A tradição foi quebrada e o Sporting perdeu o Cinco Violinos
Empoli leva o troféu que foi decidido no desempate por penáltis. Mesmo perdendo, os “leões” deixaram boas indicações. (...)

A tradição foi quebrada e o Sporting perdeu o Cinco Violinos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empoli leva o troféu que foi decidido no desempate por penáltis. Mesmo perdendo, os “leões” deixaram boas indicações.
TEXTO: O insólito continua a fazer parte do quotidiano de Alvalade neste final de pré-temporada. Depois dos extraordinários acontecimentos dos últimos meses, que redundaram em eleições antecipadas e numa inédita chuva de candidatos à presidência do Sporting, a equipa perdeu pela primeira vez, em sete edições, o Troféu Cinco Violinos. O Empoli impôs-se no desempate nas grandes penalidades. José Peseiro despediu-se do Sporting há 13 anos depois de uma derrota caseira com a Académica, por 1-0, para o campeonato. Na altura, a sua saída precipitou uma crise no clube e arrastou consigo o presidente Dias da Cunha. Neste regresso a Alvalade, o treinador encontra o emblema de novo em crise, mas desta vez sem qualquer envolvimento seu. Um grande golo do médio croata que se estreou a marcar pelo Sporting. Trouxe justiça ao marcador, mas não foi suficiente. Um jovem prometedor que o Empoli foi buscar ao Palermo. Apontou o golo do empate e esteve muito perto de fazer o segundo. A equipa até convenceu, mas a sorte continua a não querer nada com ele. Sofreu o empate logo após mudar meia equipa. Não teve propriamente uma noite atarefada, mas também não conseguiu apagar o erro que permitiu ao Marselha o golo do empate na apresentação da equipa. O único denominador comum entre estes dois momentos foi mesmo a derrota. Apesar de tudo, a equipa lisboeta deixou boas indicações, naquela que terá sido a sua exibição mais consistente nesta fase de preparação, na antecâmara do arranque oficial da temporada. Depois de ter dominado por completo a primeira metade, construindo as mais variadas oportunidades e até alguns momentos de bom futebol — nomeadamente na sintonia entre o regressado Nani e Bruno Fernandes —, o Sporting chegou à vantagem no arranque da segunda metade. Um belo golo do improvável Misic (51’), num remate de belo efeito à entrada da área adversária, dava alguma justiça à partida. Até então já se tinham acumulado mais alguns erros na finalização que fizeram a diferença no final do tempo regulamentar. O Empoli, que praticamente não causara preocupações defensivas até então (um remate em todo o primeiro tempo e não enquadrado com a baliza) acordou e reagiu ao golo. E numa altura em que Peseiro acabara de promover seis substituições na equipa, os italianos empataram o encontro na sua melhor jogada na partida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um toque de calcanhar do jovem Traoré, internacional sub-19 pela Costa do Marfim, isolou o também jovem La Gumina. O futebolista, de 22 anos, por quem o Empoli pagou quase 10 milhões de euros começou a mostrar serviço num remate cruzado que bateu Viviano, que voltou a merecer a confiança de Peseiro e alinhou durante todo o encontro. Já sem a grande maioria dos prováveis titulares frente ao Moreirense, no jogo de arranque do campeonato, no próximo domingo, em Moreira de Cónegos, os “leões” não foram capazes de voltar a marcar. A decisão ficou adiada para as grandes penalidades. Na “lotaria” que se seguiu, Matheus Pereira falhou na primeira série de cinco remates, ficando tudo novamente empatado (4-4). Na “negra” Jefferson permitiu a defesa de Terracciano e o Empoli não falhou a oportunidade de ser o primeiro conjunto a bater a desviar de Alvalade o troféu.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave negra marfim
Com mais dez milhões de investimento, DefinedCrowd tem o desafio de duplicar a equipa
Empresa tem uma plataforma com 45 mil pessoas que ajudam a melhorar a informação usada em sistemas de inteligência artificial. EDP, Mastercard e Amazon estão entre os investidores. (...)

Com mais dez milhões de investimento, DefinedCrowd tem o desafio de duplicar a equipa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa tem uma plataforma com 45 mil pessoas que ajudam a melhorar a informação usada em sistemas de inteligência artificial. EDP, Mastercard e Amazon estão entre os investidores.
TEXTO: Amanhã vai estar calor? Como estará o tempo amanhã? Qual é a previsão de temperaturas? A máxima vai ser de quanto? Em princípio, um humano é capaz de compreender múltiplas formas de perguntar sobre o estado do tempo. Mas um computador pode ficar confuso se não forem usadas palavras específicas. O mesmo é válido para uma imagem de um animal numa fotografia: uma pessoa distingue com facilidade um gato de uma cabra; um computador, nem sempre. Os sistemas de inteligência artificial têm-se tornado cada vez mais capazes de entender o que “ouvem” e o que “vêem”. Em muitos casos, para que isso aconteça, as máquinas são treinadas com grandes quantidades de dados: muitos ficheiros áudio com perguntas sobre o estado do tempo ou muitas fotografias de gatos e cabras. Mas este tipo de dados nem sempre estão disponíveis com a quantidade e a qualidade necessárias, argumenta a empresária Daniela Braga. Foi isto que a levou criar a DefinedCrowd, em 2015. Braga estava então a trabalhar nos EUA, numa empresa de inteligência artificial especializada em voz. “Mesmo com um grande orçamento disponível, apercebi-me que não existia nenhuma empresa que oferecesse dados com a qualidade necessária, em tempo útil, e com escalabilidade”, explicou ao PÚBLICO, por email. Na altura, Braga – que é licenciada em língua e literatura portuguesa e tem uma tese de doutoramento na área do processamento de linguagem natural – começou a dar aulas na Universidade de Washington. “Foi aí que percebi que existia uma grande oportunidade de mercado numa área que de repente estava a ter uma grande adopção: a inteligência artificial. ” A DefinedCrowd foi criada em Seattle, mas a maior parte da empresa funciona em Portugal, onde estão cerca de 30 dos 40 funcionários. Esta semana, a startup conseguiu 11, 8 milhões de dólares (10, 2 milhões de euros) de investimento, numa ronda liderada pela firma de capital de risco Evolution Equity Parters, e na qual participaram também a EDP, a Portugal Ventures (que gere o capital de risco público), a Mastercard, a Amazon e a Sony, entre outros. Em 2016, alguns destes investidores, incluindo a Portugal Ventures, já tinham participado numa ronda de investimento mais pequena, em que a empresa conseguira 1, 1 milhões de dólares. E outros, como acontece com a Mastercard e a EDP, também estão na lista de clientes da startup. Uma parte do trabalho da DefinedCrowd implica analisar e catalogar dados para clientes. Em alguns casos, estas tarefas são feitas por pessoas que se inscrevem numa plataforma online da empresa e que são pagas por cada tarefa desempenhada. Tem cerca de 45 mil pessoas inscritas e é uma espécie de Amazon Mechanical Turk, a plataforma de biscates da Amazon, numa versão para serviços na área da inteligência artificial. A DefinedCrowd disse não conseguir quantificar quanto recebe cada uma destas pessoas, explicando que os valores variam consoante o tipo de tarefa. Mas frisou que tenta fazer com que os pagamentos fiquem ligeiramente acima do salário mínimo dos países dos utilizadores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Numa era em que a inteligência artificial se está a alastrar, este é um mercado com concorrência. A rival Figure Eight, por exemplo, que também se dedica a melhorar os sistemas de aprendizagem usados em tecnologias de inteligência artificial, foi fundada em 2007 em São Francisco, e conseguiu até agora 58 milhões de dólares de investimento, segundo a base de dados Crunchbase. Com a entrada de quase 12 milhões de dólares na conta da DefinedCrowd, Daniela Braga planeia duplicar o tamanho da empresa. E admite que o recrutamento, num sector onde a competição por pessoas é acesa, não será uma tarefa fácil: “Um dos nossos grandes desafios é a contratação de talento, uma vez que temos um plano de recrutamento bastante ambicioso – planeamos dobrar a equipa até ao final do ano. ”A empresa continuará a ter boa parte dos seus funcionários em Portugal, nota Braga. “Vamos focar grande parte deste recrutamento em Portugal, com cerca de 30 das 40 vagas entre os escritórios do Porto e Lisboa. ”
REFERÊNCIAS:
Como medicar-se com um ice cold toddy, filho da poncha e da cancha
Foi na Madeira que descobri que era impossível encontrar uma bebida mal feita ou mal servida. Todos os profissionais de hotelaria orgulhavam-se de servir bem e quase sempre a preços muito mais baixos do que em Lisboa. (...)

Como medicar-se com um ice cold toddy, filho da poncha e da cancha
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi na Madeira que descobri que era impossível encontrar uma bebida mal feita ou mal servida. Todos os profissionais de hotelaria orgulhavam-se de servir bem e quase sempre a preços muito mais baixos do que em Lisboa.
TEXTO: A primeira vez que provei whisky não sabia o que era. Sabia a fumo e a remédio. “O que é?”, perguntei à minha mãe. “Just drink it!”, respondeu com um sorriso, conselho que tenho seguido à letra toda a minha vida. Eu era uma criança constipada e aquele era o meu primeiro cocktail: um hot toddy, uma mistura de sumo de limão, mel e whisky, às vezes com uma aspirina dissolvida. Fast forward até 1985 e estou numa venda de Câmara de Lobos. Estava à espera de uma taberna mas estou numa loja com um grande balcão. Não está mais ninguém. Quando pergunto se posso beber uma poncha, o senhor ri-se para mim. É um pedido estranho. Agora a poncha não podia estar mais na moda, mas em meados dos anos 1980 era raro ver-se um turista do continente fora do vasto circuito de hotéis e bares do Funchal. Foi, aliás, na Madeira, porventura por ter mais um século de experiência turística do que Portugal continental, que descobri que era impossível encontrar uma bebida mal feita ou mal servida. Todos os profissionais de hotelaria estavam imbuídos do que só posso chamar brio — orgulhavam-se de servir bem e quase sempre a preços muito mais baixos do que em Lisboa. Na venda, o senhor não era excepção. Que poncha é que eu queria? A poncha de pescador, feita com aguardente de cana da Madeira. Enquanto fazia a poncha — leva tempo a dissolver o mel —, o senhor começou a ganhar balanço e a explicar-me que a verdadeira poncha leva água quente e é servida quente para aquecer a tripa nas madrugadas frescas. Orgulhava-se muito de usar só “mel de abelhas”, mostrando-me o frasco e tudo. Quando provei a poncha, a primeira coisa que me ocorreu foi a lembrança daquele hot toddy da minha infância. Este era um room temperature toddy mas a semelhança era evidente. É do mel de abelhas. Nos livros de cocktails é raro aconselhar-se trabalhar com mel, por causa do tempo que leva a dissolver. É por isso que se sugere fazer-se um xarope de mel. Pesa-se o mel e acrescenta-se o mesmo peso de água acabada de ferver. Pode fazer-se com metade do peso de água para ficar com um xarope de mel duas vezes mais concentrado. Mas não fica tão bem como o mel, nem de longe. Não sei porquê. Se calhar as bebidas beneficiam de serem mexidas durante tanto tempo. “Tanto tempo” é para aí um minuto e meio. As receitas que conheço aconselham a usar mel muito líquido (runny honey) mas, mais uma vez, isso é para poupar tempo e poder atender mais clientes e vender mais bebidas. O mel de que eu mais gosto cristalizou e não podia ser mais espesso. Claro que se dissolveu maravilhosamente. Deve-se sempre usar o mel mais saboroso que se tem. Há por aí mel muito líquido, muito barato e muito suspeito, adulterado com açúcar: compre o mel a um apicultor perto de si. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi nos anos 1980 que em Havana uma equipa de estudiosos redescobriu a canchánchara, uma bebida quente que os soldados cubanos bebiam de madrugada durante a Guerra dos Dez Anos contra os espanhóis (1868-1878). É o antepassado dos daiquiris e de todos os sours porque mistura aguardente de cana, lima e mel. Sim, é uma poncha. Sim, é um hot toddy. Claro que quando está calor a versão fria é mais deliciosa. A versão de que mais gosto é a canchánchara proposta pela Havana Club para o seu rum de sete anos. Este ano consegui comprar dois estojos desta marca que incluíam um copo especial (pesado e bulboso) para esta bebida. O nome da bebida foi sabiamente reduzido para cancha, sem acento. Estou a pesar os ingredientes porque permite maior precisão e melhor consistência (o número de gramas é igual ao número de mililitros). Eis os ingredientes:50 gramas de rum. Fica bem com o rum em questão mas também com outro rum envelhecido pelo menos três anos. Se o rum não for bom sozinho, acancha também não fica boa. 10 gramas de mel (ou xarope de mel, aguamiel)5 gramas de sumo de lima1 cunha de lima4 pedras de geloHá uma versão em que a bebida é esticada com água com gás mas eu gosto mais da versão original. Como o copo é robusto, mais parecendo um frasco, gosto de cortar uma lima inteira em quatro e, usando um pilão de caipirinha, amasso a lima (sobretudo a casca) no mel. Também gosto de aumentar a quantidade de sumo de lima (para 10 gramas) e baixar o mel (para 7 gramas). Mas isso são afinações. Embora asafinações sejam tudo, obviamente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra criança
A metáfora do crescimento em economia
Onde é que está o problema? É na metáfora do crescimento quando utiliza os números. (...)

A metáfora do crescimento em economia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-10-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Onde é que está o problema? É na metáfora do crescimento quando utiliza os números.
TEXTO: 1. O problema do desemprego não é apenas económico, custos, descontos, subsídios, sustentabilidade. É antes disso, chaga maior das sociedades, um problema político que tem a ver com o direito à vida de cidadãos, iguais a todos os outros perante a Lei, com o mesmo peso de voto em eleições. Esta consideração sobrepõe-se à primeira e é tida em conta na Constituição que propõe o pleno emprego (art. 58). Mas não passa dum desejo piedoso pela simples razão do discurso económico ser determinado por uma metáfora fatal que se impõe como uma evidência, tipo “não há dinheiro, qual destas palavras não compreende”? (Vítor Gaspar, ao tempo de ministro). Ora, a palavra que eu não compreendo é ‘crescimento económico’, quando ela é usada por toda a gente, à direita como à esquerda como condição essencial para criar emprego. 2. Nascer e crescer são as manifestações mais aparatosas da espantosa propriedade dos vivos que é a fecundidade, a generosidade da vida, o que os Latinos chamaram natura, de nascer, e os Gregos phusis, de phuô, crescer. Foi o que provocou o espanto dos seus pensadores, como do menos resulta o mais, que Aristóteles teorizou com a noção de ousia, substância e essência, dando assim o conhecimento de que a Europa se fez. É que tudo nasce pequenino e frágil (semente, ovo, embrião, bebé), arriscado, e depois crescem (livremente as plantas, os animais em proporção harmoniosa dos seus órgãos) até ganharem uma dimensão adulta, muito variável com as espécies (ervas, arbustos, árvores, animais sem e com vértebras) e nas mais complexas também com os indivíduos, mais altos ou baixos, fortes ou magros. O crescimento chega aos seus limites em extensão, nos humanos foi tempo de aprender os usos sociais, em seguida passa a ser de maturidade, densidade, para se exercer como adulto, ganhando experiência, conhecimento do mundo. 3. Do ponto de vista do crescimento social, nós Europeus temos duas tradições diferentes. A romana é um princípio antropológico de expansão e de conquista, é o princípio imperial cujas fronteiras dependem apenas da capacidade dos exércitos; também os princípios civis, o direito, a cidadania e a língua se estenderam aos povos bárbaros ocupados, os nossos antepassados lusitanos perderam a sua língua substituída pelo latim. A tradição grega é inversa, é um princípio antropológico de restrição às cidades, ‘naturais’ (Aristóteles contra Platão), sem Estado grego, criando no exterior colónias de cidadãos gregos que imitam a metrópole (Mileto, Éfeso, Siracusa), a sua língua vingou até hoje, apesar duma longa sujeição ao império otomano. Mas fecundou os bárbaros que não falavam grego, a começar pelos Romanos, com a cultura que resultou justamente desse princípio antropológico de restrição: duas invenções deles foram decisivas para a nossa modernidade: uma, juntamente com a do laboratório de Galileu, Newton e outros, foi a da definição, que estabelece limites a um só sentido essencial das palavras com que se argumenta, essências sem contexto nem tempo nem lugar nem sujeito, é aquilo a que chamamos razão. A outra, a democracia, foi o estabelecer limites políticos de razão à expansão das casas ricas em detrimento das pobres, cada uma tinha um voto na assembleia. 4. A terra, planeta de rochas, mares e atmosfera, de minerais inertes, não cresce; ora é de minerais que são constituídas as tecnologias, que têm assim os limites ecológicos de serem recursos da terra. Natureza de vivos tem como regra primeira a alimentação deles, as sociedades humanas têm como primeiro dever ecológico assegurar a alimentação dos seus cidadãos, os salários, o pleno emprego e o estado social, hoje também a preservação do ambiente dos vivos. Estas duas vertentes, a técnica dos engenheiros e os mercados dos economistas, ditam os limites ecológicos e sociais: se se entender o emprego como questão ecológica (à maneira da encíclica de Francisco), digamos que a economia e a ecologia deveriam fundir-se numa só ciência ‘eco’, a do crescimento económico e dos seus limites. 5. Onde é que está o problema? É na metáfora do crescimento quando utiliza os números. Estes servem para medir e contar, o tamanho dum garoto, 70 ou 90 cm, a idade, 4 ou 5 anos: é o garoto que cresce, uns números são maiores do que outros, mas nenhum cresce. E não têm limites, desde o zero ao oito deitado sem fim, como tem o crescimento, cujos limites são os daquilo que os números contam ou medem, vêm-lhes de fora, donde também vem o querer sempre números maiores. E como a economia só se conhece através de números, tratados metaforicamente, foi na sua vertente financeira, regulada por Roosevelt na crise dos anos 30 e desregulada por Reagan quando acelerou a electrónica e o respectivo desemprego (operários e escriturários), que a coisa se agravou com as novas velocidades: perdeu a sua relação às economias concretas e jogou a fundo com a busca de números maiores, com a cumplicidade dos actores sociais, especuladores e economistas, políticos e jornalistas, de todos os que se fascinam com números grandes ligados a dólares ou euros. Os números crescem nas imaginações, numa metáfora que serve de evidência ao paradigma dominante. Como também ‘crescem’ as coisas negativas, o desemprego, a pobreza, as desigualdades. Que serão ‘resolvidas’ com o crescimento da economia, dizem, sabendo ou não que nunca se chega ao patamar em que se acha que se cresceu, enfim. É esse o logro. 6. Se se partilhassem os empregos que há pelos que não o têm e se se levasse a sério as alterações climáticas, diminuiria eventualmente o PIB, aumentaria o emprego e a sustentabilidade das actividades humanas. As contas a fazer serão complicadas, mas para que é que serve a ciência ‘eco’nomia/logia?Filósofo
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei humanos cultura social pobreza desemprego
Fotógrafo consegue novas imagens de tribo amazónica isolada
Sabe-se muito pouco sobre esta tribo, estudada quase exclusivamente a partir de fotografias. Estas novas imagens vão ser analisadas por peritos e podem trazer mais informação sobre a tribo. (...)

Fotógrafo consegue novas imagens de tribo amazónica isolada
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sabe-se muito pouco sobre esta tribo, estudada quase exclusivamente a partir de fotografias. Estas novas imagens vão ser analisadas por peritos e podem trazer mais informação sobre a tribo.
TEXTO: Um fotógrafo brasileiro conseguiu fotos inéditas de uma tribo da Amazónia que vive em completo isolamento. Estas fotos mostram detalhes sobre estes índios até aí desconhecidos, como as pinturas corporais que usam e a maneira como cortam o cabelo. Esta tribo foi encontrada porque o helicóptero em que seguia Ricardo Stuckert, fotógrafo brasileiro, com destino ao Peru teve de fazer um desvio para evitar uma tempestade. Sobrevoando a floresta amazónica a baixa altitude, o fotógrafo conseguiu identificar um conjunto de cabanas de colmo – e o seu primeiro instinto foi fotografar: “Peguei na câmara e comecei a fotografar”, disse ao Guardian “Não tive muito tempo para imaginar o que estava a acontecer”. “Fiquei surpreendido”, contou Ricardo Stuckert ao PÚBLICO: "Em pleno século XXI, temos homens que já foram à Lua, mas ainda existe um povo que nunca esteve com o homem branco ou com índios de outras aldeias, com um mundo que não fosse o seu”. As fotografias, em alta resolução, mostram uma tribo que vive em total isolamento no estado do Acre. “Esta tribo já tinha sido fotografada, mas não com a qualidade das imagens que eu fiz por conta do alcance da lente que eu usava”, explica o fotógrafo. Ricardo Stuckert fotografa índios desde 1996 e estava em viagem para retratar outra tribo para o livro Índios Brasileiros. Seguia no helicóptero com um especialista em tribos indígenas brasileiras, José Carlos Meirelles. O especialista, que estuda estas tribos há 40 anos, identificou esta em 1980, enquanto sobrevoava o local, num voo da BBC. Sobre eles, não se sabe muito e estas novas imagens, em alta definição, vão ser estudadas por peritos. Para já, sabe-se que a forma elaborada como pintam os corpos e cortam os cabelos são novidade: “Pensávamos que cortavam o cabelo todos da mesma maneira”, disse José Carlos Meirelles à National Geographic. “Não é verdade. Pode ver-se que têm vários estilos diferentes. Alguns são muito alternativos”. Caçam, pescam e cultivam bananas, batata-doce, mandioca e amendoins. Usam alguns utensílios de metal para cozinhar e preparar a terra. No entanto, não se sabe em que língua falam nem quem são. “Quando fiz o registo dos isolados estava acompanhado do sertanista [nome dado a quem participa em expedições para explorar o território brasileiro] José Carlos Meirelles que ressaltou, em diversos momentos, a importância de divulgar tais imagens. Como disse em diversas ocasiões: ‘o mundo precisa saber que eles existem e que precisamos de políticas para conservá-los’”, lembra Stuckert. O fotógrafo conta que Meirelles defende essa tese devido às constantes ameaças que as tribos isoladas sofrem na região: os madeireiros e garimpeiros invadem o seu espaço em busca de lucro e matérias-primas. No entanto, para Meirelles, saber onde essas tribos estão localizadas e divulgar essa informação já é meio caminho andado para dissuadir esse tipo de comportamentos. “Quando as pessoas sabem que esses índios existem, esses madeireiros, cocaleiros e garimpeiros não invadem o território dos índios por medo de represálias”, explica o fotógrafo. “Não penso fotografá-los novamente”, afirma Ricardo Stuckert. Apesar do seu fascínio pela “beleza, brasilidade, pureza e inocência dos índios” o fotógrafo diz que só está a pensar nas imagens que foram feitas agora. Quanto à repercussão destas imagens, Stuckert diz que foram “diversas”: “Muitas pessoas elogiaram, outras nem tanto. Faz parte”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas a importância destas fotografias, para ele, é enorme: “Eles foram os primeiros povos que habitaram o meu país. Devemos-lhes tudo. Os índios são os guardiões da floresta, da terra, dos rios, dos mares. A nossa dívida para com eles é imensa”. Esta tribo começou a ganhar atenção mediática quando a Fundação Nacional do Índio brasileira divulgou, em 2008, imagens deles tiradas de outro avião que os sobrevoou a baixa altitude. Texto editado por Hugo Daniel Sousa
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens homem medo
Laranja Mecânica, Die Hard ou Até à Eternidade: 45 guiões para download gratuito
Associação de guionistas disponibiliza gratuitamente argumentos de filmes clássicos e blockbusters, de Armageddon a Heat - Cidade Sob Pressão, passando por Matrix ou Indiana Jones. (...)

Laranja Mecânica, Die Hard ou Até à Eternidade: 45 guiões para download gratuito
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.054
DATA: 2018-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Associação de guionistas disponibiliza gratuitamente argumentos de filmes clássicos e blockbusters, de Armageddon a Heat - Cidade Sob Pressão, passando por Matrix ou Indiana Jones.
TEXTO: O cinema é o meio dos realizadores, diz-se, mas os seus guiões são parte essencial da sua história e agora 45 argumentos de filmes populares, de culto ou de géneros tão variados quanto o terror e a animação estão disponíveis online de forma gratuita. A Shore Scripts, uma associação de guionistas norte-americanos e britânicos, oferece agora gratuitamente parte da sua biblioteca para ajudar a “fazer crescer a voz” dos argumentistas que queiram ler os originais de Laranja Mecânica, Die Hard, Goodfellas, Até à Eternidade, Matrix ou mesmo Armageddon e Comando. “A única forma de nos tornarmos em escritores verdadeiramente bons é aprender com os mestres”, escreve a associação no seu site, apresentando a iniciativa que disponibiliza cinco guiões de cada género – terror, animação, drama, crime, romance, acção, ficção científica, thriller e comédia – no âmbito da sua oferta mais alargada de dicas e vídeos sobre como promover um guião, como ser mais produtivo ou melhorar diálogos. Os géneros que escolheram são categorizados como “pilares” e justificam a diversidade que vai de filmes aclamados pela crítica ou clássicos até blockbusters e filmes de culto mais ou menos comerciais. A ideia é que estes guiões sejam usados como “recurso”, “referência”, “inspiração e motivação” para que os argumentistas ou estudantes possam com isso melhorar a sua voz individual e escrita própria. Entre os guiões agora disponibilizados no seu inglês original estão obras de Stanley Kubrick, Lawrence Kasdan e George Lucas (Indiana Jones e Os Salteadores da Arca Perdida), Nicholas Pileggi e Martin Scorsese (Goodfellas - Tudo Bons Rapazes), Tina Fey (Giras e Terríveis) ou Michael Mann (Heat). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lista completa faz-se então de Capote, O Último Samurai, Munique, 8 Mile, Diamante de Sangue no drama, Tudo Bons Rapazes, Anatomia de um Crime, Brick , Heat - Cidade Sob Pressão e À Beira do Abismo no crime e Armageddon, Comando, Assalto ao Aeroporto, O Fugitivo e Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida na acção. No romance figuram Alguém Tem que Ceder, Guarda-Costas, Até à Eternidade, O Amor é um Lugar Estranho, Um Amor Inevitável e na ficção-científica Equilibrium, Robocop, Laranja Mecânica, Matrix e Regresso ao Futuro II. O thriller preenche-se com Sala de Pânico, Colateral, O Candidato da Verdade, Jogo de Lágrimas e Hotel Ruanda e o terror com Os Pássaros, Poltergeist, o Advogado do Diabo, The Omen - O Génio do Mal e O Renascer dos Mortos. Os filmes de animação cujos guiões estão disponíveis são O Gigante de Ferro, O Rei Leão, Toy Story 3, Pateta - o Filme e A Tartaruga Vermelha e a comédia faz-se de O Virgem de 40 Anos, A Família Addams, Kiss Kiss Bang Bang, Legalmente Loira e Giras e Terríveis.
REFERÊNCIAS:
Cinema King, em Lisboa, deve fechar no domingo
Actualização do valor da renda ditou encerramento do espaço. Os postos de trabalho estão garantidos. (...)

Cinema King, em Lisboa, deve fechar no domingo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Actualização do valor da renda ditou encerramento do espaço. Os postos de trabalho estão garantidos.
TEXTO: O cinema King, em Lisboa, deverá encerrar no domingo e os sete trabalhadores serão colocados noutras duas salas de cinema da mesma exibidora, disse à agência Lusa fonte sindical. Contactado pela Lusa, o exibidor e produtor Paulo Branco, da Medeia Filmes, remeteu esclarecimentos para segunda-feira, numa conferência de imprensa nas instalações do cinema. No início de novembro, Paulo Branco tinha admitido que a decisão de encerramento do cinema estava em cima da mesa, por causa de uma proposta de actualização do valor da renda por parte do proprietário do espaço, mas que os postos de trabalho estavam garantidos. Fonte do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual disse nesta quinta-feira que os trabalhadores foram informados que o cinema irá fechar no domingo e que serão recolocados nos cinemas Fonte Nova e Nimas, também da Medeia Filmes, ambos em Lisboa. O cinema King, que integra duas salas - chegou a ter três em funcionamento - para exibição sobretudo de cinema de autor, é gerido desde 1990 pela exibidora de Paulo Branco, no espaço onde antes funcionou o cinema Vox, inaugurado em Abril de 1969. Além do Fonte Nova e Nimas, a Medeia Filmes detém ainda o cinema Monumental, também em Lisboa, e tem programação no Cine Estúdio Teatro do Campo Alegre, no Porto, Auditório Charlot, em Setúbal, no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, no Theatro Circo de Braga e no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De acordo com dados do Instituto do Cinema e Audiovisual, até Outubro a exibidora Medeia Filmes contabilizou 186. 367 espectadores. Em 2011, Paulo Branco encerrou os cinemas Saldanha Residence, que funcionavam praticamente em frente ao cinema Monumental, deixando nove pessoas sem trabalho. Este ano, a rede de exibição de cinema em Portugal sofreu uma mudança depois da exibidora Socorama ter aberto falência, fechando algumas das salas que detinha (mais de cem) de norte a sul do país, incluindo o cinema Londres, em Lisboa. Algumas dessas salas de cinema, em particular as que estão localizadas em centros comerciais, têm estado a reabrir gradualmente por iniciativa da exibidora brasileira Orient.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo circo
Novo filme de Godard e integral Straub-Huillet abrem temporada da Cinemateca
Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, mas também António Loja Neves e Joana Pimentel, todos desaparecidos este ano, serão outros nomes a homenagear a partir do dia 1 de Setembro. (...)

Novo filme de Godard e integral Straub-Huillet abrem temporada da Cinemateca
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.068
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, mas também António Loja Neves e Joana Pimentel, todos desaparecidos este ano, serão outros nomes a homenagear a partir do dia 1 de Setembro.
TEXTO: O mais recente filme de Jean-Luc Godard, O Livro de Imagem, em Lisboa, vai abrir a próxima temporada da Cinemateca Portuguesa, no próximo dia 1 de Setembro, anunciou a instituição esta quarta-feira. A "retrospectiva integral" dos cineastas Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, a evocação do trabalho dos realizadores Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, que morreram recentemente, Histórias do Cinema, em sessões com o crítico e historiador Bernard Eisenschnitz, o centenário de Rita Hayworth e parcerias com os festivais Queer e Motelx dão corpo à programação do primeiro mês da temporada 2018-19 da Cinemateca. Esta, no entanto, define-se também com as homenagens ao crítico e realizador António Loja Neves, que morreu em Maio, e à investigadora Joana Pimentel, do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), que morreu em Junho, e conta ainda com a edição dos textos sobre cinema escritos pelo antigo director da Cinemateca João Bénard da Costa para a instituição e para os ciclos da Fundação Calouste Gulbenkian. A temporada abre no sábado, 1 de Setembro, com uma única sessão, dedicada a O Livro de Imagem, o novo filme de Godard, "uma reflexão sobre o cinema e o estado do mundo", sob a ameaça da guerra. Palma de Ouro Especial no último Festival de Cannes, onde foi estreado, em Maio, o filme teve ainda poucas projecções públicas, segundo a Cinemateca, e esta é a primeira portuguesa. As sessões regulares da Cinemateca começam na segunda-feira, 3 de Setembro, com os primeiros filmes dos ciclos dedicados a Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, assim como a Rita Hayworth. Da actriz serão exibidos Gilda, de Charles Vidor, Paraíso Infernal, de Howard Hawks, Salomé, de William Dieterle, A Dama de Xangai, de Orson Welles, e Uma Loira com Açúcar, de Raoul Walsh, em sessões que se estendem até dia 14. A homenagem a Milos Forman, Ermano Olmi e Nelson Pereira dos Santos atravessa o mês, com testemunhos de cerca de 50 anos de cinema, dos primeiros filmes do realizador de Amadeus, rodados ainda na antiga Checoslováquia, como O Concurso e Amores de Uma Loira, ao mais recente do mestre do neo-realismo italiano, Vedete, suono uno di voi, concluído no ano passado, sem esquecer "títulos fundamentais" do cinema brasileiro como Vidas Secas. Os Amores de Uma Adolescente, Voando Sobre Um Ninho de Cucos e Hair são outros filmes de Milos Forman a exibir, a que se juntam O Emprego, Os Noivos e A Árvore dos Tamancos, de Olmi, Rio Zona Norte, Boca de Ouro e Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos. A retrospectiva dedicada a Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (1936-2006) – "uma das mais radicais [obras] do cinema moderno" – prolongar-se-á pelo mês de Outubro, e abre no dia 3 de Setembro, com Sicília. O filme é mostrado com 6 Bagatelas, de Pedro Costa, seis cenas que o realizador português captou, durante a montagem de Sicília, e que constitui o primeiro de seis documentários sobre o trabalho de Straub-Huillet a exibir na retrospectiva: Onde Jaz o Teu Sorriso?, também de Pedro Costa, Une vie risquée, de Jean-Claude Rousseau, Straub e Huillet a Trabalharem num Filme, de Harun Farocki, Scicilia si gira, de Jean-Charles Fitoussi, e Defesa do Tempo, de Peter Nestler. Dos filmes iniciais de Straub – Não reconciliados ou só a violência ajuda onde a violência reina e O Noivo, a Actriz e o Proxeneta –, a Les Gens du Lac, concluído este ano, serão mostrados mais de 50 filmes, num percurso de mais de meio século de cinema. A Pequena Crónica de Anna Magdalena Bach, sobre o compositor alemão, Os olhos não querem estar sempre fechados (citação de Othon, de Corneille, que é um filme de Straub e o título da mostra), Introdução à 'Música de acompanhamento para uma cena de cinema' de Arnold Schoenberg, Os Cães do Sinai, Trop Tôt, Tro Tard, Operários-Camponeses e a sua continuação (e final) Humilhados. . . estão entre os filmes de Straub-Huillet a exibir em Setembro, assim como Relações de Classe e Europa 2005. O ciclo Histórias do Cinema vai decorrer nos dias 24 a 27, com filmes de Jean Vigo (O Atalante), Robert Bresson (O Carteirista), Ingmar Bergman (Na Presença de um Palhaço), Orson Welles (Othello) e Charles Laughton (A Noite do Caçador), a par de documentários que localizam a história destas produções. Sessões deste ciclo serão acompanhadas por Bernard Eisenschitz, crítico e historiador ligado à Cinemateca Francesa e aos Cahiers du Cinéma, que também apresenta Tournage d'Hiver, no qual reconstrói a concepção de O Atalante. A homenagem a Joana Pimentel tem lugar no dia 6 de Setembro, com a exibição de Viagem a Angola, de Marcel Borle, um filme de 1929, restaurado pela instituição portuguesa. António Loja Neves é recordado no dia seguinte, com a projecção de O Silêncio, documentário concluído no ano passado, sobre a resistência dos habitantes de Cambedo da Raia, perto de Chaves, às ditaduras de Espanha e do Estado Novo, de Salazar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Setembro, a Cinemateca retoma a double-bill das tardes de sábado – com filmes de Joseph Losey, Josef von Sternberg, Joshua Logan, Frank Borzage, Jean Renoir e Jorge Silva Melo – e as sessões na esplanada, com o Motelx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, em torno de Frankenstein, nos 200 anos do romance de Mary Shelley. Em colaboração com o Queer Lisboa, a Cinemateca programou um ciclo em torno do vírus da sida, com títulos como Kids, de Larry Clark, e E agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto e Nuno Leonel. A apresentação dos textos de João Bénard da Costa (1935-2009) realiza-se no dia 29 de Setembro, quando passam 60 anos sobre a primeira sessão da Cinemateca, no Palácio Foz, em Lisboa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência ajuda adolescente corpo cães
PS quer primárias nos grandes municípios onde não haja consenso sobre candidato
Sociais-democratas afastam adopção desta solução aberta a simpatizantes. (...)

PS quer primárias nos grandes municípios onde não haja consenso sobre candidato
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.207
DATA: 2017-03-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sociais-democratas afastam adopção desta solução aberta a simpatizantes.
TEXTO: O PS pondera estender aos municípios com mais de 100 mil habitantes onde não haja consenso quanto à escolha dos seus candidatos nas autárquicas do próximo ano a solução das primárias que usou para eleger o seu candidato a primeiro-ministro. Matosinhos é um dos concelhos onde pode haver primárias, abertas a simpatizantes. Já o PSD - outro grande partido autárquico – afasta a possibilidade de primárias para a escolha de candidatos autárquicos, mostrando-se fortemente empenhado em mobilizar o partido para o combate das eleições locais que Pedro Passos Coelho já disse querer vencer, para reconquistar a liderança da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP). “Tenho muita expectativa que, finalmente, seja possível transferir para a esfera local um modelo que foi usado na escolha do candidato do PS a primeiro-ministro. Acho que, depois de termos dado o primeiro passo, não faz sentido que não sejamos capazes de dar passos subsequentes”, afirma o dirigente nacional e líder do PS-Porto, Manuel Pizarro. A pouco mais de um ano das autárquicas, o PS prepara uma estratégia que evite quaisquer deslizes a nível do processo eleitoral, porque tem consciência de que este combate terá sempre leituras nacionais. Mas evitar que as autárquicas se convertam num referendo à governação é a grande aposta do secretário-geral socialista e primeiro-ministro, António Costa. Empenhado numa vitória eleitoral que “será essencial para a estabilidade política e para a consolidação do programa de mudança que o PS lidera no país”, Manuel Pizarro sublinha que “não deve ser o PS a gerar a instabilidade. Isso não será compreensível pelos eleitores e não terá nenhuma vantagem nem para o PS nem para as comunidades locais”. Ao mesmo tempo, o dirigente nacional acentua que “gostaria de ver consagrado o princípio de, em algumas circunstâncias, poder recorrer a eleições primárias para escolher candidatos ou soluções políticas que o PS venha a consagrar”. Pizarro explica, em declarações ao PÚBLICO, por que razão defende primárias para os municípios com 100 mil habitantes. “Muitas vezes a realização de eleições deste tipo em municípios de menor densidade populacional serve mais para estimular conflitos locais do que para encontrar verdadeiramente uma solução galvanizadora do conjunto das pessoas e vencedora”, diz o também vereador da Câmara do Porto, afastando qualquer “vantagem” de primárias nestes concelhos. Questionado se o partido se inclina para fazer primárias em Matosinhos, Manuel Pizarro é taxativo: “Acho que era uma bela solução, que houvesse uma legitimação de primárias de um candidato à Câmara de Matosinhos”. “Era uma solução que me agradaria muito”, acentua, sem fazer nenhuma alusão a nenhum dos possíveis candidatos que se perfilam para avançar. A deputada Luísa Salgueiro, o presidente da concelhia do PS-de Matosinhos, Ernesto Páscoa, e António Parada, adjunto do secretário de Estado das Pescas, são os três nomes na calha para disputar a presidência da Câmara de Matosinhos, um concelho que foi um bastião do PS até às últimas eleições autárquicas, em que o socialista Guilherme Pinto, sem apoio do partido, foi reeleito como independente. Mas a probabilidade de as eleições primárias abertas a simpatizantes poderem estender-se também ao Porto não está completamente afastada. Há socialistas que defendem uma candidatura própria em nome do partido, mas há quem entenda que o PS deve apoiar o independente Rui Moreira com quem tem um entendimento político. É aqui que as primárias podem fazer sentido. O líder da maior distrital argumenta que o “PS foi o único partido da sociedade portuguesa que realizou primárias” e que isso é vantajoso. “Nós podemos reproduzir nessas primárias o essencial das regras que foram validadas nas eleições para a escolha do primeiro-ministro. Manifestamente funcionaram bem do ponto de vista da correcção dos procedimentos e do ponto de vista da participação das pessoas”. Sublinhando que os “procedimentos servem para resolver e não para criar problemas”, Manuel Pizarro declara ainda que “um partido como o PS não pode ter medo das pessoas quando se trata de escolher os seus candidatos”. E remata com uma ideia em jeito de desafio: “Não vejo que ninguém possa querer ser candidato do PS a uma qualquer autarquia de grande dimensão e ter medo de enfrentar a escolha dos cidadãos numas primárias”. Em vésperas do congresso nacional do PS, agudizam-se as fracturas internas nas concelhias socialistas de Barcelos e de Vizela, no distrito de Braga. O clima de crispação que se vive nestas duas concelhias tem a ver com as eleições autárquicas. O até agora vice-presidente da Câmara de Vizela, Vitor Hugo Salgado, que se incompatibilizou com o actual presidente, Dinis Costa, apresentou esta terça-feira à noite a sua candidatura à câmara. A seu lado, estava o actual presidente da Assembleia Municipal de Vizela, o independente Fernando Carvalho, que será o candidato àquele órgão na lista de Vitor Hugo Salgado, em 2017. O autarca, de 39 anos, a quem o presidente da câmara retirou há três semanas a confiança política e os pelouros, quer avançar com o apoio do partido, mas admite ir a votos como independente, caso o PS não tome uma posição favorável em relação à sua candidatura. “Vou aguardar que o PS se pronuncie sobre esta matéria até ao segundo semestre deste ano. Se o PS não o fizer, avanço como independente”, declarou ao PÚBLICO. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Vitor Hugo Salgado aponta duas razões para se candidatar à câmara: “O descontentamento generalizado dos vizelenses e a perda de influência do PS no concelho”. “Há dez anos, o PS tinha resultados na casa dos 60% nas legislativas e nas autárquicas; agora nas últimas eleições legislativas ficou-se pelos 37% e a nível das autárquicas pelos 48%”, contabiliza o vereador sem pelouros, afirmando que, se “não houver uma candidatura alternativa à do actual presidente, o PS perde as eleições”. Em Barcelos, a fractura é também entre o actual presidente, Miguel Costa Gomes, e o seu ex-vice-presidente e líder da concelhia do PS, Domingos Pereira. O também deputado queixa-se que o presidente da câmara lhe retirou os pelouros, comunicando-lhe a decisão por email. Para já não quer falar das razões que estão por detrás desta decisão, mas garante que ela tem a ver com as eleições locais do próximo ano. “Isto aconteceu quando estava a ser desencadeado o processo de escolha do candidato às próximas eleições na concelhia”, sublinha, afastando o cenário de eleições intercalares. A federação distrital de Braga do PS, liderada, por Joaquim Barreto, mantem o silêncio sobre o clima de guerrilha que se vive nas concelhias de Barcelos e Vizela.
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“Vi uma pessoa sair do carro com a roupa a arder. Por que é que eu me fui salvar?”
Mário mandou a mulher e as filhas fugir do fogo e viu-as morrer. Em Várzeas, Pedrógão Grande, há uma casa com a mesa posta para nove pessoas que ninguém sabe onde estão. E há quilómetros e quilómetros de terra carbonizada e sobreviventes desorientados. (...)

“Vi uma pessoa sair do carro com a roupa a arder. Por que é que eu me fui salvar?”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mário mandou a mulher e as filhas fugir do fogo e viu-as morrer. Em Várzeas, Pedrógão Grande, há uma casa com a mesa posta para nove pessoas que ninguém sabe onde estão. E há quilómetros e quilómetros de terra carbonizada e sobreviventes desorientados.
TEXTO: Mário Pinhal, um dos poucos sobreviventes da “estrada da morte”, onde o fogo de Pedrógão Grande deixou dezenas de pessoas carbonizadas, recua até ao momento em que tomou a pior decisão da sua vida. “Quando me apercebi que o incêndio era muito violento e que os eucaliptos estavam a tombar e a serem sugados pelo fogo, disse para a minha mulher: ‘Prepara as miúdas e agarra no carro que têm que sair daqui para fora’. ”Este “daqui para fora” refere-se a uma casa nova, no lugar das Várzeas, com vista privilegiada sobre um monte reduzido a cinzas ainda fumegantes. O eucaliptal tombado, a vegetação seca do calor, casas e carros ardidos. Mas a casa de Mário, da mulher e das filhas, Margarida e Joana Pinhal, não chegou a ser tocada pelas chamas. “Por que é que não as mandei fecharem-se na cave? A casa é nova e teria aguentado. ” A mulher obedeceu e saiu com as filhas, de 12 e 15 anos, Mário seguiu noutro carro, com os pais e uma tia. O que aconteceu a seguir foi o inferno em meia dúzia de metros. “A Suzana, a Joana e a Margarida morreram na estrada. A mesma onde andei também eu para a frente e para trás ao longo de uns 500 metros. Vi carros desfeitos, fiz marcha atrás, mas abalroaram-me. Vi uma pessoa a abandonar o carro com o cabelo a arder, a roupa a arder. O carro que nos tinha abalroado ficou em chamas. No carro onde estava, os retrovisores começaram a derreter. Quando conseguimos sair, já estavam os carros todos a arder. Os pneus explodiam. Acho que fomos os únicos quatro sobreviventes daquele monte de carros ardidos. Infelizmente. . . Devia tê-las fechado dentro de casa. ”Enquanto Mário recua até ao momento em que tomou a pior decisão da sua vida, o seu pai, braço enfaixado e cabeça coberta por um enorme adesivo, vai balbuciando. “Tinham uma vida linda, feliz. ” Mário concorda. “Já só faltava construir uma piscina para termos aqui uma casa como queríamos, para as férias e os fins-de-semana. As minhas filhas adoravam vir para cá. ” E agora? “Estou a pensar cremar — acabar de cremar — a minha mulher e as minhas filhas para ficar com os restos mortais. Aqui ou na Póvoa de Santa Iria, onde morávamos, estarão sempre perto de mim. ”Está Mário a remoer os seus mortos, sozinho entre as oliveiras chamuscadas do seu quintal, e estão os outros todos a chorar o mesmo. A terra ainda queima. Sobe-se pela Rua do Quebra-Costas, onde há uma casa de xisto esventrada pelo fogo, e vai-se dar a um largo onde jaz uma carcaça de uma carrinha ardida. Há silêncio a agravar o manto negro que cobre quase tudo, casas que escaparam impunes e outras que ficaram completamente destruídas. Liliana Coelho, rabo-de-cavalo, top preto, ar de não ser daqui, assoma à porta da sua casa e explica. “Não foi um incêndio de propagação normal. Havia setas de lume e só depois é que veio o fogo. Por volta das 19h30, ficou de noite. Ouviu-se um barulho, tipo furação, e começou a rebentar tudo. Foi como um tornado que levava coisas a arder lá dentro. ” Numa das casas parcialmente ardida está uma mesa posta para nove pessoas. Ontem à tarde, ainda ninguém sabia onde estariam. “Tivemos cá cinco mortos confirmados e estas nove pessoas desaparecidas que ainda ninguém sabe onde estão. ”A GNR já por cá passou a perguntar nomes e moradas. A contabilidade deste fogo continuará a fazer-se ao longo dos próximos dias. Por enquanto, o que se vê quando se percorre estes lugares são quilómetros de árvores carbonizadas. Terra preta, ainda a fumegar, ainda a queimar os pés, gado queimado em currais reduzidos a escombros. Vinhas com folhas que se desfazem em pó, quando apertadas entre as mãos. No caminho que conduz a Nodeirinho, onde terão morrido 11 pessoas, Amadeu Gomes olha ensimesmado as duas carcaças automóveis que cortam a estrada. Num dos carros, que chegou a ser seu, seguiam o genro e um sobrinho deste, com quatro anos. Morreram, tal como o casal que seguia no outro carro. “Um deles ficou ali muitas horas. Um bocadinho de pessoa. Só se reconhecia o osso das costas. O meu genro vinha de cima, a fugir do fogo, o outro carro vinha de baixo, também a fugir do fogo; bateram ali. ”Nenhum escapou. O genro, Cid Belchior, e o seu sobrinho, Rodrigo, tinham ido vigiar o andamento do fogo para avaliar se partiam ou se ficavam. “Eles viviam em Lisboa, na freguesia de Santa Clara, mas tinham vindo passar uns dias. Os pais do menino tinham ido de lua-de-mel para S. Tomé e Príncipe e o menino preferiu ficar com o tio. Eram muito amigos. Para onde ia um ia o outro também. A minha filha tinha casado há três anos e estavam a fazer tudo para me dar um neto. E agora acontece isto. . . ”, situa. Explica ainda que os pais do menino chegaram esta manhã, de emergência. “A minha filha salvou-se porque ficou em casa, mas está diminuída. ”Daqui a nada chega um reboque para levantar os carros e desimpedir a estrada. “Já é o quarto”, atira o condutor do reboque. “Vão aí 23 mil euros”, responde Amadeu Gomes, apontando o carro. A tarde mal começou. O PÚBLICO pergunta ao condutor do reboque se tem mais pedidos. “Ai, Jesus”, despacha, perante a redundância da curiosidade. Basta andar por estas estradas para perceber. Na casa de José Carlos, 46 anos, arderam o camião de transporte de madeira, o tractor, “as ferramentas todas do trabalho”, como conta o empresário que, há um ano, investiu o que tinha e o que não tinha numa empresa de exploração florestal. Estão sentados, empresário e filho, no degrau de acesso à casa. E a casa é uma construção cinzenta no meio de um manto negro. Os vidros das janelas partiram com o calor. “O que as salvou, à minha mulher e à minha filha, foi que tiveram cabeça para se enfiar na cave. ” José Carlos, que saíra para recolher um tractor e que ficou ele próprio cercado pelas chamas durante várias horas, ainda aproveita para perguntar se sabemos se haverá ajudas financeiras a quem ficou sem nada. Depois, envergonha-se. “Bem, aquilo que eu mais temia que acontecesse não aconteceu. Outros estarão pior. . . ”. Na Travessa Hortas da Adega, no lugar de Mosteiro, António Rosa e Carminda Bernardes recolhem água de um regato com um balde sem se perceber muito bem para quê. O gado que tinham morreu. Uma mula, éguas, ovelhas. O tractor, o motor de rega, a debulhadora arderam. Onde havia tronchudas, feijões e espigas há cinzas fumegantes. Não há comida para os animais que escaparam nem para o casal que julgou não sobreviver para contar esta história. “Não acreditava que o mundo podia acabar em chamas mas agora vejo que pode acontecer”, diz António Rosa, 77 anos. “O fogo saltava que metia respeito e a gente nem água tinha para lhe pôr a mão em cima. Um fumo negro, negro, negro que a gente queria mexer-se e não era capaz. Estou toda queimadinha, mas nem senti o fogo a agarrar-se a mim”, recorda Carminda Bernardes. E arregaça mangas e calças para mostrar as pernas e os braços a pedirem olhar médico. A aflição maior do casal foi não saber da sua filha que, por não aguentar o fumo, tinha sido mandada para casa. “Fiquei maluca de todo. Até o frigorífico comecei a esvaziar para ver se ela não se teria metido lá dentro. E a gente não tinha a quem perguntar. ” Foram horas a desafiar chamas e cortes de estrada até conseguirem localizá-la, em Avelar, no concelho de Ansião, para onde fora conduzida pelos bombeiros. “É que a gente nem telefone tinha para perguntar. ” O marido, ensimesmado, procura olhar para a frente e não consegue. “Como é que vamos reerguer isto tudo? É uma vida inteira toda estragadinha. . . ”No lugar das Troviscas, na freguesia de Pedrógão, ainda não passaram bombeiros. Apenas umas carrinhas das misericórdias a oferecer água e bolachas e a procurar sinalizar pessoas que precisem de assistência hospitalar. “Está tudo bem”, despacha Margarida Crespo. Está com o marido, o filho e a sogra no largo a dar de beber aos cães. O marido, que passou a noite preso num barracão rodeado por chamas, escapou à força de apagar as chamas que ameaçavam os fardos de palha e as alfaias agrícolas com panos molhados. “Foi a noite toda nisso. ” E chora. Com ele chora o filho também que julgara ficar sem pai. Abraçam-se todos, a sogra a ameaçar soçobrar. É Margarida que trata de os mandar procurar as ovelhas que não morreram. “É preciso dar-lhes água. A comida. . . não sei. Não há. ” E, voltada para a equipa do PÚBLICO: “Se não aproveitarmos esta tragédia para juntar os terrenos e fazer um ordenamento, daqui a dez anos estaremos de novo a lutar contra o fogo. E aí não sei se escaparemos. Mesmo agora, se forem por aí fora. . . ”Por aqui fora houve gente a fazer-se às brasas de pés descalços. Sem telefones. Sem bombeiros. “O fogo andava aí e ninguém aparecia para ajudar. O velhote ali de cima apareceu aqui já com a roupa a arder. Os pés descalços, queimados. ” Terá sido encaminhado, muitas horas depois, para o hospital em Coimbra. “Gritava ‘Acudam-me, acudam-me que me deixam aqui a morrer. Mas a gente não lhe conseguia deitar a mão”, desculpa-se Silvinda Antunes. Tem 87 anos, “um aparelho plantado na coluna que se fendeu”, mexia-se o suficiente apenas para tratar da horta. “Agora fiquei sem uma folhinha verde para botar na panela. É uma dor na alma. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na cabeça do alemão Gunnar Pfabe, fixado há oito anos em Troviscais, as fronteiras vão muito além de Pedrogão Grande. As preocupações, porém, não são menores. “Comprámos um terreno para vender, perto do rio, mas agora tudo isto perdeu valor. Tinha holandeses e ingleses interessados, mas agora a zona vai ficar com muito má reputação”, lamenta-se o promotor imobiliário. Anda num carro, de mala aberta para o cão poder respirar, a fazer o reconhecimento dos estragos. “As televisões na Alemanha e na Áustria estão a falar deste fogo. Agora, cada estrangeiro que ouça falar de Pedrogão Grande tem a imagem do fogo. Isto era um paraíso, quase a única região de Portugal onde se podia comprar um terreno a preços humanos. Agora. . . Tantos mortos. Porra. . . ”, pragueja, deixando no chão a placa de madeira com o seu número de telemóvel sob a inscrição “Vende-se”. Não se há-de vender tão cedo. Até porque as contas mais urgentes para fazer por estes lugares são ao número exacto de mortos e desaparecidos: 64 e 135, segundo o último balanço. Sem mulher nem filhas ao lado, Mário Pinhal não esconde que não se importava de estar neste rol. “Vi uma pessoa a abandonar o carro com a roupa a arder, o cabelo a arder. Por que é que eu me fui salvar?”Nota do director: A entrada deste texto foi alterada, face às críticas que gerou entre muitos leitores. Como o texto da Natália conta extraordinariamente bem, a dor de Mário com a morte da sua família não é mensurável - e nunca lhe poderia ser atribuída uma responsabilidade pelo que aconteceu. Como o texto da Natália explica, Mário tentou salvar a mulher e filhas até ao último segundo das suas vidas. Por respeito a estas vítimas, por respeito à dor que todos sentem, não quisemos deixar qualquer dúvida sobre isto. As nossas desculpas a quem tenhamos ofendido.
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