Esqueleto da criança do Lapedo proposto como tesouro nacional
Faz 20 anos a descoberta de uma preciosidade científica que trouxe um novo olhar sobre a evolução humana e a relação entre o Homo sapiens e os neandertais. A antropóloga que escavou o esqueleto da criança pediu agora que seja tesouro do país. (...)

Esqueleto da criança do Lapedo proposto como tesouro nacional
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DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Faz 20 anos a descoberta de uma preciosidade científica que trouxe um novo olhar sobre a evolução humana e a relação entre o Homo sapiens e os neandertais. A antropóloga que escavou o esqueleto da criança pediu agora que seja tesouro do país.
TEXTO: Cidália Duarte e João Zilhão abrem uma caixa à prova de quase tudo no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa. Lá dentro está uma preciosidade – os ossos da criança do Lapedo, devidamente acondicionados numa espuma branca de polietileno expandido. A caixa é bem grande, pelo que do seu interior a antropóloga e o arqueólogo vão puxando por umas alças os tabuleiros – quatro – por onde se distribuem os ossos, pequenos e frágeis, de uma criança que viveu há 29 mil anos e que alguém sepultou com todo o cuidado. É um reencontro de Cidália Duarte e João Zilhão com o esqueleto, os responsáveis pela sua escavação no vale do Lapedo, concelho de Leiria, há 20 anos. A festa de aniversário é este fim-de-semana no Museu de Leiria. Assinalando a data, Cidália Duarte pediu há dias à Direcção Geral do Património Cultural a classificação do esqueleto como “bem móvel de interesse nacional”. Por outras palavras, como tesouro do país. “Cumpre os requisitos para ser um tesouro nacional”, sublinha a antropóloga, que há 20 anos estava no então Instituto Português de Arqueologia (IPA) e agora trabalha na Direcção Regional de Cultura do Norte, tutelada pelo Ministério da Cultura. “Tem de se comprovar a sua singularidade e raridade. E ele é singular: é o único esqueleto [humano] quase completo do Paleolítico Superior em Portugal e um dos poucos do mundo. Pelo facto de ser uma criança, muito frágil, também é raríssimo”, nota. “A sua autenticidade também está comprovada aqui: a obra de arte é da própria natureza”, acrescenta Cidália Duarte, dizendo que o esqueleto da criança do Lapedo contém uma herança biológica da humanidade, em particular das populações europeias daqueles tempos. Acresce que também está comprovada a sua antiguidade, como exige ainda a legislação para a classificação como tesouro nacional, uma vez que o sítio arqueológico onde foi descoberto está datado. E, por fim, a memória: “O que nos traz para a memória colectiva é o modo de vida e a bagagem biológica dessa época de há pouco menos de 30 mil anos, além das características culturais de como a sepultura estava feita. ”Vamos agora ao momento da descoberta, contando a história desde o início, para memória futura. No Outono de 1998, um estudante universitário na área do património, Pedro Ferreira, oriundo da região, lembrou-se de ir ao vale do Lapedo à procura de pinturas rupestres que pudessem resultar num trabalho da sua licenciatura. Encontrou pinturas de três figuras antropomórficas com alguns milhares de anos, informação que acabou por chegar ao IPA. Na altura João Zilhão era o presidente do IPA e pediu a Pedro Souto e João Maurício, da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia (em Torres Novas), que fossem averiguar esse relato. As figuras antropomórficas existiam realmente. Mas enquanto estavam no local, a 28 de Novembro de 1998, Pedro Souto e João Maurício repararam no outro lado do vale num abrigo rochoso que parecia promissor como sítio paleolítico. Ao aproximarem-se, viram que uma terraplenagem tinha deixado à vista dezenas de restos de fauna e rochas de sílex talhadas. Era uma jazida do Paleolítico Superior. João Maurício apercebeu-se de uma reentrância no abrigo e escavou-a com a mão: foi aí que se deparou com alguns ossos, que reconheceu como possivelmente humanos. Tapou tudo. O que se seguiu, a 6 de Dezembro, foi uma inspecção ao local por João Zilhão, Cidália Duarte e Ana Cristina Araújo (também do IPA), incluindo ainda Pedro Ferreira, Pedro Souto e João Maurício, entre outros elementos. Cidália Duarte reconheceu de imediato ossos do braço e da mão de um único indivíduo humano, uma criança. E quando os mostrou a João Zilhão, ele notou que estavam tingidos de ocre vermelho, substância usada em ritos funerários que se encontra em sepulturas do período Gravetense (entre há 30 e 26 mil anos), do Paleolítico Superior. Só podia ser a sepultura de uma criança. “Temos de tratar deste assunto já!”, recorda João Zilhão, agora na Universidade de Barcelona. Ficaram tão entusiasmados que, no regresso a Lisboa, pararam o carro algumas vezes para verem o material que recolheram e se convencerem de que era mesmo uma sepultura gravetense. “E para pensar: ‘O que vamos fazer agora?’”, lembra Cidália Duarte. Logo a 12 de Dezembro, com o Natal à porta, iniciaram uma escavação arqueológica de emergência. “Era Inverno, estava um frio horrível, a chover. Mas queríamos tirar o esqueleto”, diz João Zilhão. A escavação terminou a 9 de Janeiro de 1999. Por essa altura já a descoberta era notícia nacional. Perto do Natal, o telejornal da RTP1 anunciava ao país a descoberta do esqueleto de uma criança do Paleolítico Superior, um presente natalício para os arqueólogos, e o achado foi noticiado em vários jornais e televisões. O que foi surgindo aos olhos dos investigadores durante a escavação, só com uma pequena pausa na véspera do dia de Natal, revelava que era uma criança muito pequena. Teria cerca de quatro anos na altura da morte. Também se ia percebendo o grande cuidado posto na preparação da sepultura. Foi purificada com um ramo de pinheiro-da-casquinha, que foi aí queimado. Sobre o ramo queimado colou-se o corpo da criança, embrulhado numa mortalha de pele coberta de ocre vermelho. O corpo estava um pouco inclinado para a esquerda, com o pé esquerdo sobreposto no direito. Além disso, deixaram-lhe um coelho como oferenda, uma vez que se encontraram ossos deste animal, também com ocre, entre as pernas da criança. Por fim, colocaram-lhe adornos. Junto do pescoço, o esqueleto tinha uma concha marinha perfurada e, perto da cabeça, quatro dentes caninos de veado furados. Se esta descoberta já tinha importância científica só por si – na altura, era mesmo o único esqueleto quase completo de uma criança do Paleolítico Superior na Europa –, a discussão científica que desencadeou a seguir deu-lhe ainda maior relevância mundial e pôs Portugal no mapa-múndi da evolução humana. João Zilhão falou da descoberta a Erik Trinkaus, um antropólogo norte-americano especialista em anatomia e características morfológicas dos nossos antepassados do Paleolítico Médio e Superior, que veio a Portugal visitar a escavação no início de Janeiro de 1999. Enquanto os trabalhos arqueológicos ainda decorriam, Erik Trinkaus ia analisando e medindo em Lisboa, no laboratório, os ossos que chegavam do terreno. Já nos EUA, Trinkaus fazia o estranho pedido a Cidália Duarte e João Zilhão para voltarem a medir o comprimento do fémur e da tíbia. Achava que se tinha enganado nas medições. Mas não tinha. Em Junho de 1999, a equipa anunciava ao mundo, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), que o esqueleto da criança apresentava traços anatómicos típicos de dois grupos humanos que, durante muito tempo, se consideraram perfeitamente distintos – os humanos já anatomicamente modernos (Homo sapiens) e os neandertais. Muitas outras publicações se seguiram. Há 29 mil anos, os humanos modernos, grupo a que pertencia a criança, já se tinham espalhado pela Europa vindos de Leste, enquanto os neandertais (anatomicamente diferentes dos humanos actuais) já estavam extintos. O seu último reduto foi na Península Ibérica, há cerca de 34 mil anos (segundo datações entretanto calibradas). Além das razões da extinção dos neandertais, que tipo de relacionamento houve entre eles e os humanos modernos era motivo de um intenso debate científico. Tinham-se matado, acabando os neandertais extintos como grupo humano? Ou procriaram e deixaram descendentes com uma mistura de características?Ora, a equipa afirmava que o esqueleto do Lapedo ainda mantinha traços morfológicos de cruzamentos antigos entre os dois grupos humanos – ocorridos pelo menos cinco mil anos antes do nascimento da criança, uma vez que ela viveu há 29 mil anos e os neandertais tinham desaparecido há 34 mil. E a prova dessa miscigenação estava nas pernas e na anca da criança. Os neandertais tinham pernas curtas e ancas largas, enquanto nos humanos modernos as pernas eram longas e as ancas estreitas. A criança do Lapedo misturava os dois traços: ancas estreitas, como os humanos modernos, e pernas curtas como os neandertais. Também tinha queixo, um traço dos humanos modernos, inexistente nos neandertais, mas estava metido para dentro de forma invulgar. Tais afirmações de que a criança anatomicamente moderna tinha antepassados neandertais foram alvo de um ataque feroz, dizendo-se que não havia provas genéticas da procriação entre esses dois grupos de humanos. A evolução das técnicas de genética permitiria mais tarde a descodificação tanto do nosso genoma como o dos neandertais, matando finalmente essa discussão em 2010. Temos mesmo um bocadinho dos neandertais dentro de nós ainda hoje. As populações actuais da Eurásia (território onde os neandertais viveram) partilham genericamente entre 2% a 4% de ADN neandertal. “Esse valor era alto nas populações do Paleolítico Superior e, com o tempo, tem vindo a diminuir”, refere João Zilhão. Ainda há poucas semanas um estudo genético concluía que os dois grupos de humanos se tinham reproduzido várias vezes ao longo de dez mil anos. “Tem sido divertido ver que os geneticistas escrevem actualmente coisas que parecem tiradas, palavra por palavra, do que escrevemos há mais de uma dúzia de anos. ”Passados 20 anos, finda essa polémica, o esqueleto é agora importante porquê? “Foi o achado certo no momento certo, que abriu a caixa de Pandora da revisão dos estudos sobre os neandertais e do seu papel na evolução humana, sobre o que é ser Homo sapiens e um humano anatomicamente moderno e da profunda revisão da ortodoxia no final do século XX, actualmente em curso”, responde João Zilhão. “Já havia uma série de elementos que punham em questão que os neandertais eram uma espécie diferente, que se tinham extinguido sem deixar descendentes e que foram substituídos por uma espécie nova aparecida em África há 150 mil a 200 mil anos [os humanos modernos] e que, graças à superioridade cognitiva que outras espécies não tinham, nomeadamente os neandertais, conquistaram o mundo. ”Também para Cidália Duarte o esqueleto da criança do Lapedo trouxe outros olhares. “Depois de ter sido descoberto e de ter havido uma imensa polémica sobre a procriação entre humanos anatomicamente modernos do Plistocénico e neandertais, essa polémica gerou a adopção de um olhar novo sobre outros esqueletos de época semelhante”, frisa. “Depois destes anos todos, a genética – não a genética directa na criança – confirmou que a hipótese da miscigenação estava correcta. Portanto, o esqueleto da criança do Lapedo é um ‘documento vivo’ dessa miscigenação e, assim, tem de ser preservado. ”A sua classificação como tesouro nacional, além de garantir essa preservação, assegurará que o esqueleto não sairá para qualquer lado, controlando-se os seus movimentos. “Esses movimentos ficarão registados no Conselho Nacional de Cultura e trabalhos sobre a criança têm de ser alvo de parecer deste órgão consultivo”, explica Cidália Duarte, dizendo que qualquer cidadão pode pedir a classificação de um bem cultural de interesse nacional. “Na minha opinião, justifica-se que o esqueleto fique como tesouro nacional incorporado no acervo do Museu Nacional de Arqueologia (MNA). ”Uma opinião partilhada pelo director do MNA, António Carvalho, que considera estes restos osteológicos especiais e relevantes para o museu: “Qualquer exposição permanente que trate da ocupação humana em território português não pode prescindir deste bem. ” António Carvalho não vê motivos para não seja classificado como tesouro nacional: “Há uma grande unanimidade sobre o valor deste bem. ” Avançar para já qual será o desfecho do pedido de classificação é “prematuro”, explica a assessora de imprensa da Direcção- Geral do Património Cultural, Céu Novais, uma vez que ele deu entrada agora e ainda terá de ser analisado. Foi para viajar para a Alemanha em 2006 que a caixa de um contraplacado à prova de destruição, com rodinhas, foi construída. É à prova de fogo e de submersão. “É uma caixa que flutua. Foi feita quando o esqueleto foi pela primeira e única vez exposto em público, na exposição comemorativa dos 150 anos da descoberta do Neandertal, em Bona”, conta Cidália Duarte. “Olha aqui os adornos todos!”, diz João Zilhão ao olhar para o conteúdo do primeiro tabuleiro retirado da caixa. Chegados ao terceiro tabuleiro, o mais fundo dos quatro, Cidália Duarte diz que “é o mais bonito”. “Temos o crânio, os ossos longos, a mão esquerda, parte das costelas, a mandíbula”, descreve João Zilhão. Todo fragmentado, os 200 pedaços do crânio estão colados e montados com a ajuda de pauzinhos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “E a cor dos ossos manteve-se”, nota Cidália Duarte, que nestes últimos dias esteve a substituir com novos materiais as etiquetas que numeram cada osso, segundo a referência do catálogo publicado. Nesta sexta-feira, Erik Trinkaus também veio a Lisboa reencontrar-se com o esqueleto, agora com um novo olhar e a pensar noutras questões científicas. A festa de aniversário este sábado e domingo no Museu de Leiria passa por uma conferência internacional. À criança, agora um “jovem adulto de 20 anos”, os parabéns.
REFERÊNCIAS:
Onde estava Marcelo aos 10, aos 20… aos 60 anos
Aos 70 anos, Marcelo Rebelo de Sousa está em Belém, o topo da carreira para qualquer político. Aos dez já esperava pelo pai à porta do gabinete de António de Oliveira Salazar. (...)

Onde estava Marcelo aos 10, aos 20… aos 60 anos
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DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aos 70 anos, Marcelo Rebelo de Sousa está em Belém, o topo da carreira para qualquer político. Aos dez já esperava pelo pai à porta do gabinete de António de Oliveira Salazar.
TEXTO: Ninguém nasce político mas Marcelo Rebelo de Sousa pode ser a excepção. A política começou a atravessar-se na sua vida quando ainda estava na barriga da mãe, à boleia de Marcello Caetano rumo à maternidade lisboeta onde nasceu, a 12 de Dezembro de 1948. Aos 10, aos 20, aos 30, aos 40, aos 50 e aos 60 anos, o agora Presidente da República esteve sempre em lugares de destaque, perto das esferas do poder, ora do político ora do mediático. Marcelo Rebelo de Sousa é o mais velho de três irmãos rapazes e foi o grande companheiro do pai nos tempos em que Baltazar Rebelo de Sousa teve cargos políticos. Imaginá-lo aos dez anos é visualizar uma criança bem vestida e bem comportada sentada, sozinha, numa cadeira na antecâmara do gabinete de António de Oliveira Salazar, à espera do pai, subsecretário de Estado da Educação, que tinha ido ao despacho do presidente do conselho na vez do ministro, Francisco Pinto Leite, durante um período em que este esteve doente. Quando Marcelo tinha dez anos e ainda o chamavam de Celinho era a sombra do progenitor até nos momentos mais entediantes para uma criança. Gostava de política e de imitar os políticos. E era assim que se fazia notar. Aos seus onze anos, Salazar ofereceu-lhe algumas das suas obras com um autógrafo e uma dedicatória. Em 1968, exactamente no ano que em que o estudante universitário Marcelo cumpriu duas décadas de vida e em que Salazar caiu da cadeira, Baltazar Rebelo de Sousa foi chamado para uma de duas funções: aceitar uma pasta no governo ou ser governador geral de Moçambique. Após um encontro de três horas com o presidente do conselho, reuniu-se a família para ajudar na decisão. Coube ao primogénito partilhar com os pais o pensamento dos filhos. “É como convidá-lo a atirar-se a um de dois poços, mas mal por mal Moçambique que corresponde a um sonho e a uma vocação sua”, disse Marcelo. Assim foi. Os pais e os irmãos rumaram a Lourenço Marques e o filho mais velho ficou, com a promessa de um jantar semanal em casa de Marcello Caetano, amigo da família. Entre os 20 e os 30 anos de Marcelo passou-se o 25 de Abril, começou a amizade com António Guterres, os pais – Baltazar e Maria das Neves – deixaram Portugal rumo ao “exílio” no Brasil, Marcelo foi deputado constituinte, casou-se com Ana Cristina Motta Veiga, teve dois filhos, separou-se (nunca chegou a divorciar-se), viajou muito, assistiu à ascensão de Sá Carneiro, tornou-se um influente colunista, escreveu “Balsemão é lelé da cuca” e acabou como director do Expresso – aos 31 anos. “Nem um milímetro sequer se afastará o Expresso das linhas orientadoras da sua política editorial”, escreveu no primeiro editorial que assinou, acrescentando que Balsemão nunca esperaria do jornal “qualquer subserviência, favor, parcialidade ou contributo espúrio para o Governo em que se integra”. Podia ter sido a década menos política da vida de Marcelo Rebelo de Sousa, que entretanto se transerira para o jornal Semanário e se dedicara ao conselho directivo da faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas não foi. Aos 40 anos, Marcelo acabou por avançar como candidato do PSD à Câmara Municipal de Lisboa numa campanha que o reaproximou do partido, mas que acabou em derrota. Em Maio de 1989, Marcelo soube que entraria na corrida a Lisboa e no Verão apresentou a candidatura, no Castelo de São Jorge. A surpresa acabou por vir do PS. “Bolas, Marcelo, saiu-nos um touro de 600 quilos”, ter-lhe-á dito António Pinto Leite, então líder da distrital de Lisboa do PSD, sobre o seu adversário: Jorge Sampaio. Mas o entusiasmo do social-democrata não esmoreceu. Quando decidiu mergulhar no Tejo, naquilo que Vítor Matos descreveu na biografia consentida como “um espectáculo de natação fluvial”, Sampaio andava na Disneylândia, nos EUA, com os filhos, e os socialistas quiseram que viesse de lá a correr com medo dos efeitos que tal campanha podia ter nos resultados. Marcelo ainda andou pelas ruas de Lisboa ao volante de um táxi. Ganhou seis contos. Perdeu as eleições. Foram pouco mais de mil dias os que Marcelo Rebelo de Sousa esteve na liderança do PSD. Durante esse período, que o apanhou à beira dos 50 anos, António Guterres liderava o PS e os destinos do país em minoria. O social-democrata facilitou a vida ao primeiro-ministro, nomeadamente ao aprovar alguns dos orçamentos socialistas, mas também tentou criar um bloco de direita para lhe fazer frente. Foi nesse contexto que quis recriar a Aliança Democrática com Paulo Portas, então presidente do CDS. Não houve condições para um entendimento e a 26 de Março de 1999, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou, em directo, o fim da segunda AD. “Assumo plenamente a minha responsabilidade pelo fracasso do projecto que lancei e conduzi até hoje”. Quando celebrou seis décadas de vida, Marcelo era o mais bem sucedido comentador televisivo em Portugal. Tinha inaugurado um estilo próprio na TVI a 13 de Maio de 2000 e estava já há dez anos no écran, sem descanso nos comentários e nas críticas. Deputados, líderes partidários, ministros, presidente da República, amigos… ninguém é poupado. Nem ele próprio, que acaba por ser instado a por Miguel Pais do Amaral a mudar o rumo dos comentários para não funcionar como uma “plataforma de derrube do governo de Santana Lopes”. Assim, os 60 anos já não os cumpre na TVI, mas na RTP, onde permanece entre 2004 e 2010 - ano do regresso à TVI. Foi de lá que saltou para Belém, onde festeja o 70º aniversário. 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REFERÊNCIAS:
PS abandona comissão sobre o processo da Arrábida
Socialistas acusam grupo de Rui Moreira de querer fazer relatório à medida e este acusa os socialistas de revelarem conclusões que não tinham o acordo de mais nenhum membro da comissão. (...)

PS abandona comissão sobre o processo da Arrábida
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DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Socialistas acusam grupo de Rui Moreira de querer fazer relatório à medida e este acusa os socialistas de revelarem conclusões que não tinham o acordo de mais nenhum membro da comissão.
TEXTO: Depois do PSD, o PS (e entretanto também o BE) abandonou também a comissão eventual criada no âmbito da Assembleia Municipal do Porto para investigar o processo de licenciamento do empreendimento da Arcada, na base da escarpa junto à Ponte da Arrábida. Os socialistas acusam o grupo independente de Rui Moreira de querer fazer um “relatório à medida”. Estes, em resposta, acusam o PS de divulgar um conjunto de conclusões que não tinham o acordo de qualquer membro da comissão. A CDU diz que os socialistas não podem “fazer-se de vítimas”. Os comunicados chegaram a horas diferentes, contando a história de uma reunião atribulada, esta segunda-feira, entre os membros da comissão eventual. No encontro que serviria para analisar a proposta de relatório elaborada pelo relator escolhido por todos os membros, o socialista Pedro Braga de Carvalho, acabou numa troca de acusações e no abandono de mais uma força política deste grupo que deveria, até esta terça-feira, analisar as circunstâncias que levaram “ao licenciamento e execução do projecto urbanístico actualmente em curso junto à escarpa da Arrábida”, produzindo um relatório. O PS foi o primeiro a pronunciar-se, manhã cedo, através de um comunicado no qual acusa o grupo de Rui Moreira de, fazendo uso da sua posição maioritária, se recusar a discutir o documento redigido por Braga de Carvalho e divulgado, este domingo, pelo PÚBLICO e pela Lusa. “Adicionalmente, o grupo municipal de Rui Moreira propôs a destituição do relator, atitude inédita de intolerância e perseguição política”, escreve o grupo municipal do PS na Assembleia Municipal. Pouco depois, as acusações tomaram o sentido inverso, com o os eleitos de Rui Moreira a escreverem, em comunicado, que o socialista “tentou fazer passar como ‘final’ um relatório cujas conclusões só ele apurou e que não tinham acordo em nenhum dos membros da Comissão”. Os deputados que apoiam Moreira garantem que “a ‘chapelada’ foi desmascarada e o deputado desertou”. Ao início da tarde, a CDU emitiu uma nota de imprensa, responsabilizando o PS pelo que aconteceu. Os comunistas acusam os socialistas de “entregando a proposta de relatório à comunicação social (antes de a mesma ter chegado ao conhecimento de todos os membros da comissão e violando grosseiramente a decisão de confidencialidade a que toda a comissão se obrigou) quis, antidemocraticamente, impor as suas conclusões àquelas que a comissão viesse a tirar”. Esta força política defende, por isso, que o PS “não pode […] fazer-se de vítima quando foi o seu desqualificado comportamento que procurou impor conclusões, manipular a comunicação social, enganar a opinião pública e sacudir a ‘água do capote’ das responsabilidades que, como partido, tem em todo este vergonhoso processo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aliás, os comunistas dizem não estar surpreendido com a saída da comissão do PSD e do PS, por ambos partilharem, no seu entender, as responsabilidades políticas pela obra em curso na base da escarpa. O PSD anunciou o abandono da comissão em Novembro, depois de ter sido feito um convite a Rui Rio – actual líder do PSD e presidente da Câmara do Porto entre 2002 e 2013 – para ser ouvido no âmbito deste processo. Esta segunda-feira, depois de ter sido revelada a proposta de relatório redigida por Braga de Carvalho, reconhecendo – tal como foi divulgado pelo PÚBLICO em Setembro – que havia uma relação entre o licenciamento do empreendimento da Arcada e o acordo do Parque da Cidade, mas concluindo que Rui Rio “não teve qualquer intervenção na matéria”, o presidente da Assembleia Municipal, Miguel Pereira Leite, divulgou um comunicado, através dos serviços da câmara, informando que aquele documento “apenas vincula o [seu] autor” e que “a maioria dos membros da comissão, pelos contactos já estabelecidos, não se revê em muitas das ‘conclusões’ e ‘considerações’ da proposta de relatório”. O PÚBLICO tentou ouvir Miguel Pereira Leite esta terça-feira, mas o líder da comissão e da Assembleia Municipal fez saber que por enquanto não queria prestar mais esclarecimentos. Ao que foi possível apurar, a comissão deverá reunir ainda esta terça-feira, na tentativa de elaborar um relatório final que seja consensual entre os membros da comissão que ainda persistem: representantes do grupo de Rui Moreira, da CDU, do Bloco de Esquerda e do PAN – Pessoas Animais Natureza.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD BE
Bispo do Porto: "Há formas de greve que vão longe de mais"
O bispo do Porto, D. Manuel Linda, avisa o Governo para o risco de desinvestimento excessivo em sectores-chave da sociedade, ao mesmo tempo que admite que os enfermeiros estão a ir longe demais na greve. (...)

Bispo do Porto: "Há formas de greve que vão longe de mais"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.07
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bispo do Porto, D. Manuel Linda, avisa o Governo para o risco de desinvestimento excessivo em sectores-chave da sociedade, ao mesmo tempo que admite que os enfermeiros estão a ir longe demais na greve.
TEXTO: Numa semana em que a Europa parece imersa num momento de convulsão social, de que a França tem sido o expoente máximo, com a revolta continuada dos coletes amarelos, D. Manuel Linda, bispo do Porto, aponta o perigo “absolutamente extremo” dos movimentos populistas. Quanto à greve dos enfermeiros, questiona-se se não estarão a ir longe de mais nas suas reivindicações, ainda que lhes reconheça justeza. De caminho, e a propósito das outras greves em curso, admite que o Governo, movido pela necessidade de reequilibrar as finanças públicas, tenha ido longe de mais no desinvestimento nalguns sectores-chave da sociedade: "Há despesas que logicamente têm que ser feitas. ”O Papa divulgou terça-feira a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz onde reclama dos políticos que pratiquem um serviço à colectividade humana, sob pena de tornarem a política um instrumento de opressão. Como vê esta mensagem à luz da realidade portuguesa?Diria, à luz da realidade portuguesa, e até talvez europeia e um pouco de primeiro mundo, que nós corremos o risco de transformar a governação num acto voltado fundamentalmente para a economia. É um sector importantíssimo para o sustento da vida e das condições de dignidade mas não é a totalidade da vida. E assistimos hoje, no mundo Ocidental, a esta predominância dos temas económico-financeiros sobre outros temas, como, por exemplo, a família, a solidariedade, a partilha, enfim. E tudo isso podia ser fomentado com uma nova cultura, incluindo a partir do próximo ano de governação. Tem feito do direito ao descanso dos trabalhadores quase um cavalo de batalha. Como é que esse direito pode ser interiorizado pelos cristãos? Recusarem-se a trabalhar em sistema de trabalho contínuo? Lutarem por uma nova regulamentação do trabalho? Recusarem-se a ir aos centros comerciais?Por exemplo. Mas aqui não chega apenas a boa vontade. É preciso, de facto, que os cristãos influam nos centros de decisão onde se tomam as grandes medidas que depois vão afectar a vida como ela é na realidade do dia-a-dia. Isso significa o quê? Dedicarem-se à política?E por que não? Há um autor que diz, e com alguma justeza, que nós, os cristãos, somos muito bons na periferia. Por exemplo, temos melhores centros sociais paroquiais, onde as pessoas são tratadas com mais humanidade, somos bons no ensino - nos rankings das escolas estão sempre escolas católicas nos primeiros lugares. Somos bons na periferia, mas parece que evitamos chegar aos lugares do centro, àqueles ministérios onde, de facto, as políticas se tecem e se decidem. Como assiste à greve dos enfermeiros?Eu estive ligado durante mais de 25 anos a uma escola de enfermagem. Tenho uma imensa admiração pelos enfermeiros. Julgo que, em grande parte das situações, eles estão a ser vítimas de alguma injustiça. Mas que se chegue ao ponto de adiar intervenções cirúrgicas urgentíssimas em função do bem individual de cada um, aí já não concordo. Portanto, estou do lado dos enfermeiros, no sentido de reconhecer que é preciso pôr cobro a algumas injustiças que afectam a classe, mas há formas de greve que vão longe de mais. E aqui, num caso ou noutro, não sei se não se está a ir longe de mais. Os reclusos vão ficar sem assistência religiosa no Natal por causa da greve dos guardas prisionais. Algumas missas e visitas de bispos às prisões foram canceladas. A Igreja não vai tomar uma posição relativamente àquele que é um direito constitucionalmente garantido?É um direito que não é exercido por um motivo circunstancial. Não é que a direcção-geral das prisões ou o Ministério da Justiça nos estejam a dificultar a vida, não; trata-se deste motivo circunstancial de não poder ser garantida a segurança. Eu próprio sou vítima disso: queria passar o Natal em alguma prisão e a direcção-geral mandou dizer: ‘Senhor bispo, pedimos-lhe encarecidamente que venha quando houver mais capacidade de segurança, isto é, quando terminar a greve dos guardas prisionais. ’ E eu neste Natal não vou visitar nenhuma prisão. A assistência religiosa não devia estar prevista nos serviços mínimos que são accionados em cenários de greve? Foi assim até 2014. Não sabia disso, mas era lógico que estivesse. Não obstante, também não podemos ser aqui uns fundamentalistas que atiram a responsabilidade à tutela. Se não há condições, lamentamos, mas não se faz. A celebração eucarística pode ser feita noutro contexto, lamento é que nesta época tão importante para as famílias, eles, os detidos, vão ficar sem a visita praticamente de todos os familiares. Está solidário com as reivindicações dos guardas prisionais nesta greve?Não tenho acompanhado muito bem os motivos. Têm que ver com a falta de recursos humanos e com a exigência de actualização da tabela remuneratória e de alterações nos horários de trabalho. Se fôssemos falar numa linguagem mais global, é meritória a vontade do nosso Governo de sanear as finanças públicas, agora vamos ver como é que o fazemos. Há sectores que, de facto, não podem ser mais prejudicados. E, por exemplo, esse sector prisional só pode funcionar com guardas prisionais, não vamos agora reduzir abaixo dos mínimos. Não pode ser. É um custo que a sociedade tem de suportar. É um problema que se estende aos funcionários judiciais, aos enfermeiros, além de aos guardas prisionais. São diversíssimos os sectores que acusam esse desinvestimento. E só não se está a verificar no ensino porque o Governo levou à falência de muitos colégios particulares e os alunos tiveram de passar do livre para aquele que é o ensino estatal. E o Estado tem, por intermédio do seu Governo, de ver até onde é que pode ir nesta capacitação de reduzir as despesas. Mas há despesas que logicamente têm que ser feitas. Em sua opinião, já ultrapassou esses limites?Em alguns sectores, como, por exemplo, este dos guardas prisionais, talvez. O Papa propõe, na sua mensagem, que os políticos regressem à fonte e que se inspirem na justiça e no direito. Portugal vai ter três eleições nos próximos tempos, em que muita gente vê o risco de movimentos xenófobos. Também partilha desse receio?Partilho. Há fenómenos novos a que não estávamos habituados e relativamente aos quais não temos ainda uma grelha muito rigorosa para apreciação e para saber como havemos de controlar isto. Um é o fenómeno do populismo que pode ter as mais variadas formas: pode ser um populismo de esquerda, normalmente é um populismo de direita, pode ser um populismo liberal; enfim, tem formas muito distintas. O que é verdade é que estes movimentos não trazem por detrás de si uma ideologia, uma doutrina, não trazem uma estrutural mental organizativa. Eles flutuam ao sabor daquilo que sabem automaticamente que é o que a sociedade quer ouvir. Isto é de um perigo absolutamente extremo. Se alguém disser que quer um campo de concentração para aquelas classes de pessoas de que não gostamos tanto na via pública, então vamos para isso? Tenho medo. Para o dia 21 está marcada para Portugal uma manifestação ao estilo dos “coletes amarelos” na Europa. Essas pessoas manifestam-se contra o próprio sistema. Vê motivo para essa manifestação ou vê só o risco de se começar de facto um movimento populista?A manifestação, não a vejo a ela própria como um risco volumoso. É apenas um sintoma, uma pequena peça de todo um ladrilho que vai sendo construído e que nós não sabemos onde é que nos conduz. E há alguns teóricos um bocadinho mais pessimistas que falam inclusivamente do fim da democracia como nós a conhecíamos: a democracia formal, baseada fundamentalmente na alternância democrática, em propostas mais ou menos conhecidas, porque eram à base de determinados pressupostos ideológicos que alimentavam os partidos. Isso parece estar a chegar ao seu fim. E não sabemos o que é que aí vem. E isso era bom?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em linha de princípio, pelo menos concedia-nos segurança mental. Sabíamos que havia projectos que podiam ser antagónicos - um absolutamente de esquerda e outro de direita – e, de acordo com a consciência individual, situávamo-nos. E para um cristão podíamo-nos situar dentro dos que considerávamos partidos democráticos, respeitadores da liberdade e da dignidade pessoal. Tenho medo que, no futuro, já não aconteça isso. Que sejam apenas situações ditadas, não pela razão ou pelas propostas, mas pela emoção. No fundo, que haja uma espécie de egoísmo militante que leve o povo em direcções estritamente de olharem para a respectiva carteira?Pode até nem ser isso. Pode ser apenas uma tentativa ou uma capacidade que hoje as Ciências Sociais permitem de arregimentar pessoas a partir da emotividade para fins que muitas vezes são obscuros. Pode ser quase que uma espécie de jogo social: vamos ver se, ao fazermos esta proposta, temos ou não aceitação popular. E muitas vezes têm.
REFERÊNCIAS:
Maioria tem emprego imediato, mas 16% dos jovens do ensino profissional não estudam nem trabalham
Onde estão os alunos 14 meses depois de concluírem o secundário? É o mais recente estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. (...)

Maioria tem emprego imediato, mas 16% dos jovens do ensino profissional não estudam nem trabalham
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Onde estão os alunos 14 meses depois de concluírem o secundário? É o mais recente estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.
TEXTO: Produção agrícola e animal (95, 1%), artes do espectáculo (89, 6%) e metalurgia e metalomecânica (89, 1%) são os três cursos profissionais com maiores “taxas de empregabilidade e/ou prosseguimento de estudos”. Quer isto dizer que são as formações destas áreas as que têm menos jovens parados, sem qualquer actividade, cerca de um ano após a sua saída da escola. Apesar de os cursos profissionais estarem direccionados para “uma integração imediata no mercado de trabalho”, cerca de 16% de alunos provenientes deste tipo de formação, inquiridos em 2017 pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), não estavam nem a trabalhar nem a estudar — “não significando isto, no entanto, que não houvesse da parte da maioria destes jovens interesse em encontrar emprego”, sublinha a DGEEC. Já entre os ex-alunos dos cursos científico-humanísticos, a taxa destes “nem-nem” era de 3, 2%. Os dados são relativos ao ano passado constam da nova edição de Jovens no Pós-Secundário, publicada pela DGEEC. O inquérito, feito entre Outubro de 2017 e Maio de 2018, mostra onde estão os jovens 14 meses depois daquela que era a data prevista para a conclusão do secundário. Globalmente, 63, 2% estão a estudar, 22% a trabalhar, 6, 8% a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo e 6, 4% não fazem nada (um número residual encontrava-se noutras situações não especificadas). Contudo, estas taxas variam muito, como já se viu, conforme se fala de alunos que vieram de cursos científico-humanísticos (vocacionados para o prosseguimento de estudos) ou de alunos de cursos profissionais. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Entre os primeiros, a percentagem dos que continuavam a estudar — ou conjugavam estudos com trabalho — era de 91, 8% (a maioria em cursos universitários). Entre os ex-alunos do profissional era de 32, 6%. Exclusivamente a trabalhar estavam 5% dos ex-alunos dos cursos científico-humanísticos e 51, 4% dos do ensino profissional — mais 2, 2 pontos percentuais do que o registado num inquérito anterior, em 2016. As “dificuldades económicas” incluem apenas parte das razões que levam os jovens a escolher só trabalhar (e não estudar) após o secundário: 20, 8% dos que vieram de cursos científico-humanísticos referem-nas — a principal razão é mesmo, em 60% dos casos, o desejo de “independência financeira”. Entre os ex-alunos do profissional a “independência financeira” é uma razão apontada por sete em cada dez jovens; as “dificuldades financeiras” são mencionadas por 17, 5%. Em termos globais, nota ainda a DGEEC, a percentagem de jovens que reportou estar "satisfeito" ou "muito satisfeito", quer com os professores, quer com o curso, quer com a escola que frequentou, excedeu os 75%.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação animal
Num ano, mais de 40 crianças foram devolvidas por candidatos a pais adoptivos
Das 43 crianças que já viviam em casa dos candidatos à adopção e que acabaram devolvidas, 20 tinham até dois anos de idade. Período de pré-adopção estende-se por seis meses. (...)

Num ano, mais de 40 crianças foram devolvidas por candidatos a pais adoptivos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Das 43 crianças que já viviam em casa dos candidatos à adopção e que acabaram devolvidas, 20 tinham até dois anos de idade. Período de pré-adopção estende-se por seis meses.
TEXTO: Em pouco mais de um ano, 43 crianças que tinham iniciado o processo de adopção acabaram devolvidas às instituições ou famílias de acolhimento em que se encontravam. Este número, que consta da resposta que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSS) deu ao grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), que pedira dados nacionais sobre adopção de crianças, traduz um aumento substancial relativamente aos anos anteriores. “Ou há aqui um engano, ou alguma coisa vai muito mal no matching que é feito entre os candidatos e as crianças”, reagiu a deputada bloquista Sandra Cunha, que adiantou ao PÚBLICO a intenção de pedir a Vieira da Silva novos esclarecimentos sobre a questão. No requerimento, o BE perguntava qual o número de crianças cujo projecto de vida de adopção tenha sido interrompido, entre 1 de Agosto de 2015 e 31 de Agosto de 2016, e que tenham por isso regressado à instituição ou família de acolhimento durante o período de pré-adopção. O MSTT explica que, das 43 crianças que acabaram por ser devolvidas por candidatos a pais adoptivos, apenas duas apresentavam problemas graves de saúde. Havia ainda seis com “problemas ligeiros”, não tendo as restantes 35 quaisquer problemas deste foro. A caracterização do ministério permite ainda concluir que 20 das crianças devolvidas tinham até dois anos de idade. Os dados adiantados pelo MSTT não permitem extrapolações directas relativamente ao universo total de crianças em situação de pré-adopção naquele período temporal. Permitem, contudo, lembrar que, em mais de ano e meio que decorreu entre 1 de Janeiro de 2015 e 31 de Agosto de 2016, 329 crianças que estavam institucionalizadas foram inseridas em famílias em período de pré-adopção. Por outro lado, no relatório CASA 2015 – Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens, o Instituto de Segurança Social dá conta de 26 crianças que reentraram no sistema de acolhimento após processos que correram mal na fase de pré-adopção. O relatório similar de 2014 aponta, por seu turno, a reentrada no sistema de 36 crianças que tinham sido confiadas a pessoas seleccionadas com vista a futura adopção. O período de pré-adopção corresponde à fase em que, concluídos os contactos para garantir que os envolvidos se conhecem e aceitam, a criança é confiada à família candidata a adoptar por um período experimental que pode chegar aos seis meses. A partir daí, consuma-se a adopção e, como explica o juiz António José Fialho, do Tribunal de Família e Menores do Barreiro, “já não se pode tecnicamente falar em devolução mas em abandono, porque a criança passou entretanto a ser filha dos adoptantes”. Considerando que 43 é um número “demasiado elevado, porque está sempre em causa a rejeição de uma criança”, o magistrado admite que estes números possam ser uma demonstração de que o sistema funciona. “No campo das relações humanas muita coisa pode falhar, sem que isso corresponda necessariamente a uma falha na avaliação dos técnicos”, diz. E acrescenta: “Há projectos adoptivos que são frustrados por iniciativa das próprias crianças que nunca perderam o laço com a família biológica e há acontecimentos traumáticos, como uma ruptura no casal, que não são antecipáveis. ” A este leque o especialista em direito da família Guilherme de Oliveira soma possibilidades como “o desemprego ou mesmo a morte de um dos membros do casal”. Ambos os especialistas conhecem, porém, casos em que a adopção não avança por motivos menos defensáveis. “Há oito ou dez anos ouvi um responsável da Segurança Social contar um caso em que uma criança viveu em casa dos candidatos, mas que a certa altura foi devolvida porque o cão não gostava da criança”, recorda Guilherme de Oliveira, para ilustrar a tese de que por detrás destas 43 desistências – 33 das quais correspondiam a candidaturas conjuntas e dez a singulares – poderão estar razões “muito subjectivas, escondidas e inesperadas”. É igualmente verdade que, em muitos destes casos, como acrescenta António José Fialho, “as pessoas fazem determinada projecção relativamente à adopção de uma criança e depois percebem que não estavam preparados para a acolher”. Para estes casos, “e porque há dano moral para as crianças, sendo que as feridas da rejeição nem sempre são visíveis”, o magistrado admite que poderia ser útil a adaptação à realidade portuguesa de uma prática já disseminada nos tribunais brasileiros. “Quando o Ministério Público [brasileiro] conclui que há responsabilidade na devolução por parte dos adultos – aquilo a que chamam a 'devolução imotivada' –, instaura uma acção cível de indemnização que pretende ser uma forma de castigo para uma atitude leviana. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas, ressalva, “no Brasil havia demasiados casos de pura leviandade que não têm paralelo em Portugal, onde os processos são muito demorados, chegam a levar anos, e onde a Segurança Social se tem mostrado cada vez mais criteriosa, e com regras cada vez mais apertadas, no processo de selecção e do matching, que até levou a uma redução do número de adopções”. Notícia actualizada às 16h00 com a referência às 329 crianças que entraram em situação de pré-adopção entre 1 de Janeiro de 2015 e 31 de Agosto de 2016.
REFERÊNCIAS:
O Benfica foi melhor que o Paços no jogo dos suplentes
Triunfo na Luz, por 2-0, sobre o líder da II Liga deixa os “encarnados” a um ponto do apuramento para a final a quatro da Taça da Liga. Decisão será frente ao Desportivo das Aves. (...)

O Benfica foi melhor que o Paços no jogo dos suplentes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.049
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Triunfo na Luz, por 2-0, sobre o líder da II Liga deixa os “encarnados” a um ponto do apuramento para a final a quatro da Taça da Liga. Decisão será frente ao Desportivo das Aves.
TEXTO: A Taça da Liga continua a ser aquela competição que está longe das prioridades dos clubes participantes, que usam os jogos para dar descanso às primeiras opções e rodagem às segundas. Foi o que fizeram nesta quarta-feira, na Luz, Benfica e Paços de Ferreira, a relativizarem a importância da competição com equipas muito alternativas. Mas a ordem natural manteve-se. Os “encarnados” triunfaram por 2-0 e ficaram mais perto da qualificação no Grupo A, bastando um empate em casa do Desportivo das Aves para garantirem o seu lugar na final a quatro. Cumprido mais ou menos um terço da época, o Benfica está mais preocupado em manter-se perto dos primeiros na I Liga, enquanto o Paços quer manter-se confortável na liderança da II Liga e garantir o mais depressa possível um lugar entre os “grandes”. Por isso, tanto Rui Vitória como Vítor Oliveira foram pelo caminho das segundas escolhas, com tudo o que isso implicava em termos de qualidade e competitividade do jogo (ambas baixas), a corresponder à baixa audiência na Luz. Seja quem estivesse em campo, seria expectável uma superioridade do Benfica e foi isso que aconteceu. Se houve alguém que aproveitou da melhor maneira a oportunidade, foi o jovem do Benfica, que marcou um belo golo e esteve em quase todas as melhores jogadas dos “encarnados”. De dispensado quase certo no início da época, o suíço vai-se tornando indispensável graças aos golos que vai marcando. Marcou mais um e já vai em seis na época, tantos quantos Jonas. Quando duas equipas jogam com suplentes é sinal de que nenhuma ?delas dá grande importância ao jogo e têm coisas melhores em que pensar. Se ganharem, tanto melhor. Se não ganharem, tanto faz. Foi assim que Benfica e Paços olharam para este encontro ?da Taça da Liga. Com as primeiras opções quase todas na defesa (Jardel, Rúben Dias e André Almeida), o Benfica mostrou-se naturalmente preso de movimentos e com um domínio não esmagador, mas mais que suficiente para se colocar em vantagem aos 11’. Alfa Semedo avançou por um flanco, fez o cruzamento para a pequena área e Seferovic encaminhou a bola para o fundo da baliza. O avançado suíço pareceu estar ligeiramente adiantado em relação à linha defensiva pacense, mas não o suficiente para a equipa de arbitragem liderada por António Nobre assinalar fora de jogo. Não sendo um início espectacular, era um início eficiente dos homens de Rui Vitória, que se iam limitando a controlar, o suficiente para o seu visitante da segunda divisão se aventurar um pouco lá mais para a frente. Foi o que aconteceu aos 40’, com um arranque de Fatai pela direita — o nigeriano conseguiu fazer o cruzamento para a área, mas Andrezinho falhou completamente o remate e a jogada perdeu-se. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mesmo em cima do intervalo, os “encarnados” aumentaram a vantagem, aproveitando da melhor maneira uma falha de comunicação da defesa do Paços. João Félix (o melhor em campo) iniciou a jogada, meteu a bola em Zivkovic e recebeu-a de volta em posição frontal à baliza, terminando com um remate indefensável para Carlos. Para a segunda parte, Vítor Oliveira lá se convenceu a meter dois jogadores com mais rodagem (entraram Pedrinho e Uilton), e o Paços melhorou ligeiramente, mas não inverteu a tendência de jogo. E, logo aos 50’, os “encarnados” tiveram uma dupla oportunidade por Seferovic: primeiro um belo remate ao poste, depois um fraco remate que saiu ao lado. Com a tendência de jogo a manter-se, o jogo foi-se arrastando, com Douglas Tanque a criar perigo relativo em dois momentos, num livre directo rasteiro que Svilar defendeu aos 66’ e num remate de pouca pontaria aos 86’. Alfa Semedo também esteve perto de marcar numa jogada individual, aos 68’, mas Carlos impediu o golo do médio. Quando o árbitro apitou pela última vez, foi alívio para ambas as equipas: para o Benfica porque vai passando por esta obrigação (onde é, de longe o recordista de títulos) sem grandes percalços (duas vitórias em dois jogos), e para o Paços que vai poder concentrar-se no que verdadeiramente lhe interessa, o regresso à I Liga. Sábado, em Setúbal, e domingo, em Oliveira de Azeméis. Era nestes jogos que Rui Vitória e Vítor Oliveira estavam a pensar.
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Partidos LIVRE
Bombeiros perderam o controlo do fogo na serra de Monchique. Chamas voltam a ameaçar a vila
Fogo volta a aproximar-se da sede do município. Fora da vila, as populações foram evacuadas por precaução, mas houve quem tivesse resistido às ordens da GNR. Terão ardido pelo menos meia dúzia de habitações. Número de feridos ligeiros chega às três dezenas. (...)

Bombeiros perderam o controlo do fogo na serra de Monchique. Chamas voltam a ameaçar a vila
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fogo volta a aproximar-se da sede do município. Fora da vila, as populações foram evacuadas por precaução, mas houve quem tivesse resistido às ordens da GNR. Terão ardido pelo menos meia dúzia de habitações. Número de feridos ligeiros chega às três dezenas.
TEXTO: Desta vez não houve vítimas mortais, mas a descoordenação entre forças de segurança e agentes de protecção civil repetiu-se. O fogo, que lavra desde sexta-feira na serra de Monchique estava, na noite de segunda-feira, incontrolável. “O quadro geral da operação continua bastante complexo”, afirmou ao final do dia o 2. º comandante da Protecção Civil Distrital Abel Gomes, sublinhando o agravamento das condições meteorológicas. As chamas trocaram as voltas aos bombeiros, instalou-se a confusão e houve pessoas que tiveram de ser retiradas à força das suas casas. O alto da Fóia transformou-se num vulcão de chamas a derramar calor e fumo negro sobre a costa algarvia. Cerca das 22h40 desta segunda-feira, o fogo rodeava novamente a vila de Monchique como um pequeno presépio. Ali, e após 40 minutos de ataque intensivo às chamas, os bombeiros voltaram a controlá-las. Uma casa de madeira pertencente a cidadãos estrangeiros foi destruída. O fogo também andou perto do Convento de Nossa Senhora do Desterro, mas não chegou a atingi-lo. Os peritos tinham avisado: Monchique está na linha da frente das zonas de alto risco de incêndio. O perigo de voltar a repetir-se uma tragédia semelhante ao ano de 2003, quando ardeu quase todo o concelho, estava escrito. O primeiro-ministro, António Costa, foi no início do Verão ao terreno avaliar as acções de prevenção lançadas pelo Governo e os meios disponíveis de ataque ao fogo. “Prontos”, garantiram-lhe os operacionais, exibindo os meios de combate. Falharam na primeira prova. “Não esperava voltar a ver uma coisas destas”, comentava António José Santos ao princípio da manhã desta segunda-feira, enquanto distribuía alimentos aos bombeiros, no quartel de Monchique — uma oferta da paróquia de Marmelete, de que faz parte. Depois de uma noite em luta contra as chamas, os bombeiros faziam na altura uma pausa para retomar forças. Na zona estão 1105 operacionais de várias zonas do país, apoiados por 341 veículos e mais de uma dezena de aeronaves — incluindo três aviões Canadair disponibilizados pelo Governo espanhol. A ameaça das chamas, durante a noite de domingo, tinha obrigado à evacuação da vila de Monchique, ficando a população mais idosa a receber assistência na escola EB 2, 3 da vila. Ao final da manhã de ontem, a Protecção Civil dava o fogo como praticamente dominado, mas à tarde já estava fora do alcance dos bombeiros. À noite descarrilou por completo. Além da Fóia, Odelouca, a zona de Caldas de Monchique e o sítio do Cascalheiro eram os pontos mais críticos. “As chamas reactivaram e com grande intensidade”, disse Abel Gomes. O vento aumentou de intensidade, surgiram projecções que “ultrapassaram a capacidade de extensão dos combatentes”, acrescentou. Foram disponibilizadas 24 máquinas de rasto, mas na fase inicial apenas duas estiveram a trabalhar. Faltou ordens superiores para avançar. No Centro de Meios Aéreos, a cerca de duas centenas de metros de distância do quartel dos bombeiros voluntários de Monchique, cinco helicópteros não chegaram a levantar voo durante toda a manhã, por falta de visibilidade. “Estão em jogo questões de segurança”, justificou Abel Gomes. O presidente da câmara, Rui André, viu arder tudo em volta da sua casa e anda no terreno desde sexta-feira, quando começou o incêndio: “Tenho conhecimento de algumas casas de primeira habitação ardidas e bastantes de segunda habitação e apoios agrícolas. “Houve pessoas que ficaram nas suas casas, escondendo-se ou fugindo das forças de segurança, para ajudar no combate”, garantiu. O presidente da Comissão Distrital de Protecção Civil, Jorge Botelho (também presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve — Amal) desdramatizava ao final da manhã: “Noventa e cinco por cento do perímetro do fogo está considerado dominado. ” Entretanto, o número de pessoas feridas subia de 25 para 29, entre as quais, uma mulher de 72 anos, que teve de ser transportada para o Hospital de São José, em Lisboa. Marmelete foi uma das aldeias evacuadas à força. As pessoas resistiram até não mais poder às ordens de abandono das casas, dadas pela GNR. Pela estrada fora, rumo ao alto da Picota, são quilómetros e quilómetros de terra cor de cinza, com árvores negras por todo o lado. “Aqui está uma casa de primeira habitação ardida, ali abaixo estão mais duas”, diz Márcio Oliveira, à porta do restaurante do pai, na Malhada Quente, a quatro quilómetros da freguesia de Marmelete: “Se não fôssemos nós a ter resistido, ficando aqui, isto tinha ardido tudo”, disse: “O fogo apareceu, de repente, por volta das quatro e meia, bombeiros zero, só pelas 22h é que surgiu um carro a passar. ” Numa habitação próxima do restaurante, acrescenta, “arderam patos, galinhas, perus, pavões — salvou-se só uma cadela e dois ou três pombos”. Garcindo Barradas, do sítio da Nave Redonda, junta-se à conversa e acrescenta mais críticas à falta de assistência: “Tanto bombeiro, aviões e sei lá mais anda por aí, mas não se percebe o que andam a fazer. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O presidente da câmara acha que houve “melhoria nas medidas de prevenção e nos meios de defesa, mas falta fazer o essencial”. O ordenamento da floresta, no entender do autarca social-democrata, é a questão central que continua por resolver. E a descentralização de competências para as autarquias, sublinha, é uma “velha reivindicação que tenho vindo a fazer, mas ainda não teve resultados”. Na aldeia de Marmelete, Maria Fernanda, de 76 anos, diz que tinha uma casa arrendada a uns estrangeiros, não sabe o que lhes aconteceu. “A habitação ardeu, eles devem ter fugido”, presume. O marido, mais velho, sofre de uma doença cardíaca: “Acho que ele ainda não tem noção desta tragédia — trabalha uma pessoa a vida inteira, desaparece tudo em minutos. ” Em Monchique, um antigo funcionário da Telecom foi impedido de ir defender a hortinha que possui nos arredores da vila. José Firme teve de se conformar. Havia razões para todos os cuidados — na noite de segunda-feira, a vila de Monchique voltava a estar ameaçada pelas chamas, tornando o ar irrespirável para os que se encontravam na localidade. O fogo continuava incontrolável.
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Entidades GNR
Campo, de Tiago Hespanha, vence prémio na secção First Look do Festival de Locarno
Estavam seis obras portuguesas em fase de pós-produção a concurso. Viveiro, de Pedro Filipe Marques recebeu os prémios de serviços de publicidade e de design do cartaz internacional do filme. (...)

Campo, de Tiago Hespanha, vence prémio na secção First Look do Festival de Locarno
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.275
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estavam seis obras portuguesas em fase de pós-produção a concurso. Viveiro, de Pedro Filipe Marques recebeu os prémios de serviços de publicidade e de design do cartaz internacional do filme.
TEXTO: O documentário português Campo, de Tiago Hespanha, venceu o principal prémio do programa First Look do Festival de Locarno, dedicado a filmes em fase de pós-produção, no valor de 65 mil euros, revelou a organização. A oitava edição do First Look, que decorreu entre 3 e 5 de Agosto, apresentou seis obras portuguesas em fase de pós-produção. Cada filme foi apresentado pelo seu produtor a uma audiência composta apenas por profissionais, entre programadores, exibidores, distribuidores e produtores. Ao filme Campo, realizado por Tiago Hespanha e produzido por João Matos, da Terratreme, foi atribuído um prémio no valor de 65 mil euros em serviços de pós-produção, patrocinados pelo Cinelab Bucareste, de acordo com informação no site do festival. "Campo é um filme-ensaio na maior base militar da Europa, onde os militares treinam com todo o tipo de armas missões que irão desenvolver em lugares distantes. Misturadas neste cenário de guerra acontecem actividades lúdicas e científicas e vêem-se animais selvagens a correr livremente entre armazéns de bombas", pode ler-se no sítio da produtora, Terratreme. Viveiro, de Pedro Filipe Marques, produzido por Luis Urbano e Sandro Aguilar, de O Som e a Fúria, recebeu os prémios de serviços de publicidade, no valor de 5. 600 euros, e de design do cartaz internacional do filme, avaliado em 5. 000 euros. O júri desta edição do First Look dedicada ao cinema português foi composto por José Luis Rebordinos (director artístico do Festival de San Sebastian, Espanha), Janet Pierson (responsável pela área do cinema do festival SXSW, Estados Unidos) e Eva Sangiorgi (directora da Viennale, Áustria). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No total, foram seis os filmes portugueses seleccionados pela organização do First Look para serem apresentados. Além dos dois premiados, fizeram ainda parte da lista Gabriel, de Nuno Bernardo (beActive Entertainment), Golpe de Sol, de Vicente Alves do Ó (Ukbar Filmes), Hálito Azul, de Rodrigo Areias (Bando à Parte, Oktober Film e Gladys Glover Film), e Terra, de Rossana Torres e Hiroatsu Suzuki (Associação Entre Imagens). Este programa é uma parceria conjunta com o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), com que tem por objectivo garantir a finalização e a internacionalização dos filmes a seleccionar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra campo
O No Noise mudou-se para um convento abandonado para continuar a ser o “menor festival de Verão”
O festival organizado pela Sonoscopia mudou-se à quarta edição para o Convento de Francos, soltando amarras naquele espaço abandonado desde o início do século para um programa composto por instalações sonoras e 15 actuações dentro do espectro da música experimental nacional e internacional. (...)

O No Noise mudou-se para um convento abandonado para continuar a ser o “menor festival de Verão”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O festival organizado pela Sonoscopia mudou-se à quarta edição para o Convento de Francos, soltando amarras naquele espaço abandonado desde o início do século para um programa composto por instalações sonoras e 15 actuações dentro do espectro da música experimental nacional e internacional.
TEXTO: Numa tarde de calor abrasador há um refúgio com seis mil metros quadrados que resguarda 15 projectos musicais do circuito da música experimental nacional e internacional numa sombra partilhada por cerca de duas centenas de pessoas que ali estão para os ver, ouvir e sentir. Estamos num convento abandonado, em Francos, longe da Baixa do Porto, no “menor festival de Verão” (chama-lhe assim a organização) que já tinha arrancado da parte da manhã deste último sábado com programação direccionada para os mais novos – futuros candidatos a questionarem todas as possibilidades que os sons oferecem enquanto matéria-prima para a música. É a quarta edição do No Noise, também catalogado como “um não-festival”, que em oposição ao nome faz-se também de ruído, mas igualmente de silêncios e, acima de tudo, de qualquer som emitido pelo quebrar de fronteiras e preconceitos associados a padrões de composição. Organizado pela Sonoscopia, sai pela primeira vez das instalações da associação com base no Carvalhido e cresce em área, conservando o epíteto de “festival” fora do circuito onde se movem as grandes massas. É um facto, o perímetro alcançado por esta forma de construção musical – talvez o mais correcto seja dizer várias formas de construção – nunca foi e não é o mais largo. Porém, prova este colectivo ao longo dos sete anos de actividade que há massa crítica com expressão suficiente para justificar o trabalho diário que desenvolve na sua sede. E é onde outrora viviam em clausura as irmãs Carmelitas Descalças que se soltam as amarras ao som. É impossível passearmos pelos jardins da quinta do convento abandonado há mais de uma década sem as imaginarmos a circular por ali no desempenho das tarefas diárias. É também impossível não questionarmos como é que espaços com esta dimensão e potencial ficam entregues ao abandono. Já este ano foi anunciado que existe para ali um projecto para transformar o espaço num centro espiritual e cultural. Diz quem lá esteve nas últimas semanas a limpar o recinto engolido pela vegetação que o lugar está agora irreconhecível. As três cabras e o bode que ali vivem com três galinhas não chegam para executar a tarefa que se esperava que desempenhassem quando para ali foram. O aparelho digestivo dos quatro não tem espaço para tanto alimento. Foram os membros da associação e alguns voluntários que levaram a cabo os trabalhos de limpeza. Aberto o caminho para que o som pudesse espalhar-se a partir dos dois palcos do jardim e dos outros três no interior do edifício do convento, reuniam-se as condições para que este espaço se transformasse durante um dia num microcosmos representativo do que a música experimental tem para oferecer. A primeira das 15 actuações a que assistimos arrancou no jardim com o trio Thea Soti, Mike McCormick & Mascha Corman, que junta uma sérvia, uma alemã e um canadiano. Apostaram numa narrativa assente numa linha de base electrónica traçada por McCormick a servir de cenário para um diálogo cacofónico, ora esquizofrénico, ora de tranquilidade, entre o duo de vocalistas que apenas por breves momentos se serviram da palavra. Jogaram bem com os silêncios e conseguiram tirar o melhor partido da paisagem sonora da envolvente – uma quinta no meio da cidade. No final da noite voltaram ao mesmo palco para um set que contou com João Pais Filipe na bateria. Foi precisamente o baterista portuense que se seguiu. Noutro sector do jardim, apresentou o seu novo solo – um mantra de meia hora com bombos e um timbalão num loop quase xamânico, cortado pelo som dos pratos (que o próprio constrói), por vezes mais contidos e noutros momentos mais expansivos. João Pais Filipe, que já há muito tempo descobriu a sua linguagem, tem-se afirmado de há uns anos para cá como um dos nomes mais prolíferos do cenário portuense. No início do ano lançou com o saxofonista berlinense baseado no Porto, Julius Gabriel, o álbum homónimo dos Paisiel, onde não foge ao seu cunho e sai beneficiado pelo saxofone frenético do colega, que o catapulta para outra dimensão. No mesmo dia, ainda serviu de base rítmica para a electrónica minimal de Stereoboy. A meio da tarde entravamos pela primeira vez no Oratório, dentro do edifício principal, para espreitar o duo português e francês RRR. Apresentaram numa sala onde cabem apenas umas dezenas uma experiência sonora de contrabaixo suspenso em uma ou duas notas que se apoiam numa base noise manipulada em tempo real. Pela mesma sala passaram o alemão Ignaz Schick e o britânico Paul Abbott, que se divide entre Londres e o Porto. O primeiro apresentou um noise que recorre ao vinil e a outros materiais que vai manuseando. Actuou em dose dupla. À segunda vez, no Refeitório, voltou com o português Pedro Serrano. Paul Abbott terá assinado uma das actuações mais consistentes do dia. Apoiada num diálogo entre a sua bateria e uma linha pré-programada, também de percussão, apresentou uma narrativa sonora assente no preenchimento dos silêncios de cada um dos emissores, sendo o seu kit de bateria o protagonista. De apreensão mais imediata, tendo em conta o contexto onde estavam inseridos, os Parpar e os dUAS sEMI cOLCHEIAS iNVERTIDAS garantiram as actuações mais enérgicas do evento. Os primeiros, com palco montado no Jardim, por vezes a pisar o terreno do free jazz, e os segundos, que tocaram no Claustro, mais matemáticos, foram ao No Noise representar a ala de atitude mais roqueira. Veterano nas lides da música experimental nacional, David Maranha juntou-se a João Alves para nos contar uma história de mar. A paisagem sonora criada pela sua bateria e pela parafernália electrónica do parceiro levaram-nos para tempestades marítimas seguidas de momentos de bonança. Qualquer apreciação crítica sobre o trabalho que foi apresentado pode facilmente transportar-nos para um território que desvirtua o próprio princípio da música experimental, que por si só não tem balizas. Por esse prisma, não há bom nem mau. Ou nos serve ou não nos serve. Neste caso, serviu-nos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De outras actuações que nos serviram destacamos a do português Krake, que apresentou um solo de bateria competente com recurso a cordas instaladas no kit de percussão para serem tocadas pelo próprio com um arco. A figura mítica que é Paulo Eno, um carismático que palmilhou os caminhos do punk até chegar a Ibiza onde deu vida a uma personagem que anima as festas do Bora Bora Beach Bar (Spider Man do Bora Bora), apresentou aos “58 anos e meio” um set marcadamente político com os seus Rantanplónicos – neste caso era só uma rantanplónica –, que tinha força suficiente para valer por si só. Optou por queimar meia hora com um discurso enaltecedor do seu passado musical. Serviu apenas para atrasar o início solo de bateria do austríaco Will Guthrie, por quem já muitos esperavam no Claustro. Valeu a consistência da viagem rítmica patrocinada pelo músico. Transformou a sua bateria num veículo capaz de passar por várias paragens emocionais em crescendo e em direcção ao tumulto e ao caos contido desenhado pelas suas baquetas, momentos antes do trio Thea Soti, Mike McCormick & Mascha Corman regressar com João Pais Filipe para encerrar o evento cuja receita reverte na totalidade para os artistas.
REFERÊNCIAS:
Tempo sábado