha, que choro. Ou que não tenho uma casa de banho e que parte do meu tempo é passado a arranjar uma solução para isso”, brinca. “Quero encorajar as pessoas a serem honestas e a fazerem o que gostam e não o que acham que é suposto fazerem. Mas não lhes vou mentir. ”No canal de YouTube apresenta receitas fáceis para cozinhar na carrinha (foi uma das participantes na versão alemã do Masterchef); mostra o processo de conversão da camper van; explica como se consegue sustentar a viver a tempo inteiro na carrinha; fala da rotina diária; de como é ser mulher e viajar sozinha (“Meninas, de que estão à espera?”); das pessoas que conhece ao longo da viagem; de como, sem querer, começou uma relação à distância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E isso traz-nos de volta à oficina em Portugal. E à resposta à pergunta no início do texto: na primeira vez que veio ao Porto, Susi conheceu João, o rapaz português que começou a aparecer ao seu lado, em algumas fotografias. “Não era suposto isto acontecer”, ri-se. “E tenho adorado o tempo que passo aqui, com ele. Mas, para mim, acho que está na hora de continuar. ”A carrinha está a passar por uma segunda remodelação. O interior, cuidadosamente decorado, está um caos. Vai ser pintada, desta vez com tinta própria para carros, já que Susi Cruz a pintou de cor-de-rosa só com um pincel e tinta para paredes. É ela que vai para a garagem trabalhar todos os dias, e que fica lá, mesmo depois de a oficina fechar. Espera que para a semana já esteja pronta. “Ter um namorado não muda o meu sonho. Dá-me alguém com quem o partilhar”, sorri, a espreitar para ver se João está ou não a fazer um bom trabalho na carrinha onde ela vai seguir viagem, outra vez sozinha. Dali ao Reino Unido ainda são quase três mil quilómetros. Muita coisa pode acontecer pelo caminho.
REFERÊNCIAS:
Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou. (...)

Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.099
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou.
TEXTO: Com um nome demasiado grande até para padrões alemães, a nova líder da CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler Angela Merkel), Annegret Kramp-Karrenbauer, é mais conhecida como “AKK”. Não tem nada contra as iniciais; a ex-chefe de governo do estado federado do Sarre que a chanceler decidiu fazer sua sucessora — para já, na CDU; Merkel espera que o mesmo aconteça no governo quando ela sair de cena, em 2021 — só não quer que lhe continuem a chamar “mini-Merkel”. “Tenho 56 anos, criei, com o meu marido, três filhos, há 18 anos que tenho responsabilidades governativas. Não tenho nada de ‘mini’”, diz a dirigente, que nunca esconde o sotaque regional. Descrita como mais decidida e dinâmica do que Merkel, não hesitou quando esta a escolheu para o cargo de secretária-geral do partido, em Fevereiro, arriscando deixar o seu pequeno estado (o mais pequeno dos 16 estados federados alemães) a caminho de Berlim. Católica, nascida numa grande família e formada em Ciência Política, é mais emotiva do que Merkel, gosta de AC/DC, mascara-se no Carnaval e não foge a uma polémica, apesar de ser elogiada por colegas e rivais pelo seu espírito conciliatório. “Não tem um ego desmesurado, mas faz avançar os seus peões com tranquilidade. Como Merkel, que toda a gente subestimou”, lembra a politóloga francesa Isabelle Maras, sublinhando “as suas capacidades de análise, o seu sentido político e habilidade”. Militante na CDU desde os 18 anos, aos 38 foi a primeira mulher ministra do Interior na história dos estados federados. Entretanto, teve a pasta da Educação e a do Trabalho, antes de ser eleita ministra presidente, em 2011. Em 2012, governou em coligação com os Verdes e com o FDP (Partido Liberal-Democrata), mas decidiu convocar eleições antecipadas logo depois e ganhou. Nas eleições de 2017, as sondagens não lhe eram favoráveis, mas acabou por ganhar novamente. Entretanto, todos sabem quem é. Mas a política que não tem “nada de ‘mini’” sabe que herda um legado gigante e que tem mesmo de convencer muita gente do seu próprio valor e capacidades. Também sabe que agora é que vai começar a mostrar-se — aos alemães e aos europeus. Sofia LorenaAs mais recentes sondagens dão-lhe uma margem de conforto político, mas falta um ano e… tudo pode mudar. Não mudar nada — ou manter as peças do xadrez actuais mais ou menos com o mesmo alinhamento — será um dos grandes desafios de António Costa, a quem não compensa a existência de grandes agitações em 2019. Mas o mundo anda a correr rápido, e em Portugal os indicadores mostram um aumento da insatisfação em muitas classes profissionais, que pode deitar por terra o sonho não verbalizado de conseguir a segunda maioria absoluta para o PS na história. O ano de 2019 é uma espécie de prova dos nove para o primeiro-ministro e por isso é a personagem política a ter em atenção no ano que está prestes a começar. Os desafios eleitorais são três: eleições europeias em Maio, regionais da Madeira em Setembro e duas semanas depois, já em Outubro, as legislativas. Desde o congresso do partido em Maio que a estratégia de António Costa para o resto do mandato foi a de posicionar o partido como charneira. Puxou para si o discurso das contas certas, do crescimento económico, da redução do desemprego, do crescimento económico, mas sobretudo da credibilidade e da estabilidade. Tudo argumentos que usa para se distanciar da direita e dos seus parceiros de esquerda, com quem diz que quer continuar o caminho, não se percebendo ainda o que quer fazer ou com quem o quer fazer. Tem negado o bloco central, mas tem ao mesmo tempo quebrado as intenções do BE de vir a fazer parte de um Governo. Enquanto PCP e BE acenam com as suas vitórias nos orçamentos do Estado e apontam o que falta fazer, o PS responde a esse discurso com a bandeira do equilíbrio e fomentando o medo dos efeitos de uma nova crise. Valerão estes argumentos em 2019? António Costa tem visto sinais na sociedade de uma crescente insatisfação. As classes profissionais do Estado exigem melhores condições de trabalho e as greves, ameaças de greve e protestos marcados não param de aumentar. A gestão do tempo que falta para as eleições terá de ser feita com pinças nesse limbo entre encostar mais à esquerda ou mais à direita. Com os orçamentos aprovados, o trabalho será sobretudo político, onde Costa se move melhor. Ele e Marcelo Rebelo de Sousa, que tem dado sinais de não lhe agradar a aproximação dos socialistas a uma maioria absoluta. O ano de 2019 será intenso na política portuguesa e terá particularidades que ainda não foram testadas, com novos partidos a poderem ter um papel perturbador no estável espectro partidário logo nas europeias, que podem apontar caminho para as legislativas. Liliana ValenteNinguém poderia ter vez imaginado que He Jiankui seria um dos nomes a destacar na ciência em 2018. O cientista chinês anunciou em Novembro que tinha ajudado a fazer nascer os primeiros bebés geneticamente editados e, da noite para o dia, um perfeito desconhecido tornou-se mundialmente famoso. A ciência tem esse encanto irresistível da imprevisibilidade. De milhões de experiências que são levadas a cabo nos laboratórios de todo o mundo, nunca se sabe quais vão correr bem e quais serão notícia. A única coisa que podemos dar como certa é que em 2019 todos os caminhos da ciência vão (de uma maneira ou outra) dar a um único personagem: o ser humano. Dizem os cientistas que a edição genética com a ferramenta CRISPR/Cas9 — que permite um jogo de corta e cola no ADN — é algo relativamente fácil de fazer e não muito dispendioso, o que a torna especialmente atractiva. No entanto, as consequências (ainda) são imprevisíveis. Já foi experimentada em vários modelos animais e, em 2015, foi noticiada a primeira experiência com embriões humanos inviáveis que depois foram destruídos. Este ano terá acontecido o que todos sabiam ser inevitável. O cientista chinês He Jiankui preparou cuidadosamente o anúncio do nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados. Mais tarde, acrescentou que existe um terceiro bebé editado que ainda não nasceu. O que temos é pouco mais do que a palavra do cientista e muitas críticas e controvérsia à volta de uma experiência que a comunidade internacional condenou e considerou “irresponsável”. Os bebés, a existirem, terão sido sujeitos a modificações que lhes darão a vantagem de serem resistentes à infecção por VIH. Mas, entre outros riscos, existe o perigo de carregarem o chamado “efeito mosaico” (com algumas células editadas e outras não) e de terem sofrido mutações em genes que não eram o alvo (off-target). É fácil concluir que He Jiankui será um cientista a seguir atentamente em 2019, se voltar a trabalhar depois do escândalo e da vergonha internacional a que expôs a China. Mas mais do que os pormenores (que ainda desconhecemos) deste caso em particular, sobra a certeza de que estamos cada vez mais perto de uma realidade com o homem geneticamente editado. Há ensaios clínicos na Europa, EUA e China e a aposta das empresas é na tentativa de correcção de erros genéticos associados a doenças que não têm qualquer outro tipo de resposta. Além do potencial para a saúde humana, a tecnologia tem ainda outras aplicações muito vantajosas para a alimentação e agricultura, para manipular (melhorar) culturas. Andrea Cunha FreitasMais do que procurar diferenças, estar atento aos vínculos. Eis de forma sucinta o segredo da música de Pedro Simões, mais conhecido por Pedro Mafama. Em vez de apontar o dedo às dissociações musicais ou socioculturais entre músicas urbanas globalizadas ou idiomas localizados com história, trata-se de reflectir com naturalidade as convergências, criando-se a partir daí uma nova linguagem que vai sendo construída com generosidade. No final de 2017, despertou curiosidade com o lançamento do EP Má fama. Já este ano seguiu-se outro EP de quatro temas, intitulado Tanto sal, e há duas semanas ficou a conhecer-se a canção Arder contigo. Tudo sintomas fortes que o apontam como uma das promessas do próximo ano no campo da música que vai sendo feita em Portugal. É verdade que terá beneficiado do interesse global em torno da espanhola Rosalía ou localmente do acontecimento Conan Osíris, mas aquilo que tem vindo a propor possui solidez e não nasceu do acaso. Antes já havia uma conexão ao hip-hop com o nome Pedro Simmons e uma ligação à editora e estrutura Enchufada que viu nascer os Buraka Som Sistema. E acima de tudo, falando com ele, ou vendo-o em palco, percebe-se com facilidade que faz parte de uma geração que se foi pacificando com o passado da música portuguesa, personificado pelo fado, ao mesmo tempo que incorporou a narrativa de que Portugal, e em particular, Lisboa, é um lugar onde se sente uma presença musical vibrante das novas gerações afrodescendentes. E é assim que, na sua música, e na forma como canta, se pressentem traços de fado, de melodias orientalizadas, mas também de linguagens como o hip-hop, e derivações como o trap, ou de kuduro, kizomba, afro-house, tarraxo e demais nomenclaturas que remetem para músicas físicas e erotizantes, que por vezes apenas ouvidos experimentados conseguem destrinçar. Em simultâneo, na sua postura, tanto entrevemos o intérprete introspectivo, virado para dentro, como o performer arrebatado, que é capaz de fazer acontecer festa em colectivo. No fim de contas, é como se Pedro Mafama tivesse activado, através da sua música, uma bricolagem sociocultural que há pouco mais de dez anos era mais desejo do que realidade, fazendo-a sua, de uma maneira dinâmica, plural, festiva e rica. Vítor BelancianoTalvez por ironia, o sobrenome do juiz que tem o futuro do ex-primeiro-ministro José Sócrates nas mãos coincide com a cor que o Partido Socialista escolheu para o identificar. Ivo Rosa, juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), é o responsável pela instrução da Operação Marquês, que certamente marcará o próximo ano. Esta fase facultativa pretende avaliar se há indícios suficientes para levar os 28 acusados deste mediático processo a julgamento. E se o magistrado concluir que é mais provável os suspeitos serem absolvidos, encerra o caso. Apesar disso, Ivo Rosa nunca terá a palavra final sobre este processo. Se o enviar como está para julgamento, colocará nas mãos de outros colegas a tarefa de considerar ou não provadas as acusações do Ministério Público. Se arquivar o caso ou diminuir as acusações, a decisão será recorrível e a última palavra caberá ao Tribunal da Relação de Lisboa. Mesmo assim, os holofotes estão apontados a Ivo Rosa. O juiz, seleccionado por sorteio electrónico, agradou às defesas, nomeadamente à de Sócrates, que nem escondeu o entusiasmo. E não é de admirar. O madeirense de 52 anos é persona non grata de muitos procuradores, conhecido por não autorizar muitos dos pedidos dos titulares da acção penal, como aconteceu inúmeras vezes na investigação às rendas pagas pelo Estado à EDP. Também não é a primeira vez que o juiz diminuiu de forma significativa os crimes que o Ministério Público imputa aos arguidos ou arquiva simplesmente uma investigação complexa. Exemplo disso é o recente caso de um marroquino acusado de oito crimes ligados ao terrorismo por pertencer e recrutar para o Estado Islâmico em Portugal. As graves acusações foram resumidas por Ivo Rosa a falsificação de documento e contrafacção, o que lhe valeu uma reprimenda do Tribunal de Relação, que anulou a sua decisão. Apesar de ser conhecido pela rapidez, Ivo Rosa, que está em exclusividade com este megaprocesso, só marcou um máximo de quatro sessões por mês. O arranque da instrução está previsto para o final de Janeiro e já há diligências marcadas até Maio. Mas até lá a Operação Marquês ainda promete fazer correr muita tinta. Mariana OliveiraÉ uma medida que promete revolucionar a mobilidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto em 2019: um passe vai permitir circular entre concelhos destas áreas (18 em Lisboa, 17 no Porto), sem ser preciso pagar mais. Os créditos desta “medida revolucionária” têm sido atribuídos ao autarca de Lisboa, Fernando Medina, que é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) mas a criação de um passe de transportes único intermodal para a Grande Lisboa é um pedido de longa data da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa. E a AML começou a estudá-la um ano antes de Medina a ter anunciado. A criação deste passe único acabou por ser acordada em Março num encontro que juntou as duas áreas metropolitanas. Quando a medida foi anunciada por Medina, houve protestos de alguns autarcas que acusaram o Governo de, mais uma vez, investir nas grandes cidades esquecendo o resto do país. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, esclareceu então que a medida seria para aplicar em todo o território. Mas não se sabe ainda como se concretizará. A previsão é que os passes estejam disponíveis em Abril, o que não deve acontecer em todo o país, ao mesmo tempo. Em Lisboa, o passe para circular dentro do concelho custará 30 euros. Para viajar por toda a área metropolitana, custará 40 euros. As famílias pagarão no máximo o valor de dois passes, ou seja, 80 euros. As crianças até aos 12 anos não pagam. O Governo vai reservar 83 milhões de euros para a redução do preço dos passes em todo o país. No entanto, está ainda por saber como será feita a distribuição pelas áreas metropolitanas e pelas comunidades intermunicipais. Para Lisboa, esse valor deverá rondar os 50 milhões de euros. Mas já se sabe que este valor será insuficiente para compensar a redução nas tarifas, pelo que os municípios terão de alocar parte dos seus orçamentos para financiar a criação do passe único. Além do cepticismo dos autarcas, também os operadores privados de transporte olham para a medida com cautela. Na Grande Lisboa, o sistema de bilhética está a ser redefinido. Haverá um novo mapa da rede, tendo em conta os movimentos pendulares entre os concelhos, e integrando também as ligações a meios de transporte, como o comboio, metro ou barco. É expectável um aumento da procura, obrigando a um reforço da oferta. Os utilizadores vão reivindicar um melhor serviço, pontual e com mais frequência. Será o suficiente para tornar mais atractivos os transportes públicos? Cristiana Faria MoreiraÉ inevitável que a pessoa a seguir em 2019, na Economia, seja o responsável político que serve de barómetro às ambições eleitoralistas em Portugal, mas também às crises europeias que espreitam a cada mudança de governo nos Estados-membros da zona euro. O próximo ano promete ser inesquecível na vida de Mário Centeno. O mandato do actual ministro das Finanças chega ao fim no próximo ano. E a pré-campanha eleitoral que marcou a negociação do Orçamento do Estado para 2019 deverá estender-se desde o primeiro dia de Janeiro até ao dia das eleições, marcadas para 6 de Outubro. Todos os sinais que Centeno for emitindo da Praça do Comércio marcarão o ritmo no equilíbrio entre o cumprimento de metas definidas com Bruxelas e a satisfação de necessidades do Estado português ou dos direitos dos contribuintes. Esses sinais também marcarão o ritmo de protestos, greves, reclamações de funcionários públicos, pensionistas, empresas e particulares, que atingiram um pico no final de 2018, mas que se prevê que voltem a acelerar com a aproximação das eleições. Mário Centeno deverá ainda enfrentar tensões internas no Governo do PS, a que pertence como independente e que procura não só renovar o seu ciclo de poder, mas fazê-lo de forma solitária, com uma maioria absoluta. Para isso, serão intensas as movimentações no sentido de anunciar mais medidas eleitoralistas ou simplesmente de justiça social que chocam com os objectivos de equilíbrio de contas públicas traçado desde o primeiro dia por Centeno. Um processo que poderá culminar com a sua recondução na pasta das Finanças, um desejo já assumido internamente pelo primeiro-ministro mas que terá de ser validado não só pelos portugueses, mas sobretudo pelo próprio. Na Europa, onde o ministro português preside ao Eurogrupo, a tarefa não será mais simples. O final de 2019 poderá ser muito diferente do seu arranque, entre um “Brexit” de consequências imprevisíveis em termos económicos para toda a região e as fragmentações que se prevêem na sequência dos processos de política interna na Alemanha, França e Itália, sobretudo. Em paralelo, a reforma do euro continua sem ultrapassar os obstáculos de sempre (sem consensos sobre orçamento único e sistema europeu de garantia de depósitos) e, quando o ano chegar ao fim, Centeno estará já muito perto do fim do seu mandato (meados de 2020, se ficar como ministro das Finanças), enquanto espera pela reforma deste organismo, que criará uma presidência permanente, cargo que poderá ser seu, independentemente das funções que desempenhe em Portugal. Pedro Ferreira EstevesO talento nem sempre é óbvio para todos. E em 2015 ninguém no departamento de formação do FC Porto se esforçou muito para manter um rapaz de 16 anos chamado João Félix Sequeira, habilidoso, mas baixinho e fininho. Jogava pouco e o seu sonho de futebol não era esse. Por isso saiu e rumou a sul, em direcção ao Seixal. “É pegar num pau e dar na cabeça a quem o deixou sair”, disse há uns meses na SIC Notícias Rodolfo Reis, antigo capitão dos “dragões”. O que o FC Porto deixou passar, o Benfica aproveitou e, três anos depois, João Félix é tido como uma das grandes esperanças do futebol português, um talento que fomos vendo a espaços nos últimos meses de 2018 e que iremos ver com maior frequência em 2019. Se há mérito em Rui Vitória nestes anos ao comando do Benfica é o de olhar com muita atenção para o que sai do Seixal. Sejam soluções de emergência que se tornam definitivas, ou promoções planeadas, a verdade é que o Benfica tem colhido os frutos desportivos e financeiros da sua formação e João Félix pode ser mais um desses casos, a juntar-se a nomes como Renato Sanches ou Bernardo Silva. E em boa hora Luís Filipe Vieira lhe renovou contrato até 2022 e lhe meteu uma cláusula de rescisão de 120 milhões de euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por enquanto, João Félix tem tido uma utilização intermitente, sobretudo no lado esquerdo do ataque, com 453 minutos em 13 jogos, cinco deles como titular. Depois de ser um fenómeno de culto para quem acompanhava a formação do Benfica, João Félix apresentou-se verdadeiramente marcando o golo que daria o empate ao Benfica no seu primeiro derby frente ao Sporting, na Luz. Para além de ter marcado no primeiro confronto lisboeta da época, João Félix também marcou no primeiro jogo em que foi titular no campeonato (ao Aves) e tornou-se no mais jovem marcador do Benfica na Taça da Liga (ao Paços de Ferreira). João Félix já não é o miúdo fininho que saiu da formação do FC Porto. Cresceu e ganhou um corpo mais preparado para servir uma técnica superlativa, que se percebe a cada finta, a cada passe e a cada remate. E é alguém que gosta de arriscar, de ser imprevisível, fazer no campo coisas que ninguém espera. Essa também é uma marca dos sobredotados. Marco Vaza
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP BE
Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014. (...)

Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151229184025/https://www.publico.pt/1698598
SUMÁRIO: É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014.
TEXTO: Os Estados Unidos já são os maiores produtores mundiais de petróleo. A conclusão é da BP no seu relatório anual Statistical Review of World Energy, publicado na quarta-feira. A produção norte-americana atingiu os 11, 644 milhões de barris, com um aumento de 1, 6 milhões de barris de petróleo por dia e superou a da Arábia Saudita e da Rússia, devolvendo ao país, pela primeira vez desde 1975, o título de maior produtor mundial. É a primeira que algum país consegue aumentar a produção em mais de um milhão de barris diários por três anos consecutivos, refere a análise da BP. “Se, para a China, 2014 foi o ano do cavalo, para os Estados Unidos foi o ano da águia americana [símbolo nacional do país], já que a produção de petróleo foi de crescimento em crescimento”, afirma o economista chefe da petrolífera, Spencer Dale, numa apresentação disponibilizada no site da BP. Foi graças essencialmente ao aumento da produção norte-americana que a oferta mundial de petróleo cresceu para níveis recorde em 2014: 2, 1 milhões de barris por dia. Uma vez que a produção de gás natural também subiu, os norte-americanos conseguiram igualmente bater os russos na produção combinada de hidrocarbonetos, algo que, segundo apontam os dados revistos do relatório de 2014, poderá ter acontecido já em 2013. “As implicações da revolução do xisto nos Estados Unidos são profundas”, refere Dale, ex-economista chefe do Banco de Inglaterra. Não só se está a assistir a um “render da guarda” dos maiores fornecedores globais de energia, como os Estados Unidos deixaram de ser os maiores importadores mundiais de petróleo, cedendo essa posição à China (apesar da desaceleração da procura registada no mercado chinês). Assim, além das importações norte-americanas de petróleo caírem para menos de metade dos níveis recorde de 2005, houve um ressurgimento da indústria transformadora no país graças aos menores custos energéticos: os Estados Unidos produziram cerca de 90% da energia que consumiram no ano passado. Segundo a BP, o volume de investimentos no sector chegou a 120 mil milhões de dólares em 2014 (aproximadamente 106 mil milhões de euros, mais do dobro em cinco anos). Isto apesar de os preços internacionais do crude terem descido cerca de 40% no ano passado, uma evolução provocada em larga medida pela decisão da organização dos países produtores e exportadores de petróleo, OPEP, de manter os níveis de produção, mesmo num cenário de excesso de oferta. Mas, apesar de considerar que a descida da cotação poderá levar a que alguns produtores encerrem a actividade em campos menos rentáveis, o presidente executivo da BP, Bob Dudley, entende que a maioria dos projectos é viável aos preços actuais e que “a revolução do xisto ainda não perdeu o gás” nos Estados Unidos. O número de plataformas activas nos campos de xisto norte-americanos caiu para metade dos valores máximos de Outubro e deverá estabilizar no final do Verão, disse Bob Dudley, citado pela Bloomberg, numa apresentação em Londres. Ainda assim, apesar de se prever que a produção de petróleo continue a aumentar (além dos Estados Unidos, a BP destaca os crescimentos registados em países como o Canadá e o Brasil), ficam as dúvidas sobre como irá evoluir o consumo de energia em 2015. O relatório da BP refere que 2014 ficou marcado por “um crescimento surpreendentemente fraco da procura”, apesar de a economia mundial ter crescido 3, 3%. O crescimento do consumo cifrou-se em 0, 9%, naquele que (retirando a crise financeira) foi o menor crescimento registado desde o final dos anos de 1990, um factor a que não é alheio a desaceleração chinesa (um aumento de 2, 6%), nem tão pouco o mau desempenho europeu (a procura caiu 3, 9%). Em 2013, a procura global tinha aumentado 2%, com o crescimento médio dos últimos dez anos a situar-se nos 2, 1%.
REFERÊNCIAS: