Vila Santa: a adega onde usamos avental
A adega do grupo João Portugal Ramos não tem cem anos — mas podia muito bem ter. A arquitectura, as tradições, os sabores e os detalhes são partes que fazem o todo. Música maestro! (...)

Vila Santa: a adega onde usamos avental
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A adega do grupo João Portugal Ramos não tem cem anos — mas podia muito bem ter. A arquitectura, as tradições, os sabores e os detalhes são partes que fazem o todo. Música maestro!
TEXTO: O chão de xisto escuro reflecte as filas de barricas milimetricamente colocadas numa cave imensa. Aos nossos pés está um par de colunas por onde soa a música clássica que pauta a visita. "A música é 99% para quem nos visita", diz João Maria Portugal Ramos. O ponto percentual em falta nesta equação vai direitinho para o efeito que a vibração pode provocar no vinho e sua turbidez, esclarece pouco depois o enólogo e filho de João Portugal Ramos, grupo que, apesar do crescimento — neste momento elabora uvas provenientes de cerca de 600 hectares de vinhas, entre próprias e arrendadas —, continua a cuidar dos pequenos detalhes. Rewind. Fast-forward. João Portugal Ramos, que tinha sido consultor-enólogo de 25 adegas do país em simultâneo, plantou os seus primeiros hectares de vinha em Estremoz em 1989 para em 1992 fazer a primeira vindima e produzir o primeiro vinho (Vila Santa). A adega de Estremoz, vista privilegiada sobre o castelo erguido numa colina ao norte da serra de Ossa, foi construída em 1997, ano em que é lançado o primeiro Marquês de Borba Reserva (marca mais emblemática do grupo até hoje). Em 2000, houve a necessidade de ampliar a adega, passando esta a dispor de cerca de 9000 m2 de área coberta, encontrando-se dotada de moderna tecnologia de vinificação, sala de engarrafamento e caves com aproximadamente 2000 barricas de carvalho francês, americano e português. "Aumenta o espaço de armazém e aumenta o tempo de permanência do vinho em casa. Desta forma conseguimos produzir qualidade em quantidade e temos espaço para novas experiências", justifica João Maria. E até hoje a marca não parou de crescer com o nascimento da Falua (2004), a anexação da Quinta de Foz de Arouce (2005), o surgimento do projecto Duorum (2007) e a construção da adega dos Vinhos Verdes e lançamento do primeiro Alvarinho João Portugal Ramos em Portugal (2013). A história fulminante do grupo — e a paixão de João Portugal Ramos pelo Alentejo — está gravada nas paredes da Adega Vila Santa, projectada respeitando as linhas de arquitectura tradicional alentejana, seis lagares de mármore claro ainda tingidos pela última pisa e muitas tradições que se repetem desde a vindima até à cozinha. Rosimeire entrega-nos um avental e confia-nos algumas páginas do livro de receitas que iremos seguir. De repente, somos ajudantes da chef Rosi na elaboração do repasto. Cação com coentros e pão frito crocante, perdizes Vila Santa e um pecado de chocolate que hoje substitui a encharcada. As perdizes ficaram a marinar de véspera com cebola, alho, vinho branco e sal. A Fugas tratou do refogado, fez a marinada e deixou a estufar lentamente enquanto, copo de vinho da casa na mão, picava queijo de ovelha, pão alentejano, paio de porco preto e tiborna alentejana (pão torrado, azeite, orégãos e flor de sal). Ao lado, vai-se misturando aos poucos a farinha com o azeite (o grupo produz cerca de 22 mil garrafas de azeite por ano), o alho, os coentros e o sal, cama onde será colocado o cação aos pedaços. O animado workshop "KITCHEN'ing with the wine" termina à mesa. A sopa de cação foi servida com pão frito. As perdizes acompanham com batatinhas salteadas, esparregado e chutney de cebola. Bem regada, e com uma surpreendente vista sobre as vinhas que tocam o castelo, a refeição terminou com uma bomba de chocolate. Estremoz Site Tel. : 268 339 910 E-mail Provas de vinhos entre 7, 50 e 45 euros "A culinária e o vinho alentejano" (85 euros) "Seja enólogo por um dia" (30 euros)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O grupo, que acaba de celebrar 25 anos de existência, conta com mais de 140 colaboradores e em 2016 tinha um volume de negócios de 18 milhões de euros. Nos vinhos, a João Portugal Ramos Vinhos está presente (com adegas) em cinco regiões (Alentejo, Douro, Vinho Verde, Beiras e Tejo) e trabalha com nove enólogos na sua equipa para uma produção total superior a seis milhões de litros. Do seu portefólio fazem parte marcas como Loios, Pouca Roupa, Marquês de Borba, Vila Santa, Quinta da Viçosa, Estremus, Tons de Duorum, Duorum, O. Leucura , Vintage Port e Quinta Foz de Arouce. À nossa mercê, "enólogo por um dia", estão três castas (Aragonez, Touriga Nacional e Alicante Bouschet) e uma proveta que servirá para medirmos a receita daquele que será o nosso blend — com rótulo personalizado e tudo. Misturámos, provámos, baralhámos e voltamos a dar.
REFERÊNCIAS:
Um livro fica sempre bem no sapatinho
Sugestões de livros para oferecer no Natal, com promessa de novas descobertas para o próximo ano: dos espumantes aos vinhos, da gastronomia às viagens. (...)

Um livro fica sempre bem no sapatinho
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sugestões de livros para oferecer no Natal, com promessa de novas descobertas para o próximo ano: dos espumantes aos vinhos, da gastronomia às viagens.
TEXTO: Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque, espumante é espumante e champanhe é champanhe. Neste livro, o crítico João Paulo Martins concentra-se nos dois últimos para nos guiar nas melhores escolhas para diferentes pratos e momentos da refeição – e fá-lo com a ajuda de receitas do chef Vítor Sobral. No que diz respeito ao champanhe, elege apenas o proveniente da região francesa de Champagne. Quanto à produção nacional de espumantes, nota que todo o país é produtor, mas as regiões principais continuam a ser Távora-Varosa, “onde a qualidade produzida é bem elevada”, e Bairrada, “bem mais diversificada e disseminada por muitos produtores”. A lógica do livro é a divisão quer de espumantes quer de champanhes não por regiões mas por momentos de consumo: a solo, com aperitivos, mariscos, peixe cru ou peixes nobres, peixe pouco temperado ou pratos de bacalhau, carnes mais ou menos intensas, queijos e sobremesas. As receitas de Sobral deixam algumas pistas, que vão dos rissóis de lagosta ao gelado de queijo da serra com compota de tomate, passando pelo incontornável bacalhau de Natal. A. P. C. Espumantes & ChampanheJoão Paulo Martins (receitas de Vítor Sobral)Oficina do Livro16, 90€Também do crítico de vinhos João Paulo Martins, mas desta vez um livro de crónicas. Seleccionadas a partir dos muitos textos que publicou ao longo dos anos em diferentes jornais e revistas, estas crónicas são sempre deliciosas e fazem-nos entrar no universo dos vinhos por muitas vias diferentes. Não é importante o que sabemos ou não sabemos sobre o tema, em cada um destes textos aprende-se sempre qualquer coisa, e não apenas sobre vinho. Alguns são de Humor e Afecto, como o muito divertido Gourmets de ontem e de hoje, outros são mais históricos (agrupados no capítulo A Terra e os Produtores), outros ainda entram pelas inevitáveis Controvérsias, Provocações e Outras Questões (mas nem aqui o bom humor desaparece como testemunha, por exemplo, a crónica Afinal não sou moderno…). Há ainda um capítulo sobre As Provas e as Críticas, Pois Claro (com bons conselhos como o de não levar as regras demasiado a sério e evitar andar com um termómetro na mão para ver se a temperatura do vinho é a certa) e, por fim, Várias Histórias e Muitos Lugares, que inclui um texto sobre um jantar com Mário Soares que começa assim: “Ó sôtor, explique-me lá a diferença entre um vintage e um tawny? Esta foi a pergunta que me dirigiu, já o jantar ia longo e a hora ia tardia. ” A não perder. A. P. C. Mais Histórias com Vinho & novos condimentosJoão Paulo MartinsOficina do Livro15, 50€Que Jamie Oliver é um apaixonado por Itália já sabemos há muito. Em 2005 editou um primeiro livro sobre as suas viagens pelas regiões italianas e agora regressa a essa cozinha e volta a aprender com as nonnas, deixando-se encantar pelos “famosos gnocchi de batata” da Nonna Teresa, no Campo de’Fiori, em Roma, ou pela lasanha “absolutamente épica” da Nonna Titta, da ilha de Prócida, perto de Nápoles, entre várias outras (receitas incluídas no livro). Há antipasti, saladas, sopas, massas, arroz e dumplings, carne, peixe, acompanhamentos, pão e afins, sobremesas (com sanduíches de gelado ao estilo siciliano e cannoli de chocolate, entre outras) e ainda, no final, um capítulo dedicado às bases, onde se pode aprender a fazer “a irresistível polenta”, massa fresca, “o herói dos molhos de tomate” ou a preparar alcachofras. A. P. C. Jamie e a Cozinha Italiana – Uma Viagem ao Coração de ItáliaPorto EditoraPreço: 27, 50€Duas talhas centenárias, herdadas por Carlos e Luís Serrano Mira, constituíram o ponto de partida para o livro A História da Vinha e do Vinho no Alentejo – Legado de uma família a produzir desde 1667. São prova de que a família dos proprietários da Herdade das Servas, criada pelos dois irmãos em 1998, está ligada à produção vitivinícola há pelo menos 350 anos, atravessando 13 gerações. Partindo de um “levantamento histórico exaustivo”, o investigador e historiador José Calado documenta o percurso vitivinícola da família Serrano Mira até aos dias de hoje, propondo-se, através dela, contar a história de um Alentejo Vinhateiro. O objectivo, lê-se no prefácio assinado por Luís Serrano Mira, é “contribuir para a valorização do Alentejo como região produtora” de vinho, através de “uma reflexão, documentada e cronológica, de vários acontecimentos que marcaram a história da vinha e do vinho neste território”. M. G. A História da Vinha e do Vinho no Alentejo - Legado de uma família a produzir desde 1967José Calado45€"Viajar não é difícil" e "pode ser bem mais económico do que parece". Este é o mote do título do livro Próximo Destino, quase um guia de viagens vividas por Carla Mota e Rui Pinto. "Basta preparar bem a viagem, seguir algumas regras simples, marcar os alojamentos com alguma antecedência, ter alguma flexibilidade para os voos e lançar-se em roteiros ambiciosos", escreve o casal que viaja junto há cerca de 12 anos e que deixa o seu diário de bordo no blogue Viajar Entre Viagens. Carla e Rui lembram que todos os destinos "podem ser low-cost". Em troca, só se pede aos viajantes "pequenos sacrifícios, pequenos nadas" que resultam em grandes viagens como Andes, Índia, Indochina, Irão, Itália, Japão, Jordânia, Namíbia, Noroeste dos EUA e Patagónia. O livro, em formato guia, apresenta o preço aproximado por pessoa (sem voos), o número de dias necessário e o valor por dia, assim como dicas de logística (vistos, segurança, dinheiro, clima, etc) e um roteiro (inclui transportes, alojamento e alimentação) muito simples que deixa espaço à exploração e às vontades de cada viajante. São "destinos de viagem para onde, com alguns truques, pode viajar com um orçamento reduzido. "Os capítulos incluem a experiência do casal no terreno: o alojamento de qualidade média (em quarto duplo), as refeições em restaurante locais, as deslocações internas e as actividades e visitas obrigatórias. Para além das dez Grandes Viagens, "Próximo Destino" sugere seis Percursos na Natureza, sete Escapadinhas Culturais e sete destinos de Praia. L. O. C. Próximo DestinoCarla Mota e Rui PintoPorto Editora15, 50€Quando não está a escrever livros, Jo Pratt, que vive em Londres com o seu marido Phil ("o homem mais bem alimentado de Londres") e os filhos Olly e Rosa (os seus "críticos mais ferozes"), está a cozinhar ou a apresentar receitas online, na televisão ou em revistas da especialidade. A autora de Vegetariano em Part-Time habituou-nos a uma escrita amigável e caseira, oferecendo dicas e ideias para colocar em prática na cozinha. O resultado dos seus últimos livros são receitas de que todos podem desfrutar — seja qual for a nossa capacidade e a ocasião. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O seu mais recente trabalho fala-nos dos flexitarianos, como que vegetarianos em part-time que, não tendo eliminado por completo a carne e o peixe e os produtos de origem animal das suas dietas, os consomem cada vez menos e começam a descobrir, deliciados, o fantástico mundo da alimentação vegetariana. A cozinha vegetariana "é extraordinariamente flexível e inclusiva" — e este livro demonstra-o, com mais de 80 receitas. Cada receita é de base vegetariana, e contém indicações sobre como acrescentar, caso o deseje, carne ou peixe. L. O. C. Vegetariano em Part-Time?Jo PrattArte Plural Edições18, 80€
REFERÊNCIAS:
Em Sernancelhe há boa sombra, boa castanha, bom lenho
Ainda há bons ouriços de três castanhas nos frondosos soutos, que parecem abraçar a estrada calcetada. É Outono colorido na vila, onde o protagonismo da castanha só é partilhado com os pratos salgados e doces que por aqui continuam a ser inventados. (...)

Em Sernancelhe há boa sombra, boa castanha, bom lenho
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.699
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ainda há bons ouriços de três castanhas nos frondosos soutos, que parecem abraçar a estrada calcetada. É Outono colorido na vila, onde o protagonismo da castanha só é partilhado com os pratos salgados e doces que por aqui continuam a ser inventados.
TEXTO: “Os castanheiros levam cem anos a chegar ao estado adulto, cem anos a crescer, cem anos no seu ser e cem anos a morrer. Que importa? Os homens de boa vontade perpetuam-se nos filhos e vindouros. Aqueles milhares de castanheirinhos, não mais altos por ora do que uma espada, que se vêem baloiçar à brisa da tarde quando se passa na orla sudeste, darão boa sombra, boa castanha, bom lenho. ”O centro de Sernancelhe está transformado num estaleiro. Um desvio provocado pelas obras de requalificação leva-nos ao Monumento à Terra da Castanha e à frase retirada de um texto de Aquilino Ribeiro (Geografia Sentimental, 1951) agora gravada em aço corten. Esticamos as pernas e fazemos uma pausa para café — com direito a pastel de castanha — antes de seguirmos as placas Santuário da Senhora de Ao Pé da Cruz, uma capela e respectivo miradouro com vista privilegiada sobre o rio Távora e a vila. Em pleno Outono, pingos gordos irregulares de chuva, tempo frio, cores quentes, é difícil não travar o carro e fazer a pé a estrada recém-calcetada e semicoberta pelos ouriços que a acompanham e pelos castanheiros, imensos, que parecem abraçá-la. Num dos soutos da Quinta da Seara, cinco apanhadoras cumprem de uma forma metódica a sua missão. Chegaram às 7h30. “Parecemos umas nazarenas. Mas em vez de sete saias usamos sete calças”, dizem esticando as costas e abandonando momentaneamente a posição desconfortável que assumem para escolher as melhores castanhas entre os ouriços que ainda vão caindo das árvores — a queda da castanha acontece durante cerca de duas semanas, o que obriga as apanhadoras a passarem pelo souto em média três vezes. “Um bom ouriço tem três castanhas”, explica Daniel Azevedo, que cresceu entre castanhas, apesar de ter sido criado numa “cultura de batata, centeio e trigo”. “Isto era tudo terra de outros cultivos”, diz o proprietário da Quinta da Seara, com cerca de 20 hectares de castanheiros. “Nestes três hectares e meio de souto, só cá havia sete castanheiros”, anota. Em Sernancelhe, recorda, havia castanheiros “para matar a fome de muita gente”. “Era o pão de pobres e ricos”. O castanheiro era mesmo considerado a “árvore de pão”, tão grande era a importância que assumia na economia, hábitos alimentares e cultura. “Lembro-me que apanhávamos a castanhinha antes de apanhar geadas, que enterrávamos ‘magustos’ e que os sinalizávamos para durante o ano ir lá e tirar umas castanhinhas para comer. Os pastores faziam isso também. Às vezes colocávamos uma camazinha num buraco com caruma do pinheiro ou folhado do castanheiro para as castanhas não estarem em contacto com a terra, com a humidade. Conservava-se meses e meses. ”Em Sernancelhe fazia-se o caldo de castanha e comia-se a castanha mais pequenina que era colocada num caniço feito com pauzinhos finos entrelaçados e colocado na parte mais alta da lareira. “Ficava com uns intervalos para deixar passar o fumo. E elas secavam. Depois eram todas pisadas e descascadas. Quando a gente queria colocava-as a ferver para o caldo de castanha”, explica Daniel, enquanto vai descascando castanhas com o canivete afiado. “As pessoas matavam a fome com o que tinham. A castanha fazia as vezes da batata, que não é tão rica. ”O ouriço “bom, bom” tem três castanhas, que se acotovelam para saltar dele. Parecem granadas. “Este ano, como no ano passado, há muitos ouriços com duas e com uma”. Sinal das chuvadas fora de tempo e da dificuldade na polinização. Daniel, vencedor de três prémios na última Festa da Castanha (entre os quais o primeiro lugar), já trata dos soutos há quase 40 anos. Continuou o que o pai já fazia. “Há 27 que trabalho por minha conta”, sublinha. A norma de plantação é dez por dez, um hectare leva uma média de cem árvores. Sendo que a produção “depende dos anos”. Em anos bons, um hectare pode dar tonelada e meia, duas toneladas de castanhas. Cerca de 500 quilos por hectare em anos mais difíceis como o presente. O ouriço ainda está na árvore quando começa a abrir e vai deixando cair as castanhas. Ele próprio vai perdendo a força e acaba por cair, soltando o resto das castanhas, todas apanhadas do chão e quase sempre à mão. Nem máquinas, nem charrua ou alfaias. “Não se mexe no terreno. ” A natureza segue o seu curso. “É bonito, prático e bom. ” As apanhadoras usam sempre luvas e fazem-se acompanhar por um par de baldes. As castanhas mais pequenas e com defeito vão ficando fora do “crivo”. “A gente tem a mania de dizer que a maior é a melhor porque os olhos são os primeiros a comer, mas muitas vezes a mais pequena ou média é mais doce e de descasque mais fácil”, admite Daniel, que escoa toda a produção para o mercado nacional — a castanha está a sair do produtor entre os 3 e os 3, 50 euros o quilo. “Não tenho castanhas para a procura”, diz. Por aqui, a maior mancha de castanheiros encontra-se acima dos 600 metros, virada a poente. “O sol da manhã é mais bravo”, justifica Daniel. Cerca de 84% dos solos do concelho estão situados entre os 600 e os 900 metros de altitude, o que configura um bom enquadramento climático para a cultura dos castanheiros. Estima-se que Sernancelhe tenha uma área plantada de mil hectares e uma produção média anual de 1500 toneladas de castanha, o que equivale a três milhões e meio de euros de receita local. A aposta na castanha advém da localização no coração da DOP (Denominação de Origem Protegida, constituída em 1994) “Castanha dos Soutos da Lapa”, nas variedades Martaínha e Longal, que abrange uma superfície com aproximadamente 4 mil hectares de castanheiros. A Castanha dos Soutos da Lapa DOP distingue-se pelas cores castanha-avermelhada e muito brilhante dos frutos da variedade Longal e castanha-clara com brilho médio dos frutos da Martaínha. Apesar de muito macias, não são demasiado farinhentas e apresentam um paladar caracteristicamente suave e muito doce. A Castanha dos Soutos da Lapa está circunscrita aos concelhos de Armamar, Tarouca, Tabuaço, São João da Pesqueira, Moimenta da Beira, Sernancelhe, Penedono, Lamego, Aguiar da Beira e Trancoso, que no seu conjunto representam 131 freguesias. Em 2012 o município celebrou um protocolo com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, visando a cooperação entre as instituições para o reforço do castanheiro no concelho de Sernancelhe, denominado SerCast, um plano de acção para apoiar os agricultores transmitindo-lhes conhecimentos técnicos para os ajudar a produzir mais e melhor castanha, ensinar os produtores a tratar melhor os soutos, a protegerem os castanheiros contra doenças, estimulando-os no sentido de requalificarem os seus soutos. À volta do miradouro de Nossa Senhora das Necessidades mostram-se castanheiros bravos, nascidos de sementes transportadas no bico dos pássaros, como se ouve pela vila. No chão fofo da Quinta da Seara, tropeçamos em cogumelos silvestres, um importante recurso associado ao castanheiro. A origem silvestre, aliada à diversidade de formas, sabores, cores e aromas, cumpre todos os requisitos para que sejam um produto de elevado valor gastronómico — um rendimento adicional do souto. O Outono, após as primeiras chuvas, é a principal época de ocorrência. As apanhadoras são as nossas guias nesta apanha. Os cogumelos comestíveis do souto são saprófitas, como Macrolepiota procera (frade) e Lepista muda, ou parasitas, como Fistulina hepatica(língua de vaca). Mas é no grupo dos fungos micorrízicos que se encontram os cogumelos silvestres mais valorizados, como os boletos, amanitas, cantarelos, russulas, entre outras. À semelhança do que acontece com a castanha, também a fartura de cogumelos ocorre em soutos adultos e não lavrados. A sua presença é um sinal de vitalidade do souto. Protagonismo à castanha. Na freguesia de Ferreirim, os carregamentos de castanhas chegam à Frusantos, empresa fundada em 1982, onde são devidamente seleccionadas, calibradas e embaladas. Referência no mercado da castanha em fresco, a empresa é responsável pela recolha e comercialização de grande parte da produção da região da Beira Alta, entre outras regiões do Norte do país, tendo criado a marca Saudade para a castanha Martaínha premium. Também a Escola Profissional de Sernancelhe assimilou no seu curso de Técnico de Cozinha/Pastelaria (três turmas de 13 alunos) o produto da terra. Pela cozinha pedagógica passam as diferentes etapas de um bombom de castanha, de um pastel de castanha ou de um fondant de castanha. “Procuramos explorar a castanha na gastronomia”, aponta Filipe Bernardino, chef e professor da escola. “É um produto que tem muita margem de progressão”, anota. “Castanha desidratada, farinha de castanha, castanha inteira, triturada, em salgados ou em doces, em pastéis, em empadas ou em vários tipos de recheio. Adaptamos receitas antigas, reconstruímo-las, utilizando produtos da terra. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Castanha ao pequeno-almoço, castanha ao almoço, castanha ao jantar na antiga capela do Convento Nossa Senhora do Carmo, Freixinho, transformado num Hotel Rural. “Predomina a castanha”, avisa o chef Daniel Caetano. As migas de castanha, boroa e alho regados com azeite guarnecem o cabrito. “Deixo poisar para apurar os sucos todos. ” Segue-se o polvo braseado com esmagado de castanha e a pêra bêbada com folhado de maçã e castanha cristalizada. A castanha é fruto de muitos momentos doces em Sernancelhe. Biscoitos de castanha, bolo de castanha, pudim de castanha, crepes de castanha, folhadinhos de castanha, mousse de castanha, ouriços de castanha, pão-de-ló de castanha, tarte de castanha, torta de castanha, trouxas de castanha ou trufas de castanha. Ou simplesmente castanha — de preferência com um copo de jeropiga. Já agora, o corte certo, aquele que permite a cozedura mais equilibrada e um descasque fácil, é dado longitudinalmente no cu da castanha.
REFERÊNCIAS:
A síndrome de Entre-os-Rios
Este país onde não há Uber, onde é preciso soletrar “gentrificação” e onde não se pode alugar uma moto-elétrica nem ir ao cinema, ocupa a maior parte do território, mas muito pouco da nossa atenção. (...)

A síndrome de Entre-os-Rios
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este país onde não há Uber, onde é preciso soletrar “gentrificação” e onde não se pode alugar uma moto-elétrica nem ir ao cinema, ocupa a maior parte do território, mas muito pouco da nossa atenção.
TEXTO: Era uma manhã não muito diferente da de ontem quando Portugal acordou para a dura realidade de não ser o país que pensa que é, mas o país que de facto é. Durante a noite tinha caído uma ponte em Entre-os-Rios e com ela 59 vidas foram arrastadas pelas águas tumultuosas do Douro. A imagem do país rutilante da Expo'98, do Porto - Capital Europeia da Cultura, desabava na incúria e no abandono em que vivia grande parte do seu território. Esta semana não foi diferente. No domingo, cinco pessoas morrerem intoxicadas numa casa miserável aquecida a gerador. Na segunda, uma estrada desaparecia entre duas pedreiras e perante a sucessão trágica, muita gente terá feito a interrogação-lamento: “É isto que nós somos”?É. É isto que também somos, nem que nem sempre o vejamos e quase sempre o esqueçamos. Um país onde há gente que continua a esgadanhar para viver e um país onde a incúria e a ganância matam. Este país onde não há Uber, nem Glovo, onde é preciso soletrar “gentrificação” e onde não se pode alugar uma moto-elétrica nem ir ao cinema, ocupa a maior parte do território, mas muito pouco da nossa atenção. Para o litoral recuou o Estado, recuou a Comunicação Social, recuaram as empresas, vieram as pessoas, ficou o esquecimento. Há por isso uma ordem natural das coisas para que a síndrome de Entre-os-Rios nos assalte, como um rebate de consciência, sempre que uma desgraça fixa um novo ponto no mapa. Essa ordem é imparável, mas não nos pode ilibar da responsabilidade colectiva de zelar pelos mais frágeis de nós. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Avalie-se a responsabilidade dos autarcas que deixaram e das pedreiras que fizeram, mas num momento em que o país da capital procura transferir competências para o país das autarquias, não esqueçamos que a responsabilidade de zelar pela qualidade e segurança das infra-estruturas, num país que extinguiu as suas Direcções Regionais, deve permanecer junto de quem concentra recursos e funcionários, neste caso o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). Também eles têm de nos responder porque continuarmos a ser aquilo que as tragédias nos lembram que somosNeste Portugal de esquecimento fácil, não nos podemos perder perante a clássica interrogação: “Quando uma árvore cai numa floresta solitária, sem nenhum animal por perto para ouvir, será que faz um som?” Faz, faz, mas para ser ouvido propriamente, convinha que não continuasse a cair sozinha.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura social animal
Metas de um roteiro para descarbonizar a economia
Para descarbonizar a economia portuguesa até 2050, as palavras mais fortes do plano do Governo são: electrificar muito e com fontes renováveis, baixar até metade a produção de bovinos e conseguir que a floresta arda apenas metade do que costuma arder. (...)

Metas de um roteiro para descarbonizar a economia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para descarbonizar a economia portuguesa até 2050, as palavras mais fortes do plano do Governo são: electrificar muito e com fontes renováveis, baixar até metade a produção de bovinos e conseguir que a floresta arda apenas metade do que costuma arder.
TEXTO: O plano que o Governo apresentou esta terça-feira define um calendário de metas a cumprir até 2050 para vários sectores – mobilidade, energia, indústria, agricultura e floresta – para que o país chegue a esse ano a emitir menos 85% de dióxido de carbono e com uma capacidade acrescida de sumidouro que neutralize as emissões que existirem. Também os resíduos vão dar o seu contributo na descida da pegada carbónica do país mas já no âmbito do programa europeu em curso. Objectivo para dar corpo ao compromisso português no Acordo de Paris: passar de um saldo líquido de 60 megatoneladas de CO2 emitido por Portugal em 2015 (68 megatoneladas emitidas compensadas por oito megatoneladas que a floresta sequestrou) para zero em 2050 (que serão 12 megatoneladas emitidas, à conta do petróleo a usar especialmente pela indústria petroquímica, e o seu exacto equivalente que a floresta “sumirá” no seu solo). Significa menos 85% a 99% em relação a 2005. O grande contributo para a descida das emissões virá da produção de energia eléctrica, que será cada vez mais renovável, e dos transportes, que serão, por sua vez, mais eléctricos até o ser totalmente nos ligeiros de passageiros. Em 2030, a meta é ter 80% renováveis na produção de electricidade e as duas centrais a carvão encerradas. Em 2040, o plano defende que os veículos a gasolina deixam de ser competitivos. Em 2050, a meta é ter mais de 65% dos consumos finais de energia com origem eléctrica. Mobilidade. Será cada vez mais limpa, conectada e partilhada, com redução significativa do número de veículos rodoviários em circulação. 33% dos ligeiros de passageiros em 2030 serão eléctricos. Serão 100% em 2050. Por volta de 2040, os pesados de mercadorias andarão a hidrogénio e electricidade e serão pelo menos metade da procura de mobilidade. Os veículos autónomos e/ou partilhados serão pelo menos um terço da mobilidade em 2050. Sector residencial e serviços. Apesar de um aumento da procura da energia, por via do aumento do conforto térmico dos edifícios, a energia que consumirem em 2050 deverá ser 95% descarbonizada face a 2005. Terá cada vez mais uma economia da partilha associada ao uso de electrodomésticos, ganhará eficiência por via da melhoria dos isolamentos nos edifícios, que pode conduzir a poupanças da ordem dos 60% dos consumos. O consumo será crescentemente electrificado, pelo que reduzirá as necessidades de utilização de gás natural a partir de 2030 e de biomassa a partir de 2040. Os edifícios de serviços serão 100% descarbonizados em 2040, defende o Governo, com uma “quase total electrificação” e o uso do solar para aquecimento de águas. Aposta nas bombas de calor como tecnologia dominante para o aquecimento de espaços. Indústria. Em 2050, a indústria poderá emitir menos 70%, com a ajuda da electrificação e do uso de biomassa, mas será mais lenta a descarbonizar. Em 2050, representará 39% das emissões. O roteiro admite que a mudança neste sector precisa também de uma “alteração dos modelos de negócio actuais”. Águas e resíduos. Projecta-se uma redução significativa da produção de resíduos urbanos per capita que pode atingir uma redução de 25%, associada a uma maior circularidade da economia. Em 2035, a deposição de resíduos em aterro corresponderá apenas a 10% dos resíduos urbanos totais produzidos, cumprindo a meta comunitária: corresponderá a uma redução de 82% face aos valores actuais. Não se prevêem grandes alterações no sector das águas residuais “face ao ponto de partida já bastante favorável”, apontando-se apenas para uma evolução gradual “no nível de prestação de serviço do sector, em particular no atendimento por sistemas de tratamento secundário e terciário”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Agricultura. A redução de emissões na agricultura ocorrerá a um ritmo menor que noutros sectores. O sector aumentará o seu peso nas emissões nacionais, representando 36% das emissões em 2050 (nesse ano, a agricultura e a indústria representarão 75% das emissões). O esforço passará especialmente pela descida da produção agro-pecuária de bovinos (com uma descida prevista entre 25 a 50%), mas compensada por um aumento de suínos (mais 18%). O roteiro aposta também na expansão da agricultura biológica, de conservação e da agricultura de precisão, e também no regadio que será mais eficiente a usar água. Florestas (uso do solo, alteração do uso do solo e florestas). Em 2050, o potencial de sequestro de carbono é estimado entre nove a 12 megatoneladas, o que aponta para um aumento ligeiro do seu potencial actual. O grande desafio para a floresta será a redução da sua área ardida vista como o “principal factor a determinar a capacidade de sequestro de carbono a nível nacional”. Deverão ser beneficiadas as espécies de protecção e a conversão de 30% de pastagens pobres em pastagens biodiversas, de modo a aumentar a capacidade de sumidouro da floresta portuguesa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda consumo corpo
Roteiro da descarbonização: os cimentos querem mais, a agro-pecuária menos
CAP critica o plano de neutralidade carbónica, fala em "falta de conhecimento da realidade". As cimenteiras querem ver inscritas no plano mais tecnologias de captura de carbono. (...)

Roteiro da descarbonização: os cimentos querem mais, a agro-pecuária menos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: CAP critica o plano de neutralidade carbónica, fala em "falta de conhecimento da realidade". As cimenteiras querem ver inscritas no plano mais tecnologias de captura de carbono.
TEXTO: A indústria cimenteira quer mais do roteiro para a descarbonização da economia portuguesa até 2050, a agro-pecuária quer menos, as indústrias da mobilidade e da electricidade fazem contas: o guião do Governo apresentado esta terça-feira deixa antever muitas mudanças e muito investimento. O roteiro globalmente ambicioso para se chegar à meta líquida de zero toneladas de CO2 pede os maiores desafios aos sectores dos transportes/mobilidade e da energia – por serem os que mais emitem. A electrificação maciça a partir de fontes de energia renovável será o caminho. A indústria cimenteira, pela voz de Gonçalo Salazar Leite, da Cembureau, reclama a inclusão no roteiro de opções tecnológicas defendidas pela indústria e que são “opções fundamentais” para a própria Comissão Europeia no programa Planeta Limpo 2050: inclusão das energias intensivas e da captura e valorização do carbono. “Há soluções que não foram exploradas que o deviam ser” e que a indústria promove, como a retenção da energia na massa do betão ou a reutilização de CO2 para carbonatar materiais. Na rede eléctrica percebe-se já o impacto de um plano que se estima venha a precisar de dois mil milhões de euros de investimento por ano. A electrificação trará “um aumento significativo dos consumos”, pelo que será necessário o reforço da rede nacional de transporte e de distribuição, especialmente a sul, onde serão instaladas novas centrais solares, e também o aumento da capacidade de armazenamento das centrais hídricas com bombagem, na perspectiva de João Peças Lopes, do INESC TEC Porto. Já o antigo presidente da ERSE, Jorge Vasconcelos, lembrou que as decisões a tomar “vão determinar o preço da energia por um período de 20 anos”, pedindo “estabilidade e previsibilidade das regras públicas. ”Mas é a agro-pecuária que revela o ponto mais sensível, a avaliar pelas reacções do sector quando esta terça-feira o plano passou para o debate público. O roteiro prevê a necessidade de se reduzir a produção de bovinos entre 25% a 50% neste período, a par de um aumento em 18% da produção de suínos. Os ministros da Economia e do Ambiente deram o tom para debate público. Pedro Siza Vieira admitiu que a mudança antecipada por este plano “é um sobressalto e alguns sectores vão ter mais dificuldades". João Pedro Matos Fernandes disse que o cumprimento do roteiro não será "uma restrição à actividade económica" porque, no melhor dos cenários previstos, a economia, o emprego e a população crescem simultaneamente. O modelo de debate levou os secretários de Estado sectoriais a serem os seus moderadores e foi assim que o secretário de Estado da Floresta e do Desenvolvimento Rural, Miguel João de Freitas, manifestou o seu desagrado pela previsão da redução significativa de produção de bovinos no Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050 (RNC2050). “Temos necessidade absoluta de ter a componente animal no sistema”, disse. Miguel João de Freitas pede que se tenha uma “visão do sistema agrário” em que “a componente animal é absolutamente essencial” e que o assunto seja “debatido em profundidade”. Assegura que o sector quer “modelos de produção sustentável, não tem de ser biológica”, que incluam conceitos como o da “intensificação sustentável”. “Falta acima de tudo o conceito racional técnico”, que “o RNC tem também que incluir”. A CAP veio, igualmente, criticar o plano, dizendo que a intenção do ministro “demonstra falta de conhecimento da realidade da agricultura portuguesa e só pode constituir uma intenção isolada do Ministério do Ambiente no conjunto do Governo”. A questão da produção pecuária é consensualmente uma das mais sensíveis. Por ser uma importante actividade económica em Portugal e pelo forte impacto que pode ter na redução de emissões não de dióxido de carbono mas de metano, sendo que este gás fortemente contribuinte para o efeito de estufa é emitido pelos bovinos. Menos delicada parece ser a previsão de uma floresta que tenha mais capacidade de sequestrar CO2, sendo decisivo, para isso, reduzir a área ardida anualmente para cerca de metade e aumentar mesmo o seu espaço. “Aqui a ambição tem de ser maior”, sublinhou o secretário de Estado. “Não é só incêndios e carbono, é também melhorar a floresta que temos”. Francisco Avillez, responsável pela componente agrícola e florestal do roteiro, explicou que este trabalho de vários meses chegou agora à fase de audição pública e de estudo das implicações que decorrem do calendário e das metas e da adequação destas, por exemplo, à Política Agrícola Comum, não tendo dúvida de que “é possível uma contribuição significativa para a neutralidade carbónica” do sector agro-pecuário. Segundo este especialista, a questão “não é fazer desaparecer os ruminantes, mas ajustá-los melhor ao objectivo da neutralidade carbónica”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O ministro Matos Fernandes adiantou ao PÚBLICO que vai apresentar o roteiro à comissão de Ambiente da Assembleia da República e que não vê necessidade de o passar à forma de lei, dado estar alinhado por compromissos internacionais que o país assumiu, independentemente dos governos. O RNC2050 foi elaborado por uma equipa de cerca de 30 pessoas. O trabalho que se segue, até Março, para este guião que tenta captar o que será a sociedade dentro de 30 anos – será a geração Alfa, nascida em 2010 – é estudar o impacto social e económico do caminho proposto, sobretudo em termos de emprego e de crescimento, identificar os “clusters que vão desaparecer e as oportunidades para novos aparecerem”, disse Júlia Seixas, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e uma das responsáveis da coordenação do trabalho. O primeiro debate público do plano junta durante toda esta terça-feira, na Gulbenkian, os representantes dos sectores abrangidos (energia, mobilidade, indústria, agricultura e Floresta e água e resíduos), os responsáveis pelos estudos das áreas sectoriais do RNC2050 e alguns membros do Governo.
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Entidades ERSE
Dançar antes do trabalho? É um Regabofe Matinal
Lisboa já tem festas matutinas durante a semana, para dançar e tomar o pequeno-almoço antes do trabalho. Para já, decorrem no Juicy na primeira quarta-feira do mês. (...)

Dançar antes do trabalho? É um Regabofe Matinal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Lisboa já tem festas matutinas durante a semana, para dançar e tomar o pequeno-almoço antes do trabalho. Para já, decorrem no Juicy na primeira quarta-feira do mês.
TEXTO: A Rua Augusta ainda está silenciosa, praticamente vazia, cinzenta, como se recusasse acordar para o nevoeiro cerrado que gela esta manhã de Dezembro. Logo ali ao lado, no entanto, há quem tenha trocado mais uns minutos na cama para dançar antes de começar o dia de trabalho ao som de Ripa na Xulipa ou de um remix de Spice Girls. É mais um Regabofe Matinal, evento que chega a Lisboa para trocar as voltas ao conceito de festa dançante. A entrada é paga, com direito a carimbo na mão e um papelinho para trocar por uma bebida ao balcão, a música está bem alta e puxa para dançar como manda qualquer festa. Mas é quarta-feira, a porta fecha às 10h e o álcool é substituído por chávenas de chá, cappuccino ou smoothies. Miguel Pires trouxe a ideia de Varsóvia, onde viveu durante cinco anos. Na capital polaca, o conceito era comum, mas com “música techno muito forte” e “umas sandes embaladas no dia anterior” para pequeno-almoço. “Lisboa é uma cidade que está a querer ser muito cosmopolita, com imensa gente nova, por isso achei que poderia funcionar cá, com as devidas alterações. ” Miguel trocou o techno pelas sonoridades do funk e da disco – é ele quem comanda a pista na cabine de som –; substituiu as sandes “sem graça” por um menu de pequeno-almoço saudável e com a namorada, Joana Sousa Lara, criou a Regabofe Matinal. “Achamos que o nome dá imensa energia por si só”, contava Joana momentos antes. A ideia é mesmo essa: contrariar a monotonia do quotidiano com uma festa matutina, onde é possível “estar com os amigos, tomar o pequeno-almoço, ganhar energia antes de ir para o trabalho e ficar mais bem-disposto”. Daí que o casal tenha escolhido as quartas-feiras. “Achámos que era uma boa altura para quebrar o gelo da semana e voltar a dar energia. ” A primeira edição juntou cerca de 30 pessoas no dia 7 de Novembro. A segunda festa encheu esta quarta-feira o pequeno restaurante Juicy, na Baixa lisboeta. Carla, de 38 anos, soube do evento através do Facebook e decidiu desafiar os restantes membros da equipa com quem trabalha numa seguradora no Largo do Rato. Às 8h30, só Joaquim, 50, único homem do grupo, resiste à pista de dança. “Já é habitual acordar cedo. Assim temos uma manhã diferente e, como temos tido muito trabalho, sempre desanuviamos um bocadinho”, conta Carla. “Viemos preparar-nos para trabalhar”, ri-se Luísa. Na mesa ao lado, foi João, 45, quem espicaçou os colegas mais novos, Ricardo e Francisco, de 26 e 27 anos, respectivamente. Não tarda, estarão todos sentados à secretária na Liberty Seguros, junto à praça Marquês de Pombal. Mas para já mantêm-se em conversa animada enquanto terminam o pequeno-almoço. Para eles, a dança hoje não sairá do prato. “Normalmente chegas ao trabalho, trocas um 'bom dia' com quem te cruzas no corredor e pronto. Aqui há outra energia”, compara Ricardo. A mesa vai somando opiniões: é engraçado; uma experiência diferente; dá para fugir à rotina; e ficar mais animado ao início do dia. “Até já vou trabalhar mais”, atira João, para gargalhada geral. O objectivo, conta Miguel Pires, é juntar “todo o tipo de pessoas”: advogados, consultores, artistas, estudantes, turistas. “Quero ter uma grande misturada. ” O mais difícil será mesmo vencer a “resistência a coisas novas” dos portugueses e fazê-los adiantar o despertador a meio da semana. Para os brasileiros Fernando e Victor, a escolha “não foi muito difícil”: trocaram o ginásio pela festa, contam a rir. Vieram com uma amiga, a argentina Belen, que confessa estar atrasada para o trabalho. Devia entrar daqui a cinco minutos, mas a empresa é flexível e ela aproveita para dançar mais um pouco. “Não faria todos os dias, mas achei fixe. ” Está uma “vibe gostosa”, dá para “encontrar os amigos” e “conhecer outras pessoas”, contam. “Já estamos a combinar vir à próxima festa. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para já, as festas decorrem uma quarta-feira por mês, entre as 7h e as 10h, no restaurante Juicy (Rua de São Julião, 70 – Lisboa) Facebook E-mail Menu especial: pudim de chia (2€), shots saudáveis de açafrão ou gengibre (2€), pão com compota (1€), bolachas (2, 5€), muffins (3€), sumos naturais (4€), smoothies (5€) e taças de açaí (8€). Há mais opções na carta do restaurante Juicy. Preço: a entrada custa 5€ (com direito a café, latte ou chá)Para já, o Regabofe Matinal decorre no Juicy, restaurante vegetariano na Rua de São Julião, entre as 7h e as 10h da primeira quarta-feira do mês. Janeiro será uma excepção: a próxima festa está marcada para o dia 9. Mas a ideia é “aumentar o número de vezes por mês e o número de sítios”, conta a dupla responsável pelo projecto. Andam de olho na zona junto à Praça Marquês de Pombal – “achamos que passa ali muita gente que trabalha no Saldanha, na Avenida da Liberdade ou que vai para a A5”. E estudam a hipótese de expandir o conceito para os fins-de-semana, com brunch, e, eventualmente, ter festas semanais ao final da tarde “para quem gosta de dormir mais”. Crescer para outras cidades também não está fora dos planos. Miguel confessa que tem um amigo “que já quer fazer uma no Porto”. Para Miguel, licenciado em comunicação com carreira na área da gestão, o mais importante era começar já, sem medo do frio. “Se conseguirmos embalar isto no Inverno, vai chegar o Verão e eu imagino isto num rooftop ou numa varanda, com bom tempo e o sol a nascer”.
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Morreu o alfarrabista Pedro Chaminé da Mota
Fundador da carismática livraria portuense da Rua das Flores tinha 88 anos. (...)

Morreu o alfarrabista Pedro Chaminé da Mota
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fundador da carismática livraria portuense da Rua das Flores tinha 88 anos.
TEXTO: O alfarrabista Pedro Chaminé da Mota, fundador e proprietário da Livraria Chaminé da Mota, na Rua das Flores, uma das mais importantes livrarias do Porto, morreu esta sexta-feira de manhã, aos 88 anos. O seu corpo estará em câmara-ardente na Igreja Lusitana do Salvador do Mundo, em Vila Nova de Gaia, e a missa do seu funeral será celebrada no sábado nesta mesma igreja, pelas 10h. Leitor compulsivo e ecléctico – lia de tudo, do padre António Vieira a novelas populares do Repórter X, e tinha um fraco por banda desenhada e poetas obscuros do século XIX –, Chaminé da Mota levou esse gosto omnívoro para a sua livraria, onde tanto se podia encontrar uma respeitável primeira edição susceptível de adornar a colecção de um bibliófilo como um manancial inesgotável de edições populares. O livreiro gostava de contar que se tinha tornado leitor aos oito anos, quando lhe veio às mãos O Menino da Mata e o seu Cão Piloto, texto que teve várias edições populares no início do século XX, designadamente da Livraria Evangélica. A partir daí, dizia, nunca mais deixou de ler e de acumular livros, até que se decidiu a montar uma livraria com a sua mulher. Inaugurou-a em 1981 e, ao longo dos anos, mudou-a várias vezes de sítio, mas mantendo-a sempre na Rua das Flores, onde ainda hoje tem porta aberta, no n. º 28, defronte da magnífica fachada da Igreja da Misericórdia, desenhada por Nicolau Nasoni. Calcula-se que nos vários pisos do seu actual edifício – cada um com uns longuíssimos 36 metros e meio –, a Livraria Chaminé da Mota conserve hoje cerca de um milhão de livros e outras publicações. Mais recente do que a Livraria Académica, de Nuno Canavez, fundada em 1912, ou do que a Livraria Manuel Ferreira, criada em 1959, a Livraria Chaminé da Mota talvez não fosse tão procurada como estas pelos grandes coleccionadores, mas durante décadas foi a última esperança para quem já desesperara de encontrar o número em falta da colecção Vampiro, um fascículo da revista O Mosquito, os sete volumes da velha edição da Lello d'O Visconde de Bragelonne, de Alexandre Dumas, ou um livro infantil cujo autor o cliente já esquecera, mas que tinha uma capa assim e assado. Outros livreiros também foram apostando nas edições populares, mas Chaminé da Mota foi o primeiro, no Porto, a investir a sério nesse sector: sabia o que tinha e onde o tinha, e boa parte do gigantesco acervo do seu estabelecimento estava (e está) organizado por temas, escritos à mão nuns pequenos cartões entalados nas pilhas de livros. Ele próprio calculava, há já bastantes anos, que andariam uns quatro mil cartões desses espalhados pela livraria. Alguns eram nomes de autores, outros de colecções, outros ainda podiam dizer xadrez, sindicalismo, biografias, ateísmo, esperanto…Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há que dizer que se compensava desse seu esforço de investigar, recolher e organizar edições populares, a que então quase mais ninguém no meio ligava nenhuma, carregando um tanto nos preços. Mas também era capaz de fazer descontos generosos quando via que o cliente era um leitor genuíno e não nadava em dinheiro. E tinha um método peculiar de assinalar o preço nos livros: em vez de um número, o cliente encontrava uma letra escrita a lápis na folha de rosto, que o livreiro depois traduzia num determinado valor, segundo uma tabela que presumivelmente ia evoluindo e de que só ele e os seus funcionários detinham a chave. Instalada num bonito edifício de uma das mais belas ruas do Porto, a Livraria Chaminé da Mota foi também sempre frequentadíssima por turistas (mesmo quando estes ainda não chegavam à cidade aos milhares), que se deixam encantar pela atmosfera da casa, com a habitual música clássica a tocar em fundo e uma panóplia de objectos expostos que inclui uma valiosa colecção de caixas de música ou um raro exemplar do fonógrafo criado por Edison. E Chaminé da Mota, um homem tão discreto quanto afável, tinha genuíno prazer em mostrar as suas relíquias, como o tinha em conversar sobre um autor da sua predilecção ou algum episódio pitoresco da história da cidade. Doente há já alguns anos, tinha deixado o comando da livraria, que nos últimos tempos parecia estar um pouco limitada à gestão do seu imenso acervo, sem um esforço muito óbvio de renovação da oferta.
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Sonae MC mantém plano de investir 600 milhões no triénio
Grupo de distribuição prevê gastar até 625 milhões entre 2019 e 2021 em expansão e manutenção do parque de lojas. “Spin off” está posto de parte, mas voltar ao modelo de OPV para dispersar em bolsa nem por isso – não tem é “deadline”. (...)

Sonae MC mantém plano de investir 600 milhões no triénio
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grupo de distribuição prevê gastar até 625 milhões entre 2019 e 2021 em expansão e manutenção do parque de lojas. “Spin off” está posto de parte, mas voltar ao modelo de OPV para dispersar em bolsa nem por isso – não tem é “deadline”.
TEXTO: “O plano de negócios” da Sonae MC para o próximo triénio – “holding” que o grupo Sonae tencionava dispersar (entre 21, 7% e até 33, 7%) este ano em bolsa numa operação que acabou por suspender em Outubro – “não se altera por não haver IPO [sigla inglesa para oferta publica inicial]”, garantiu ontem fonte oficial da SGPS. A estratégia da companhia de distribuição alimentar e para-farmácias do grupo Sonae (dono do PÚBLICO), anunciada a 19 de Setembro a um mercado que esperava ter daí a um mês uma nova cotada na praça lisboeta era clara: entre 2019 e 2021, a Sonae MC iria investir 345 milhões de euros em manutenção do seu actual parque de lojas (a uma velocidade de 115 milhões ao ano) e gastar outros 260 a 280 milhões de euros em expansão. Um total, portanto, situado entre 605 e 625 milhões de euros, adicionando mais 50 a 60 lojas Continente Bom Dia, mais 4 a 8 lojas Continente Modelo e “cerca de 150 lojas de formatos adjacentes” ao seu parque actual de retalho. A administração da SGPS - co-liderada por Paulo Azevedo e Ângelo Paupério e que em 2019 passará a ter Cláudia Azevedo como presidente-executiva – continua “a achar que fazia todo o sentido” a realização da oferta pública de venda (OPV) da área de distribuição alimentar. Esta divisão é hoje composta por 567 lojas de retalho alimentar e 487 lojas de formatos complementares (onde se inclui ainda as lojas biológicas Go Natural, as para-farmácia Well’s, as papelarias Note, áreas de cafeteria Bagga, as lojas de animais Zu, e a cadeia de bricolage MaxMat). A gestão “continua a achar que fazia todo o sentido” a dona dos hipermercados Continente voltar a ser cotada em bolsa (de onde saiu em 2006), embora tal não vá acontecer “no curtíssimo prazo”, devido às actuais condições adversas do mercado de capitais. “O que não quer dizer que não o possamos fazer no futuro”, mas ainda sem “deadline” previsto. O que está por agora certo é a recusa de um modelo de negócio que inclua a cisão deste activo da casa-mãe, como aconteceu no passado com a Sonae Indústria. “Não queremos fazer qualquer spin-off” da Sonae MC, garantiu fonte oficial da Sonae SGPS ao PÚBLICO. O que foi já adicionado ao plano de expansão da Sonae MC este ano é aquela que será a primeira incursão da companhia de distribuição alimentar e bem-estar da Sonae SGPS em Espanha. O grupo, está já presente há vários anos com o retalho não alimentar no mercado vizinho, comprometeu-se a comprar, no final de Setembro, por 45 milhões de euros, a maioria de 60% do capital de uma empresa familiar que detém a rede de 41 para-farmácias Arenal Perfumarias SLU, no Norte de Espanha, via Modelo Continente Hipermercados, sucursal em Espanha. O negócio da Arenal — com vendas de 97 milhões de euros — deverá estar concluído no “primeiro trimestre de 2019”, conforme foi anunciado ao mercado a 28 de Setembro último. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A SGPS, que ontem apresentou resultados relativos ao período entre Janeiro e Setembro, terminou o terceiro trimestre com 200 milhões de euros de resultados líquidos após interesses minoritários, face a 133 milhões um ano antes, um crescimento de 50, 1%. O lucro, explicou a gestão em comunicado à CMVM, foi “fortemente impactado pelo resultado indirecto de 114 milhões de euros”, relacionado com o ganho de 46 milhões “resultante da aquisição de 20% [para 60%] da Sonae Sierra no terceiro trimestre”. Entre Janeiro e Setembro, o grupo registou um volume de negócios de 4, 23 mil milhões de euros, mais 7% do que um ano antes. Com igual crescimento, a Sonae MC foi responsável por 3, 01 mil milhões de euros do total (ou 71%). O grupo, que agrega ainda as telecomunicações, tecnologias e retalho especializado não alimentar na SGPS, registou um EBITDA de 270 milhões de euros, mais 1, 7% face a Setembro de 2017.
REFERÊNCIAS:
Tempo Outubro Janeiro Setembro
O fóssil de crocodilo mais antigo do mundo é de Tentúgal
Origem dos crocodilos recua agora 20 milhões de anos, no período do Cretácico. O fóssil vai ser exposto no Museu da Lourinhã. (...)

O fóssil de crocodilo mais antigo do mundo é de Tentúgal
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DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Origem dos crocodilos recua agora 20 milhões de anos, no período do Cretácico. O fóssil vai ser exposto no Museu da Lourinhã.
TEXTO: Até agora, pensava-se que os crocodilos mais antigos tinham surgido há 75 milhões de anos. A descoberta de um crânio e uma mandíbula de crocodilo com 95 milhões de anos, perto de Tentúgal, vem mudar a visão sobre a origem dos crocodilos. Afinal, surgiram na Terra 20 milhões de anos mais cedo do que se supunha. “É o mais antigo de todos os verdadeiros crocodilos. Chamamos ‘crocodilos’ a répteis do Jurássico que têm aspecto de crocodilo, que são crocodilomorfos, mas não são verdadeiros crocodilos. Tecnicamente, um crocodilo é um animal que faz parte de um clado, de um grupo, que se chama Crocodylia”, explica ao PÚBLICO o paleontólogo Octávio Mateus (da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Museu da Lourinhã), um dos autores do artigo científico que dá agora conta da descoberta, na revista Zoological Journal of the Linnean Society. Ora o Portugalosuchus azenhae, o nome científico que lhe foi atribuído pela equipa de cientistas, já é um verdadeiro crocodilo. “Pensava-se que o grupo Crocodylia tinha aparecido há 75 milhões de anos, mas este fóssil surgiu em rochas com 95 milhões de anos. Portanto, a origem dos crocodilos é mais antiga, sendo este o mais antigo de todos”, acrescenta Octávio Mateus, que assina o artigo sobre a descoberta com Eduardo Puértolas Pascual, também da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e Pedro Callapez, da Universidade de Coimbra. Como o crânio e a mandíbula inferior descobertos perto de Tentúgal apresentam uma série de características nunca antes observadas, a equipa de cientistas classificou este crocodilo do período do Cretácico não só como uma espécie nova mas também como um género novo para a ciência. Talvez seja um antepassado de todos os crocodilos modernos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “A mandíbula tem uma abertura que ajuda a definir o que é um verdadeiro crocodilo em contraste com répteis parecidos com crocodilos, os crocodilomorfos, que ainda não faziam parte do grupo Crocodylia, e não tinham essa abertura nos ossos da mandíbula”, explica por sua vez Eduardo Puértolas Pascual, especialista em crocodilos, citado num comunicado de imprensa sobre o trabalho. O nome científico, além de conter uma referência clara a Portugal, é também uma homenagem à geóloga que descobriu o fóssil – a geóloga Matilde Azenha. Conta Octávio Mateus que Matilde Azenha encontrou o fóssil perto de Tentúgal (em Casal dos Carecos) quando estava na Universidade de Coimbra e foi fazer trabalho de campo na região. Agora Matilde Azenha é professora no ensino secundário, e doou o fóssil do crocodilo ao Museu da Lourinhã. É aí que em breve estará em exposição, para que todos possamos apreciar um crocodilo muito cretácico.
REFERÊNCIAS: