Parlamento holandês proíbe o sacrifício ritual de animais por motivos religiosos
O bem-estar animal venceu à liberdade de culto. O Parlamento holandês votou maioritariamente a favor da proibição do sacrifício ritual dos animais para consumo humano. (...)

Parlamento holandês proíbe o sacrifício ritual de animais por motivos religiosos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bem-estar animal venceu à liberdade de culto. O Parlamento holandês votou maioritariamente a favor da proibição do sacrifício ritual dos animais para consumo humano.
TEXTO: Esta decisão precisa agora de ser aprovada pela câmara alta do Parlamento para que se transforme em lei. Aprovada por 116 votos a favor e 30 contra, o projecto-lei foi precedido de longas discussões entre os movimentos confessionais da sociedade holandesa, que conseguiram fazer introduzir uma emenda destinada a preservar a liberdade religiosa: os muçulmanos e judeus podem recuperar este costume apenas se provarem cientificamente que o animal sofre menos com a morte ritual do que com a morte num matadouro tradicional. Não ficou claro como é que se poderá fazer essa prova científica. A diferença entre os dois métodos é que nos matadouros tradicionais o gado é aturdido antes de ser morto, ao passo que segundo os rituais muçulmano e judeu, os animais são degolados e dessangrados sem qualquer anestesia por um matador que faz o sacrifício em nome do seu Deus. O produto final deste sacrifício é a carne halal para os muçulmanos e a carne kosher para os judeus. "Esta forma de matar causa dor desnecessária aos animais. A liberdade religiosa não pode ser ilimitada", tinha dito aos jornalistas antes da votação Marianne Thieme, líder do Partido pelos Animais, o único na Europa que conta com representação parlamentar (dois deputados) e o responsável por esta proposta. "Para nós, a liberdade religiosa termina onde começa o sofrimento dos seres humanos ou dos animais". A comunidade muçulmana soma cerca de um milhão de pessoas na Holanda (um país com 16 milhões de habitantes), ao passo que a comunidade judia conta com apenas 40 mil fiéis. Actualmente, a União Europeia obriga os animais a serem aturdidos antes de serem mortos, mas permite excepções para os sacrifícios rituais, que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já considerou um direito religioso. Activistas dos direitos dos animais argumentam, porém, que é uma prática desumana. Actualmente, em países como a Alemanha e o Reino Unido, onde a comunidade muçulmana tem um forte presença, boa parte dos sacrifícios halal já são feitos em animais previamente aturdidos. Paralelamente, no Luxemburgo, Noruega, Suécia e Suíça o sacrifício ritual dos animais está proibido. Notícia corrigida às 11h45
REFERÊNCIAS:
Étnia Judeu
Portugueses começaram a pescar bacalhau na Terra Nova depois de um engano
Se há quem tenha na sua história o bacalhau são os portugueses. Este peixe chegou a Portugal através de outros povos, mas a verdade é que também o pescámos num dos sítios mais cobiçados: a Terra Nova. Como é que tudo surgiu? (...)

Portugueses começaram a pescar bacalhau na Terra Nova depois de um engano
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se há quem tenha na sua história o bacalhau são os portugueses. Este peixe chegou a Portugal através de outros povos, mas a verdade é que também o pescámos num dos sítios mais cobiçados: a Terra Nova. Como é que tudo surgiu?
TEXTO: No final do século XV, na tentativa de encontrar o caminho marítimo para a Índia por oeste, os portugueses acabaram por se deparar com a Terra Nova, que hoje pertence à província Terra Nova e Labrador, no Canadá. Este seria o ponto de partida para a pesca do bacalhau dos portugueses no Atlântico Norte. Nada que até aqui não se soubesse ou que não constasse em livros de história. Mas na conferência Rainhas, Pescas e Cruzadas, que decorreu recentemente no Museu de Marinha, em Lisboa, o tema voltou a ter voz. O investigador Bjørn Poulsen, da Universidade de Aarhus (na Dinamarca), fez uma apresentação sobre a pesca medieval de peixe seco no Atlântico Norte e falou no começo da pesca do bacalhau em Portugal. Antes de seguirmos nas embarcações portuguesas no final do século XV em direcção à Terra Nova, é conveniente conhecer a pesca de bacalhau no Atlântico Norte na Idade Média. Afinal, foi este o período que antecedeu a descoberta da Terra Nova dos Bacalhaus, como consta em vários mapas e relatos. Bjørn Poulsen descreveu na conferência – no âmbito da exposição Vikings – Guerreiros do Mar no Museu de Marinha, que ainda pode ser visitada – duas “revoluções” da pesca na Idade Média. “A primeira apareceu por volta do ano 1000, e a segunda por volta de 1400 e em adiante”, referiu Bjørn Poulsen. O historiador dinamarquês avisou logo que iria falar sobre peixe seco, que inclui o arenque e o bacalhau secos. Ou seja, o bacalhau que é apenas seco e não salgado seco (como estamos mais habituados), explica-nos por sua vez Álvaro Garrido, historiador na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (que não participou na conferência). Acrescenta ainda que nos séculos XVI e XVII se consumia muito bacalhau seco. “Era um bacalhau pobre e muito ressequido, tal como se ressequia o carapau na Nazaré. ”Naveguemos então pelas águas do Atlântico Norte. Por volta do ano 1000, o peixe seco chegava aos centros urbanos da Europa do Norte e vinha de águas muito longínquas. “A revolução da pesca que teve lugar no século XI, por volta de 1050, foi o tempo em que a pesca offshore se tinha tornado um projecto a longa distância”, contou Bjørn Poulsen. Para esta revolução, Poulsen apontou o trabalho do zoo-arqueólogo James Barrett (da Universidade de Cambridge, no Reino Unido) e de outros zoo-arqueólogos, que além da urbanização mencionam o Pequeno Óptimo Climático como causa dessas viagens mais distantes. Esse período de tempo mais quente teria originado o decréscimo da produtividade de peixe no Mar Báltico e no Mar do Norte. Assim, o comércio de bacalhau seco em larga escala começou no século XI. E Bjørn Poulsen referiu que foram descobertos bacalhaus do oceano Árctico ou Atlântico do século XI na localidade viking de Hedeby (na actual Alemanha). Também do século XII se encontraram bacalhaus do Atlântico na cidade de Eslésvico (também agora na Alemanha). “O bacalhau constitui um exemplo muito ilustrativo de um comércio de longa distância e largamente documentado que emergiu na Idade Viking”, disse. O comércio de longa distância começou na Noruega, na costa Sul do arquipélago de Lofoten (no círculo Polar Árctico), e foi-se depois estendendo para sul. E como era a pesca? Usavam-se linhas e anzóis. Já o ar frio e seco permitia que o peixe secasse ao vento sem o uso de sal. “O processo simples tornava possível aos agricultores do litoral e pescadores irem pescar e obter lucro ao venderem peixe aos mercadores. Os homens de família concentravam-se na pesca, enquanto as mulheres cuidavam dos animais e das culturas”, descreveu. O bacalhau era ainda transportado para um “sítio estratégico” na Noruega, a localidade de Bergen, que estava situada entre as zonas de pesca do Norte e os mercados europeus. Foi em Bergen que, em meados do século XIII, os mercadores ganharam o controlo da exportação de bacalhau. No século XIV já dominavam o mercado do Noroeste da Europa, na área do rio Reno e nas terras do Báltico. O bacalhau seco era exportado para a maior parte da Europa. Nos séculos XIII e XIV chegou às maiores cidades do Báltico, de Inglaterra e Flandres (região Norte da actual Bélgica). “Londres era uma cidade em pleno crescimento e uma grande consumidora de bacalhau”, referiu o investigador. Chegou também aos mercados do Mediterrâneo. Consta num livro de cozinha do final do século XIV. E fez parte de duas listas do inventário do rei Valdemar II da Dinamarca, por volta de 1230. Numa dessas listas constavam 800 bacalhaus e 16 barris de arenque. A outra lista continha oito toneladas de arenque e 360 bacalhaus. “Não há razão para duvidar de que estávamos a falar de bacalhau do Atlântico”, salientou Bjørn Poulsen. O bacalhau estava assim na mesa do rei da Dinamarca e, no século XIII, uma infanta portuguesa foi uma das suas consumidoras. Chamava-se Berengária de Portugal e era filha de D. Sancho I. Em 1214 casou-se com Valdemar II. Este veio a ser “o primeiro vínculo dinástico formal entre a Dinamarca e Portugal”, como refere um placard do Museu de Marinha. “Fontes dinamarquesas por volta de 1200 descrevem-nos que era frequente o rei e a sua corte serem abastecidos com bacalhau em todos os sítios da Dinamarca por onde passassem. A rainha Berengária deve ter viajado com o rei, de certeza”, conta ao PÚBLICO o investigador dinamarquês. A partir do século XV, iniciou-se a segunda “revolução” da pesca, que, como disse Bjørn Poulsen, envolveu “realmente longas distâncias e muito mais investimento da parte dos pescadores”. Por volta de 1450, os pescadores noruegueses foram para norte de Troms e da Finamarca (ambos condados da Noruega), para a Islândia, ou para as ilhas do Norte da Escócia. Depois de 1370, os maiores navios alemães também já tinham ido para as águas islandesas. Em 1412, os mercadores ingleses apareceram também nas mesmas águas. Os seus portos para navegar para a Islândia estavam na costa Nordeste de Inglaterra, no Mar do Norte. E em 1492 foi de um destes portos, mais exactamente do de Bristol, que o navegador veneziano Giovanni Caboto, conhecido como John Cabot em inglês, partiu em 1497 com o seu navio Matthew e veio a deparar-se com a Terra Nova (embora os Vikings já tivesse passado por lá). Ou de forma mais aportuguesada: a Terra Nova dos Bacalhaus. Foi também nos finais do século XV que os navegadores portugueses se depararam com esta terra longínqua. “Vários navegadores, todos eles portugueses, navegaram para o Atlântico Noroeste, tentando achar a contracosta da Índia e depararam-se com a Terra Nova dos Bacalhaus”, conta-nos Álvaro Garrido. O sítio vem já mencionado no planisfério de Cantino, de 1502, uma carta náutica que representa os Descobrimentos portugueses. O historiador dá como exemplos de navegadores os irmãos Corte-Real, João Álvaro Fagundes e João Fernandes Lavrador. Foi com este engano à procura do caminho marítimo para a Índia que a pesca do bacalhau começou para os portugueses. Contudo, sabe-se muito pouco sobre este episódio: “Não há rasto documental e o que se sabe é indirecto, de registos cartográficos nos mapas e de ilações que se deduzem de rastos documentais mínimos. ” Afinal, como diz Álvaro Garrido, esta é uma “saga menor na memória histórica do império português. ”Como as distâncias eram grandes (nalguns casos cerca de 2000 milhas de distância), o bacalhau salgado seco começava por ser conservado a bordo. “Era conservado com sal nos porões dos navios. Esse era o método tradicional da salga, que era já usado no arenque pelos povos do Atlântico Norte. Depois era desidratado ao vento e ao sol: com pouco sol e muito vento”, explica Álvaro Garrido. Até há bem pouco tempo este ainda era o método, agora a secagem já é feita com máquinas. E como eram as embarcações que iam até à Terra Nova? “Não há relatos em concreto”, responde-nos. Apenas podemos ter uma ideia do modo como se pescava com gravuras da Grã-Bretanha feitas no século XVI. “Há alguns relatos de capelões que iam a bordo. Seriam o equivalente a caravelas e a baleeiras. E tanto pescavam bacalhau como baleias”, conta. “Eram navios polivalentes de pesca e carga oceânica, que foram perseguidos por corsários de várias paragens, nomeadamente do Norte de África, deitando ao fundo muitos navios de carga com bacalhau. ”Mas em Portugal, o consumo de bacalhau começou muito antes de nós próprios o pescarmos. O bacalhau teria sido introduzido no país trazido pelos povos do Norte na Idade Média. E também existiam tratados de comércio entre Inglaterra e Portugal no século XIV em que Portugal trocava sal por bacalhau. Aliás, a descoberta do bacalhau como recurso alimentar aconteceu no Norte da Europa, até porque este peixe vive nas águas do Atlântico Noroeste, como salienta Álvaro Garrido. “Mas a prática de um consumo generalizado e a prática de um negócio internacional, que é precocemente global, tem como protagonistas os portugueses. ”Os povos do Norte tinham redes de comércio de bacalhau seco e salgado seco, mas eram fluxos pouco relevantes e menos sistemáticos do que a rede de negócios estabelecida em campanhas de pesca de bacalhau no século XVI por armadores portugueses, bascos e da Grã-Bretanha, explica Álvaro Garrido. “Esta pesca é transoceânica e reúne grandes volumes de capital. O comércio de importação também aumenta porque, entretanto, a pescaria alarga os mercados. ” E ainda acrescenta: “Portugal, historicamente, é o maior mercado mundial de bacalhau salgado seco e continua a ser. É um fenómeno de aculturação de um recurso que não habita nas nossas águas. ”E quem consumia bacalhau no final do século XV e início do XVI? “O bacalhau era objecto de um consumo relativamente transversal, embora mais da fidalguia e dos clérigos”, diz o historiador. Por exemplo, podemos encontrar uma referência na peça de Gil Vicente, As Cortes de Júpiter, de 1521. A peça foi apresentada ao rei D. Manuel, a propósito da partida da infanta D. Beatriz, que se iria casar com o duque de Sabóia. Há também referência ao bacalhau seco nas listas de compras dos hospitais e das misericórdias portugueses. Além disso, o bacalhau era um recurso alimentar na Quaresma e quando a Igreja indicava que não se podia comer carne. A facilidade da sua conservação possibilitava também que fosse para terras do interior. “Não há prova inequívoca de que o bacalhau fosse um alimento dos pobres, mas há prova de que era um alimento popular e urbano de largo consumo”, explica ainda o historiador. E porquê todo o interesse na Terra Nova? “É sabido que ‘as grandes pescarias do globo se situam no encontro de águas frias e tépidas ou nas áreas de afluxo de águas frescas profundas’ – ‘zonas de convergência’, como lhes chamam os geógrafos”, lê-se no livro O Estado Novo e a Campanha do Bacalhau, de Álvaro Garrido de 2004. Ora, as condições bio-oceanográficas, como as correntes frias polares, sobretudo no Labrador, com as águas quentes da corrente do Golfo a sul, são favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos que fazem que os bacalhaus se agrupem em zonas relativamente próximas da costa – os grandes bancos, nomeadamente no maior de todos eles, o Grande Banco da Terra Nova. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Os bancos, imensas plataformas submarinas a pequena profundidade, onde o bacalhau se concentra aproveitando o plâncton, as pescadas e a lula, já eram representados nas cartas como prolongamento dos pesqueiros europeus antes da descoberta da Terra Nova”, lê-se no livro de Álvaro Garrido. Era para aqui que os europeus iam pescar. No livro, Álvaro Garrido avisa que os números são “bastante imprecisos ou até fantasiosos”, mas supõe-se que em 1578 os bancos tenham sido visitados por 700 veleiros portugueses. “Portugal terá sido o primeiro país europeu a enviar expedições. ”E é também um dos países onde o bacalhau veio mesmo para ficar, nem que seja à mesa. Basta olhar para o lado esquerdo do quadro Mês de Março de Josefa d’Óbidos e/ou Baltazar Gomes Figueira, de 1668. Como se lê no livro de Álvaro Garrido: “Será o primeiro testemunho pictórico de um bacalhau escalado e aberto, com cura de sal e de sol. ”
REFERÊNCIAS:
Alan Friedlander: “As áreas marinhas protegidas beneficiam as pescas”
É o cientista-chefe dos Mares Prístinos da National Geographic, programa que avalia e ajuda a proteger os últimos lugares ainda intocados dos oceanos. (...)

Alan Friedlander: “As áreas marinhas protegidas beneficiam as pescas”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: É o cientista-chefe dos Mares Prístinos da National Geographic, programa que avalia e ajuda a proteger os últimos lugares ainda intocados dos oceanos.
TEXTO: Para o norte-americano Alan Friedlander, esta aventura começou com um convite do espanhol Enric Sala, director dos Mares Prístinos e agora explorador-residente da National Geographic Society. Estava a convidá-lo para uma expedição no Pacífico ainda antes do início deste programa, que seria lançado em 2008. Desde então houve 25 expedições dos Mares Prístinos – número alcançado numa expedição aos Açores em Junho, em parceria pela (portuguesa) Fundação Oceano Azul. As atenções recaíram nas ilhas das Flores, do Corvo e Pico e em montes submarinos como o Princesa Alice e o Gigante, onde veio a descobrir-se, neste último caso, um campo hidrotermal durante esta campanha. É já a segunda vinda dos Mares Prístinos a Portugal; a estreia foi em Setembro de 2015 às ilhas Selvagens, na Madeira. Os interesses científicos de Alan Friedlander incidem na conservação marinha e nas áreas marinhas protegidas, na ecologia dos recifes de corais e nas pescas e a sua gestão. Começou aliás a sua carreira a trabalhar na sustentabilidade da pesca em pequena escala no Reino de Tonga, em 1981. Até há cinco anos, este ecólogo marinho de 59 anos era professor na Universidade do Havai. Agora dedica-se a tempo inteiro aos Mares Prístinos. Esta conversa foi a bordo do Santa Maria Manuela (da Fundação Oceano Azul), um dos navios na expedição aos Açores que juntou 23 cientistas – vários portugueses, incluindo dos Açores – e uma equipa mediática para fazer um documentário com o selo da National Geographic. Alan Friedlander explica por que é que as áreas marinhas protegidas são benéficas para as pescas, diz-nos que os Açores são um lugar icónico e que tinham encontrado “as Selvagens incrivelmente em bom estado”. “Tentamos salvar os últimos locais selvagens dos oceanos. ” Ao largo da ilha do Pico, a entrevista, já quase no fim da expedição, teve como banda sonora os risos e as conversas de quem estava no salão de refeições do navio, mais o tilintar de talheres e pratos. O que se pretende com um programa como o dos Mares Prístinos da National Geographic?Estou ligado aos Mares Prístinos ainda antes do seu início. Nessa altura, Enric Sala, o director executivo dos Mares Prístinos, era professor no Instituto Scripps da Universidade da Califórnia em San Diego. Estava interessado em fazer uma expedição às Ilhas da Linha, no Pacífico, que fazem parte de Kiribati, e perguntou-me se eu podia ajudar. No final dos anos 90, início de 2000, eu já tinha feito trabalho no Havai em que comparava as ilhas havaianas habitadas com as ilhas havaianas do Sotavento, onde não há pessoas. Esse artigo científico foi bastante influente e mostrou quão dramáticos são os efeitos quando há pessoas versus quanto não há pessoas. Ninguém tinha olhado para isto antes. Descobrimos que os locais onde não há pessoas têm quase mais predadores do que presas. Tubarões, lírios, enxaréus, meros e outros grandes predadores são a biomassa dominante em ecossistemas onde não se pesca nem há pessoas. Foi um artigo científico seminal, publicado em 2002 na revista Marine Ecology Progress Series por mim e [Edward] DeMartini. A expedição às Ilhas da Linha foi de cinco semanas. Fomos a cinco ilhas de Kiribati e a ilhas dos Estados Unidos – ao atol Palmira e ao Recife Kingman. Encontrámos a mesma tendência: onde havia pessoas, a biomassa e a produtividade de peixes eram muito baixas. Onde não havia pessoas – no Recife Kingman e no atol Palmira –, havia tubarões e outros grandes predadores. Isto confirmava o que tínhamos encontrado no Havai. Pouco tempo depois disso, Enric saiu do Instituto Scripps e tornou-se explorador da National Geographic e, em 2008, começou os Mares Prístinos. E eu ajudei-o com a ciência das expedições. Já fizemos 25, desde o Árctico russo até cabo Horn e todos os oceanos – Atlântico, Pacífico, Índico, Antárctico. Estive em todas as expedições, excepto uma, a que foi às ilhas Tristão da Cunha, no Atlântico Sul, porque estava no cabo Horn. Foi a primeira vez que fizemos duas expedições ao mesmo tempo. E a tendência é a mesma que tinha sido observada no Havai?Sim, a tendência é exactamente a mesma. Os locais onde não há pessoas são dominados por grandes predadores – sejam tubarões, lírios e enxaréus nos trópicos ou ursos polares no Árctico. Uma característica dos ecossistemas prístinos é terem uma grande biomassa de grandes predadores. A outra é a presença de “espécies arquitectónicas” – espécies que criam estrutura –, quer seja uma floresta de kelp no Atlântico Sul ao largo da América do Sul, um recife de coral ou até uma comunidade diversa de macroalgas nas ilhas Selvagens, onde trabalhámos [em 2015]. Todas criam uma estrutura tridimensional, que é importante para a biodiversidade. Embora o Atlântico tenha sido explorado em excesso ao longo dos tempos, encontrámos as Selvagens incrivelmente em bom estado. Publicámos um artigo científico no ano passado na revista PLOS One, com Emanuel [Gonçalves, biólogo do ISPA-Instituto Universitário e membro do conselho de administração da Fundação Oceano Azul], comparando as Selvagens com a ilha da Madeira e os resultados são dramáticos. Os meros eram muito abundantes nas Selvagens e o único local onde os encontrámos na Madeira foi numa área protegida, onde são grandes e valiosos para o turismo, porque as pessoas querem vê-los. Mas era só nesse único sítio. O contraste foi muito claro nas Selvagens, onde vimos grandes lírios, enxaréus, meros… Foi impressionante. Ainda podemos dizer que as Selvagens são prístinas?Já não há locais prístinos. A palavra “prístino” é incorrecta. Mesmo em locais remotos do Pacífico Sul, onde não há pessoas, vemos por vezes tubarões com anzóis na boca ou sabemos que houve um passado de pesca. A pegada humana das pescas está por todo o lado. Mas estes locais são relativamente prístinos ou os impactos são relativos. Não devemos iludir-nos de que nenhum local está inalterado pelos humanos, mesmo o mar profundo. No passado, já se pescou nas Selvagens, mas estão incrivelmente em bom estado, especialmente para o Atlântico, e incrivelmente em bom estado em comparação com a Madeira. Acha que o bom estado das Selvagens é por estarem protegidas numa reserva natural?Sim, e há guardas da natureza lá. Na Selvagem Grande há pessoas o tempo todo, na Selvagem Pequena é sazonal. O facto de as aves marinhas terem ajudado a proteger aquele local [as cagarras estiveram na origem da criação da reserva natural, em 1971] é uma grande história. Foi uma surpresa. Ao fim de 25 expedições programa Mares Prístinos, que balanço faz?O projecto tem sido fantástico porque potencia muitos recursos diferentes – é sobre ciência e exploração, mas os produtos de media que a National Geographic produz também são incríveis. As imagens são espectaculares. Além disso, temos pessoas para trabalhar as questões políticas. A National Geographic abre muitas portas. Não é como muitas outras ONG centradas numa questão. Somos vistos como neutros, não temos agendas específicas. Tentamos salvar os últimos locais selvagens dos oceanos – através da ciência, media e política, os três pilares. Com os produtos mediáticos conquistamos o coração e, depois, a mente. Esta combinação entre ciência, media e política tem sido tão eficaz porque reconhecemos que nenhuma é mais importante do que a outra. Fazemos com que as pessoas fiquem inspiradas e depois segue-se a cabeça. Os políticos tomam decisões baseadas na inspiração, mas gostam de ter a fundamentá-las boa ciência. A ciência ajuda a confirmar e a apoiar o processo de decisão. Ajudamos a apoiar políticas, mas não temos um papel directo nas políticas. Não fazemos nós próprios as políticas. Tentamos publicar artigos científicos na maioria das nossas expedições e fazemo-lo na PLOS One, porque é de acesso livre. Queremos fazer uma edição digital juntando-os todos. Embora não façam as políticas sobre os oceanos, têm uma visão política. O vosso objectivo político é a criação de mais áreas marinhas protegidas?Há grandes esforços para a criação de áreas protegidas a nível estadual, regional e nacional por todo o mundo. O que tentamos fazer nos Mares Prístinos é procurar, compreender e ajudar a proteger os últimos locais selvagens nos oceanos. Tipicamente tendem a ser remotos. Mas estamos a ficar sem locais remotos. Por isso, diversificámos o nosso portfólio um pouco. Há alguns anos fomos ao Gabão, que não é realmente prístino. Mas tem alguma da última costa selvagem no leste de África, se é que pode chamar-se “selvagem”. Há elefantes na praia, hipopótamos a deslizar o corpo nas ondas, vemos búfalos na praia e há alguns dos últimos mangais intactos na África ocidental. O Gabão tem petróleo e uma pequena população, mas foi muito activo e reservou 15% da sua terra em áreas protegidas. Um tipo chamado Mike Fay fez a MegaTransect [expedição iniciada em 1999]: andou a pé durante 18 meses ao longo de partes de África com um grupo de pigmeus e ajudou a documentar toda a vida selvagem. É um explorador da National Geographic e já esteve em várias das nossas expedições. Já tinha ajudado a criar vários parques nacionais em terra no Gabão e perguntou-nos se não queríamos ir lá ajudar a ver se havia potencial para parques marinhos. Mergulhámos em muitas das plataformas petrolíferas, que são pequenos oásis, têm muitas espécies. São importantes para agregarem peixes. Nas próprias plataformas há esponjas, ostras e cracas. É um recife artificial. Fornecem uma estrutura no meio de um ambiente descaracterizado. As plataformas petrolíferas são interessantes pelo facto se serem alpondras [de vida]. As ilhas de São Tomé e Príncipe têm comunidades de peixes interessantes e são como alpondras entre o Atlântico ocidental e as Caraíbas. Mas essas espécies não aparecem na costa ocidental de África, porque há muitos sedimentos vindos do rio Congo e de uma série de outros grandes rios que desaguam na África ocidental. Na realidade, ajudámos a criar uma rede de áreas protegidas no Gabão que inclui algumas plataformas petrolíferas e alguns dos parques naturais terrestres existentes chegaram até à linha de água. As empresas petrolíferas querem segurança à sua volta e as pessoas querem lá pescar, porque sabem que há peixe. Novamente, não é prístino, mas ajudamos os esforços que estavam a ser feitos aí. E é um pouco do que estamos a fazer nos Açores. E o que vieram então fazer numa expedição aos Açores?Já tínhamos trabalhado nas Selvagens e na ilha da Madeira com Emanuel [em 2015]. E ele e a Fundação Waitt também fizeram uma expedição em 2016 [aos Açores] e tiveram uma óptima experiência. Os Açores são este sítio icónico de que muitas pessoas já ouviram falar. São muito especiais, já o sabíamos antes desta expedição. Há um grupo sólido de cientistas que já trabalhava aqui antes e continuará a trabalhar. Por isso, sabemos que a investigação e a monitorização vão continuar, muitos sítios não têm essa vantagem. Na ausência de informação, não se tomam decisões ou tomam-se más decisões. Na perspectiva dos Mares Prístinos, o que trouxemos foi apoio a esse trabalho. Com os filmes e a nossa cobertura podemos ajudar. Os Açores não são prístinos, não são remotos e não estão por estudar. Tem sido feito aqui um trabalho fantástico há bastante tempo. Vamos apoiar isso de várias maneiras: trazemos a metodologia científica que usamos, para ajudar a comparar este local com outros locais à volta do mundo. É uma técnica padronizada. Estamos a partilhar ideias e vamos partilhar dados depois desta viagem [ao mar do Corvo, Flores e Pico]. Este grupo de cientistas [dos Açores] também tem trabalhado muito no Faial e em São Jorge. E, com a expedição de 2016 às ilhas de Santa Maria, São Miguel e aos ilhéus das Formigas, o grupo oriental, teremos todo o arquipélago numa fotografia instantânea. As ilhas ocidentais são diferentes, estão numa placa tectónica diferente. Vemos diferenças nas comunidades de algas. Algumas das espécies mais comuns de algas e algas castanhas, típicas da Macaronésia – Açores, Madeira e Canárias – encontram-se por todo os Açores, excepto nas Flores e no Corvo. E isso é intrigante?Sim, é. Pensamos que é uma das descobertas desta viagem. As algas não se dispersam muito longe. Os esporos das algas ficam na água apenas entre alguns dias a uma semana, enquanto as larvas dos peixes ficam na água entre semanas a meses, para irem à deriva para outros locais. Qual é a hipótese para a diferença nas algas das Flores e do Corvo?Estão numa placa tectónica diferente. Mas provavelmente é menos a placa e mais as correntes e porque é um pouco mais frio. Estas são as ilhas mais ocidentais, são ligeiramente diferentes. É uma descoberta interessante. Não é que estes sistemas tenham diferenças fundamentais. Mas há distinção suficiente a que vale a pena dar atenção, especialmente se pensarmos em como gerir o arquipélago. Provavelmente há diferentes influências físicas, biológicas e oceanográficas que afectam o grupo de ilhas ocidental versus os grupos central e oriental. Podemos querer pensar em fazer abordagens mais regionais de gestão. Se são ligeiramente diferentes, quando falamos em redes de áreas marinhas protegidas e pescas, a representação é importante. Se quiséssemos proteger 20% dos Açores, não queríamos que fosse só numa ilha ou num local, queríamos ter a certeza de que havia representantes de vários grupos de ilhas, para termos uma melhor protecção dos ecossistemas. Que outras descobertas fizeram na expedição aos Açores?Os meros eram muito, muito raros no Pico. Quase nem os vimos. Vimo-los mais nas Flores e na maioria dos nossos mergulhos no Corvo. É pequena, mas o Corvo tem uma área marinha protegida voluntária, que parece estar a proteger a população de meros. É um sinal positivo. Não é uma nova descoberta, primeiro porque as pessoas no Corvo já o sabiam e os colegas açorianos também já o sabiam. Mas pôr isto em contexto com as outras duas ilhas [Flores e Pico] permite-nos olhar para isto e, em vez de dizermos que temos muitos meros no Corvo, dizermos que há uma quantidade razoável de meros mas provavelmente não tantos quanto deviam. Os meros são interessantes, porque vivem muito tempo, 50 anos ou mais, e mudam de sexo quando são grandes. Os grandes são machos. Outra descoberta é que há uma pressão significativa da pesca pelas ilhas, o que tem sido prejudicial para as populações de peixe. É muito evidente no Pico, vimos muitos aparelhos de pesca. Em locais à volta das Flores vimos mais peixes e peixes maiores. Em particular, aqueles que são alvo dos pescadores tendem a encontrar áreas da costa mais profundas, um pouco menos acessíveis e que são um refúgio. E vimos alguns sinais de que a protecção é eficaz, como na área protegida do Corvo para os meros. Baseando-nos em todas as nossas expedições, podemos dizer: agora é a altura de agir! É um período crítico para os Açores, porque as coisas podem correr mal muito depressa, mesmo sem nos apercebermos, especialmente para ilhas pequenas e isoladas. São tão fantásticas mas também frágeis. Quando nos apercebermos pode ser tarde de mais. É muito mais eficaz conservar as coisas do que tentar recuperá-las depois de as danificarmos. No banco Princesa Alice, onde também mergulharam, observaram destruição?É difícil de dizer, porque só estivemos lá agora. Mais uma vez, é um instantâneo. Mas está explorado pela pesca, sabemos que não é prístino. Há pressão da pesca ali. A questão é o que se vai fazer em relação a isso. Se a pesca estivesse totalmente fora de questão, isso seria muito impopular. A certa altura terão de se tomar decisões difíceis sobre o que deve ser protegido e onde. A curto prazo será doloroso para algumas pessoas. Mas é crucial que seja feito de forma correcta e que os pescadores e outros utilizadores sejam trazidos para esse processo logo no início. As pessoas não gostam que lhes imponham regras e geralmente ignoram-nas. Para si, quais são então hoje os grandes perigos e desafios para o oceano?A pesca em excesso é o que tem a maior pegada global actualmente, seguida da poluição e destruição de habitats, que andam de mãos dadas. A degradação da qualidade da água geralmente está associada a habitats degradados. Depois, há outras coisas mais pequenas, como espécies introduzidas e doenças. O maior problema no futuro vão ser as alterações climáticas. Vão acontecer, independentemente do que fizermos. Mesmo que a população humana parasse de crescer amanhã e parássemos de usar combustíveis fósseis, o clima continuaria a mudar nos próximos 100 anos. Temos de ser capazes de planear isso, mas não temos muito controlo. A melhor maneira de nos prepararmos é minimizar as outras ameaças sobre as quais temos controlo. E o que temos controlo e conseguimos planear a curto prazo são as pescas, o desenvolvimento costeiro, a poluição e a degradação dos habitats. O que podemos fazer para lidar com essas ameaças?Todos estes problemas estão associados ao facto de haver pessoas a mais no planeta. O controlo da população é algo de que não gostamos de falar, mas é essencial que o façamos porque os problemas mundiais estão associados a demasiadas pessoas em locais que estão a ser postos sob pressão. Quanto ao controlo da pesca, as áreas marinhas protegidas são provavelmente uma das ferramentas mais eficazes. Mas é também uma ferramenta que polariza. Porque os pescadores vêem-na como uma ferramenta que lhes tira oportunidades de pescar. Dito isto, as áreas marinhas protegidas beneficiam as pescas. Se forem bem concebidas e aplicadas, dentro das áreas marinhas protegidas teremos mais peixes e maiores. Ao ter peixes grandes nas áreas protegidas, há um benefício duplo não só de proteger a população como de aumentar a quantidade de reprodução que vai para fora das áreas protegidas. Desta maneira também podem beneficiar-se áreas fora das áreas marinhas protegidas. Chama-se o “efeito de derrame”. Os peixes adultos deixam as áreas marinhas protegidas, porque a sua densidade é muito alta, e os pescadores apanham-nos. Muitas vezes vemo-los aglomerados junto às áreas marinhas protegidas a apanhar peixe, porque sabem que estas áreas são eficazes e alguns dos animais são móveis. Mas, na verdade, o maior benefício das áreas marinhas protegidas é a exportação de larvas, a exportação de ovos e de juvenis. Pode dar exemplos de áreas marinhas protegidas onde os pescadores compreendam isso?Impedir as pessoas de pescar numa área é uma das medidas mais eficazes, mas também é uma das mais menos aceites pela comunidade. Há outros métodos válidos para gerir as pescas além das áreas marinhas protegidas, como restrições nos aparelhos de pesca, impedindo o uso de diferentes tipos de aparelhos destrutivos. Por exemplo, nos Açores as redes de arrasto são proibidas, o que é muito bom. Não só apanham peixes de forma muito eficiente como destroem os habitats e, uma vez destruídos, os peixes não voltam. Os pescadores não são adversos às restrições nos aparelhos de pesca, porque lhes permite ao menos pescar. Os pescadores gostam de pescar e escolheram essa profissão por diversas razões – é histórica na sua família e dá-lhes liberdade, para outras pessoas é a única oportunidade que têm devido às condições económicas pobres no país onde vivem. Algumas pessoas nascem pescadores e querem pescar. Há muitos outros tipos de regulações, como tamanhos mínimos [do peixe] e limites do número de licenças atribuídas. A pesca é assunto muito amplo, há de tudo, desde a pesca industrial em larga escala – como navios-fábrica de arrastão – até a um tipo no Pacífico Sul a pescar à linha. Quais são os planos futuros para o programa Mares Prístinos?Temos mais uns dois anos e tal de expedições. Estamos em transição, não sabemos bem como vai ser no futuro. No próximo ano, temos várias expedições planeadas. Vamos voltar ao Árctico russo. Talvez voltemos às ilhas Marshall, no Pacífico Sul. E vamos voltar dez anos depois às Ilhas da Linha, ao grupo sul, onde foi a primeira expedição dos Mares Prístinos em 2009. Será a primeira vez que regressamos a um local e será interessante porque houve uma série de fenómenos globais de branqueamento de corais. Uma das hipóteses é que estes locais remotos, longe das pessoas, são mais resilientes porque não têm os factores de pressão locais, como a pesca e a poluição costeira. Que estes recifes poderão recuperar melhor quando ocorrem esses eventos naturais, que se vão tornar mais frequentes. Os ecossistemas marítimos vão mudar de uma forma fundamental. E haverá vencedores e perdedores. No Árctico russo, que esteve coberto de gelo na maior parte do tempo, as pescas vão começar aí. Devemos aprender com os nossos erros e desenvolver políticas activas de conservação. O branqueamento de corais deve-se sobretudo à água do mar mais quente por causa das alterações climáticas. Por que resistiram melhor os corais em Kiribati?Kiribati tem três arquipélagos: as ilhas Gilbert, as ilhas Phoenix e as Ilhas da Linha. E há uma grande questão. A grande diversidade de corais – no chamado “triângulo de corais” – fica na Indonésia, nas Filipinas e Nova Guiné. À medida que nos deslocamos para o Pacífico centro vemos que a diversidade de corais e de peixes é mais baixa. Mas estes locais poderão ser mais resilientes e resistentes e uma hipótese é que podem ter tido estes fenómenos de branqueamento no passado e, por isso, estar mais adaptados. Mas, na realidade, não sabemos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mergulhou mais de dez mil horas em 24 expedições dos Mares Prístinos. O que tem de inspirador para nos dizer?Sim, passei grande parte da minha vida adulta debaixo de água. Na perspectiva dos Mares Prístinos, estes últimos lugares selvagens são inspiradores e tiram-nos o fôlego. Entramos na água e vemos estes animais grandes, vemos estas magníficas florestas de kelp, ursos polares na água e é fantástico. Estamos fora do nosso elemento e parece mesmo que andamos para trás no tempo. Os oceanos eram assim antes de haver as pessoas. Nunca mais voltaremos a isso. Mas precisamos de reconhecer onde estamos em relação aos valores de referência para os gerirmos de forma mais responsável. A outra mensagem que tiro de todo o meu trabalho no Pacífico nos últimos 35 anos é que os oceanos são muito importantes para as pessoas, mesmo para aquelas que não vivem perto do oceano. O oceano fornece muita biodiversidade que desconhecemos. O mar profundo é literalmente desconhecido. Como estivemos em 20 e tal locais com câmaras de profundidade, estamos a começar a desenvolver uma biblioteca do mar profundo, mas vai demorar décadas. A inspiração é que os oceanos são incrivelmente importantes para as pessoas, para umas numa base quotidiana, para outras menos. Mas, ainda assim, como estão os oceanos é como está o estado do planeta. Temos de ser muito cuidadosos, é o único que temos. Se o estragarmos, vai ser muito difícil repará-lo.
REFERÊNCIAS:
No Vista, o jantar começa num porto de pesca
João Oliveira está a trabalhar um menu do mar e da sustentabilidade no restaurante Vista, em Portimão. A base é o peixe e o marisco; os hidratos de carbono, as gorduras e o açúcar têm vindo a desaparecer. (...)

No Vista, o jantar começa num porto de pesca
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: João Oliveira está a trabalhar um menu do mar e da sustentabilidade no restaurante Vista, em Portimão. A base é o peixe e o marisco; os hidratos de carbono, as gorduras e o açúcar têm vindo a desaparecer.
TEXTO: São cinco da tarde e João Oliveira está sentado numa cadeira de plástico no porto de Portimão à espera de um arrastão que era suposto ter chegado duas horas antes. O que é que um chef que conquistou uma estrela Michelin (para o seu restaurante Vista no Bela Vista Hotel & Spa) faz aqui?Um dos menus que João tem no Vista chama-se “Mar e Sustentabilidade” e não é apenas conversa ou trabalho que se limita à cozinha. O chef interessa-se verdadeiramente por peixe e todos os dias tenta aprender mais, seja com o mestre com quem conversamos no porto, numa espécie de sala de estar improvisada ao ar livre com sofá, grelhador e tudo a que temos direito, seja em pescarias quando tem tempo para isso. Não é fácil, confessa. Uma das coisas que quer fazer é acompanhar o arrastão da empresa Testa e Cunhas numa saída para o mar, mas isso implica embarcar a meio da tarde de um dia e só voltar 24 horas depois — isto se tiver sorte, porque, como acontece hoje, o mestre do arrastão pode decidir não voltar e ficar no mar outras 24 horas para poder trazer mais peixe para terra. E isso é complicado para quem tem que gerir um restaurante que, para além dos jantares fine dining, serve ainda pequenos-almoços e almoços mais leves. O que muitas vezes acontece — como hoje, em que estamos há quase duas horas a apanhar a brisa agradável que sopra no porto e a conversar sobre técnicas de pesca com os pescadores — é João combinar com o mestre e vir à lota buscar os peixes que habitualmente são rejeitados por não terem valor comercial ou simplesmente por serem espécies que nunca foram registadas. “A maior parte desse peixe pode dar para consumo”, explica. “Eles trazem-me, eu vejo o que está registado e aquilo que não está passo para o responsável da empresa para ele ver, junto do IPMA e da Docapesca, o que se pode fazer para que o peixe entre no circuito comercial. Quando isso acontece, podemos comprá-lo e cozinhá-lo no hotel. Se não estiver registado, não pode entrar em lota e não podemos usá-lo. ”Nem sempre na cozinha se conseguem milagres, mas a experiência do chef é que há muitas espécies óptimas, que nós, enquanto consumidores, simplesmente não sabemos como valorizar. E quando faz um menu com a palavra sustentabilidade, o que pretende é isso mesmo: evitar o desperdício de peixe, que é apanhado e deitado novamente ao mar, muitas vezes já morto, porque em terra não se vende. Mesmo o que já possa estar registado, muitas vezes tem um valor comercial tão ridiculamente baixo que não compensa o espaço que ocupa no arrastão. “É uma questão de tempo e de paciência”, prossegue João. “Vamos chegar lá. Estar a mandar muito peixe fora é que não faz sentido nenhum. Há espécies, como o taralhão, que há uns tempos ninguém conhecia e que agora já está a 16, 17 euros o quilo. Desde que esta parceria começou, já conseguimos dois registos [de espécies] e a valorização de outras, como o ferro-de-engomar ou as cintas, um peixe comprido e vermelho, que já vão à lota. ”Poucas horas depois, estamos sentados a uma das mesas do Vista, em frente ao mar da praia da Rocha, rodeados por uma decoração inspirada precisamente no mar e a iniciar o menu “Mar e Sustentabilidade”. Foi há um ano e meio que João Oliveira o começou a trabalhar, mas, explica-nos depois, com o passar do tempo ele foi-se tornando mais “radical”. Um exemplo: excepto se houver um pedido expresso do cliente, não é trazido pão nem manteiga para a mesa. A refeição, composta por 12 pratos (sendo muitos deles bastante pequenos, pelo que, no final, o equilíbrio é perfeito), não tem praticamente hidratos de carbono, todos os pratos são cozinhados com pouca gordura (e, de preferência, vegetal) e as sobremesas são mais frescas do que doces. Quanto aos peixes e mariscos, João, para além das experiências que faz com os menos valorizados ou com menor valor comercial, tenta usar os que estão na época certa e no seu pico máximo de qualidade. Podemos interrogar-nos sobre a relação com a sustentabilidade quando vemos, por exemplo, uma entrada de atum, com rábano e alho negro. O chef explica: “Ontem usámos bonito, hoje chega-nos o sarrajão ou merma. Usamos a variedade que existe no mercado, que já foi capturada ou que está a passar pelo Algarve neste momento. Quando usamos o sarrajão, explicamos que é um miniatum que passa pelo Algarve e que tem certas características. Mas não vou atrás do rabilho, do bluefin ou do yellowfin, uso o que está disponível no mercado. ”Trabalha também, noutra das entradas, as algas como a codium e a alface-do-mar, que pede aos pescadores ou ao seu fornecedor habitual, a Nutrifresco. “Faço uma base com creme de algas, em cima leva um gel de alface-do-mar, e um pó de camarinhas que lhe dá um toque a marisco, mais adocicado. ”O equilíbrio de toda a refeição, e em cada um dos momentos, é uma das grandes preocupações de João Oliveira. O menu está organizado num crescendo de intensidade, em que cada prato marca um avanço, mas vai buscar algum dos sabores dominantes do anterior para garantir a continuidade. A seguir ao atum vem a cavala, com ervilhas (que estão já no final da época), vinagre de lavanda e toques asiáticos — por vezes a cavala pode ser substituída por sarda, dependendo de qual está mais gorda. O importante, sublinha João, é que sejam peixes apanhados em águas mais frias, que são os que desenvolvem mais gordura precisamente para aguentar as temperaturas. O prato da sardinha é uma brincadeira com os sabores mais tradicionais, usando o pimento e o tomate verde da salada algarvia para acompanhar uma “sardinha no pão”, diferente no aspecto mas fiel ao sabor, que serve também para despertar a curiosidade dos estrangeiros. Seguimos com os crustáceos do Algarve com um gaspacho verde, a lula dos Açores em sabores asiáticos, com galaga e coco, a pescada (e a luta para convencer os portugueses a comer um peixe que associam à casa da avó ou ao refeitório da escola, brinca João) com abacate, aipo e lingueirão, o mais intenso salmonete, com couve-flor e mexilhão e, para terminar, o peixe-galo com espinafres, fígados e ovas, um prato de peixe que, pela força dos sabores, quase parece de carne. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de uma pré-sobremesa que homenageia a laranja do Algarve, o menu termina com uma sobremesa de maçã verde, aipo e wasabi, que foi acompanhada pelo Riesling Dócil de Dirk Niepoort (e, a propósito da harmonização, é de destacar o excelente trabalho da equipa de sala chefiada por Tiago Pereira). Deixamos um conselho a quem for ao Vista: este é um menu que começa a ser pensado no mar, que fala da costa portuguesa, das suas rochas, das suas areias, da temperatura das suas águas, da forma como os peixes aí vivem e aí são apanhados. Vale a pena prová-lo como se fosse um mergulho. A Fugas esteve alojada a convite do Bela Vista Hotel & SpaQuando foi construída, em 1918, a Vila Nossa Senhora das Dores erguia-se quase solitária sobre os penhascos da praia da Rocha, em Portimão. O proprietário era António Júdice de Magalhães Barros, ligado à indústria conserveira e casado com Maria da Glória Júdice. Foi em Fevereiro de 1918, faz este ano um século, que se festejou a inauguração do palacete, com a presença do então Presidente da República Sidónio Pais. Durante as décadas seguintes, as festas continuariam a marcar a vida do palacete, que, em 1936, alguns anos depois da morte de Maria da Glória e do afastamento de Magalhães Barros, seria transformado no Hotel Bela Vista pelo empresário Henrique Bívar de Vasconcelos (as iniciais são as mesmas). Nos anos 1930, o Algarve começava a mudar. No Guia de Portugal de 1927, a praia da Rocha é descrita da seguinte forma: “Inteiramente desconhecida no país ainda há três dezenas de anos, só muito recentemente o seu clima e as suas belezas naturais lhe asseguraram a celebridade a que tem jus. ” Na altura, segundo o mesmo guia, essa celebridade significava “ter 600 a 700 banhistas por ano, quase todos algarvios e do Baixo Alentejo, umas cem casas de aluguer com ou sem mobília”, sendo que “no Inverno era apenas frequentada por escassos ingleses”. A década de 40, com a II Guerra Mundial, foi marcante para a história do hotel, que se terá transformado em base para alguns dos espiões que aproveitavam a neutralidade de Portugal para aqui trabalhar. Uma figura a que ainda hoje o hotel presta homenagem é o barão finlandês Carl Gustaf Mannerheim, considerado o pai da Finlândia moderna, da qual foi Presidente entre 1944 e 46, e que passou uma temporada em Portimão devido a problemas de saúde. Hoje, o Bela Vista Hotel & Spa, que pertence à cadeia Relais & Chatêaux, mantém no palacete principal (com 11 quartos) e na Casa Azul (sete quartos) o charme e a memória de um século de história (os painéis de azulejos e os tectos em madeira exótica pintados foram totalmente restaurados de acordo com o original) e ganhou uma piscina e um novo edifício, com 20 quartos e um spa com o exclusivo da marca L’Occitane, aberto a clientes externos, tal como o restaurante Vista, com uma estrela Michelin.
REFERÊNCIAS:
Neste Inverno, a gripe das aves na China pode ser a pior de sempre
Desde Outubro, a estirpe H7N9 já matou 100 pessoas. (...)

Neste Inverno, a gripe das aves na China pode ser a pior de sempre
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 14 | Sentimento -1.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde Outubro, a estirpe H7N9 já matou 100 pessoas.
TEXTO: No último mês, a estirpe H7N9 da gripe das aves causou 79 mortes na China, anunciou o Governo chinês, que está preocupado que a propagação do vírus neste Inverno seja a pior de que há registo. As mortes em Janeiro foram quatro vezes mais elevadas do que no mesmo mês nos últimos anos. A estirpe H7N9 também já tirou a vida a 100 pessoas desde Outubro. Estes dados foram divulgados pela Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar da China. As autoridades têm repetidamente dito à população para se manter alerta em relação ao vírus da gripe das aves, e advertido contra o pânico na China, a segunda maior economia mundial. Mas os últimos dados sobre a gripe das aves têm desencadeado preocupações quanto à repetição de uma crise de saúde, como a que aconteceu em 2002 com o surto da síndrome respiratória aguda (SARS, na sigla em inglês). “Já estamos a meio de Fevereiro e apenas temos os números de Janeiro. Com o número de mortes quase a apanhar os da SARS, não devíamos ter feito os alertas mais cedo?”, disse um utilizador do blogue Sina Weibo. Outros utilizadores da blogosfera chinesa também se mostraram preocupados quanto à velocidade de propagação das infecções, e pediram relatórios de saúde mais actualizados. O People's Daily, o jornal oficial do Partido Comunista chinês, alertou para que as pessoas fiquem longe dos mercados de aves, dizendo que foi “extremamente claro” que as aves e os seus excrementos foram a causa destas infecções. “A situação ainda está em curso e todas as partes estão a investigar activamente e a reportar os casos”, refere o Gabinete da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China num e-mail enviado à agência Reuters. “A investigação está em curso e é prematuro tirar conclusões do número crescente de casos. Além disso, sabemos que a maioria de casos em seres humanos deste vírus dá-se pelo contacto com aves infectadas ou ambientes contaminados, incluindo os mercados de aves. ”Na última quarta-feira, os preços dos frangos na China desceram para os valores mais baixos da década. Receia-se que os vendedores de carne combinem preços entre si, devido ao receio que a gripe das aves abale a procura num dos maiores mercados de aves do mundo. A China, que foi o primeiro país a reportar infecções humanas desta estirpe do vírus da gripe das aves em Março de 2013, tem tido uma subida significativa do número de casos de H7N9 desde Dezembro. Os números oficiais do Governo chinês reportam a detecção de 306 casos desde Outubro, 192 dos quais no último mês. Mas outras fontes defendem que o número de infecções ainda é mais alto. Na última semana, o Centro para Investigação e Políticas de Doenças Infecciosas (CIDRAP, na sigla em inglês) da Universidade do Minnesota (Estados Unidos) estimou que tenha havido pelo menos 347 casos durante este Inverno, ofuscando os 319 casos registados há três anos. Tendo por base os números semanais, é difícil dizer se os casos de H7N9 na China ainda continuam a subir ou se já atingiram o pico, refere um comunicado no site da CIDRAP, de 10 de Fevereiro. Alguns serviços de saúde das províncias da China anunciam casos individuais à medida que são confirmados, enquanto outros ainda não disponibilizaram os números de infecções e esperam para os incluir em relatórios mensais. “Um factor importante em surtos anteriores de H7N9 entre seres humanos na China tem sido o encerramento dos mercados de aves”, afirma Ian Mackay, virologista da Universidade de Queensland, na Austrália. “Parece-me que a resposta a este surto tem sido mais lenta durante este Inverno, o que pode levar a um grande número de humanos expostos a aves infectadas. ”A maioria dos casos de seres humanos infectados com a estirpe H7N9 tem sido reportada no Sul da China e em zonas costeiras do país. Em Hong Kong, onde dois em cada quatro doentes infectados com H7N9 morreram este Inverno, as fontes oficiais de saúde dizem estar atentas à situação e poderão aumentar o controlo às quintas de produção de aves. A primeira pessoa infectada com a estirpe H7N9 em Pequim foi reportada este ano pela primeira vez no último sábado. O doente é um homem com 68 anos da cidade de Langfang, na província vizinha de Hebei. Esta última terça-feira foi confirmado o segundo caso em Pequim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Um elevado número de casos esporádicos continua a ser reportado”, refere ainda a OMS. “Enquanto o vírus influenza continuar a circular entre as aves, as infecções esporádicas ou pequenos grupos de seres humanos infectados é possível. ”A OMS disse recentemente que não tem conseguido descartar a possibilidade de propagação dos surtos de humanos para humanos, embora não tenham sido detectadas propagações que o sustentem até agora. A Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar de Yunnan, uma província no Sudoeste da China, disse que uma mulher morreu de H7N9 na terça-feira à noite. A vítima era mãe de uma criança pequena, que morreu de H7N9 este mês, noticiou a agência de notícias chinesa Xinhua na última quarta-feira. As duas tinham viajado para Jiangxi no último mês e tinham contactado com aves ainda vivas nesta província do Sudeste da China. A mãe apresentou sintomas a 4 de Fevereiro, foi hospitalizada quatro dias depois e mantida longe da sua filha, que também morreu, a 7 de Fevereiro.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
Reintrodução do lince em Portugal pode começar depois do Verão
Governo, caçadores, agricultores, ambientalistas e cientistas assinam pacto pela conservação do felino mais ameaçado do mundo. (...)

Reintrodução do lince em Portugal pode começar depois do Verão
MINORIA(S): Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195028/http://www.publico.pt/1661232
SUMÁRIO: Governo, caçadores, agricultores, ambientalistas e cientistas assinam pacto pela conservação do felino mais ameaçado do mundo.
TEXTO: A primeira libertação em Portugal de linces nascidos em cativeiro pode ocorrer depois do Verão, se se mantiver a recuperação que se tem observado nas populações de coelhos-bravos – o principal alimento do felino mais ameaçado do mundo. Esta é a esperança do secretário de Estado do Ordenamento e da Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, que presidiu nesta terça-feira à assinatura de um Pacto Nacional para a Conservação do Lince Ibérico. A libertação marcará o início da reintrodução dos linces em Portugal, de onde praticamente desapareceram ao longo do século XX. Serão oito animais, nascidos na rede de centros de reprodução em cativeiro de Espanha e Portugal e que irão experimentar a vida selvagem na zona de Mértola. O lince ibérico (Lynx pardinus) só existe na Península Ibérica e está "criticamente ameaçado" de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Há quatro centros de reprodução em Espanha e um em Portugal – em Silves, inaugurado em 2009, como medida de compensação da construção de uma barragem, a de Odelouca. Entre 2005 e 2013, nasceram 236 linces. Este ano, foram mais 36. Dos que sobreviveram, vários já foram libertados na natureza, todos em Espanha. Alguns, inadaptados para a vida selvagem, foram para zoológicos. Em Portugal, a reintrodução estava dependente de condições ideais do habitat, sobretudo no que toca à alimentação. E neste domínio, os coelhos bravos pregaram uma partida aos planos do Governo de celebrar a primeira libertação no primeiro semestre deste ano. Uma avassaladora mortalidade afectou os coelhos, vítimas de uma variante da doença hemorrágica viral – que afecta ciclicamente aqueles animais. A libertação dos linces, que esteve marcada para Junho, teve de ser adiada. A situação dos coelhos nas áreas escolhidas para a reintrodução dos linces – Mértola e também a região de Moura-Barrancos – tem sido monitorizada quinzenalmente. As populações mostram sinais de recuperação, mas nos próximos meses será feito um censo mais alargado aos coelhos. “Precisamos de ter a certeza de que existem no terreno”, afirma Miguel de Castro Neto, apontando para depois do Verão a possível libertação. Tudo dependerá do que ocorrer nos próximos meses. Se os coelhos não resistirem a um novo surto da hemorrágica viral, dificilmente haverá condições para a reintrodução. “A situação ainda está longe da ideal”, afirma António Paula Soares, presidente da Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, que representa os donos de zonas de caça. Para os caçadores, é importante que haja coelhos suficientes tanto para os linces como para a actividade cinegética. “O que está em causa não é a libertação dos linces, é quando”, diz Soares. Os caçadores e gestores da caça estão entre um conjunto de agentes que subscreveram, esta terça-feira, o pacto para a preservação do lince. Investigadores, organizações não-governamentais, representantes do sector agrícola e instituições oficiais também juntaram-se ao pacto. O documento fixa um quadro de referência para que todos caminhem no mesmo sentido. “Era importante haver esta formalização da confiança”, afirma o secretário de Estado. A actividade cinegética tem um relevo especial. O pacto contém um contrato-tipo de colaboração entre zonas de caça e o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que prevê medidas concretas para a conservação do lince nas áreas cinegéticas. O ICNF acena com um apoio às zonas de caça nas áreas onde sejam libertados linces, com um mínimo de 50% das taxas anuais cobradas às concessões – que são de 0, 75 euros por hectare nas zonas de caça associativa e 1, 71 euros por hectare nas zonas de caça turísticas. Um ponto importante do pacto é o que diz que “a presença do lince ibérico não implicará a criação de limitações ou proibições” nos sectores cinegético, agrícola e florestal. “Fica escrito que o lince não vai causar restrições ao modo como fazemos a gestão da caça”, afirma António Paula Soares. O pacto para o lince ibérico está disponível no sítio do ICNF na Internet e pode ser subscrito online por qualquer pessoa ou entidade.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave doença extinção cativeiro
Temos um problema com linces
A política de reprodução em cativeiro é um êxito, mas as condições de libertação na natureza são deploráveis. (...)

Temos um problema com linces
MINORIA(S): Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195028/http://www.publico.pt/1631620
SUMÁRIO: A política de reprodução em cativeiro é um êxito, mas as condições de libertação na natureza são deploráveis.
TEXTO: Há anos que a população de linces da Península Ibérica está em risco. E há anos que existe uma discussão sobre o peso relativo que devem ter, na conservação e na recuperação das populações de linces, as acções in situ (directamente ligadas à conservação das populações na natureza) e as acções ex situ (recorrendo a populações em cativeiro). As políticas de conservação in situ são, de maneira geral, mais eficazes e mais baratas, portanto ninguém defende acções de conservação ex situ como primeira opção. Quando o estado das populações é desesperado e os processos naturais de recuperação não estão garantidos, é normal recorrer-se a acções de manutenção artificial, enquanto se restauram as condições de sobrevivência na natureza. O objectivo é libertar indivíduos na natureza, a partir das populações que foram mantidas artificialmente, quando as condições de sobrevivência voltarem a ser favoráveis. Quando comecei a interessar-me pela conservação do lince, tinha uma posição claramente desfavorável à reprodução em cativeiro. Não porque não fosse eventualmente útil, mas porque os recursos que seria preciso dedicar a essa tarefa poderiam ser aplicados mais eficazmente no estabelecimento de corredores de dispersão da população de linces que subsistia na Andaluzia. A minha opinião foi evoluindo à medida que fui dando mais importância ao coelho como factor determinante da evolução da população de linces, e à medida que o estado de conservação do lince se foi tornando mais desesperado, em consequência da rarefacção de coelho provocada pelas doenças. Passei, por isso, a defender que os investimentos na conservação do lince deveriam concentrar-se na resolução dos problemas da população de coelhos e, como seguro para o caso de alguma coisa correr mal, manter uma população de linces em cativeiro que permitisse a reintrodução ou o reforço de populações, se necessário. Por volta do ano 2000, tornou-se evidente que a população de coelhos estava a recuperar da razia provocada pelas doenças dos anos 80 e, consequentemente, a população de linces tinha iniciado uma recuperação com crescimentos populacionais na ordem dos 10% ao ano. Por essa razão, discordei do desperdício de recursos em pesados programas de recuperação em cativeiro de linces, cuja utilidade é discutível, e que consomem recursos que fazem falta a outros problemas bem mais graves, mas menos mediáticos, de conservação. Por volta de 2012/2013, uma nova doença se declarou no coelho, fazendo desaparecer o coelho dos nossos campos. Desde os anos 50 (não sabemos o que se passou antes), a dinâmica da população de coelhos tem sido uma quebra repentina e brutal de efectivos a cada 30 anos, por via de doenças novas, seguida de lentas recuperações cuja velocidade dependerá: 1) das características da doença; 2) da informação genética presente nas populações de coelhos. Ora, é neste contexto que o Governo vem anunciar a libertação de linces em Portugal. Porque as condições de sobrevivência na natureza são óptimas? Não, penso que não. Na verdade, com o apuro técnico e o empenho e a paixão das pessoas envolvidas, estamos a ter muito êxito na reprodução de linces em cativeiro e é preciso dar destino aos linces produzidos. Chegámos, portanto, a uma encruzilhada: a política de reprodução em cativeiro é um êxito, mas as condições de libertação na natureza são deploráveis. “O que fazer?”, perguntaria Lenine. Por mim, a resposta é tecnicamente simples e politicamente impossível: distribuir os linces reproduzidos em cativeiro pelos jardins zoológicos do mundo, vinculados a programas de reintrodução se tal for necessário, como um seguro de vida para as populações de linces. Com os recursos libertados, investir seriamente na melhoria da situação das populações de coelhos no terreno para que a população de linces que existe na natureza possa recuperar naturalmente. Resumindo: poucos linces na natureza por falta de condições de sobrevivência e muitos em cativeiro por razões políticas e de comunicação. Uma típica situação de uso ineficiente de recursos que bem falta fazem noutros sectores da conservação.
REFERÊNCIAS:
O novo circo à mesa do velho
Novo-Velho Circo, criação conjunta de Clara Andermatt e da companhia Radar 360º, estreia-se este sábado em mais um capítulo do programa Circus Lab, em Viseu. (...)

O novo circo à mesa do velho
MINORIA(S): Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.118
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo-Velho Circo, criação conjunta de Clara Andermatt e da companhia Radar 360º, estreia-se este sábado em mais um capítulo do programa Circus Lab, em Viseu.
TEXTO: Tem alçapões e fundos falsos por onde cospe e engole bailarinas sem pernas (mas que dão à perna), balões, cabeças de bonecas e copos de cristal, o chapiteau que a coreógrafa Clara Andermatt e a companhia de novo circo Radar 360º construíram a partir de memórias já bastante longínquas do velho circo (aquele em que ainda havia palhaços, muito antes dos reality-shows) e das irresistíveis aliterações do poeta, crítico e tradutor brasileiro Haroldo de Campos. Algures entre uns e outros, as portas da percepção que um Aldous Huxley movido a LSD e mescalina abriu em meados do século XX escancararam-se diante deles e por aí foram, em direcção a uma estranha e hipnótica festa onde encontraram ainda, de copo na mão, Angela Carter, a ficcionista de Noites no Circo e de As Infernais Máquinas de Desejo do Dr. Hoffman, a História do Soldado, de Igor Stravinsky, e os universos paralelos de Jorge Luis Borges. Foi uma longa viagem, estrada fora em direcção a este Novo-Velho Circo que este sábado se estreia na Tenda Grande do Teatro Viriato, em Viseu – como, logo ali no pós-guerra, Gelsomina e Zampanò, os sem eira nem beira de Fellini ou, mais à frente, muito depois dos reality-shows, Os Idiotas de Lars von Trier. Novo capítulo do programa Circus Lab – operação de reflexão e criação artística aplicada às artes circenses que Giacomo Scalisi coordena até ao final de 2016 para o Teatro Viriato, em colaboração com o Cirkus Xanti, da Noruega –, Novo-Velho Circo é ao mesmo tempo a celebração dos dez anos da Radar 360º, uma companhia do Porto especialmente vocacionada para o espaço público, e uma celebração do próprio circo, nem novo nem velho. “Sempre gostámos de trabalhar para além do núcleo duro da companhia e dos colaboradores regulares com que nos identificamos artisticamente – Joana Providência, John Mowatt. . . – e os dez anos pareceram-nos um pretexto irresistível para festejar”, explica ao PÚBLICO um dos directores da Radar 360º, António Oliveira. “Se havia alguma coisa em particular que nos interessava nesta fase era um trabalho de desconstrução da linguagem do circo em paralelo com um investimento na composição coreográfica e na criação de objectos que são mais orgânicos do que mecânicos. Ao mesmo tempo, queríamos encontrar um novo olhar sobre as matérias e os materiais do circo – um olhar que a Clara, com o seu percurso transdisciplinar na dança, no teatro e na música, podia acrescentar às artes do circo”, continua. Debaixo dos sobretudos que André Araújo, Bruno Machado, Francesco Cerutti, Jolanda Loellmann, Julieta Rodrigues e Mickaella Dantas – o conjunto de intérpretes e co-criadores que Clara Andermatt encontrou sobretudo em audições – vestem e despem em Novo-Velho Circo, há roupas fluorescentes e figuras de fantasia que podiam ter saído de uma caixinha de música ou de uma garrafa atirada ao mar, à atenção do novo mundo. Aqui, como chega a dizer uma das personagens, “o tempo não passa” e “o avesso da história” pode ser “escória (tudo depende da glória)”. E há glória nisto de fazer uma festa não propriamente pelo passado mas pelo futuro, porque “o circo não é nem novo nem velho, é circo”, repete António. “Mas sim, as imagens do novo, do velho e do circo estiveram sempre nas nossas cabeças”, admite Clara, que a Radar 360º foi buscar para desarrumar este espectáculo-celebração. “Houve muito desbravar de caminho, muita conversa, muita decisão, muita abertura para que este encontro entre a dança, o circo e a música pudesse acontecer – com imensas dúvidas em relação ao espaço, à cenografia, à montagem financeira. . . De resto, esta vai ser uma história de adaptação, porque quando chegarmos a Guimarães, em Junho, faremos o espectáculo ao ar livre e depois no Porto estaremos no palco do Grande Auditório do Rivoli. ”Entre o que cedeu e o que descobriu – com a direcção artística da Radar, com o músico Jonas Runas e com os intérpretes, “que deram muito de si ao espectáculo” e para aqui trouxeram personalidades e bagagens alegremente assimétricas –, Clara Andermatt viu-se a “tentar explicar o inexplicável” e a tomar partido “em relação às questões mais essenciais da própria existência”, a maior parte delas “completamente fora do âmbito da razão e do óbvio”. Figuras “icónicas” do velho circo como a roda-cyr, os malabares e a própria tenda (gorado o plano de “descobrir uma nova arquitectura e reinventar o lugar onde o circo acontece”, a Radar regressou à tenda “como espaço de resistência, nómada e efémero”) fizeram o seu caminho até Novo-Velho Circo, assim como uma espécie de máquina invisível, a máquina do subpalco e dos bastidores, organismo mutante e vivo que vai atirando estímulos para a arena ou fazendo desaparecer objectos da vista dos espectadores. Este sábado, às 21h30, e amanhã, às 16h, o circo recompõe-se para se festejar a si e ao facto de continuar vivo – não apenas como entretenimento mas como espaço aberto à autoria e como ponto de encontro de várias gerações de públicos e de artistas. Diz António Oliveira: “É importante que o circo deixe de ser periférico e volte a ser nuclear. O Circus Lab é uma segunda oportunidade que se abre nesse sentido, depois do esforço que nos anos 2000 a Isabel Alves Costa dedicou à criação de uma rede. ” Mesmo que seja próprio do circo não precisar dela.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Fêmea de lince encontrada morta em Mértola foi envenenada
Equipa da GNR vai agora vasculhar a região para detectar a presença de venenos. (...)

Fêmea de lince encontrada morta em Mértola foi envenenada
MINORIA(S): Animais Pontuação: 14 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Equipa da GNR vai agora vasculhar a região para detectar a presença de venenos.
TEXTO: A fêmea de lince ibérico encontrada morta duas semanas depois de ter sido libertado em Mértola, há um mês e meio, foi afinal vítima de envenenamento. É este o resultado da necrópsia ao animal e das análises realizadas pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, segundo um comunicado do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). A fêmea Kayakweru tinha sido libertada na zona dia 25 de Fevereiro, no âmbito de um programa de reintrodução em Portugal desta espécie, única da Península Ibérica e ameaçada de extinção. No total, seis animais já foram soltos. Mas Kayakweru apareceu morta duas semanas depois, dia 12 de Março, sem nenhuma explicação imediatamente aparente. Só agora, quase um mês depois, surgem os resultados das análises, que indicam morte por envenenamento. O comunicado do ICNF não esclarece que veneno foi identificado, nem fornece nenhuma explicação suplementar. Uma das hipóteses, porém, é a de que o lince tenha sido vítima de uma prática ilegal e persistente no país, a de matar predadores da caça – como raposas ou saca-rabos – com venenos que se podem comprar livremente em qualquer drogaria. Pedaços de carne contaminados com doses elevadas de pesticidas e ou com produtos para matar caracóis são um veículo comum nestes casos. “O lince pode ter encontrado iscos que estavam destinados a outras espécies”, avalia o veterinário Ricardo Brandão, membro da equipa que coordena o Programa Antídoto, uma plataforma lançada em 2004 para combater a utilização ilegal de venenos em Portugal. “Ainda há gestores de caça que acham que o envenenamento é uma forma eficaz de controlar predadores”, completa Brandão, dizendo que a região do vale do Guadiana “é problemática”. Venenos também são usados em conflitos de vizinhos, relacionados com cães, ou no controlo de predadores do gado. Na sequência deste episódio, uma brigada cinotécnica – cão e treinador – do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR (Sepna) vasculhará a região para detectar a presença de venenos. O ICNF, diz o comunicado, “continuará a desenvolver todos os esforços necessários à minimização de riscos de morte, quer como o que vitimou Kayakweru, quer por utilização de laços ou outras armadilhas que possam ameaçar a boa reintrodução desta espécie”. O programa de reintrodução dos linces em Portugal previa a libertação de dez animais no vale do Guadiana. Quatro ainda aguardam a sua vez. A monitorização dos animais tem sido feita à distância, através de coleiras que transmitem a sua posição via rádio e por foto-armadilhas instaladas na zona onde estão a ser libertados. Foi este sistema de monitorização que permitiu identificar que algo não estava bem com Kayakweru. A fêmea estava a ter comportamentos normais mas, de um dia para o outro, deixou de se mover. Estava morta. Segundo Ricardo Brandão, o número de ocorrências de envenenamentos de animais selvagens em Portugal tem vindo a cair nos últimos anos, mas isto reflecte sobretudo o facto de se estar a dar menos atenção ao problema. “A luta contra os venenos tem estado estagnada”, diz. Pelo seu simbolismo e por ser o lince a espécie ameaçada mais emblemática de Portugal, a morte de Kayakweru possivelmente integrará a lista dos casos mais importantes de envenenamento de animais selvagens no país. O maior de todos, pela sua dimensão, ocorreu em Idanha-a-Nova, em 2003, quando 33 grifos, três abutres-pretos e três milhafres-reais morreram depois de se alimentarem de cadáveres de ovelhas contaminados com veneno, presumivelmente para matar cães assilvestrados que estavam a atacar o gado. No papo das aves, foram encontrados os brincos de identificação das ovelhas, que indicavam claramente a sua proveniência. O caso foi três vezes investigado, mas três vezes arquivado. O envenenamento de Kayakweru está agora nas mãos do Ministério Público em Beja, segundo o comunicado do ICNF.
REFERÊNCIAS:
Festival de rock apoia advogadas que tratam de animais abandonados em Viseu
Os bilhetes são pulseiras que estão numeradas e custam 2,5 euros cada. (...)

Festival de rock apoia advogadas que tratam de animais abandonados em Viseu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os bilhetes são pulseiras que estão numeradas e custam 2,5 euros cada.
TEXTO: Várias bandas de rock participam na sexta-feira à noite em Viseu num festival solidário para apoiar o trabalho de duas advogadas que tratam diariamente de animais abandonados e doentes. O Beny Sound Fest realiza-se em Pereiras de Bodiosa e conta com a actuação das bandas Bulldozer, Black Bird, Smoking Beer e Cepa Torta, e a animação de DJ. Há alguns anos, a vontade de ajudar animais abandonados ou doentes levaram a advogada Catarina Beirão a aventurar-se na costura para criar peças de artesanato, revertendo a sua venda a favor de causas à escolha do comprador. Inspirada por outros projectos que conheceu no Facebook, criou o Cat (h)and Love e com o dinheiro que conseguia foi ajudando associações e pessoas de todo o país que tratavam de animais. “Agora, ajudo mais no terreno. Eu e a minha amiga fazemos alguns resgates, ajudamos animais que precisam de cuidados veterinários e, diariamente, eu cuido de uma colónia de gatos e ela de cães”, contou à agência Lusa Catarina Beirão. A amiga é Roberta Almeida, que faz colares artesanais. Os valores que recolhem com as peças são sobretudo para ajudar os casos com que lidam directamente, mas não só. “Já este ano houve um gato que foi encontrado por outra pessoa, atropelado, que encaminhámos para o veterinário e ajudámos a angariar valores para pagar a despesa”, contou. Quando há “alguma despesa com veterinário ou alguma despesa mais urgente”, fazem leilões ou outras iniciativas para angariar dinheiro, acrescentou. Catarina Beirão referiu que a organização do Beny (de beneficência) Sound Fest, que se realiza pela primeira vez, teve conhecimento do trabalho que faziam e decidiu ajudá-las. Os bilhetes são pulseiras que estão numeradas e custam 2, 5 euros cada. Haverá sorteios de prémios oferecidos por empresas que se quiseram juntar a esta festa solidária. Quem aparecer no festival com mantas ou ração para animais tem descontos nas bebidas ou nas barraquinhas.
REFERÊNCIAS: