Pescar lulas em Lisboa
Damon McMahon, o líder dos Amen Dunes, passou um mês em Lisboa a compor o sucessor de Love. Na realidade não escreveu uma nota. Esteve a pescar lulas. Com um walkman por companhia e três folhas brancas. (...)

Pescar lulas em Lisboa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Damon McMahon, o líder dos Amen Dunes, passou um mês em Lisboa a compor o sucessor de Love. Na realidade não escreveu uma nota. Esteve a pescar lulas. Com um walkman por companhia e três folhas brancas.
TEXTO: São três folhas brancas, dobradas em quatro até ficarem tamanho A6 e puídas nos seus vincos e cantos de tanto roçarem o interior do bolso do casaco de Damon McMahon. Estão escritas de fio a pavio, com pequenas frases que ora são potenciais versos, ora possibilidades de arranjos. É um manual de como pescar lulas – e simultaneamente o novo disco dos Amen Dunes, o sucessor do magnífico Love: três folhas escrevinhadas em Lisboa. Não soa muito promissor, pois não? Descansem: é assim que o rapaz trabalha. Era fim de Dezembro quando nos sentámos à conversa com ele numa pastelaria em Lisboa, estava ele cá há um mês – e na pastelaria há meia-hora, à nossa espera, derivado greve do metro. Quando chegámos, esforçou-se por esconder o livro que estava a ler, Dream Brother, relato da relação entre pai Buckley e o filho Jeff. Só mais tarde conseguimos pô-lo a falar sobre o assunto. “É uma espécie de guilty-pleasure meu”, explica, enquanto tenta perceber o que se passa com o seu cartão do metro, que não funciona. No momento em que o cartão encrava começa a ficar nervoso: tem uma consulta no médico e quer chegar a horas. “Para ser honesto, nunca ouvi o Jeff com muita atenção”, conta, já na carruagem. “É demasiado pop para mim. Mas o meu baterista foi o baterista dele e”, faz uma pausa, “não é fácil, torna-se um assunto pessoal”. Além disso, diz, “a obra do Tim é-me tão próxima que o sinto quase como um pai, pelo que não consigo evitar querer saber mais”. É verdade que lhe é mais fácil falar de Tim. Tão fácil – em particular tendo em conta que até há bem pouco tempo a obra de pai Buckley era dificílima de encontrar – que se torna claro algo que já desconfiava há muito: Damon é um nerdzinho da música. Com pelo menos três pais: “Nem me fales do Bob Dylan, meu, o Dylan é o meu pai”, diz a dada altura; “O Van Morrison? Nem sei como explicar a relação que tenho com ele. É como se fosse família, é como se fosse o meu pai”, afiança, quando lhe tento explicar que o parente mais próximo que encontro para Love é Astral Weeks; e depois vem o assunto-Buckley e por entre dezenas de afirmações sobre o sr Tim – como: “Já reparaste que ele consegue fazer vibrato durante um falsete após subir quatro oitavas?” – lá chega o proverbial “Ouvi tanto o Tim Buckley que é como se ele fosse meu pai”. Lisboa/Nova IorqueDan McMahon é o líder dos Amen Dunes, autores do sensacional Love, editado o ano passado. A banda, na realidade, é composta de McMahon e dos músicos que estiverem a jeito quando ele precisa de companhia – para Love foram recrutados elementos dos Godspeed You Black Emperor!, mas a maior parte da obra dos Amen Dunes foi concebida apenas com a voz e a guitarra de McMahon gravada directamente para fita. Na realidade só há mais dois discos oficiais, DIA (2009) e Through Donkey Jaw (2011), realizados da seguinte forma: “Eu ligava o gravador e, sem ter nenhuma canção composta, tocava e cantava a primeira coisa que me viesse à cabeça”. Era uma forma de vencer o writer’s block, de “vencer o medo de as coisas não ficarem bem”: fazia e pronto. Não é um método assim tão estranho: quando procuramos em demasia o equilíbrio, tendemos a acabar por praticar actos extremos. Love foi o primeiro disco escrito antes de ser gravado e de imediato chegou a uma imensidão de pessoas, ou pelo menos à imensidão de pessoas necessárias para haver digressões e o disco acabar no topo das listas de melhores do ano de um sem número de publicações. Ele tinha imaginado um disco de jazz espiritual, ficou uma espécie de folk psicadélica: um Astral Weeks menos estonteante. De modo que “em Outubro [do ano passado] toquei na ZDB [em Lisboa] e senti uma vibração tão boa que a meio do concerto disse, por brincadeira, que queria vir morar para Lisboa e no fim uma rapariga veio ter comigo e ofereceu-me o seu apartamento”. A moça ofereceu o apartamento e numa altura em que não estaria em Lisboa. Damon, por sua vez, arrendou o seu em Nova Iorque. E assim acabou a passar um mês por cá; sem nada para fazer, escreveu um disco. E por escrever entenda-se mesmo escrever: não há uma única nota anotada por enquanto. E é por esta altura que começamos a desconfiar que McMahon não funciona de acordo com as regras do mercado nem tem uma única palavra a dizer sobre os benefícios do trabalho: só toca guitarra quando sente “inspiração”; quando esta surge pega no instrumento e grava tudo o que lhe sai; o resultado fica em centenas cassetes que repousam até sentir a urgência de fazer novo disco. “Sou como um pescador de lulas”, diz: “Tenho de esperar e esperar e quando sinto o puxão é hora da inspiração e com a inspiração não se brinca: quando chega atiramo-nos a ela e temos de estar abertos a tudo”. “Eu trouxe a minha guitarra mas escrevo de forma esquisita”, continua, após um golo numa “copa dê água”. “Não me sento a escrever ou a compor, é um processo mais mental. Começo por imaginar uma moldura, fronteiras, barreiras, conceito do que não posso fazer e, dentro dos limites que me imponho, o que me é possível”. Hence, as três folhinhas amarfanhadas às quais se agarra ao ponto de a dada altura acabarmos numa cena caricata: eu a esticar o pescoço para tentar lê-las e ele a recuar as folhas: “Não, não podes ler”. “Oh, vá lá”, e ele aquiesce e levanta de novo as folhas, mas quando re-estico o pescoço ele recua de novo: “Não, é melhor não, não me sinto bem com isto”. A cena repetiu-se o número suficiente de vezes para ter ficado com a impressão de isto ter sido o mais perto que estive, em anos, do sexo adolescente. O processo de composição de McMahon só se inicia quando ele começa a ficar ansioso: nessa altura dedica todas as horas do dia à escuta das mencionadas cassetes em que arquiva os assomos de inspiração. “Quando decido fazer um disco, pego nas cassetes todas e passo o tempo a ouvi-las à procura de algo que goste, me inspire, me faça dizer ‘É por aqui’”. Tem as chaves da ZDB, para tocar quando quiser, mas por esses dias ainda não tinha pegado na guitarra. Ouve as cassetes “enquanto passeia” e vai escrevinhamdo ideias à medida que algo (como não podia deixar de ser) o inspira. Por isso é que Lisboa é importante. É que para compor precisa de sair de Nova Iorque – aliás, “um tipo deve sair de Nova Iorque sempre que pode”. Porque “Nova Iorque não é como Lisboa; não é uma cidade onde ao fim-de-semana as pessoas vão almoçar com a família. A percentagem de pessoas que têm em família em Nova Iorque [Damon é natural de lá e os seus pais ainda moram lá] é escassa. A maior parte das pessoas vai para lá para alcançar os seus sonhos. É um sítio para pessoas ambiciosas, aquele tipo de pessoas para quem conhecer outro ser humano é networking e odeio isso”. Portanto, Lisboa: uma cidade “mais pequena e acolhedora” onde pode andar de auscultadores ligados a um walkman o dia todo, “à espera que a inspiração chegue” e cada vez que ouve algo que lhe interessa aponta nas folhinhas. E “quando está tudo escrito, tudo decidido na [sua] cabeça” ele fica “à espera que a inspiração chegue”, frase que repete sucessivas vezes, e então finalmente pega nos instrumentos e grava. Não se iludam, isto não é tão ingénuo quanto parece: no momento em que decide gravar sabe tudo o que quer, o exacto som que pretende ouvir, os arranjos precisos e o momento em que entram. Portanto: ele precisa de fugir de Nova Iorque, cidade em que tudo é networking, para encontrar “um sítio mais puro”. A sua relação com a folk é “mística”, ao ponto de sentir que foi “parido pela própria folk” e que os velhos mestres são os seus pais. E recusa-se a trabalhar na sua arte, limitando-se “a rezar para que a musa regresse”. O bottom-line desta pesca à lula é que McMahon é o último dos românticos sofridos. Claro que há nisto um paradoxo: pode não acreditar no trabalho, mas as horas que passa a tocar quando chega a “inspiração” seriam qualificadas, por outros músicos, como trabalho. O seu conhecimento exaustivo da folk pode, para ele, ser apenas a sua paixão – mas outros músicos considerá-lo-iam uma forma de aprendizagem da craft. E quando dá os seus passeios pela cidade a ouvir cassetes, acto que ele qualifica como “uma forma de passar o tempo sem sentir ansiedade”, não serão - aham - trabalho? Por último: esta coisa de anotar toda a santa ideia em letrinha miudinha numas folhas gastas não se qualificará, porventura, como - aham - trabalho?Pouco importa: ele põe-se nas mãos da inspiração. “Quando a inspiração chega ponho-me a tocar”, repete e depois fica à espera de sentir “aquela ansiedade de fazer alguma coisa”. Se por acaso o viram pela cidade, de auscultadores no ouvido, fiquem a saber que isto é Damon McMahon à espera da inspiração. Ou a pescar lulas. Já estamos com gula pelo próximo repasto.
REFERÊNCIAS:
Passos Coelho expressa “profunda satisfação” pelo resgate dos pescadores
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, manifestou hoje “profunda satisfação” perante a notícia do resgate com vida dos seis tripulantes da embarcação de pesca “Virgem do Sameiro”, desaparecida terça-feira ao largo da Figueira da Foz. (...)

Passos Coelho expressa “profunda satisfação” pelo resgate dos pescadores
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, manifestou hoje “profunda satisfação” perante a notícia do resgate com vida dos seis tripulantes da embarcação de pesca “Virgem do Sameiro”, desaparecida terça-feira ao largo da Figueira da Foz.
TEXTO: “Foi com profunda satisfação que tomei conhecimento do resgate dos seis tripulantes da embarcação de pesca “Virgem do Sameiro”, que se encontrava desaparecida no mar desde a passada terça-feira. Aos pescadores e às suas famílias, que viveram dias de grande angústia, quero deixar uma palavra de conforto, mas também de regozijo pelo desenlace desta terrível situação”, escreve o primeiro-ministro, numa mensagem enviada à Lusa. Pedro Passos Coelho felicita ainda “todos os que estiveram directamente envolvidos nas operações de resgate dos tripulantes” da embarcação, “em especial as mulheres e os homens da Marinha e da Força Aérea Portuguesa, que foram incansáveis durante os dias de busca e resgate”. “O seu esforço, que teve como resultado o resgate com vida de seis pessoas, é um motivo de orgulho para todos os Portugueses”, congratula-se. Os seis tripulantes da embarcação de pesca “Virgem do Sameiro” foram hoje encontrados com vida a 12 milhas, cerca de 22 quilómetros, a noroeste do cabo Mondego, disse à agência Lusa o porta-voz da Marinha. Os seis tripulantes foram detectados pelo helicóptero da Força Aérea às 11:03 e às 12:00 já tinham sido resgatados, encontrando-se a bordo do helicóptero que os vai transportar para a Base Aérea de Monte Real onde vão ser assistidos por equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Marinha Portuguesa, comandante Alexandre Santos Fernandes, disse que os seis homens foram detectados na balsa salva-vidas pelo helicóptero da Força Aérea que colaborava nas operações de busca e salvamento. O comandante Santos Fernandes contou que as buscas começaram quinta-feira à tarde e continuaram durante toda a noite com a participação do navio patrulha oceânico “Viana do Castelo” e até às duas da manhã por um C295 da Força Aérea.
REFERÊNCIAS:
Presidente eleito da Costa do Marfim apela à contenção e fim da violência
O Presidente eleito da Costa do Marfim Alassane Ouattara instou todos os cidadãos a “absterem-se de vinganças e violência”, tendo o país “virado uma página de muita dor na sua história”, após a detenção ontem à tarde do chefe de Estado cessante, Laurent Gbagbo, que se recusava a entregar o poder. (...)

Presidente eleito da Costa do Marfim apela à contenção e fim da violência
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente eleito da Costa do Marfim Alassane Ouattara instou todos os cidadãos a “absterem-se de vinganças e violência”, tendo o país “virado uma página de muita dor na sua história”, após a detenção ontem à tarde do chefe de Estado cessante, Laurent Gbagbo, que se recusava a entregar o poder.
TEXTO: “Depois de mais de quatro meses de crise pós-eleitoral, marcados pela perda de tantas vidas, estamos finalmente no início de uma nova era de esperança”, afirmou num discurso transmitido ainda ontem à noite pelo canal de televisão TCI. Ouattara, reconhecido pelas Nações Unidas como vencedor das eleições presidenciais de Novembro passado, prometeu criar uma Comissão de Verdade e Reconciliação para investigar as acusações de atrocidades e violações dos direitos humanos cometidos por ambas as facções durante este conflito que se estima ter causado mais de mil mortos e a fuga e deslocação de um milhão de pessoas. “Apelo a todos os meus compatriotas, que se sentem movidos por desejos de vingança, que se abstenham de represálias e de actos de violência”, prosseguiu, instando igualmente a todos quantos tomaram as armas para as deporem. “Todos estes jovens que se tornaram em milícias têm que entender que a luta deixou hoje de ter sentido. E por isso vos peço que entreguem as armas”. O Presidente eleito prometeu ainda um “julgamento justo” de Laurent Gbagbo, assim como da mulher deste, Simone, e do seu grupo de “colaboradores”. “A segurança física pessoal de Gbagbo e da sua família serão garantidas”, sublinhou ainda. Ecoando os apelos de Ouattara, também Gbagbo apareceu ontem na televisão – já após ter sido detido, na sua residência em Abidjan, por forças leais ao seu rival, com o apoio de capacetes azuis da ONU e tropas francesas – instando ao fim dos combates e manifestando o desejo de que “a vida possa em breve voltar ao normal”. Responsáveis das Nações Unidas revelaram que Gbagbo seria transferido ainda ontem do Hotel Golfo, quartel-general da facção de Ouattara em Abidjan, para onde fora levado logo após a sua rendição, para um “local seguro no norte” do país. Ao longo do dia de ontem, o comandante das forças armadas do Presidente cessante anunciou ao chefe da missão da ONU na Costa do Marfim que estava pronto a entregar as armas e fonte militar francesa avançou que mais de 200 membros da Guarda Republicana (fiel a Gbagbo) se tinham igualmente rendido. Com o afastamento final de Gbagbo do poder, Ouattara pode finalmente assumir o seu mandato presidencial. Mas tal não significa o fim da crise, uma vez que o país sofre de profundas e antigas divisões étnicas, anos de estagnação económica e um agravamento da situação humanitária. O objectivo de Ouattara em unificar o país e relançar a sua economia (a maior produtora de cacau do mundo) é ameaçado ainda pelas alegações de que também a sua facção armada cometeu massacres e violações dos direitos humanos desde o início da chamada batalha por Abidjan, principal cidade e capital económica do país. Embora o campo do Presidente eleito negue estas acusações, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch denuncia que as forças leais a Ouattara mataram centenas de civis, violaram mais de 20 mulheres e raparigas supostamente pertencentes à facção do rival Gbagbo e queimaram pelo menos dez aldeias na região ocidental da Costa do Marfim.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Megapiquenique: O dia em que os burros e as ovelhas vieram à cidade
Joana gostou da surpresa da mãe, veio andar de burro pela primeira vez. Hélder trouxe as ovelhas e as cabras de Ourique. Olga só quer ouvir o homem que tem estampado na t-shirt, Tony Carreira. Mas para Augusto, que mal consegue conduzir o táxi, isto é “um pandemónio inconcebível”. A Festa do Campo instalou-se na Avenida da Liberdade, trouxe vacas e porcos pretos. (...)

Megapiquenique: O dia em que os burros e as ovelhas vieram à cidade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Joana gostou da surpresa da mãe, veio andar de burro pela primeira vez. Hélder trouxe as ovelhas e as cabras de Ourique. Olga só quer ouvir o homem que tem estampado na t-shirt, Tony Carreira. Mas para Augusto, que mal consegue conduzir o táxi, isto é “um pandemónio inconcebível”. A Festa do Campo instalou-se na Avenida da Liberdade, trouxe vacas e porcos pretos.
TEXTO: Cheira a alecrim e a pinhal, e a estrume de vaca. Mas também cheira a pipocas e à carne frita na roulotte do “Pançudo das Bifanas”. Olha-se para o chão e lá está a calçada portuguesa. Não, definitivamente não estamos no campo, mas façamos de conta. A Avenida da Liberdade está repleta, e desta vez não são os carros que entopem a principal artéria de Lisboa. São os burros e os girassóis, os canteiros de salsa e as oliveiras. E gente, milhares de pessoas. Dos altifalantes sai bem alto a pergunta “mas quem será, mas quem será o pai da criança?” e há quem arrisque um passo de dança, ainda a tarde vai a meio. Não é todos os dias que se baila no alcatrão da avenida sem correr o risco de ser atropelado. Mas é quando se ouve “Passo a vida a sonhar contigo” de Tony Carreira que a avenida rompe num aplauso. O palco já lá está, preparado junto ao Rossio, mas ainda será preciso esperar um pouco para que Tony Carreira apareça mesmo. Para já, a sua voz nos altifalantes dá o mote para o que promete ser um bom final de festa. Antes de Tony Carreira, é a hora das marmitas, dos panos aos quadrados ou das toalhas de praia estendidos na relva. A organização da Festa do Campo já prometeu que depois arranjará os jardins da avenida e atribuirá 100 mil euros para isso e a recuperação de uma horta em Campolide, garantiu o vereador da Câmara de Lisboa Sá Fernandes. Para já, a avenida está por sua conta, para alegria de quem veio à festa e desagrado de quem, por causa disso, não tem conseguido circular na cidade. Tractores e alfaias No cimo da avenida foram “plantados” pequenos pinheiros e um rapaz distribui sementes para que, quem quiser, possa mais tarde plantar os seus. Há tractores e alfaias, instrumentos dos anos 1940 e 1950 que deslumbram aqueles que nasceram muitos anos depois e nunca tinham visto tais ferramentas. Joana Aires tem 4 anos e está contente. Mora em Oeiras e a sua mãe, Ana Aires, de 35 anos, a acabar a licenciatura em Gestão, deu-lhe hoje uma grande alegria. A mãe e a organização Abrigo do Jumento, que trouxe vários burros para o meio da avenida. Fita rosa na cabeça, acabada de chegar da aula de ballet, sorriso traquina mas envergonhado, Joana acaba de dar uma volta no burro e garante que não teve medo. Já Inês Aires, de 11 anos, prima de Joana, achou que o bicho estava a mexer-se demais no início do passeio. Foi há dois dias que Ana Aires começou a preparar tudo. Fez as compras, pôs-se ao fogão a fritar hambúrgueres e convocou a gente mais nova da família. Trouxe as filhas Joana e Catarina (10 anos), e os sobrinhos Inês e Nuno (8 anos). Todos gostaram de andar de burro, afinal só tinham visto póneis e cavalos. “Foi muito giro”, diz Catarina. “O burrinho é muito divertido”, acrescenta Inês. Nuno assustou-se. “Agarrei-me bem para não cair. ”Avenida abaixo, empurram-se carrinhos de bebés, levam-se as crianças pela mão. A Festa do Campo é sobretudo para elas, mas não só. São os mais pequenos quem mais avança para um cesto de ração para pegar numa mão-cheia e dar de comer aos burros. Os mais velhos foram buscar aos armários os chapéus de palha, os calções ou os vestidos de Verão. E a máquina fotográfica, que um porco preto na avenida não é coisa que se possa registar em qualquer dia. Mais abaixo há carroças. “Parecem cowboys”, diz uma voz de menina. E logo depois os bois que, todos ficam a saber, podem pesar dos 650 quilos a nem mais do que uma tonelada.
REFERÊNCIAS:
Combate entre cães, o clube de combate dos homens
O Prémio Especial do Júri do último Festival de Veneza chega à competição internacional do Indielisboa: Sivas, de Kaan Mudjeci. Combate entre cães, o clube de combate dos homens. Entrevista ao realizador. (...)

Combate entre cães, o clube de combate dos homens
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Prémio Especial do Júri do último Festival de Veneza chega à competição internacional do Indielisboa: Sivas, de Kaan Mudjeci. Combate entre cães, o clube de combate dos homens. Entrevista ao realizador.
TEXTO: Sivas é a estreia na longa-metragem do turco Kaan Mudjeci, de 34 anos. E logo a trabalhar com duas “matérias” imprevisíveis, os animais e as crianças, deixando-se levar (ou criando a ilusão de que é o real que tudo coreografa) pelas estratégias de um jovem combatente, Aslan, na arena social. Branca de Neve e os Sete Anões está em fundo. Aslan, o miúdo, não conseguiu o papel de príncipe que o faria exibir-se à rapariga da escola. Para compensar a frustração, reabilita um cão ferido e vai à luta. Sivas é nome do cão e nome da aldeia. Aslan toma-o como arma para impressionar (é uma daquelas criaturas obsessivas do cinema, notamos-lhe uma semelhança com o miúdo de Onde Fica a Casa do Meu Amigo, de 1987, angustiante retrato da infância por Abbas Kiarostami. )Em 2011 Kaan Mudjeci tinha feito um documentário sobre a relação entre cães e os seus donos, Fathers and Sons. Ainda havia alguém que reproduzia uma narrativa benigna entre homem e animal: algo de “inexplicável”, alguém tentava explicar. Esse material serviu de pesquisa para Sivas, a ficção em que o realizador retira da narrativa qualquer idealização: a horizontalidade da paisagem da Anatólia (onde Mudjeci, que estudaria Cinema em Berlim e Nova Iorque, nasceu) é arena de combate. É uma história de homens, é uma história de violência, é a herança que passa de pais para filhos. Sivas recebeu o Prémio Especial do Júri em Veneza 2014 e chega quarta-feira à competição internacional do IndieLisboa (19h Culturgest; repete-se dia 1, sexta, 22h, Cinema Ideal)Não só violou uma espécie de regra do espectáculo – “nunca trabalhes com crianças ou animais” – como foi determinado na violação: trabalhou com os dois ao mesmo tempo, com crianças e com cães. Como é que a máquina de cinema lida com criaturas imprevisíveis, como foi essa experiência?É verdade! Foi logo o que me disseram quando comecei a trabalhar no projecto e foi difícil convencer as pessoas que podia transformar a minha ideia num filme com cães e crianças. Foi uma experiência muito especial, ao mesmo tempo desafiadora e exigente. Temos de prestar atenção, temos de nos interessar, é preciso tempo. Passei a maior parte do tempo a fazer o casting para ambos [cão e criança]. O cinema deveria sempre confrontar-se com o imprevisível. Ou seja, aceitei este desafio com prazer. Como encontrou o actor? E como encontrou o cão? Suponho que tenha sido como procurar o “casal” perfeito. Em algumas sequências – quando o cão está ferido, quando Aslan começa a pôr em prática a sua estratégia – Sivas parece documentar em tempo real um encontro, uma primeira vez juntos. Fiz o casting deles ao mesmo tempo e investi muito nisso. Vi miúdos de diferentes cidades, locais. Dogan [o intérprete de Aslan] vem dessa aldeia, estava familiarizado com a paisagem, com o clima. Escolhi-o para o papel principal no fim do processo, depois de o ver interagir com outras crianças. E, sim, quis criar uma espécie de percurso paralelo entre os dois. Tinha feito um documentário sobre os cães de combate e os seus donos, para o qual tinha feito pesquisa na zona. . . Fathers and Sons (2011). . . Porquê o interesse por esse milieu dos cães de combate e dos seus donos?Representa, para mim, as relações de poder da masculinidade. Os “actores” dessa relação de propriedade podem mudar, ou os lugares, mas as relações de poder da masculinidade mantêm-se e com o mesmo nível de crueldade. O título desse documentário, Fathers and Sons, pode ser lido como descrição das relações entre um homem e o seu cão: o lado afectivo, idealizado, que alguém no final, aliás, diz ser impossível de explicar. Mas Sivas explica, e “pais e filhos” adquire um sentido menos metafórico: é a iniciação à violência, o que passa de. . . pais para filhos. Foi essa a razão para filmar a ficção?A ideia da ficção já existia antes do documentário. Tentei perceber se esse tal laço emocional era possível de explicar. O mundo da ficção dá-nos liberdade para retratar a iniciação à violência. Como é que a paisagem nos diz quem somos? Sente-se que o seu filme – como um outro retrato de uma criança voraz, o P’tit Quinquin de Bruno Dumont – quer dizer-nos algo sobre essa relação. Filma-a como uma arena – lugar onde se luta. Nasceu naquela região da Anatólia; o que pode dizer sobre aquela paisagem?A nossa existência está sempre relacionada com um espaço, que nos define e molda. Aquela paisagem sempre me fascinou, espraiando-se horizontalmente e os humanos ou animais afirmando-se verticalmente. É uma história que se podia passar em qualquer lugar, mas esta paisagem árida, que me é familiar, deu-me a atmosfera e os sentimentos de que eu precisava. Ou então encontrei ali os sentimentos que procurava. Num Verão organizou em Berlim sessões de cinema ao ar livre, para imigrantes turcos na Alemanha, que assim podiam ver filmes turcos. O título desse evento, Çekirdek, vinha do hábito tradicional de comer sementes enquanto se vê um filme. Como equilibra a nostalgia, o calor e afecto pelos rituais e um ponto de vista crítico sobre alguns desses rituais?Nesse Verão, os voos para a Turquia estavam tão caros! Mostrámos velhos filmes turcos, , servindo sementes de girassol e chá, coisas de que essas pessoas iam sentir saudades nesse Verão. Era um cinema ao ar livre ilegal. Tentámos compensar a perda com uma atmosfera nostálgica, na verdade. A nostalgia é um sentimento com um certo conteúdo de melancolia. Há uma bela palavra portuguesa para isso: “saudade”. O meu sentido crítico mantém-me alerta e a nostalgia é um intervalo. Não houve um equilíbrio fácil aqui. Pergunto-lhe isto porque, quando disse, numa entrevista, que preferia um mundo dominado por mulheres, estava a referir-se como contraponto ao que se passa em Sivas: os homens e os seus códigos. Os intérpretes pertencem a esse mundo. Imagino que o que eles interpretam é o que eles são. Como é que esse ponto de vista crítico interfere na sua relação de confiança com eles?O mundo de Sivas não pertence só àquele mundo. É um pequeno retrato do todo. Esse mundo teria mais justiça e o poder seria regulado de maneira diferente se as mulheres dominassem. Sivas mostra o outro lado da moeda, um mundo dominado pela crueldade masculina. É esse o poder de uma ficção, a liberdade de que falava antes. Há uma história e actores para interpretarem os papéis. Estou feliz por ter criado uma relação de confiança com eles. Os que participaram estavam felizes. De alguma maneira invadimos as suas vidas a partir do momento em que tivemos a ideia, mas senti-me bem-vindo. Estava a fazer um filme, não uma pesquisa sociológica ou etnográfica. Também não quis mostrar “a vida na aldeia”. Esta aldeia, como a paisagem, foi o local certo para esta história que foi escrita. O seu protagonista é parecido com o miúdo de Onde Fica a Casa do Meu Amigo, de Abbas Kiarostami (1987), também uma pequena figura à conquista de território. Viu esse filme? A ferocidade desses retratos de infância foram inspiração?Kiarostami é uma grande inspiração para o cinema pela forma como descreve mundos e cria poesia com imagens. Vi Onde Fica a Casa do Meu Amigo. Mas a inspiração para este retrato de infância foi a minha experiência pessoal. É que, tal como no filme de Kiarostami, o espectador pode esquecer-se de que a personagem é uma criança. É um guerreiro, um sobrevivente – tenderemos a esquecer que é um miúdo. A sequência em que a mãe lhe dá banho serve para nos alertar: o contraste com a violência em que ele está imerso. Alguns sentimentos aparecem depois das imagens, mesmo depois da montagem. Aparecem no momento em que se consomem, em que se cria um novo sentido. Estou feliz por o meu filme ser lido assim. O cão é a última imagem do filme. Há um inescapável sentimento de abandono: afinal, é apenas instrumento para rituais de integração social. Aquela coisa idealizada do “homem e o seu cão” é estilhaçada: Aslan precisa do cão para conquistar um lugar na comunidade e a comunidade espera isso dele. Continuo a elogiar a sua leitura do filme. Quando Sivas foi mostrado em Veneza, houve reacções agressivas por causa das cenas de luta entre os cães. Quando se vê Fathers and Sons, documentário, não passará despercebido que corta sempre antes da violência e do sangue. Mostra-os em Sivas porque, imagino, foram “simulados” – bem, pode-se “dirigir” cães até certo ponto. . . – com sangue falso e tudo. Como filmou?A técnica ajudou-me neste caso. Usámos sangue falso e pusemos um creme na boca dos cães para que eles não se mordessem ou abocanhassem. Demorámos o triplo do tempo necessário, os cães tinham que descansar. Havia veterinários a tomar conta deles. E houve uma série de truques de câmara: por exemplo, duas câmaras em diferentes perspectivas ajudaram-nos a dar a sensação de uma sequência contínua.
REFERÊNCIAS:
Queiroz: "Costa do Marfim é a selecção africana favorita a chegar às meias-finais"
A Costa do Marfim é o primeiro adversário de Portugal no Mundial deste ano, daqui a menos de um mês, e é, nesta altura, a grande preocupação da selecção portuguesa, até porque o seleccionador português partilha da opinião de quem a considera a selecção africana mais forte. (...)

Queiroz: "Costa do Marfim é a selecção africana favorita a chegar às meias-finais"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 12 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.083
DATA: 2010-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Costa do Marfim é o primeiro adversário de Portugal no Mundial deste ano, daqui a menos de um mês, e é, nesta altura, a grande preocupação da selecção portuguesa, até porque o seleccionador português partilha da opinião de quem a considera a selecção africana mais forte.
TEXTO: “A Costa do Marfim é equipa que todos apostam como sendo a equipa africana favorita número um para poder, pela primeira vez, chegar às meias-finais. Não sou eu que o digo. São todos os analistas”, afirmou Carlos Queiroz, hoje em conferência de imprensa. O plano de preparação da selecção, aliás, reflecte de algum modo essa preocupação. Já tendo defrontando o Brasil em Novembro e a China (uma selecção asiática para se adaptar ao futebol norte-coreano) em Março, os adversários nos três jogos particulares até ao Mundial são todos africanos: Cabo Verde (na segunda-feira), Camarões (1 de Junho) e Moçambique (8 de Junho). Queiroz considerou ainda que os principais favoritos à vitória no Mundial são “os dinossauros do futebol mundial”, referindo-se às selecções que já foram campeãs, como Brasil, Itália, Alemanha e Argentina. Mas também defendeu que este será o “Mundial mais competitivo dos últimos três ou quatro”, com muitas selecções à espreita de quebrar o domínio desse lote restrito de vencedores. “Nessa linha, há uma série de candidatos que vão desafiar os tradicionais”, afirmou Queiroz, acrescentando que compete a Portugal passar a primeira fase para “jogar contra os melhores. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave marfim
Governo quer libertar linces até Junho mas admite recuar se não houver condições
Proprietários rurais e ambientalistas temem fracasso desta primeira tentativa e pedem mais tempo até à reintrodução dos linces-ibéricos no território português. (...)

Governo quer libertar linces até Junho mas admite recuar se não houver condições
MINORIA(S): Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.014
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195028/http://www.publico.pt/1629887
SUMÁRIO: Proprietários rurais e ambientalistas temem fracasso desta primeira tentativa e pedem mais tempo até à reintrodução dos linces-ibéricos no território português.
TEXTO: O secretário de Estado do Ordenamento do Território, Miguel de Castro Neto, reafirmou nesta quarta-feira que acredita na possibilidade de reintroduzir oito linces-ibéricos no Vale do Guadiana até Junho, como foi decidido na semana passada pelos parceiros do projecto europeu LIFE+ Iberlince. Ainda assim, depois de ouvir as preocupações de proprietários rurais e ambientalistas, admitiu que a libertação não avançará se não estiverem reunidas as condições necessárias. “É verdade que temos alguns desafios que não controlamos e que estamos a monitorizar”, disse o governante, depois de uma ronda de reuniões com os parceiros do Plano de Acção para a Conservação do Lince-ibérico em Portugal (PACLIP). No topo da lista de “desafios” está a dieta do lince-ibérico (Lynx pardinus), constituída em 90% por coelho-bravo. Esta espécie foi praticamente dizimada nas últimas décadas pela doença hemorrágica viral (DHV), o que contribuiu largamente para a quase extinção daquele que é o felino mais ameaçado do mundo. A Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade (Anpc), que representa a maioria das zonas de caça e dos proprietários rurais do Vale do Guadiana no Baixo Alentejo, alerta que não existem coelhos suficientes para garantir a sobrevivência e conservação dos oito linces criados em cativeiro, que o Governo prevê libertar (três numa primeira fase, depois mais três e finalmente mais dois). São necessários quatro coelhos-bravos por hectare para cumprir aquele objectivo mas a monitorização feita pela Anpc aponta para a existência de apenas 0, 5 coelhos por hectare. "A necessidade de redefinir o calendário para a reintrodução, tal como defendido pela Anpc, parece-nos fundamental, desde logo pela impossibilidade de até ao final da Primavera ter no terreno densidades de coelho adequadas", sublinha a associação em comunicado. Declínio "brutal" do coelho-bravoDepois de um forte surto no final da década de 1980, a população de coelhos-bravos ganhou resistências e recuperou. Porém, em 2011 surgiu uma nova variante do vírus, mais letal, que arrasou a população, particularmente os juvenis. E tudo aponta para um novo surto este ano. “Houve um declínio brutal [na ordem dos 80% em 2013] e ainda não sabemos ao certo se as populações estão a recuperar ou não”, diz Pedro Esteves, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto. Este investigador tem estudado a nova estirpe do vírus e defende a necessidade de um estudo exaustivo da população actual de coelho-bravo, para saber se a espécie está ou não a ganhar defesas contra o vírus e traçar uma estratégia para a sua conservação. “Apresentámos uma proposta ao Governo e ao ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas] mas não obtivemos resposta”, lamenta. E mesmo que a resposta chegue entretanto, “até Junho é impossível fazer seja o que for”, considera. O secretário de Estado do Ordenamento do Território diz ter informações que apontam para a existência de coelho-bravo em quantidades suficientes na natureza para garantir o sucesso da reintegração dos linces-ibéricos. “No Vale do Guadiana, temos indicação de que num determinado transecto [parcela de terreno] as populações variam entre dois e 3, 7 coelhos”, explica, para depois sublinhar: “Não temos razão nenhuma para duvidar dos dados que estão em cima da mesa”. Ainda assim, “em última análise, o que pode acontecer é não reintroduzirmos o lince-ibérico em local nenhum se não tivermos condições”, admite. Mas não é esse o cenário previsto. “O nosso objectivo é tornar 2014 não apenas o ano em que foi reintroduzido o lince-ibérico em liberdade, mas o ano do lince-ibérico em Portugal”, afirmou, acrescentando que está a ser definido “um conjunto de acções”, que irá ser apresentado em Abril aos parceiros do PNACLIP, com vista a reforçar, nos próximos meses, o trabalho que tem sido feito nos últimos anos por diversas entidades no domínio da conservação da espécie. A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) é uma das organizações com trabalho feito no Alentejo. Depois do projecto LIFE Lince, a associação desenvolve actualmente o LIFE Habitat Lince Abutre, cujo objectivo é a promoção do habitat destas duas espécies ameaçadas no sudeste do país. Também a LPN ficou preocupada com o anúncio da libertação dos linces. Depois da reunião desta quarta-feira com Castro Neto, as preocupações mantêm-se. “Não há tempo para pôr em prática todas as acções necessárias”, insiste Eduardo Santos, coordenador do LIFE Habitat Lince Abutre. Por um lado, há a questão do coelho-bravo: “A quebra foi drástica e a dinâmica ecológica da espécie não se restabelece em semanas”, afirma, sublinhando que a tendência actual da população é de queda. “É necessário um mínimo de dois coelhos por hectare para assegurar a reprodução das fêmeas, mas são precisos quatro coelhos por hectare para criar um novo núcleo da espécie”, que é o objectivo do plano, acrescenta. E identifica outros problemas: “É preciso saber qual a aceitação do lince-ibérico por parte da sociedade e isso não está a ser devidamente estudado”. Além disso, é preciso conhecer os riscos de mortalidade por atropelamento e tomar medidas para evitá-los. Segundo os dados mais recentes do projecto LIFE+Iberlince, em Espanha, na Andaluzia, 40% dos linces reintroduzidos na natureza morreram, muitos por atropelamento.
REFERÊNCIAS:
O ataque das enguias eléctricas a cavalos relatado por Humboldt há mais de 200 anos é mesmo possível
Na sua viagem à Venezuela, o famoso naturalista Alexander von Humboldt viu enguias eléctricas a saltarem da água para atacar cavalos com descargas eléctricas poderosas. Apesar de muito citada, havia dúvidas sobre a veracidade desta descrição. Agora, um cientista observou este tipo de comportamento. (...)

O ataque das enguias eléctricas a cavalos relatado por Humboldt há mais de 200 anos é mesmo possível
MINORIA(S): Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.25
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na sua viagem à Venezuela, o famoso naturalista Alexander von Humboldt viu enguias eléctricas a saltarem da água para atacar cavalos com descargas eléctricas poderosas. Apesar de muito citada, havia dúvidas sobre a veracidade desta descrição. Agora, um cientista observou este tipo de comportamento.
TEXTO: Seriam mais de 30 cavalos num lago repleto de enguias eléctricas, no início de 1800, na Venezuela. Segundo as descrições do naturalista alemão Alexander von Humboldt (1769-1859), as enguias nadaram em direcção aos cavalos, saltaram para cima deles e atacaram-nos com descargas eléctricas. O lago estava rodeado de homens que impediram os cavalos de fugir. Podemos imaginar a agitação nas águas. Houve cavalos que tombaram com as descargas eléctricas e foram pisados pelos outros. Dois morreram. Mas Humboldt conseguiu retirar do lago cinco enguias para fazer experiências, o grande objectivo de todo o aparato. Publicada em 1807, a descrição do sucedido foi suficientemente forte para ter direito a uma ilustração. Mas, apesar de o episódio ter sido recuperado várias vezes por outros cientistas, o relato foi ganhando a aura de lenda. Não houve outras descrições de comportamentos das enguias eléctricas semelhantes ao da história de Humboldt. Os cientistas foram duvidando da veracidade das palavras “poeticamente transfiguradas” do naturalista, como se escreve num artigo de 1947. “O comportamento agressivo das enguias, tomando a ofensiva contra os cavalos, parece a parte mais questionável e fantástica da história”, refere o biólogo Kenneth Catania, da Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos Estados Unidos, num artigo publicado nesta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, que reaviva este episódio, dando-lhe novos contornos científicos. É que Kenneth Catania observou pela primeira vez em laboratório este comportamento das enguias eléctricas a saltarem contra objectos aplicando-lhes descargas eléctricas. E quanto mais alto o salto, mais forte era a descarga, descreve o cientista no artigo. Só podemos adivinhar o sofrimento daqueles cavalos, há mais de 200 anos. A viagem histórica de Alexander von Humboldt, em que recolheu inúmeros animais e plantas, iria levá-lo mais tarde a cerca de 400 metros do topo do Chimborazo, um vulcão extinto no Equador, que faz parte da cordilheira dos Andes e atinge a respeitável altitude de 6310 metros. A escalada e todas as observações anteriores tiveram uma profunda influência na visão de Humboldt da natureza, levando-o à formulação do conceito de zonas de vegetação do globo, diferentes entre si de acordo com a latitude e a altitude onde se encontram. Esta relação nunca tinha sido feita e obrigou a uma nova abordagem holística da natureza, que lançou as raízes da ecologia e da conservação da natureza. Em 1800, então com 31 anos, Humboldt ainda estava longe de ter o reconhecimento mundial que iria receber mais tarde, influenciando disciplinas como a Biologia e a Geografia, áreas como a literatura e as artes plásticas, e nomes como o evolucionista britânico Charles Darwin, o escritor americano Henry David Thoreau, o biólogo alemão Ernst Haeckel e Johann Wolfgang von Goethe (muito amigo de Humboldt, diz-se que o escritor alemão se inspirou nele e na sua sede de conhecimento para criar o académico Heinrich Faust, a personagem central de Fausto). Mas foi o espírito desde sempre curioso de Humboldt que desencadeou o episódio das enguias eléctricas, na povoação comercial de Calabozo, na Venezuela. “Quando os habitantes locais contaram a Humboldt que muitos dos lagos pouco profundos da área estavam repletos de enguias eléctricas, mal conseguia acreditar na sua sorte. Desde as suas experiências com a electricidade animal na Alemanha, Humboldt sempre quisera examinar um desses extraordinários peixes. Ouvira estranhas histórias acerca de criaturas de metro e meio que podiam descarregar choques eléctricos de mais de 600 volts”, conta-se em A Invenção da Natureza – As Aventuras de Alexander von Humboldt, o Herói Esquecido da Ciência, da escritora Andrea Wulf, editado recentemente em Portugal pelo Círculo de Leitores. A obra de Andrea Wulf, de 2015, é uma biografia que resgata as memórias do alemão, cartografando não só a sua vida e as suas viagens, mas também as suas relações e a influência que teve noutras personagens importantes do século XIX. O caso das enguias eléctricas situa-se na secção da viagem do naturalista pelas Américas entre 1799 e 1804. Na altura, a dificuldade de apanhar as enguias, conhecidas pelos seus choques eléctricos, levou os habitantes a recorrerem aos cavalos para esgotar a energia das enguias. “A intensidade dos choques eléctricos ia diminuindo e as enguias enfraquecidas fugiam para a lama, de onde Humboldt as retirava com paus”, conta-se no livro. “História bizarra”“A primeira vez que li a história de Humboldt pensei que era completamente bizarra”, diz Kenneth Catania, citado num comunicado da Universidade Vanderbilt. “Por que é que as enguias iriam atacar os cavalos, em vez de nadarem em fuga?” O investigador trabalha com estes peixes, conhecidos por terem no ventre órgãos que lançam descargas eléctricas. Normalmente, estas descargas são usadas para imobilizar as presas dentro de água como se tratasse de uma arma Taser. Mas o ataque aos cavalos é um comportamento de defesa. A curiosidade do investigador foi aguçada quando observou a reacção das enguias eléctricas, da espécie Electrophorus electricus, quando as apanhava num tanque. O cientista usava uma rede com aro e cabo de metal, capaz de conduzir electricidade, e calçava luvas de borracha para se proteger de possíveis choques eléctricos. “De vez em quando, a enguia deixava de tentar fugir e atacava a rede saltando para fora de água enquanto pressionava o ‘queixo’ no cabo da rede, ao mesmo tempo que gerava uma série de choques eléctricos de alta voltagem”, explica o comunicado. Perante este fenómeno, Kenneth Catania tentou compreender o que estava a acontecer. Para isso, usou vários objectos que submergia nos tanques e mediu as descargas eléctricas. O investigador descobriu que as enguias só costumavam reagir a objectos que conduzem electricidade – uma vantagem adaptativa, já que na natureza os animais conduzem electricidade – e observou que quanto menos água havia no tanque, menos hipótese as enguias tinham de fugir e mais atacavam. Além disso, o ataque seguia um comportamento exacto. O objecto tinha de estar submerso. A enguia erguia-se da água e ia tocando no objecto a alturas cada vez maiores. Ao medir a descarga, o cientista verificou que quanto mais alto a enguia tocava no objecto, mais distante estava da superfície da água, e por isso mais forte era a descarga. “Isto permite às enguias darem um choque com uma quantidade máxima de energia a animais terrestres parcialmente submersos que invadem o seu território”, explica o cientista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um dos objectos usados foi uma cara artificial de crocodilo, na qual foi instalada uma rede eléctrica de luzes LED à sua superfície. Sempre que a enguia dava uma descarga eléctrica, as luzes acendiam-se. “Quando se vê as luzes LED a acenderem-se, pode-se pensar nelas como as terminações de nervos da dor a serem estimulados. Isto dá uma ideia de quão efectivos os ataques podem ser”, refere Kenneth Catania. “Muito provavelmente as enguias eléctricas usam um ataque agressivo para se defenderem, porque não podem fugir”, lê-se no artigo. Para o investigador, esta descoberta corrobora as observações feitas por Alexander von Humboldt. “Os eventos ocorreram para o final da época seca, e as enguias estavam presas numa bacia lamacenta”, explica o artigo. “Parece razoável sugerir que Humboldt observou um comportamento semelhante. ”Com as enguias nas mãos, Humboldt e o seu parceiro de viagem, o botânico francês Aimé Bonpland (1773-1858), testaram os choques eléctricos dados por estes peixes das mais variadas formas, sendo eles próprios alvo dos ataques. Como tudo o que era alvo de atenção do naturalista, também este episódio foi integrado na sua visão sobre a natureza. “Ao observar o encontro medonho entre as enguias e os cavalos, Humboldt reflectiu nas forças que, de formas diversas, criavam um relâmpago, ligavam o metal ao metal e moviam as agulhas das bússolas”, lê-se na obra de Andrea Wulf. “Como acontecia tantas vezes, começava por um pormenor ou uma observação e, em seguida, voltava-se para um contexto mais alargado. Tudo ‘flui a partir de uma fonte’, escreveu, ‘e tudo se funde num poder eterno e omnipresente’. ”
REFERÊNCIAS:
Biólogos surpreendidos com animal selvagem de difícil classificação
Um animal semelhante a um lobo foi abatido por um agricultor no estado norte-americano do Montana. As primeiras análises não permitem, porém, identificá-lo como tal. (...)

Biólogos surpreendidos com animal selvagem de difícil classificação
MINORIA(S): Animais Pontuação: 12 | Sentimento -0.09
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um animal semelhante a um lobo foi abatido por um agricultor no estado norte-americano do Montana. As primeiras análises não permitem, porém, identificá-lo como tal.
TEXTO: Há mais de uma semana que especialistas em biodiversidade andam a tentar classificar um animal que foi abatido no estado norte-americano do Montana (noroeste dos EUA). Não é bem um lobo nem um cão, e as dúvidas dos cientistas deram lugar a uma torrente de teorias da conspiração. A 16 de Maio, um agricultor abateu um animal que se aproximava do gado na sua propriedade perto da cidade de Denton. O abate de animais selvagens que representem um perigo para as pessoas, animais domésticos ou de pecuária, é legal de acordo com a legislação estadual. Depois de terem feito as primeiras análises, os biólogos e especialistas em conservação animal não conseguem afirmar com certeza a que espécie pertence o animal abatido. Aquilo que se sabe é que se trata de “uma fêmea jovem e não lactante, e um canídeo”, mas várias características físicas impedem que seja classificado como um lobo. “Os dentes caninos eram muito curtos, as patas da frente muito pequenas e as garras da frente demasiado longas”, notaram os especialistas, de acordo com um comunicado do Departamento de Pescas, Vida Selvagem e Parques (FWP, nas sigla original) do Montana. A ausência de uma classificação óbvia levou, previsivelmente, muitas pessoas a publicarem várias teorias alternativas para explicar a situação, geralmente com poucas bases científicas. Uma das explicações clássicas foi a de que se tratava do “Bigfoot”, uma criatura mitológica muito popular no imaginário norte-americano mas cuja existência nunca foi comprovada. Outros utilizadores das redes sociais sugeriram poder tratar-se de um “homem-cão”. E uma pessoa citada pelo site Great Falls Tribune diz que são criaturas “encontradas todos os dias" e que "o governo abafa todas as notícias”, avançando uma teoria conspirativa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há também quem proponha tratar-se de uma espécie pré-histórica que, afinal, não terá sido totalmente extinta há mais dez mil anos. Para além de tentarem identificar o animal, os responsáveis locais têm também esclarecido a população. Bruce Auchly, do FWP, diz ter ouvido “muitas vezes” a especulação sobre os lobos pré-históricos. “É um animal pré-histórico, tal como os mastodontes ou os tigres de dentes-de-sabre, portanto já não existe”, explica. O departamento reconhece que “as redes sociais foram rápidas a identificar o animal como tudo, desde um lobo a um lobo híbrido, até qualquer coisa mitológica”. “Em vez de tentarem adivinhar”, os especialistas locais enviaram amostras para um laboratório para que o ADN seja analisado, algo que deve ajudar a classificar o animal.
REFERÊNCIAS:
A pintora daqueles animais aristocratas que lhe enchem o Instagram (e os cafés)
Num cruzamento entre a crise e o Largo do Rato, Catarina Rosa reencontrou a pintura. Anos depois nascia o Tail to Tail, projecto de pinturas hiperrealistas que juntam animais à tradição do retrato burguês e nobre, que o acaso levou aos cafés Nicolau e Amélia, mas também à La Paparrucha, para delícia do director de campanha de Trump, e às casas de particulares. (...)

A pintora daqueles animais aristocratas que lhe enchem o Instagram (e os cafés)
MINORIA(S): Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num cruzamento entre a crise e o Largo do Rato, Catarina Rosa reencontrou a pintura. Anos depois nascia o Tail to Tail, projecto de pinturas hiperrealistas que juntam animais à tradição do retrato burguês e nobre, que o acaso levou aos cafés Nicolau e Amélia, mas também à La Paparrucha, para delícia do director de campanha de Trump, e às casas de particulares.
TEXTO: Sabe aquelas pinturas de um cão vestido como um lorde do século XVIII que começaram a aparecer nos cafés da moda de Lisboa? Ou de alguns dos restaurantes históricos da cidade? E que lhe surgem no feed do Instagram, como aquela cadela de cabelo de cor de unicórnio? Que rivalizam com os néones que dizem “Amélia”, com as panquecas coloridas do Nicolau ou com os clientes célebres de La Paparrucha? São fruto do projecto Tail to Tail, que a designer e pintora Catarina Rosa começou num cruzamento entre o sonho de adolescente, a crise da troika e o Largo do Rato. Dois dos cafés mais trendy de Lisboa, tão visitados por portugueses quanto por turistas, tão fotografados quanto elogiados quanto aos seus lanches e brunches, têm a sua identidade cruzada com a do Tail do Tail. Mas poucos o sabem. Nicolau, um salsicha reluzente da Baixa, e Amélia, uma poodle elegante e vaidosa recém-chegada a Campo de Ourique, moram desde sempre nestes espaços que fazem parte de um lifestyle em que se come mesmo com os olhos. Puseram nas redes sociais de clientes e influencers o trabalho de Catarina Rosa, quadros hiperrealistas, antropomórficos e “um pouco surrealistas” em que os animais ganham uma dignidade desconcertante com as suas roupagens e pose tão nobres e a que chama economicamente “tails”. O acaso, depois a necessidade e uma paixão antiga criaram o Tail to Tail, projecto que começou com encomendas de particulares, amigos e amigos de amigos e que dessa rede informal de passa-palavra a começou a colocar no circuito mais empresarial. “Queria ter seguido Pintura mas os meus pais acharam que eu teria de ter um patrono para ter um ordenado”, recorda no seu atelier na zona da Lapa. Acabou a estudar design no IADE. “Nunca mais pintei. Estava há dez anos a trabalhar em design gráfico, já tinha trabalhado em agências e na altura estava numa consultora onde era directora de marketing. Um dia, passei no Rato e vi o anúncio para aulas de pintura. ” Foi aí que encontrou o mestre Vítor, de 80 anos, e foi devolvida à pintura. O cão de um amigo, perfeito e amado nas suas imperfeições, e os exercícios do mestre Vítor seriam o passo seguinte. “Dava-me sempre umas paisagens, umas naturezas mortas, umas senhoras a passear à beira da água. Perguntei-lhe se podia escolher um tema - uma amiga de infância tinha uma pintura gigante à entrada de casa que era um cão vestido de senhora. Quando estava à espera dela, para irmos sair à noite, por exemplo, ficava ali horas a pensar ‘é só um cão’ e achava graça ao protagonismo do cão naquela casa tão linda. ” O tema surgiu a par do aniversário do amigo que tinha um Boston Terrier hermafrodita, sem um olho e com insuficiência cardíaca. Pintou-o “vestido à Camões”. Pouco depois um amigo viu aquele que seria o primeiro "tail" e encomendou um do “seu Boris". "Outro amigo pediu outro da sua cadela Sancha. " Entretanto, surgiu a crise, entrou a troika e foi despedida. Criou uma imagem, um logo, no Instagram começaram a subir os seguidores, e num curso do Centro de Emprego uma amiga fê-la chegar às comemorações do 40. º aniversário do restaurante Laurentina – O Rei do Bacalhau. Pintou um bacalhau de manto, ceptro, coroa e ar sobranceiro. Outra amiga ligou-a ao dono do argentino La Paparrucha e a sua vaca homónima está nas paredes a chamar a atenção de futebolistas ou do director de campanha digital de Donald Trump, Brad Parscale, que se fotografou orgulhosamente com a Paparrucha de Catarina Rosa. Quando a Fugas a visitou no seu atelier, terminava um de vários leões que já pintou a pedido de particulares, prendas de amigos ou familiares - alguns com inevitável temática sportinguista. A meio da conversa, entra em cena Olívia, a sua Boston Terrier de um ano, que simboliza agora aquilo de que mais gosta no seu trabalho. E que vem sobretudo do que faz para particulares, quando há um referente real, um amigo com patas, asas ou cascos. “O que acho mais interessante é a relação com os animais. Que é uma coisa que eu não tinha”, admite. “Aconteceu muitas vezes ir entregar quadros e as pessoas começarem a chorar. Tinha curiosidade de conhecer esta relação e acho que só comecei a honrar o que faço quando percebi o que sou capaz de dar às pessoas. Achava que o que eu fazia não era arte, não é nada de inovador. Isto é técnica e paciência”, diz sobre a minúcia milimétrica de cada pelo, escama ou brilho de jóia destes retratos de família alargada. Há outras pessoas que fazem este tipo de trabalho, recorda, nomeadamente o belga Thierry Poncelet, “que faz restauro e que compra pinturas antigas e lhes põe cabeças de cães - a da casa da minha amiga era dele”. Mas o que “é importante é a reacção das pessoas ao recebê-las. As pessoas vêm o animal retratado e honrado”. Os clientes como a Elements Jewelry procuram-na também para ir procurar emoções - no Dia da Mãe, criou mães-patas, mães-galinhas, mães-corujas ou mães-leoas com jóias de estimação. Outros procuram o insólito - como o programa de Herman José, Nelo & Idália, que pôs vários no cenário há dois anos. O “gingão” Nicolau e a Amélia surgiram através da agência de design que trabalhou as suas identidades, a Obvius Design. A Amélia tinha um perfil claro: “Altiva, espampanante e um bocadinho mais senhora, umas orelhas rosa”. Um terceiro membro da família, o primo Basílio, vai morar em breve no Campo das Cebolas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Tail to Tail é um projecto jovem, com cerca de ano e meio, e as suas criações, que contam a sua própria história, são infinitamente mais famosas do que a sua autoria e que tem seguido um caminho traçado pela circunstância. As perguntas chegam de todo o lado, as encomendas só se concretizam depois de discutido o preço destas pinturas, todas diferentes nos seus tamanhos, pesquisa e detalhe, todas iguais na tinta acrílica e junção de bichos e traje histórico. Com preços a partir dos 900 euros e uma execução média de três semanas, tem pinturas em casas do Chiado ou de São Paulo, no Brasil. Os seus “tails” têm uma dignidade inerente, mas nunca têm mãos. Só luvas. “Não posso pôr mãos de pessoas, o que é demasiado surreal, nem de animal, porque faz-me sempre lembrar o E. T. misturado com os peluches - parece que o animal está mascarado. ” E não está, porque o vestido azul de Amélia com as suas pérolas e camafeu ao pescoço não é uma máscara, é mesmo a roupa da nova coqueluche dos cafés de Lisboa. Qual é o animal que mais lhe pedem para pintar? O cão, de várias raças. E o leão. Já me pediram de tudo, de pinguins a alces. Há imensa gente que pede avestruzes. E tenho três tipos de clientes: os donos de animais que querem o seu animal pintado; pessoas que adoram um dado animal; e pessoas que se querem ver retratadas como animais. Esses dão algum trabalho porque tem muita pesquisa… e as pessoas têm mesmo de ter algum sentido de humor. Qual é o animal mais difícil de retratar e combinar com o corpo humano? O leão é complicado pela juba, que não é certa. É como um cabelo espigado, também como a Amélia. Aquelas orelhas não foram fáceis. Acho mais graça aos animais da quinta. Quanto maior for o contraste mais engraçado acho – uma galinha, uma porca, uma vaca, todas arranjadas… o leão já é apoteótico, vaidoso por ele próprio e não merece tanto como uma porca. O que é que estas criações acrescentam a estes espaços comerciais? Quando ponho os quadros acabados no Instagram ponho sempre uma história que me contam dos animais, é uma coisa que fiz naturalmente porque acho que devo apresentar as personagens. O que acho que aconteceu na Amélia e no Nicolau é que as pessoas adoram histórias. Estão a gostar de brincar com este namoro. E todo este meu projecto tem a ver com isto – com a brincadeira.
REFERÊNCIAS: