Destroços de caça-minas da Grande Guerra revelam que inimigo estava às portas de Lisboa
A 26 de Julho de 1917, o navio Roberto Ivens afundou-se na barra do Tejo depois ?de ter embatido numa mina subaquática alemã. Os seus restos foram identificados no fundo do mar em Fevereiro, agora revelam-se imagens inéditas então obtidas. (...)

Destroços de caça-minas da Grande Guerra revelam que inimigo estava às portas de Lisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 26 de Julho de 1917, o navio Roberto Ivens afundou-se na barra do Tejo depois ?de ter embatido numa mina subaquática alemã. Os seus restos foram identificados no fundo do mar em Fevereiro, agora revelam-se imagens inéditas então obtidas.
TEXTO: Das armas químicas aos tanques, a I Guerra Mundial (1914-1918) foi palco de várias inovações militares. E para cada nova forma de matar, houve uma resposta defensiva. Foi assim que nasceram os caça-minas: navios especializados em detectar e destruir as minas colocadas debaixo de água pelos submarinos. Portugal teve nove destes navios que procuravam minas alemãs nas barras dos portos de Lisboa e de Leixões. Mas a 26 de Julho de 1917, o caça-minas português Roberto Ivens chocou com uma mina na barra do rio Tejo e afundou-se. Quinze homens morreram. Este foi um dos dois navios de guerra portugueses que foram afundados durante o conflito. Em Fevereiro, quase cem anos depois, os destroços do Roberto Ivens foram identificados perto do Bugio, na foz do Tejo, num local diferente daquele onde se pensava que estava. Os investigadores esperam agora que os vestígios permitam obter mais informação sobre esta actividade que a Marinha Portuguesa desempenhava ao largo da costa durante a guerra. Mas a identificação do navio permite já concluir que os submarinos alemães se aproximavam muito mais de Lisboa do que se imaginava. “Quando se pensa na I Guerra Mundial, toda a gente pensa nas trincheiras. Mas foi pelo mar que a guerra veio até Portugal e esta é uma temática que não é muito conhecida. Estes destroços contam-nos mais sobre este tema”, diz ao PÚBLICO o investigador Paulo Costa, do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. O historiador é o responsável científico pela investigação que contou com a Marinha Portuguesa, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Instituto Hidrográfico (IH). Nesta quarta-feira, faz 100 anos que a Alemanha declarou guerra a Portugal, dias depois de um destacamento da Armada portuguesa ter subido a bordo dos navios alemães e austríacos que estavam no estuário do Tejo, então território neutro. A acção — que acabou com honras militares e a bandeira portuguesa içada nos navios — deveu-se à Inglaterra, aliada de Portugal, que pediu às autoridades portuguesas que aprisionassem os navios dos seus inimigos. Foi assim que Portugal entrou oficialmente num conflito que matou 8, 5 milhões dos cerca de 65 milhões de homens integrados nas forças militares das várias nações beligerantes, além de ter deixado feridos outros 21, 18 milhões e de ter feito mais de 7, 75 milhões de prisioneiros e desaparecidos em combate, de acordo com a enciclopédia Britannica. As forças militares portuguesas perderam 38 mil dos seus mais de 105 mil homens. Aos que sobreviveram à guerra ou cresceram durante aqueles anos, chamaram-lhes mais tarde “geração perdida”. “Medonha explosão”Por cá, o desastre do navio foi notícia. “O caça-minas Roberto Ivens (. . . ) andava no seu perigosíssimo trabalho de rocegagem [termo técnico para a procura de minas submarinas], quando às 13 horas do dia 26, encontrando-se a 12 milhas ao sul de Cascais, deu-se uma súbita explosão que o fez saltar, partido pelo meio, afundando-se em um minuto”, lê-se numa notícia da edição de 6 de Agosto de 1917 da revista semanal Ilustração Portugueza. “À medonha explosão apenas sobreviveram sete homens (. . . ). As vítimas foram 15. No número d’estas contam-se o comandante do navio sr. Raul Alexandre Cascaes, 1º tenente; Narciso Bento Antonio, 1º sargento; Antonio Simões, sargento ajudante condutor de máquinas, e Jaime Constantino, 1º sargento condutor de máquinas. ”“Este episódio vem trazer alguma luz sobre o que foram as rotinas da Marinha Portuguesa na defesa da costa de Portugal”, diz Paulo Costa. “Sabe-se muito pouco sobre o dia-a-dia das patrulhas da Marinha. ”O uso de minas subaquáticas foi uma prática comum I Guerra Mundial. O engenho era colocado em profundidade para não ser visto e atingir o casco de navios de grande carga. As minas eram de metal e tinham espigões. Lá dentro, estavam os explosivos, que só eram accionados quando algo embatia nos espigões. “Estes espigões continham no interior uma ampola de vidro com ácido que, ao partir-se, deixava escorrer o ácido no seu interior e, através de uma placa de chumbo, activava um detonador eléctrico”, explica o historiador. Por serem ocas, as minas flutuavam. Por isso, os submarinos lançavam-nas presas a um cabo que, por sua vez, estava preso a um peso que caia no leito do mar e mantinha as minas abaixo da superfície. O Roberto Ivens, um navio a vapor com 47, 72 metros de comprimento, tinha um calado de cerca de três metros — a parte do casco que ficava debaixo de água — que bateu na mina. “As minas eram colocadas à entrada dos portos”, explica Paulo Costa. “Alguma bibliografia refere que só entre a Escócia e a Noruega, em 1919, após o fim da guerra, se desminaram cerca de 21. 000 minas. No Sul da Irlanda terão sido colocadas 400 minas só em 1917. O Canal da Mancha era praticamente não-navegável, de tantas minas que tinha. ” Na zona do porto de Lisboa, terão sido colocadas cerca de 100 minas. Quando Portugal entrou na guerra, o problema da desminagem já tinha sido abordado. A prática de rocega mais eficaz era feita com dois navios. Primeiro, prendia-se um cabo a cada um dos dois navios. Depois, os caça-minas navegavam paralelamente a uma certa distância, enquanto o cabo era arrastado dentro de água. Se este cabo transportado pelos navios apanhava o cabo que prendia a mina ao fundo do mar, esta era arrastada e acabava por ir para a superfície. Por fim, disparavam-se tiros contra a mina à superfície, que rebentava e deixava de ser uma ameaça. Depressa se percebeu que os arrastões, os navios que usam redes de pesca, tinham já muito material apropriado para a desminagem. Por isso, as marinhas dos países requisitaram os arrastões às empresas pesqueiras e adaptaram-nos para a rocega. Nos primeiros meses após a guerra começar, o Reino Unido já tinha 300 arrastões a fazer desminagem, no final da guerra eram mais de 1000. Portugal teve apenas nove. “O Reino Unido foi um dos países que nos forneceram equipamento para rocega de minas e junto de quem os oficiais portugueses tiveram instrução”, refere Paulo Costa, que consultou documentos nos Arquivos Nacionais britânicos, além de analisar os diários de bordo dos caça-minas que estão no Arquivo Central da Marinha Portuguesa e os diários de guerra dos submarinos alemães. Antes de ser requisitado pela Marinha, a 19 de Abril de 1916, o Roberto Ivens (nome do famoso açoriano oficial da Marinha que se tornou explorador em África) chamava-se Lordelo e pertencia à Sociedade de Pescarias a Vapor, Lda. Naquele fatídico dia de Julho de 1917, o caça-minas fazia a rocega com o rebocador Bérrio. Quando a mina explodiu, foi o rebocador que retirou do mar os sete sobreviventes. Um “luto que persiste”“A mina rebentou debaixo do navio e a popa despedaçou-se”, diz Paulo Costa. “Passados 100 anos, não temos o navio, temos destroços. ”O historiador já mergulhou até aos destroços que estão a 36 metros de profundidade: “Quase tudo já colapsou. Apesar disso, subsiste uma secção reconhecível da proa até à caldeira, que é o elemento mais destacado. Existe ainda uma série de escotilhas do convés perfeitamente identificáveis, sustentadas numa estrutura de cavernas e vaus (vigas que sustentam o casco). A madeira do convés já desapareceu. Vê-se também um grande guincho. ” As imagens divulgadas — e até agora inéditas — permitem identificar a proa do navio e a caldeira de metal resistente. Há mais de dez anos que os mergulhadores suspeitavam de que aquele destroço correspondia ao Roberto Ivens. Mas nas cartas náuticas o destroço do caça-minas estava assinalado noutra posição. “Pensava-se que o afundamento tinha ocorrido a 12 milhas náuticas [22 quilómetros] a sul de Cascais. Na realidade, o destroço encontra-se a sete milhas náuticas [13 quilómetros] a nordeste desse ponto [em direcção a Lisboa]”, explica Paulo Costa. Assim, a posição real do caça-minas é a menos de dez quilómetros do Bugio. A partir de 2014, com o centenário da entrada de Portugal na I Guerra Mundial a aproximar-se, a investigação acelerou, conta o historiador. A identificação dos destroços foi possível graças a observações dos mergulhadores, que permitiram comparar a estrutura do navio com a respectiva planta de construção. E ainda graças a imagens obtidas do fundo do mar por um sonar de varrimento lateral, a bordo do navio Andrómeda, do IH, e por um sondador multifeixe, a bordo da lancha Atlanta, também do IH. Estas imagens permitiram ter uma perspectiva global dos destroços. A identificação tem consequências para a história da Marinha durante a I Guerra Mundial. “Estamos a aperceber-nos de quais eram as rotinas de rocega de minas na barra do rio Tejo”, aponta Paulo Costa, acrescentando que essas rotinas não estão documentadas nem estudadas. Segundo o historiador, os diários de bordo dos caça-minas têm informação incompleta e pouco clara sobre os percursos destes navios. E não se sabe como se tomavam as decisões sobre o dia-a-dia dos navios: “Que percursos tinham de percorrer? Porquê? Quem decidia onde iam?”Por outro lado, os destroços dão indicações sobre o trajecto do submarino alemão UC54 que colocou ali a mina. “A localização do destroço revela que os alemães estiveram muito mais próximo da entrada do porto de Lisboa do que se julgava”, sublinha. “Houve uma actividade intensa de submarinos alemães na nossa costa, principalmente contra a nossa marinha mercante. Várias embarcações de pesca foram afundadas por submarinos alemães. ”Não há qualquer intenção de retirar os destroços do fundo do mar. O que se pretende agora é fazer medições das estruturas mais importantes do navio, medir a profundidade a que se encontram essas estruturas e avaliar a posição relativa de objectos que venham a descobrir-se. Os destroços não estão enterrados e, à partida, não há necessidade de fazer uma escavação, salienta o historiador. Com esta informação, os cientistas vão tentar descortinar que equipamentos se usavam na rocega. “Ainda estamos a estudar o que é que Portugal realmente possuía. Estes são os pormenores que a micro-história dá importância”, diz Paulo Costa. “Isto ajuda-nos a ter uma imagem mais completa das condições que Portugal tinha, ou não tinha, na I Guerra Mundial. ”Paulo Costa não está à espera de encontrar os restos mortais dos marinheiros: “O destroço é uma estrutura ‘aberta’, varrida por fortes correntes marinhas. Não é expectável que qualquer tipo de matéria orgânica se mantenha nestas condições durante 99 anos. ” No entanto, a antropóloga Francisca Alves Cardoso, do Centro em Rede de Investigação em Antropologia da FCSH, está a postos para o caso de se localizarem restos mortais. “A serem encontrados restos esqueletizados, o objectivo mais imediato seria identifica-los, montando um puzzle humano ósseo. Após a reconstrução, seria feita a análise dos ossos com o objectivo de chegar a uma identificação do indivíduo”, explica ao PÚBLICO a investigadora, especialista em osteologia humana. “No que toca ao espólio ser exposto e recuperado, serão seguidas as normas aplicáveis ao património arqueológico, salvaguardando o diálogo com a Marinha e com os familiares dos marinheiros que desapareceram — algo que considero necessário. Afinal, é um luto que persiste”, diz Francisca Alves Cardoso, referindo que o enterramento posterior das ossadas “seria uma opção digna”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na notícia de 1917 da revista Ilustração Portugueza sobressai o choque da “catástrofe”: “Não se esquecerá tão cedo a perda de tantas vidas pelos processos mais traiçoeiros e infames da guerra moderna. ” Mas Paulo Costa explica que, “a longo prazo, a memória da guerra no mar acabou por ser ocupada pelo [afundamento do] Augusto Castilho”. A 14 de Outubro de 1918, este navio foi afundado por um submarino alemão depois de sair do porto do Funchal, na Madeira, para se dirigir a Ponta Delgada, em São Miguel, nos Açores. O Augusto Castilho escoltava o navio de transporte de passageiros San Miguel, salvando-o de ser destruído do ataque do submarino, o que deu contornos heróicos ao seu destino. Mas agora a identificação dos destroços do Roberto Ivens é uma oportunidade para voltar a este acontecimento. “Faz parte da nossa história colectiva. Agora que se comemora a entrada de Portugal na I Guerra Mundial é mais do que oportuno lembrarmos este episódio”, sustenta Paulo Costa. A equipa já entrou em contacto com descendentes de familiares de alguns dos marinheiros mortos na explosão. “Já partilharam connosco uma série de documentos. ”Para o ano, os destroços do caça-minas passam a estar protegidos pela convenção de 2001 da UNESCO para o Património Cultural Subaquático, que determina a protecção do património marítimo com mais de 100 anos. Portugal é um dos signatários da convenção. “São locais com uma carga histórica muito forte”, diz Paulo Costa, recordando a sua visita ao caça-minas. “Apesar de estar muito deteriorado, é inevitável pensar na sequência de acontecimentos que originaram o afundamento e, por breves momentos, viajar no tempo. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Descer ao ventre da Terra e perceber se tudo o que brilha é ouro
Alice teve um coelho apressado que a atraiu até um buraco e lhe revelou o país das maravilhas. Nós temos um Roteiro de Minas, que nos indica vários pontos de interesse geológico e através do qual podemos ver o mundo a crescer e a encolher a velocidades estonteantes. Não é só uma questão de paisagens (...)

Descer ao ventre da Terra e perceber se tudo o que brilha é ouro
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Alice teve um coelho apressado que a atraiu até um buraco e lhe revelou o país das maravilhas. Nós temos um Roteiro de Minas, que nos indica vários pontos de interesse geológico e através do qual podemos ver o mundo a crescer e a encolher a velocidades estonteantes. Não é só uma questão de paisagens
TEXTO: Há qualquer coisa de magnético quando se fala de minas e de mineiros. Quem nunca se impressionou com histórias de valentia e de sobrevivência, de corridas ao ouro, de acidentes trágicos e de resgates épicos que atire a primeira pedra. Eu cá sou das que dá o braço a torcer — em vez de atirar pedras, confesso os meus telhados de vidro. Aquela frase atirada para a superfície pelo grupo de mineiros que ficou soterrado a 700 metros de profundidade nas Minas de São José, no deserto de Atacama, no Chile, continua a ser um dos maiores símbolos de sobrevivência e resistência. A história está contada em livros, ficou registada em filme e até deu lugar a conferências para líderes empresariais — um dos sobreviventes contava na primeira pessoa como é que se cria uma equipa coesa, a lutar para um objectivo. Neste caso, um objectivo supremo: a própria sobrevivência, com escassez de comida, de água, de oxigénio. Pois a mim o que impressionou foram as reportagens que captaram a reacção das famílias, que acamparam à entrada da mina, dia e noite, à espera da subida dos seus: lágrimas e júbilo, mesmo quando sabiam que havia tantos desafios por vencer. Eles estão bem. No refúgio. E vão sobreviver. Esta história é de 2010, e lembro-me de a ver quase em directo na televisão. Talvez este relato me tenha emocionado mais por causa de uma viagem que tinha feito à Bolívia, uns meses antes. Não resisti ao desafio de ir experienciar um pouco da vida dos mineiros de Potosi, uma das cidades mais altas dos Andes, acima dos 4000 metros. Há quem vá visitar géiseres e paisagens de outro mundo. E há quem desça às entranhas da Terra. E há quem não resista a fazer as duas, como eu. O monte de Cerro Rico (o nome diz quase tudo) foi esventrado em centenas de quilómetros, desenhando as galerias de onde saiu quase toda a prata que enriqueceu o império espanhol, no tempo em que o mundo estava dividido em dois pelo Tratado de Tordesilhas. Mais de 600 anos depois, as minas de Cerro Rico continuavam a ser garimpadas por mineiros a quem a melhor prenda que poderíamos levar era umas folhas de coca para mascar (uma tradição local para combater os males da altitude) ou umas barras de dinamite. Sim, à entrada da mina o dinamite é de venda livre. E esta foi a experiência mais bizarra a que já me sujeitei: comprar dinamite para oferecer a um mineiro que pagava do seu bolso o material para trabalhar, na expectativa que as horas de trabalho árduo no calor dos infernos lhe permitisse descobrir prata para ficar suficientemente rico. E, afinal, talvez nem lhe chegue para pagar as despesas. Agora que já contei os meus telhados de vidro, e confessei o meu espanto e admiração por quem se aventura pelas entranhas da Terra para dela retirar os minerais de que todos precisamos, talvez se perceba melhor por que é que o tema é magnético para mim. Se pensarmos bem, e resistirmos à tentação de dar tudo por adquirido sem sequer ponderar de onde vêm os materiais que são usados em praticamente tudo o que consumimos, não há tema nenhum que não nos leve a conversas sobre minas e pontos de interesse geológico. O tema deveria ser magnético para todos. Nem é só uma questão de paisagens e de pedras: nós nem damos por ela, mas as pedras falam muito alto, algumas gritam até. Não é só uma conversa de tabela periódica e das aulas de Física e Química. Nem é só uma questão de paisagens e de pedras: nós nem damos por ela, mas as pedras falam muito alto, algumas gritam até — se quisermos pensar que são gritos cada camada de rocha que hoje nos oferecem algumas das mais impressionantes paisagens naturais como as que existem nos Geoparques Macedo de Cavaleiros, Arouca ou Naturtejo da Meseta Meridional. Pode-se conhecer pouco, ou quase nada, do que é, e do que foi, a actividade mineira. E não se pode, ou não se deve, dizer que Portugal é um país de mineiros — até porque não devemos virar as costas ao mar, o lugar onde sempre colocamos os nossos heróis. Mas podemos olhar melhor para o património que temos em frente aos olhos e debaixo dos pés. E atrevermo-nos a explorar o interior da Terra e ceder ao fascínio que conseguir ler as histórias com milhões de anos que nos contam as páginas dos monumentos geológicos, verdadeiros compêndios de ciência. Em Portugal os turistas não serão nunca convidados a vivenciar experiências como a que vivi na Bolívia — e ainda bem. Porque a legislação portuguesa e europeia não permitiria nunca que uma mina como a de Cerro Rico continuasse a ser explorada nos limites de salubridade e segurança. Aliás, essa legislações impõe agora a quem se propõe avançar com alguma actividade extractiva que apresente, em conjunto com o plano de mineração, um plano de recuperação de toda a área que foi explorada. E as laborações das fábricas já não podem ser adivinhadas pelo fumo da chaminé: é verdade, não há fumo. Nem branco, quanto mais negro. Há em Portugal muitos pontos de interesse mineiro e geológico. E há quem já tenha pensado nisso e feito, por nós, o trabalho de casa: o Roteiro das Minas e Pontes de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal é uma iniciativa da Empresa de Desenvolvimento Mineiro - EDM e da Direcção-Geral de Energia e Geologia - DGEG, que reuniu esforços com três dezenas de parceiros para oferecer outras tantas propostas de carácter lúdico, cultural, pedagógico, científico e até terapêutico. Numa página na Internet, onde se recolhe a informação básica de cada um desses pontos no roteiro, é possível construir itinerários e rotas pessoais, e fornecer toda a informação “logística” de apoio ao visitante. Foi esse desafio que a Fugas aceitou e aqui traz nas próximas páginas. De Norte a Sul do país, o Roteiro de Minas traz-nos muitas e variadas propostas. Esta foi a nossa selecção, numa tentativa de conseguir alguma abrangência geográfica e diversidade em termos das experiências que o roteiro permite. Vamos falar de muitos metais e de muitas pedras, de locais que nos encantam à vista desarmada (como a contemplar a escarpa da pedreira abandonada de quartzo que está à entrada do museu, em Viseu) e que nos espantam, quando despimos medos do escuro e imaginada claustrofobia para nos aventurarmos pelas entranhas da Terra à procura de descobrir se tudo o que brilha é ou não ouro. E confirmar que a natureza é profundamente generosa. São os granitos que dominam Vila Pouca de Aguiar, mas foram os xistos e os calcários negros que abundam num dos extremos da serra da Padrela que permitiram depósitos à superfície de inusitadas quantidades de ouro. A geologia ajudará a explicar isto tudo (e o Centro Interpretativo de Tresminas também) mas o que mais surpreende em todas estas explicações é perceber como uma paisagem monumental pôde ser trabalhada de forma massiva e, depois de 18 séculos de abandono, ter chegado aos dias de hoje muito bem preservada — ao ponto de estar agora a dar os primeiros passos, numa parceria com a vizinha Las Medulas, em Espanha, para se ver inscrita na lista de Património Mundial da Humanidade. Tudo é impressionante em Tresminas. No conjunto das crateras de exploração a céu aberto, as chamadas Cortas (e em Tresminas são três: das Covas, das Lagoinhas e da Ribeirinha), foram removidos cerca de 3, 3 milhões de metros cúbicos, o equivalente a 9, 24 milhões de toneladas de rocha, e retirados 20 mil quilos de ouro — uma quantidade que permitiu cunhar cerca de 2, 5 milhões de moedas. Vila Pouca de Aguiar Visitas por marcação: 259 458 091 Email: geral@tresminas. com www. tresminas. com Preços: 3€/adulto; 2€/criançaPara obter o ouro é necessário desfazer essas rochas (manualmente, com picos, maços e cunhas), até as reduzir a um tamanho tão fino que permita separar o ouro por gravidade (pesa mais do que os restantes materiais). Foram precisos mais de 2000 homens a trabalhar diariamente, durante 250 anos. Os romanos instalaram-se, de facto, na região da Padrela e nela desmontaram montanhas, desenharam um emaranhado de galerias subterrâneas, que serviam para escoar o minério e para passagem de água, e poços, que serviam para ventilação e também para a retirada de materiais. Gregorio Garcia e Marisol Blanco vivem do outro lado da fronteira, em Verín, onde trabalham na vigilância florestal. Ambos conhecem relativamente bem a actividade mineira — sobretudo os perigos para quem anda a combater incêndios. “Em qualquer sítio, no meio da floresta, há uma galeria abandonada. Durante a noite é muito fácil um bombeiro cair num desses buracos. São um perigo, porque quase nada está sinalizado”, protesta Gregorio. Chegaram a Tresminas sem planos nem marcações, mas muita vontade de conhecer. Meteram-se ao caminho no Trilho dos Miradouros, um circuito curto, gratuito, bem sinalizado, de pouco mais de um quilómetro e que permite aceder aos pontos estratégicos para contemplar a imensidão das cortas mineiras de Covas e Ribeirinha. Foi lá que os encontrámos, e foi lá que pediram para nos fazer companhia no trilho seguinte — esse sim, carece de marcação e de guia. No trilho da Corta da Ribeirinha o objectivo é perceber de que forma a exploração do ouro em Tresminas conjugou a actividade a céu aberto com a actividade subterrânea. Depois de descer até ao centro da corta da Ribeirinha este trilho inclui uma visita ao interior da Galeria dos Alargamento, para perceber o complexo esquema de galerias e poços e adivinhar métodos que à época seriam sofisticadíssimos e revolucionários. Espaços oficinais dentro das galerias, canais amplos que permitiam a passagem de carregamentos sobre rodas, de tracção animal, uma espécie de precursor do que viria a ser o caminho-de-ferro, escadas interiores a dar acesso a outras galerias e galerias que dão acesso a outra corta. Patrícia Machado, a arqueóloga da câmara que nos guia a visita, ensina-nos, até, a vislumbrar os vestígios de ouro nas paredes das minas — ensina-nos tudo isso e também a não incomodar os morcegos, espécie protegida e abundante por aquelas bandas. A proposta do serviço de arqueologia da Câmara Municipal de Paredes é visitar o Centro de Interpretação das Minas de Ouro de Castromil e Banjas, instalado desde 2013 numa velha escola primária recuperada em pleno centro da aldeia, e onde há informação abundante em ambiente interactivo. Para além das pedras com dois mil anos que nos mostram como trabalhavam os moinhos (para desfazer o minério), de exemplares de lucernas (qualquer semelhança com a lâmpada do Aladino é pura coincidência) e de muitas explicações sobre como a natureza se organizou para que as rochas metassedimentares e as falhas geológicas permitissem o aparecimento (e a exploração) do ouro, há também uma curiosa maquete que oferece uma visão integrada de todo o espaço. A maquete foi oferecida por uma das últimas empresas que tentou avançar com uma concessão de ouro em Castromil, e que acabou rejeitada por pretender fazer uma exploração a céu aberto, pouco compatível com as apertadas legislações ambientais e com a cada vez maior mobilização das populações locais. Paredes Visitas por marcação: 255 788 973/4 Email: arqueologia@cm-paredes. pt GratuitoSair do centro de interpretação com todas estas explicações e referências torna muito mais fácil perceber a actividade mineira propriamente dita, logo na fase seguinte da visita. Depois de vermos filmes e maquetes já conseguirmos perceber, na hora, o que é uma corta, o espaço de exploração ao ar livre, em que a “montanha” vai sendo “desmontada” à força de água e fogo e deixamos reservada a emoção maior para a hora de entrada numa das galerias subterrâneas que estão disponíveis para visita. Recomenda-se calçado confortável (e impermeável) e que seja levada muita a sério a obrigação de usar um capacete na cabeça, que é oferecido na visita. Isto porque nos vamos sentir uma espécie de Alice no País das Maravilhas. Não só porque a entrada da galeria faz lembrar, e muito, o buraco onde se enfiou o coelho apressado, mas também porque vamos sentir que o mundo vai crescer, e encolher, a velocidades estonteantes. Ora estamos de pé, sem problemas, a olhar para as paredes da galeria e a tentar perceber a diferença dos dois tipos de ouro que existiam na região (em Castromil o ouro aparece em partículas de electrum, quase sempre microscópicas; nas Banjas, o ouro aparece em estado quase puro, e muitas vezes, com pequenas pepitas visíveis a olho nu), ora estamos a forçar-nos a baixar as pernas para o corpo continuar a caber em canais que, subitamente, parece que encolheram. Damos por nós a pensar: alguns destes romanos tinham que ser muito pequeninos. Ou então eram doidos. E razão tinham os gauleses que viviam na aldeia do Asterix. O Parque Paleozóico de Valongo tem quilómetros de trilhos marcados, acessíveis a todos os que gostam de caminhadas e de natureza, sabendo que, no caso, estará a percorrer importantes jazidas de fósseis que têm despertado o interesse dos paleontólogos nacionais e internacionais. E tem também identificadas mais de 350 cavidades a denunciar o grande interesse mineiro que os romanos tiveram na região. Nesta serra os filões de ouro surgem associados ao quartzo, que precisava de ser desmontado da rocha, e depois triturado e processado na “lavaria” que o deixaria no estado mais puro possível. A técnica romana era tão simples quanto eficaz: seguir o filão na rocha, quer este vir à esquerda ou à direita ou obrigue a escavações profundas. Loja interactiva do Turismo de Valongo Visita por marcação: 222 426 490/ 911 042 398 Email: turismo@cm-valongo. pt Preços: estudantes: 1, 55€; público em geral: 2, 05€ semana/2, 55 € fim-de-semanaÉ assim o Fojo das Pombas, a mais famosa de todas essas cavidades: estreito, sinuoso, profundo. Perfeito para quem gosta de aventura ou, até, de um bom desafio de espeleologia — já há autorizações para fazê-lo, mas não será qualquer inexperiente que ali desce de corda amarrada à cintura. Dispensámos as cordas e fizemos a visita normal, numa altura em que também alunos de escolas secundárias dos vizinhos concelhos de Paredes e Penafiel se preparavam para descer depois de nós. A emoção está garantida — e até é preciso avisar que há um sítio apropriado para a melhor selfie (com enquadramento para um precipício claro, mas sempre em segurança). Durante a visita explica-se como os romanos procediam ao desmonte da pedra e escavavam a pedra até aos limites do fisicamente possível, usando a força braçal, a água e o fogo. Maria Encarnação Silva, professora de Ciências Naturais que ali traz os seus alunos do sétimo ano, há muito tempo tem já a certeza do que lhe vão dizer: “Que o Fojo das Pombas é a melhor parte da visita de estudo. ” O Centro de Interpretação Ambiental ali ao lado que nos desculpe, mas é que não nos custa mesmo nada acreditar. Há neste momento em toda a Europa cerca de 30 mil pedreiras e minas activas. Uma das mais antigas que continua em laboração, em Portugal, é a pedreira que a Empresa de Lousas de Valongo (ELV) continua a explorar, desde 1865. A Pedreira da Milhária, assente no chamado “anticlinal de Valongo”, que permitiu o afloramento da ardósia e a sua exploração à superfície, tornou-se na pedreira mais antiga em actividade de que há registo em Portugal, com 15 hectares de área extractiva e reservas para vários anos. Rua de São Domingos Campo/Valongo Visita por marcação: 222 426 490; 911 034 687; 911 034 971 Email: museus. municipais@cm-valongo. pt GratuitoEmpresa das Lousas de Valongo Rua Central de Vinhas, 510; Campo Visita por marcação: 224 157 400 Email: info@valongoslate. comA ELV é proprietária de mais de 100 hectares na faixa lousífera de Valongo — esta empresa tem enormes reservas de matéria-prima, mesmo com uma capacidade de produção que ultrapassa os 200 mil quadrados por ano. E surge como o complemento ideal a uma visita prévia ao Museu da Lousa, situado em Campo, Valongo, concelho de grande tradição mineira, e no qual é possível perceber como seria uma casa de família e conhecer as difíceis condições de trabalho, e de vida, a que se sujeitavam. Apesar de já muitos minérios terem sido extraídos da região, é pela ardósia que o concelho continua a ser conhecido. Toda a ardósia comercializada pela ELV é extraída da mesma pedreira, numa gigantesca mina a céu aberto, de onde são retirados, mecanicamente, gigantescos blocos, de aproximadamente 16 toneladas cada, antes de serem seleccionados e encaminhados para os sectores da transformação. Se antes eram só homens a fazer este trabalho, quase não o conseguimos imaginar. Hoje presenciamos no interior da fábrica que as máquinas tomaram o lugar de quase toda a gente. E o quase é importante, porque há uma tarefa específica que não são as máquinas a desenvolver: a clivagem da pedra (o acto de a separar ou dividir) à conta de um macete e de um pulso. E a lousa, àquelas mãos experimentadas, mais parece manteiga sob uma faca. Não havia quem me convencesse que a fábrica da Secil em Maceira-Liz estaria a funcionar naquele domingo. O aspecto ordenado e limpo no seu exterior, os poucos carros no parque de estacionamento, a ausência de fumo a sair pela chaminé. Mas estava, ainda que não a todo o gás — ou melhor, sem grandes quantidades de pneus, que 50% do consumo energético da fábrica é proveniente de energias alternativas, como a queima de pneus velhos, mas só porque não tem havido encomendas que o justifiquem. O consumo de cimento é, de facto, um bom indicador da crise em que mergulhou o sector da construção. A Empresa de Cimentos de Leiria foi fundada por José de Rocha de Mello, um tecnocrata que foi estudar engenharia para a Suíça e que quando regressou a Portugal fez sociedade com Henrique Sommer, um financeiro de origem alemã. É difícil resistir à tentação de dizer que foi por causa disso (da proverbial pontualidade e eficiência suíça ou do caricaturado rigor alemão) que surgiu no lugar de Maceira-Liz a “fábrica modelo” tal como a concebeu Rocha e Mello. Visita por marcação: 244 779 900, quintas, sábados e domingos, das 14h às 18h Email: maceira@secil. pt GratuitoMais de 70 anos depois, a fábrica continua a funcionar, mesmo a um domingo de manhã, e o bairro operário que a circunda continua cheio de moradores. Um deles é Augusto Pinto Monteiro, que depois de trabalhar 38 anos na fábrica a fazer cimento que era, e é, exportado para os quatro cantos do mundo, nos abre as portas do Museu da Fábrica e nos guia numa visita que tem tanto de Ciências Naturais como de Ciências Sociais. Esta verdadeira “cidade” nasceu ali, por estar no preciso vale em que as formações calcárias da serra da Arrábida se separam das formações argilo-calcárias que se estendem até Setúbal: são elas que disponibilizam o calcário, a marga e a argila, as três matérias-primas de que é feito o cimento. Augusto lembra-se bem do apito que às horas certas chamava os trabalhadores para a fábrica, e, por ter nascido ali, assistiu praticamente ao nascimento daquela cidade operária onde não falta nada: escola primária, posto médico, capela, casa do pessoal, barbearia, restaurante, cooperativa, parque infantil, instalações desportivas. Conta-nos a história toda recorrendo a um invejável espólio (fotográfico e não só) antes de nos guiar fábrica fora, até à pedreira dos Calcários. O plano de lavra desta pedreira diz que ela ainda poderá descer mais dois patamares e nós já estamos impressionados com a dimensão e a profundidade que ostenta. O Observatório da Pedreira de Calcários é também um local privilegiado para observar algumas aves de rapina e aves aquáticas que procuram a pedreira como local de alimentação, refúgio ou nidificação. Monte de Santa Luzia, Viseu Tel. : 232 450 163 Email: museudoquartzo@cmviseu. pt Horário: terças das 14h às 17h; de quarta a domingo das 10h às 12h e das 14h às 17h GratuitoO Museu do Quartzo abriu portas em Viseu em 2012 e é o único no mundo dedicado a este mineral. Assim dito, quase que era suficiente para justificar a inclusão neste roteiro. Mas é preciso dizer também que, do alto do Monte de Santa luzia, há como que uma espécie de janela aberta para a crosta terrestre — o janelão do museu que está orientado para uma impressionante parede de quartzo é isso mesmo, um acesso privilegiado ao ventre da Terra. O Monte de Santa Luzia teve no passado exploração deste mineral (entre 1961 e 1986), e a construção do museu (que recebeu a coordenação científica do paleontólogo Galopim de Carvalho) foi uma excelente forma de a requalificar. Porque quem visitar este museu não vai ficar a perceber apenas tudo o que diz respeito ao quartzo e à forma como ele é extraído e processado. Vai também ficar bem mais consciente da importância do património geológico em todas as suas características, científicas e económicas. Com recurso a várias experiências interactivas, e todas de grande apelo e acuidade visual, vai perceber que lá porque o quartzo é o segundo mineral mais comum na crosta terrestre (perdeu a corrida para os feldspatos) não quer dizer que seja fácil encontrá-lo nas suas vertentes cristalinas, que permitem utilização em joalharia e artes decorativas. E vai poder contemplar belíssimos exemplares de minerais, recolhidos em vários pontos do mundo. Igualmente marcante, e não só para os miúdos, para quem foi inicialmente pensado, a área pedagógica vai revelar curiosidades para todos. Se “a casa é uma máquina de morar”, como avisava Le Corbusier, a que está montada no primeiro piso do museu vai revelar os minerais que existem em cada divisão: desde o fogão na cozinha ao chuveiro da casa de banho, passando pelo lápis em cima da secretária ou o candeeiro no quarto. Foi o primeiro geoparque nacional, ocupa uma imensidão de espaço (sete municípios, 4600 quilómetros quadrados) e conta a história de uma avassaladora imensidão de tempo: 600 milhões de anos. A história poderá ser lida por qualquer curioso ou entendido em geologia, mas não temos problemas em confessar que dá um inegável incremento à visita ser acompanhado por um guia com o talento e o entusiasmo que mostrou Carlos Neto Carvalho — o geólogo que é, também, o director do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. Tel. : 272 320 176 Email: geral@naturtejo. com www. naturtejo. comAo ouvi-lo parece fácil imaginar, e perceber, como surgiu a Falha do Ponsul, um “degrau” na paisagem ao longo de 120 quilómetros, com origem num movimento de há 300 milhões de anos, quando os continentes colidiram para formar o supercontinente Pangea. E a partir da plataforma do Castelo de Vila Velha de Ródão, em plena serra das Talhadas, “o gigante quartzítico”, como se lhe refere o nosso guia, é também fácil olhar com outros olhos para a garganta das Portas de Ródão (e ter a sorte de espreitar a maior colónia de grifos que existe em Portugal) ou perceber a imensidão do Conhal do Arneiro, uma lavra a céu aberto que ocupa uma extensão de quase 70 hectares, em que os romanos extraíram ouro por desmonte gravítico. Há um trilho pedestre que permite conhecer a totalidade deste local — o Trilho do Conhal. Assim como há outros, como a rota das minas (que está temporariamente encerrada para manutenção) que nos levam até ao couto mineiro de Segura, de onde se extraiu volfrâmio, estanho, ouro, zinco e chumbo. Este parque surgiu em 2006 e desde então tem sabido organizar-se, multiplicar-se em propostas e desafios que estão ao alcance de qualquer cidadão. Basta seguir as indicações das rotas pedestres que estão devidamente sinalizadas e agrupadas por temas. Já são cerca 40 e oferecem quase 500 quilómetros de trilhos, pelo que o mais difícil poderá ser escolher por onde começar. Mais vale pensar que precisa de voltar mais vezes do que ficar assustado com a imensidão. O Geopark Naturtejo tem 16 geomonumentos entre as suas fronteiras, e dois dos mais procurados são a aldeia histórica de Monsanto, um monte-ilha (ou inselberg) granítico que ainda não perdeu o epíteto de aldeia mais portuguesa de Portugal; o outro é o Parque Iconológico de Penha Garcia, em Idanha-a-Nova. O anúncio mostra uma praia de areia limpa com guarda-sóis de madeira. Não há ninguém no areal, estamos no concelho de Mértola, a imagem contrasta em altos berros com as imagens do Algarve que associamos ao Verão. A única inscrição exorta: “Ainda há lugares assim” e, constatamos nós, não se trata de um golpe publicitário. A surpresa é real, sobretudo quando se trata das Minas de São Domingos, um couto mineiro de larga dimensão, tão extenso que ninguém se atreve a contabilizar qual é a área que ocupa, em toda a sua extensão. Nem a Fundação Serra Martins, a instituição de direito privado (participada pela Câmara de Mértola e pela La Sabina, a empresa que ficou com o espólio, com a falência da britânica Mason& Barry) e que está a lutar pela preservação a nível social, ambiental, patrimonial e paisagístico daquele interminável legado. Mértola Não necessita de marcação prévia Entidade: Fundação Serrão Martins Tel. : 286 647 534 Email: fserraomartins@gmail. com Morada: Edifício da Escola Primária, Mina de São Domingos www. fundacaoserraomartins. ptA praia fluvial do folheto — que, na verdade, se chama praia da Tapada Grande — existe mesmo, numa das duas albufeiras de água doce que foram projectadas para abastecer de água a população que se instalou no local, e permitir um conjunto de canais durante a exploração da mina. E logo ali ao lado também existem albufeiras de água ácida, vestígios daquela que dizem ter sido a primeira linha de comboio a funcionar no país (para ligar a mina à auto-estrada fluvial que já era o Guadiana, no porto do Pomarão) e, sobretudo, quilómetros de paisagem que parece saída de outro mundo. Escombreiras gigantescas, cortas mineiras preenchidas de água ácida de um vermelho berrante, esqueletos de fábricas antiga abandonadas há décadas. Desde a Antiguidade que se procede à extracção de minérios na chamada faixa piritosa ibérica. Ouro, prata e cobre nos períodos romanos e pré-romanos. Cobre, zinco, chumbo e enxofre no período moderno. Em São Domingos, a britânica Mason & Barry fez laboração contínua entre 1858 e 1966, sempre com mais de um milhar de trabalhadores nas suas fileiras. Miguel Soeiro, de 81 anos, foi um dos que trabalhou até ao último dia. Começou aos 16 anos na fábrica do enxofre, ficou desempregado 15 anos depois, com a falência da empresa. “Fui trabalhar para Moscavide. Mas mal me reformei vim para aqui. Reformei-me a uma quarta, na quinta já estava em São Domingos a descarregar as minhas coisas”, conta. Encontramo-lo à porta do antigo cine-teatro, hoje um pequeno museu, e o melhor local para começar todas as visitas. De garrafa de água na mão (“Tenho um problema nos pulmões, não posso estar muito tempo sem beber água”, explica), Miguel Soeiro acedeu a acompanhar-nos até à Achada do Gamo, o centro das actividades metalúrgicas sobre os minérios que ali foram extraídos, onde pontuam os escombros da fábrica de enxofre onde ele trabalhou. Conta que já lá não ia “há muitos anos”, mas lembra-se, “como se fosse ontem”, onde estava a trituradora, onde ele próprio se ocupava “na lavagem do enxofre”, onde se pesavam e separavam materiais. Ao contrário do pai, “que descia ao fundo da mina”, Miguel Soeiro não se sente um herói. “Estive sempre à superfície. ” Mas habituou-se a partilhar todas as histórias que sempre ouviu circular pelas mais de 30 ruas da aldeia, quando era mais novo, e vivia com os pais e sete irmãos numa casa de duas divisões. Era uma vida dura. “Mas eu não queria ter outra”, confessa. A aldeia Mineira do Lousal, no concelho de Grândola, chegou a ter 2500 habitantes, e mais de 1100 operários, ocupados na extracção de pirite, importante para retirar o enxofre que era utilizado em fertilizantes. Funcionou entre 1900 e 1988, tendo posteriormente sido abandonada. O processo de reabilitação social, económica, ambiental e patrimonial, que permitiu a requalificação de várias estruturas, transformaram o Lousal actualmente num dos melhores sítios do país para conhecer, de forma musealizada, a actividade mineira que existiu na região. Tel. : 269 750 520 Email: info@lousal. cienciaviva. pt Preços: crianças até seis anos, grátis; dos seis aos 17 anos, 5€; adultos: 6, 50€; séniores: 5€; famílias: 15€. Galeria Waldemar Não recomendada a menores de seis anos Bilhete geral: 5€; bilhete família (até dois adultos com filhos até aos 17 anos): 15€O Centro de Ciência Viva do Lousal disponibiliza visitas guiadas a toda a área mineira, permitindo que ninguém saia de lá sem saber o que é um “chapéu de ferro” (uma rocha de cor intensa que é normalmente a parte superior de um jazigo mineral, e era, por isso, o melhor indicador de que haveria um filão para explorar) , um “malacate” (uma estrutura em forma de torre assente sobre os poços das minas, e que tem por finalidade içar matéria prima e descer trabalhadores) ou uma “corta mineira” (área de exploração a céu aberto). E, já no interior da Galeria Waldemar, a primeira galeria subterrânea que foi aberta no Lousal, e que está aberta ao público há menos de um ano, perceber que os ratos podem ser os melhores amigos dos homens. A experiência na nova aldeia do Lousal ficará completa se, por acaso, for feita a um fim-de-semana e incluir uma passagem pelo restaurante existente no local. É que a uma mesa do canto costumam juntar-se antigos mineiros. E ao fim das refeições costumam brindar todos os presentes com demonstrações improvisadas de cante alentejano. Desde há cinco mil anos que há registo de exploração mineira em Aljustrel, embora com períodos de interregno. No museu de Aljustrel e no chapéu de ferro de Algares — dois pontos que podem ser visitados — encontram-se também os vestígios das ruínas romanas de Vipasca. A paisagem de Aljustrel é, toda ela, muito dominada pela actividade mineira, com a presença de malacates e chaminés das fábricas. Malacate do Poço de Viana, Museu Municipal de Aljustrel, Núcleo de Compressores Tel. : 284 600 070 Email: museu@mun-aljustrel. pt Entrada livre Não necessita de marcação prévia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O malacate do poço de Viana e o núcleo da central de compressores são outros dois pontos de visita que permitem conhecer a importância da actividade mineira no concelho e na região. Mas aqui não se está a falar apenas de passado, uma vez que o couto mineiro de Aljustrel ainda tem uma exploração activa, concessionada à Almina, e onde colaboram cerca de meio milhar de pessoas na extracção de minério e produção de concentrados de cobre. A qualidade — e, já agora, a beleza — do subsolo de Aljustrel vai em breve ser visitável, com a abertura ao público da chamada Galeria 30, junto ao Malacate Vipasca. Esta galeria faz parte do projecto do Parque Mineiro de Aljustrel, que tem vindo a ser desenvolvido ao sabor da aprovação de candidaturas aos fundos comunitários. As obras de recuperação da galeria estão praticamente concluídas. Mas ainda não há data prevista de abertura ao público.
REFERÊNCIAS:
O que é que Portugal tem? Mais sabor e cor
Para se abastecer, o país vizinho importa produtos alimentares dos seus parceiros europeus. Portugal é o quarto principal fornecedor e com quem mantém estreita ligação desde sempre. Azeite, polvo e laranjas são os três mais comprados a Portugal. (...)

O que é que Portugal tem? Mais sabor e cor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para se abastecer, o país vizinho importa produtos alimentares dos seus parceiros europeus. Portugal é o quarto principal fornecedor e com quem mantém estreita ligação desde sempre. Azeite, polvo e laranjas são os três mais comprados a Portugal.
TEXTO: Azeite alentejano embalado com o rótulo “produzido na União Europeia”, laranja sumarenta do Algarve que não chega a ver as bancas de fruta portuguesas, polvo nacional que é servido em tapas ou exportado por Espanha para o Japão, tomate de cor e sabor cobiçados pela indústria alimentar. Nas prateleiras dos supermercados espanhóis, cabem todos estes alimentos, incluídos na lista dos dez produtos agrícolas e alimentares que o país vizinho mais comprou a Portugal em 2015. Apesar de não ser a despensa espanhola — esse título cabe a França —, Portugal é o quarto local preferido de Espanha para se abastecer. No ano passado, 36, 6% dos bens agro-alimentares produzidos em solo nacional e exportados tiveram Espanha como destino. Por seu lado, também foi a Espanha que Portugal foi comprar 48, 1% dos alimentos que importou. A relação entre os dois países tem-se mantido firme e intocada pela crise, embora a dependência portuguesa seja mais evidente. A proximidade geográfica e os hábitos de consumo semelhantes fazem com que Espanha seja o destino mais relevante do comércio internacional português. Contudo, do outro lado da fronteira, os olhos estão postos para lá dos Pirenéus. França é o principal parceiro comercial de Espanha, escolha justificada pelo Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente pela “proximidade geográfica e a importância do sector em ambos os países”. Segue-se a Alemanha, em segundo lugar também nas exportações e nas importações. Portugal é o quarto principal parceiro, onde Espanha se abastece e para onde destina os seus produtos alimentares, depois dos Países Baixos. A poderosa indústria alimentar ocupa um lugar de destaque na economia espanhola, valendo perto de 21% das vendas da actividade industrial e 18, 2% do emprego. Representa ainda 17, 6% do total das exportações. À sua escala, Portugal tem para oferecer alguns produtos e ajuda, assim, a reforçar a forte posição da indústria alimentar de Espanha no mercado internacional: é a quinta que mais factura na União Europeia, destacando-se sobretudo na exportação de azeite, carne de porco (é o maior produtor da UE), vinho, tangerinas e laranjas. Enrique Santos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, diz que os dois mercados são “cada vez mais inter-relacionados e interdependentes”. “Para as empresas portuguesas, o mercado espanhol tem enormes potencialidades, tendo em conta as vantagens competitivas quando comparadas com outros mercados, por exemplo, a proximidade geográfica e cultural com tudo o que isto significa em termos de custos, em que o sector agro-alimentar tem um peso importante”, afirma. Enrique Santos recorda ainda que Espanha é o “maior cliente e fornecedor do mercado português e os números do comércio bilateral não param de aumentar”. Espanha é o maior cliente e fornecedor do mercado português e os números do comércio bilateral não param de aumentar”O exemplo mais relevante nesta relação duradoura é o do azeite, o principal produto agro-alimentar exportado para Espanha e também aquele que o país vizinho mais exporta para mercados internacionais (2825 milhões de euros em 2015). No ano passado, os produtores nacionais de azeite virgem venderam mais de 165 milhões de euros deste produto aos espanhóis, o valor mais elevado desde 2013 e 51% acima do que se verificou em 2014. Em 2015, Espanha sofreu quebras de 50% na produção, o que obrigou o maior produtor mundial de azeite a comprar ainda mais fora esta matéria-prima. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola adianta que a procura de azeite “rondou os 1, 45 milhões de toneladas e as disponibilidades não ultrapassaram os 1, 3 milhões”. “Foi um ano muito complicado para o mercado espanhol de azeite. Houve uma importante quebra na produção em cerca de 50%, e as razões são fundamentalmente de ordem climática. Espanha viu-se forçada não apenas a importar de Portugal mas também de outros mercados produtores, como Marrocos, Grécia ou Tunísia. O mercado espanhol conta como um importante mercado de exportação de azeite e, em 2015, viu-se forçado a dar resposta a estes mercados. Daí a necessidade de importar azeite”, detalha. Os produtores espanhóis têm investido directamente no olival nacional para suprir necessidades do seu mercado e o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo estima que explorem 50 mil dos 177 mil hectares de olival existentes nesta região (onde se produz 76% de todo o azeite nacional). Em termos globais, a produção em Portugal registou um máximo histórico em 2015, atingindo 1, 19 milhões de hectolitros: foi o terceiro maior registo dos últimos cem anos. Foram precisamente estes olivais do Alentejo, de produção intensiva e superintensiva, com variedades de azeitona mais produtiva e dotados de sistemas de rega que “compensaram largamente a baixa produtividade observada em muitos olivais tradicionais de sequeiro do interior Norte e Centro”, referiu recentemente o INE. As exportações para Espanha têm estado a aumentar devido à qualidade do nosso polvo, o melhor do mundo, com uma alimentação rica em mariscoMas de Espanha não vem apenas o interesse pelo azeite português. O polvo é o segundo principal produto vendido aos parceiros ibéricos, não fosse Portugal o segundo exportador mundial da espécie octopus spp, apenas superado pela China. No ano passado, os espanhóis gastaram quase 90 milhões de euros em polvo, um crescimento de 43% face a 2014 que não surpreende José Agostinho, presidente da Associação dos Armadores de Pesca de Polvo do Algarve (Armalgarve Polvo). “Além de comprarem directamente no mercado, há várias empresas portuguesas que exportam para Espanha, quer fresco, quer congelado. Ultimamente, as exportações para Espanha têm estado a aumentar devido à qualidade do nosso polvo, o melhor do mundo, com uma alimentação rica em marisco”, conta. Os espanhóis vêm atraídos pela qualidade “e pagam-na”. E a popularidade crescente deste molusco, que escorrega facilmente das lotas nacionais para outros destinos, também está relacionada com um esforço de divulgação que tem sido feito pelos pescadores e autoridades de pesca. Os consumidores, diz José Agostinho, não sabiam comer polvo, mas hoje sabem que podem usá-lo de formas diversas, a ponto de rivalizar com o bacalhau. Os espanhóis consomem-no, por exemplo, em tapas, mas a verdade é que nem todo o polvo português termina a viagem em Espanha. “Compram aqui, mas depois transportam-no para o Japão. E o produto é nosso”, revela o presidente da Armalgarve, que quer aumentar as vendas para oriente. Os armadores estão, por isso, a “trabalhar para reduzir os intermediários e fazer a exportação directa”, numa tentativa de disputar o mercado com os espanhóis. Ao mesmo tempo, a venda de polvo vivo para o Japão e para a Coreia do Sul está em fase final de ensaio na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (a maior do país). Falta encontrar os clientes certos, dispostos a comportar os custos de transporte. “Já é possível exportar polvo vivo, mas falta encontrar os preços certos e os compradores certos. O custo de transporte é maior, tem de ser por avião e estamos a tentar arranjar clientes”, adianta. No Algarve, o interesse espanhol estende-se à laranja. Pedro Madeira, director da Frusoal, conta que, com maior capacidade de compra, Espanha tem comprado laranja portuguesa a preços acima do mercado e combinado com antecedência o negócio. “É por isso que muita laranja está a ir para Espanha”, explica o responsável desta organização de produtores. Em Portugal, diz, as “cadeias de distribuição não acompanham os preços espanhóis e, por isso, temos durante menos tempo laranja nacional à disposição dos portugueses”. O ano passado, a exportação de laranjas para Espanha disparou 58%, chegando perto dos 67 milhões de euros. Nunca foram tão valorizadas como em 2015: em 2013, as exportações valiam 34 milhões de euros (e ocupavam o 6. º lugar entre os produtos agro-alimentares fornecidos a Espanha); em 2014, mais de 42 milhões de euros. Ao mesmo tempo, as laranjas são um dos cinco produtos que Espanha mais exporta para outros mercados, com o valor das vendas a atingir uns expressivos 1160 milhões de euros. Em termos de cor e sabor, o tomate português é melhor do que o espanholNa lista dos dez principais produtos vendidos a Espanha, está o tomate, considerado o melhor do mundo, sobretudo pela indústria alimentar, que depois produz molhos e todo o tipo de sucedâneos. Espanha também vem abastecer-se (desembolsou perto de 35 milhões de euros, segundo o INE) nas versões “fresco e refrigerado”. Miguel Cambezes, presidente da Associação dos Industriais do Tomate (AIT), detalha que os espanhóis utilizam a matéria-prima produzida em Portugal devido à proximidade geográfica e às características do tomate que aqui encontram, com mais cor e sabor. “Há uma organização de produtores que tem a sua zona de influência em Elvas, mais próximo de fábricas espanholas da Estremadura do que das unidades portuguesas do Alentejo. Há contratos [de venda] que são firmados previamente e esta organização não entrega um quilo de tomate a Portugal”, conta. Há também fábricas espanholas que arrendam terrenos em Portugal onde produzem tomate para se abastecer, continua. Há ainda produtores portugueses que, não estando localizados na zona de Elvas, “entregam tomate ao abrigo de contratos firmados com a indústria espanhola e que são usados para a produção de pasta de tomate, sumos ou cubo”, adianta. Convivem duas realidades: tomate que é produzido e transformado em Portugal e enviado, depois, para Espanha. E tomate produzido em território nacional e transformado no país vizinho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De acordo com Miguel Cambezes, Portugal transforma 1 milhão e 507 mil toneladas, enquanto Espanha processa mais de dois milhões e 950 mil toneladas, “onde estão incluídos os tomates portugueses”. “Em termos de cor e sabor, o tomate português é melhor do que o espanhol. A cor é reconhecidamente muito boa e quando misturo concentrado feito com tomate português estou a melhorar o meu produto”, garante. A maior parte dos criadores de borrego no Alentejo vende os seus animais para serem engordados em Espanha, e é o país vizinho que ganha com o abate e comercialização da pele. Um porco alentejano que seja vendido, em média, a 450 euros a carcaça “gera quase mil euros num único presunto"Muita água, que escasseia na Andaluzia, muita terra boa e barata disponível e apoios estatais e da União Europeia trouxeram centenas de agricultores espanhóis, muitos andaluzes, para o Alentejo. Compraram milhares de hectares para olival e estão contentes. Muitos continuam de olho em Portugal. O sol do Algarve não vale só para fazer a multiplicação do número de turistas. Na produção de citrinos e bivalves, o sabor “português” distingue-se, também, pelas condições naturais das terras do Sul. Espanhóis condicionam a olivicultura. . . mas "no bom sentido”, como diz o produtor José António Castelo Branco
REFERÊNCIAS:
Pedro Dias diz-se inocente e entrega-se à polícia em Arouca
RTP mostrou detenção em directo. "Piloto" deverá ser interrogado nesta quarta-feira. (...)

Pedro Dias diz-se inocente e entrega-se à polícia em Arouca
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161231230727/http://www.publico.pt/1750472
SUMÁRIO: RTP mostrou detenção em directo. "Piloto" deverá ser interrogado nesta quarta-feira.
TEXTO: Pedro Dias entregou-se à Polícia Judiciária nesta terça-feira à noite em Arouca, numa detenção filmada em directo pela RTP3. O homem suspeito de ter matado um militar da GNR e um civil estava fugido às autoridades desde 11 de Outubro. A advogada que representa Pedro Dias, Mónica Quintela, telefonou na noite desta terça-feira para o director nacional da PJ, Almeida Rodrigues, para o informar da intenção do seu cliente de se entregar à PJ. O telefonema acordou Almeida Rodrigues, que se encontra na Indonésia (onde é de madrugada) a participar na assembleia geral da Interpol. Como a PJ mantinha pessoal ligado à vigilância do suspeito em Arouca, numa questão de minutos, a entrega concretizou-se. Antes de falar com Almeida Rodrigues, contou Mónica Quintela ao PÚBLICO, foram contactados Sandra Felgueiras e um jornalista do Diário de Coimbra. “Estávamos com medo que houvesse problemas na entrega de Pedro Dias, tínhamos que garantir a sua absoluta segurança”, disse a advogada, que explicou que disse aos jornalistas apenas que precisava falar com eles, tendo marcando encontro em Arouca, na casa onde acabariam por encontrar Dias. O suspeito só deverá ser presente a um tribunal na quarta-feira. Nesta terça-feira à noite, depois de ser levado em directo da casa de Arouca (a casa de uma pessoa amiga da família, segundo Mónica Quintela), foi para o departamento de investigação criminal da Guarda da PJ. Antes de ser detido, Pedro Dias deu uma entrevista à jornalista Sandra Felgueiras, em que alegou ser inocente e em que, segundo o relato da jornalista, disse que se entrega às autoridades porque não quer ser fugitivo para o resto da vida. “Mal cheguei ao alto da Serra da Freita, fui recebido com uma salva de tiros de G3. E a partir daí fui perseguido como um animal", disse Pedro Dias, num excerto da entrevista divulgada pela RTP. Nesta entrevista, Pedro Dias recusou assumir a autoria dos dois homicídios - "de maneira nenhuma" - e disse que "o senhor agente da GNR terá certamente mais a dizer". Na entrevista que deu à RTP, Pedro Dias disse que durante este tempo dormiu em casas abandonadas e chegou até a atravessar o rio Douro a nado. No final da semana, decidiu que se entregaria nesta terça-feira ao fim da tarde. Fez chegar a um familiar um bilhete anunciando isso mesmo. “Disse que não queria ser morto”, contou a jornalista Sandra Felgueiras em directo de Arouca, e por isso a RTP foi chamada à morada indicada por Pedro Dias. Ainda segundo o relato de Sandra Felgueiras, Pedro Dias afirmou que tentou entregar-se várias vezes, mas sentia que não havia condições de segurança para o efeito. “Piloto”, como é conhecido, garante que não saiu de Portugal nestas quatro semanas em que foi perseguido pelas autoridades. Pedro Dias, contou ainda a jornalista da RTP, garante que neste tempo em que esteve fugido sobreviveu com 60 euros. “Piloto” garantiu, segundo a RTP, que tudo não passou de um mal-entendido e que Portugal assistiu nas últimas semanas à prova viva de que não vivemos num Estado de direito, onde as polícias são capazes de avaliar quem é culpado. Ainda falou com a mulher ao telefone, antes de ser levado. Pedro Dias alegou também à RTP que recebeu uma chamada no dia seguinte aos acontecimentos de Aguiar da Beira de um sargento da GNR a dizer que ia ser morto. Decidiu então que não podia regressar a casa. Tentou arranjar abrigo para pensar no que iria fazer. O major Bruno Marques disse ao PÚBLICO que a GNR desconhecia que Pedro Dias pretendia entregar-se. O porta-voz do Comando Geral da GNR explica que o suspeito se entregou à Polícia Judiciária, pelo que não tem detalhes sobre o caso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Conhecido como “Piloto”, Pedro Dias estava desaparecido desde 11 de Outubro, dia em que dois militares da GNR foram alvejados em Aguiar da Beira. Um morreu e outro ficou ferido. Na mesma madrugada, um casal foi igualmente alvejado: o homem morreu e a mulher ficou gravemente ferida, em São Pedro do Sul, distrito de Viseu. Entre o belo e o monstro, as duas faces do homem mais procurado de PortugalPerícia psiquiátrica feita ao suspeito há uns anos aponta para sociopatia
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR PJ
António Costa contra o mundo
Desde que António Costa chegou ao governo só se discutem impossibilidades. (...)

António Costa contra o mundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde que António Costa chegou ao governo só se discutem impossibilidades.
TEXTO: António Costa seria um fantástico primeiro-ministro se não existisse mundo. Num mundo sem gravidade, Costa, como as vacas, voaria. Num mundo sem défice, Costa esbanjaria. Num mundo sem matemática, Costa acertaria. Mas neste mundo, Costa está tramado – e nós com ele. Há quem diga: não são as suas políticas que estão desajustadas do mundo, é o mundo que está desajustado por não permitir as suas políticas. Até posso dar isso de barato. Mas pergunto: num braço-de-ferro entre as políticas actuais de António Costa e as regras que actualmente regem o mundo, ganhará o mundo ou as políticas de António Costa? Eu voto no mundo. E é por isso que não percebo porque é que o primeiro-ministro continua a espernear e a fingir que a sua estratégia para o país algum dia poderá resultar dentro da atmosfera terrestre. Minto: até percebo, em parte. António Costa saltou para cima do palco – ou, para citar Pedro Passos Coelho na entrevista ao DN de sábado, “roubou a legislatura” –, envolveu na sua estratégia partidos e portugueses, pôs toda a gente a olhar para ele e a elogiar os seus truques de magia, e agora, sem cartola nem varinha, resta-lhe sorrir muito e improvisar. O que eu não percebo – e isso não percebo mesmo – é o elevado número de pessoas que estão na plateia e ainda não se deram conta de que o malabarista é um malabarista, confundindo-o com um primeiro-ministro responsável. Não há ali responsabilidade alguma. Costa vendeu a alma para chegar a São Bento. Mário Centeno tinha um programa para o lugar, ficou com o lugar, mas não com o programa. Sobram os truques, o voluntarismo e a energia cega dos desesperados. Muita gente diz: “Bravo! Um homem corajoso que faz voz grossa em Bruxelas!” Mas qual coragem? A coragem de Hollande? A coragem de Tsipras? A coragem dos falidos que julgam resolver os seus problemas chateando os credores? A intervenção do actual governo na Europa resume-se a isto: cartas para cá, cartas para lá, e blá-blá-blá. Afinal, o que pode Costa fazer? Falar alto? Sair da União Europeia? Furar as rodas da cadeira de Schäuble? Mandar a CGTP manifestar-se em Estrasburgo?António Costa ganhou as eleições prometendo crescimento. António Costa chegou ao governo prometendo reversões que iriam impulsionar o crescimento. Onde raio está o crescimento? Não há. Não se vê. Eclipsou-se. Kaput! O crescimento em 2016, com todas as reposições, corre o risco de ser metade do de 2015. A solução de Costa para o país, que muita gente avisou que era completamente tonta, é mesmo completamente tonta. Nem sequer quero invocar o tão maltratado e incompreendido TINA. Sim, há imensas alternativas para o país. Alternativa 1: vamos cortar no sítio A ou no sítio B? Alternativa 2: vamos poupar no sítio C ou no sítio D? Alternativa 3: vamos taxar no sítio E ou no sítio F? Essas são as alternativas. Infelizmente, não é alternativa não cortar, não poupar, não taxar. Não são alternativas alargar, aumentar ou devolver. No entanto, desde que António Costa chegou ao governo só se discutem impossibilidades. Com voz grossa, com patriotismo, com cachecóis de Portugal – mas impossibilidades. E quando vier a próxima bancarrota? Bom, aí teremos de esperar que o primeiro-ministro ofereça a cada português uma vaca alada, para partirmos todos de mãos dadas, em direcção a um lugar mais bonito e mais justo. Se este mundo já não tem dinheiro para pagar o socialismo, resta uma única solução: ficar com o socialismo e mudar de mundo.
REFERÊNCIAS:
“Dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático” da UE
Para Joseph Weiler, há um problema de concepção na estrutura da União Europeia: os cidadãos não elegem quem os governa nem determinam a direcção das suas políticas. (...)

“Dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático” da UE
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161229032031/https://www.publico.pt/n1755256
SUMÁRIO: Para Joseph Weiler, há um problema de concepção na estrutura da União Europeia: os cidadãos não elegem quem os governa nem determinam a direcção das suas políticas.
TEXTO: Por que é que os líderes europeus nunca assumem as responsabilidades na degradação do projecto europeu?A cultura em que ninguém se sente responsável por nada também se estende aos governantes. Os governos dizem que tudo o que corre mal a culpa é da UE. A UE diz que a culpa é dos Estados-membros. Quem é que está a fazer introspecção e a pensar: “Em que momento é que escolhemos o caminho errado que explica o “Brexit”? Ninguém. Estão todos a dizer: “A culpa é destes britânicos terríveis, eles é que nunca quiseram nada, e agora vão sofrer”. E quais foram os caminhos errados?Falemos então da UE. Digo-lhe qual foi o mais fundamental. Nos anos 1960, 70 e mesmo depois toda a gente entendia que havia um défice democrático na CEE. Achava-se que isso acontecia porque o Parlamento Europeu não tinha poderes. Para corrigir isso era preciso dar-lhe plenos poderes. Mas há aqui um problema de concepção. Porquê? Porque não entende o essencial na democracia. Se olharmos para o aconteceu entre 1979, a primeira vez que houve eleições directas para o Parlamento Europeu, e 2004, quando foi aprovado o Tratado de Lisboa, vemos que a cada revisão dos tratados, os poderes do Parlamento aumentaram sempre. Mas a cada eleição, menos e menos eleitores votaram – em 1979 foram 65%, em 2014 menos de 40% e em alguns países foram apenas 20%, a mais baixa participação de sempre. Como é que explicamos isto? Eu tenho uma explicação muito simples. Que é?Em todos os sistemas há duas condições essenciais para a democracia. Uma é que se não gostarmos do Governo podemos mudá-lo, pelo menos uma vez a cada quatro ou cinco anos a maioria tem o poder de decisão. A escolha política está no cerne da democracia. A segunda condição é que se um número suficiente de pessoas votarem de uma determinada forma essa preferência vai traduzir-se em políticas: se o Governo for de centro-esquerda será diferente de um Governo de centro-direita. Na estrutura da UE estas duas condições não existem. Quando elegemos o Parlamento Europeu não determinamos quem governa. E ninguém foi capaz de demonstrar que ao mudar a maioria no Parlamento Europeu a direcção das políticas mude. Não é uma questão de défice democrático, o que há é um défice político. A democracia sem política não é democracia. A democracia sem escolha não é democracia. E o povo é sábio e é por isso que não vota. Porque haveria de votar se não pode decidir sobre estes dois aspectos essenciais: sobre quem o governa e como é governado. É por isso que o slogan mais inteligente da campanha do “Brexit” foi “Take back control” (Reconquistar o controlo). Mas quem é que hoje, na reacção referendo admite que o sistema democrático na UE é defeituoso, que as pessoas sentem que não têm poderes?Alterar isso obrigaria a UE a grandes reformas quando ninguém quer mudar quase nada. Pois, em vez disso, estão a dizer: vamos fazer coisas que possamos concretizar e que levem as pessoas a perceber que a UE vale a penaOs projectos sobre defesa europeia, a aposta no emprego jovem…Sabe quem inventou isso? O Império romano. Chamou-lhe pão e circo. O pão muda, o circo muda, mas é a mesma coisa. Se a nossa reacção ao “Brexit” é pão e circo… Se me pergunta o que correu mal, posso dar-lhe uma lista longa, mas a coisa mais importante é a UE não perceber não perceber que dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático. A UE tem enormes poderes – e eu sou um europeísta convicto, é um projecto nobre – mas tem este mal-estar no seu centro e as pessoas têm medo de politizar a União, mas isso é uma condição para a democracia. Esse era um dos argumentos da campanha pelo “Brexit”: é impossível reformar a UE, precisamos de sair. O facto de terem sido eles a dizê-lo não significa que seja errado. Eu apenas discordo da opinião que é impossível reformá-la. Certamente é impossível se não fizermos uma análise correcta do que está errado. E se a nossa resposta é só pão e circo, isso não vai funcionar, porque as pessoas se preocupam com outras coisas. As pessoas querem sentir que têm poder, querem que exista esta combinação de democracia e liderança. Falava da importância do patriotismo, de as pessoas têm de se sentir que fazem parte de uma comunidade. Sim, e de não se sentirem envergonhadas de serem patriotas. Isso cria uma contradição no quadro de uma união que procura mais integração. Não há contradição. Essa é a essência da União, é essa a sua originalidade, é por isso que é diferente de um Estado federal. É uma das razões porque não gostei da transição [efectuada pelo Tratado de Maastricht] da designação de “Comunidade” para “União”. Aquilo que a UE conseguiu é algo que nunca existiu em lado nenhum ou em momento nenhum da História – a de termos um nível elevado de integração e ao mesmo tempo Estados-membros muito robustos, um sentido muito forte de identidade nacional, de especificidade cultural que não é contraditório com mais integração, desde que seja feito de forma voluntária, desde que haja limites. E isso é outra coisa que correu mal – falamos de direitos fundamentais, mas não de limites fundamentais e este discurso perdeu-se. Hoje em dia qualquer coisa que a União queira fazer, parece puder fazer. Sim, o excesso de regulamentação. . . Exacto. É um erro fundamental que foi feito. Já escrevi sobre isso ad nauseam e ad tedium. Os direitos fundamentais e os limites fundamentais são ambos muito importantes para a UE. Tem de haver a noção de que há coisas que não são da sua competência. Mas não há uma contradição. Quem tem irmãos sabe que todos têm uma vida autónoma, diferente da nossa, mas não deixamos por isso de ser uma mesma família. Essa é uma palavra muito importante, estamos sempre a falar da família europeia. Mas nos últimos anos essa noção esbateu-se. O irmão mais pobre não foi bem tratado pelos outros. Pois não. Isso é o resultado de décadas de negligência. Há 20 anos que falo de família, da necessidade de cultivar a solidariedade na Europa. São os agraços (uvas amargas) de que o profesta Isaías falava. Estamos a comê-las após anos de negligência. O projecto de cidadania europeia falhou e porquê? Porque 90% do projecto se focava na mobilidade, na liberdade de circulação. Eu defendo a liberdade de circulação, mas isso não é um projecto mobilizador. Sabe qual é a percentagem da população europeia que vai trabalhar para outro país? 7%. Para a maioria das pessoas, ter de ir para outro país é uma solução de recurso. As pessoas querem viver no seu país, ver os seus filhos e netos a crescer, viver na sua comunidade, apoiar a sua equipa de futebol, mas de repente as condições económicas pioram e têm de se mudar. Isto é uma necessidade, não é algo que seja mobilizador. Mas foi nisso que se baseou o projecto de cidadania. E o que devia estar no cerne da cidadania?Exactamente aquilo que eu lhe falava. Responsabilidade mútua. Ter a coragem, que nenhum político europeu teve ou tem, de propor um imposto europeu. Os impostos são mais importantes do que o voto na política. Deixe-me dar-lhe um exemplo. Nos anos de 1980, nos EUA, o estado do Texas teve o mesmo tipo de crise bancária que afectou a Irlanda – excesso de exposição ao sector privado. Tal como na Irlanda houve o risco de todo o sistema bancário colapsar. Na altura houve o mesmo debate que houve agora na UE – “se os ajudarmos, os banqueiros vão voltar a fazer o mesmo, se não os ajudarmos quem vai pagar são os pequenos depositantes, não os grandes” – mas com uma diferença, ninguém na Califórnia duvidou se devia ajudar ou não os texanos. Por solidariedade?Não, por dinheiro. Porque não era dinheiro californiano, era dinheiro americano. Mas nós não temos dinheiro europeu. Os impostos têm um enorme simbolismo político. Eu detesto a situação em Espanha, onde o País Basco paga a Madrid pelos serviços federais – aquilo que recebemos de vocês é pago, se houver um sismo na Andaluzia isso não é problema nosso. O dinheiro, os impostos têm um enorme significado político. Os impostos também criam responsabilidade. As pessoas votariam para o Parlamento Europeu, iriam querer saber o que eles estavam a fazer com o dinheiro do imposto que pagaram. Querem cidadania europeia, então criem uma taxação europeia. Não é popular, mas às vezes é preciso fazer coisas que não são populares. Actualmente é quase impossível um político fazer uma proposta dessas…Sim, hoje é. Mas há 15 anos, quando havia dinheiro a circular em abundância e optimismo era mais fácil. Estamos sempre a discutir como é actualmente difícil fazer coisas. Mas quando me pergunta o que correu mal eu digo-lhe que houve condições para criar dinheiro europeu. Só que a Europa fez aquilo que os gregos fizeram, nos bons tempos não pensámos nos tempos maus que podiam surgirFalemos do futuro. Há quem diga que 2017 pode ser um ano pior do que 2016, para a Europa e não sóEm relação ao Trump, o que é realmente devastador é o facto de tantos americanos terem votado nele, de o terem eleito. Mas em relação ao que ele irá fazer, não podemos saber porque ele propõe coisas tão contraditórias, tem uma personalidade tão volátil, não sei o que ele poderá fazer. Em relação à Europa, temos quatro eleições importantes – provavelmente em Itália, depois do fiasco do referendo, na Alemanha, em França e na Holanda. E não sabemos o que pode acontecer. A única coisa que sabemos com certeza é que não podemos acreditar no que dizem as sondagens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em relação ao referendo britânico disse que a campanha foi pior para a UE do que o desfecho. O mesmo pode ser dito em relação às eleições holandesas ou francesas?Sim, é o discurso do “Brexit” – o que é bom para nós, o que é mau para nós. A minha esperança são os jovens. Quanto mais jovens são os eleitores menos votam em partidos como estes. Não sei o que acontecerá em 2017, mas temos de depositar a nossa esperança nos mais novos. Porque os mais jovens não estão dispostos a perder a UE. Para eles, a Europa é uma comunidade de destino. A ideia de sair da UE, de deixar de ser cidadãos europeus é inconcebível para alguém com menos de 40 anos. Com estas crises, esta falta de responsabilização de confiança, ainda há esperança para o projecto de integração?O artigo que escrevi para o El País – Qué te há pasado, Europa (8/6/2016) – terminava com uma nota de esperança, porque ter esperança não é ter certeza, mas eu acho que somos uma comunidade de destino, quer queiramos, quer não. É por isso que uma saída ordenada do Reino Unido da UE é do interesse de todos, porque muda o discurso e confronta os outros países com a questão: quer realmente sair? A minha esperança é que a maior parte diga não. E a alternativa da esperança num sonho é o pesadelo e para mim a desintegração da UE é impensável, é um pesadelo. É o regresso aos anos de 1930 de que tanta a gente fala. Não, não estamos em 1939, estamos em 1914. Em 1939 toda a Europa sabia o que aí vinha, foi tudo muito transparente. Em Fevereiro de 1914, se perguntasse a qualquer pessoa se haveria guerra na Europa dentro de seis meses, as pessoas diriam que estávamos a sonhar acordados. Para mim, isto é mais parecido com 1914, com o que aconteceu há cem anos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
O que a Câmara de Lisboa, a EDP e Serralves compraram na ARCO
Autarquia fez investimento de cem mil euros. Galeristas fazem o balanço deste feira de arte contemporânea de Lisboa que teve dez mil visitantes. (...)

O que a Câmara de Lisboa, a EDP e Serralves compraram na ARCO
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Autarquia fez investimento de cem mil euros. Galeristas fazem o balanço deste feira de arte contemporânea de Lisboa que teve dez mil visitantes.
TEXTO: A Câmara Municipal de Lisboa (CML) comprou 21 obras de 14 artistas na ARCOlisboa, num investimento de cerca de cem mil euros, que duplicou o valor do ano passado. Já as fundações EDP e Serralves, que também fizeram compras, não revelaram o valor das suas aquisições. O curador Sérgio Mah, que fez parte da comissão que escolheu as peças na feira de arte contemporânea para a CML, disse ao PÚBLICO que este ano foi feito um conjunto de aquisições mais equilibrado, porque se conseguiu comprar muito mais cedo, logo no início da ARCOlisboa, que este domingo terminou na Cordoaria Nacional. “Conseguimos cruzar bastantes coisas: várias galerias portuguesas, algumas não contempladas no ano passado, galeristas estrangeiros com artistas portugueses e artistas emergentes e de média carreira com alguns consagrados", disse. Da lista de compras fazem parte 14 galerias, uma das quais estrangeira, com trabalhos de Paulo Nozolino (Galeria Quadrado Azul), Luísa Cunha (Miguel Nabinho), João Queiroz (Vera Cortês), Ana Manso (Pedro Cera), Paulo Brighenti (Pedro Oliveira), Susanne Themlitz (Ángeles Baños), Pedro Calhau (Módulo), José Loureiro (Fonseca Macedo), Fernanda Fragateiro (Baginski), João Marçal (Graça Brandão), Alexandre Conefrey (Belo-Galsterer), António Júlio Duarte (Pedro Alfacinha), Sara Chang Yan (Madragoa) e Ângela Ferreira (Filomena Soares). Num comunicado de imprensa divulgado antes do encerramento, a ARCO fazia já um “balanço positivo” da sua segunda edição em Lisboa, em que terá recebido “cerca de dez mil visitantes” (menos do que os 13 mil de 2016). O comunicado identificava as compras feitas por mais três instituições, desde a Fundação ARCO à Fundação EDP, passando pela Fundação Serralves. Miguel Coutinho, director da Fundação EDP, disse ao PÚBLICO que a EDP realizou uma dezena de compras para a sua colecção, esclarecendo que as aquisições foram propostas pelo director do MAAT, Pedro Gadanho, e avaliadas pelo conselho de administração da fundação, conforme as regras da casa. O director não revelou o valor das aquisições. Em várias galerias portuguesas, a EDP comprou obras de Ana Vidigal (Galeria Baginski), Gil Heitor Cortesão (Pedro Cera), Patrícia Almeida (Pedro Oliveira) Marco Pires e Vasco Barata (Fonseca Macedo), Carlos Roque e Miguel Palma (Presença). Segundo o comunicado da Arco, a Fundação de Serralves comprou trabalhos de Yonamine (Galeria Cristina Guerra ), Gerardo Burmester (Fernando Santos), Pedro Barateiro (Filomena Soares) e Renato Leotta (Madragoa). Já a Fundação ARCO adquiriu uma obra do artista Pedro Neves Marques, da galeria italiana Umberto di Marino, que passará a integrar a Colecção ARCO, no CA2M de Madrid. Com 58 galerias, segundo os organizadores, a ARCOlisboa destacou-se “pelo aumento do volume de vendas”, “apesar de não haver ainda dados oficiais”. Na secção Opening, dedicada às galerias mais novas, que este ano existiu pela primeira vez e teve comissariado de João Laia, uma galeria como a mexicana José García não estava tão optimista. “Para nós [a feira] não foi tão boa, porque o público em geral fica muito nas galerias locais. Talvez os nossos formatos e materiais não sejam os mais adequados”, explicou Ana Castella, directora da galeria, num stand que apresentava obras feitas com peles de animais ou gravatas Hermès. Castella, que destacou o comissariado de João Laia desta secção com oito galerias, afirmou que fez novos contactos com profissionais do meio, “que talvez se possam desenvolver em coisas futuras para a galeria”. Venderam apenas uma peça da artista dinamarquesa Nina Beier, antes de a feira começar, para um coleccionador que já conheciam. Já a lisboeta Galeria Madragoa, com um ano de vida, vendeu cinco peças, entre as quais duas para a CML e uma para a EDP. “Para nós com estas vendas foi bom. E houve contactos também muito bons”, afirma o italiano Matteo Consonni, director da Madragoa. “É muito importante que o Opening traga mais galerias jovens do estrangeiro com um programa radical. ”Tal como outros colegas, Matteo Consonni é da opinião de que a secção Opening não estava bem sinalizada e de que as pessoas tiveram alguma dificuldade em encontrá-la. Mas mais relevante do que a feira correr bem para a Madragoa, o galerista defende que “é importante que corra bem para galerias estrangeiras, como a José García, que já fazem a feira de Basileia, por exemplo”. A Hawaii-Lisbon, uma galeria que se instalou há sete meses na Parede, diz que se tudo o que está prometido acontecer será muito positivo: “Tenho o stand quase todo vendido. Para já são só reservas, mas vão-se concretizar!” Na sua galeria, que tem seis artistas, apenas um, Margarida Gouveia, é português. No stand, destacam-se uma tela feita de toalha turca ou esculturas construídas com peças de canalização. No espaço principal da Cordoaria, entre as galerias brasileiras, havia quem estivesse contente e quem ainda esperasse boas notícias. Anita Schwartz, que veio pela primeira vez do Rio de Janeiro, com algumas peças na casa dos 200 mil euros e um stand histórico, estava à espera de concretizar uma venda importante para a participação poder ser positiva. Na Galeria Vermelho, de São Paulo, destacava-se o interesse pela obra de Cinthia Marcelle, que acabou de receber uma menção honrosa na Bienal de Veneza. “Foi bom. Fizemos bons contactos e colocámos pontualmente obras em boas colecções”, diz Marina Buendia, directora da galeria. Na francesa Pietro Sparta, que trouxe uma das maiores obras da feira, uma escultura em verga do italiano Mario Merz com quatro metros de altura, Pascale Petit achava que este ano talvez houvesse menos público, porque o programa paralelo era muito intenso. A feira correu “muito bem”, “melhor do que no ano passado”, por causa dos “contactos com coleccionadores da Bélgica, Suíça e França” Destacou as vendas de uma escultura de Thomas Schütte, um consagrado, e de uma instalação de parede de Alice Bidault, uma artista de 23 anos. Na espanhola Leandro Navarro, não se tinham vendido duas pequenas Vieiras da Silva, que rondavam os 60 mil euros, mas Iñigo Navarro Valero estava contente porque vendeu melhor do que no ano passado. “As pessoas já conheciam e voltaram. Perguntavam pela Vieira da Silva, mas o interesse estava mais nas coisas internacionais, em Miró e Tapiès. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No comunicado de domingo, a ARCO revelou que já se está a preparar para uma nova edição em 2018. Notícia actualizada às 20h35 com depoimentos de galeristas. Dia 22 foi corrigido o nome da artista Margarida Gouveia, anteriormente identificada como Mariana.
REFERÊNCIAS:
O TLS é que é
Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido. (...)

O TLS é que é
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido.
TEXTO: O TLS, que dantes se chamava Times Literary Supplement, é excepcional: é o único jornal de língua inglesa que está a melhorar. Os outros que conheço — alguns mais (Spectator, Telegraph, Times), outros menos — vão piorando de ano para ano. Quando Stig Abell, que era subdirector do Sun, foi indicado para substituir o excelentíssimo Peter Stothard como director, entrei em pânico. Agora, graças a Abell e às pessoas que ele pôs a escrever, ler o TLS é um prazer gloriosamente imprevisível. Depois de lido até vou ouvir o podcast para verificar que, em geral, é melhor ler autores do que ouvi-los — mas ouvi-los também é inesperado e divertido. A versão Kindle do TLS custa menos de 2 euros por edição, uma pechincha que faz perdoar as falhas de transcrição. Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido. Também não é preciso gostar de ciclismo para rir com as dentadas bem dadas que John Foot aplica nas pernas truculentas de dois desgraçados que escreveram livros sobre o Giro d’Italia. Richard Smyth, no ensaio How British Is It? é preclaro e contundente sobre fronteiras animais e políticas, mencionando a única ave britânica que é endémica: a Loxia scotica. Uma escritora impaciente e subversiva que passarei a ler sempre é Claire Lowdon, autora (na edição de 12 de Maio) de Crying Wolf, uma apreciação impiedosa e hilariante da descendência literária de Angela Carter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave pânico
Skyr é queijo
O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis. (...)

Skyr é queijo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis.
TEXTO: É preciso dar os parabéns aos propagandistas do skyr. É a campanha publicitária mais bem montada do milénio. Não se fala noutra coisa. Deixou-se até esgotar para se dizer que era a malta fit dos ginásios que estava a comprá-lo todo. O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis. Por isso, nas versões ditas de fruta, disfarça-se com adoçantes e amidos. Sairia mais barato e mais saudável comprar um iogurte e uma peça de fruta ou outro queijo de leite desnatado com muitas proteínas, poucas calorias e pouca gordura. É tanta a propaganda que é difícil encontrar avaliações sensatas e bem informadas na Internet, como é o caso de "What Is Skyr?" de Carolyn Brotherton na Cook's Science. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Oxford Companion To Cheese de Catherine Donnelly ela explica que o skyr era feito com o que restava do leite depois de se ter tirado a nata (para fazer manteiga). Acrescentava-se leite fresco aquecido e coalho (de origem animal, claro). Depois de azedar, escorria-se para tirar o soro, essencial para preservar carne e peixe. O que restava era o skyr que aproveitavam para comer. Dada a dureza dos invernos era uma questão de sobrevivência. Escusado será dizer que os micróbios que ocorriam naturalmente na Islândia (durante os tais "mais de 1000 anos" da publicidade) não são os mesmos que usam nas fábricas de onde saem as toneladas de skyr que compramos. Sim, mas a verdade nunca tem tanta graça.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave carne animal
A Feira do Livro de Lisboa continua a remar contra as quebras do mercado
Mais visitantes e mais vendas, a APEL diz que resultados são muito positivos e que ultrapassam a edição anterior. (...)

A Feira do Livro de Lisboa continua a remar contra as quebras do mercado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais visitantes e mais vendas, a APEL diz que resultados são muito positivos e que ultrapassam a edição anterior.
TEXTO: A organização da Feira do Livro de Lisboa acredita que o número de visitantes terá sido superior ao do ano passado, apesar de ainda não terem números oficiais. “Para termos uma comparação, um mau dia nesta edição era um bom dia da anterior”, diz Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), quando lhe pedimos para fazer um balanço dos 19 dias que durou o evento, que terminou esta segunda-feira e proporcionou o encontro entre autores, editores e leitores no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Com o dia da abertura, a 26 de Maio, entre os de maior adesão e com a presença do Presidente da República, a feira literária recebeu muitos visitantes durante os dias da semana, a sua maior parte a partir do meio da tarde e, especialmente, durante a Hora H, a última hora da feira em que os leitores tiveram a oportunidade de comprar livros editados há mais de 18 meses, com um mínimo de 50% de desconto. “A Hora H já existe há cinco anos e funciona, porque faz com que a feira ganhe o período da noite”, afirma Bruno Pires Pacheco. No entanto, os fins-de-semana registaram a maior enchente, com excepção do último, coincidente com o festival Nos Primavera Sound e com as festas dos Santos Populares em Lisboa. Entre os editores, é unânime que esta Feira do Livro correu melhor do que a do ano anterior, com os números de vendas a subir ligeiramente e os grandes grupos editoriais a registarem um crescimento. Na Porto Editora, “as vendas estiveram 10% acima do ano passado”, de acordo com Paulo Rebelo Gonçalves, do gabinete de comunicação do grupo. Entre os títulos mais vendidos, encontram-se Um Cão Chamado Leal, de Luis Sepúlveda, que teve lançamento na feira e superou os 500 exemplares, os livros de José Eduardo Agualusa e de José Luís Peixoto e os dois renovados volumes da colecção Vampiro. No Grupo Leya, as vendas também ultrapassaram a edição passada. “Já é o segundo ano consecutivo em que isso acontece, o que é muito bom”, afirma o director de comunicação José Menezes. Uma Aventura na Madeira, de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, O Coro dos Defuntos, de António Tavares (Prémio Leya 2015), e Assim Nasceu Portugal: A Vitória do Imperador, de Domingos Amaral, foram alguns dos livros mais procurados. A editora Bárbara Bulhosa, da Tinta-da-China, ressalva que “este continua a ser um evento muito importante para quem gosta de livros” e afirma que, independentemente das vendas, “o contacto entre editores e leitores é muito benéfico”. O livro mais vendido na editora foi a banda desenhada Os Vampiros, da autoria de Filipe Melo e Juan Cavia, com cerca de 900 exemplares. A Gradiva, casa do autor português que mais vende neste momento em Portugal, José Rodrigues dos Santos, também obteve resultados satisfatórios. Segundo Helena Rafael, do departamento de comunicação, os livros deste autor são os mais vendidos na editora, nomeadamente o recém-lançado O Pavilhão Púrpura e As Flores de Lótus. Na colecção de ciência da editora, destacaram-se Ciência Cosmológica, de Jorge Dias de Deus, e A Teoria de Tudo, de Stephen Hawking. O infanto-juvenil também é uma aposta da editora, com boas vendas do livro A Bruxa Mimi e a Casa Assombrada, de Valerie Thomas. Também para a Relógio D'Água “as vendas correram claramente melhor que em 2015”, segundo o editor Francisco Vale, e a autora mais procurada foi Elena Ferrante, nomeadamente a sua tetralogia napolitana e o livro Crónicas do Mal de Amor, seguido de Todos os Contos, de Clarice Lispector. “É um balanço positivo, apesar do peso excessivo que foi dado na feira à gastronomia (Portugal já parece demasiado um país de chefs e futebolistas para que a Feira do Livro de Lisboa confirme essa imagem)”, acrescenta o editor. Já a Editorial Presença destaca a maior dinâmica conseguida pela organização. “Cada editora procurou acompanhar o ritmo da maior festa do livro ao ar livre”, diz Inês Mourão, do departamento de comunicação. A Presença privilegiou o público infantil na sua praça e alguns dos livros mais vendidos foram Curso Intensivo para Sobreviveres à Escola, de Miguel Luz, e Conquistadores, Como Portugal Criou o Primeiro Império Global, de Roger Crowley. A grande surpresa da Feira do Livro de Lisboa foi o título mais vendido da editora Guerra e Paz, Mein Kampf, de Adolf Hitler. Disponibilizado numa trilogia, da qual fazem parte Manifesto Comunista, de Friedrich Engels e Karl Marx, e O Livro Vermelho, de Mao Tsetung, o livro foi lançado na íntegra, em Portugal, pela primeira vez este ano. “São livros esteticamente muito apelativos, quase livros-objecto, a vermelho e negro, com prefácios críticos”, conta Manuel Fonseca. O editor refere que a Guerra e Paz teve o melhor dos seis anos em que esteve presente na feira, com um “crescimento de 40% de vendas”. Mais do que limitar-se à compra e venda de livros, a Feira do Livro tem apostado nas actividades culturais como atractivo de público, promovendo lançamentos, debates e sessões de autógrafos. Terão passado por esta edição mais de mil autores e aconteceram 450 iniciativas. “A nível comercial, igualar o ano anterior já seria bom, por isso superá-lo é muito positivo”, reconhece o secretário-geral da APEL Bruno Pires Pacheco. Em Portugal, o mercado dos livros tem sofrido uma queda de vendas na ordem dos 20 a 30% nos últimos anos, o que demonstra a particular importância de um evento como a Feira do Livro de Lisboa, que “há cinco anos rema em contra corrente”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma das grandes novidades desta edição foi a aplicação criada para Android e iOS que permitiu aos leitores navegar pelas editoras presentes e saber os eventos que estavam a decorrer no momento. Bruno Pires Pacheco destaca esta interactividade como uma mais-valia, pois “as pessoas acharam que valia a pena pegar no smartphone e ver o que estava a acontecer”. A Feira do Livro de Lisboa contou, nesta 86. ª edição, com 600 editoras e chancelas participantes e um número recorde de 277 pavilhões e, recebeu, ainda, a visita de editores estrangeiros, numa iniciativa que pretendia que comprassem, na capital, os direitos de livros de autores nacionais. Começam, agora, os 11 meses de espera pelo próximo encontro entre autores e leitores no Parque Eduardo VII, com mais livros e actividades para toda a família. Texto editado por Isabel Coutinho
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