Atirador era um dinamarquês de 22 anos inspirado pelos ataques de Paris
Jovem matou um homem num debate organizado por cartoonista que desenhou Maomé e outro numa sinagoga, antes de ser abatido pela polícia. (...)

Atirador era um dinamarquês de 22 anos inspirado pelos ataques de Paris
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150429092254/http://www.publico.pt/1686193
SUMÁRIO: Jovem matou um homem num debate organizado por cartoonista que desenhou Maomé e outro numa sinagoga, antes de ser abatido pela polícia.
TEXTO: O pesadelo que Paris viveu em Janeiro começou na manhã de dia 7 e só acabou quando os três suspeitos de vários ataques que fizeram 17 mortos foram abatidos pela polícia, no final do dia 9. O de Copenhaga teve início com 30 disparos contra um centro cultural onde decorria um debate sobre “Arte, blasfémia e liberdade”, que era também uma homenagem às vítimas do Charlie Hebdo: 14 horas depois, na madrugada de domingo, a polícia anunciava ter morto a tiro o suspeito atacante. No debate, organizado pelo sueco Lars Vilks, ameaçado desde que em 2007 assinou uma série de cartoons onde Maomé surgia com cabeça de cão, foi morto um documentarista que estava na assistência. Ao início da madrugada, o mesmo suspeito atacou a principal sinagoga da cidade onde decorria uma cerimónia. “Estamos a trabalhar a partir da hipótese de que esta pessoa tenha sido inspirada pelos acontecimentos no Charlie Hebdo, em Paris”, o jornal satírico que foi o alvo principal dos atentados de Janeiro, afirmou Jens Madsen, chefe dos serviços secretos dinamarqueses. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, também sublinhou “o mimetismo da sequência dinamarquesa com os atentados em Paris: “Primeiro, um ataque contra o símbolo da liberdade de expressão, depois um ataque contra judeus, em seguida o confronto com a polícia”. O suspeito atacante foi morto depois de ter disparado contra os agentes, alertados para um apartamento perto da estação de comboios de Norrebro, um bairro multicultural dos subúrbios. Foi a descrição de um taxista que terá transportado o atirador depois do primeiro ataque a conduzir a polícia ao local. As autoridades divulgaram que o atirador era dinamarquês de 22 anos conhecido por actos de violência, ligações a gangs e posse de armas, mas não divulgaram o seu nome. Segundo o jornal Ekstra Bladet, trata-se de Omar el-Hussein, que tinha saído da prisão há duas semanas, depois de cumprir pena por apunhalar um jovem de 19 anos. Hussein faria parte de um gang conhecido como Brothas, que actua precisamente no bairro popular de Norrebro. As autoridades tinham inicialmente admitindo que o atacante tivesse sido influenciado “pela propaganda islamista do Estado Islâmico e de outros grupos terroristas”. A Dinamarca é actualmente um dos países de onde mais jovens saem para combater ao lado de jihadistas no Iraque e na Síria. No café do centro cultural onde decorria o debate de sábado à tarde – alvo de vigilância especial pela presença de Vilks –, foi morto Finn Norgaard, um realizador de 55 anos. Três polícias ficaram feridos. Na sinagoga de Copenhaga, quando um homem chegou e começou a disparar, foi morto Dan Uzan, um membro da comunidade que estava de guarda ao local onde se realizava uma cerimónia de confirmação. Tal como aconteceu a seguir a Paris, quando um cúmplice dos irmãos que atacaram o jornal satírico Charlie Hebdo fez quatro mortos numa mercearia judaica, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, voltou a convidar os judeus da Europa a irem para Israel. “Israel é a vossa casa”, disse, em Jerusalém. “Apreciamos o convite, mas somos dinamarqueses, este é o nosso país”, respondeu Dan Rosenber Asmussen, presidente da Associação Judaica da Dinamarca. Há uma década que a Dinamarca temia, e esperava, um ataque deste tipo: Desde que o jornal Jyllands Posten publicou 12 cartoons com o Profeta, incluindo um onde o turbante de Maomé estava transformado numa bomba, em Setembro de 2005. Na altura, a publicação desencadeou protestos que fizeram pelo menos 50 mortos em vários países muçulmanos, houve ataques contra embaixadas dinamarquesas e boicotes aos produtos de algumas das suas empresas. Tal como Charb (Stéphane Charbonnier), director do Charlie Hebdo, Vilks figurava numa lista antiga da Al-Qaeda de “alvos a abater”. O mesmo acontece com Kurt Westergaard, o autor do cartoon do turbante. “A pequena audiência experimentou medo e horror – e tragédia”, escreveu no seu blogue Vilks, que já foi alvo de ataques e conspirações para o matar. “Enquanto nação, vivemos uma série de horas que nunca vamos esquecer”, afirmou a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt. “Provámos o sabor horrível do medo e da impotência provocado pelo terror. Mas também respondemos, como uma nação. ”Ao longo do dia, milhares de dinamarqueses foram até à sinagoga da capital deixar ramos de flores. “Somos um país pequeno e estas coisas não acontecem aqui”, disse à Reuters o estudante Frederikke Baastrup. “Vamos fazer todos os possíveis para proteger a nossa comunidade judaica”, disse ainda a chefe do Governo. Mas Thorning-Schmidt sublinhou que os desafios que o seu país enfrenta não têm como responsável o islão. “Esta não é uma batalha entre o islão e o ocidente, nem uma batalha entre muçulmanos enão muçulmanos, é uma batalha entre os valores da liberdade dos indivíduos e uma ideologia obscura. ”
REFERÊNCIAS:
O extraordinário Michel Houellebecq
Tragico e cómico, o escritor polémico torna-se actor funâmbulo em dois filmes extravagantes, Experiência de Quase-Morte e O Rapto de Michel Houellebecq. (...)

O extraordinário Michel Houellebecq
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.333
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tragico e cómico, o escritor polémico torna-se actor funâmbulo em dois filmes extravagantes, Experiência de Quase-Morte e O Rapto de Michel Houellebecq.
TEXTO: Está obcecado pela morte. Largar tudo, fugir, desaparecer. Esta tristeza existencial tem um corolário, surpreendente mas previsível: é cómica, muito cómica. Sabemo-lo bem, há muito tempo: todos aqueles que nos fazem rir, simples pessoas próximas ou vedetas do humor, são, muitas vezes, seres que sofrem. No fundo, os palhaços são sempre tristes. Michel Houellebecq, o escritor, tornou-se actor pelo tempo de dois filmes. Dois filmes extra-terrestres (poderia ser de outro modo com ele, criatura genial e fora do seu tempo?), lançados ao mesmo tempo. Duas longa-metragens, duas narrativas muito diferentes e, no entanto, um mesmo actor que explode no ecrã, habitado por uma comicidade subtil e afundado num abismo de melancolia poética. Experiência de Quase-Morte: uma abertura crepuscular. Durante dois minutos e meio, uma trovoada e a noite convidam à introspecção, à imobilidade animal perante o cenário do dilúvio. E, de repente, estamos num restaurante de província. Ao balcão, Michel Houellebecq bebe um pastis, troca algumas palavras com outros circunstantes e continua a beber. Está fisicamente esgotado, o rosto exaurido, tocante. Reencontramo-lo na rua, ao sol, imóvel, como que em choque. Volta a casa visivelmente exausto e reencontra a mulher, os filhos, cujos rostos não vemos. Gritinhos das crianças, frases banalíssimas trocadas com indiferença. O cão ladra no vazio, Houellebecq fuma, Houellebecq espreme uma embalagem de vinho tinto até dela extrair a última gota. Degradação. Em seguida, de novo, a noite. Houellebecq diz à mulher que vai sair, mas não demora. Monta na bicicleta, envergando um equipamento coleante e fluorescente, ridículo. Começa a rolar, sai do campo da câmara, que permanece fixa. E parte. A fuga começou. O resto do filme vai desenrolar-se no sumptuoso cenário de uma montanha quase deserta, onde o herói vai tentar fugir à sua medíocre condição de empregado sobrecarregado de call-center em pleno esgotamento, e ir ao encontro de uma fada imaginária, Endorfina, tentando várias vezes o suicídio. Mas a busca é difícil e Endorfina não oferece a sua morte doce ao primeiro que aparece. . . Poema colectivoBenoît Delépine é co-realizador de Experiência de Quase-Morte com Gustave Kervern, figuras do humor francês, anticonformistas e contestatários: “É um poema colectivo filmado. Éramos um grupo muito pequeno e pacífico, passávamos horas sem falar no meio daquela montanha magnífica, numa espécie de regresso ao fundamental. Não tínhamos a pressão do sucesso porque queríamos realmente fazer um poema fílmico. Graças à voz off [Michel Houellebecq], o poeta fala. Também queríamos que isso se visse na imagem, e sobretudo não queríamos um olhar clínico sobre o black-out. Mostramos uma busca espiritual que não é religiosa nem está ligada a um qualquer deus, mas etérea, ligeira. O filme chama-se Experiência de Quase-Morte porque Michel Houellebecq brinca, no sentido lúdico, com a morte. Há também uma segunda leitura que ofereço. Ao ler os testemunhos de pessoas que tiveram uma verdadeira experiência de quase-morte e regressaram, vemos exactamente isso: algo muito luminoso, um bem-estar, o passado que volta, anjos, etc. Fizemos uma mistura de todas essas narrativas. ”O filme está marcado por uma tal melancolia e lentidão, e até por uma tal tensão subjacente, que se poderia pensar ser perigoso mostrá-lo a alguém que não estivesse de bem com a vida. “Mas não é esse o caso, de modo nenhum. Tivemos reacções espantosas como: 'Obrigado, isto evitou-me dez anos de psicanálise!' Na altura, a minha mulher teve uma grande depressão e tive medo de lhe mostrar Experiência de Quase-Morte. Mas quando o viu, pelo contrário, recuperou a energia. . . e, depois, há coisas bizarras: uma enfermeira que cuida de pessoas em estado terminal disse-me: 'Finalmente, vejo falar da morte como a conheço há anos. '”Houellebecq é claramente a chave do êxito deste momento cinematográfico tão atípico. Não cessamos de nos admirar com as suas capacidades de representação, quando o conhecemos como grande escritor e figura polémica e introvertida até ao mutismo. “É muito fácil conviver com Michel Houellebecq. Sentamo-lo numa pedra e ele é capaz de lá ficar durante duas horas sem se mexer, perdido nos seus pensamentos. Nunca tem caprichos, nunca há tensão. Entre cenas, conversamos. Não é uma pessoa complicada. À noite, tínhamos discussões espirituais. Há uma coisa estranha: eu perdi a minha mãe durante a preparação do filme, o Michel perdeu o pai e Gustave Kervern perdeu uma pessoa próxima durante a montagem. Atravessávamos todos, portanto, uma fase reflexiva. Juntos, naquela montanha, vivemos um grande momento de apaziguamento. ”Esta maleabilidade do escritor tornado actor vai muito longe. É filmado muitas vezes em planos muito próximos e acabamos, afinal, por encontrar beleza no seu rosto telúrico e acabado. Vemo-lo suar, arfar, tossir, vomitar baba, a cara contra o solo rugoso, comendo terra. . . Benoît Delépine ainda está espantado: “Extraordinário. Há anos que andava a pensar no Michel. Isto teria sido impossível com outro actor. Aliás, tivemos uma recusa de um actor conhecido, para quem era impensável fazer aquelas cenas humilhantes. Com o Michel, em nenhum momento houve a mínima recusa. Nunca se queixou, mesmo nas cenas mais físicas, apesar de fumar muito e de não praticar desporto há 16 anos! Optámos por uma imagem muito granulosa, como a de uma velha câmara, nada da precisão da alta definição de hoje. Em alta definição, seria horrível. Levámos algum tempo a escolher o grão para obter este lado pictórico. O rosto de Michel é espantoso e nele reside o interesse do filme: é desconhecido. Com um actor conhecido, seria cansativo para o espectador vê-lo sempre em grande plano. O Michel, ele, tem graciosidade, é um bailarino. ”Experiência de Quase-Morte estreou-se em França muito antes da recente e estrondosa polémica sobre o último livro de Michel Houellebecq, Submissão, que esta semana é editado em Portugal e que imagina uma França islamizada, com um presidente muçulmano no poder e a xaria como nova lei da república. Não podemos deixar de inquirir Benoît Delépine sobre o assunto. Teria feito o filme após a polémica e as acusações de islamofobia contra Houellebecq, ele, o realizador tão à esquerda? “Esse não é um problema nosso. Veja [Gérard] Depardieu e Putin. Deus sabe que Putin está nos antípodas de tudo o que eu penso e, contudo, também trabalhei com Depardieu. Isso não fere em nada o seu talento. Tanto ele como o Michel são pessoas formidáveis do ponto de vista humano, as mais espantosas do mundo. Faz parte do jogo. Eu, que sou um ateu confesso, fui escrever este filme para um mosteiro em Poitiers, longe do mundo. Quando tive discussões algo espirituais com o Michel, não me parecia estar a falar de religião, mas de ficção científica. Somos ambos fãs de ficção científica. O Michel foi depois para esse mosteiro que lhe recomendei e que encontramos em Submissão. Na verdade, não devemos tomar tudo pelo valor facial. ”Retrato inesperadoGuillaume Nicloux, realizador de O Rapto de Michel Houellebecq, também faz um julgamento severo da acesa polémica que eclodiu em simultâneo com o atentado, em Paris, contra o Charlie Hebdo – que, por funesta coincidência, fazia uma capa fustigando a alegada islamofobia do escritor no dia em que parte da redacção foi assassinada por terroristas. Guillaume Nicloux teria feito exactamente o mesmo filme, sem mudar nada, se o tivesse realizado depois desses acontecimentos: “Não leio a imprensa, não ouço rádio, não vejo televisão. Estou protegido desses excessos habituais. Retrospectivamente, tenho, de resto, a impressão de que tudo isso está esgotado. Tinha a vantagem de ser amigo do Michel há muito tempo e conhecia-o como um homem alegre, cáustico, com sentido de humor – nada a ver com os estereótipos veiculados pela comunicação social. Quis propor uma visão dele mais vasta e, espero, liberta dessa redução mediática. Conheço-o intimamente e, portanto, quis fazer um retrato inesperado dele. ”E conseguiu. Descobrimos um Houellebecq com uma força cómica incrível. Cada uma das suas palavras e das suas atitudes, que julgávamos conhecer de cor pelas aparições na televisão, ganha uma dimensão de comicidade totalmente inesperada, revelando, se tal fosse ainda necessário, a complexidade, a densidade, a multiplicidade do escritor, que neste filme desempenha o seu próprio papel. “O Michel não sabia que conseguia ser tão engraçado. Descobriu-o na primeira projecção mundial, no Festival de Berlim, perante duas mil pessoas. 'Olha, as pessoas gostam de mim porque faço rir. . . ' Era uma coisa nova para ele. ”O Rapto de Michel Houellebecq tem como ponto de partida um acontecimento real datado de 2011, quando o escritor está em plena promoção de um livro. Houellebecq desaparece de um dia para o outro, desencadeando um frenesim mediático e todo o tipo de especulações, algumas absurdas, ao ponto de ver nisso a mão da Al-Qaeda. Os motivos do desaparecimento permaneceram envoltos em mistério e, apesar de Guillaume Nicloux conhecer a verdadeira história, não faz mais que dar-nos a “sua” versão num filme que se diverte a confundir a realidade (com o realismo de um documentário), com o álibi de ser ficção: “Cada um é ele próprio no filme. Há o lutador, o culturista, o estrangeiro, etc. O que me interessa é confrontar universos completamente diferentes e observar a colisão dos pontos de vista, gerar confissões, comicidade. Fujo da 'representação'. Instaurei um clima que permite às pessoas serem elas mesmas e esquecer que estão a fazer um filme. ”No filme, Houellebecq é raptado por três cromos improváveis e sequestrado numa cabana perdida no meio de uma ruralidade sórdida. Desse choque entre mundos nasce uma profusão de situações risíveis e, por vezes, comoventes, com uma obsessão para o escritor: que lhe devolvam o seu isqueiro, pois já não aguenta ter de pedir lume de cada vez que lhe apetece fumar: “Luuuumeeee!!!”, acaba por berrar, de cabelo hirsuto e algemas nos pulsos. Parece uma evidência uma vez na tela mas, para captar esses momentos hilariantes, hiper-realistas e corrosivos, o realizador utilizou inúmeras estratégias: “É um misto bastante singular de escrita e improvisação. Havia uma estrutura narrativa muito precisa, com um esqueleto cinematográfico tradicional, mas introduzi amplos espaços de liberdade para que o improviso pudesse fluir. Outra técnica consistiu em dar um texto a certas personagens, e não dar às outras. Obtinha assim uma dinâmica variada de onde pudesse resultar a incongruência. Por fim – e isso não se ouve na montagem final, porque o retirei –, dava frequentemente instruções em voz alta durante os takes. ”E, seguramente, também a extraordinária espontaneidade de Houellebecq, que não é um actor profissional: “Trabalhei de forma não convencional, para começar, na ordem cronológica da história. Depois filmava em continuidade e em take único, com quatro câmaras, o que dá um resultado muito impulsivo e naturalista. ”Porém, se O Rapto de Michel Houellebecq é um filme bastante cómico, não deixa de tratar temas profundos e pesados, tal como Experiência de Quase-Morte. Eis um ponto comum, provavelmente inspirado pela personalidade do escritor. Mais uma vez, o palhaço triste. “Tinha vontade de abordar os temas dos meus filmes anteriores: a filiação, a busca existencial. Somos todos fruto do caos, dos danos causados pela família, eu e tantos outros. ” Também ele descreve um homem singular, calmo e de trato fácil: “Falamos de coisas das nossas vidas, por vezes muito banais. Entre amigos, fugimos do 'sensacional'. Podemos rir, discutir, falar de tudo. Menos do filme. Nunca falo do filme com as minhas personagens. ” Com Houellebecq, pode fazer-se tudo sem que ele se zangue. Mesmo estar realmente bêbedo quando interpreta uma personagem embriagada (pois bebe e fuma sempre muito neste filme)? “[Risos] Bem, sim, é o que é divertido no pressuposto do filme: fuma-se droga, bebe-se, conduz-se depressa, fazem-se coisas proibidas. Há as cenas de amor com Fatima. Vivemos realmente no meio mais mentiroso do mundo. É prático, o alibi da ficção, porque mesmo que o tenhamos feito de verdade, podemos sempre dizer que não era. . . ”Ninguém pode prever que êxito terão estas obras excêntricas. Em primeiro lugar, porque saem ao mesmo tempo, com a aposta numa pedra angular absoluta que é o único Michel Houellebecq, personalidade que tanto fascina como choca. Depois, porque o público só se desloca maciçamente quando lhe dão o que está habituado a receber, e aqui são-nos propostos dois objectos singulares. Por último, porque eles se querem intimistas, de pequeno orçamento – e, no entanto, tão ricos de revelações sobre o escritor e sobre as nossas vidas. Não obstante toda a vontade dos seus realizadores de revelar um rosto mais autêntico que a sua imagem mediática falseada, o espectador sairá da sala maravilhado, mas perguntando-se ainda – e poderia ser de outro modo? – quem é Michel Houellebecq.
REFERÊNCIAS:
União Europeia autoriza cravos lilases transgénicos
Várias variedades de milho, soja, colza e algodão receberam também luz verde da Comissão (...)

União Europeia autoriza cravos lilases transgénicos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Várias variedades de milho, soja, colza e algodão receberam também luz verde da Comissão
TEXTO: A União Europeia autorizou nesta sexta-feira a importação de comercialização de 19 organismos geneticamente modificados, entre os quais dois cravos de cor lilás. No seu ADN foram inseridos genes de outras flores para serem capazes de transformar o pigmento vermelho antocianina no azul que é raro encontrar na natureza, e assim dar origem a cravos de uma cor inesperada. Estas autorizações surgem dois dias depois de a Comissão liderada por Jean-Claude Juncker ter proposto uma reforma que, se for aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho de Ministros da União Europeia, permitirá aos 29 Estados-membros proibirem determinados organismos geneticamente modificados (OGM) no seu território, mesmo que tenham sido aprovados após avaliação pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês). Os países que exerçam esse direito, no entanto, terão de justificar a sua decisão sem usarem como argumento questões ambientais ou relativas à saúde que já tenham sido avaliadas ao nível europeu. Há 42 outros produtos transgénicos (com genes de outros organismos) à espera de aprovação da Comissão Europeia, mas aqueles que agora foram autorizados estavam só à espera de uma decisão final, depois de terem recebido luz verde da EFSA. São autorizações de importação e comercialização, e não de cultivo. Há variedades de algodão, de milho e de soja, e também de colza – uma planta de cujas sementes se extrai o óleo de colza, ou canola, como foi baptizado o óleo produzido através de uma variedade transgénica canadiana. A autorização agora concedida é imediata e válida por dez anos. As autorizações de importação e comercialização destes organismos estavam suspensas porque os Estados-membros não tinham chegado a um entendimento para constituir uma maioria a favor ou contra a sua comercialização. Apenas uma variedade transgénica está autorizada para cultivo neste momento na Europa, e precisamente em Portugal e Espanha: o milho MON810 produzido pela multinacional Monsanto. Nos produtos humanos há muito pouco que seja autorizado de OGM, mas o mesmo não se passa na alimentação animal. Segundo a Reuters, 60% das necessidades da UE em proteínas vegetais para alimentar o gado são satisfeitas por soja importada de países onde está muito espalhado o cultivo de soja transgénica.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
O tigre e o jacaré, ou a vida real filmada pelo cinema no IndieLisboa
Numa das melhores competições de sempre do festival, uma mão-cheia de “ficções do real” constroem-se a partir do mundo à sua volta. E a melhor delas é brasileira: Ela Volta na Quinta (...)

O tigre e o jacaré, ou a vida real filmada pelo cinema no IndieLisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa das melhores competições de sempre do festival, uma mão-cheia de “ficções do real” constroem-se a partir do mundo à sua volta. E a melhor delas é brasileira: Ela Volta na Quinta
TEXTO: Dizer que a realidade é mais estranha que a ficção tornou-se num lugar-comum. Afinal, quantos achariam há uns anos atrás que Hollywood passasse a basear todo o seu modelo de negócio em filmes de super-heróis, como se o cinema não passasse de um negócio de feira?Enquanto isso, há quem guarde um tigre e um jacaré no 21º andar de um bloco de apartamentos do Harlem nova-iorquino. Parece ser o tipo de coisa de que só o cinema se lembra, mas aconteceu mesmo na vida real e serve de pretexto para falarmos de uma das mais intrigantes linhas de programação do IndieLisboa 2015: a presença cada vez mais forte na sua competição internacional dos chamados “cinemas do real”, filmes que diluem deliberadamente a fronteira entre “ficção” e “documentário”. Se é no DocLisboa que se tem sentido uma atenção mais regular aos cinemas do real, a verdade é que, dos onze títulos a concurso no Indie 2015 – e é um dos concursos mais fortes de sempre do certame -, quatro instalam-se propositadamente nessa “terra de ninguém”. Contam histórias que são verdadeiras embora não tenham acontecido exactamente assim, ou que não são verdadeiras mas podiam ter sido. Vêm dos quatro cantos do planeta e a sua proximidade em termos de produção e estilo é significativa do que se passa no mundo real onde o cinema não precisa de super-heróis para falar ao seu público. Comece-se mesmo pela história do tigre e do jacaré: o nova-iorquino Antoine Yates teve mesmo durante alguns anos um tigre e um jacaré, a que chamou respectivamente Ming e Al, no seu apartamento do Harlem, e que foram descobertos em 2003. O artista plástico britânico Phillip Warnell conta essa história como ponto de partida para questionar ideias de inocência, natureza e civilização na sua longa Ming of Harlem – Twenty One Storeys in the Air (Culturgest, domingo 26, 21h30; Ideal, quarta 29, 22h00). O filme é francamente interessante nas suas “pontas” documentais, que acompanham Yates a regressar aos seus velhos poisos nova-iorquinos e recordar a sua relação com Ming. A secção central, contudo, é enfurecedora: espantosas imagens do tigre a habituar-se à casa (filmadas em 2014 num apartamento simulado na segurança de um jardim zoológico), por si só fortíssimas na sua abordagem falsamente documental, aparecem sonorizadas por um texto insuportável do filósofo Jean-Luc Nancy que leva, infelizmente, Ming of Harlem para o ensaio abstracto. Daqui passamos para as ficções semi-improvisadas com actores na sua maioria não-profissionais. Da Eslováquia chega-nos Koza (São Jorge, sábado 25, 16h00; Ideal, segunda 27, 22h00), onde Ivan Ostrochovsky filma o antigo boxeur olímpico checo Peter Baláz numa ficção inspirada pela sua própria vida. No filme, Baláz vive de biscates e ensaia um regresso aos ringues para ganhar o dinheiro suficiente para pagar o aborto da namorada; na vida real, era um sem-abrigo que a demorada produção do filme (quatro anos) permitiu manter à tona e devolver a uma vida normal. Ostrochovsky, que havia anteriormente filmado um curto documentário sobre o boxeur, desenvolve Koza como uma ficção clássica sobre a exploração do homem pelo homem que se parece construir pacientemente sob os nossos olhos, mas o resultado final não traz sinais particulares que o distingam do neo-realismo pós-moderno na senda dos irmãos Dardenne. É, aliás, um pouco esse o problema de Sivas (Culturgest, quarta 29, 19h00; Ideal, sexta 1, 22h00), do documentarista turco Kaan Müjdeci, ainda assim mais sólido do que Koza. A história de um miúdo que recupera um cão de combate como atalho para a sua aceitação e respeito é uma ficção sem complacências baseada na realidade da Anatólia rural e na própria experiência do realizador a filmar a região, contaminada por um olhar atento às tradições e jogos de poder locais que se mantém sempre à altura do seu herói (Dogan Izci, um miúdo não-profissional com uma presença de fazer inveja a muito veterano). Tanto Koza como Sivas evitam o exotismo sórdido, mas escorregam em demasia para a gaveta do “filme de festival” que se está a tornar numa armadilha perigosa. Sobra o mais estimulante e convincente destes exercícios - tanto mais estimulante quanto marca a constante “pontaria” do Indie na divulgação dos novos talentos do cinema do “país irmão”. Depois de Kleber Mendonça Filho (O Som ao Redor) em 2012, Marcelo Lordello (Eles Voltam) em 2013 e Renata Pinheiro (Amor, Plástico e Barulho) em 2014, é a vez de André Novais Oliveira com Ela Volta na Quinta (São Jorge, terça 28, 21h45; Ideal, sábado 2, 22h00), exemplo perfeito do que deve ser uma “ficção do real”. O que aparenta ser um documentário sobre o quotidiano dos pais do realizador revela-se rapidamente ser uma ficção encenada, inspirada por factos verdadeiros e interpretada pelos próprios intervenientes. Ela Volta na Quinta mantém intacta a curiosidade e a disponibilidade do olhar documental (onde uma coisa tão simples como uma amolgadela num frigorífico pode ser um ponto de partida), mas usa-o como motor de uma ficção montada com estonteante naturalidade, uma estafeta entre os modos diferentes como os Novais Oliveira (pai, mãe e dois filhos) vão reagindo, enquanto indivíduos, às questões que os afectam enquanto família. É um dos momentos altos de uma das melhores secções competitivas de sempre do Indie, no exacto ponto intermédio entre a ficção desenvolta e fresca de Güeros, do mexicano Alonso Ruizpalacios, e o magnífico documentário-ensaio de Jean-Gabriel Périot, Une Jeunesse Allemande. E não são precisos super-heróis para chegar lá; basta só gente real.
REFERÊNCIAS:
Criada rede que retém petróleo mas deixa passar água
Rede de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada em desastres ambientais, como o derramamento de petróleo. (...)

Criada rede que retém petróleo mas deixa passar água
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rede de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada em desastres ambientais, como o derramamento de petróleo.
TEXTO: Uma equipa de investigadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, criou uma espécie de malha de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica que consegue repelir petróleo quando adicionado a água. O aspecto do material pode não ser impressionante mas a sua utilidade pode mudar a forma como se combatem desastres ambientais em rios, lagos ou no mar, e os custos que envolve. No vídeo de apresentação da universidade, um dos elementos da equipa de investigadores mistura água com petróleo e deita o líquido sobre a malha, colocada sobre um copo. Ao passar pela rede com sílica, o óleo fica à superfície e a água sai limpa, ficando os dois líquidos isolados. Bharat Bhushan, professor de engenharia mecânica na universidade norte-americana e um dos elementos da equipa, explica que a malha é inspirada nas folhas de lótus, que repelem a água mas não líquidos oleosos, devido à microarquitectura irregular que caracteriza as suas folhas. O objectivo da equipa foi fazer o contrário e para isso experimentou pulverizar a rede de aço inoxidável com nano-partículas de sílica, para criar uma superfície irregular, e colocaram por cima camadas de micropartículas embebidas em surfactante, substância utilizada nos detergentes. O resultado foi que a água e o óleo ficaram separados quando passados pela malha. Qualquer um destes materiais é não-tóxico e pouco dispendioso, o que justificou a sua escolha, sublinha Bharat Bhushan, citado pelo gabinete de imprensa da Ohio State University. O professor estima que a malha desenvolvida pela sua equipa, ainda em tamanho muito reduzido, poderá vir a ser criada por menos de um dólar por metro quadrado. Durante as investigações, a equipa descobriu ainda que criando diferentes combinações de ingredientes nas camadas para criar a malha, esta pode passar a ter outras propriedades. “O truque está em seleccionar as camadas certas”, explica Bharat Bhushan, acrescentando que essas alterações podem dar propriedades de absorção do óleo em vez de o repelir. A malha de aço inoxidável pulverizada como nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada para limpar manchas de combustível derramado no mar, por exemplo, ou para procurar depósitos de petróleo no subsolo. “Se aumentarmos a malha em escala, é como se conseguíssemos resolver um derramamento de óleo com uma rede”, sintetiza Bharat Bhushan. O investigador pretende continuar a estudar com a sua equipa as superfícies naturais que existem no meio ambiente, sejam folhas, asas de borboleta ou a pele de alguns animais, para “entender como a Natureza resolve certos problemas”. “Agora queremos ir mais longe do que a Natureza é capaz com o objectivo de resolver novos problemas”, concluiu o docente.
REFERÊNCIAS:
Tratamento contra o vírus do ébola foi eficaz em macacos
Utilizada na experiência a estirpe do vírus responsável pela epidemia actual em África. (...)

Tratamento contra o vírus do ébola foi eficaz em macacos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Utilizada na experiência a estirpe do vírus responsável pela epidemia actual em África.
TEXTO: Um novo medicamento experimental conseguiu tratar macacos rhesus infectados com o vírus do ébola responsável pela actual epidemia na África Ocidental, segundo um artigo científico na edição desta quinta-feira da revista científica Nature. A actual epidemia do ébola, que ainda afecta a Guiné-Conacri, a Libéria e a Serra Leoa, iniciou-se em Dezembro de 2013, no Sul da Guiné-Conacri, e já fez 10. 823 mortos entre 26. 079 infectados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O vírus pertence à espécie Zaire (uma das cinco espécies do vírus do ébola) e não tem ainda nenhum tratamento ou vacina comprovados e comercializados. Mas desde que se iniciou esta epidemia que cientistas em todo o mundo têm acelerado a investigação de potenciais tratamentos e vacinas. O composto testado agora chama-se TKM-Ebola, é um cocktail de pequenos fragmentos genéticos artificiais (ARN de interferência), que se ligam ao material genético do vírus, tornando-o inofensivo. O composto pertence à empresa farmacêutica Tekmira, no Canadá. Outras versões deste composto já foram usadas para tentar tratar doentes de ébola durante a actual epidemia. Mas esses tratamentos foram acompanhados com outros compostos e não se conhece a sua eficácia real. Agora, a equipa de Thomas Geisbert, coordenador do novo estudo, do Ramo Médico da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, adaptou o “cocktail” existente para atacar a estirpe da actual epidemia, que apresenta uma sequência genética específica. Os cientistas infectaram seis macacos rhesus (Macaca mulatta) com a actual estirpe de ébola e aplicaram o tratamento em metade dos primatas três dias após estes terem sido infectados, numa altura em que os macacos já apresentavam os sintomas da doença e o vírus já era detectado no sangue. “Protegemos todos os primatas não humanos contra a estirpe letal do ébola”, sublinhou Thomas Geisbert, professor de microbiologia e imunologia, citado num comunicado da sua universidade. Apesar de todos os macacos apresentarem os sintomas da doença, estes foram menos graves nos três animais que receberam o tratamento. Os outros três primatas que não receberam o tratamento acabaram por morrer devido à infecção, entre o oitavo e o nono dia após terem sido infectados. Nestes três primatas, a evolução da doença ocorreu de forma muito semelhante à das pessoas infectadas. Além de os três primatas se terem visto livres da infecção, o tratamento evitou problemas no fígado, nos rins e no sangue, que normalmente ocorrem durante a infecção do ébola. O novo cocktail está agora a ser testado em pessoas infectadas com o vírus na Serra Leoa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos doença estudo espécie
Há milho transgénico na tradicional broa portuguesa
Ministério da Agricultura está a investigar situação identificada no âmbito de um projecto científico europeu. (...)

Há milho transgénico na tradicional broa portuguesa
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DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministério da Agricultura está a investigar situação identificada no âmbito de um projecto científico europeu.
TEXTO: A tradicional broa de milho, um item simbólico da gastronomia regional portuguesa, está a ser feita em parte com milho geneticamente modificado, sem que o consumidor tenha disso qualquer conhecimento. Análises a amostras recolhidas nalguns pontos do país revelam que nos distritos de Braga, Porto e Viana do Castelo há broa com milho transgénico em quantidades que obrigam a uma rotulagem específica, dizendo que o produto contém organismos geneticamente modificados (OGM). Mas não há rotulagem, nem as panificadoras parecem saber que na farinha que usam há uma dose de milho cujos genes foram artificialmente modificados. O Ministério da Agricultura e do Mar está a investigar esta situação, a primeira do género a ser detectada desde a aprovação de legislação sobre a rotulagem de produtos transgénicos em Portugal, em 2004. O caso foi revelado no âmbito de uma projecto cientifico europeu, o programa Price, envolvendo vários países e destinado a avaliar se as medidas para manter OGM e não-OGM separados são eficazes, quando isto é necessário. Segundo a legislação europeia, qualquer produto que tenha na sua composição mais de 0, 9% de material transgénico tem de ter no seu rótulo ou no expositor onde está a ser vendido a mensagem: “Este produto contém organismos geneticamente modificados”. Em 16 amostras de broas de milho avaliadas por investigadores da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém, sete superavam aquele limite. A percentagem de OGM nas broas chegava a 5% no distrito do Porto, 10% em Viana do Castelo e 12% em Braga. Nas amostras, foi detectada a presença de dois tipos de modificação transgénica do milho. Um deles é o MON810, desenvolvido pela empresa internacional de agricultura e biotecnologia Monsanto e o único autorizado para cultivo na União Europeia. Este milho contém um gene de uma bactéria que faz com que a planta produza ela própria um insecticida contra a broca – uma lagarta que afecta seriamente as plantações. A outra modificação genética é a do milho NK603, também da Monsanto, resistente ao herbicida glifosato, o mais utilizado na agricultura em muitos países. Embora não possa ser plantado na UE, este milho pode ser importado e utilizado em produtos para alimentação humana e animal. “Os OGM detectados não são ilegais no contexto europeu”, afirma Fátima Quedas, da Escola Superior Agrária de Santarém, que coordenou a parte portuguesa do projecto Price. Fátima Quedas recorda que um produto transgénico só é aprovado na União Europeia (UE) depois de passar pelo escrutínio da Agência Europeia de Segurança Alimentar. “Do ponto de vista da segurança alimentar, não há violação nenhuma. A violação que encontramos aqui é de informação ao consumidor”, refere Fátima Quedas. “O problema não é haver ou não haver milho OGM na broa, é não haver rotulagem”, completa. Os resultados das análises foram enviados no final de Janeiro ao Ministério da Agricultura e do Mar. “Assim que tivemos conhecimento, accionámos um plano específico. Estamos no terreno com a ASAE e as direcções regionais de Agricultura”, afirma Paula Carvalho, subdirectora da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária. O Ministério da Agricultura está a fazer uma análise a toda a cadeia do milho nos distritos onde foram detectadas broas com OGM. Vão ser feitas análises a mais 90 amostras, seja de grãos, farinhas e broas, em armazenistas, moagens, panificadoras e padarias. Está também a ser feito um controlo documental, para avaliar se a informação sobre a presença de OGM no milho existe e se foi transmitida entre cada elo da cadeia. “O que necessitamos de saber é de que farinha foram feitas as broas, onde foram processadas, de onde veio o milho”, explica Paula Carvalho. “O que falhou foi a traceabilidade e a rotulagem. O nosso objectivo é saber onde falhou”, completa. Em todas as análises efectuadas pelos investigadores da Escola Superior Agrária surgem, simultaneamente, as modificações genéticas do MON810 e do NK603. E há um milho transgénico, também da Monsanto, que contém ambas transformações na mesma planta. Está autorizado na UE para a alimentação humana e animal, mas não para o cultivo. Por isso, o mais provável é que a origem dos OGM nas broas seja um milho importado. “De outra forma, seria muita coincidência que todas as amostras dessem positivas para ambos os genes”, afirma Paula Carvalho. “Estamos convencidos de que esta situação não tem a ver com milho cultivado em Portugal”, completa.
REFERÊNCIAS:
Antropoceno: E se já mudámos para sempre a história geológica da Terra?
Os cientistas estão a avaliar se o impacto das actividades humanas na Terra é tão grande que deu origem a uma nova época geológica, o Antropoceno. Há várias datas em estudo para o início desta época, como a revolução industrial ou a era nuclear, e têm por base marcas humanas nos estratos geológicos. (...)

Antropoceno: E se já mudámos para sempre a história geológica da Terra?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os cientistas estão a avaliar se o impacto das actividades humanas na Terra é tão grande que deu origem a uma nova época geológica, o Antropoceno. Há várias datas em estudo para o início desta época, como a revolução industrial ou a era nuclear, e têm por base marcas humanas nos estratos geológicos.
TEXTO: Nas décadas após a chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492, morreram dezenas de milhões de pessoas que já lá viviam há milhares de anos, à custa da guerra e das doenças levadas pelos europeus. A tragédia ficou marcada na própria Terra: em 1610, a concentração de dióxido de carbono atingiu um valor mínimo, que ficou registado nas camadas de gelo na Antárctida. A relação entre esta mortandade e o dióxido de carbono é simples. Foram abandonados milhões de hectares de terra que eram anteriormente cultivados por aqueles povos. Nesses locais, as florestas voltaram a crescer e retiraram muito dióxido de carbono da atmosfera, o que levou a uma diminuição da concentração deste gás. Esta é uma das múltiplas memórias sobre a história da humanidade que os geólogos podem encontrar nos gelos e sedimentos mundo fora. A nossa espécie terá cerca de 200. 000 anos de existência, um piscar de olhos na vida da Terra com os seus 4500 milhões de anos. E, no entanto, o rasto que fomos deixando é incontornável. Desde o fabrico de utensílios de pedra para a caça, que terá feito desaparecer muitas espécies de grandes mamíferos, passando pelo aparecimento da agricultura e das primeiras cidades, até à revolução industrial e ao lançamento de bombas nucleares, as actividades humanas ficaram registadas nos sedimentos dos últimos milhares de anos. Por tudo isto, surgiu recentemente a expressão “antropoceno”, usada de um modo informal na geologia, arqueologia ou sociologia, para denominar a actual época geológica, dominada pelas actividades humanas, cujas consequências são visíveis nas alterações climáticas, na perda de biodiversidade e no aumento da acidez dos oceanos. Mas o conceito não tem o estatuto oficial da União Internacional das Ciências Geológicas (UICG), a entidade que define as unidades de tempo geológicas. Segundo esta união, a época que estamos agora a viver não é o Antropoceno mas sim o Holoceno, iniciado no final da última era glacial, há cerca de 11. 700 anos. Isso poderá vir a mudar. Para se tornar oficial, o Antropoceno tem, primeiro, de ser bem documentado. Ou seja, os geólogos e outros cientistas têm de encontrar, nas camadas estratigráficas da Terra, as marcas deixadas pelas actividades humanas que representam uma mudança global. Estas marcas terão de estar associadas a uma data. O ano de 1610 é uma data recentemente proposta por Simon Lewis e Mark Maslin, investigadores do Departamento de Geografia da University College de Londres, no Reino Unido. Num artigo da revista Nature, os dois cientistas defendem ainda o uso de marcas estratigráficas secundárias associadas à data. Há 70 locais, onde os sedimentos lacustres e marinhos mostram, a partir de 1600, a existência de pólenes de milho — uma planta originária das Américas. Esta escolha representa a importância dada pela dupla de cientistas ao movimento súbito e inédito de dezenas de espécies animais e vegetais que atravessaram o oceano Atlântico, levados pelo homem nos dois sentidos, e que mudaram para sempre a biogeografia da Terra. Por outro lado, defendem que é a chegada às Américas que iniciou a globalização. Nos últimos meses, a discussão sobre o Antropoceno tem sido intensa e outras datas têm sido estudadas: o início da agricultura; a revolução industrial; ou o primeiro teste nuclear, a 16 de Julho de 1945 (a que se seguiram as bombas nas cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui, e depois testes nucleares). Há, porém, outros cientistas que são críticos da tentativa de tornar esta época oficial, referindo que ainda é muito cedo para aferir verdadeiramente o impacto que o homem está a ter na geologia do planeta, e defendendo que este impacto, qualquer que ele seja, apenas está a começar. “Se os cientistas aplicarem os mesmos critérios usados para definir as épocas passadas, e os dados indicarem que já entrámos numa época dominada pela intervenção humana, então a comunidade científica deverá considerar muito seriamente a definição formal de uma nova época”, diz ao PÚBLICO Simon Lewis, resumindo a questão. História do planetaA época do Holoceno está dentro do período Quaternário, iniciado há 2, 58 milhões de anos, que por sua vez se inclui na era do Cenozóico, nascida há 66 milhões de anos, quando um meteorito atingiu a Terra, pondo o fim à era dos dinossauros — o Mesozóico. Um dos mais importantes passos da ciência foi esta organização do passado geológico da Terra em unidades associadas a camadas estratigráficas, que nos mostram o imenso historial do nosso planeta: as primeiras formas de vida, a formação do grande continente Pangeia, as extinções em massa de espécies, a ascensão e a queda dos dinossauros, o aparecimento dos primatas, nós próprios. Os fósseis de organismos pré-históricos encontrados nos estratos geológicos são muitas vezes aproveitados para representar a transição de um período para o outro, dando-nos pistas de grandes transformações no clima, na vida e na geologia da Terra. Outras vezes é a vida que transforma o planeta, como o surgimento do oxigénio na atmosfera, vindo da fotossíntese feita pelas cianobactérias, há mais de 2000 milhões de anos, que permite que respiremos. Por isso, os humanos não são os primeiros seres vivos capazes de alterar o planeta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos concentração homem comunidade espécie
Jovens agricultores têm de devolver 5,8 milhões de fundos comunitários
Maioria desistiu dos projectos que candidatou. Montante pesa apenas 1,2% do total da despesa pública paga no âmbito da acção “instalação de jovens agricultores” (...)

Jovens agricultores têm de devolver 5,8 milhões de fundos comunitários
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Maioria desistiu dos projectos que candidatou. Montante pesa apenas 1,2% do total da despesa pública paga no âmbito da acção “instalação de jovens agricultores”
TEXTO: Os jovens agricultores que conseguiram apoios comunitários para iniciarem actividade mas que desistiram ou não cumpriram as regras vão ter de devolver ao Estado um total de 5, 8 milhões de euros. De acordo com o Ministério da Agricultura este é o valor das irregularidades detectadas, até 9 de Abril, na Acção “Instalação de Jovens Agricultores” do Programa de Desenvolvimento Rural (Proder), o instrumento financeiro da Comissão Europeia para o período de 2007-2013. Até agora, já foram recuperados 1, 8 milhões de euros, ou seja, 31% do total. Fonte do gabinete da ministra Assunção Cristas sublinha que “a maior parte do montante considerado irregular se refere a beneficiários que, pelos mais variados motivos, desistiram da candidatura associada a esta medida”. “Com efeito, do montante total de irregularidades apurado à data, cerca de 67% (3, 9 milhões de euros) resulta de desistências”, detalha. Os 5, 8 milhões detectados correspondem a apenas 1, 2% do total da despesa pública paga acumulada no âmbito desta medida, por isso, têm pouco peso no bolo de incentivos distribuídos aos jovens agricultores. Como detalha o ministério, o apoio à instalação inicial destes produtores é a fundo perdido, ou seja, trata-se de um prémio atribuído aos empreendedores para apoiar os primeiros passos no negócio. As verbas já recuperadas “resultam do processo de controlo regular a que a medida está sujeita, que caso não seja efectuado leva a correcções financeiras por parte da União Europeia”, detalha. Eduardo Almendra, presidente da Associação Portuguesa de Jovens Agricultores (AJAP), diz que à associação chegam poucos números sobre este tema. Contudo, recorda que a AJAP tem vindo a alertar que a exagerada “euforia” à volta do sector “pode trazer este tipo de consequências, desde logo, porque para ser jovem agricultor não é necessário ter qualquer tipo de formação base ou inicial”. “A nossa grande questão do acompanhamento técnico em todas as fases do processo de instalação é crucial”, defende, acrescentando que nunca existiu uma ferramenta do género e “também não esta prevista para o PDR 2020”, o novo programa comunitário. O presidente da AJAP antecipa que o número de desistências vai aumentar: as dívidas, os encargos iniciais de produção e as “vendas quase sempre a baixo preço conduzirão necessariamente a mais desespero e desistências”, alerta. Eduardo Almendra defende, por isso, mais acompanhamento, nomeadamente através da figura de um tutor com experiência e a definição de “apoios diferenciados em função de critério regionais e reais”. “O ruído do sucesso, os montantes de apoio e o desespero do desemprego nas diferentes áreas trouxe para a agricultura mais saber, mais inovação, mais conhecimentos. Mas também trouxe alguns paraquedistas impreparados, numa ânsia desmesurada de obter ganhos fáceis sem sujarem as mãos na terra e nem limparem esterco de animais”, afirma. Tribunal de Contas analisa subsídiosCerca de um terço dos beneficiários com projectos de investimento apoiados pelo Proder são jovens agricultores, mas Portugal tem os produtores mais velhos da União Europeia. Do universo total de agricultores recenseados no país, os jovens representam apenas 2%. Uma auditoria do Tribunal de Contas (TC), publicada no início do ano mas com enfoque em 2013, recorda que este foi o ano que registou o maior valor de despesa pública na acção “Instalação de Jovens Agricultores” (127, 9 milhões de euros). Esta medida sofreu alterações profundas em Maio de 2011 e o prémio passou a ser atribuído em função do investimento realizado de acordo com um plano empresarial. Numa análise a 149 pagamentos feitos pelo Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), o TC concluiu que “a despesa apurada para pagamento corresponde à aprovada e paga, respeitando os procedimentos definidos”. A maior parte das operações são sujeitas a controlos administrativos e de qualidade mas, na sua auditoria, o tribunal liderado por Guilherme d’Oliveira Martins detectou um erro de cálculo na análise de um pedido de apoio da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo. Esse erro levou à redução “do prémio pago a um beneficiário”, lesado em 1234 euros. O Proder - que já terminou a sua vigência e foi substituído pelo PDR2020 - registou no total mais de 37. 500 projectos. De acordo com informações anteriores do Ministério da Agricultura, alavancou um investimento superior a 7, 6 mil milhões, com um potencial de postos de trabalho associados “a rondar os 38. 500”. Os apoios a jovens agricultores somaram 650 milhões de euros, valor que inclui o prémio inicial e financiamento de investimento.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal género desemprego
Prisão no grupo Lena serviu para justificar detenção de Sócrates, alegam advogados
Ex-primeiro-ministro recebeu com "redobrada indignação" notícia da prisão de Joaquim Barroca. (...)

Prisão no grupo Lena serviu para justificar detenção de Sócrates, alegam advogados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ex-primeiro-ministro recebeu com "redobrada indignação" notícia da prisão de Joaquim Barroca.
TEXTO: Os advogados de José Sócrates fizeram esta sexta-feira uma conferência tardia para dizer que o ex-primeiro-ministro recebeu “com redobrada indignação” a notícia da prisão do administrador do grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues, que mais não constitui, no seu entender, do que “um espectáculo encenado pelo Ministério Público”, destinado a justificar a manutenção, na cadeia de Évora, do antigo governante. “O espectáculo encenado pelo Ministério Público aparece como uma cortina de fumo, que esconde mal, definitivamente mal, o insucesso da investigação, sobretudo quando se tenha em conta que não foi encontrada nenhuma ligação do senhor engenheiro Sócrates a contas bancárias ou aos interesses financeiros localizados em Portugal ou no exterior e pertencentes aos senhores engenheiro Carlos Santos Silva e Joaquim Barrocas Rodrigues”, declararam os advogados João Araújo e Pedro Delille, que negaram também que o seu cliente tenha feito uma viagem secreta a Nova Iorque com o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva, em Setembro passado, para se encontrar com o vice-presidente angolano e com ele combinar negócios. E se José Sócrates até já admitiu, numa entrevista escrita que deu à Sic depois de ter sido detido, que chegou a interceder pelo grupo Lena “por mera simpatia, para ajudar uma empresa portuguesa”, como diz ter feito com outras, já João Araújo assegura que as suas relações com o grupo de Leiria não eram “nenhumas”. Depois havia de corrigir a afirmação: “Eram as que tem qualquer primeiro-ministro com as empresas portuguesas”. Feita na véspera de o antigo governante completar cinco meses de cadeia, a detenção do responsável do grupo Lena serviu sobretudo, no entender dos seus representantes legais, “para alimentar o clima de difamação que tem marcado este processo e que, visivelmente, começava a perder alento e entusiasmo”. Por isso, tornou-se necessário “repescar assuntos já conhecidos”, e nas suas palavras completamente alheios ao ex-primeiro-ministro, como a questão da titularidade das contas bancárias na Suiça, “para trazer alguma aparência de novidade e de progresso a uma investigação, aparentemente num beco sem saída”. Prisão preventivaJoaquim Barroca Rodrigues, administrador do Grupo Lena, suspeito de ser um dos principais corruptores do ex-primeiro ministro José Sócrates, vai aguardar o desenvolvimento das investigações em prisão preventiva com pulseira electrónica. A decisão do juiz Carlos Alexandre foi comunicada na tarde desta sexta-feira no Palácio da Justiça, em Lisboa, e prevê que o empresário possa deixar a cadeia, ficando em prisão domiciliária com pulseira electrónica, logo que existam as condições técnicas para a instalação do equipamento de vigilância necessário na habitação do arguido. O empresário, indiciado por crimes de corrupção activa, branqueamento de capitais e fraude fiscal, foi interrogado quinta-feira durante várias horas pelo no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa. Voltou esta sexta-feira de manhã ao tribunal depois de ter passado a noite numa cela do comando metropolitano da PSP. O administrador foi detido na quarta-feira à noite depois de buscas realizadas à sede do grupo Lena, na Quinta da Sardinha, no concelho de Leiria, e ao domicílio. No final de Março, o semanário Sol citava um acórdão do dia 17 daquele mês, que dizia que "os administradores do grupo António Barroca Rodrigues e Joaquim Barroca Rodrigues [irmãos] fizeram transferências das suas contas pessoais em Portugal" para a Suíça, como pagamentos do grupo Lena ao ex-primeiro-ministro. Segundo um comunicado do tribunal, Joaquim Barroca ficou ainda proibido de contactar qualquer pessoa que trabalhe no grupo Lena, seja membro da administração, da comissão executiva ou simples colaborador. Assim como qualquer outro arguido da operação Marquês. Também não pode estabelecer contactos com nenhum dos trabalhadores ou dirigentes das sociedades de Carlos Santos Silva, o empresário amigo de José Sócrates, nem com a mulher deste último, Inês do Rosário. "Os factos enunciados pelo Ministério Público (. . . ) consubstanciam, em co-autoria, fortes indícios da prática pelo arguido de crimes de fraude fiscal qualificada, quer ao nível da sua esfera pessoal quer das sociedades que integram o grupo Lena, branqueamento de capitais e crime de corrupção activa", descreve o juiz Carlos Alexandre, em comunicado, recordando que já no Verão passado foi declarada a especial complexidade do processo, ainda José Sócrates não tinha sido preso.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP