Há um português a contar ursos polares no Árctico
Os arquipélagos de Svalbard (na Noruega) e Terra de Francisco José (na Rússia) são parte do habitat dos ursos polares. Tiago Marques esteve lá em 2004, a contá-los, num projecto norueguês. Este ano o biólogo voltou à “imensidão” do Árctico, para avaliar a evolução de uma espécie ameaçada. (...)

Há um português a contar ursos polares no Árctico
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.08
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os arquipélagos de Svalbard (na Noruega) e Terra de Francisco José (na Rússia) são parte do habitat dos ursos polares. Tiago Marques esteve lá em 2004, a contá-los, num projecto norueguês. Este ano o biólogo voltou à “imensidão” do Árctico, para avaliar a evolução de uma espécie ameaçada.
TEXTO: Em pleno oceano, avista-se um urso polar em cima de um icebergue. É inesperado. O que está ali a fazer? As focas não se aproximam dos icebergues. O que comerá se não há focas? Para onde vai? Do que está à espera? Por que não se lança à água? Eles são exímios nadadores… Tiago Marques pensou em tudo isto enquanto tirava “500 fotografias” ao “raio do bicho”. Aparições como esta que marcaram o biólogo em Agosto de 2004, quando foi pela primeira vez contar ursos polares para os arquipélagos de Svalbard, na Noruega, e de Terra de Francisco José, na Rússia, numa expedição do Instituto Polar da Noruega (IPN). “São bichos brutais”, recorda ao PÚBLICO o biólogo, que fez essa expedição no navio de investigação Lance, do IPN, e vai contando histórias desse Verão. “O lixo orgânico vai borda fora. Estávamos no gelo e eles têm um olfacto poderosíssimo. Veio um até ao pé do barco. Estávamos a três metros dele. Está-se cá em cima e aquilo mete respeito. É diferente de ver um no jardim zoológico. Pensei: ‘Se caio ali, sou um figo’. Eles não predam humanos, mas são competidores de topo. Um humano é uma ameaça. ”Durante um mês em 2004, a equipa liderada pelo especialista em ursos Jon Aars, do IPN, onde se incluía Tiago Marques, contou estes mamíferos a bordo de um helicóptero, nas ilhas daqueles dois arquipélagos. Ao todo, percorreram quase 21. 000 quilómetros de helicóptero e encontraram 276 ursos. Através de fórmulas matemáticas, estimaram que existiam então, naquela região, entre 1900 e 3600 ursos polares, o equivalente a 7, 6 e 14, 4% da população de todo o Árctico, calculada em 25. 000 ursos. Aquela população nunca tinha sido contada. Agora, passados 11 anos, a equipa do IPN voltou àqueles territórios inóspitos. Tiago Marques, que trabalha na Universidade de St Andrews, na Escócia, foi de novo convidado para a aventura. Entre 31 de Julho e 1 de Setembro esteve a contar ursos polares em novas viagens de helicóptero, em que o nevoeiro foi um dos inimigos. “Não voámos dois terços do tempo”, relata um dia depois de ter regressado a Lisboa. “Precisávamos de cobrir uma área muito maior do que aquela que conseguimos. ”Outro problema foi a impossibilidade de ir à Terra de Francisco José. “Não tivemos acesso ao território russo. Não há uma razão oficial. Enquanto estivemos na Noruega, um jornal de Svalbard obteve uma reacção da embaixada russa a dizer que o processo ainda estava a ser avaliado”, conta o biólogo. Mas por essa altura Jon Aars já tinha planeado a missão sem a visita ao arquipélago russo. Estas condicionantes dificultaram o objectivo da missão: fazer uma contagem dos ursos polares nos dois arquipélagos e na parte da banquisa (a enorme região de gelos eternos no mar que não derrete no Pólo Norte) junto dos arquipélagos, tal como em 2004. Desta forma, os cientistas poderiam comparar a população actual deste mamífero com a população de 2004 e concluir se, naquela região, o número está estabilizado, a aumentar ou a diminuir. A incerteza de um ursoO urso polar está na categoria “vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, que avalia o grau de risco de extinção das espécies. Não é a pior das categorias, mas uma espécie “vulnerável” está em risco elevado de se extinguir na natureza. No caso deste mamífero, as alterações climáticas, a poluição e a caça são factores de pressão para um animal especialmente importante para os noruegueses. “O urso é um animal muito carismático na cultura norueguesa e é uma espécie indicadora em relação às alterações climáticas. Há um interesse muito forte”, diz o cientista português de 40 anos, que começou por falar com o PÚBLICO antes da viagem ao Árctico. O IPN tem como funções dar informações sobre a situação da fauna, da geologia e da hidrologia das zonas polares. “O objectivo é perceber o que está a acontecer com as populações de ursos polares”, refere Tiago Marques. “Não há nenhuma estimativa robusta global da população, o que se torna ainda mais difícil porque o seu território inclui zonas remotas de vários países. ”Os ursos polares (Ursus maritimus) vivem nas regiões árcticas do Alasca (Estados Unidos), do Canadá, da Rússia (incluindo a Terra de Francisco José), na Gronelândia (Dinamarca) e em Svalbard (Noruega). Em geral, preferem regiões com gelo todo o ano e junto do oceano, onde tenham acesso a focas, o seu prato favorito. Apesar de os cientistas terem estabelecido 19 subpopulações distintas naquele território, estas definições funcionam só para ajudar a gestão ecológica da espécie nos vários países e não reflectem o que são as populações naturais e a movimentação anual dos ursos, já que podem fazer viagens de centenas e centenas de quilómetros por mar. “Não se sabe muito bem se os ursos polares se encontram todos lá em cima [no Pólo Norte], se há troca genética, se depois voltam cá para baixo”, diz Tiago Marques. “Com o degelo do Árctico, os sítios para fazer tocas estão a diminuir”, acrescenta. “Para fazerem tocas, precisam de determinadas zonas com terra e algum gelo. Muitas destas áreas, se houver aquecimento, vão desaparecer e não se percebe quais serão as áreas em que aquelas condições se poderiam formar também. ” Além disso, o cientista antecipa uma diminuição de várias populações de focas. Estima-se que em 2050 a população de ursos polares esteja reduzida a um terço do número actual. Nos últimos anos, Tiago Marques tem estudado principalmente o impacto do uso de sonares no mar para as baleias. Mas em 2004, estava a fazer o doutoramento em metodologia de amostragens de animais por distâncias, também na Universidade de St Andrews. Esta área é importante para qualquer trabalho de ecologia quando se quer saber o número de animais de uma espécie, já que é praticamente impossível contar todos os indivíduos. Por isso, os biólogos usam técnicas em que se conta um número limitado de indivíduos e, a partir de certos métodos, extrapolam o número total da população. Para contar os ursos, os investigadores voaram num helicóptero. O aparelho percorria segmentos de linhas rectas definidos no território que o animal habita – os chamados “transectos”. Depois, no helicóptero, tinham de detectar ursos a olho nu. Quanto mais longe um urso estivesse do transecto por onde passava o helicóptero, mais difícil seria detectá-lo. É a partir desta incerteza na detecção de um urso que se usou a estatística para fazer uma estimativa da população total. “O que é necessário para fazer estimativas de abundância é perceber qual é a probabilidade de um urso estar na amostra. Se tiver contado dez ursos e a probabilidade de ver um urso é de 0, 5 em 1, então é porque havia 20 ursos”, simplifica o biólogo, que acabou envolvido na expedição por mero acaso quando, em 2003, Jon Aars frequentou um curso de amostragem na Universidade de Saint Andrews, para se preparar para a contagem dos ursos. Tiago Marques ajudava a dar estes workshops, juntamente com o seu orientador de doutoramento, Steve Buckland, que foi quem recebeu inicialmente a proposta para ir ao Árctico. “O Jon perguntou ao Steve: ‘Será que não podes ir connosco ao campo? Isto é uma coisa tão grande que dava jeito ter alguém a quem fazer perguntas. ’ O Steve, que era um senhor já em pré-reforma, com uma certa idade, disse: ‘Não consigo, tenho a minha filha, a minha família. ’ E perguntou-me: ‘Ó Tiago, não queres ir ao Árctico?’ E eu: ‘Sim, claro!’ E foi assim…”, recorda o biólogo. “Três metros ao lado estava outro amigo meu, o [investigador] Jon Bishop. Se estivéssemos em posições invertidas, aposto que a pergunta tinha sido para ele. ”Sem escala, nem espaço e tempoA viagem ao Árctico “foi uma experiência absolutamente alucinante”, recorda o cientista sobre a missão em 2004. Tiago Marques descobriu paisagens impressionantes, onde é difícil compreender a escala do que se vê no chão a partir do helicóptero. “Não há ninguém, não há nada, não se ouve nada”, lembra. “O que é aquilo?”, referindo-se a uma cratera. “Foi um vulcão em tempos, os geólogos sabem que existiu, mas provavelmente mais ninguém. Provavelmente ninguém esteve naquela cratera”, especula. “Depois de ter estado ali, as coisas tornam-se mais pequeninas. ”Agora, é atravessado por sensações semelhantes. “Ainda estou completamente no ar. Durante muitos dias tive uma vida muito diferente e agora estou a assentar”, admite. “Foi muito engraçado voltar ao Árctico. É uma paisagem e ambiente diferentes de tudo. Perde-se a noção de escala, do espaço e do tempo. ”Svalbard, que fica a meio caminho entre a Noruega e o Pólo Norte, tem mais de uma dezena de ilhas, três das quais bastante grandes, que perfazem uma área equivalente a dois terços de Portugal. Já a Terra de Francisco José, onde a missão só esteve em 2004, fica a nordeste de Svalbard, tem cerca de 190 ilhas pequenas e uma área equivalente a três vezes o Algarve. A equipa voltou a viajar no navio de investigação Lance durante parte de Agosto, noutra parte esteve num navio da guarda costeira norueguesa. Os helicópteros partiam sempre destes navios para observar os ursos polares, que no terreno saltam à vista, ao contrário do que Tiago Marques antecipava: “A terra é escura e eles são brancos, é como uma borbulha na cara de um adolescente. No gelo é surpreendentemente fácil. Na realidade, os ursos são amarelos e o gelo é branquinho. ”As viagens de helicóptero eram de quatro horas, por turnos, e os transectos variavam entre poucos quilómetros, nas zonas costeiras das ilhas, até longos percursos de 200 quilómetros pela banquisa. Cada vez que viam um urso polar, o helicóptero desviava-se do transecto definido e ia até ao lugar do urso, para registar com um GPS a sua posição. “A nossa estimativa para os ursos polares [em 2004] era para uma área equivalente à da Europa Ocidental, em que 1% é terra”, explica o cientista. “Na altura, tínhamos a ideia de uma coordenação entre os países [onde há populações de ursos] para fazer a amostragem da população total num só ano”, diz Tiago Marques. Quando se soma o número total de ursos polares usando contagens das subpopulações de anos diferentes, corre-se o risco de contar o mesmo urso em locais diferentes, além de se incluírem animais que já morreram e de excluir outros que entretanto nasceram. “Mas coordenar isto seria muito difícil, não sei se alguma vez vai acontecer. ”Em 2004, os biólogos também anotaram uma breve descrição do estado aparente de cada urso polar, que podia estar esquelético ou parecer bem alimentado. Agora, foram mais longe e fizeram biópsias para analisar o genoma de cada animal. Para isso, usaram uma espingarda com um dardo que se enterra na pele do urso e se liberta instantaneamente do mamífero. Depois, o helicóptero aproximava-se do chão e os cientistas apanhavam o dispositivo com uma vara com uma ponta magnética. “Esta análise permite fazer uma classificação rigorosa dos sexos dos ursos e verificar se temos muitas fêmeas sem crias. ”Juntos na banquisaOs ursos polares machos podem chegar a ter 600 quilos e em pé atingem os três metros, as fêmeas pesam cerca de metade. Para aguentar temperaturas que atingem os 45 graus negativos, estes animais têm duas camadas de pêlo e, se bem alimentados, uma importante camada de gordura. Mas o acesso à comida pode tornar-se mais difícil com o degelo. Alguns dos ursos que a equipa encontrou estavam magros, outros bem alimentados. Outro problema é a bioacumulação de poluentes orgânicos. “Os ursos polares estão muito contaminados. Comem focas que comeram peixes, que provavelmente já comeram outros peixes. Já estamos num nivel muito elevado da cadeia trófica, e há uma bioacumulação forte. ” Estas substâncias ficam na gordura e passam para as crias pelo leite. “Os ursos polares são os primeiros a dar um sinal de alarme em relação a problemas, quer de aquecimento global quer de contaminação. O facto de estarem a desaparecer quer dizer que algo não está bem. ”No mês passado, a equipa contou cerca de 140 ursos polares, um número, para já, provisório, que será trabalhado nos próximos meses por Tiago Marques. “Só daqui a seis meses é que teremos uma ideia específica se há mais ursos do que em 2004”, diz-nos. No entanto, como a equipa não pôde ir ao território russo, esta comparação só será para a região de Svalbard, o que empobrecerá esta avaliação. “Tínhamos concluído que cerca de um quarto da população dos ursos vivia na região da Noruega e três quartos na região da Rússia”, explica o biólogo. “Não me parece que seja muito fácil estabelecer comparações em relação à área total. ”Observou-se ainda o que poderá ser um fenómeno novo, que não sido tinha sido visto em 2004. Numa das contagens na banquisa, a equipa viu cerca de 25 ursos polares num trajecto de apenas 100 quilómetros. Tiago Marques especula sobre as causas de tantos ursos numa área tão pequena. Poderá haver uma acumulação de alimento naquelas zonas por causa das correntes marítimas, por exemplo. “A sensação é que, noutro ano qualquer, a área onde haveria um hotspot de ursos seria diferente. Esta zona em particular era a de gelo entre dois arquipélagos. O gelo está a recuar e eles vão-se congregando no sítio com gelo”, interpreta o biólogo. Depois de estudarem este fenómeno, os biólogos poderão desenvolver hipóteses que poderão ser testadas nas próximas vezes que forem ao terreno. Desta forma, peça a peça, vai-se construindo o “puzzle” que revela a ecologia desta espécie e podem fazer-se previsões mais acertadas das consequências das alterações climáticas. Um dos receios dos ambientalistas é que o aquecimento global permita o aumento do turismo, dos transportes, mas também da extracção de petróleo e gás natural no Árctico. E corre-se o risco de haver uma profunda alteração do habitat dos ursos polares, criaturas muito adaptadas ao Árctico e que têm poucas crias durante a vida, características que as tornam especialmente vulneráveis às grandes mudanças que se antevêem para aquela região. Perante este cenário, o urso polar sozinho num icebergue, avistado por Tiago Marques em 2004, é uma metáfora da situação desta espécie: isolada, sem lugar para ir, à espera que o gelo derreta.
REFERÊNCIAS:
Montra para mundos de jogabilidade humílima
Jogo de cenários de carisma memorável, Barmark falha na precisão da forma como é controlado. (...)

Montra para mundos de jogabilidade humílima
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jogo de cenários de carisma memorável, Barmark falha na precisão da forma como é controlado.
TEXTO: Não é o primeiro a fazê-lo, mas Barmark tem como objectivo deixar o jogador estar, simplesmente estar, como quem vai à estreia de um local na sua vida e pára a absorver o que lhe estava reservado — descoberta, absorção, destilação. O pequeno estúdio sueco Stormhatt pensou-o assim e usa esse atributo em amplo destaque, orgulhoso. Não há objectivos nem mortes, não há desafios nem pontuação; o que há é apenas contemplação. Publicado para dispositivos Android e iOS, o jogo não oferece uma estadia contínua, ou seja, quando começamos uma sessão o jogo atribuí-nos aleatoriamente cinco cenários de entre oito possíveis: numa área principal damos uns passos e acedemos ao monólito que serve com portal. Quando estamos satisfeitos de cada cenário, o regresso é feito a essa área comum. É possível aceder ao menu e terminar automaticamente a viagem, recomeçando o processo com a lotaria de mais cinco cenários aleatoriamente. Fica a clara sensação que Barmark é uma obra para ser desfrutada em pequenas sessões, possivelmente resultado de uma equação que levou em conta as plataformas onde foi publicado. Sempre que o jogador visita um destes cenários tem oportunidade de manipular uma alavanca que colocará em funcionamento uma máquina que parece saída de uma obra steampunk — com o jogador a poder regressar a cada um destes micro-universos e fazer o processo inverso, desligando determinada máquina, ou seja, há a possibilidade de fazer combinações, apesar de o processo ficar inteiramente ao critério de quem joga. Cada um destes apetrechos tem uma finalidade: um acrescenta água ao cenário, outro vento, outro dá um toque gelado, outro ilumina o cenário, etc. O mais curioso sobre esta mecânica, sem dúvida a fulcral de Barmark, é que o efeito de cada máquina influencia o cenário onde está alojada e tem repercussões nos cenários vizinhos, o que alimenta o efeito-surpresa de descobrir o que acabamos de fazer à nossa sessão de jogo como um todo. Portanto, em Barmark há liberdade total para se jogar a seu bel-prazer, sem nunca serem expressas ordens certas e erradas de como desfrutar da estadia. Sem nunca colocar em causa esse livre arbítrio, além dos animais de porte normal, os níveis contam com animais especiais — apelidados pela produtora de Archanimals — que pedem que certas de combinações de máquinas estejam activadas; porém, é uma mecânica praticamente tangencial ao cerne do jogo. O problema principal da obra não é querer colocar o jogador num estado zen, nem tão pouco fazer disso bandeira. A falha que coloca em causa essa filosofia é a jogabilidade. O personagem é controlado com as pontas dos dedos, tocando no ecrã o local para onde ele se deve deslocar, algo que falha redondamente em determinados pontos dos cenários. Já se sabe que a exactidão não é a mesma de o ponteiro de um rato numa aventura gráfica. Todavia, em certos momentos, o protagonista parece que ganha âncoras nos tornozelos, ficando preso no cenário e mostrando-se relutante em prosseguir viagem. Por diversas vezes, independentemente de onde se pressione com o dedo, eis-nos presos, eis-nos frustrados — eis-nos num estado de espírito muito longe do zen apregoado, longe da disposição com que começamos a jogar. Esta falha na dinâmica dos controlos é gravosa quando existem outros pontos de interacção por perto, o que confunde a obra e dinamita a confiança do jogador — há um padrão que começa a surgir, um receio de que aconteça novamente se continuarmos com a exploração, pedindo clemência e que seja possível fazer o mais simples: andar normalmente pelo cenário sem sermos bafejados pela frustração. No outro lado do espectro está o deslumbrante grafismo de Barmark. Seja qual for o cenário, seja qual for o momento, sente-se a minúcia com que esta componente foi trabalhada. Como se fosse o resultado de várias técnicas de pintura, as texturas parecem ser um labor artesanal, com a conjugação de tons e de disposição de elementos a ser a sua assinatura. Cada nível aparenta uma temática que foi afinada para ter um impacto no jogador, um gravar na memória desde os primeiros minutos que vai sendo revalidado com o descobrir dos novos locais. O jogo manipula ainda as sombras e os efeitos de luz para dar carisma a cada componente da cenografia. Animais em que se pode clicar, a animação de cada máquina, folhas dançantes ao vento, géiser, enfim, pormenores que fazem Barmark encher os olhos e, sobretudo, que dão um tom próprio à sua folha de rosto. Também acima da média está a sonoplastia, capaz de oferecer um instrumento central a cada situação sem se perder na diversidade; no atirar tudo à parede na esperança que algo resulte. Os sons que ouvimos são clínicos e oportunos, com a recomendação de ser escutados de auscultadores. De técnica carismática, Barmark falha na sua jogabilidade, frustração que acaba em última instância por sabotar a experiência relaxante a que se propõe. O que oferece deverá ser experimentado em várias tomas, pois menos sessões mais prolongadas acabarão por esgotar o filão prematuramente, deixando a aplicação esquecida ou apagada. Mais críticas em VideoGamer Portugal
REFERÊNCIAS:
Teatro Praga inaugura finalmente a sua nova casa, uma casa aberta a todos
A inauguração do novo espaço cultural da companhia está marcada para 6 de Outubro. Programação está feita até Dezembro. (...)

Teatro Praga inaugura finalmente a sua nova casa, uma casa aberta a todos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.045
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A inauguração do novo espaço cultural da companhia está marcada para 6 de Outubro. Programação está feita até Dezembro.
TEXTO: Têm trabalhado aqui nos últimos dois anos, mas só agora é que o DNA, o novo espaço cultural do Teatro Praga, ganha forma, depois de umas obras de reabilitação no edifício número 6 da Rua das Gaivotas, em Lisboa. Se até agora a companhia trabalhava aqui de forma intermitente, a partir do dia 6 de Outubro apresenta já uma programação continuada. Programação, essa, que é composta em grande parte por projectos emergentes. O Teatro Praga gere o espaço onde cabem todos, especialmente aqueles que habitualmente não cabem nos palcos tradicionais. Foi no final de 2012 que a companhia de teatro venceu o concurso público de cedência de espaço da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Em 2013, aqui começaram a trabalhar: ensaiou-se, por exemplo, a revista à portuguesa Tropa Fandanga, e Susana Pomba passou para este local o seu Old School, um programa mensal de curadoria. Mas as condições não estavam ainda reunidas para que ali se instalasse o “centro cultural” que a companhia ambiciona e que ficou contratualizado com a câmara. Dois anos passados, um dos quais em obras, e o Teatro Praga consegue finalmente abrir portas com uma programação desenhada até ao final do ano. O espaço com cerca de 400 metros quadrados divididos em dois andares ainda não está todo operacional, mas já pode ser inaugurado com pompa e circunstância. A menos de um mês da inauguração, ultimam-se os preparativos. O rés-do-chão do número 6 da Rua das Gaivotas cheira a novo, mas precisa ainda de ser limpo e arrumado. “Ensaiei aqui há muitos anos, mal sabia que vinha aqui parar. . . ”, começa por dizer Cláudia Jardim, uma das criadoras do Teatro Praga, durante uma visita informal da imprensa ao espaço, onde o teatro dos Praga será apenas uma das componentes. Este é, aliás, um projecto multidisciplinar que não quer deixar de fora as várias áreas artísticas. A sala de espectáculos, por exemplo, com capacidade para 50 pessoas, tanto pode ser um palco para uma performance artística como para uma projecção de cinema. Ao lado, vai nascer uma biblioteca e um centro de documentação, mas ao bom estilo do Teatro Praga podemos esperar alguma inovação e extravagância. “Não temos a pretensão de fazer uma biblioteca da história das artes performativas”, diz a actriz, explicando que ali se poderão encontrar livros relacionados com o tema. A diferença entre esta e uma biblioteca normal é que ali a organização vai ser feita por cores. “Vai ser a nossa biblioteca cromática. A ideia é que seja caótica, não há organização por tema, obra ou autor”, conta José Maria Vieira Mendes, outra mente por trás do Teatro Praga, explicando que a ideia tem por base a biblioteca pessoal de André e. Teodósio, também criador da companhia. “Queremos que cada procura por um livro seja uma aventura”, diz, explicando que neste espaço vão acontecer também workshops e palestras. Tudo a pensar numa abertura não só ao meio artístico como ao público, principalmente à comunidade ali à volta. “É importante abrir o espaço às pessoas. Queremos desmistificar aquela coisa de que o teatro é sagrado: o teatro é um sítio de pensamento e queremos que venham pensar connosco”, aponta Cláudia Jardim, contando que estão já pensadas várias colaborações com escolas. “A responsabilidade acresce quando a RE. AL e a Cão Solteiro [estruturas vizinhas que perderam este ano o apoio da Direcção-Geral das Artes] trabalhavam tanto em comunidade”, diz Jardim. “Vamos continuar o trabalho que eles fizeram. Eles já tinham posto o comboio em marcha e nós vamos apanhar o ritmo e marcar posição”, continua, afirmando que o objectivo é fazer deste espaço “o centro cultural aqui da zona”, da Avenida D. Carlos I ao Cais do Sodré. A mesma abertura vai existir para artistas e outras estruturas. “Este não é um espaço para os Praga, mas para aqueles que têm dificuldade em arranjar um espaço para ensaiar ou apresentar espectáculos. Há uma geração mais nova que tem cada vez mais dificuldades, é gritante. ” Não é de estranhar, por isso, que a inauguração, a 6 de Outubro, se faça com artistas emergentes, qual mercado onde cada um apresenta o seu trabalho. A companhia chamou-lhe o Meat Market, seguindo-se uma espécie de aulas onde cada interveniente tem cinco minutos para dar a sua lição. Rui Tavares, fundador do partido Livre, e o artista plástico Vasco Araújo são dois dos intervenientes. Rogério Nuno Cosa, Joana Barrios ou André Murraças são alguns dos nomes que compõem a programação deste espaço até Dezembro.
REFERÊNCIAS:
Sobreviver na era da reprodutibilidade do horror
Um romance que viaja de Portugal continental ao Brasil, passando pelos Açores, e que ecoa e problematiza a diáspora judaica (...)

Sobreviver na era da reprodutibilidade do horror
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um romance que viaja de Portugal continental ao Brasil, passando pelos Açores, e que ecoa e problematiza a diáspora judaica
TEXTO: Até para o Ano em Jerusalém é um livro que se constrói a três tempos, os quais correspondem a outros tantos espaços. Todos eles são percorridos — perfurados, feridos — por um outro espaço-tempo, que lhes é uma espécie de eixo, mas também uma orla, definindo um limite e uma irresolução. Numa primeira fase, não propriamente destacada das que se seguem (essa tenuidade de fronteiras será uma constante dos três momentos do romance, a despeito das rubricas, que são quase didascálias, marcando o ritmo e as incidências da narrativa), Portugal fornece o cenário. A partir de um grupo de amigos e conhecidos, com ramificações que se desviam sem nunca muito se afastarem desse microcosmo dentro da realidade nacional — em Lisboa, ou em torno da cidade —, irradiam as linhas essenciais da intriga, mas também os desvios que elas promovem, que, no fim, darão corpo e solidez ao (aqui proposto) tríptico da narrativa. A ideia de um antepassado judeu, de nacionalidade polaca, instala-se como acendalha e motivador que, no entanto, precisará de um outro cenário, de um outro continente, aliás, para se assumir e para que se produzam as condições, a atmosfera, para o lume que vai ser central em Até para o Ano em Jerusalém. Apesar (ou por causa?) do seu relacionamento com Maria Luís, Vicente abandona Portugal rumo ao Brasil, para leccionar História numa universidade. Nesse país se centra o que aqui se designa por segundo ponto do romance — mas que, repita-se, é apenas um dos passos de um contínuo não excessivamente marcado por separações cabais. O fio deixado pendente na primeira entrada é retomado no continente sul-americano, de onde transitará para os Açores, espaço a que a autora regressa, após O Cão das Ilhas(Sextante, 2009) e Too Much (Alambique, 2014). Aí se centrará a resolução do enigma da ancestralidade perdida num passado por desvendar; mas é também lá que se dá o conflito entre as personagens e a ruptura final das duas figuras principais da intriga. O esquematismo da apresentação é inversamente proporcional à consecução da narrativa. As transições, aparentemente abruptas e casuísticas, são decorrências sagazmente tornadas necessárias pela urdidura do enredo e pelas premências que ele motiva. Por esse motivo, a digressão intercontinental, a dispersão da geografia, dos modos e dos sentidos que se criam, acaba por não obstar a uma construção romanesca suficientemente estável para lidar com essas operações de transferência e reformulação no espaço e no tempo — parafraseando a autora, sempre entrelaçando situações. A deriva espacial, que conduz a evolução desde a Europa até à América, e desta para um ponto estrategicamente intermédio entre os dois continentes, as ilhas açorianas, conhece uma espécie de estrutura prévia na errância do povo judeu. Nesse sentido, uma dispersão de carácter vincadamente pessoal e efémero, como a das personagens do romance, é prefigurada pela diáspora judaica. As particularidades subjectivas e circunscritas de Maria Luís, Vicente, David são dispostas de encontro à grelha prévia do destino trágico do povo judeu. Uma palavra — “grelha” — que não pode deixar de fazer pensar em Paul Celan, que, em Grelha da Linguagem, falava do “círculo dos olhos entre as barras” e de “bocas cheias de silêncio”. Estrutura para as palavras e sombra do cárcere, portanto. Descendentes dessa linhagem marcada pela tragédia, Maria Luís ou David não são meros joguetes, nem simples figurantes numa peça que os usasse a seu bel-prazer. São assinalados, obscurecidos, mas também iluminados, por esse passado, que disponibiliza como que uma infra-estrutura sobre a qual edificar a ficção. A dúvida, a curiosidade e o desconhecimento marcam logo as personagens no primeiro momento. As conversas cruzadas entre amigos convocam, por diversas vezes, a cultura judaica, seja pela via mais especificamente dos textos sagrados, seja por meio das artes pictóricas que lhe são congéneres (o quadro Judite e Holofernes, de Caravaggio, por exemplo, é uma presença marcante). Essa inquietação será reformulada já no Brasil. Será mesmo teatralizada, num espectáculo de carácter doméstico, que, na sua natureza aparente improvisada, fortalece a importância desse quadro de referências. Desse estádio entre o religioso e o alegórico passa-se, todavia, para o histórico. Assim se assume a secularização da diáspora, localizando esse movimento no panorama aterrador da perseguição nazi e na anatematização da “lepra” (p. 124) judaica. Esse momento da história vai chamar até si os fluxos da narrativa até então congeminados, pois os antepassados que são alvo da busca que preenche o romance rumaram, no passado, às ilhas dos Açores, onde decorre o último acto de Até para o Ano em Jerusalém. O contraste entre Portugal e o Brasil é feito de forma subtil, opondo, na transição de um para outro parágrafo, duas grafias, dois modos de entender a mesma realidade: “geleia” versus “geléia” (p. 139); ou a presença quase ritualística do chá, do lado português, em contraponto com a cerveja, marcante no espaço brasileiro. Mas nem sequer se evita o acesso mais anedótico, como, por exemplo, pondo nos pratos da balança o Aeroporto António Carlos Jobim e o da Portela e frisando que este nunca “se converteria em António Variações, ou mesmo Marceneiro” (p. 77). Aliás, o que fica atrás dito, acerca da harmonização dos diferentes segmentos, não invalida que os espaços sejam encaixados no tecido da narrativa de forma hábil, mas assinalando os diferentes relevos das peças, por assim dizer. Basta atentar num trecho açoriano como este — “Tu ainda insististe que nunca tinhas visto tanto verde junto emaranhado. Que em Portugal não havia fetos assim, gigantes. É claro que não caiu bem dizer Portugal. ” (p. 180) — para se perceber que a homogeneização ocorre ao nível composicional do romance, e não no plano das suas especificidades locais. Não custa, de resto, perceber que se situa nas sequências açorianas o ponto mais forte deste romance. É notória a dissonância em relação à zona da narrativa localizada em Portugal continental. Tudo endurece, se torna mais denso no romance, na transição de Lisboa para os Açores. A displicência no diálogo, que flui ao sabor caprichoso do acaso e da vontade disseminada de cada falante, numa orgânica infirme, intermitente, de falas sincopadas, dá lugar à estatura quase pétrea da matéria insular. O diálogo faz-se mais austero e grave — quer em termos da sua estrutura, quer em termos da sua semântica. A autora parece mesmo dedicar o melhor da sua arte àquela geografia das ilhas atlânticas, que recebe o mais consumado do seu labor — “Uma visão daninha, uniforme. As facções na ilha dividiam-se. Mas aquele seguia a besta. Trepava pela noite até cima, com as mãos. Mais à frente livrava-se como podia da vegetação maciça e seguia até captar algum som ou onda” (p. 174). Romance de três espaços atravessados pelo espectro de um espaço que diríamos mítico — no sentido em que transcende os limites históricos, mesmo se os conhece —, Até para o Ano em Jerusalém concebe no horizonte da história judaica o padrão organizativo que lhe permite operar uma reflexão sobre o destino que é os destinos todos. A força com que se inserem estes versos — “ Todas as estradas levavam à morte/ todas as estradas” (p. 182) — faz pensar neles, e em todo o romance, como uma imagem, segmentada pelos passos da ficção, do próprio destino da humanidade na sua “condição trágica” (Unamuno) representada na caminhada do povo judeu.
REFERÊNCIAS:
Maior produtora de queijo fresco do país acorda preço mínimo a pagar pelo leite
Com a crise no sector a fazer cair o valor do leite pago aos produtores, a Queijos Santiago acordou um valor mínimo de 32 cêntimos durante quatro anos. (...)

Maior produtora de queijo fresco do país acorda preço mínimo a pagar pelo leite
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a crise no sector a fazer cair o valor do leite pago aos produtores, a Queijos Santiago acordou um valor mínimo de 32 cêntimos durante quatro anos.
TEXTO: A Queijos Santiago, maior produtora de queijo fresco do país, decidiu pagar aos seus 20 fornecedores de leite de vaca um preço mínimo de 32 cêntimos por litro. A medida, que tem a duração de quatro anos, é uma resposta à crise no sector, que se debate com descidas de preços e excesso de produção. Este é, até agora, o único caso conhecido de uma empresa que acordou um preço de referência, medida reclamada pelos agricultores. Em Agosto, o valor pago aos produtores caiu 16% em comparação com o mesmo mês de 2014 e está agora nos 28 cêntimos por litro. Este montante é apenas uma referência, já que os preços variam, nomeadamente, consoante a quantidade produzida (quanto mais se produz, mais o preço cai). De acordo com a Aprolep, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, há quem esteja a receber 23 cêntimos e nenhum destes valores compensa o custo estimado de 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido. “Trabalhamos com os nossos produtores há muitos anos e entendemos que esta deve ser uma relação de parceria e não de oportunidade. O que estamos a fazer é contratar com eles um preço mínimo e um preço máximo por um período de quatro anos. Enquanto o contrato durar, não pagamos nem abaixo de 32 cêntimos, nem acima de 38 cêntimos”, disse ao PÚBLICO João Santiago, administrador do Grupo Santiago, fundado há quase 100 anos em Castelo Branco e com sede na Malveira. A empresa, que estima facturar este ano 40 milhões de euros, emprega 250 trabalhadores, produz diariamente 150 mil queijos frescos e tem 70% da quota de mercado. Aos postos de trabalho directos, juntam-se os indirectos: 1500 produtores de leite de vaca, ovelha e cabra que fornecem quase em exclusividade. Em Agosto, o preço pago à produção caiu 16% em comparação com o mesmo mês de 2014 e está agora nos 28, 1 cêntimos por litro. Este valor é apenas uma referência, já que os preços variam, nomeadamente, consoante a quantidade produzida (quanto mais se produz, mais o preço cai). De acordo com a Aprolep, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, há quem já esteja a receber 20 cêntimos enquanto os custos rondam os 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido. A iniciativa da Queijos Santiago é, por isso, “um bom exemplo”, diz Carlos Neves, presidente da Aprolep. Contudo, “apesar de ser bom ver alguém a puxar para cima”, o valor acordado pode não ser suficiente caso as despesas aumentem, avisa. Numa altura em que se espera pela concretização das medidas de apoio ao sector, João Santiago acredita que o cenário de preços baixos terá de “dar a volta”. E quando isso acontecer, poder-se-á dar o movimento inverso. “O preço pode aumentar e atingir valores especulativos. Para estarmos salvaguardados fazemos agora este esforço face ao mercado. Os clientes continuam a querer que reduzamos o preço dos nossos produtos e em muitos casos tivemos de o fazer. As margens são quase nulas”, admite. Sobre as soluções encontradas para travar a crise que assola os produtores, o administrador da Queijos Santiago sublinha que os efeitos em Portugal “são uma gota de água”. “O país representa zero na produção de leite a nível mundial e penso que neste caso teremos de estar sujeitos às soluções que os outros encontrem. Mesmo num cenário em que o preço da indústria local seja alto é possível encontrar alternativas mais baratas fora”, analisa. Nesta segunda-feira soube-se que, em Espanha, a cadeia de supermercados Mercadona também decidiu aumentar em dois cêntimos o preço do leite à produção e apoiar a sobrevivência das explorações. Esta subida não será reflectida nas prateleiras. Há uma semana milhares de produtores encheram as ruas de Bruxelas em protesto contra a degradação do valor deste alimento. Os produtores de carne de porco também se juntaram, até porque o preço também caiu 12% em comparação com 2014. Há mais de um ano que o embargo russo está provocar excedentes de bens agrícolas no mercado europeu, mas o veto também afectou os Estados Unidos, a Noruega, o Canadá e o Japão. Com o fim das quotas leiteiras a concretizar-se no dia 1 de Abril e a recessão na China a deitar por terra as elevadas expectativas de exportação, gerou-se uma “tempestade perfeita”. Bruxelas anunciou ajudas no valor de 500 milhões de euros que incluem a antecipação de 70% das ajudas da PAC (Política Agrícola Comum) para Outubro. Neste pacote estão incluídas as multas por excedente de quotas, uma medida adoptada pela Comissão Europeia para penalizar os produtores que ultrapassaram os níveis definidos de produção de leite. Na campanha agrícola 2013-2014, por exemplo, oito países excederam a quota (Alemanha, Holanda, Polónia, Dinamarca, Áustria, Irlanda, Chipre e Luxemburgo) e a multa chegou aos 409 milhões de euros.
REFERÊNCIAS:
Espanha sai a ganhar na distribuição dos apoios ao leite face a Portugal
Produtores portugueses dizem que ajuda de 4,8 milhões atribuída pela Comissão para travar a crise no sector é insuficiente e dá menos de mil euros por exploração. Em Espanha chega aos 1700. (...)

Espanha sai a ganhar na distribuição dos apoios ao leite face a Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Produtores portugueses dizem que ajuda de 4,8 milhões atribuída pela Comissão para travar a crise no sector é insuficiente e dá menos de mil euros por exploração. Em Espanha chega aos 1700.
TEXTO: Portugal vai receber 4, 8 milhões de euros de um pacote de 420 milhões definido por Bruxelas para apoiar os produtores de leite e de carne de porco, numa altura de baixa de preços e excesso de produção. Assunção Cristas, ministra da Agricultura, adianta que vai reunir ainda esta semana com o sector para definir como se irá aplicar a verba atribuída a Portugal, que considera “positiva”. Contudo para os produtores a ajuda, mesmo que “bem-vinda”, é curta: dará menos de mil euros por exploração. Fernando Cardoso, director-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Lacticínios (Fenalac), faz as contas: dividindo os 4, 8 milhões pela produção de leite, obter-se-á um apoio de 0, 25 cêntimos por litro. “O preço do leite ao produtor está nos 28 cêntimos, com a ajuda aumenta para 28, 25 cêntimos. Há doze meses estava nos 33. É uma ajuda muito pequena, tendo em conta o que se passou no mercado”, sustenta. Outra questão que deixou os produtores “perplexos” é a disparidade face a Espanha que irá receber da Comissão Europeia 25, 5 milhões de euros. “A produção em Espanha é três vezes maior que em Portugal, por isso, seria de esperar que obtivesse cerca de 15 milhões de euros. Mas houve outros critérios para definir os envelopes comunitários. Espanha tinha uma quota leiteira três vezes superior a Portugal, mas acabou por conseguir verbas cinco vezes maiores”, lamenta. Contas feitas, arrecadou 1670 euros de ajudas por exploração, acrescenta. Os dois países estão “muito interligados” na produção de leite, sobretudo, a região Norte e a Galiza, onde se concentram a maioria das explorações. “Não queremos ver os produtores numa situação de concorrência desleal e vamos chamar a atenção da tutela para esta situação”, esclarece. Cerca de 80% dos 420 milhões comunitários foram distribuídos a cada país com base nas quotas de produção de leite de 2014. Os restantes 20% foram “alocados com base em critérios que garantem assistência adicional a agricultores de Estados-membros que foram particularmente atingidos pela queda de preços na carne de porco e do leite (à produção), com a seca e pelo impacto do embargo russo”, descreve a Comissão Europeia, em comunicado. A Alemanha recebe a maior fatia dos 420 milhões (69, 2 milhões de euros). Seguem-se a França e o Reino Unido, com 62, 9 milhões e 36, 1 milhões, respectivamente. Phil Hogan, comissário de Agricultura, acredita que a fórmula encontrada para distribuir os novos apoios é “justa” e “solidária”. Contudo, deixou claro que estas ajudas são excepcionais, lembrando que não haverá mais fundos provenientes das multas por excesso de quotas. Já Assunção Cristas, ministra da Agricultura saiu satisfeita da reunião e, em declarações ao PÚBLICO, antecipou que vai reunir ainda esta semana com o sector “para ver como será a melhor forma de aplicar a verba” atribuída a Portugal. Cada país terá a “máxima flexibilidade” para direccionar as ajudas que considera mais adequadas. Entre as novidades anunciadas nesta terça-feira por Bruxelas a ministra destaca que, pela primeira vez, haverá financiamento a 100% da armazenagem privada de leite em pó. Este mecanismo serve para reduzir a oferta no mercado e ajudar à recuperação dos preços. A comissão apenas cobria os custos de armazenamento por um período de três a seis meses, no final do qual os produtos seriam de novo colocados à venda. Agora, a ajuda financeira à armazenagem de leite em pó é aumentada em 100% e o período foi estendido para um ano. Em Portugal há sete mil toneladas de leite em pó armazenadas, de acordo com a Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios. “Os agricultores podem agora recorrer a fundos totalmente europeus”, sublinha Assunção Cristas, defendendo que a medida pode ser “muito interessante para o sector”. Ficou também confirmada a antecipação para Outubro de 70% das ajudas previstas na PAC para o sector leite. “Correspondem a nove milhões de euros de ajudas”, adianta. Portaria que dá luz verde à isenção da Segurança Social está a ser ultimadaEm Agosto, o valor do leite pago aos produtores caiu 16% em comparação com o mesmo mês de 2014 e está agora nos 28 cêntimos por litro. Mas de acordo com a Aprolep, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, há quem esteja a receber 23 cêntimos e nenhum destes valores compensa o custo estimado de 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido. A PAC prevê medidas de intervenção pública se os preços caírem até um determinado nível (21, 7 cêntimos por litro no caso dos lacticínios – leite em pó e manteiga). Neste caso, os agricultores podem vender os produtos à Comissão que passa a ser responsável por comercializá-los quando os preços sobem. Contudo, Bruxelas tem recusado aumentar o valor estipulado para esta intervenção pública, argumentando que a crise que afecta os produtores de leite não vai durar para sempre. Além disso, o preço limite de 21, 7 cêntimos foi revisto em 2013 e aumentá-lo daria “um sinal errado ao mercado e os produtores não seriam encorajados a reduzir a produção de leite”.
REFERÊNCIAS:
Afogamento dos direitos humanos no Mediterrâneo
A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada. (...)

Afogamento dos direitos humanos no Mediterrâneo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada.
TEXTO: O que está a acontecer aos migrantes vindos do sul, no Mediterrâneo e às portas das cidades europeias, coloca em cima da mesa com toda a força a questão dos mais elementares direitos humanos. Os relatos dos migrantes vindos do sul daquele mar assustam, chocam, tal é grau de crueldade e maldade contra gente indefesa e incapaz de se defender. Essas levas humanas fogem à miséria, à fome, para acalentar a esperança de poderem continuar a viver. Para eles não haverá grande diferença entre morrerem na Líbia, na Síria, na Etiópia, no Sudão, às mãos sanguinárias do Estado Islâmico, ou no Mediterrâneo, em Calais abocanhados por cães, ao rés de um muro em construção na Hungria, em Viena encerrados em camiões (em condições bem piores que animais), em praias da Grécia, Turquia ou Itália. Pode ser que não morram pelo caminho e que sobrevivam em ”barcos” que os levam à Europa, onde esperam poder continuar as suas vidas em paz e segurança. Fogem ao despotismo e às guerras que incendeiam a região. Fogem ainda de situações em que todos estão contra todos até à vitória do que reunir mais força económica ou militar em territórios retirados ao controlo de Estados saídos do Acordo Sykes-Picot, assinado em 1916. A bandeira do E. I. ergue-se num território maior que o Reino Unido e estende-se o Mediterrâneo na Síria até ao Iraque profundo. Para quem pretendeu justificar as suas intervenções militares ou de outra ordem em defesa dos direitos do homem haveremos de concordar que esses princípios são diariamente espezinhados em toda a região. É o Inverno, a Primavera foi-se. A NATO ao bombardear os sustentáculos do regime que tinha à frente Kadhafi e colocando no poder a oposição fez surgir uma onda de violência imparável entre tribos e bandos armados liquidando os frágeis alicerces do Estado líbio. A Líbia é um imenso território de desordem, saque e caos entre o Estado Islâmico e outros islamistas e outro tipo de bandidos escudados em causas alegadamente religiosasA invasão do Iraque deu origem ao mundo da violência mais brutal entre diferentes comunidades iraquianas criando condições para o E. I. ter tomado o poder em vastas áreas do país incluindo algumas com exploração do petróleo, vendendo-o no mercado negro, alimentando assim o seu poderoso exército capaz de se bater com o exército iraquiano e sírio, como se viu em Faluja, Mosul, Raqa e Palmira. É dever recordar que Bush, Dick Cheney, Condoleezza Rice e Cª, após ter sido desmascarada a falsidade da existência de armas de destruição maciça no Iraque, passaram a defender que a invasão visava proteger os direitos humanos. Ninguém questiona que hoje no Iraque os direitos humanos se encontram em situação bem pior do que estavam durante o regime brutal de Saddam Hussein. A guerra civil síria, aliada à situação caótica no Iraque, na Líbia e em parte no Egito e Tunísia, criam vastas áreas onde o poder ou não existe, ou está nas mãos do Estado Islâmico ou de grupos armados. Nestas zonas o mais elementar direito, o direito à vida, sem o qual os outros não fazem sentido, não está assegurado. Grande parte das populações estão sujeitas a todo o tipo de violência dos poderes de direito ou de facto. Só lhes resta migrar. Morrer a caminho da esperança é diferente de morrer às mãos perversas da crueldade política ou religiosa ou bandidesca ou ainda de todas juntas. Por isso fogem. Mas há o mar que os separa de um continente que veem como terra de liberdade e fartura. O desespero leva-os a riscos terríveis na travessia. E são já alguns milhares que em vez de segurança encontraram a morte no Mediterrâneo; e os que sobrevivem vão encontrar, no continente de grandes revoluções que significaram conquistas incríveis, muros, redes de arame farpado ligado á corrente elétrica, cães. E , também, felizmente solidariedade. São famintos, doentes a necessitarem de ajuda devido a sua fragilidade numa União em que a circulação do capital é livre, mas não a de seres humanos. Os direitos humanos não podem ficar à porta dos países com governos cruéis e obscurantistas só porque os negócios das grandes multinacionais norte-americanas, inglesas, francesas ou italianas dão balúrdios. A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada e que vive do confronto com os países do sul do Mediterrâneo.
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Partidos LIVRE
Evolução das bactérias nos intestinos vale prémio a equipa portuguesa
Revista científica distingue artigo de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência como o melhor do ano. (...)

Evolução das bactérias nos intestinos vale prémio a equipa portuguesa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Revista científica distingue artigo de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência como o melhor do ano.
TEXTO: A revista científica PLOS Genetics anunciou esta quinta-feira a atribuição do melhor artigo científico que publicou em 2014 ao trabalho de investigação de uma equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras. No valor de 5000 dólares (cerca de 4600 euros), o dinheiro do prémio será aplicado em investigação científica. Criado no 10º aniversário da revista internacional, o prémio distingue o nível de excelência científica e o impacto na comunidade de um artigo científico que tenha sido publicado. O trabalho vencedor é um contributo para o conhecimento da evolução das bactérias intestinais dentro dos intestinos e resultou de uma colaboração entre grupos de investigação em evolução, microbiologia e imunologia do Instituto Gulbenkian da Ciência, coordenadas respectivamente por Isabel Gordo, Karina Xavier e Jocelyne Demengeot (https://www. plos. org/genetics-research-prize/). Neste artigo, os oito cientistas agora premiados utilizaram uma metodologia original para estudar a colonização dos intestinos de ratinhos pelas bactérias intestinais Escherichia coli e analisarem a sua adaptação e evolução a este ecossistema complexo, onde coexistem milhares de bactérias de diferentes espécies, explicou ao PÚBLICO Isabel Gordo, que coordenou todo o projecto. “Pela primeira vez, este trabalho mostra que é possível estudar a evolução bacteriana, de forma detalhada e quantitativa, no ecossistema onde estas bactérias vivem [o intestino]. ” Geralmente, as experiências de evolução de bactérias são feitas em condições laboratoriais controladas, mas, como salienta Isabel Gordo, “o intestino é um sistema complexo e muito diferente de um tubo de ensaio”. Para a cientista, este trabalho tem outro importante contributo: “Além disso, pela primeira vez, observámos que os caminhos evolutivos [as alterações genéticas observadas nas bactérias estudadas ao longo de um mês de experiências] foram semelhantes entre ratos: houve um paralelismo na evolução. Foi surpreendente observar isto num ecossistema com esta complexidade e de um modo muito rápido — esta foi para nós a descoberta mais surpreendente. ”Isabel Gordo ressalta que esta última descoberta tem implicações práticas importantes, por exemplo para estudos sobre os efeitos de genes específicos em animais, que deverão ter em conta esta rápida evolução. A colaboração que se estabeleceu entre os grupos de Isabel Gordo, Karina Xavier e Jocelyne Demengeot, de áreas científicas distintas, mas interrelacionadas, foi a chave que permitiu desenvolver este trabalho inovador. “Temos de olhar para o sistema nas suas várias vertentes: a microbiologia e o estudo das relações entre os micróbios; o sistema imunitário e o estudo da interacção entre os micróbios e a o hospedeiro; e a evolução e as alterações genéticas que ocorrem em todas as espécies. ”A investigação que deu origem ao artigo científico foi um começo. As colaborações entre os grupos do IGC e os projectos de investigação nesta área não terminaram aqui. Os três grupos têm continuado os seus trabalhos de investigação usando este novo modelo para estudar a evolução bacteriana nos ratos. “Este artigo foi pioneiro. Com este modelo, podemos agora responder a outras perguntas”, conclui Isabel Gordo. Texto editado por Teresa Firmino
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Palavras-chave comunidade estudo
Numa sala com mosquitos, à espera de um laboratório único na Península Ibérica
Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, aguarda que a criação de um laboratório de alta segurança para artrópodes seja financiada em 800.000 euros. (...)

Numa sala com mosquitos, à espera de um laboratório único na Península Ibérica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151119191858/http://www.publico.pt/1714246
SUMÁRIO: Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, aguarda que a criação de um laboratório de alta segurança para artrópodes seja financiada em 800.000 euros.
TEXTO: A porta abre-se, mas é também preciso desviar uma rede para se entrar numa pequena sala de um laboratório do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa. Lá dentro, estamos rodeados de Anopheles stephensi em diversas fases do seu ciclo de vida: larvas e pupas dentro de recipientes de plásticos rectangulares, e mosquitos dentro de gaiolas tapadas com redes. Este insecto, que vive na região da Índia, pode transportar o Plasmodium falciparum, o famoso parasita da malária. Na natureza, uma picada deste mosquito numa pessoa pode causar malária. Na sala onde estamos, se por acaso um mosquito fugir da gaiola, não há perigo. Estes mosquitos não têm o parasita da malária. O laboratório não está preparado para isso. Mas o IHMT quer mudar esta situação, e tem o projecto de construir a Estrutura de Alta Segurança para Artrópodes In Vivo, uma instalação que terá condições técnicas e de equipamento para produzir, manter e usar para investigação artrópodes que são vectores de doenças. Ou seja, têm organismos que causam doenças nos humanos como a malária, o dengue, a leishmaniose, a doença de Chagas e a febre da carraça. “Seria importante ter a capacidade de fazer investigação com os organismos patogénicos que afectam os humanos”, diz ao PÚBLICO Henrique Silveira, subdirector para a área científica do IHMT e investigador em malária, justificando a razão para esta aposta. De há alguns anos para cá, o instituto tem-se preparado para este avanço. “Vamos poder dar respostas científicas mais interessantes e aumentar a reputação do instituto. ”Não há um laboratório com este nível de segurança em Portugal. Aliás, na Europa, só países como a França, a Holanda e o Reino Unido têm laboratórios de biossegurança de nível III para artrópodes, como aquele que se quer construir em Portugal. Mas a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tutelada pelo Ministério da Ciência, abriu ainda em 2013 o concurso para um Roteiro de Infra-estruturas de Investigação, com o objectivo de dotar o país com instalações nas mais variadas áreas científicas. O IHMT candidatou-se com o projecto do laboratório de alta segurança para artrópodes, coordenado pela investigadora Carla Sousa. Nos resultados do concurso, divulgados em Dezembro de 2014, o projecto teve boa nota, com “recomendação para integração no roteiro”. Depois, foi avaliado quanto à sua sustentação financeira. “A infra-estrutura não é para fazer lucros, mas terá de se pagar. É um critério da FCT, que quer assegurar a sustentabilidade”, explica Henrique Silveira. Esperando pelo dinheiroO instituto já tem o projecto arquitectónico em andamento, já escolheu o edifício que será adaptado para receber a estrutura, onde também está o biotério (instalações com os animais para as experiências científicas) do IHMT. Só falta o dinheiro. “Estamos à espera do financiamento”, diz o biólogo. A FCT diz que dentro de pouco tempo vai abrir o concurso para financiar as infra-estruturas do roteiro. “Abrirá brevemente — espera-se que em Novembro”, diz a FCT ao PÚBLICO por escrito, num email enviado pela coordenadora do gabinete de comunicação, Ana Godinho. E será “dirigido a todas as infra-estruturas que integram o Roteiro Nacional de Infra-estruturas seleccionadas no concurso da FCT”. O dinheiro para todas estas infra-estruturas será “cerca de 200 milhões de euros”, que “corresponde aos montantes apresentados pelas infra-estruturas no concurso FCT”. “Não esperamos que o financiamento seja negado”, espera Henrique Silveira. O projecto irá custar 800. 000 euros, incluindo a adaptação de salas, que terão de ter pressão negativa para que os insectos voadores não fujam para a natureza, e técnicos especializados para manter os vários tipos de artrópodes, e que vão precisar de formação para trabalhar naquele espaço. Henrique Silveira gostaria que o laboratório de artrópodes já estivesse a funcionar em meados do próximo ano. Se o projecto avançar, abrem-se novas possibilidades de investigação. “Podemos providenciar serviços para a comunidade científica nacional e internacional e aumentar as colaborações”, diz Henrique Silveira.
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Antigo bombeiro voluntário fez o transplante mais extenso de cara
Enxerto incluiu orelhas, tubos auditivos e couro cabeludo. Cirurgia não deixou cicatrizes na cara. (...)

Antigo bombeiro voluntário fez o transplante mais extenso de cara
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Enxerto incluiu orelhas, tubos auditivos e couro cabeludo. Cirurgia não deixou cicatrizes na cara.
TEXTO: Uma equipa do Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, realizou um transplante total da cara, do couro cabeludo, das orelhas e dos canais auditos a um antigo bombeiro voluntário. A intervenção foi apresentada como tendo sido o transplante de cara mais extenso de sempre até hoje. Este não é o primeiro transplante total de cara, mas o professor e cirurgião Eduardo Rodriguez, que dirigiu a operação em Agosto, assegurou que vários elementos da intervenção são um avanço. Notavelmente, é a primeira vez que a cirurgia não produz nenhuma cicatriz ou irregularidade na cara (as cicatrizes estão no pescoço e no crânio), explicou o médico, numa conferência de imprensa esta segunda-feira. O resultado foi obtido graças ao trabalho preparatório da operação, que consistiu em retirar uma quantidade importante do tecido do antigo bombeiro antes de lhe ser enxertada a nova cara, explicou Eduardo Rodriguez. A equipa transplantou igualmente fragmentos de ossos, e colocou placas e parafusos, para dar à cara um aspecto simétrico e regular. Os enxertos das orelhas e dos canais auditivos também foram estreias. O cirurgião sublinhou que, neste caso, foram feitos progressos para gerir melhor a reacção imunitária do organismo, que terá de lidar agora com um corpo estranho. O doente, chamado Patrick Hardison, com 41 anos, deverá, ainda assim, ter de tomar medicamentos imunossupressores durante o resto da sua vida. Em Setembro de 2001, quando estava a combater um incêndio num prédio no Mississípi, o bombeiro voluntário sofreu queimaduras na cara, no pescoço e no tronco. Como resultado das queimaduras, perdeu as orelhas, os lábios, grande parte do nariz, o cabelo e as pálpebras. Um milhão de dólaresTrês meses depois da operação, as fotografias de Patrick Hardison mostram uma cara sem cicatrizes aparentes e sem marcas evidentes, a não ser os olhos e as pálpebras que parecem inchados. As fotografias mostram ainda que o seu cabelo e a sua barba crescem agora de forma normal. Ele está agora pronto para se alimentar “normalmente” e a sua fala, embora ainda seja difícil a pronunciação, “irá melhorar significativamente” nos próximos meses, afirmou o cirurgião. “Acabou de comer um kebab”, disse Eduardo Rodriguez, referindo-se ao doente, que não esteve presente na conferência de imprensa. Durante um ano, mais de 150 pessoas organizaram e prepararam esta cirurgia. A intervenção durou 36 horas. Patrick Hardison recebeu a cara de um homem de 26 anos que teve morte cerebral após um acidente de bicicleta em Brooklyn, em Julho. A operação, estimada entre 850. 000 e um milhão de dólares (entre 796. 630 e 940. 000 euros), foi apoiada por uma bolsa especial do Centro Médico Langone, referiu Eduardo Rodriguez. O cirurgião disse que tinha informado Patrick Hardison e a sua família de que a intervenção tinha uma probabilidade de sucesso de 50%, embora a equipa contasse com uma probabilidade de 90%, explicou Eduardo Rodriguez. O doente vai ainda ser operado em Janeiro e em Fevereiro para ajustar os tecidos ao redor dos olhos e da boca, referiu o cirurgião, que defendeu ainda que as técnicas de transplante estão hoje suficientemente avançadas para se começarem a operar feridos de guerra. O primeiro enxerto de cara de sempre foi realizado há dez anos, em Novembro de 2005, em França, por uma equipa de Bernard Devauchelle, do centro hospitalar de Amiens, no departamento de Somme, no Norte de França. Isabelle Dinoire, de 38 anos, foi a primeira pessoa a receber um transplante de cara – ainda que parcial. Tinha sido desfigurada por um cão. O primeiro transplante de cara total, com pálpebras e todo o sistema lacrimal, foi feito cinco anos depois, em Junho de 2010, também em França, no Hospital Henri Mondor de Créteil (Val-de-Marne), pela equipa de Laurent Lantieri. Em 2012, Eduardo Rodriguez já tinha realizado com sucesso um transplante de cara integral a Richard Norris, um norte-americano da Virgínia, vítima de um acidente de caça, em 1997. Em todo o mundo, fizeram-se já mais de 30 transplantes de cara.
REFERÊNCIAS: