Portugal afastado do Rugby Europe Championship
Sem ter que fazer um bom jogo, a Roménia não teve qualquer dificuldade para derrotar uma inexperiente selecção nacional de râguebi. (...)

Portugal afastado do Rugby Europe Championship
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sem ter que fazer um bom jogo, a Roménia não teve qualquer dificuldade para derrotar uma inexperiente selecção nacional de râguebi.
TEXTO: A exibição da Roménia foi medíocre, mas chegou e sobrou para vencer com facilidade Portugal no play-off de acesso ao Rugby Europe Championship. Em Baia Mare, na Transilvânia, a selecção nacional de râguebi apresentou-se num jogo importante - estava em causa o regresso ao principal escalão das provas organizadas pela Rugby Europe -, com uma equipa inexperiente e a diferença final de 30 pontos (36-6) acaba por ser um resultado muito simpático para o conjunto liderado por Martim Aguiar. A missão era quase impossível e, sem surpresa, Portugal terá que competir no próximo ano mais uma vez no Rugby Europe Championship, prova na qual terá pela frente a Holanda, a Suíça, a Polónia, a Lituânia e a República Checa, selecções com pouca qualidade e que não vão permitir que o râguebi português tenha jogos internacionais a um nível competitivo elevado. 1 - José Lupi, 2 - Nuno Mascarenhas, 3 - Diogo Hasse Ferreira, 4 - Salvador Cunha, 5 - José D’Alte, 6 - Salvador Vassalo, 7 - David Wallis, 8 - Francisco Sousa, 9 - João Belo- 10 - Jorge Abecasis (3), 11 - Pedro Silveiro, 12 - Tomás Appleton, 13 - Vasco Ribeiro, 14 - Rodrigo Freudhental, 15 - Nuno Sousa Guedes (3). Suplentes 16 – José Sarmento, 17 – João Melo, 18 – José Roque, 19 – Rui D’Orey, 20 – Francisco Vieira, 21 – António Vidinha, 22 – Rodrigo Marta, 23 – Francisco Bruno. Após ter falhado em Junho o acesso ao torneio de repescagem para o Mundial 2019 que se iniciará neste domingo em Marselha – a Alemanha será o representante europeu -, Portugal voltou a competir cinco meses depois, apresentando uma equipa com jogadores jovens e inexperientes que, em condições normais, actualmente dificilmente teriam lugar num "XV" da selecção nacional. Apesar de ter uma mão-cheia de atletas promissores que recentemente estiveram em evidência nas selecções jovens, casos de Nuno Mascarenhas, David Wallis, Vasco Ribeiro ou Rodrigo Freudhental, a selecção portuguesa voltou a ser formada por segundas, terceiras ou até quartas escolhas. Colocando a nu o amadorismo e as dificuldades financeiras que a modalidade atravessa, Portugal viajou para a Roménia sem os atletas profissionais que alinham nos campeonatos estrangeiros (mais de uma dezena) e viu-se privado de alguns dos melhores jogadores que alinham no campeonato português, em alguns casos devido a divergências entre a federação e clubes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em resultado de tudo isto, o jogo na Roménia não teve história. Apesar da meritória prestação dos jovens portugueses, os romenos marcaram dois ensaios nos dez primeiros minutos e rapidamente baixaram o ritmo. A jogar devagar e a cometer muitos erros, a Roménia, que ao contrário do que é habitual não procurou jogar sempre através de um jogo fechado pelos seus avançados, foi dominando territorialmente a partida e, com quatros ensaios (todos concluídos por jogadores das linhas-atrasadas) chegou ao intervalo a vencer por 22-3 – Jorge Abecasis, com um pontapé de ressalto, fez os únicos pontos portugueses. A segunda parte começou com uma penalidade convertida por Nuno Sousa Guedes (22-6), mas a partir daí Portugal não voltou a entrar no meio campo romeno, valendo a inépcia e desinspiração da equipa treinada pelo francês Thomas Lièvremont que, apesar de dominar por completo a partida, apenas conseguiu chegar por mais dois vezes ao ensaio.
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As árvores ensinam-nos a viajar
No mais antigo jardim botânico do país, cada planta esconde uma história. (...)

As árvores ensinam-nos a viajar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: No mais antigo jardim botânico do país, cada planta esconde uma história.
TEXTO: “Tem a certeza que é na Calçada da Ajuda? Olhe que sempre vivi entre Belém e Algés, sou taxista há mais de 30 anos e não sabia que existia aqui um jardim botânico”. É o mais antigo do país, criado há 250 anos, e ainda assim o Jardim Botânico da Ajuda permanece um segredo na cidade, escondido para lá dos muros altos de amarelo desbotado. Vizinho do palácio, mas arredado dos centros turísticos que circundam os outros dois jardins botânicos lisboetas – no Príncipe Real e em Belém – são poucos os alfacinhas que parecem conhecê-lo. E poucos os visitantes com quem nos cruzemos esta manhã, a maioria estrangeiros. O Jardim Botânico da Ajuda não tem tido uma vida fácil e da mata exótica que habitualmente se cola ao conceito não restam muitos exemplares. Mas o que perde em sombra e exuberância ganha em vistas largas: sobre o rio Tejo, que agora se esconde atrás de uma neblina passageira; e sobre as particularidades de cada espécie e das suas histórias. É nestas que Susana Neves, especialista em etnobotânica, e Dalila Espírito Santo, agrónoma e directora do jardim há 16 anos, se prendem a cada passo da visita. Susana escolhe a alameda de jacarandás sobre a balaustrada para início de conversa. “Gosto imenso porque é das poucas árvores cujo nome se diz da mesma maneira em todo o mundo. Vem do tupi-guarani e quer dizer ‘árvore do centro duro’”, conta. A variedade que vemos é a mimosifolia, que dá flores lilases e castanholas. “Se levarmos para casa e esperarmos que ela se abra sozinha, vamos encontrar lá dentro umas sementes muito engraçadas: têm um centro sépia e uma saia à volta que tem um tom lilás muito próximo das flores, mas que muda rapidamente de cor porque oxida. ” Os enigmas da Natureza são caprichosos. Apenas se desvendam a quem tiver paciência e atenção. “É isso que as árvores ensinam a um investigador: a esperar. ”Natural das Américas, o jacarandá é hoje uma árvore comum nos jardins e passeios públicos. “O Brotero [botânico português e director do jardim em 1811] dava sementes de jacarandá a quem quisesse, dizendo que era uma árvore ornamental lindíssima”, recorda Dalila Espírito Santo. “Estou convencida de que a dispersão dos jacarandás em Lisboa começou aqui, com as recomendações dele. ” Curiosa coincidência: um dia Susana conheceu um japonês, guia turístico em Lisboa, que às tantas lhe mostrou um desenho: “era um mapa de Lisboa, mas em função da floração dos jacarandás. ”Três jardins botânicos portugueses celebram aniversários redondos este ano, incluindo o mais antigo do país. Acrescentámos mais dois e demos uma volta de Norte a Sul. Porque todas as desculpas são boas para redescobrir a biodiversidade das suas histórias. Jardim Botânico da Ajuda As árvores ensinam-nos a viajarJardim Botânico de Lisboa Dragões e imperadores numa “enciclopédia viva”Jardim Botânico do Porto Um jardim que divide dois mundosJardim Botânico de Coimbra Os tesouros do botânico cobrem uma encostaJardim Botânico da UTAD Quando uma universidade brinca às escondidas com um jardimMais à frente, de volta ao jardim, admiramos as flores rosas da schotia afra, debruçada sobre uma grande estrutura circular em ferro. É o único exemplar presente num jardim botânico na Europa, assegura a directora. Antes, os ramos formavam uma copa até ao chão. “Uma senhora que agora deve estar com os seus 80 anos, e que era filha do chefe dos jardineiros, lembra-se de brincar às escondidas pondo-se debaixo desta árvore. ” Da ceiba pentandra, a dois passos, é que não deveria querer aproximar as brincadeiras. O tronco forma uns bicos, “os acúleos”. Por isso, “havia histórias sobre amarrarem os escravos a estas árvores”. Deverá dar flores em Novembro - “parecem as das orquídeas, rosas, enormes, lindas” - e depois os frutos – “parecidos com uma pêra-abacate, que depois secam e estalam”. Lá dentro, descreve Susana, há “uma granada de sumaúma, com aquelas protuberâncias a lembrar um cérebro”. São, na verdade, centenas de pêlos brancos acocorados, a proteger as sementes. Outrora eram utilizados para o enchimento de almofadas e Susana ainda se lembra de ter uma quando era pequena. Em algumas zonas de Portugal Continental, no entanto, eram usados os pêlos dos “foguetes” da taboa, acrescenta Dalila. “É uma planta aquática que está representada ali em baixo, na fonte das 40 bicas, junto aos cavalos-marinhos. ” E da qual existe um exemplar no “pântano barroco”, como Dalila apelida o lago central do patamar superior, agora aos nossos pés. Aproveitamos a deixa para pedir a Dalila que nos apresente o jardim. Está actualmente “dividido em quatro partes principais”: o tabuleiro inferior – um “jardim de buxo, romântico, onde as damas passeavam e os príncipes brincavam”; o patamar superior – a “escola”, com canteiros geométricos onde a colecção botânica se divide pelas diferentes regiões fito-geográficas; uma zona de mata, junto ao portão para a Calçada do Galvão; e o jardim dos aromas, com plantas aromáticas, medicinais, tintureiras e sabonificadoras dispostas em canteiros elevados, acessíveis a invisuais. Foi a “única coisa introduzida na colecção” com o restauro liderado por Cristina Castel-Branco, antiga directora do Jardim Botânico da Ajuda e a principal impulsionadora da recuperação do espaço, em meados dos anos 1990. Desenhado pelo naturalista italiano Domenico Vandelli a pedido D. José I, o jardim destinava-se à educação dos netos do rei, o príncipe José, que viria a falecer novo, e o futuro D. João VI, que haveria de abri-lo pela primeira ao público, uma vez por semana, e que mais tarde fundaria o Jardim Botânico no Rio de Janeiro, Brasil. “Dizem todas as crónicas que por ter saudades deste”, recorda Dalila. Integrando o jardim, um museu de história natural, a casa de risco e os laboratórios de química e de física, o complexo constituiu o “primeiro núcleo científico de Lisboa”. E deu, mais tarde, origem à Academia das Ciências, integrando o Instituto Superior de Agronomia desde 1910. A história do jardim, no entanto, tem conhecido episódios trágicos. Como o saque durante as invasões napoleónicas. O general Junot terá pedido que viessem buscar as colecções de mineralogia, zoologia e botânica que existiam aqui, enviadas por naturalistas das “várias possessões portuguesas”, muitas delas ainda encaixotadas. Diz-se que com o “compadrio” de Vandelli. E ainda hoje estão expostas no Jardin des Plantes. “D. Pedro V, a certa altura, vai a Paris e há um texto onde ele basicamente diz que ‘ao menos estão a salvo’”, conta Susana. A partir daí, o jardim há-de passar por sucessivos períodos de abandono e decadência. Até que, em 1941, um ciclone deitou abaixo muitas das árvores que restavam. “Quando o Vandelli fundou o jardim, [um escrito] refere que chegou a ter aqui cerca de cinco mil exemplares. Neste momento temos 1578”, compara Dalila Espírito Santo. Já é “um bocadinho mais” do que o número que Brotero terá encontrado quando dirigiu o jardim (1330). E certamente mais do que as 120 espécies que persistiam quando foi restaurado, entre 1994 e 1997. É por isso que, quando Susana pergunta se os gingko biloba que temos à nossa frente são macho ou fêmea, Dalila não pode responder. “Ainda não deu flor, por isso não sabemos. Mas acredito que haja as duas, porque foram plantadas ao mesmo tempo e aquela está mais pequena do que esta. ” Diz a teoria que começam a florir aos 20 anos. “Portanto, devia dar este ano, mas ainda não há nada”. E sobre o gingko biloba, espécie do tempo dos dinossauros, conte-se mais duas histórias: foi uma das árvores que sobreviveu ao bombardeamento atómico em Hiroshima e é na forma da sua folha que termina o penteado dos lutadores de sumo. “Prestam o culto a esta árvore pela sua longevidade”, conta Susana. Sentamo-nos à sombra de uma ficus macrophylla e o relógio parece desacelerar ao ritmo do tique-taque dos pequenos figos castanhos a baterem na terra, perdido na conversa. Ao nosso lado, alunas do ISA andam a recolher os frutos e as folhas do chão. “Suja tudo, principalmente nos canteiros, porque entra em competição com as plantinhas que semeámos”, justifica Dalila. Para onde quer que olhemos, há histórias para contar. Como a dos pavões omnipresentes, alguns com crias pequenas. “D. Maria I era fã de aves exóticas e os pavões deverão ter sido trazidos na altura em que o jardim foi criado”, recorda Dalila. “Agora devem ser uns 16, mas damos pavões a quem quiser, seis chegam perfeitamente. ” Ri-se quando conta que devem ter aprendido a cruzar a estrada de geração para geração porque, actualmente, “cumprem as regras de trânsito como ninguém”. Mas comem muitas plantas. Por isso, as mais apetitosas estão cercadas por redes de plástico ao longo do jardim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já o dragoeiro à nossa esquerda veio adulto para Portugal. Dalila estima que tenha “perto de 400 anos”. Mas aconteceu-lhe uma “coisa horrível” em 2006, quando um fungo apodreceu parte das raízes e a zona da frente desabou. Era “o maior do país”, agora parece um enfermo dilacerado, suspenso por uma teia de cordas e ferro. Se preferir, desça até ao patamar inferior, onde um dragoeiro mais jovem exibe um chapéu redondo e sublime. “Venho aqui muitas vezes vê-lo, tem uma copa muito densa”, há-de contar Susana quando passamos por ele. Depois, gosta de ir espreitar os branquiquitos ou admirar as iritrinas quando estão em flor. “São de um cor-de-laranja muito intenso”, descreve a especialista em etnobotânica e autora do livro Histórias que fugiram das árvores, cuja apresentação foi neste mesmo jardim. No entanto, quando aqui regressa, há-de confessar-nos, é a balaustrada virada ao jardim de buxo e ao Tejo que mais a atrai. Porquê? “Permite-me ter todo o tipo de sonhos”, diz, em tom suave, recuperando um “episódio muito engraçado” que contou há pouco. Em 1784, o padre João Faustino lançou a máquina aeroestática a partir daqui. A história aparece relatada na Gazeta de Lisboa e descreve tudo ao pormenor: como o balão foi feito em papel colorido segundo um modelo francês, como foi enchido, se elevou nos céus e como acabou por cair em Cacilhas. “Quando venho aqui, vejo aquela máquina aeroestática a subir aos céus, os reis a assistirem. Também funciona como uma espécie de impulsionador de sonhos e de ficção. ” As plantas de um jardim botânico cumprem muitas funções, da transmissão de conhecimento à preservação das espécies. Mas também permitem-nos “viajar com elas”. No tempo e no espaço.
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Estes é que são os azuis do Restelo. Os outros são só azuis
Depois da separação da SAD, o Belenenses iniciou com uma vitória por 4-0 a sua campanha nos campeonatos distritais com o objectivo de chegar ao topo do futebol português em cinco ou seis anos. (...)

Estes é que são os azuis do Restelo. Os outros são só azuis
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois da separação da SAD, o Belenenses iniciou com uma vitória por 4-0 a sua campanha nos campeonatos distritais com o objectivo de chegar ao topo do futebol português em cinco ou seis anos.
TEXTO: Os domingos à tarde são a hora sagrada do futebol, consagrada nos tempos em que só se via o futebol nos estádios (ou se ouvia na rádio), tempos em que não havia transmissões televisivas. Alguns dirão que era um futebol mais puro, mais de acordo com o associativismo popular que lhe deu origem, no caso do Clube de Futebol Os Belenenses, um grupo de rapazes num banco de jardim a decidir criar um clube para as pessoas de Belém. Tem-se um pouco essa sensação nas bancadas do Estádio do Restelo no último domingo de Setembro de 2018, em que o Belenenses defrontou o Clube Desportivo Olivais e Moscavide-Parque das Nações para a primeira jornada da Série 2 da I Divisão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa, um clube de regresso às origens. Não é um começar de novo. Foram vários passos atrás dados de uma só vez para ir dando um passo em frente de cada vez. Depois de muitos conflitos com a SAD liderada por Rui Pedro Soares (ver texto nestas páginas), o clube, por iniciativa do seu presidente Patrick Morais de Carvalho e sustentado pelos sócios, decidiu separar-se da sociedade que gere o futebol profissional e tentar a sorte no fundo da cadeia alimentar do futebol português, inscrevendo uma equipa numa divisão em que também está outro histórico (o Clube Desportivo Estrela, que carrega as cores e a história do Estrela da Amadora). O objectivo é chegar ao topo em cinco ou seis anos. Estão mais de duas mil pessoas na bancada central do Restelo para assistir ao primeiro jogo desta equipa construída em mês e meio — na bancada oposta estão cerca de 20 adeptos do clube visitante. Não há números oficiais, mas é uma bancada bem composta, onde estão a ruidosa claque Fúria Azul, com as suas mensagens de incentivo e os cânticos habituais — há uma novidade, um cântico ao ritmo de “Bella Ciao”, uma canção italiana de resistência antifascista, recuperada para os tempos modernos pela série “A Casa de Papel”. É uma escolha adequada, porque esta também é uma história de resistência e isso é um tema recorrente nas mensagens que a central do Restelo passa para o campo. “Ultras contra o futebol moderno”, é o que diz uma das tarjas exibidas pela claque. Há fumo azul e há aplausos quando o “onze” do Belenenses entra no relvado do Restelo nesta tarde de sol e calor. Ouve-se o hino oficial do clube, o árbitro dá o apito inicial e todos os olhos seguem a bola, que está quase sempre nos pés dos jogadores vestidos de azul a representar um emblema que foi campeão nacional em 1946. Aos 32’, a primeira grande celebração. Ricardo Viegas, avançado de 26 anos, marca o primeiro golo e, antes do intervalo, faz o 2-0. Viegas é o único desta equipa que foi profissional do Belenenses antes da separação, utilizado em sete jogos em 2011-12, quando a equipa estava na II Divisão. Com a formação dividida entre Benfica e Belenenses, Viegas ainda viria a marcar mais um golo no jogo, que seria o 4-0, isto já depois de Evandro Barros, um defesa, ter feito o 3-0 num certeiro golpe de cabeça. O resultado final até pareceu pouco para a enorme diferença de andamento entre este Belenenses e o CDOM-Parque das Nações, a equipa secundária do Olivais e Moscavide. Sem favor, podia ter sido o dobro. Os adeptos ainda estão a adaptar-se a esta nova vida longe da ribalta da I Divisão e muitos, para não dizer quase todos, nem sabem quem são os jogadores. É o caso de Jorge Pinto, um adepto que veste uma camisola com mais de 30 anos. O azul está um pouco desbotado, a cruz vermelha no peito já tem as pontas descoladas e o 2 nas costas já quase não se vê. Jorge Pinto, sócio 1884, explica que é a camisola de jogo de Paulo Monteiro, antigo defesa dos “azuis”, numa final da Taça de Portugal em 1986 (derrota com o Benfica). É um daqueles adeptos que sabe tudo do clube e segue tudo (e pediu desculpa por estar rouco, mas tinha estado na noite anterior a gritar num jogo de andebol frente ao ABC), mas ainda não sabe quem são os jogadores que tem à frente. Rui Rodrigues, que está ao lado, também ainda não os conhece, mas já tem nomes para eles enquanto não se habitua. “O guarda-redes é o Marco Aurélio, o lateral-direito é o Marcelo”, e assim por diante, diz este antigo guarda-redes de andebol dos “azuis”. Rui Rodrigues é um dos que se recusa a tratar a equipa da SAD por Belenenses. É “aquela equipa”. “Nós é que somos o Belenenses. Mas há dúvidas?”, lança, referindo-se em termos pouco elogiosos ao líder da SAD. E não vai sequer ver o jogo que o Belenenses SAD iria ter ao princípio da noite, no Jamor, frente ao Sporting de Braga. “Até apostei contra eles”, revela, referindo-se aos “50 ou 60” que apoiam a equipa da SAD em tom pejorativo, “os sadistas”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nem todos os adeptos que andavam pelo Restelo pensavam assim. Um que não quis ser identificado, disse que iria ao Jamor ver o “outro” Belenenses, mas que nem ele, nem a família, iriam levar qualquer adereço que os identificasse como adeptos do Belenenses. Também o senhor Firmino, que se fez adepto do Belenenses a ouvir na rádio, em tabernas de pescadores, os relatos da equipa de Matateu e Vicente Lucas. “Para mim é tudo Belenenses, não consigo ser contra”, diz este adepto, dono do Volkswagen Carocha dos antigos decorado com as cores e o símbolo do Belenenses que esteve estacionado na relva do Restelo durante o jogo. É também esta a visão de António Filipe, deputado do Partido Comunista Português, sócio “de nascença” e até agora, com uns anos de interrupção pelo meio. “Lamento que se tenha chegado a este ponto. Em relação à equipa da SAD só posso ter respeito porque é uma equipa que tem as cores e o nome do Belenenses, diz o deputado. A divisão, refere o deputado, é um sinal do que tem acontecido nos últimos anos no futebol e que do qual o Belenenses não é o único exemplo. “Perdeu-se o nexo com as origens populares dos clubes”, disse. Mas ele, tal como os outros dois mil adeptos, saíram com um sorriso porque algum desse espírito começou a ser resgatado naquela tarde de sol num estádio com vista para o Tejo.
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FC Porto mostrou quem manda em noite de estabelecer recordes
Schalke não pediu licença para entrar e despertou a fúria de um “dragão” que decidiu o jogo e o grupo, com dois golos em três minutos. Apuramento e triunfo no Grupo D assegurados. (...)

FC Porto mostrou quem manda em noite de estabelecer recordes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Schalke não pediu licença para entrar e despertou a fúria de um “dragão” que decidiu o jogo e o grupo, com dois golos em três minutos. Apuramento e triunfo no Grupo D assegurados.
TEXTO: O FC Porto vergou o Schalke 04 (3-1) e garantiu o primeiro lugar do Grupo D, com Sérgio Conceição a igualar o feito de Jesualdo Ferreira ao colocar os “dragões” nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões em dois anos consecutivos, fazendo ainda o pleno de triunfos em casa, apenas obtido por Vítor Pereira (2012-13). A noite era propícia a recordes e deixou a formação portuguesa a uma vitória de igualar a marca de 1996-97, sob a batuta de António Oliveira, quando atingiu os 16 pontos na fase de grupos. Retardou ao máximo o golo do FC Porto. O Schalke deve-lhe o facto de ter saído do Dragão com um resultado lisonjeiro. Fundamental no arranque tímido do FC Porto, agigantou-se e abanou a barra com um exímio pontapé de bicicleta. Pegou na equipa pelos colarinhos, virando a lógica dos minutos iniciais com três remates à bomba. O Schalke não tinha nada a perder, mas foi impotente, consentindo num jogo o triplo dos golos desta fase, mais uma vez frente ao FC Porto. À margem desta contabilidade, o jogo arrancou com FC Porto e Schalke a entrarem em campo qualificados, por força da derrota do Galatasaray em Moscovo. . . O que aliviou um pouco a carga emocional das equipas, que passaram a estar exclusivamente concentradas na questão da liderança do grupo. Uma vez mais, o FC Porto jogava com dois resultados, embora a questão financeira e o prestígio fossem demasiado aliciantes para deixar correr o marfim. Os alemães, mesmo com a segunda linha avançada — sem o peso dos lesionados Burgstaller, Uth e Embolo — entraram pujantes, cortando o acesso dos “dragões” à sua zona de conforto, na tentativa de explorar um erro que Felipe não autorizou, repelindo as investidas do Schalke. Daí que só depois de esgotados os primeiros 15 minutos o FC Porto se tenha encontrado, fruto de um acto de puro ilusionismo de Brahimi, a transformar a bola num punhal que Danilo usou para tentar ferir Färhmann, a que o guarda-redes alemão respondeu com a primeira de uma mão-cheia de enormes defesas. A partir daí, os portistas não mais permitiram que o Schalke controlasse o ritmo, sucedendo-se os lances de golo iminente. Felipe passava o testemunho a Danilo, que emergiu como autêntico bombardeiro, desafiando Färhmann, que voltou a brilhar e a adiar ainda os festejos de Marega. O Schalke entrava em modo de sobrevivência, consciente de que as cinco unidades do meio-campo eram ainda insuficientes para condicionar a dinâmica da equipa de Sérgio Conceição. Apesar de sair vencedor do primeiro assalto, aos pontos, o FC Porto precisava de um KO técnico, que o Schalke procurou evitar a todo o custo, regressando para a segunda metade com mais um médio e menos um avançado. Insensível às inquietações dos germânicos, o FC Porto intensificou a chama e autorizou Herrera a tentar a sorte no primeiro lance de golo iminente da segunda parte. A ameaça seria cumprida por Militão, em estreia a marcar pelos “azuis e brancos”, com um golpe de cabeça a concluir um serviço de luxo de Óliver, após um canto de Corona. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para o Schalke era o toque a reunir, com Konoplyanka a ocupar o lugar da frente ao lado de Di Santo e a obrigar Casillas à primeira intervenção da noite. Mas esse foi o canto de cisne dos alemães, que viram esgotar-se as probabilidades de sucesso com o segundo dos portuenses, uma gentileza de Corona, que voltou a incorporar o ataque, com o mexicano a dar expressão ao futebol irresistível do campeão português (55’). Até final, enquanto o Schalke se reposicionava e debatia em busca de um novo fôlego, mudando inclusive de sistema, a equipa de Sérgio Conceição explorava todas as combinações possíveis, com Felipe a enviar uma bola à barra, à boleia de uma bicicleta todo-o-terreno. A exibição imaculada acabaria, contudo, manchada por um penálti involuntário de Óliver (mão na bola), a permitir que o Schalke, por Bentaleb (89’), criasse a ilusão de algum equilíbrio, que nunca existiu. Mas a noite só ficaria completa depois de Marega igualar a marca de Mário Jardel — quando tudo parecia indicar que o maliano ficaria mesmo em branco (teve um golo bem anulado aos 90+3’) —, ao picar o ponto na Champions pelo quarto encontro consecutivo.
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Espelho meu, haverá cromo mais cromo do que eu?
É uma das exposições que mais corações divide em Arles. Nunca ninguém tinha olhado assim para o enamoramento entre fotografia e a cultura do hobby (...)

Espelho meu, haverá cromo mais cromo do que eu?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: É uma das exposições que mais corações divide em Arles. Nunca ninguém tinha olhado assim para o enamoramento entre fotografia e a cultura do hobby
TEXTO: O som até nem está muito alto, mas o monitor velhinho e as peças creme de um PC rebentado espalhadas pela alcatifa azul chamam imediatamente a atenção de quem entra na igreja da Ordem da Trindade. Para ver o vídeo que passa no ecrã é preciso inclinar um pouco a cabeça (está de lado). A qualidade da imagem é má. Das colunas vão saindo sons de teclado numa calma aparente, até que surge um palavrão ou outro, aqui e ali esgares de raiva. E, de repente, o rapaz filmado pelas costas começa aos murros ao teclado, fazendo saltar peças por todo lado. Colado a este trecho que acaba aos berros, surge logo a imagem desfocada de um adolescente de aparelho nos dentes que liga uma câmara oculta e que, antes de desaparecer, diz ofegante: “A minha mãe acabou de cancelar a conta de World of Warcraft do meu irmão e ele está a passar-se completamente – oh, meu Deus!” Nisto, entra o irmão que começa um espectáculo difícil de descrever, mas que inclui gritos guturais, a tentativa de enfiar um comando de televisão pelo ânus e auto-agressões na cabeça com tudo o que está por perto. O PC que jaz no chão é na verdade uma peça de videoarte (My Generation, 2010) da dupla italiana Eva e Franco Mattes, pioneiros na reflexão da imagética ligada ao mundo da net. É um trabalho sobre viciados em jogos de ecrã, pessoas muito voláteis e psicologicamente afectadas que estão mergulhadas num mundo onde “o hobby se tornou uma adicção, e o próprio jogo uma realidade amarga” (Doris Gassert). Claro que nem tudo o que está relacionado com a cultura dos hobbies tem esta carga negativa nem envolve este grau de violência – muito pelo contrário. Na antecâmara de The Hobbyist – Un quête de passion, uma das exposições que este ano mais corações divide nos Encontros de Fotografia de Arles, uma enorme captura de ecrã de um vídeo tutorial retirada do YouTube ensina truques de maquilhagem para tonar os lábios mais macios. Em várias molduras digitais sobrepostas a este rosto gigante de olhar abonecado, o pescador Alexander Hall exibe entre o eufórico e o pueril trutas acabadas de pescar em vários lugares do mundo. Cumprindo um caminho que vem incorporando a imagem vernacular nos discursos curatoriais da fotografia, os Encontros dão agora um passo em frente nessa reflexão programando uma exposição cujos curadores tiveram a perspicácia de cruzar a torrente imagética ligada aos hobbies com o trabalho mais “hobista” de autores canónicos (Alberto García-Alix e as motos; Diane Arbus e o nudismo; Mike Mendel e os cromos de basebol; Bruce Davidson e os caravanistas), que neste contexto de suposto amadorismo e de algum anonimato parecem estar paradoxalmente muito mais entre pares do que nunca. Com uma montagem em jeito patchwork, a exposição tem sido recebida com algumas reticências muito por causa do esfuziante amontoado de imagens das cinco secções que investigam a forma como os passatempos (e muitas obsessões) foram sendo vertidos para a fotografia desde os anos 1960. Não sendo de consumo rápido, uma das forças de The Hobbyist é precisamente a forma idiossincrática e pouco ortodoxa que encontrou para comunicar cada um dos universos “hobistas” escolhidos ou as obras dos artistas que decidiram trabalhar sobre eles. E neste campeonato quem leva a taça é talvez The Molem Collective (2013), da belga-croata Hana Miletic, que apresenta um mosaico de fotografias da colecção de 24 pares de ténis que o marroquino Zakaria Haddou, morador de Sint-Jans-Molenbeek, Bruxelas, comprou ao longo de 18 meses. Ao lado das fotografias rudemente captadas, um LP de vinil branco roda sobre um gira-discos, onde “Zak” vai cantarolando, em modo rap, as características dos seus ténis e partilhando as histórias sobre a sua colecção. Para quem padece de overdose rápida de imagens, The Hobbyist é capaz de provocar muito mais do que tonturas, mas também não é caso para haver alarmes ou sinalética com contra-indicações à porta. Por outro lado, há que dar pelo menos o benefício da dúvida a quem se lança numa empreitada pioneira como o fizeram os curadores Pierre Hourquet, Anna Planas e Thomas Seeling, ao escolherem problematizar um fenómeno tão escorregadio quanto uma enguia acabada de sair da água. Em muitos casos, trata-se de questionar universos visuais não do presente, mas do agora. Sondar mundos que estão em mutação permanente, como aquele que resulta do uso de uma ferramenta tão presente quanto fugaz como o YouTube, que hoje se pode considerar o templo da partilha do hobby, o ninho onde se reconfortam todos os correligionários de uma miríade de actividades para ocupar o tempo-livre, desde a pesca – hobby por excelência – à columbofilia, dos mergulhos com roupa vestida à história do futebol, das colecções de borboletas às colecções de cromos, do bodybuilding ao skateboarding dentro de piscinas vazias. Clamando pioneirismo no pensamento da relação entre a fotografia e cultura de passatempos, abarcando tanto a fotografia de hobbies como a fotografia como hobby, a tripla de curadores navega entre as múltiplas camadas deste fenómeno onde coexistem “esferas aparentemente contraditórias de lazer e trabalho, ideologia e consumismo, amadorismo e profissionalismo. ” Das culturas hippies e vanguardistas dos sixties, ao do-it-yourself (DIY) dos anos 80, ao movimento maker de hoje, The Hobbyist explora a coexistência inevitável da fotografia com uma ampla variedade de obsessões, muitas vezes peculiares, outras tantas esquisitas. Do fim para o princípioNa igreja da Ordem da Trindade, a viagem começa do fim para o princípio, como um exercício de afunilamento rumo a “hobistas” que foram, afinal, responsáveis por ferramentas que hoje ajudam a agigantar a cultura do hobby – falamos dos computadores, nas suas mais diversas encarnações, e do software, nos seus mais intrincados níveis de sofisticação. Estão lá “hobistas” de garagem como Steve Jobs e Steve Wozniak (Apple), ou “hobistas” organizados em clubes com olho para o que ia ser o negócio. Homens como Bill Gates, que, em 3 de Fevereiro de 1976, escreve já como general partner da então Micro-Soft uma carta aberta a todos os hobbyists, barafustando com aqueles que roubam software e acenando com a sua expulsão do clube. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Seja do fim para o princípio, seja do princípio para o fim a história da cultura do hobby e da sua dinâmica nas imagens vídeo e fotográficas não se conta de uma maneira simples nem linear. Em The Hobbyist também há buracos, como a falta de um vislumbre que fosse da fotografia dita “amadora” com pretensões salonistas, talvez um dos principais passatempos das classes médias de meados do século, que só se esboroou nos anos 70. Em contrapartida, há muitas surpresas e enormes descobertas, como a de Mike Mandel e o seu seminal The Baseball – Photographer Trading Cards (1975), que parte de um hobby pessoal – coleccionar cromos de jogadores de basebol – para fazer uma sátira mordaz quer sobre a pouca relevância dada à fotografia no contexto das belas-artes de então, quer sobre a domesticação da obra de fotógrafos considerados referenciais para novos talentos. Num rasgo sagaz e original, Mandel decidiu retratar fotógrafos da época (mais ou menos famosos) como se fossem jogadores de basebol imprimindo essas imagens em formato cromo, algo que pode soar como uma chamada de atenção para um suporte com plasticidade infinita, onde os seus autores são ao mesmo tempo o objecto da sua arte. Resultado: muitos aceitaram ser fotografados para a colecção de 134 cromos (de Ansel Adams a Manuel Alvarez Bravo, de Imogen Cunningham a Elliott Erwitt), num gesto de unidade a favor da paixão por um meio que vinha sendo desprezado. Olhar para estes cromos agora, onde para além dos dados pessoais, cada autor escrevia uma frase sobre a sua participação, é como dar um mergulho numa aula de história da fotografia. Isto para quem tiver tempo livre e gostar muito de fotografia, claro.
REFERÊNCIAS:
Tesla “liga” segunda loja em Portugal, Model 3 está quase a chegar
Nos Estados Unidos, o Model 3 já está a alterar as regras do jogo e as perspectivas de futuro da marca de Elon Musk. Em Portugal, a Tesla abriu loja na zona do Porto, onde podem ser vistos o Model S e o Model X. Para já, só na loja de Lisboa se pode ver o Model 3, que começa a ser distribuído na Europa no 1.º semestre de 2019. (...)

Tesla “liga” segunda loja em Portugal, Model 3 está quase a chegar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos Estados Unidos, o Model 3 já está a alterar as regras do jogo e as perspectivas de futuro da marca de Elon Musk. Em Portugal, a Tesla abriu loja na zona do Porto, onde podem ser vistos o Model S e o Model X. Para já, só na loja de Lisboa se pode ver o Model 3, que começa a ser distribuído na Europa no 1.º semestre de 2019.
TEXTO: Uma semana antes de uma pré-apresentação em Portugal – na quarta-feira, dia 14 – do Model 3, modelo que promete baralhar o jogo do comércio automóvel global, a Tesla, a construtora norte-americana de carros 100% eléctricos, abriu uma segunda loja no país, agora na zona do Porto. Já tinha uma loja permanente no El Corte Inglès de Lisboa, tinha aberto lojas temporárias em Braga e no Algarve durante o Verão e desde 5 de Novembro que conta com uma loja definitiva no El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia, um espaço que conhece bem. Também aqui já teve um espaço temporário entre Abril e Junho do ano passado. A questão da rede de lojas – se é que se pode falar de uma rede, com apenas duas unidades – é apenas uma das especificidades da forma diferente de a Tesla se relacionar com o mercado. A marca fundada por Elon Musk insiste em não depender de uma rede de concessionários, a solução convencional. Insiste que se quer relacionar directamente com os clientes, ouvindo as suas queixas e sugestões de melhoria do produto, sem perder informação nem partilhar responsabilidades com intermediários. Aposta muito na Internet e deixa para as lojas o contacto físico com os clientes, o contacto destes com o veículo e, claro, o test-drive. Outra especificidade decorrente é que, sem concessionários, os preços praticados pela Tesla são os mesmos, seja na loja de Lisboa seja na loja do Porto, seja noutra qualquer loja que venha a abrir. E a marca ressalva que só não pode garantir que o preço é o mesmo de um país para o outro, porque, mais do que custos de produção, há componentes fiscais nacionais que fazem os valores variar muito. Por isso, não vale a pena contar com descontos: o preço é o que é, a menos que estejamos a falar de frotas ou de viaturas de exposição. Para já, o plano imediato para Portugal é continuar a apostar nas lojas pop-up, para abrir durante curtos espaços de tempo nos locais onde pontualmente haja uma elevada concentração de clientes potenciais. Quando este texto foi escrito estava prevista para dia 14, na loja do El Corte Inglès de Lisboa, e por iniciativa do Tesla Club de Portugal, uma primeira apresentação no país do Model 3, o automóvel que Musk profetizou que haveria de mudar a história da indústria automóvel – foi apresentado como um sedan de luxo eléctrico a preço acessível, para o segmento premium, e que começa a dar sinais de poder cumprir a ameaça. Depois de um primeiro período de susto, em que quase sucumbiu ao sucesso e às elevadíssimas expectativas – demasiadas encomendas para a capacidade instalada –, começa a impor-se no mercado, ainda que a um ritmo inferior ao inicialmente anunciado. Segundo a Tesla, dos 83. 500 veículos que a marca produziu para todo o mundo no terceiro trimestre (um crescimento de 80%, em relação ao período homólogo de 2017), 55. 000 foram Model 3. E, note-se, o Model 3, ainda só está a ser entregue em dois países do mundo, ainda que mercados importantes: Estados Unidos e Canadá. Na Europa, e naturalmente em Portugal, o Model 3 tem entrega prevista para o primeiro semestre de 2019 – no Reino Unido será mais tarde, por causa do volante à direita. Estima-se que venha a custar entre 39 mil e 49 mil euros, consoante se opte pelas versões de 50kWh ou 75kWh. A Tesla, e esta é outra da sua forma diferente de estar no mercado, não revela número de vendas ou encomendas por país. Abre uma conveniente excepção para divulgar a notícia do USA Today que diz que a marca de Palo Alto ultrapassou as vendas da Mercedes-Benz nos Estados Unidos no terceiro trimestre de 2018 e que se prepara para ultrapassar também a BMW no último trimestre do ano. Tem-se escrito que haverá mais de 1600 Model 3 encomendados em Portugal – a mera reserva online (que dá direito a um email de aviso para quando for possível fazer a encomenda) custa mil euros –, mas isso só a Tesla poderia confirmar. Por outro lado, também é verdade que, com esta política de informação, a Tesla fica imune à suspeita generalizada de que as marcas matriculam veículos só para impressionar chefias ou o mercado…De qualquer forma, para quem ainda está a pensar como nas linhas acima se ousou combinar palavras como “acessível” com números como “49 mil” a propósito do mesmo automóvel, convém recordar que estamos a falar de veículos 100% eléctricos, com custos de utilização e manutenção reduzidos, com acabamentos premium e sobretudo com prestações muito acima da média – verdadeiros desportivos ou mesmo superdesportivos. A versão de 75kWh do Model 3, o equivalente a 257 cavalos, assegura uma aceleração de 0 a 100km/h em apenas 5, 1 segundos e uma velocidade de ponta limitada a 225km/h (há outra versão menos potente, de 50kWh). E ainda se tem falado de uma versão de tracção integral mais potente e dois motores – um em cada eixo, ambos eléctricos, obviamente, que a filosofia da Tesla nada tem de híbrido – como usam a berlina desportiva Model S e o SUV Model X (este configurável para cinco, seis ou sete lugares para adultos), embora o próprio Musk já tenha vindo avisar que a plataforma do Model 3 só é compatível com as baterias até 75kWh. Vamos lá ter calma!Os packs de baterias de 75kWh equipam as versões-base do Model S e do Model X, que estão disponíveis a partir de 93. 580 euros e de 102. 430 euros, respectivamente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aquilo que a Tesla não se importa nada de revelar são alguns dados susceptíveis de amenizar receios recorrentes dos consumidores em relação a automóveis eléctricos: a longevidade das baterias e a autonomia na utilização. Por ocasião da abertura da loja de Gaia, a Tesla divulgou também a notícia do taxista finlandês cujo Model S já ultrapassou os 400 mil quilómetros (este teve o motor trocado pela Tesla, que oferece uma garantia de oito anos para baterias e motores) com a bateria a manter uma eficiência de 93%. Ou da viatura de uma empresa de shuttle, da Califónia, com bateria a 94% após mais de 200 mil quilómetros. Quanto à autonomia, a Tesla chama a atenção para o investimento já realizado em postos de carregamento em Portugal: cinco estações Supercharger (as mais rápidas, onde 20 minutos dão, em média, carga para 250km) para 44 viaturas, distribuídas por Ribeira de Pena, Guarda, Fátima, Montemor-o-Novo e Alcácer do Sal – e promete outras em breve, no seu site, para Braga, Castelo Branco, Marinha Grande, Lagos e Faro. Além disso, sublinha que já tem mais de uma centena de postos Destination Charging, de carregamento mais lento (mas mais amigo da saúde das baterias), espalhados por parques de estacionamento, centros comerciais, hotéis e restaurantes de todo o país. Além disso, comercializa um carregador doméstico de parede por 530 euros.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração
Há fundos a investir em floresta e a conseguir fintar os incêndios
Nas áreas do interior geridas pelo Fundo Floresta Atlântica somam-se vitórias contra os incêndios. Mas a replicação deste exemplo custa em arrancar. Quem investe na pira que é a floresta portuguesa? (...)

Há fundos a investir em floresta e a conseguir fintar os incêndios
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas áreas do interior geridas pelo Fundo Floresta Atlântica somam-se vitórias contra os incêndios. Mas a replicação deste exemplo custa em arrancar. Quem investe na pira que é a floresta portuguesa?
TEXTO: Pede-se gestão das florestas para as tornar mais resistentes aos incêndios. Para isso é preciso investimento mas este foge a sete pés quando se depara com as faúlhas a esvoaçar. É a chamada pescadinha de rabo na boca. Num país em que o valor acrescentado da produção de madeira na exploração florestal é dos melhores da Europa, não há forma de aliciar investidores. A única sociedade que gere os fundos imobiliários florestais existentes - o primeiro foi criado há dez anos com a missão de os atrair para as zonas deprimidas do interior -já provou que consegue reduzir o risco de incêndio nas áreas que gere. E ainda manter-se à tona de água. Mas falta mais, muito mais. A Floresta Atlântica, uma sociedade anónima constituída em 2007, tem como accionistas o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), quatro bancos (CGD, Crédito Agrícola, Novo Banco e BBI) e a empresa Europac Portugal. Gere já quatro fundos e uma área superior aos 8000 hectares dispersos pelo país, e em zonas de minifúndio, onde o principal desafio é mesmo conseguir gerir reduzindo o risco de incêndio florestal. E tem provas dadas. Segundo Rui Gonçalves, presidente executivo da Floresta Atlântica, que esta quarta-feira deu conta de como os fundos têm lidado com os incêndios rurais, os números demonstram que desde que começaram a gerir as propriedades que compraram ou arrendaram, a destruição tem sido menor do que no passado e mesmo menor quando se compara com o que se passou no resto do concelho em que estas áreas se inserem. O primeiro fundo, com o mesmo nome da sociedade, conta com a participação de quatro bancos, uma companhia de seguros, um fundo de investimento e o importante apoio do IFAP, que investe capitais públicos, tanto nacionais como comunitários. Foi lançado em 2008 e gere 4603 hectares, predominantemente ocupados por pinheiro-bravo, no Nordeste Transmontano, Douro, Tâmega, Beira Interior Norte e Alto Alentejo. Apenas 17% das áreas têm risco baixo a moderado de incêndio mas desde que estão sob a sua gestão, estes espaços arderam metade do que arderam os municípios onde se inserem e menos de metade do que tinha sido destruído no passado. O mesmo acontece com os restantes fundos. O Iberian Forest Fund, também lançado em 2008 com a participação da Europac e um fundo de investimento imobiliário, gere 887 hectares – cobertos sobretudo por eucalipto, pinheiro-bravo e sobreiro, em partes quase iguais – em Portalegre, Arronches e Bragança. São zonas de elevado risco de incêndio mas a destruição nos últimos dez anos foi bastante reduzida. Já o Eglon Timbers (o quarto fundo, Iberia Capital, gere sobretudo património construído, como é o caso de fábricas) é um fundo finlandês que decidiu em 2013 investir em zonas de eucalipto que tinham ardido no sul do país. São áreas quase totalmente sujeitas a elevado risco de incêndio que praticamente não arderam nos anos recentes. Para chegar a esta boa performance em termos de redução de risco a fórmula é sempre a mesma: gestão activa. Uma gestão que passa pela existência de conhecimento nas decisões que se tomam para tornar a paisagem mais resiliente, pelo controlo de combustíveis (através tanto de pastoreio como de fogo controlado, por exemplo), pela existência de equipas de sapadores florestais que ajudam a combater o incêndio nestas propriedades e em seu redor, pelo incentivo à presença de pessoas no terreno, quer através da resinagem, quer através da contratação de mão-de-obra local, e até pelo apoio aos vizinhos para fazer queimadas, entre outras medidas, adiantou Rui Gonçalves. Tudo isto custa 35 a 45 euros por hectare por ano se só se olhar para os custos da gestão do risco de incêndio. No total, contando também com a produção florestal, serão investidos cerca de 100 euros por hectare por ano. E tem havido retorno – cerca de 10% nestes dez anos. Mas os fogos do ano passado acabaram por pesar na factura porque a madeira desvalorizou e, por consequência, também o valor das terras baixou. Para conseguir gerir, reduzir o perigo de incêndio e sobretudo dar retorno aos proprietários, tem de haver investimento. “O fundo foi lançado para ser uma âncora pública para que aparecessem mais. Mas não apareceram”, lamentou Rui Gonçalves. A gestão é complicada em minifúndio e o risco de incêndio é enorme. Mas o certo, indicam os últimos dados do Eurostat, o valor acrescentado da produção de madeira em Portugal é elevado – se bem que são dados mais ligados à indústria que à produção. Poderia ser um investimento interessante se. . . Há muitos "ses". “A floresta precisa de investimento público superior ao que existe, pois como está não dá retorno. O mercado só não chega. Tem de se pensar que a floresta tem valor para além da madeira, presta serviços ambientais e é importante para a coesão territorial”, sublinhou o presidente da sociedade Floresta Altântica. Algo que muitos exigem há já muito tempo mas que tarda em ser aplicado: era necessário um primeiro grande empurrão por parte dos apoios públicos para incentivar a gestão activa e assim reduzir os riscos de forma a atrair novos investidores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As medidas que permitem aceder aos fundos comunitários têm de ser redesenhadas para que não só abarquem os serviços que a floresta presta, mas sobretudo para que se adaptem ao terreno já que as existentes “são dirigidas a populações que não existem e as que existem não sabem aceder a esses fundos”, criticou-se durante o debate que decorreu no auditório do Instituto Florestal do Instituto Superior de Agronomia. Há ainda outros fundos públicos, como o florestal ou o ambiental, que todos gostariam que investissem mais na floresta e menos no combate – a principal crítica feita ao uso do dinheiro do Fundo Florestal Permanente. Todos concordam que Portugal pode ter na floresta – como já tem, apesar dos pesares – um dos seus principais pilares económicos. Todos os dados apontam para um aumento da procura dos produtos florestais. Mas os investidores continuam arredados. Porque ninguém atira dinheiro para uma pira.
REFERÊNCIAS:
Tempo quarta-feira
Há pelo menos 80 mil anos os humanos já andavam pelo Vale do Côa
Arqueólogos e outros especialistas internacionais apresentaram no Museu do Côa as últimas descobertas no que toca à arte rupestre. Thierry Aubry representou a equipa da casa para falar de mais uma rocha com “gravuras animadas” e de um “buraco” que faz recuar a ocupação humana do vale. Já sabíamos que os neandertais por lá tinham passado, mas não sabíamos que o tinham feito tão cedo. (...)

Há pelo menos 80 mil anos os humanos já andavam pelo Vale do Côa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.3
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Arqueólogos e outros especialistas internacionais apresentaram no Museu do Côa as últimas descobertas no que toca à arte rupestre. Thierry Aubry representou a equipa da casa para falar de mais uma rocha com “gravuras animadas” e de um “buraco” que faz recuar a ocupação humana do vale. Já sabíamos que os neandertais por lá tinham passado, mas não sabíamos que o tinham feito tão cedo.
TEXTO: Imagine-se um caçador de há milhares de anos a observar uma série de auroques em estado selvagem (falamos de um tempo em que as populações humanas eram ainda nómadas e estavam longe de domesticar animais). Imagine-se esse caçador, mais tarde, a reproduzir a cena observada numa rocha do vale do Côa, procurando mostrar estes bovinos de grandes dimensões hoje extintos em interacção, com movimento, como quem conta uma história breve. “Ainda temos de fazer o levantamento completo desta rocha, o desenho pormenorizado, mas parece-nos haver nela, para além da sugestão do movimento, um sentido de composição que é muito raro na arte rupestre que conhecemos até aqui no vale”, diz Thierry Aubry, um arqueólogo que trabalha no vale do Côa desde 1995, quando a área não era ainda um parque arqueológico (passou a sê-lo em 1996) e muito menos estava classificada como património mundial (1998). Foi precisamente para festejar os 20 anos da atribuição do selo da UNESCO às gravuras do Côa, e para dar conta dos avanços que nas últimas décadas se fizeram no estudo da arte paleolítica naquele território e noutros, que se reuniram de 4 a 6 de Dezembro dezenas de especialistas nacionais e internacionais no Museu do Côa. Aubry e a sua equipa estiveram entre os investigadores que apresentaram os resultados mais recentes. Foram falar daquela que está classificada como a Rocha 38 da Penascosa (no parque, as rochas estão numeradas e indexadas ao conjunto em que se encontram), o mais visitado dos núcleos de gravuras do Côa, e de um sítio arqueológico que permite rever a cronologia do vale e afirmar, “com certeza”, que há pelo menos 80 mil anos tinha já ocupação humana, o que equivale a dizer que já os neandertais andaram por ali. Quando se fala do Côa, admite Aubry, as pessoas pensam de imediato em gravuras rupestres e por isso quiseram mostrar a Rocha 38 da Penascosa, com as três fêmeas de auroque (“a configuração do dorso mostra que não são machos”) num “jogo” que parece um “pequeno filme de animação”, mas o trabalho arqueológico no Côa não se resume à identificação de animais gravados ao ar livre. “Eu percebo o entusiasmo porque encontrar gravuras que sugerem movimento, uma composição, é muito raro”, diz o arqueólogo, referindo-se aos auroques desta rocha identificada há pouco mais de duas semanas, que terão entre 15 e 18 mil anos. No Côa, explica, estão inventariadas 1200 rochas gravadas — as mais antigas com cerca de 30 mil anos, as mais recentes das décadas de 1950-60. Dessas 1200, 500 são do paleolítico e entre estas apenas três têm “animais animados”: para além destes auroques agora descobertos, há outros no núcleo da Ribeira de Priscos, “em que a associação entre os animais não é tão clara”, e as célebres cabras da Rocha 3 da Quinta da Barca, uma das imagens de marca do parque. Tão ou mais importante que o trabalho com as gravuras é o do estudo dos contextos em que viveram os artistas do Côa e, em última análise, o estabelecimento de uma cronologia de ocupação do vale. Por que razões escolheram os caçadores recolectores esta área? E quando é que começaram a fazê-lo?Na margem esquerda do Rio Côa, três quilómetros a montante dos núcleos de gravuras rupestres paleolíticas da Penascosa e da Quinta da Barca, fica o sítio do Salto do Boi, assim chamado por ser um dos locais mais estreitos do vale. Foi aí que, em 1995, Aubry, que então trabalhava com o arqueólogo João Zilhão, ajudou a identificar um sítio arqueológico que só começou a ser estudado mais aprofundadamente nos últimos dois anos. Delimitou-se uma área de seis metros quadrados e escavou-se em profundidade (cinco metros) para poder estudar a sequência estratigráfica (sucessão de estratos na rocha sedimentar), o que permite aos especialistas compreender melhor as épocas de ocupação de determinado território. É este “buraco” do Salto do Boi que permite agora a Aubry dizer que os neandertais — grupo de humanos contemporâneo da nossa espécie (homem moderno) cujo retrato tem vindo a ser “reconfigurado” nos últimos anos por especialistas em todo o mundo, incluindo um dos arqueólogos portugueses que está na origem da criação do Côa, João Zilhão — viveram no vale antes do que até aqui se pensava (julgava-se que ali teriam vivido no máximo há 60 mil anos). “Esta é a primeira vez que estudamos um contexto neandertal sedimentário no Côa. As datações chegaram há poucos dias e mostram que [esses humanos] andaram pelo vale há pelo menos 80 mil anos, mas é provável que tenham vindo até antes, há 90 ou 100 mil anos. Sabíamos que eles tinham andado por aqui porque já tínhamos encontrado ferramentas em pedra lascada e vestígios de fogueiras que podíamos associar aos neandertais, mas não tínhamos datações como as que temos agora. ”Acredita Aubry que os materiais recolhidos, depois de devidamente estudados, poderão mostrar a transição dos últimos neandertais para os primeiros homens modernos [os artistas do Côa] que ocuparam a Península Ibérica. Para já, os arqueólogos ainda não encontraram arte neandertal, o que muito teria agradado a Zilhão, mas essa possibilidade não está excluída. O que podem dizer hoje, segundo Aubry, é que parece não ter havido uma descontinuidade na ocupação humana do vale do Côa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Antes da arte mais antiga do Côa, com 30 mil anos, os humanos já queriam viver aqui. ” Porquê? “É uma área com uma concentração especial de recursos. ” Tem água e um clima mais ameno, protegido, o que no paleolítico superior e médio – um período mais frio e mais seco – é de levar em conta, explica o arqueólogo. “Os animais viviam bem aqui porque os grandes herbívoros precisam de muita água. Também haveria peixes migratórios como o salmão e o sável. A diversidade ecológica cria o ambiente ideal para pequenos grupos de caçadores recolectores, nómadas, e é por isso que o vale funciona como um sítio de agregação. Eles passavam por aqui e usavam, pensamos nós, a arte rupestre como forma de identificação social, de pertença a um grupo. ”Para o ano, os arqueólogos regressam ao Salto do Boi.
REFERÊNCIAS:
Novos teoremas matemáticos e grilos altamente proteicos dão prémios a portugueses
Concurso da União Europeia para Jovens Cientistas celebrou o 30.º aniversário em Dublin, na Irlanda, e quatro estudantes portugueses foram distinguidos com três dos 55 prémios entregues. (...)

Novos teoremas matemáticos e grilos altamente proteicos dão prémios a portugueses
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.098
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Concurso da União Europeia para Jovens Cientistas celebrou o 30.º aniversário em Dublin, na Irlanda, e quatro estudantes portugueses foram distinguidos com três dos 55 prémios entregues.
TEXTO: Para estar em Dublin na final do Concurso da União Europeia para Jovens Cientistas (EUCYS), Francisco Araújo perdeu os primeiros dias de aulas no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde é caloiro no curso de Matemática Aplicada e Computação. Quando começou a aventura que lhe valeria a presença e dois prémios no 30. º EUCYS, na capital da República da Irlanda, Francisco, de 17 anos, ainda estudava no lisboeta Colégio Planalto. Apresentou-se a concurso sozinho — sem o acompanhamento de um professor — com um projecto de matemática que tem vindo a desenvolver nos últimos dois anos e venceu um dos segundos prémios, no valor de 5000 euros, e uma distinção honorária que o levará a Estocolmo para assistir à entrega dos prémios Nobel, já no próximo mês de Dezembro. Faltar à primeira semana na faculdade, afinal, valeu a pena. Nas paredes brancas do stand que ocupou na enorme sala de eventos da Royal Dublin Society, vários posters com equações, cálculos e recortes de notícias; na mesa branca, apenas um computador. O enfoque? “Teorias de comutatividade para grupos e semigrupos. ” Uma “propriedade importante da teoria de grupos”, de particular interesse para os matemáticos, explica Francisco, é a comutatividade, segundo a qual a ordem dos operandos não altera o resultado final. Nesta disciplina, continua, “há objectos que podem ser tratados como máquinas”. Coloca-se uma bola de uma certa cor à esquerda, e outra de uma outra cor à direita: o resultado é apenas uma bola. “O meu trabalho prova que se uma série de propriedades se verificarem, é indiferente se pusermos uma bola à esquerda e outra à direita — ou vice-versa”, traduz, de forma simplista, o jovem que “provou novos teoremas”. “A nível de matemática houve um avanço: havia algo que não estava provado e agora está. ”Na família de Francisco, a matemática não é, de todo, um bicho-de-sete-cabeças. O pai é matemático e o irmão, João Pedro Araújo, ficou em primeiro lugar na edição 2014 do EUCYS, que decorreu em Varsóvia, na Polónia. Lá em casa, este é um concurso especial. “Os júris disseram-me que o meu trabalho tinha sido interessante, pensei que talvez houvesse possibilidade de prémio”, confessou Francisco, após a cerimónia de entrega dos diplomas a todos os vencedores no centro de convenções do Castelo de Dublin. “Mas não estava mesmo nada à espera de ir assistir à entrega dos Prémios Nobel. ”Francisco Araújo não foi o único português a concurso no EUCYS. Ao jovem universitário juntaram-se outros cinco portugueses, de duas escolas: o Colégio Luso Francês, no Porto, e o Agrupamento de Escolas D. Maria II, em Braga. As três equipas venceram a 12. ª Mostra Nacional de Ciência — que teve lugar na Alfândega do Porto entre os dias 31 de Maio e 2 de Junho últimos, organizada pela Fundação da Juventude — e representaram Portugal junto de mais 85 equipas de 39 países e escolas europeias, num total de 136 concorrentes. Aos 25 Estados-membros da União Europeia (UE) presentes acrescem outros países, vizinhos e parceiros como o Canadá, a China, Israel ou os Estados Unidos, com os quais existe colaboração científica. “O EUCYS é um microcosmos da comunidade de investigação na Europa, mas estamos a reproduzir esse corpo. E cada vez mais encorajamos a colaboração internacional”, sublinha Karen Slavin, responsável da Comissão Europeia para os projectos de divulgação científica e para a organização do EUCYS. Mas os prémios portugueses não se ficaram pela “matemática pura” de Francisco Araújo. Para encontrar a equipa do Luso-francês — composta por João Leite, Mário Ribeiro e Catarina Brandão, sob orientação de Rita Rocha, professora de Biologia —, bastou seguir dois sons: o dos grilos e o dos risos. O “stand dos grilos”, como ficou conhecido no concurso, foi um dos mais populares entre os outros concorrentes e os muitos estudantes irlandeses, de várias idades, que visitaram a Royal Dublin Society e se atreveram a provar os animais, já secos e prontos a comer. É que João, Mário e Catarina — todos com 18 anos e já inscritos no ensino superior — estudaram a utilização do grilo doméstico (Acheta domesticus) como fonte de proteína nas dietas animal e humana e passaram os dias do EUCYS a convencer, com sucesso e entre muitos risos e alguns gritos, jovens e adultos a experimentarem o insecto. A popularidade e a relevância do projecto de sustentabilidade alimentar, Entofarm. pt, não passou despercebida aos 20 elementos do júri e os três portuenses receberam um dos prémios honorários, o Cargill Prize. Vão conhecer Vilvoorde, na Bélgica, onde se localiza o centro de investigação e desenvolvimento da Cargill, uma multinacional que opera no sector alimentar, agrícola e de nutrição. A entomofagia (consumo de insectos) pode ser, como tem vindo a ser salientado por diversos especialistas e organizações nos últimos anos, a “solução para o problema do aumento da população mundial”. Mário Ribeiro fez questão de sublinhar este facto, enquanto segurava um frasco com grilos e enumerava as vantagens desta opção, tanto a nível ambiental como alimentar. “A produção de insectos gera 80% menos metano do que a produção convencional de gado e perto de 80% de todos os componentes do corpo de um grilo podem ser transformados em proteína absorvível”, explicou. “Sabia que em cada 100 gramas de farinha de grilo, 70 são proteína pura?”Enquanto aguardavam pelas entrevistas com os membros do júri, que visitavam as equipas várias vezes durante os dias da competição para esclarecer pormenores e pôr à prova os conceitos, os estudantes aproveitavam para conhecer os colegas de corredor, aperfeiçoar a língua inglesa e estudar a concorrência. João Dinis e Ana Raquel Moreira, do Agrupamento de Escolas D. Maria II, centraram-se em dados recentes do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN) sobre ondas gravitacionais e estabeleceram correlações entre forças gravitacionais e electromagnéticas, através de análise de dois eventos: “a colisão de dois buracos negros e a colisão de duas estrelas de neutrões, em 2015 e 2017”, respectivamente, explicou Ana Raquel. Os alunos de Braga, que estiveram acompanhados do professor João Vieira, não integraram a lista dos 55 prémios atribuídos, mas tão cedo não esquecem os cinco dias passados em Dublin. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O pódio da competição foi ocupado por aspirantes a cientistas alemães e canadianos, cada projecto com direito a 7000 euros. Os irmãos Adrian e Anna Amelie Fleck apresentaram uma protecção corporal desenvolvida a partir de fécula, na Alemanha. Nicolas Fedrigo, do Canadá, idealizou uma nova sonda capaz de prevenir lesões vertebrais, e o seu compatriota Brendon Matush criou uma veículo autónomo que utiliza redes neurais. Desde 1989, ano da primeira edição do Concurso da União Europeia para Jovens Cientistas, já foram entregues mais de 800 prémios a mais de 3000 concorrentes, europeus mas não só. À engenharia e à computação, categorias populares neste 30. ª edição, juntam-se outras oito (biologia, química, ambiente, matemática, materiais, medicina, física e ciências sociais) e os estudantes são convidados a explorar a ligação entre as várias áreas. Foi o que fez a italiana Lina Tomasella, há 30 anos, quando venceu a primeira edição com um projecto de biologia. Nessa altura, recordou a astrofísica do Observatório Astronómico de Itália, “os trabalhos eram mais simples”. Viajou, pela primeira vez, até ao estrangeiro — a final foi em Bruxelas, na Bélgica — e percebeu aí “que queria ser cientista”. Agora, 30 anos depois, integrou a equipa de júris. A jornalista viajou a convite da Fundação da Juventude
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Vera escreveu um livro para “todos os que têm medo de não encontrar um WC a tempo”
Em Conviver com as doenças inflamatórias do intestino, Vera Gomes partilha o seu percurso desde que foi diagnosticada com colite ulcerosa, há 11 anos, e sugere um manual de instruções para outros portadores — e para aqueles que os rodeiam. Estima-se que 20 mil portugueses vivam com estas doenças. (...)

Vera escreveu um livro para “todos os que têm medo de não encontrar um WC a tempo”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.31
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Conviver com as doenças inflamatórias do intestino, Vera Gomes partilha o seu percurso desde que foi diagnosticada com colite ulcerosa, há 11 anos, e sugere um manual de instruções para outros portadores — e para aqueles que os rodeiam. Estima-se que 20 mil portugueses vivam com estas doenças.
TEXTO: “O trabalho dos humoristas é recordar às pessoas periodicamente que elas fazem cocó”, disse Ricardo Araújo Pereira. “Mas é claro que a Vera não precisa lhe recordem isso. ” O humorista arrancava assim a apresentação de Conviver com as doenças inflamatórias do intestino, livro editado pela Guerra e Paz e assinado por Vera Gomes. A portuense tinha 27 anos quando ouviu o diagnóstico médico: colite ulcerosa. Esta doença inflamatória do intestino afecta a camada que reveste internamente o intestino grosso ou o cólon e é invisível. “Na altura nem percebia bem o que estava a acontecer e quais as implicações. ”Nos últimos 11 anos, Vera aprendeu a viver com uma fralda descartável para adultos na carteira e uma muda de roupa completa no escritório. E leu tudo o que conseguiu encontrar sobre doenças inflamatórias do intestino (DII): muita informação importante, outro tanto enganosa. Pelo meio trocou Lisboa — onde trabalhou nos ministérios da Justiça e da Administração Interna — por Bruxelas, conheceu o actual companheiro e adoptou um cão. Foi numa semana de internamento num hospital belga, durante a última crise, que tomou a decisão de escrever um livro sobre a doença — e como viver com ela. “Há muita falta de informação em língua portuguesa. E muita desinformação”, faz questão de sublinhar. “Já trabalho há tantos anos com políticos, porque não pegar no que aprendi ao longo de toda a minha carreira e fazer algo construtivo?” Este livro — que demorou dois anos a ocupar um lugar nas prateleiras das livrarias portuguesas — é apenas a primeira parte de um projecto de vida a três tempos que inclui uma petição pública e o desenvolvimento de uma aplicação para ajudar na monitorização da doença. No livro, lançado no final de Setembro, Vera não tem pudor em contar episódios constrangedores vividos em locais públicos, no trabalho ou em fins-de-semana românticos. Afinal, do seu dia-a-dia fazem parte tarefas como contar quantas vezes vai à casa de banho, ter cuidado com o que come, tomar medicação injectável e saber, sempre que possível, onde está o WC mais próximo. “A minha última crise começou há exactamente três anos, em Outubro de 2015, no nosso primeiro fim-de-semana romântico. Era amor e uma cabana e eu enfiada na casa de banho, sentada na sanita e a vomitar para sacos”, recorda, ao P3, em entrevista, a partir de Bruxelas, a provar que Ricardo Araújo Pereira estava certo quando apontou: “Há frases neste livro que a gente não lê em mais livro nenhum. ”“Tento descobrir-me no meio da sintomatologia e a referência de raciocínio que adquiri é que tenho uma doença ainda sem cura, cuja origem ainda é desconhecida. Que posso ter qualidade de vida, sobretudo desmistificando o facto de ter de ir à casa de banho vezes sem fim, e que não posso fazer disso um acto de vergonha”, lê-se no livro que começa com meia dúzia de linhas de dedicatórias: “A todos os que têm medo de não encontrar um WC a tempo. ”A analista política na área do espaço, formada em Relações Internacionais, colecciona comentários despropositados que ouve de conhecidos e desconhecidos — e até lhes dedicou um dos capítulos finais em Conviver com as doenças inflamatórias do intestino. A pensar nas pessoas que conhecem alguém com DII e não têm noção de como agir, Vera desconstrói algumas das frases que são sempre uma má escolha: “Isso é uma virose, certo?” e “Estás com tão bom aspecto, nem pareces doente” são apenas dois exemplos. Mas há outro, revelador do desconhecimento que existe na população sobre a doença e que é a base de um dos pontos da petição lançada no início do ano: “Não devias usar a casa de banho dos deficientes nem a dos homens. ”É aqui que entra Ângela Silva, doente de Crohn, que gere, a par de Vera, uma comunidade online com mais de 2200 doentes em Portugal. Juntas criaram uma petição pública online que já soma 11. 200 assinaturas e que quer pôr as DII — que afectam mais de 20 mil portugueses — “na boca do mundo”. Entregue na Assembleia da República, o documento aguarda discussão e tem por objectivo pressionar a actualização da legislação sobre a matéria, “com carácter de urgência”, em três pontos. O primeiro é a criação de um cartão de acesso prioritário a casas de banho de espaços comerciais e públicos, estejam abertos a clientes ou não (como é o caso dos WC de serviço). “O acesso prioritário ao WC irá ajudar a evitar episódios de humilhação pública que impactam bastante a saúde mental de um DII”, justificam, no texto da petição. A isenção de taxas moderadoras para cidadãos registados é outra das reivindicações, a par da inclusão das DII na lista de doenças incapacitantes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Como são doenças invisíveis, é difícil reunir a simpatia de algumas pessoas, entidades empregadoras e por vezes até das pessoas que nos são mais próximas. Levar esta questão às pessoas, sensibilizá-las, não é suficiente para que haja acção quanto à melhoria das condições de vida dos doentes de DII”, escreve Vera no início do quarto capítulo, “Do pensamento à acção”. E a acção pode passar ainda por uma aplicação móvel para a monitorização de DII por parte dos seus portadores. “É muito importante, mesmo em remissão, que faças uma monitorização de uma série de parâmetros da doença. Não só dos sintomas físicos, mas também da vida social, profissional e psicológica. ” O desenvolvimento da app está dependente de financiamento — mas Vera não desiste, sempre com sentido de humor. “Este tom faz parte de mim. O meu pai foi palhaço num circo, há muitos anos, e em casa (…) sempre tivemos a capacidade de nos rirmos de nós próprios”, recorda, “não é menosprezar no sentido de dar valor, mas sim do impacto que as coisas podem ter”. “Quando lidas com esta doença já é extremamente trágico sujares as calças e o impacto psicológico que isso tem, juntamente com a sensação de perda de dignidade em público”, diz, entre risos. “No dia em que eu não conseguir rir-me de mim própria internem-me, porque estou mesmo mal. ”
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