A geografia sentimental (e literária) de uma torga
Fez de Trás-os-Montes o seu, o nosso, “reino maravilhoso” e a sua porta foi sempre São Martinho de Anta. Foi aí que nasceu, foi aí que escolheu ser enterrado como Miguel Torga, o nome literário que é também uma homenagem a essas paragens. Daí partimos numa viagem pela sua vida e pela sua obra — com a serra e o Douro como espelhos. (...)

A geografia sentimental (e literária) de uma torga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.07
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fez de Trás-os-Montes o seu, o nosso, “reino maravilhoso” e a sua porta foi sempre São Martinho de Anta. Foi aí que nasceu, foi aí que escolheu ser enterrado como Miguel Torga, o nome literário que é também uma homenagem a essas paragens. Daí partimos numa viagem pela sua vida e pela sua obra — com a serra e o Douro como espelhos.
TEXTO: “Este livro andava ao vento sobre a campa fria do poeta, foi deixado como lembrança por um discípulo venerador. Para que ficasse inteiro e firme, como foi o Mestre, guardei-o para que outros o leiam e amem (. . . ). ”É uma campa rasa, a do poeta, uma tampa estreita — simples, rústica, granítica. Passa despercebida no cemitério de São Martinho de Anta. Como Miguel Torga quis. Uma torga terá sido o único pedido, e lá está ela, com se fosse o símbolo, ou a porta, do paraíso. Um paraíso necessariamente incomum: a torga é uma urze, gosta de terrenos inóspitos e lanças raízes fundas, aquece (posta a arder, dura a noite inteira), é espontânea. Nesta terra de serranias, difícil e rochosa, abunda, amaciando de lilás o cenário agreste. Nesta terra de serranias, nasceu Adolfo Correia da Rocha, que se faria, improvavelmente, médico. As raízes fundas nunca se desprenderam, nem quando foi para o Brasil, nem nas tantas viagens que fez, nem em Coimbra, onde fez a vida. As raízes fundas foram feitas metonímia, as raízes fundas foram personificadas. Nesta terra de serranias, escolheu ser enterrado Miguel Torga (o Miguel vem dos seus dois heróis literários, os espanhóis Miguel Cervantes e Miguel Unamuno), o escritor para quem o paraíso foi um “reino mágico”, que é o mesmo que dizer Trás-os-Montes. Não sabemos por quantas mãos passou o velho exemplar dos Novos Contos da Montanha até chegar ao armário do Espaço Miguel Torga (EMT), a poucos metros da casa onde o escritor nasceu. Sabemos que a 22 de Maio de 1998, Arménio Vasconcelos, de Leiria, deixou o seu testemunho na primeira página do livro, manchada e já dura como um pergaminho. Assinado e datado, conta a descoberta do livro na campa, no fim de uma viagem de homenagem a Torga, que morrera três anos antes, em 1995. Agora, quem chega à campa do escritor provavelmente não encontrará livros (não faltarão flores: nós deparamo-nos com rosas vermelhas a rodear um jarro) mas estará em pleno território torguiano, servido de roteiro apropriado (delineado pela filha, Clara Rocha), que se declina na serra e no Douro, os dois rostos de Trás-os-Montes que ele descreveu e que o descrevem. Nós seguimos o roteiro improvisado pelo director do EMT (São Martinho de Anta), João Sequeira, em torno das próprias palavras de Torga. “S. Domingos, S. Leonardo, a Senhora da Azinheira, o Poio. . . As páginas capitais de uma antologia panorâmica da minha geografia nativa (. . . )”. Concentramo-nos no concelho de Sabrosa (a “terra de Fernão Magalhães”, como se anuncia) com um desvio apenas até ao vizinho Peso da Régua. Na verdade, não saímos de São Martinho de Anta — “S. Martinho é um marco de orientação e segurança que vejo em todas as horas de perplexidade e angústia e de todos os quadrantes do mundo”. “O que estamos a fazer era uma das actividades preferidas de Miguel Torga”, nota João Sequeira, também nosso guia informal por este território híbrido de biografia e literatura, a dada altura do nosso passeio. “Ele gostava de fazer de guia turístico. ”“Mostro-lhes o que nunca viram: panoramas que são autênticas obras-primas da ecúmena, onde a geografia física e a geografia humana se complementam. A ossatura telúrica e a epiderme elaborada. O natural e o cultural em conjunção perfeita. E fico desobrigado. O resto é por conta deles. Se prestam, vão mais ricos. Dilataram o espírito à proporção dos horizontes. Se não prestam, vão mais pobres. Mediram-se com a grandeza e perderam. ”Para trás ficou já a Senhora da Azinheira, um “sítio por excelência da geografia de Torga”, sublinha João Sequeira. Oficialmente até é Senhora da Assunção, mas a azinheira por detrás da capela impôs-se. No nome, apenas, porque o orago é celebrado a 15 de Agosto. E “ele gostava muito da romaria aqui”, algo que lhe ficou talvez “da infância”. É uma festa especial, esta, que prossegue no dia seguinte com merendas nos penedios — “cada família tem a sua fraga”, explica João Sequeira — feitas dos restos e de vista. “Vejo a Senhora da Azinheira a branquejar no alto da serra, oiço o sino a badalar, sabe-me a boca tabafeira, cheira-me a rosmaninho. ”Não a vemos no alto, talvez nos falte treino, mas vemos do seu alto. O Marão e o Alvão, o cheiro a rosmaninho rodopia, estamos empoleirados num “mar de fragas”, onde se escavaram degraus toscos e improvisaram bancos. Voamos pelos vales, a âncora é a quase singela capela, branca, rematada a granito, interior que poderia ser espartano não fora o dourado — ocupa o retábulo, desenha pórticos e remates — e o colorido vivo do tecto em abóbada de madeira. É o barroco do século XVIII a aliviar a dureza da serra que aqui se salpica de castanheiros. É pela sua crista que seguimos, contando as árvores que lhe resistem na luta contra o granito, que surge como uma erupção, e o vento, resiliente. Restos escurecidos de abrigos, aldeias de montanha, Garganta, a terra dos avós paternos de Torga, outrora com “forte sentido comunitário”, agora vazia, casas grandes fechadas. É na estrada que a liga a Vilar de Celas que fazemos o desvio. O carro fica na beira da estrada, percorremos umas poucas centenas de metros, para além do carvalhal, biombo involuntário da necrópole de Touças. “Se um dia vier a talho de foice, hei-de escrever uma página sobre estas necrópoles transmontanas, de granito, aninhadas no cimo de uma serra, com ar de quem lava as mãos disto da vida e da morte. ”É uma paisagem que nos remete a paragens mais setentrionais, Escócia ou Irlanda — verde-esmeralda contra serras nuas de penedos amarelecidos, as pedras graníticas velhas, gastas, musgosas, que se empoleiram em pequenos muros, montam mosaicos. E nela queremos adivinhar um círculo sagrado de pedras — ilusão da primeira vista. As pedras, se já tiveram um alinhamento geométrico, perderam-no, afinal. Mantêm, porém, a aura ancestral, misteriosa, como se capaz de todas as magias e por isso, milénios depois, ainda ali se fizeram sepulturas antropomórficas, incluindo duplas. Torga, conta João Sequeira, quis escavar neste local, enquanto jovem, mas rapidamente desistiu. O fascínio, esse, permaneceu — “que silencioso alfabeto de pedras era aquele?”, escreveu. A cultura megalítica é insidiosa por estes caminhos, os topónimos ecoam-no. Torga não lhe foi indiferente — refere, por exemplo, os monumentos megalíticos que nimbam a serra de mistério e que desde rapaz venera “como sacrários de uma ancestralidade” a que é “fiel”. Por isso não é surpreendente que quando soube da notícia de escavações na Mamoa de Madorras, “um sepulcro de gigantes construído por gigantes”, escreveu, tenha ido imediatamente para lá, conta João Sequeira, acompanhar os trabalhos. “A grande mamoa da serra escavada. A câmara, o corredor e os contrafortes expostos à luz do dia e ao espanto de quem olha. ”Teve a impressão, registaria ainda, “de que estava a ser feita a autópsia do passado”. E o passado está de costas voltada para a estrada, a poucos metros dela, mas camuflado — vê-se sem se ver. Para quem passa é mais um monte de terra, a entrada abre-se do outro lado, o corredor já mal delineado, o portal em equilíbrio que pareceria precário não estivesse ali desde o neolítico, o espaço circular da câmara interior já vazio de sacralidade. Sagrado foi sempre São Martinho da Anta: “Nenhuma hora da minha vida tem significação sem esta referência. ”“Aqui estou. Vim mostrar a mulher aos velhos, à senhora da azinheira e ao negrilho. Gostaram todos. ”São Martinho terá mudado muito desde esse ano de 1940, o das apresentações mútuas. Era aldeia, passou a vila. Há casas novas, avenida até à igreja, os pais partiram, o negrilho (ulmeiro) já não é um “gigante a sonhar, bosque suspenso/ Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!” — “secou quando o Torga morreu”, conta João Sequeira. É agora um resto macilento, tronco, quatro ramos amputados, pedaços de metal como ligaduras (e parte dele está nas traseiras do Espaço Miguel Torga, embrulhado em plásticos), certamente mantido como símbolo. O busto de escritor (“Aqui/ neste Lugar/ e nesta hora”) e o poema “A um negrilho”, este negrilho — ainda que, na verdade, na terra onde nasceu houvesse “só um poeta”, escreveu, o “mestre da inquietação/ serena”. Estamos no Largo do Eirô, que parece ser o principal, alinhado em rosto ecléctico, com “queda” clara para o granito, e cruzeiro central. Aqui, a farmácia, correio, minimercado, multibanco, clínica dentária, Residencial Central — onde Miguel Torga gostava de fazer refeições, diz João Sequeira, “era do senhor Mário, que foi presidente da junta por indicação do escritor” e que agora é só para dormidas —, junta de freguesia. No primeiro andar funcionou uma extensão do centro de saúde, diz João Sequeira, por teimosia do próprio escritor (e médico). Fechou e com ele fechou-se algum material médico-cirúrgicos que Miguel Torga, ou, no caso, o médico Adolfo Correia da Rocha, doou, incluindo batas suas que estão expostas numa vitrina no espaço que agora está vazio de função (e fechado). Quando Miguel Torga, que vivia em Coimbra, estava em São Martinho de Anta (o que acontecia frequentemente, “vinha por temporadas”), não faltava quem lhe batesse à porta para consultas. A sua casa fica a poucos metros do largo, na rua que um ano depois da sua morte passou a ter o seu nome. É uma casa térrea, humilde, que herdou dos pais — a irmã vivia ao lado. Sofreu algumas obras quando a sua mulher, Andrée Crabbé, aqui viveu uns meses, “a casa nativa actualizada, com todas as sombras do passado pintadas (. . . )”. Branca, com portadas pintadas de azul claro, cortinas de rendas a preencher os quadrados envidraçados da porta da cozinha; rododendros, as azáleas, noveleiro, carvalhos, o quintal. Tanto a casa como o terreno foram doados, em 2014, pela família à Direcção Regional de Cultura do Norte para ali se instalar uma casa-museu cuja abertura esteve anunciada para 2015 — por enquanto, permanece muda. Muda está também a sineta da escola local, que continua lá, no pequeno frontão da fachada. Já não se ouve, portanto, o “Tem lêndeas. . . Tem lêndeas. . . Tem lêndeas”, de A Criação do Mundo, o romance semiautobiográfico, nem “há mimosas à roda” — conta João Sequeira que um dia de Natal, na década de 1970, Torga passou a tarde a replantar as mimosas da sua infância na escola. O EMT tinha a ideia de o fazer, em sua homenagem, mas, sendo proibido plantar mimosas, uma torga substituiu-a na escola ainda a funcionar. “Foi ali que num remoto dia de mocidade me senti consciente do meu destino de artista (. . . ). Ali ia retemperar a lira quando a sentia bamba. ”“Ali” é São Domingos de Monte Coxo e chegamos com o nevoeiro a tapar o “grandioso panorama circular” de que fala Torga nos seus Diários. O caminho é difícil até ao santuário, as pedras intrometem-se na terra sulcada pela chuva; o cenário é desolador, calcinado ainda. Lá em cima, as abertas deixam ver o apenas cenário aos retalhos — descemos seguindo o compasso de duas perdizes bamboleantes. Estivera Miguel Torga aqui, estas não poderiam estar tão relaxadas. Caçador ávido, muitos dos seus dias passava-os montes fora, boné na cabeça, espingarda a tiracolo. Dizia-se “geófago”: “Caminho que me desunho”. É por esses montes, em estradas serpenteadas, que descemos para o Douro, ou melhor, o “Doiro, rio e região, certamente a realidade mais séria que temos”. É que não basta“(. . . ) descer de Sabrosa para o Pinhão, estacar em S. Cristovão, e abrir a boca de espanto. Não é ir a S. Leonardo de Galafura (. . . ), olhar o caleidoscópio, e ficar maravilhado”. Se a casa-museu Miguel Torga ainda continua no plano das intenções, o Espaço Miguel Torga (EMT) é a porta de entrada para o mundo do escritor na sua terra natal. No edifício de Souto de Moura, térreo, revestido a xisto, que abraça um terreiro (ocupa o terreno da feira: durante a construção esta transferiu-se para o Largo do Eirô e não mais regressou, apesar de se ter mantido esta “ágora” para ela) e se “afunda” na paisagem (onde se plantou um vinha), passa-se em revista a vida e obra do escritor. Há 27 painéis onde se acompanha cronologicamente a sua vida, se mergulha nas polémicas onde o escritor, sempre livre na sua cidadania (uma torga, não esquecer), se envolveu (ou viu envolvido, como a do Nobel) e acompanhamos a sua carreira pelos olhos da imprensa (nacional e internacional). As fotografias são abundantes, cruzando-se a sua vida pública com a privada, as suas palavras vão aparecendo, assim como as de outros — sobre ele. Nos arquivos estão manuscritos, algumas edições raras e noutros idiomas. Anfitrião natural de quem chega a São Martinho de Anta no encalço de Miguel Torga, o espaço tem sentido um afluxo de visitantes maior este ano, se calhar, aventa João Sequeira, “pela reintrodução de Torga no currículo opcional do 12. º ano”. Aqui chegam escolas e universidades séniores; visitantes de fim-de-semana e amantes de arquitectura. Encontram a sala de exposições permanente, uma de exposições temporárias (até finais de Julho A máscara em Trás-os-Montes), cafetaria (com funcionamento irregular), biblioteca, loja e auditório. E este não é um espaço estático. A programação é regular e passa por acolhimento (de concertos a apresentações de livros, por exemplo) e promoção (e produção) de vários eventos que já fazem parte do calendário cultural de Sabrosa. Vejam-se os ciclos de música “Novas Canções da Montanha” e o de poesia “Solstícios e Equinócios”, as sessões “A vida passa lá fora”, conversas conduzidas por Fernando Alves e convidados de várias áreas, os espectáculos itinerantes “Conto Contigo”, que, em parceria com o Peripécia Teatro, levam encenações de contos de Miguel Torga a aldeias da região, e o Festival Literário do Douro. A 12 de Agosto celebra-se sempre em festa o aniversário de Torga e a 17 de Janeiro assinala-se a sua morte. E continuam a recolher-se (e a promover a sua audição e interacção com diversos públicos) os “Sons da Montanha” — um projecto de gravação de preservação da memória — do universo torguiano. Como irA partir do Porto, seguir pela A4 em direcção a Vila Real. Sair para o IP3 e continuar pelo A24/IP3 até à N322. Sair em São Martinho de Anta. Onde comerConstantino Rua Fundo do Povo, 23 S. Martinho de Anta Tel. : 259 939 133O Douro é um drama “feito de carne e sangue”. Se beleza não lhe falta, “a própria beleza deve ser entendida”. Adentramo-nos, então, pela beleza do drama. Entre florestas verdes, novamente o rosto pétreo que aflora em vertigem vertical no Poio, dramatismo acentuado pelo negro que o fogo deixou pintado no solo e nos troncos, e já vemos as vinhas a bordar os montes. Torga fazia quilómetros e quilómetros por aqui e um dia chegou a Ordonho. “Entre duas perdizes”, escreveu, desbloqueou S. Leonardo de Galafura, o poema, depois de 30 anos, “bem medidos”, a olhar o miradouro. Nós paramos numa das curvas à saída da aldeia e olhamo-lo, também, “alcandorado no seu trono de penedos e nuvens, com o Douro ajoelhado aos pés e o céu a servir-lhe de resplendor”. Havemos de lá chegar. Por enquanto, continuamos a descer, enganando as pedras que resvalaram dos muros dos socalcos na tempestade do dia anterior — um final de Maio violento. As quintas vão-se sucedendo, Caleira, do Crasto, Marka, as placas “vende-se vinho” na beira da estrada — cenários de Vindima. A estação de Ferrão já foi essencial nestas paragens, para o abastecimento destas quintas e aldeias, e para entretenimento: “As pessoas vinham ao domingo só para ver os comboios passar, faziam festas aqui. ” Agora, o comboio ignora a estação de Ferrão — os edifícios esventrados parecem indicá-lo —, embora nesta tarde pare para deixar entrar um grupo de turistas brasileiros. Fica o silêncio do abandono, um parque de merendas novo em folha do lado de lá da linha, rente ao Douro a correr entre o lamacento e o verde (a “cor barrenta muito falada por Torga”, nota João Sequeira) — no Cais do Ferrão, um barco solitário. “Corre, corre caudal sagrado”, escreveu Torga aqui. Nos passos de Torga não mais deixaremos de ter o Douro a espreitar ou a exibir-se. No miradouro de S. Cristóvão, vêmo-lo a receber o rio Pinhão, e em São Leonardo de Galafura temos uma das suas mais belas vistas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. ”Miguel Torga nunca se cansou de aí perscrutar o cenário, medir as curvas do rio, aquilatar a geometria dos socalcos e a insolência dos campos e bosques. Voltou sempre, ao longo da sua vida. Ao rio e à serra, a Trás-os-Montes. Em cada regresso, nova reflexão, novo poema, os mesmos locais. Uma descoberta contínua (e compulsiva) que foi também uma espécie de auto-psicanálise. “Estas paisagens já estão de tal modo explicitadas dentro de mim, que parecem escritas no meu entendimento. Quando cuido que estou a interpretá-las, estou a ler-me. ”
REFERÊNCIAS:
Há alguma maneira eficaz de evitar aquele “Já chegámos?”
Nas viagens de carro, ou até mesmo de avião, há uma mão cheia de jogos para entreter os miúdos e ajudá-los a passar o tempo. (...)

Há alguma maneira eficaz de evitar aquele “Já chegámos?”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas viagens de carro, ou até mesmo de avião, há uma mão cheia de jogos para entreter os miúdos e ajudá-los a passar o tempo.
TEXTO: Quem já viu aquela cena do Shrek 2, em que Eddie Murphy, a voz do divertido burro, entoa de todas as formas e feitios sempre a mesma frase, sabe bem do que aqui tenciono falar: “Are we there yet?”. Ou, na versão portuguesa, “já chegámos?”, “Falta muito?”, “Quanto tempo falta?”, “Quando é que vamos chegar?”, “Estou com fome!”, “Estou farto de andar de carro!”, “Podemos parar?”, “Mãe, o Tiago, está-me a bater!”, “Pai, a Inês não me dá o carro!”. Isto a cada 40 segundos, de forma a impacientar o mais zen dos progenitores. E se pode ser assim nas viagens diárias para a escola ou em cada deslocação que demora mais do que 15 minutos, percebe-se que possa haver algum pânico entre os pais que se vão abalançar numa viagem para atravessar o país de carro para ir a banhos (seja de mar, seja de montanha), ou entre os que sabem que não há maneira de parar um avião para os deixar descansar e mudar de ares. Mas, como dizia Pedro Abrunhosa, é preciso ter calma. Afinal, manter as crianças a bordo entretidas pode ser mais fácil do que parece, e pode, até, dispensar os famosos jogos electrónicos, smartphones e o visionamento de DVD. Tão importante como o carácter lúdico das actividades que aqui propomos pode ser o exercício mental que algumas envolvem e que, mais cedo ou mais tarde, revelarão ser benéficas para a destreza mental de que todos precisamos no dia-a-dia. Os exemplos que aqui trazemos foram todos testados no terreno, feitos por quem já perdeu a conta às horas que passou em autocarros, comboios, aviões, barcos, automóveis e autocaravanas. Seja numa viagem à volta do mundo com uma criança de cinco anos, seja em roadtrips ao Sul de Portugal com um casal de crianças com diferentes idades (mais concretamente, de 11 e de três). O segredo é os pais participarem sempre — e prometo só dar exemplos que nem distraem, para o caso de um dos pais estar a desempenhar a função de motorista. Aqui vai disto. Para quem anda de carro, este é um clássico que pode ser jogado em várias versões. Quando os miúdos conhecem as letras do alfabeto, o jogo pode ser inventar um nome próprio que use as iniciais das matrículas do carro que vai na frente, e perde o primeiro ocupante que não conseguir inventar um nome, ou repita um que já foi dito. Um carro com AC na matrícula daria baptismos variados, como Ana Carolina, Anatólio Carapau, Anacleto Conceição…. No caso de o alfabeto ainda não estar assimilado, podemos tentar as cores. Cada criança escolhe uma cor e vai contar o número de carros que passam com a que escolheu, durante um determinado período de tempo. Três minutos, por exemplo. Ganha aquela que tiver escolhido a cor mais usada. Estamos todos habituados a papel e caneta, e a esconder as palavras que escrevinhamos da curiosidade do adversário. Mas, no caso de se tratar de uma viagem de carro, e como não dá para pedir ao condutor para largar o volante, há a opção de fazer o jogo só na base do exercício mental. A regra principal mantém-se: um jogador canta o abecedário em surdina, até o outro gritar “stop!” e com isso escolher a letra que vai comandar o jogo. Por exemplo, a letra H. Depois, cada jogador diz uma palavra de cada categoria (nomes próprios, países, cidades, animais, profissões, plantas, objectos, actividades, etc. , etc. ) até o vocabulário se esgotar (é permitido dar ajuda aos mais novos!)Uma outra variável para exercitar o vocabulário e o alfabeto é levar os passageiros a pensar em coisas que comecem com cada letra, por ordem alfabética. Peça a cada uma das crianças para se fixar num dos lados da estrada. Por turnos, peça-lhe para encontrarem coisas começadas por uma letra de cada um dos lados. O primeiro encontra algo com a letra A no lado direito — uma árvore, por exemplo. O segundo encontra algo com a letra B do lado esquerdo: um burro, se assim calhar. E assim sucessivamente. Para terminar as sugestões com o alfabeto, outro jogo muito engraçado, que permite combinações hilariantes e uns momentos bem passados e muito amor esbanjado em frases começadas com um “Gosto de ti mais do que…” . Começamos na letra A para arrancarmos, por exemplo, que “gosto mais de ti do que da águia mais rápida do mundo”, e seguimos para a letra B para o passageiro seguinte declarar que “gosto mais de ti do que da bola nos pés do Cristiano Ronaldo”. O mais novo pode não saber o alfabeto, mas não lhe falta imaginação para terminar frases começadas com um “Gosto mais de ti do que…”Os miúdos e graúdos têm sempre dificuldade em entender quanto é, de facto, um minuto . A missão é conseguir acertar o momento exacto em que um minuto chega ao fim, a partir do momento que a mãe ou o pai arrancam a contagem com um “Já”. Um deles tem o cronómetro na mão. O outro tenta adivinhar quando chegam os 60 segundos. É garantido: passado pouco tempo são peritos em estimar o tempo. Observe os passageiros que viajam no carro ao lado, ou no banco da frente do avião e imagine que pode telefonar-lhes e fazer perguntas. O que é que lhes iria perguntar? E o que é que eles responderiam? Peça a uma das crianças para perguntar e a outra para responder. E surpreenda-se com os intrincados enredos que dali poderão sair. Peça aos miúdos para inventarem, com a melodia que preferirem e o ritmo que entenderem, cantigas malucas que incorporem números. Pode dar o exemplo citando o Gabriel, o Pensador, “2, 3, 4, 5, meia, 7, 8, está na hora de molhar o biscoito, estou no osso mas eu não me canso, está na hora de afogar o ganso. ” É muito provável que um deles se saia com o “Sete e sete são 14, com mais sete são 21, tenho sete namorados e não gosto de nenhum. ” Mas deixe-os levar pela imaginação, e prepare-se para pérolas tipo esta: “10, 9, 8, 5, 6, 7, quando é que a minha mãe muda de cassete?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cada dia pode ser um passatempo diferente: num dia contamos quantos botões há na roupa de cada um (e cada botão vale um ponto), no outro quantas peças de roupa, noutro ainda quantas cores trazemos vestidas. Não interessa quem ganha, interessa que todos contem. Outro exercício para pôr os mais novos a contar de forma divertida é usando beijos em vez de números — para crianças com idades inferiores a quatro anos, o sucesso é garantido. Em vez de perguntar quanto é um mais um, faça o som de um beijo para cada número. “Quanto é (beijo) mais (beijo, beijo, beijo)?”Para as contas de sumir, fale-lhes das guloseimas que a avó tem em casa para os netos. “A avó tinha seis 'chupas' e dois chocolates no armário. Chegaram a Matilde e a Mariana e comeram um 'chupa' cada uma. Quantas gulodices ficaram?”. Com tanta sugestão, é provável que, no fim de todos estes jogos, já tenha chegado ao destino. A não ser que, tal como Shrek, esteja a deslocar-se para o reino do “Far, Far, Away”.
REFERÊNCIAS:
Os Picos chegam ao pico do centenário
Há cem anos, a 22 de Julho de 1918, Afonso XIII declarava o primeiro parque nacional que, mais tarde, em 1995, se passou a designar Picos da Europa. No espaço protegido mais extenso de Espanha, a natureza chama-nos e esse apelo é irresistível. (...)

Os Picos chegam ao pico do centenário
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há cem anos, a 22 de Julho de 1918, Afonso XIII declarava o primeiro parque nacional que, mais tarde, em 1995, se passou a designar Picos da Europa. No espaço protegido mais extenso de Espanha, a natureza chama-nos e esse apelo é irresistível.
TEXTO: “Don Alfonso XIII, por la gracia de Dios y la Constitución, Rey de España; A todos los que la presente vieren, sabed: que las Cortes han decretado e Nos sancionado lo seguiente: Se declara «Parque Nacional de la Montaña de Covadonga» el macizo de Peña Santa, cuya delimitación y tambien su Reglamento aprobará el Gobierno, a propuesta de la Junta Central de Parques Nacionales. Dado en San Sebastián a veintidós de julio de mil novecientos dieciocho. ”Assim nascia, completam-se cem anos amanhã, aquele que, mais tarde, em finais de Maio de 1995, já sob o reinado de Juan Carlos I, haveria de passar a ser conhecido mundialmente como Parque Nacional dos Picos da Europa, com uma área próxima dos 70 mil hectares, o que lhe confere o estatuto de espaço protegido mais extenso de Espanha, composto por três principais maciços montanhosos que abarcam outras tantas comunidades autónomas, o principado das Astúrias, a Cantábria e Castela-Leão. - Honra e responsabilidade. São as duas palavras que logo assomam aos lábios de Rodrigo Suárez Robledano, director do parque nacional e gestor da reserva da biosfera dos Picos da Europa, reveladoras de quem se sente grato pela experiência e, ao mesmo tempo, na expectativa quanto ao futuro deste imenso espaço verde. - Uma responsabilidade, já que representamos as muitas centenas de pessoas que, desde 1918, dedicaram a sua sabedoria profissional e o seu trabalho para conseguir fazer deste parque nacional um exemplo de conservação de valores naturais e de apoio às comunidades rurais. E uma honra, na medida em que nos comove exercer a direcção deste espaço neste momento tão significativo, garante ainda o director do parque que acolhe mais de dois milhões de visitantes por ano. - Após um período de ligeiro decrésimo no número de turistas, motivado pela crise económica que tanto afectou os países do Sul da Europa, o parque voltou a superar, tanto em 2015 como em 2016, os dois milhões de visitantes, números que baixaram o ano passado, mas ainda assim superiores aos dois milhões. O parque nacional dos Picos da Europa foi, nos últimos anos, o terceiro mais visitado entre os parques da Red de Parques Nacionales, depois de Teide (na zona mais alta da ilha de Tenerife) e do da serra de Guadarrama (na Comunidad de Madrid). O parque nacional dos Picos da Europa está situado, sentimentalmente falando, muito próximo de Portugal. - É importante ressalvar que um grande número desses visitantes são portugueses e que há laços muito fortes que nos unem ao único parque nacional de Portugal (Peneda-Gerês), sem esquecer que os preços praticados pela hotelaria da região são muito económicos (tanto em Cangas de Onís, como noutras aldeias ao longo do vale, come-se bem e por pouco dinheiro). O facto de se poder circular com uma viatura, ainda que apenas por estradas estreitas de terra batida, potencia o número de curiosos, satisfeitos por verem os lugares mais sedutores do parque, se não acessíveis de carro, pelo menos de teleférico, a curta distância de um parque de estacionamento. Natural de Madrid, onde nasceu há 61 anos, Rodrigo Suárez Robledano é director do parque desde Outubro de 2004 (após mais de seis meses sem director nem presidente), cargo que desempenha depois de uma experiência (entre outras) como chefe do serviço territorial do Meio Ambiente de Segóvia e membro do patronato do parque nacional de Covadonga. Hoje, quando olha para trás, recorda três datas neste seu trajecto, a sua nomeação como director-conservador e outras duas, de grande importância para o parque, uma em Fevereiro de 2015, quando se obteve a última ampliação do parque nacional, concluindo todo um processo que se foi desenvolvendo em anos anteriores, e a outra, vital para a conservação deste espaço, quando, finalmente, o rio Duje voltou a respirar sem os resíduos do gado. - Essa situação de contaminação já se arrastava desde a primeira ampliação do parque nacional, em 1995. Felizmente, mediante uma acção concertada do parque nacional, da Confederação Hidrográfica do Cantábrico (órgão gestor da água), do tribunal e da polícia, foi possível suprimir esses despejos e recuperar a vida aquática nesse troço afectado. Num espaço protegido tão vasto, os problemas sucedem-se e nos últimos anos a polémica em relação ao lobo-ibérico, ou à política seguida pelos responsáveis do parque nesta matéria, tem ocupado muitas mentes e algumas páginas dos jornais. - O lobo-ibérico é um dos grandes valores naturais do parque nacional (até há bem pouco tempo, quando se declarou o parque nacional da serra de Guadarrama, era o único que contava com a presença desta espécie emblemática). Mas também a criação de gado extensiva, que tanto contribuiu para conformar a paisagem do parque como o conhecemos. O problema é que o lobo, no parque e nos meses de Verão, quando está ocupado com o gado que acede às zonas mais altas, nada mais tem que fazer do que abandonar o seu covil e encontrar-se com uma vaca. O director-conservador dos Picos da Europa acredita que tem soluções para satisfazer as diferentes vontades, aplicando normas que tanto podem proteger os proprietários dos animais como a própria espécie. - O parque nacional segue, em matéria de gestão do lobo, uma política que tem vários eixos: desde logo, uma compensação financeira, actualizada periodicamente mediante o valor das reses, face aos danos produzidos pela espécie. Por outro lado, fazemos um acompanhamento permanente do lobo, de forma a identificar a sua evolução populacional e temos à nossa disposição de elementos preventivos de ataque, como cercas electrificadas fixas, já utilizadas pelos criadores de gado, ou móveis, sem ignorar a investigação de outras possíveis linhas de prevenção e, ainda que excepcionalmente, se o volume de danos o aconselha, se não há outra solução satisfatória, a extracção de um número concreto e limitado de exemplares de alcateias em que se constate a reprodução em alguma das duas temporadas de criação anteriores. Rodrigo Suárez Robledano tem a noção do que representa o lobo-ibérico como valor natural para o parque mas não pode, neste cenário grandioso, esquecer o papel dos criadores de gado que emprestam as suas vidas, com grande esforço, para manter o carácter dos Picos da Europa. - A verdade é que o parque nacional está próximo da saturação quanto ao número de alcateias e tenho sérias dúvidas se este ano não se implantaram duas mais, a juntar às seis já existentes, o que significa que a população da espécie está em crescimento no parque. O lobo-ibérico (canis lupus signatus) é apenas um dos muitos exemplos da variada fauna (e em termos de flora estão registadas mais de 1700 espécies e subespécies, o que representa mais de 20% da flora vascular do país) que caracteriza os Picos da Europa, deste rico património natural onde a caça e a pesca são proibidos. Há, por aqui ou por ali, espécies ameaçadas a nível regional e até europeu, mas ainda assim, graças à diversidade paisagística e florística, todos os níveis da cadeia trófica estão representados, podendo encontrar-se, com maior ou menor dificuldade, tanto invertebrados (e os vertebrados, de acordo com inventários realizados pelo próprio parque nacional dos Picos da Europa, ascendem a mais de duas centenas) como grandes predadores, alguns deles já extintos da sua área de distribuição original dentro das fronteiras da Península Ibérica. Para tanto, a inacessibilidade a que (certas) zonas dos Picos da Europa estiveram votadas antes do espaço ser declarado parque nacional revelou-se de extrema importância, permitindo a subsistência de algumas espécies. Nos caudais fluviais, relativamente bem conservados, podem encontrar-se cinco espécies diferentes de peixes, entre eles a truta (salmo trutta) e o salmão atlântico (salmo salar), pelo meio de uma variada fauna de anfíbios e de répteis, enquanto nas áreas preenchidas pelos bosques, quase sempre tão silenciosas, são protagonistas as espécies que, ao nível do continente europeu, têm as suas populações em latitudes mais setentrionais e cujos redutos na Península Ibérica se encontram em grande perigo de extinção. Entre eles, o tetraz-grande (tetrao-urogallus), que a cada ano que passa exige maiores medidas para a sua conservação, ao passo que a cabra-montês (capra-pyrenaica) começa a reaparecer, depois da introdução de alguns exemplares na vizinha reserva nacional de caça de Riaño. Nem todos se sentem satisfeitos com uma visão, mais ou menos fugaz, dos lugares icónicos do parque — outros há, alguns deles intrépidos viajantes, que pretendem tocar o pico dos picos; contemplar, num dia de uma luz diáfana, o mar Cantábrico; escalar, quando um manto branco de neve cobre tudo à sua volta, os picos, os vales, tudo. Se o parque é acessível para quem se move de carro e não aspira a tocar os céus, os diferentes trilhos que se estendem pelo coração verde das Astúrias são uma tentação permanente para quem gosta — ou pode — de caminhar. O céu não está vestido com muitas nuvens — mas por aqui é preciso desconfiar dos humores do clima, um único dia pode trazer de tudo, o Inverno, a Primavera, o Verão e o Outono. Num dia bom, como este, talvez não se revele má ideia percorrer um pouco mais de uma dezena de quilómetros, para lá e outros tantos para cá, começando por deixar para trás, às primeiras horas da manhã, a pequena aldeia de Poncebos (a curta distância de Arenas de Cabrales) entregue ao seu silêncio tão sepulcral às diferentes horas do dia e da noite. No início, o trajecto, por vezes duro e, aqui acolá, íngreme, inspira muitas mentes a um regresso precoce aos vales; quando se vence o primeiro desafio, o parque parece oferecer uma recompensa ao viandante e o percurso descobre-se numa linha recta (com umas imperfeições, é verdade), de uma altura que oferece uma panorâmica vertiginosa sobre a garganta que o rio Cares exibe nas suas profundezas. Escuto-lhe o marulho, a rota segue numa das suas margens, garante o sentido de orientação mesmo a quem nunca o teve, o passeio é como o clima por estes lados, provoca múltiplos sentimentos, ora me torna nostálgico, ora pueril, ora distante, ora próximo, enquanto os olhos se vão plantando aqui e ali — e antes de chegar à aldeia de Caín —, em pontes que ligam as margens do Cares, nesses misteriosos túneis cavados nas rochas, na Garganta Divina, tão profunda, a tal ponto que separa o maciço Central do Ocidental dos Picos da Europa. O parque é exigente, convida a uma permanência prolongada para quem o quer conhecer na sua intimidade. No maciço central, onde a altitude ganha todo o esplendor dentro dos Picos da Europa, parto de Sotres (o lugarejo mais alto do parque) e, sem grande dificuldade, cruzo os Invernales del Texu (ou Tejo), um grupo de dezena e meia de casas a quase mil metros acima do nível das águas do mar (conhecidas por invernales e onde também é possível chegar de carro) para os pastores guardarem o gado nos meses mais frios. O trilho vai serpenteando, a paisagem prende todos os olhares, todos os sentidos, passa-se o collado de Pandébano, com vistas impressionantes, subidas e descidas, atravessando a majada de la Terenosa (onde há um refúgio) até que se chega, verdadeiramente grato pelo cenário que se oferece à contemplação, à base do pico Urrielo, também conhecido por Naranjo de Bulnes, erguendo-se, imponente, até chegar aos 2519 metros, uma forte tentação para quem gosta de escalar e possui equipamento e preparação física adequadas — e um perigo constante no Inverno perante a queda, por vezes inesperada, de neve. Desligo, por momentos, o olhar do monte mais emblemático (mas não o mais alto, estatuto que é conferido à torre de Cerredo, com 2648 metros, também no maciço central) dos Picos da Europa, assim conhecido devido às suas tonalidades alaranjadas quando exposto aos raios solares, e percorro um trilho que me fará desaguar, lá mais para a frente, em Bulnes, uma minúscula aldeia detida no tempo, tão acolhedora e reconfortante após uma caminhada que, face ao desnível, nem sempre se revela dócil. Bulnes, com duas dezenas de habitantes e aninhado no meio de magnificentes montanhas com vontade de tocar o céu, é um dos lugares mais encantadores de todo o parque nacional, com as suas casinhas de pedra decoradas com flores viçosas, os seus bonitos telhados, a sua igreja, a sua ponte, tão banhado de uma serenidade que apazigua os espíritos mais exaltados. A Bulnes, sempre envolto nesse manto tão tranquilo, não se chega de carro (nem sequer num veículo todo-o-terreno) e, até 2001, a aldeia esteve praticamente isolada do mundo — a única via de comunicação, estreita e íngreme, era ao longo do canal del Texu, uma situação que muito contribuiu para manter intacto o carácter rural desta aldeia. Já no início deste século, de forma a potenciar o número de turistas (mas também para facilitar o transporte de produtos de primeira necessidade), foi inaugurado um funicular subterrâneo que liga Bulnes a Poncebos em escassos sete minutos ao longo de pouco mais de dois quilómetros e com um desnível de 400 metros. É fácil deixar-se enfeitiçar pela beleza estética (em contraste com a inestética do funicular) desta aldeia pitoresca, pelo ar que se respira, pelas panorâmicas, sentado num terraço com vista para um mundo verde ou, em contraste, para os cumes despidos das montanhas, de preferência com um pouco de queijo de Cabrales e um copo de sidra à nossa frente. Decido-me a caminhar um pouco mais, uns dez ou quinze minutos, ao encontro do mirador de Bulnes, de onde abarco com o olhar, uma vez mais, toda a imponência do Naranjo (e, ainda que parcialmente escondida pelas nuvens, a torre Cerredo) esse pico tão inacessível para muitos e tão sedutor para os alpinistas. Regresso a Bulnes, para mais uma errância feliz, para me sentar à sombra de uma árvore, recuperando forças para (uma vez que abdico do funicular) iniciar o percurso até Poncebos ao longo do canal de Texu, pouco mais de uma hora (uns cinco quilómetros) por um caminho por vezes estreito mas sempre tão encantador, observando com respeito os desfiladeiros, essas gargantas que ameaçam engolir-nos ao menor descuido, aqui ou acolá uma corrente de água que nos transporta para o passado, quando, há muitos, muitos anos, um glaciar, nascendo na base do Naranjo, deslizava por este território para moldar a paisagem que nos dias de hoje provoca ondas de espanto em todos os que vivem esta experiência tão gratificante. Quando Poncebos já se perscruta no horizonte, nada melhor do que um mergulho nas águas geladas e cristalinas do rio, antes de ficar por momentos a admirar a elegante ponte de pedra de la Jaya, uma vez mais com os pés na água, para sentir a temperatura do Cares. Deixo para o fim um dos percursos mais simples, mais visitados, mais acessíveis de carro e não menos belos em todo o parque nacional. Saio de Cangas de Onís quando o sol já ameaça subir nos céus, numa altura em que meio mundo ainda se entrega à sua sonolência, para me deter, daí a uns minutos, nas proximidades da Basílica de Covadonga. Santuário católico, a sua construção iniciou-se em 1877 mas as suas obras, impulsionadas pelo arcebispo de Oviedo, D. Benito Sanz y Florés, para devolver os tempos de esplendor a Covadonga, apenas foram concluídas já no século XX (em 1901), já com a assinatura de Federico Aparici, sucessor do primeiro mentor, Roberto Frasinelli. Em estilo neo-românico, a basílica foi erguida com pedra rosácea e mármore recolhida das próprias montanhas de Covadonga, destacando-se no seu interior algumas obras de arte, como um quadro de Luis de Madrazo, representando a proclamação do rei Pelayo, ou um outro, de Vicente Carducho, que fala da Anunciação ou, finalmente (por entre capelas e o órgão inaugurado em 2001 que também justificam um olhar), uma imagem de Nossa Senhora esculpida com mestria pelo catalão Juan Samsó. Covadonga é um apelo constante para os peregrinos, para os portadores de uma fé inabalável. Nenhum deles, durante uma viagem pelos Picos da Europa, deixa de prestar o seu tributo à Santa Cueva, onde se encontra a Virgem de Covadonga, para os mais íntimos, como os asturianos, carinhosamente designada como La Santina. Em tempos remotos, a capela da Santa Cueva era em madeira mas em 1777, na sequência de um incêndio em que se perderam a imagem da virgem, jóias, cálices, todos os artefactos que a ela pareciam pertencer por direito, optou-se por uma construção mais sólida, menos exposta aos perigos. A senhora que hoje se observa, por vezes com os olhos dos crentes cheios de lágrimas, remonta ao século XVI, sendo proveniente da catedral de Oviedo, um ano após o fogo consumir tudo à sua volta e como recompensa pela perda da imagem original. Covadonga é, definitivamente, um lugar para os devotos, por vezes ignorado por quem apenas pretende estar rodeado da natureza e dessas montanhas admiráveis, pelo meio de trilhos que, com tantas e invejáveis panorâmicas, são como espasmos de amor. Logo à direita, ainda antes de encontrar a imagem de Nossa Senhora, apresenta-se o sepulcro de D. Pelayo, enterrado numa paróquia próxima, em Santa Eulalia de Abamia, mas mais tarde trasladado, a exemplo dos restos mortais da sua mulher e da sua irmã, para a Santa Cueva. Mais difícil de encontrar é o túmulo de Afonso I e da sua senhora, Hermelinda, filha de Pelayo, ainda assim próximo da capela românica levantada nos anos 40 do século passado, obra considerável do arquitecto D. Luis Menendez Pidal. Dispondo de um bocadinho mais de tempo e recusando o apelo da natureza, não deixe de reparar, próximo do altar, numa obra assinada por Juan José Garcia para a II Bienal de Barcelona, uma representação da batalha de Covadonga. Quando Afonso XIII se encontrava no seu refúgio de veraneio, em Julho de 1918, em San Sebastián, certamente que antes de declarar este espaço como parque nacional, muitos anos antes de ser reconhecido, em 2002, pela UNESCO como Reserva de Biosfera, recordou-se de um momento histórico, do 12. º centenário dessa batalha não menos histórica que teve lugar por estes lados, quando D. Pelayo começou a combater os muçulmanos, dando início à Reconquista, materializada séculos depois. Os Picos da Europa vivem, pelo menos em algumas áreas, do passado mas os seus responsáveis olham o futuro imbuídos desse forte desejo de proteger um espaço tão frágil, tão delicado, de tanta beleza. Quem resiste, sem alguma ponta de emoção, aos majestosos lagos Enol e Ercina, relativamente próximos de Covadonga e de onde partem tantos trilhos que tanto nos podem conduzir a antigas minas como a miradouros como o de Urdiales?- É urgente continuar com a planificação do parque nacional que estabelecerá o futuro deste espaço para os próximos dez anos. Os Picos da Europa necessitam de grande tranquilidade, para que se possa trabalhar sem a pressão de tantos interesses sectoriais que incidem sobre ele. O parque tem um grande potencial como factor de desenvolvimento do meio ambiente, mas é fundamental que todos os sectores se mentalizem da grande importância deste espaço como motor económico e como fórmula para atingir um rendimento em forma de consciencialização ambiental das novas gerações. Em resumo e como dizemos por aqui: que todos rememos na mesma direcção. Só assim será possível conservar de forma adequada os recursos naturais, culturais e etnográficos do parque, permitindo, ao mesmo tempo, que seja factor primordial no desenvolvimento das aldeias do interior e meio-ambiente do parque. Sinto a força das palavras do director-conservador do parque, Rodrigo Suárez Robledano, um homem que não resiste ao chamamento da natureza. Mas também sinto a força e o carácter (mesmo com a invasão de turistas) em lugares como Cangas de Onís ou Potes. Talvez graças a Afonso XIII. Há dois aeroportos localizados relativamente próximos do parque: um em Santander (a uns 80 quilómetros e mais conveniente para quem pretende iniciar a exploração pelo lado oriental) e o outro o das Astúrias (situado em Castrillón, a 15 quilómetros de Avilés, a 40 de Gijón, a 50 de Oviedo, a capital do Principado, e a 125 de Cangas de Onís, outra das portas de entrada nos Picos da Europa). Para o primeiro destino, na Cantábria, não há qualquer ligação aérea directa desde Portugal; já para o aeroporto das Astúrias, há um voo diário da TAP (operado pela White Airways) de Lisboa (pouco menos de duas horas e uma tarifa de ida e volta a rondar os 250 euros). De carro (de grande utilidade para visitar o parque, pelo que deverá alugar um caso utilize transporte aéreo), são pouco mais de 800 quilómetros entre Lisboa e Cangas de Onís — e menos de 600 para quem inicia a viagem no Porto. Os Picos da Europa, com um clima húmido temperado tipo Atlântico (na vertente norte Atlântico puro e na vertente sul Atlântico continental), têm o seu encanto em qualquer estação do ano — tudo depende do prazer que podem despertar no viajante, umas vezes seduzido pela neve, outras por temperaturas mais amenas e mais convenientes para a realização de caminhadas. A precipitação (neve e chuva) é abundante ao longo do ano, superando, em algumas zonas, e em média, os 2000mm por ano, enquanto os meses de Junho e Julho são, por norma, os mais secos — não é por acaso que a maior afluência de turistas se regista nos meses de Verão, pelo que a Primavera e o início do Outono se podem revelar como alturas ideais para visitar o parque. Hotel Picos de Europa Calle Mayor, s/n Arenas de Cabrales Tel. : 00 34 985 84 64 91 E-mail: reservas@picosdeuropa. com www. picosdeeuropa. com Preços: entre 50 e 80€ mas com tarifas (quarto duplo) que podem ultrapassar os 120€ em algumas épocas do ano. Um hotel cheio de história (aberto em 1907 e utilizado como hospital durante a Guerra Civil espanhola, foi restaurado em 1989), no centro de Arenas de Cabrales, com piscina e uma panorâmica soberba sobre as montanhas. La Tahona de Besnes Lugar Barrio Besnes, s/n Peñamellera Alta Alles Tel. : 00 34 985 41 56 41/00 34 681 16 40 79 E-mail: tahonabesnes@gmail. com www. latahonadebesnes. es Preços: a partir de 90€, mas entre 13 de Julho e 26 de Agosto apenas aceita reservas para um mínimo de quatro noites (cerca de 340€, sem pequeno-almoço). Num cenário deslumbrante, um espaço que contempla hotel (12 quartos) e cinco casas rurais restauradas com requinte e de acordo com a arquitectura tradicional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Casa Sagües Valedelabarca, s/n Arenas de Cabrales Tel. : 00 34 661 54 87 67 Com um preço médio de 25€ (excluindo bebidas), a Casa Sagües é um bom exemplo da cozinha tradicional asturiana, com bons queijos da região e o cabrito no forno (a lista também contempla peixe e marisco) como especialidade. El Molín de la Pedrera Calle Río Güeña, 2 Cangas de Onís Tel. : 00 34 985 84 91 09 E-mail: reservas@elmolin. com www. elmolin. com Uma instituição com mais de 30 anos, gerida por uma família e aberta diariamente entre meados de Julho e meados de Setembro. A cozinha é regional com um toque de criatividade: prove uns lombos de sardinha sobre carpaccio de laranja ou os chorizos à la sidra (entradas) e uma fabada asturiana ou uma presa ibérica com vinho do Porto. O preço médio ronda os 20 euros. É possível efectuar visitas guiadas e interpretadas pelos guias próprios do parque nacional, de forma gratuita (basta reservar e apresentar-se no local da partida à hora determinada) e unicamente em espanhol. O grau de dificuldade das caminhadas é baixo ou médio, tendo lugar apenas de segunda a sexta e entre os meses de Julho e Setembro, à excepção do dia 8 de Setembro, dia das Astúrias — para grupos com não mais do que 20 pessoas e um mínimo de três. As rotas são distintas (entre três a quatro horas de percurso) e tanto podem ser feitas a partir da zona dos lagos de Covadonga, nas Astúrias, como na Cantábria (Liébana) ou em León (zona de Sajambre e o vale de Valdeón). A actividade é desaconselhável para pessoas com problemas cardiovasculares ou físicos e recomenda-se o uso de calçado de montanha ou desportivo, que leve água, um chapéu, protector solar e um corta-vento (nunca se sabe quando a chuva pode fazer a sua aparição) — sem esquecer uma atitude responsável de forma a preservar um espaço de grande fragilidade. Não perca a oportunidade de errar, como um turista dentro de um museu, pela gruta-exposição situada no bairro Cares, em Arenas de Cabrales, para tentar compreender (e provar) a história do queijo que, desde 1981, goza do estatuto de Denominação de Origem e é, seguramente, um dos mais famosos produtos da gastronomia asturiana. A visita é guiada e permite-lhe ficar a par de todo o processo de elaboração do queijo de Cabrales, de noções singulares que provavelmente desconhece, como a existência dos soplaos, essas correntes de ar naturais que motivam o aparecimento do fungo penicillium roqueforti, de vital importância para a maturação tão característica deste queijo. Logo que a projecção audiovisual se aproxime do fim, fique com a certeza de que o melhor está para vir — uma prova de queijos. Retenha na memória, talvez para mais tarde, os nomes: Gamoneu, Cabrales, Los Beyos, Tipo Valdeón, Bejes-Tresviso. Mas há outros. Os portugueses apenas carecem de um documento de identificação (passaporte, bilhete de identidade ou cartão de cidadão) para visitar o país. A moeda é o euro. A língua oficial é o espanhol.
REFERÊNCIAS:
As marinhas estão a ganhar nova vida e o sal não é o seu único tempero
Degustar ostras e salicórnia em pleno coração da ria, fazer uma massagem com lamas ou simplesmente mergulhar o corpo na água salgada. São várias as propostas a cumprir nas “novas” marinhas de Aveiro. (...)

As marinhas estão a ganhar nova vida e o sal não é o seu único tempero
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.068
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Degustar ostras e salicórnia em pleno coração da ria, fazer uma massagem com lamas ou simplesmente mergulhar o corpo na água salgada. São várias as propostas a cumprir nas “novas” marinhas de Aveiro.
TEXTO: Numa tarde, Mónica Martinez chega a abrir e a preparar umas “300 ostras” e nem assim fica enjoada deste bivalve. “Até gosto de comer uma ou outra pelo meio”, confessa. “Isto não é complicado. Só é preciso saber a técnica para as abrir e usar luvas para não magoar as mãos”, acrescenta, ao mesmo tempo que se mantém focada na tarefa. O momento não é propício a distracções. Os visitantes não param de chegar e vêm com expectativas elevadas: degustar “as melhores ostras a nível nacional” — Mónica assegura que a classificação é feita por quem as prova —, apanhar e provar salicórnia e assistir ao pôr do sol a partir das águas da ria de Aveiro. O convite lançado pela gerência da Ostraveiro parece ter agradado a muitas pessoas e a marinha Passagem acabou por ser palco de uma grande festa com cheiro a Verão. O espaço que durante décadas esteve dedicado à produção de sal está, agora, transformado em atractivo turístico, aliado à produção (e degustação) de ostras e salicórnia. Um pequeno recanto da ria, situado bem próximo do centro de Aveiro, onde cabe quase tudo aquilo que é necessário para um dia de lazer: uma zona com camas de rede, áreas de esplanada, um parque infantil e um bar de madeira literalmente plantado em cima da água. “É um bar que serve apenas gin”, explica Sandro Sousa, o empresário que, juntamente com a mulher, Sandra Sousa, decidiu recuperar uma antiga marinha de sal e dar-lhe uma nova vida, associando-a à actividade que já vinham desenvolvendo na Ostraveiro (produção de ostras). Abriram no final do Verão do ano passado, apenas em “fase de testes”, e, no passado mês de Fevereiro, o projecto começou a entrar em velocidade cruzeiro (a marinha está aberta todos os dias). “As pessoas gostam muito de vir cá e de consumir aquilo que produzimos aqui”, refere Sandro Sousa — além das ostras, a carta da casa contempla ainda berbigão, amêijoas e lingueirão (só este último não é produzido na marinha Passagem). Ainda que não seja obrigatória a reserva prévia, a gerência aconselha a marcação de mesa, tanto mais porque o acesso à marinha é feito através de barco. Uma curta travessia de dois minutos — apenas para atravessar o canal da antiga lota —, orientada por marinheiros experientes, como é o caso de António Piorro, que passou mais de 20 anos no mar e que parece conseguir fazer esta pequena navegação com uma perninha às costas. Na verdade, os visitantes quase nem chegam a sair do centro de Aveiro, ainda que sejam tentados a pensar que estão “num pequeno paraíso”. “Sem dúvida um sítio para trazermos pessoas que venham de fora”, avaliam Sandra Martins e Andreia Rosas, duas amigas, ambas de Aveiro, que decidiram participar no sunset do passado dia 26. “Queríamos conhecer o espaço e aproveitámos o evento”, introduz Sandra Martins. E a primeira avaliação não deixava margem para dúvidas. “Isto é fantástico e mantém viva essa tradição das marinhas em Aveiro”, nota, por seu turno, Andreia Rosas, fazendo votos para que outras antigas salinas possam ter um destino idêntico. O convite falava apenas na degustação de ostras e na apanha de salicórnia mas os anfitriões da festa, Sandro e Sandra, fizeram questão de brindar os convidados com um showcooking de petiscos à base dessa planta salgada. Para isso, chamaram a presidente da Associação Figueira Com Sabor a Mar, Isabel João, que ensinou a confeccionar pataniscas de salicórnia e peixinhos da horta (com salicórnia). “Para as pataniscas, usamos farinha, água, cebola, ovos, salicórnia e um dedal de cerveja; já os peixinhos da horta levam farinha, água ou leite, ovo e salicórnia, neste caso com os troços maiores”, explica a também proprietária do Restaurante Picadeiro, da Figueira da Foz. Com Isabel João veio também uma pequena comitiva figueirense, cidade que também conta com grandes tradições na produção de sal e que “está a trabalhar para manter bem viva a tradição do salgado”, afiança Miguel Pereira, vereador da câmara da Figueira da Foz. E tanto lá como em Aveiro o grande impulso para a requalificação das antigas salinas tem vindo a ser dado pelo sector do turismo. Em Aveiro, os últimos dois anos têm sido marcados por alguns sinais positivos no que concerne às marinhas de sal — já agora, evite, por estas bandas, chamar-lhes salinas (dizem que é uma afronta e que os antigos marnotos jamais a perdoariam). As antigas áreas de produção de sal estão a revitalizar-se, contrariando o triste cenário que a cidade da ria vinha enfrentando nas últimas décadas: os montes brancos deixaram de ser uma constante na paisagem (das cerca de 270 marinhas que se mantinham activas nas décadas de 60 e 70 do século passado, restavam menos de uma dezena). Com o aumento da afluência de turistas à cidade, não tardou a que alguns empresários percebessem a oportunidade que jazia — o termo pode parecer exagerado, mas a verdade é que muitas marinhas estavam completamente largadas ao abandono e degradadas — ali ao lado, às portas da malha urbana. E ainda que a grande maioria mantenha essa função básica de produção de sal, nestas marinhas revigoradas criaram-se propostas de actividades e experiências que não se esgotam na observação dos afazeres dos marnotos. Disso é exemplo o Spa Salínico, inaugurado em Agosto de 2016, nas marinhas Grã Caravela e Peijota. O espaço, gerido pela empresa turística Cale do Oiro, não tardou a conquistar uma grande legião de fãs, atraídos pela possibilidade mergulhar na água da salina — à qual a empresa faz questão de acrescentar uns bons punhados de sal —, de beber um copo ao pôr do sol ou fazer uma massagem de relaxamento ou tratamento de beleza. São várias as opções disponíveis neste spa a céu aberto (serviços sujeitos a marcação prévia) e que vêm complementar o tratamento que já é garantido através de um banho na água da marinha: massagem simples de relaxamento com água de salmoura, massagem de pedras quentes com água salgada, ou o tratamento de assinatura, o Ritual Salinas. “Consiste numa esfoliação com flor de sal e óleo de coco, seguida de hidratação profunda da pele. Esta massagem prevê não só o relaxamento mas também a eliminação de toxinas e por arrasto drenagem de celulite”, assegura a técnica de spa Teresa Estêvão. Depois de ter vivido e trabalhado na Islândia, bastou-lhe adaptar os conhecimentos e experiência aí adquiridos para a realidade do salinário aveirense. E jura a pés juntos que o sal “é um mineral riquíssimo, que funciona como diurético, antipirético, cicatrizante, regenerador da elasticidade da pele, entre muitos outros benefícios”. Se ainda assim subsistirem dúvidas, a empresa detentora do spa salínico está disposta a mostrar os “resultados de análises feitas à água e às lamas, que comprovam as suas propriedades terapêuticas”, assegura Fernando Catarino, um dos proprietários da Cale do Oiro. Este vai ser já o terceiro ano de funcionamento do spa salínico — o espaço só agora está a dar início à temporada de 2018 —, mas as perspectivas continuam a ser bastante positivas. Tanto mais que a empresa está prestes a lançar no mercado novos produtos de cosmética made in Grã Caravela e Peijota — uma lama, um creme hidratante, uma água micelar e um bronzeador natural, que se juntarão aos sabonetes e sais já existentes. “E aguardamos pela aprovação de um projecto de requalificação dos palheiros, que vão tornar o espaço ainda mais atractivo e moderno”, acrescenta Fernando Catarino, antevendo que essa renovação já não possa ser feita a tempo deste Verão. Por ora, mantêm-se os ingredientes dos anos anteriores: visitas guiadas, uma loja com produtos à base de sal e uma esplanada com bar, além do spa. A história do aproveitamento das salinas aveirenses para o turismo terá começado há nove anos, na ilha dos Puxadoiros, quando um grupo de investidores se juntou para comprar e recuperar aquela marinha. “No início, era um projecto aquícola mas foi fácil perceber que havia ali uma beleza natural num estado puro”, recorda Vergílio Rocha, um dos proprietários do espaço. Reconhecido o potencial turístico, a aposta passou por conciliar a vertente da aquicultura e da produção de sal, com o turismo de natureza, dando a conhecer o ecossistema que é a ria de Aveiro — com especial destaque para as aves ali existentes (flamingos, pernas-longas, borrelhos, andorinhas do mar, gaivotas e garças). Sempre com esta certeza: “Este não é um sítio para turismo de massas”, realça Vergílio Rocha, lembrando que, por estar numa ilha, esta marinha — que integra um conjunto de oito — apenas é acessível através de barco. Actualmente, a exploração turística da marinha dos Puxadoiros está entregue à empresa Aveiro Emotions — que actua, também, na área dos passeios de moliceiro, restauração, entre outras —, mas a aposta num produto diferenciado continua a ser a tónica dominante. “São visitas guiadas, com a degustação de alguns produtos, e com uma viagem de barco de cerca de 30 minutos para cada lado”, destaca Virgílio Porto, da Aveiro Emotions, reconhecendo que esta distância encarece um pouco o produto (20 euros por pessoa) mas também traz inúmeras vantagens. Também por iniciativa da Aveiro Emotions está a ser lançado o Aquaria, um local para a prática de SUP (stand up paddle), nascido, precisamente, uma antiga marinha — o empreendimento está a operar na área de team building. Justiça seja feita, também, à câmara municipal de Aveiro, que ainda na década de 90 do século passado decidiu adquirir uma marinha e transformá-la em ecomuseu. Na Troncalhada, dão-se a conhecer os métodos de produção artesanal do sal e mantêm-se vivas as tradições ligadas a esta actividade secular. Na prática, este núcleo museológico é uma marinha em actividade, mas aberta ao público — com a possibilidade de agendar visitas guiadas. Uma característica que é comum a todos os projectos de revitalização das antigas salinas de Aveiro, como comprova a “novíssima” marinha Noeirinha — mais um espaço que acaba de ser colocado ao serviço de turismo e que acaba de ser inaugurado (ver texto nestas páginas). Começa, assim, a garantir-se o regresso dessa paisagem recortada em mosaicos e decorada com montes brancos. E também se dá início a uma campanha de marketing em torno do salgado aveirense sem precedentes: há cada vez mais turistas a provar o sal, flor de sal ou a salicórnia produzida nas marinhas do município; as prateleiras das lojas da região vão-se enchendo de cosméticos e temperos feitos a partir do cristal saído das salinas. Com um dado adicional: está em curso um programa da Associação Comercial de Aveiro que visa estimular e apoiar projectos empresariais em torno das marinhas – chama-se Sal de Aveiro e já tem disponível uma bolsa de arrendamento de salinas. Fica apenas a faltar um investimento nas vias de acesso a estas infra-estruturas agora colocadas ao serviço do turismo — as estradas que servem a grande maioria das marinhas aveirenses estão em péssimo estado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Marinha Passagem Empresa: Ostraveiro Tel. : 913 453 876 E-mailMarinhas Grã Caravela e Peijota Empresa: Cale do Oiro Tel. : 915 661 480 E-mailIlha dos Puxadoiros Empresa: Aveiro Emotions Tel. : 969 008 687 E-mailMarinha da Troncalhada Museu da Cidade de Aveiro Tel. : 234 406 485 E-mailTasca do Sal Cais dos Mercantéis, 15 3800-226 Aveiro Tel. : 234 096 267Restaurante Salpoente Canal de São Roque, 82/83 3800-256 Aveiro Tel. : 234 382 674Hotel das Salinas Rua da Liberdade, 10 3810 – 126 Aveiro Tel. : 234 404 190
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher aves infantil
Um apetecível oásis na aridez algarvia
Em Silves e há mais de 40 anos, a Marisqueira Rui é uma referência em mariscos e peixes frescos. Num estilo bem português, e sem cedências aos gostos ou costumes dos turistas. (...)

Um apetecível oásis na aridez algarvia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Silves e há mais de 40 anos, a Marisqueira Rui é uma referência em mariscos e peixes frescos. Num estilo bem português, e sem cedências aos gostos ou costumes dos turistas.
TEXTO: Mesmo não estando à beira-mar plantada, é o ar do mar e a brisa marinha que atrai a clientela à Marisqueira Rui. Em Silves, à sombra do velho castelo — que foi visigodo, romano e mouro antes de lusitano —, domina o ar cálido das terras secas do interior, que nem as águas do Arade conseguem amainar com o seu débil curso, e é o aroma marinho, a frescura de peixes e mariscos e a cerveja gelada que fazem da velha marisqueira um apetecível oásis no meio da aridez. É assim há mais de 40 anos. Mesmo antes da massificação turística e do corrupio de veraneio que a casa é uma referência para mariscos e peixes frescos. “Somos sem dúvida uma das marisqueiras mais conhecidas e apreciadas no país e em toda a região algarvia”, assim se apresenta. E talvez por isso seja ainda um dos raros restaurantes do Algarve que não vive da sazonalidade nem se adaptou aos gostos e costumes dos turistas. Bem pelo contrário. São eles que se afeiçoam ao estilo bem português da marisqueira, com base no produto fresco e manipulação mínima, serviço dinâmico e despachado, cerveja a copo de produção nacional e vinhos na mesma linha. Pelos vistos, não só se adaptam como aderiram, já que não são raras as aglomerações à espera de mesa, apesar das três salas que podem acolher à vontade centena e meia de comensais. Tem também a vantagem de se situar numa rua sem trânsito, com uma esplanada que mesmo no pico do Verão consegue estar abrigada à sombra do prédio logo desde a hora de almoço. A maresia absorve-se logo à entrada com o grande aquário que acompanha a parede onde borbulha grande variedade de mariscos. A frescura prolonga-se pelo balcão de fundo que liga as duas sala principais com as suas vitrinas a exibir peixes frescos e convidativos camarões, percebes, búzios, bruxas, lagostins e quejandos. A cerveja jorra em permanência das torneiras instaladas no balcão e parece haver uma regra que faz com que os diligentes funcionários não deixem que alguma vez os copos fiquem vazios nas mesas. Eles repõem mesmo que não haja pedido expresso. Para reforçar a sensação fresca, também as paredes estão forradas com cortiça a meia-altura e com prateleiras no topo exibindo algumas relíquias vinícolas, a atestar a pujança e longevidade da casa. Mesas com toalhas de papel sobre a cobertura de algodão amarelo, ambiente simples e serviço despachado, como é timbre deste estilo de casas. Com a carta chega também cestinho com pão torrado e manteiga e um pires de maionese. Também compôs com cerveja gelada ainda antes de qualquer pedido. R. Comendador Vilarinho 27 8300-117 Silves Site Tel. 282 442 682 / 919 856 475 Horário: 12h/01h (cozinha ate às 23h) Fecha à terça-feira Esplanada Estacionamento nem sempre fácil (parque na beira-rio)A par da longa lista de mariscos, a carta oferece também uma dúzia de pratos com peixes frescos, seis “especialidades” e uma dezena de pratos de carne, onde não faltam os bacalhaus (grelhado ou cozido com grão), os bifes, costeleta e tornedó e a inevitável carne de porco com amêijoas. As doses variam entre os 12€ e os 16€. As “especialidades”, com um tempo de preparação de meia hora e sempre em dose dupla, incluem as cataplanas (peixe ou amêijoas) e os arrozes ou massadas que podem ser de peixe, mariscos, lavagante ou tamboril com navalheira, a preços que rondam os 30€, com a excepção do lavagante, que duplica. É claro que é sobretudo pelos mariscos frescos que a clientela ocupa o grosso dos lugares da marisqueira. A lista alonga-se por mais de duas dezenas de indicações, desfiando conquilhas, amêijoas, ostras, búzios, canilhas, camarões, perceves, sapateiras, santolas, lagosta, lagostim, cavaco, lavagante, navalheiras e as bruxas, que por aqui são baptizadas de ferreirinhas. Há de tudo, como se vê, e com preços ao quilo e há cerca de três semanas podiam ir dos 30€ (perceves) aos 100€ (lagosta). Começamos precisamente pelas perceves, e não só pelo preço. Antes porque se mostravam fresquíssimas, com brisa marinha e resquícios de plâncton e das pedras de onde foram arrancadas. É, de facto, o mar que chega à mesa. Com os copos de cerveja gelada vieram também umas torradas com manteiga cortadas em tiras, daquele pão macio/maçudo e adocicado que deveria ser banido das mesas portuguesas. E tão bom pão rústico há ainda pelo interior do Algarve!Saciada a sede com a frescura passava a ser uma questão sabores e a escolha do envolvente Kompassus Blanc de Noirs, um dos grandes embaixadores dos espumantes da Bairrada, assentou na perfeição com os sabores simples e naturais do que estava para vir. Primeiro, com a natureza marinha de uma sapateira e seu recheio, de cozedura e sapidez irrepreensíveis. Seguiram-se uns camarões médios abertos em dois e grelhados, com alho e manteiga e um molho picante que é servido à parte. A satisfação ia claramente em crescendo e atingiu o topo com um garboso carabineiro suado, a brilhar de desejo na sua cor púrpura. Carnes firmes e delicadas com textura definida e sabores espevitados por molho frutado, limonado e levemente picante que envolvia o palato. Sorveu-se até à ínfima parte com completa satisfação e aprovação. Houve oportunidade ainda para constatar a qualidade e boa execução do arroz de mariscos. Com abundância de mariscos frescos, incluindo lingueirão, e o aroma e goma inconfundíveis do grão carolino. É assim mesmo!Para fechar, como é de tradição nas mais populares marisqueiras, o prego do lombo (6€) frito na frigideira com alho e azeite. Carne de excelência e execução perfeita para um final em grande. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nas sobremesas, não podia faltar o algarvio D. Rodrigo (2, 75€), que mereceu também nota alta, a par de outros doces regionais e ainda alguns queijos nacionais. Não fazia mesmo falta nenhuma o complemento de horrores gelados que é oferecido de forma autónoma numa daquelas listas plastificadas. As crianças gostam, é certo! Mas não somos obrigados a fazer-lhes mal!Percebe-se, pois, que esta Marisqueira Rui se apresente como uma das mais apreciadas no país e na região algarvia. Não só pela variedade e qualidade dos mariscos, mas também pela cozinha simples e natural como os prepara e serve. Numa região onde reina a descaracterização, louve-se também o serviço simpático, eficiente e atencioso e a matriz de tradição portuguesa e popular. Também por isso reforça a sensação de saboroso e apetecível oásis.
REFERÊNCIAS:
Tem nome de ave mas não voa: é um barco e move-se a energia solar
Nova proposta de passeios na ria faz-se a bordo de uma embarcação ecológica e silenciosa. E o melhor de tudo? Navega ao longo de canais e esteiros menos conhecidos. (...)

Tem nome de ave mas não voa: é um barco e move-se a energia solar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nova proposta de passeios na ria faz-se a bordo de uma embarcação ecológica e silenciosa. E o melhor de tudo? Navega ao longo de canais e esteiros menos conhecidos.
TEXTO: Bem-vindos a bordo do Gaivinha, o barco que promete levar-nos por canais pouco navegados da ria de Aveiro, ao encontro de uma fauna e flora ímpares e (estranhe-se) no maior dos silêncios. O convite é lançado pela Sterna. pt — mais um nome de uma ave —, que aposta em passeios especialmente vocacionados para a observação de paisagens e aves no seu habitat natural. Para levar a proposta a bom porto, a empresa turística aveirense recorre a uma embarcação totalmente movida a energia solar — é um dos barcos produzidos pela Sun Concept, empresa sediada no Algarve —, com vantagens para o meio ambiente e muito particularmente para o birdwatching. “Já estamos a navegar. E este será o único barulho que irão ouvir”, avisa Gabriel Conceição, o skipper e guia de serviço, aludindo ao som do casco da embarcação a rasgar a água. Do motor, nem um sinal. Silêncio absoluto — tão absoluto que quando nos cruzamos com uma ou outra lancha movida a motor de combustão não conseguimos esconder o sorriso amarelo. A propulsão do Gaivinha é assegurada por um motor eléctrico, movido por sete baterias alimentadas por seis painéis solares. “Tem uma autonomia para nove horas a navegar, sem carregar”, acrescenta o nosso guia. Outra das grandes mais-valias deste pequeno barco — ainda assim, com capacidade para 10 pessoas — reside nas características do seu casco: com um calado de apenas 40 centímetros, consegue ir a zonas da laguna aveirense inalcançáveis a muitas embarcações. O resultado? Poderá navegar por esteiros e canais que poucos conhecem e avistar paisagens naturais surpreendentes. Tivemos a sorte de partilhar esta aventura a bordo do Gaivinha com vários biólogos da Universidade de Aveiro, alguns deles bastante habituados a andar por aquelas águas a desenvolver trabalho de campo. “Mas em passeio é sempre melhor. E ainda mais com um barco movido a energia solar”, afiança Sizenando Abreu, um dos investigadores convidados para a viagem do primeiro domingo deste Verão. Juntamente com ele vieram também Ângela Cunha, Helena Silva e Sérgio Marques. E Cristina Ançã, técnica de radiologia, que veio por arrasto, desafiada pela amiga Helena — ainda bem, pensamos nós: assim já não somos os únicos pouco entendidos na matéria. “No fundo, somos todos apreciadores da beleza da ria”, resume Ângela. Feitas as apresentações, prosseguimos viagem, entrando pela laguna adentro (talvez o termo nunca tenha feito tanto sentido), longe dos principais canais. “Este é esteiro do Gramato e para navegar aqui é preciso perícia”, nota Gabriel Conceição, com humor. À falta de sinalização marítima, enterraram-se uns paus no fundo para identificar as zonas de perigo — é uma espécie de sinalização feita por e para marinheiros “residentes”. “Estamos com apenas um metro de profundidade”, alerta o skipper, numa altura em que começamos, também, a avistar as primeiras aves (a primeira que identificámos foi uma garça cinzenta) e outras coisas mais — um tanto ou quanto excêntricas. Algumas das construções que estão implantadas na ria — eram os antigos palheiros de apoio às marinhas de sal — parecem querer, à viva força, dar nas vistas. Exemplos? Há uma que tem um azulejo de cada cor e feitio (será difícil encontrar desenhos repetidos), outra que, além de apostar na diversidade de azulejos, instalou garrafões a servir de defensas no cais. E o melhor de tudo: o nome da marinha começou a ser pintado numa parede, mas só terminou na seguinte (ficou “Espaven”, de um lado, e o “ta”, no outro). Sim, esta é uma ria de Aveiro que nem todas as pessoas conhecem — até mesmo algumas que nasceram e vivem à volta das suas margens. “Estão a ver aquelas aves a saírem da barreira de terra? São andorinhas-das-barreiras”, explica o nosso guia. Já era conhecedor da ria há muitos anos — muito por força da sua ligação à vela e, mais recentemente, também ao stand up paddle — , mas o trabalho que tem vindo a desenvolver junto de verdadeiros aficionados de birdwatching tem funcionado, para Gabriel Conceição, como uma espécie de curso intensivo. “Entre as aves mais avistadas estão o milhafre negro, a águia-sapeira, o corvo-marinho, a garça-vermelha, maçarico-das-rochas, pernalonga, pato-real, maçarico-galego ou o maçarico-de-bico-direito”, desvenda. Sem darmos por isso, entramos nas águas do rio Novo do Príncipe — último troço do rio Vouga, que desagua na ria —, onde, a cada Verão, é construído um açude temporário. “No Inverno têm de o tirar, porque o caudal do rio aumenta”, nota o nosso guia. Nas margens, alguns pescadores lúdicos vão tentando a sorte (à procura de robalo), de cana na mão. O Gaivinha conduz-nos, depois, até ao esteiro das Duas Águas, onde “se encontram a água doce e a salgada”, explica Gabriel Conceição, que acabaria por ser interrompido pelo assobio de um maçarico-real. Antes de a viagem terminar ainda teremos a possibilidade de avistar uma garça-vermelha — na verdade, conseguimos estar a escassos metros dela — e uma sterna. E temos uma grande vantagem: além de binóculos, a bordo há três exemplares do Guia de Aves das Dunas de São Jacinto (dá para esclarecer dúvidas e ficar a conhecer um pouco melhor cada espécie). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quase a chegar ao cais da secção náutica do Clube dos Galitos — localizado na zona da antiga Lota de Aveiro — fica a sensação que duas horas passaram a voar. E o desejo de voltar àquelas águas para explorar uma laguna que mais parece um labirinto — acredite: há por ali um verdadeiro emaranhado de canais e esteiros. Com uma extensão de 45 quilómetros e uma largura aproximada de 11 quilómetros, a ria de Aveiro tem muito para explorar e disso é exemplo a variedade de propostas de passeios turísticos promovidos pela Sterna. pt (ver caixa). A partir da experiência que viveram naquele primeiro domingo de Verão, a bordo do Gaivinha, os biólogos Sizenando, Sérgio, Ângela e Helena dão o seu aval a esta nova proposta turística. “Tem todas as vantagens, tanto para o meio ambiente, como para os passageiros. A sensação de estar a ver a fauna em silêncio é logo outra”, avaliam os especialistas. “Só ficou a faltar o gin”, atiram, em jeito de brincadeira. Gabriel Conceição responde a sério, com a promessa de lhes proporcionar esse serviço extra numa próxima viagem. Em copos reutilizáveis, claro está — porque este é um barco amigo do ambiente — e com bebidas produzidas na região: espumante da Bairrada (M&M) e cerveja artesanal com salicórnia (Armazém da Alfândega). Sterna. pt Tel. : 916 780 198 E-mail SitePasseios disponíveis Rota dos Passadiços (duração de uma hora e 3, 5 quilómetros de distância); Rota dos Esteiros (duração de uma hora e 30 minutos e 8 quilómetros de distância); Rota Rio Novo do Príncipe (duração de duas horas e 12 quilómetros de distância); Rota Bio Ria/Salreu (duração de três horas e 21 quilómetros de distância); Rota de São Jacinto/Reserva de São Jacinto (duração de uma hora e 30 minutos e 8 quilómetros de distância). Quanto custa Os passeios têm um preço por pessoa que varia entre 12, 50 e os 25€ (depende da duração e da extensão). Também existe a possibilidade de alugar o barco, em exclusivo, pelo preço de 250 euros, por um período de quatro horas. Como chegar O cais de embarque do Gaivinha está situado na zona da antiga lota, muito próximo do centro da cidade (junto às eclusas), mas para lá chegar vai ter de percorrer alguns metros numa via sem asfalto.
REFERÊNCIAS:
Famosos vão viver com tribos da Papua-Nova Guiné no novo reality show da TVI
Perdidos na Tribo estreia-se em Maio é a aposta do canal de Queluz para combater Peso Pesado, da SIC (...)

Famosos vão viver com tribos da Papua-Nova Guiné no novo reality show da TVI
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.227
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Perdidos na Tribo estreia-se em Maio é a aposta do canal de Queluz para combater Peso Pesado, da SIC
TEXTO: No novo reality show da TVI, um grupo de famosos terá de viver com tribos primitivas da Papua-Nova Guiné durante 15 dias. Perdidos na Tribo (Ticket to The Tribes, no formato original) está já em fase de pré-produção e deverá estrear-se em Maio, para concorrer com a versão portuguesa do The Biggest Loser (Peso Pesado), que é ma das apostas fortes da SIC para os próximos tempos. No formato original da Eyeworks, os protagonistas são três famílias comuns. Na versão portuguesa, a TVI vai substituir os anónimos por um grupo de figuras mediáticas. O PÚBLICO sabe que José Castelo-Branco, Cláudia Jacques e José Carlos Pereira estão entre os nomes já confirmados. As gravações do programa decorrerão em Abril. Localizada no oceano Pacífico, a Papua-Nova Guiné é uma das nações mais heterogéneas do mundo, sendo constituída por centenas de grupos étnicos. Nas florestas tropicais do país vivem inúmeras tribos primitivas que permanecem ainda isoladas e sem contacto com o mundo exterior. Como tal, o choque cultural promete ser grande. Quinze dias nas ilhasDurante 15 dias, os concorrentes terão de fazer um interregno no estilo de vida ocidental e viver exactamente da mesma forma que os habitantes locais. A comunicação não deverá ser tarefa fácil, num país onde se falam mais de 800 dialectos indígenas diferentes. Electricidade, água quente e comida pronta deixarão de ser dados adquiridos, passando a ser necessário viver em cabanas e caçar e pescar para sobreviver. Um Conselho Tribal avaliará depois a capacidade de adaptação dos concorrentes ao novo estilo de vida, determinando se estes devem continuar em jogo ou se merecem ser expulsos. Segundo noticiou na sexta-feira o Diário de Notícias, as negociações para exibir Perdidos na Tribo começaram quando José Eduardo Moniz e Júlia Pinheiro ainda pertenciam aos quadros da TVI, mas os novos responsáveis da estação não deixaram cair esta aposta da estação. Contactada pelo PÚBLICO, a estação de Queluz recusou-se a adiantar informações sobre o programa. No entanto, convocou hoje a comunicação social para o Hotel Palácio Estoril, para apresentar “a mais recente aposta do canal”.
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Palavras-chave social
A juventude pode estar na água termal e nos ingredientes dos Açores
Miguel Pombo criou uma linha de cosmética para agir sobre as principais causas que provocam o envelhecimento da pele. Com água termal, mel, óleo de camélias e colostro dos Açores. (...)

A juventude pode estar na água termal e nos ingredientes dos Açores
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Miguel Pombo criou uma linha de cosmética para agir sobre as principais causas que provocam o envelhecimento da pele. Com água termal, mel, óleo de camélias e colostro dos Açores.
TEXTO: Esta história começa no vale das Furnas, na ilha de São Miguel, Açores, onde há uma grande concentração de nascentes e que, por isso, é considerada uma das maiores hidrópoles termais do mundo. À água, juntam-se as argilas vulcânicas, o veneno de abelha, o mel, o óleo de camélia-japónica e o colostro (o primeiro leite da vaca logo após o parto). Estes são todos os ingredientes que Miguel Pombo, 33 anos, utiliza na produção dos produtos Ignae, a marca de cosmética regenerativa que está a dar cartas nos EUA. “O colostro bovino dos Açores é mais rico do que os outros, porque as vacas vivem todo ano perto do mar e alimentam-se de erva de pastagem, sofrendo a influência dos ventos marítimos do Atlântico Norte. Isso leva a que o seu sistema imunitário seja mais forte, mais rico em anticorpos e factores de crescimento, que depois se reflectem na pele humana”, explica Miguel Pombo sobre um dos ingredientes que utiliza, enquanto conduz o seu carro, deixando Ponta Delgada para trás para se começar a avistar, de um lado, as vacas nas pastagens verdes íngremes da ilha, e, do outro, as escarpas que caem até ao mar. A caminho do vale das Furnas – a cratera de um vulcão que está adormecido desde 1630 –, o empresário faz uma visita guiada à Culto para explicar como nasceu a ideia de usar os recursos naturais do local onde cresceu. Foi em 2009, a milhares de quilómetros dali, em Bruxelas, quando trabalhava numa consultora com clientes da área da cosmética. “Conheci compostos de cremes e verifiquei que havia nos Açores ingredientes parecidos com os que as marcas usavam, como a água termal e a areia negra”, conta. Então, deu consigo a pensar: “Por que não fazer o mesmo?” Desde pequeno que ouvia relatos sobre viajantes que chegavam em romaria para curar as maleitas da pele e problemas digestivos numa das 25 nascentes de águas termais do vale das Furnas, como a nascente do famoso tanque de água amarelada do Parque Terra Nostra, um ex-líbris de São Miguel integrado no Terra Nostra Garden Hotel, onde o empresário recolhe a água termal para fazer os seus cremes. Miguel Pombo regressa aos Açores com as ideias a fervilhar, mas terá sete anos pela frente até criar uma linha de cosmética que actua sobre as principais causas de envelhecimento da pele. Passam-se anos entre a criação da empresa de biotecnologia Azores Life Science, dona da marca, o trabalho de investigação e os testes até acertar na fórmula para a primeira linha Ignae com quatro complexos – de dia, de noite, de olhos e sérum. Os produtos chegam ao mercado em finais de 2016. Por exemplo, estão à venda no spa do hotel – eleito pela Vogue Holanda como um dos seis a visitar no mundo, este ano –, e são utilizados em tratamentos de pele no mesmo espaço onde também são propostos tratamentos de assinatura, como o ritual de boas-vindas, em que as mãos são mergulhadas em água, óleo essencial e ginkgo biloba, colhido no parque botânico – com 200 anos e milhares de espécies –; ou a terapia de relaxamento e redução de tensão muscular, feita no tanque de água termal ao ar livre, a uma temperatura entre 38º e 40º. Em Portugal continental, os produtos podem ser adquiridos na cadeia de perfumaria Douglas; e já chegaram à Suíça, à Arábia Saudita e aos EUA, onde a conhecida “esteticista das celebridades” Joanna Czech, que já esteve nos Açores, cuida dos rostos de várias celebridades, entre elas a actriz Kate Winslet, a cantora Rihanna e a directora da Vogue US, Anna Wintour. “A Joanna tem sido embaixadora da Ignae nos EUA, e as vendas dispararam”, conta orgulhoso o empresário, enquanto aponta para o tanque termal do Parque Terra Nostra onde recolhe a água para fazer os cremes. Aquela água, diz, “tem uma combinação única de minerais e oligoelementos, entre os quais selénio e zinco, que reduzem e atenuam, por exemplo, os danos causados pela exposição solar, sobretudo a radiação ultravioleta”. É originária de um aquífero que fica em cima de uma rocha ígnea (que deu o nome à marca Ignae) e chega à superfície a cerca de 38º. Miguel tem luz verde do grupo Bensaude, dono do Parque Terra Nostra e do hotel, para recolher a água. Este hotel foi considerado pelo World Travel Awards, os “óscares” do turismo mundial, como o melhor hotel-boutique português. “É considerado um dos melhores destinos do mundo”, realça Alice Melo, assistente da direcção da unidade hoteleira. Antes de se decidir pela nascente termal do tanque do Parque Terra Nostra, Miguel Pombo analisou outras junto à zona das fumarolas vulcânicas, também conhecidas por caldeiras do vulcão das Furnas; e mais uma dezena de nascentes junto às antigas termas, agora transformadas num hotel. Por aqui podem ser vistas as grutinhas um e dois, as nascentes do Torno e as das quenturas, onde se lê o aviso “proibido lavar pratos, bilhas de leite e outros utensílios”. Há ainda, do outro lado da rua, junto à ribeira, a poça da Tia Silvina, para doenças de pele dos pés, e a nascente da Morangueira, para problemas digestivos, prescritas pela sabedoria popular. Ainda hoje, todas estas nascentes são um chamariz para turistas que mergulham as mãos na água quente e ficam admirados com o fumo, o sabor a ferro e a cor amarelada que fica no chão. “A utilização com finalidades terapêuticas das águas das Furnas remonta aos primórdios do povoamento de São Miguel”, informa Luís Cordeiro, fisioterapeuta pós-graduado em hidrologia, que estudou as águas das nascentes. Em tempos chegaram a funcionar alguns balneários medicinais, entre eles o de António Albuquerque, que foi transformado num posto de vendas de artesanato, a Loja Cooperativa Celeiro da Terra. Há ainda o Chalet da Tia Mercês, assim baptizado em homenagem à mulher que cuidou daquele espaço onde se faziam banhos de imersão. Hoje ainda estão por lá duas banheiras, que convivem com outros produtos como o chá verde, que fica com uma cor arroxeada quando feito com a água termal do Padre José – que ficou melhor do estômago só por beber daquela nascente que fica nas traseiras do chalet. Dali vê-se uma paisagem de nuvens de fumo que se dissipam no ar, e no nariz entranha-se um intenso cheiro a enxofre. “Já estamos próximos da zona das fumarolas”, anuncia Miguel Pombo, enquanto caminha na direcção de mais uma nascente, esta de água gaseificada com sabor azedo. “Estamos a desenvolver outros dois produtos que utilizam um péptido (molécula composta por aminoácidos) extraído das bactérias que vivem nas fumarolas do vulcão das Furnas e que possuem propriedades regeneradoras”, divulga. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de ter analisado todas as nascentes, o empresário decidiu-se pelas águas do tanque do Parque Terra Nostra, “que é bacterologicamente pura”, justifica. A sua recolha é supervisionada por um técnico do Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores (Inova), a entidade que analisa mensalmente 30 das 48 nascentes de água termal existentes nos Açores. “Fazemos análises químicas e microbiológicas de controlo para assegurar que têm condições para serem usadas pelo público”, explica João Carlos Nunes, director científico do Inova e doutorado em Geologia. Contudo, o também geólogo salvaguarda que, apesar de o saber empírico afirmar que a água amarelada do tanque do Parque Terra Nostra cura doenças de pele, tal só pode ser garantido depois de um estudo médico-hidrológico aplicado a utentes com doenças de pele. E monitorizado por um médico que comprova a cura, acrescenta. É o que vai ser feito no balneário termal da Ferraria, na outra ponta de São Miguel, com o fisioterapeuta hidrológico Luís Cordeiro e um médico. “Dentro de três ou cinco anos, as termas deverão ter classificação médico-hidrológica e legal da água para doenças músculo-esqueléticas”, assegura João Carlos Nunes, também professor universitário de vulcanologia. Por enquanto, só a água das termas do Carapacho, na ilha da Graciosa, está legalizada e classificada para o foro reumatismal. Nos seus produtos, a Ignae inclui ainda ingredientes como células estaminais de origem vegetal e péptidos em concentrações elevadas. Em breve vai lançar uma máscara de argila vulcânica e veneno de abelha dos Açores, também regeneradora, para esticar a pele; e está a extrair óleos essenciais de plantas como a criptoméria, com propriedades relaxantes, para incorporar numa nova linha de cremes para spa e numa de óleos essenciais para ambientadores domésticos. Como complemento aos cremes está prevista uma linha de suplementos alimentares. Tudo com ingredientes dos Açores. A Culto viajou a convite da Ignae, e ficou hospedada no Terra Nostra Garden Hotel a seu convite
REFERÊNCIAS:
Sim, é mais difícil dormir no hospital
Os doentes internados em hospitais dormem menos, acordam com mais frequência durante a noite e despertam mais cedo do que se estiverem em casa. (...)

Sim, é mais difícil dormir no hospital
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os doentes internados em hospitais dormem menos, acordam com mais frequência durante a noite e despertam mais cedo do que se estiverem em casa.
TEXTO: Os doentes internados em hospitais dormem menos, acordam com mais frequência durante a noite e despertam mais cedo do que se estiverem em casa, aponta um estudo holandês que analisou os dados de 2000 adultos que passaram a noite num dos 39 hospitais na Holanda. Em média, os doentes dormiram menos 83 minutos do que se estivessem em casa e acordam, em média, 44 minutos antes do início da manhã, quantifica o estudo. Isso pode não parecer surpreendente, uma vez que as pessoas acordam, em média, três vezes por noite no hospital, em comparação com duas vezes em casa. “Os factores mais relatados para a perturbação do sono foram o ruído de outros doentes, dos dispositivos médicos, a dor e as idas à casa-de-banho”, enumeram os investigadores, citados pela Reuters. Mas há mais: “Os doentes não conseguiam dormir porque, por exemplo, estavam preocupados com o cônjuge que é demente e que está sozinho em casa, ou com o cão ou outro animal de estimação, ou estavam preocupados se poderiam ir ao casamento da filha”, aponta Prabath Nanayakkara, da VU University Medical Center, em Amsterdão. E, na maioria das vezes, os doentes não falam com a equipa hospitalar sobre o que os preocupa, acrescenta o investigador. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mais de dois terços dos doentes inquiridos disse que foi acordadoi por causas externas, mas apenas 36% alertou a equipa do hospital, segundo o estudo. Metade dos pacientes do estudo tinha pelo menos 68 anos e a maioria estava no hospital há mais de uma noite. Enquanto cerca de 26% estava num quarto sozinho, 26% tinha um colega de quarto e 41% tinha três ou mais colegas de quarto, mas o número de doentes que dorme no mesmo quarto não parece afectar a qualidade do sono. Um total de 335 inquiridos, 17%, tomava medicamentos em casa para ajudá-los a dormir. Os distúrbios do sono em casa não diferiram por faixa etária, mas no hospital os mais velhos tiveram menos distúrbios do que os mais jovens. Contudo, o estudo não analisou como é que os resultados do sono podem afectar outras questões de saúde. Ainda assim, o impacto negativo sobre a saúde está bem documentado, aponta Sharon Inouye, directora do Centro Envelhecimento Cerebral no Hebrew SeniorLife em Boston. “Há muitos efeitos – talvez o mais reconhecido é que as funções cognitivas (como atenção e memória) são interrompidas”, continua Inouye por e-mail. Por isso, a solução é deixar os doentes em paz para que eles possam dormir, aconselha. “Isso traria tremendos benefícios”.
REFERÊNCIAS:
União Europeia lidera consumo de bens ligados à destruição ilegal das florestas tropicais
Relatório conclui que quase 25% dos bens agrícolas produzidos em terras ilegalmente desflorestadas é importado para países da UE. (...)

União Europeia lidera consumo de bens ligados à destruição ilegal das florestas tropicais
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DATA: 2015-03-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Relatório conclui que quase 25% dos bens agrícolas produzidos em terras ilegalmente desflorestadas é importado para países da UE.
TEXTO: Entre 2000 e 2012, de dois em dois minutos, uma área de floresta tropical equivalente em média a um campo de futebol foi ilegalmente arrasada para fornecer carne de vaca, couro, óleo de palma e soja aos países da União Europeia (UE). A conclusão provém de um estudo publicado na terça-feira pela Fern, organização não-governamental (ONG) de protecção das florestas com sede em Bruxelas, na Bélgica. “De 2000 a 2012, 2, 4 milhões de hectares de terreno foram ilegalmente desflorestados nos trópicos”, lê-se nesse relatório. “O facto de a UE ser líder mundial nas importações de produtos que fomentam a desflorestação já está bem documentado, mas esta é a primeira vez que temos dados que mostram que grande parte dessa desflorestação é ilegal”, diz Saskia Ozinga, responsável da Fern, citado num comunicado daquela ONG. O título do relatório não deixa margem para dúvidas sobre o veredicto: “Bens roubados: a cumplicidade da UE na desflorestação tropical ilegal”. No seu conjunto, explica ainda esse documento, a UE importa “27% de toda a soja, 18% de todo o óleo de palma, 15% de toda a carne de vaca e 31% de todo o couro disponível no mercado internacional decorrente da destruição ilegal da floresta tropical”. Só em 2012, isso representou, em termos monetários, uma factura de 6000 milhões de euros em importações, estima ainda o relatório. Na frente deste consumo de “produtos roubados” estão a Holanda (o porto de entrada da maior parte desses produtos na UE), a Itália, a Alemanha, a França e o Reino Unido. Ainda segundo o estudo agora publicado, estes países importaram 75% desses produtos “sujos” e consumiram 63%. Mais precisamente, a Holanda e a Alemanha são os maiores importadores de óleo de palma, utilizado nos produtos cosméticos e na indústria alimentar; o Reino Unido é o grande importador de carne de vaca; a maior parte do couro destina-se ao mercado italiano, para a confecção de calçado e malas (num valor de mil milhões de euros, o que faz deste país o maior consumidor europeu destes produtos “ilegais”); e a França é o maior importador de soja, que utiliza na alimentação de suínos e aves de criação. O estudo especifica ainda que os países de origem dos bens agrícolas derivados da desflorestação ilegal são sobretudo o Brasil (onde cerca de 90% da desflorestação é ilegal) e a Indonésia (onde se estima que 80% da desflorestação é ilegal). Mas países como a Malásia, o Paraguai, os Camarões, República do Congo, Gabão, Papuásia-Nova Guiné, Laos e Camboja também fazem parte da lista de fornecedores. “O consumo da UE não só contribui para a devastação ambiental como também para as alterações climáticas”, diz por seu lado Sam Lawson, autor do relatório, citado no comunicado da Fern. “E a natureza ilegal da desflorestação também significa que está a promover a corrupção, a perda de rendimentos, a violência, a violação dos direitos humanos. Aqueles que têm tentado travar a desflorestação ilegal têm recebido ameaças, sido alvo de ataques ou mesmo mortos”, acrescenta. O relatório também recomenda medidas que a UE deveria tomar para travar a sua contribuição para a desflorestação ilegal. “A procura de bens que põem em risco a floresta está a ser motivada por uma série de políticas da UE ao nível da agricultura, do comércio e da energia”, explica ainda Saskia Ozinga. “Precisamos urgentemente de um plano de acção para tornar estas políticas coerentes, reduzir o consumo da UE e garantir que apenas importamos bens legais e produzidos de forma sustentável. ” Mais precisamente, acrescenta, “um Plano de Acção sobre a Desflorestação e a Degradação das Florestas poderá desencadear um diálogo entre os países da UE e os fornecedores, utilizando o comércio como incentivo. A UE pode instigar reformas legislativas nos países fornecedores ao juntar os governos, a indústria e os grupos da sociedade civil, não apenas para reduzir a desflorestação, mas também para melhorar a governação e reforçar os direitos vitalícios das comunidades indígenas e locais. ”Muitas empresas têm-se comprometido recentemente a eliminar os produtos provenientes da desflorestação ilegal da sua cadeia de produção, explica ainda o comunicado da Fern. Porém, o relatório alerta para o facto que, num contexto de ilegalidade generalizada, as empresas terão dificuldades para cumprir esses compromissos sem intervenção governamental. “A UE comprometeu-se a reduzir a perda bruta de florestas em 50% até 2020 e eliminá-la até 2030”, diz Catherine Bearder, eurodeputada dos liberais democratas (Lib-Dem) britânicos, num depoimento recolhido pela Fern. “Uma maneira de atingir esses objectivos (…) é tornar mais rígidos os requisitos de importação entre os países exportadores de madeira e a UE. A outra é, obviamente, a necessidade urgente de reforçar o Plano de Acção FLEGT [Plano de Acção da UE para a Aplicação da Legislação, a Governação e o Comércio no Sector florestal], que precisa de ser reorientado, passando a abranger não só o comércio ilegal de madeira, mas também qualquer conversão ilegal de terras para fins agrícolas. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades UE