Brooklyn, o bairro onde vivem pessoas reais
Não é a segunda Manhattan. Brooklyn é Brooklyn, com vida própria, um skyline recém-semeado, uma marginal resplandescente, street art com entranhas e vizinhos que se cumprimentam no alpendre. Do lado de cá do rio, neste oásis que parece um bairro gigante, o passo abranda e o sotaque torna-se mais espesso. (...)

Brooklyn, o bairro onde vivem pessoas reais
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.168
DATA: 2018-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é a segunda Manhattan. Brooklyn é Brooklyn, com vida própria, um skyline recém-semeado, uma marginal resplandescente, street art com entranhas e vizinhos que se cumprimentam no alpendre. Do lado de cá do rio, neste oásis que parece um bairro gigante, o passo abranda e o sotaque torna-se mais espesso.
TEXTO: “Não interessa de onde és, estamos contentes por seres nosso vizinho. ” Escrita em três línguas (espanhol, inglês e árabe), a mensagem está afixada à porta daquela que será a nossa casa durante os próximos dias, “a primeira casa de contentores de navio de Nova Iorque”, anuncia o Airbnb. Não há um welcome literal, mas há um letreiro “Trump is a poopy head” e um babygrow com a inscrição “families belong together” pendurado como um espantalho num dos muitos canteiros que povoam a rua Keap. Mal chegamos e já nos sentimos à vontade com David, um nova-iorquino com raízes em Lower East Side e que há cerca de 20 anos trocou Manhattan por Brooklyn — porque o lado de cá passou a ser mais viável do que o lado de lá. “Há meio século que não havia nada nesta parcela”, explicaria mais tarde o nosso anfitrião, uma espécie de capitão Nemo, crítico relativamente ao rumo dos acontecimentos, preocupado com aqueles que considera oprimidos, sentado com o seu cão gigante Mormon (já foi Norman, mas um amigo da casa não queria ter o mesmo nome que o cão) ao comando do seu “submarino”, uma estrutura composta por seis contentores de navio encaixados em três andares que também representa a evolução de Nova Iorque nas últimas décadas e os movimentos migratórios dentro dos seus limites. “A minha falecida esposa era professora de Arquitectura e sempre quis fazer um projecto de um edifício que fosse barato e sustentável. Há arquitectos que sonham em construir um edifício rococó, uma mansão ou um arranha-céus. Ela queria uma casa de futuro para as pessoas. É isto que a casa é. ” Aqui não há “soldagens chiques” ou uma “construção extraordinária”. “A casa foi desenhada para ser replicável e os sistemas estão à vista para a estrutura ser usada como uma ferramenta de ensino. Há muitas escolas que nos visitam”, explica David, que aprendeu a ser empreiteiro por força de anos e anos de squatter (ocupa) no lado de lá. Aprendeu carpintaria, aprendeu a ser electricista, criou jardins comunitários em Lower East Side com os amigos e evoluiu para “um, dois, três, quatro. . . seis edifícios”. “Percebi que se conseguia ocupar terra também podia tomar edifícios. Ninguém parecia estar a prestar atenção. Depois vivemos uma pequena revolução e fomos expulsos pela polícia, armada de tanques. ”A evacuação foi inevitável. Numa página de Williamsburg Shorts, livro de ilustração de Lucio Zago (com fotos de Anders Goldfarb), as pessoas fogem em debandada perseguidos por robots da Guerra dos Mundos de H. G. Wells. “Nos anos 90 a ambição desmedida dos políticos fez da vida dos artistas de East Village um inferno. ” Nas páginas seguintes, como no Livro do Êxodo, apartam-se as águas do East River. “Os nossos pais pensaram reconstruir as suas vidas, ou criar novas, e descobriram um oásis de oportunidades do outro lado do rio, cheio de armazéns vazios e de rendas baratas. ”Lucio é um exemplo perfeito. Viveu 23 anos na agitada intersecção Grand/Lorimer e assistiu à transformação de uma comunidade da classe trabalhadora para uma das vizinhanças mais na moda do mundo — mudou-se recentemente para um apartamento seis quarteirões a sul por estar a ser perseguido pelos arranha-céus e pela especulação imobiliária que também cruzaram o rio. “De minha casa via o skyline de Manhattan e aos poucos passei a ter vista para as traseiras do skyline de Williamsburg”, confessa o ilustrador, para quem Williamsburg chegou a ser uma zona industrial e desolada. Hoje é uma marginal resplandescente, cheia de arranha-céus de vidro, de condomínios fechados, de galerias e estúdios da moda, de paredes imensas grafitadas por encomenda (de marcas multinacionais) e de hotéis com fila a meio da tarde para tomar um drink no terraço com vista para a ilha de Manhattan (William Vale é um deles). A 11 de Maio de 2005, a cidade de Nova Iorque aprovou (49 votos a favor, um contra) o plano de renovação da beira-mar Greenpoint-Williamsburg que abrangia 175 novos quarteirões ao longo de 350 hectares. Brooklyn estava de portas abertas. “Os táxis amarelos fugiam de Brooklyn como o diabo da cruz”, desenha Lucio. Vagaroso, Joey, vizinho de David, fala de uma “segunda Manhattan” onde “já não há tiros e gangues como nos anos 1980”. “A segurança mudou. Se os judeus vão é porque é seguro”, diz. Os judeus ultra-ortodoxos estabeleceram-se a sul da linha de comboio, no enfiamento da também ciclável Ponte de Williamsburg, os hipsters ficaram com a zona a norte da avenida Broadway — amor à primeira vista —, mais os porto-riquenhos, os italianos, os dominicanos e todos que chamam casa a Williamsburg. Morar em Brooklyn, resume Joey, “é conveniente”. “Essa é a chave”. Ainda é. Para David, a cena repete-se. “Nova Iorque”, recorda, “só se desenvolveu quando recebeu os carris”. “Em Brooklyn há bairros que vão desenvolver-se lentamente porque não têm acesso a transportes públicos. Os que se desenvolvem primeiro, e que são mais caros, têm transportes públicos. ” Essa espécie de inflação de proximidade parece só não afectar a Broadway, avenida de ferro “vacinada” pelo barulho do comboio que a “sobrevoa” ao longo de quase sete quilómetros. “Essa avenida está cheia de vida porque se poupa muito dinheiro quando escolhemos viver em sítios barulhentos, da mesma forma que é mais barato viver perto do aeroporto. ” A mudança, sustenta Emma, durante um copo no Norman, restaurante do espaço A/D/O, “está a acontecer num abrir e fechar de olhos, estação de metro em estação de metro”. “Não acontece no Harlem, que faz parte de Manhattan”, completa a directora geral da Pulse, a trabalhar com hubs criativos na zona de Williamsburg. “Ninguém vive aqui por acaso. As pessoas estão aqui porque querem fazer algo especial. E querem ser os melhores no que fazem. Há duas formas de visitar Brooklyn. Explorar Manhattan e dar um pulinho a Brooklyn — porque até tem as melhores vistas sobre Manhattan — ou ficar em Brooklyn, explorar o seu miolo e, se houver tempo, ver as atracções de Manhattan. A primeira fórmula inclui obrigatoriamente a concorrida travessia da ponte de Manhattan e um passeio prolongado pelo DUMBO (Down Under Manhattan Bridge Overpass) e a sua prazerosa promenade, uma antiga área fabril hoje repleta de jardins em socalcos, galerias de arte e apartamentos de luxo com vista de luxo, silêncio e tranquilidade (algo que em Manhattan custa ouro) e com transportes à mão de semear para chegar à ilha principal em 15 minutos. Os cinéfilos (e os instagramers) encontrarão por aqui, mais precisamente na rua Washington, de frente para a Ponte de Manhattan, a foto de capa de Era Uma Vez na América, último filme realizado por Sergio Leone (protagonizado por Robert De Niro “Noodles”) e que conta a história de um grupo de amigos de ascendência judaica que crescem entre gangues nas ruas de Lower East Side. A caminhar bem, Williamsburg fica a uma hora de distância. O sábado pode ser o dia perfeito para começar a descobrir os vícios de Brooklyn, para tentar perceber a ordem das peças. Sabbath e trajes a rigor do lado sul da Broadway (fotos não recomendáveis), enquanto a norte, na zona de acção dos criativos da cidade, as mil e uma receitas do mercado Smorgasburg, as tendências entre as avenidas Bedford e Manhattan e talvez um bom brunch antes do merecido descanso num dos dois parques das imediações (o East River ou o McCarren, onde o basebol amador é rei). O segundo plano de ataque diz-nos que Brooklyn é feito de bairros residenciais, onde vivem pessoas reais. Não que não vivam pessoas reais em Manhattan, mas mal atravessamos o rio para o lado de cá sentimos que o dresscode se torna mais casual, que o passo abranda, que o sotaque se torna mais espesso, o céu mais alto e espaçoso. Deste lado, o boom está a acontecer precisamente pela ligação umbilical de Brooklyn com Manhattan. Mas o encanto de Brooklyn é o facto de ter uma atmosfera relaxada, ligeiramente provinciana, seguramente e sempre multicultural. Sugestão: sair de casa e perguntar à primeira pessoa do bairro — pode ser ao vagaroso Joey, cão ao colo — que caminho seguir. Ir a pé. Só assim teremos acesso às pessoas reais e às pistas que elas nos deixam, como migalhas num conto infantil. O miolo de Brooklyn, de Greenpoint a East Williamsburg, de Newtown Creek a Bushwick (também já encontrámos migalhas em Ridgewood), está cheio de pequenos grandes projectos que vamos querer espreitar (tropeçámos logo no café japonês Brooklyn Ball Factory, na avenida Montrose, 95), de arte de rua pura que se confunde com a vida dura das ruas (ainda sem as mil e uma visitas guiadas dos locais mais turísticos), de carros clássicos escondidos com os pára-choques de fora, de pequenos gavetos que aos poucos se transformaram em hortas e jardins comunitários (são como “salas de ensaio para a democracia”, avisa-nos David; “as crianças aprendem o que é uma reunião, aprendem a conversar, a discutir temas e a falar cada um na sua vez”), de vias terrestres parcialmente cobertas por vias férreas onde os carros ligam os médios a meio da tarde. Tudo envolvido numa espécie de banda sonora, uma vibrante mistura entre a cadência dos comboios que nos “sobrevoam” (“stand clear of the closing door, please”), os carros de janela aberta a debitarem hip-hop e as biclas artilhadas de modernas colunas de som — com a mesma potência dos tradicionais boombox ou ghettoblaster. No número 168 da Avenida Johnson, Troy (natural da Califórnia, a viver em Brooklyn há 20 anos), um dos fundadores da Human Head Records, recorda um ambiente pesado. “Muita droga, muito crime, muita festa também, nada de polícia”, descreve sentado ao lado de um gira-discos e da pacata Penny, uma galga habituada a ouvir os milhares de discos que circulam pelas caixas e arquivos da loja (inclusive discursos de Martin Luther King a cinco dólares). A um quarteirão de distância, no Cup, ao lado da estação de metro Montrose Avenue, John (Colorado) serve-nos um café expresso brasileiro de torra local (Plowshares), “Há dez anos era perigoso. A coolness começou junto à água e alastrou”, recorda, antes de apontar no mapa um alfarrabista indispensável (outro é o Book Thug Nation). “O estranho é que há dez anos Williamsburg orgulhava-se de não ter cadeias internacionais, apenas lojas independentes”, sublinha Josh, atrás do balcão da atafulhada Human Relations (no número 1067 da Avenida Flushing está o letreiro em português “vende e compra livros em espanhol, francês, português e tudo mais. . . ”). “Esse sonho foi abandonado. Não se pode controlar. Só em Brooklyn vivem 3, 5 milhões de pessoas. A mudança é inevitável. Vivemos num limbo em que, por exemplo, as marcas se apropriam da street art. Nas últimas dez décadas, as pessoas iam presas por isso. ” Do lado de cá, ainda há quem ocupe e se instale. Sinta-se em casa. “Este lote estava desocupado nos anos 1990”, explica Dave (Seattle), dono da peculiar Better Read Than Dead, livraria instalada num dos quatro contentores marítimos encaixados num beco sem saída que albergam onze projectos independentes (tatuadores, velharias, pintores de letreiros e outros artigos e serviços mais ou menos punk) em plena Broadway (867). “Não havia nada em Brooklyn”, exagera Montse, arquitecta espanhola há dois anos a trabalhar em Manhattan. “Tinha medo. As pessoas caminhavam depressa. ” Hoje, cada pessoa com que falamos aponta uma área no mapa distorcido da dinâmica e mutável Brooklyn — ela aponta a zona residencial de Park Slope e, já agora, os sinais da gentrificação de Red Hook (Onde raio fica Red Hook? O centro cultural Pioneer Works responde), zona onde aterrou um IKEA e onde é possível chegar num belo passeio de ferry, que triangula com o DUMBO e Wall Street. Quando o calor apertar, procure-se uma boca de incêndio violada (sim, essa cena de filme existe bairro sim, bairro não). Quando as pernas começarem a ceder, teremos sempre jazz no LunÀtico (rua Halsey, 486; consumo obrigatório). Quando acharmos que há demasiado lixo à nossa volta para ser verdade, lembremo-nos das palavras e acções do nosso anfitrião, que sempre que vai passear o gigante Mormon leva um saco a tiracolo que enche de coisas para deixar numa mesinha no alpendre para os vizinhos se servirem (“No nosso bairro mantemos as coisas limpas e plantamos coisas. Acreditamos que a beleza pode empurrar a sujidade. É contagioso. As pessoas preocupam-se porque percebem que alguém se preocupa. ”) Quando perdermos o rasto das migalhas, reencontre-se a Broadway — a do lado de cá, a genuína, provavelmente a avenida mais cheia de vida do mundo. Vamos a Manhattan? Hoje não. Fica para outro dia. 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REFERÊNCIAS:
Franchise, capítulo segundo
O que começou como uma “prequela” aos livros de Harry Potter começa a acusar o peso de ter de ser uma série de filmes a corpo inteiro. (...)

Franchise, capítulo segundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181128200822/https://www.publico.pt/1850784
SUMÁRIO: O que começou como uma “prequela” aos livros de Harry Potter começa a acusar o peso de ter de ser uma série de filmes a corpo inteiro.
TEXTO: Não era surpresa que, embora tivesse dado por terminadas as aventuras de Harry Potter, , J. K. Rowling não tinha fechado por completo a porta de regresso ao seu universo mágico. E já aquando da estreia de Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los (2016) era sabido que a sua intenção era desenvolver uma nova série de “prequelas”, feitas directamente para o cinema, à volta de Newt Scamander, o autor do manual de animais mágicos que é leitura obrigatória em Hogwarts. Os Crimes de Grindelwald é o segundo dos cinco filmes previstos para esta nova série, mantendo toda a mesma equipa técnica e criativa dos filmes anteriores — a começar pelo realizador britânico David Yates (que parece ter encontrado emprego vitalício a traduzir em imagens a escrita de Rowling). Aqui, na Paris de 1927, o que se joga é a captura do feiticeiro Gellert Grindelwald, fugido à justiça e desafiando as leis do mundo mágico para impor um regime ditatorial de feiticeiros de “puro sangue”. E a chave desse domínio reside no jovem órfão Credence Barebone, que parece deter a chave que lhe permita assumir o domínio sobre os mundos paralelos dos humanos e dos feiticeiros. Realização: David Yates Actor(es): Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Jude Law, Johnny Depp, Zoë Kravitz, Callum TurnerConhecendo como conhecemos as múltiplas tomadas de posição pública da escritora, Rowling está a falar dos populismos e das demagogias dos nossos tempos: o seu Grindelwald é interpretado por Johnny Depp como um cruzamento entre o Bowie da fase Scary Monsters e um Hitler albino que sublinha a atracção maléfica da personagem. Mas o “número” tradicional de Depp a esconder-se por trás da máscara já não funciona como antes (sobretudo quando o actor está em piloto automático como vedeta convidada), e Os Crimes de Grindelwald é menos lúdico e divertido que Monstros Fantásticos, apesar de uma ou outra cena inspirada. A partir do momento em que se torna evidente que o novo filme não é mais do que um episódio de uma aventura maior e que (ao contrário do anterior) não funciona independentemente dos outros, o interesse dissipa-se e voltamos à adaptação puramente ilustrativa, perdendo a frescura que sentimos há dois anos. Talvez mudemos de opinião uma vez o ciclo fechado, mas a sensação é que para já este segundo capítulo é mais do mesmo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos
Jean-Paul Rappeneau: “Como é possível não amar os actores?”
O realizador francês trabalhou com Adjani, Binoche, Deneuve, Belmondo, Montand. E Depardieu, que dirigiu em Cyrano de Bergerac, agora de novo nas salas. Esteve em Lisboa, a convite da Festa do Cinema Francês, e falou ao PÚBLICO de uma carreira iluminada pelas grandes actrizes. (...)

Jean-Paul Rappeneau: “Como é possível não amar os actores?”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-10-13 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181013140819/http://publico.pt/1846496
SUMÁRIO: O realizador francês trabalhou com Adjani, Binoche, Deneuve, Belmondo, Montand. E Depardieu, que dirigiu em Cyrano de Bergerac, agora de novo nas salas. Esteve em Lisboa, a convite da Festa do Cinema Francês, e falou ao PÚBLICO de uma carreira iluminada pelas grandes actrizes.
TEXTO: Jean-Paul Rappeneau passou a sua carreira no cinema francês a pôr em destaque algumas das maiores vedetas do Hexágono: Catherine Deneuve, Isabelle Adjani, Juliette Binoche, Gérard Depardieu, Jean-Paul Belmondo, Yves Montand. O pormenor é que, entre 1965, ano da sua estreia na longa-metragem com Escândalo no Castelo, e este fim-de-semana de Outubro de 2018 em que visita Lisboa a convite da Festa do Cinema Francês da qual é o “padrinho” desta edição, Rappeneau, hoje com 86 anos de idade, assinou apenas oito longas-metragens. O que torna essa raridade invulgar é o êxito da maior parte delas; à cabeça, está Cyrano de Bergerac, a sua adaptação de 1990 da peça clássica de Edmond Rostand, nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro e de melhor actor (Gérard Depardieu, premiado em Cannes), que fez a abertura da Festa e está de regresso ao circuito comercial em versão restaurada. O autor de êxitos como Cyrano, Os Noivos da Revolução (1971, com Jean-Paul Belmondo e Marlène Jobert) ou O Meu Irresistível Selvagem (1975, com Catherine Deneuve e Yves Montand) não deveria precisar de esperar anos entre filmes. “Pois não!” ri-se Rappeneau num hotel lisboeta. “Sou uma jóia rara!”, continua. “Não tenho realmente resposta para isso. Nunca senti a necessidade de fazer filmes uns atrás dos outros, e quando termino um filme não tenho projectos na gaveta, não sei o que vou fazer a seguir. Há sempre um período em que ando à procura, leio livros, falam-me disto ou daquilo, e isso leva tempo. E também há casos em que levo tempo a desenvolver projectos que depois, por esta ou aquela razão, acabam por não avançar. ” Cita um projecto ambientado no mundo da diplomacia, com o título Negócios Estrangeiros, que chegou inclusive a iniciar construção de cenários e repérages em exteriores antes do produtor acabar por “atirar a toalha” e cancelar o projecto. “São coisas que acontecem. Ter uma carreira é fazer uma estranha dança com o tempo. . . ”A carreira de Rappeneau arrancou muito longe dos filmes clássicos de prestígio com que o identificamos (como Cyrano ou o posterior O Hussardo no Telhado, 1995, com Juliette Binoche). O realizador foi contemporâneo da Nouvelle Vague, trabalhando como assistente e argumentista de Louis Malle, em Zazie no Metro (1960) e Vida Privada (1962), ao mesmo tempo que escrevia para Alain Cavalier (O Duelo na Ilha, 1962) ou Philippe de Broca (O Homem do Rio, 1963, com Belmondo). A atenção ao argumento é uma das suas marcas registadas — “mas atenção, sou um realizador que escreve e não um argumentista que realiza, ” diz Rappeneau ao PÚBLICO. “Como muita gente da minha idade, era um rapazinho que lia muito, rato de biblioteca, e não ligava muito ao cinema. Descobri-o muito mais tarde, mas mesmo quando percebi que era cinema que eu queria fazer, as coisas começam sempre com papel e lápis, mesmo para fazer um storyboard. Talvez seja algo que venha da minha infância, do meu desejo de também poder um dia contar histórias. ”Curiosamente, os seus filmes mais conhecidos não são argumentos originais – Cyrano baseia-se na peça do século XIX de Edmond Rostand; O Hussardo no Telhado é um romance clássico de Jean Giono; Boa Viagem (2003), ambientado durante a invasão alemã da França durante a Segunda Guerra Mundial, foi criado com o romancista Patrick Modiano, vencedor do Nobel. “No princípio da minha carreira, ” confessa entre risos Rappeneau, “achava que era preciso ser eu a escrever, o autor na sua torre de marfim, um deus no centro do filme! Com a idade tornei-me muito menos teórico. Mas é verdade que nunca teria pensado em filmar Cyrano se não tivesse recebido um convite dos produtores. ”A origem desse filme, aliás, é digna de ser contada — coisa que Rappeneau faz com verve e graça. “Quando me propuseram Cyrano, eu estava a escrever um filme para Isabelle Adjani, e o meu agente telefonou-me a dizer para parar tudo, 'querem que faças o Cyrano de Bergerac'. 'O quê, a peça?' 'Sim!' 'Mas para a televisão?' 'Não, não, um filme. ' Torci o nariz. Tinha uma imagem de qualquer coisa antiga, poeirenta, não me apetecia muito pegar nisso. 'Mas também querem saber, se aceitasses, quem escolherias para o papel, com quem quererias fazer o filme. Precisamos de responder hoje. '” E o filme que é ainda hoje o título mais conhecido da carreira de Rappeneau resolveu-se, como ele diz, “num dia, depois do telefone tocar às dez de manhã”. Foi o realizador quem sugeriu o nome de Gérard Depardieu para o papel do fidalgo gascão, poeta, boémio e soldado de grande nariz. “Creio que os produtores estavam a pensar em Belmondo, mas nessa altura eu tinha vontade de trabalhar com Depardieu e a imagem apareceu-me como quem não quer a coisa. Alguém de muito forte e ao mesmo tempo muito frágil, com uma alma de criança. E havia muito de Depardieu em Cyrano. ”Cyrano é também um caso à parte na carreira de Rappeneau, que diz começar sempre um filme pensando na personagem feminina. “É preciso que uma mulher ilumine um projecto, é sempre pela mulher que começo. ” O que lhe criou algumas dificuldades quando trabalhou pela primeira vez com Yves Montand em O Meu Irresistível Selvagem, em 1975: “Ele era muito amigo da Deneuve, com quem contracenava, mas nunca tinha trabalhado comigo e estava convencido que eu estava a fazer o filme para ela e que ele estava só a fazer figura de corpo presente, e passou o tempo às turras comigo. Mudou de opinião depois de ver o filme, onde aliás ia muito bem. Telefonou-me depois da estreia a dizer 'Agora quero a vingança! Fazemos outro filme, serei um violoncelo entre os teus dedos, e vou deixar-te em paz. '”Esse filme foi A Vida é uma Festa (1982), onde Montand contracenava com Isabelle Adjani, com quem Rappeneau voltaria a filmar em Boa Viagem, ao lado de Gérard Depardieu… Se os actores se repetem nos seus filmes não é por acaso; é porque “se sentem amados, ” diz o realizador. “É uma história de amor, e aliás não sei como é possível não amar os actores. Vocês vão ter aqui em Lisboa uma retrospectiva do Henri-Georges Clouzot, que era uma figura odiosa, que filmou com a mais bela mulher do mundo que era a Brigitte Bardot e lhe deu um dia um estalo e gritou 'Cala-te!' Eu sou exactamente o contrário. Dizia-se que o Jean Renoir tirava o chapéu antes de arrancar uma cena por respeito aos actores, que são quem traz a vida ao filme. A mim já me aconteceu atravessar o décor depois de uma cena para ir abraçar e beijar os actores. Como se fossem uma dádiva do céu. E eles sentem isso. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A modéstia de Jean-Paul Rappeneau só pode vir de um cavalheiro francês à antiga, que confessa ter saudades dessa geração de estrelas. “É verdade, fazem falta actores como esses. Ainda os há — a Juliette Binoche no Hussardo no Telhado, por exemplo, onde me deixou siderado, emocionado, em lágrimas. Mas estou agora a preparar um filme que tem uma personagem feminina forte, jovem, olho à minha volta e não vejo quem poderia interpretá-la. Continuo atentamente à procura”, sorri cúmplice. Cyrano de Bergerac, apresentado em versão restaurada na abertura da Festa do Cinema Francês, está em exibição no circuito comercial. A Festa do Cinema Francês dedica ainda um pequeno ciclo às obras de Jean-Paul Rappeneau, com a exibição no cinema São Jorge, sempre às 19h00, de Boa Viagem (este domingo, dia 7) e Que Famílias! (segunda-feira, dia 8)
REFERÊNCIAS:
Uma exposição sobre incêndios e a inclusão que nasce das cinzas
Crianças e jovens com autismo visitaram exposição sobre os incêndios de Outubro de 2017 e o ano que se seguiu. A partir de Dever de Memória, pegaram numa câmara polaróide e fizeram-se fotógrafos por umas horas. Se um olhar salva do esquecimento, a fotografia pode ser uma arma de inclusão (...)

Uma exposição sobre incêndios e a inclusão que nasce das cinzas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Crianças e jovens com autismo visitaram exposição sobre os incêndios de Outubro de 2017 e o ano que se seguiu. A partir de Dever de Memória, pegaram numa câmara polaróide e fizeram-se fotógrafos por umas horas. Se um olhar salva do esquecimento, a fotografia pode ser uma arma de inclusão
TEXTO: Quando Ana Carolina observa as fotografias expostas nas paredes brancas da Quinta da Cruz, em Viseu, parece saber que um olhar pode salvar o mundo do esquecimento. Demora-se na contemplação. Comenta. Entristece ou entusiasma-se. Nunca fica indiferente. “Isto é um bocadinho triste”, diz: “Parece que as pessoas perderam tudo e agora só lhes resta acreditar numa Santa. ” A fotografia à frente dela mostra um altar, a Nossa Senhora, velas, flores. E um céu ainda avermelhado, de luto por uma noite que o lugar de Ventosa, em Vouzela, não esquecerá. Foi Adriano Miranda quem captou a cena, na manhã de 16 de Outubro de 2017, quando os incêndios acesos na noite anterior anunciavam ao país que a tragédia de Pedrógão não era ainda o fim do poço. O pior dia do ano, o pesadelo maior, era agora aquele. Ana Carolina foi ver a exposição Dever de Memória com mais dez crianças e jovens da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Viseu. No fim, todos pegaram numa câmara polaróide e, com a orientação dos fotojornalistas Adriano Miranda e Nuno André Ferreira, autores da exposição, foram fotógrafos por umas horas. A fotografia é uma arma – e eles já sabiam. Mal cruzam o túnel escuro que dá entrada à exposição, cortinas pretas à frente, chão coberto de folhas e a cor do fogo nas fotografias das paredes, o espanto toma conta dos visitantes. “Quase parece que estamos lá”, alguém comenta em surdina. Martim Duarte, 12 anos, já entrou naquele edifício “milhares de vezes”, mas nunca para ver uma exposição sobre os incêndios. “Quando veio o fogo”, apressa-se a contar, teve até de “andar de máscara” por causa do fumo. E o avô “perdeu tudo, até ia ficando sem o cão”. Para aquelas crianças e jovens com perturbações do espectro do autismo, dos cinco aos 27 anos, a história dos incêndios não é apenas notícia de jornais ou televisão. Um amigo, um familiar, um vizinho: quase todos têm elos directos com aqueles dias de medo e incerteza. E sabem bem das dores e vidas suspensas, mas também da esperança possível numa narrativa tomada pelo negro. “Para além de louvar o espaço e a exposição”, Delfim Domingues quis notar a oposição entre o início da mostra, onde o incêndio começa, e o fim, cerca de um ano depois. “Numa sala temos casas destruídas e vidas arruinadas, na outra temos pessoas a saltar para a piscina”, escreveu no livro da exposição que fica em Viseu até ao fim do ano e deverá, em 2019, passar pelo Porto e Lisboa. Prazeres Domingues, presidente da direcção da APPDA de Viseu, está sempre pronta para deixar as paredes da associação e levar as suas crianças e jovens para o “mundo real”. Para ela, é esse o caminho mais curto para uma integração eficaz. “Um dos dramas do autismo é a falta de compreensão da sociedade para os comportamentos” que pessoas no espectro possam ter. E, por isso, ir para a rua é um duplo ganho: a comunidade aprende a lidar com eles e eles aprendem a viver melhor na comunidade. Ana Carolina tem muito clara a forma dos seus sonhos. É ainda “muito nova”, mas já decidiu o caminho profissional a tomar: “Quando crescer quero ser pintora, fotógrafa e escritora”, responde assertiva, óculos redondos, fita azulada na cabeça: “Já estou a escrever um livro. É uma comédia surrealista e chama-se Contos Absurdos: Aqui e Acolá. ” Aos 16 anos, a estudante da Escola Secundária de Viriato faz recortes de jornais para se inspirar, adora “inventar contos sem sentido”, tem o Inglês e História como disciplinas favoritas no 11º ano. “Gosto muito de História porque imagino como seria viver noutros tempos. Eu, a lady Carolina, ao lado de um rei qualquer”, diz sorridente, semblante lírico. Na mata da Quinta da Cruz, com máquinas fotográficas polaróides, todos andam em busca da sua ideia de belo. De uma mensagem a passar. Podem ser as paredes graníticas, uma árvore-estátua feita com ferramentas, flores e frutos, o recorte das árvores no céu carregado, pormenores arquitectónicos. “Adorava ter uma máquina destas”, comenta Ana Catarina ao mostrar a sua “obra” preferida, um retrato do amigo Delfim: “Esta imagem mostra felicidade, gosto muito de ver este sorriso. ” E Delfim Domingues, que no curso de Animação Socio Cultural até teve aulas de fotografia, “a preto e branco e com rolos”, estende a sua polaróide predilecta, retrato de grupo onde a diversão está estampada: “Não tenho de dizer mais nada”, desafia sorridente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A arte é quase sempre um meio privilegiado de expressão para pessoas com autismo. Dos 167 utentes da APPDA de Viseu, só três não adquiriam a fala. Alguns não alcançam muitas competências, outros têm até uma inteligência acima da média. Uns ficam pelos primeiros anos de ensino, outros chegam à faculdade. Carolina Camilo, 27 anos, veio do Brasil há pouco tempo. Quando o incêndio de Outubro aconteceu ela estava do outro lado do oceano, viu uma ou outra notícia na televisão. Mas não imaginava isto. “Só ao chegar percebi melhor. E aqui ficou clara a gravidade da situação”, comenta. Apesar de ser aluna do curso de Artes Plásticas, o contacto com a fotografia era nulo: “Foi a primeira vez que fotografei. Gostei muito. ”Prazeres Domingues não precisava de provas, mas acabou por recolher ali mais uma. Com a inspiração dos fotojornalistas Adriano Miranda, do PÚBLICO, e Nuno André Ferreira, do Correio da Manhã e Agência Lusa, as crianças e jovens da APPDA “ganharam o bichinho da fotografia”, comenta dias depois da iniciativa que, tal como a exposição, é promovida pela Câmara Municipal de Viseu. Na associação já se pensa em promover um atelier de fotografia no próximo ano: “Isto abriu-lhes novas perspectivas. ” E para progenitores de crianças e jovens com autismo, como a própria presidente da associação, não há alegria maior do que essa: “Qualquer pai que tem um filho diferente só deseja que ele seja aceite e se integre. Nada magoa tanto como o olhar de reprovação”, assegura. E se um olhar pode salvar do esquecimento, a fotografia pode também ser uma arma pela inclusão. Benedita, Ana Carolina, Filipe Domingues, Martim, Ricardo, Vera, Filipe Costa, Carolina, Delfim, João e Ana Catarina fazem uma roda. Cada um vai escolher a sua imagem favorita, para aparecer nas páginas do jornal. As restantes levarão para casa. Ou, juntando todas, pensam, talvez possam construir um álbum daquele momento. A exposição Dever de Memória, que deu também origem a um livro, “tocou ao coração” de Ana Carolina: “Tenho tios que perderam casas e depois disto consigo pôr-me nas sapatilhas deles. ” E na imagem eleita por Carolina Camilo há uma dupla leitura onde cabe a alma da mostra. “Há vegetação seca e outra verde”, descreve, "é o que foi destruído e o que já ficou bem. ” Lição mais do que apreendida.
REFERÊNCIAS:
“Fileira da gastronomia” vale 20% do PIB
“Do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”, diz o ex-ministro Poiares Maduro. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias" entre vários sectores. (...)

“Fileira da gastronomia” vale 20% do PIB
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180621174349/https://www.publico.pt/1769844
SUMÁRIO: “Do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”, diz o ex-ministro Poiares Maduro. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias" entre vários sectores.
TEXTO: Quando estava no Governo de Pedro Passos Coelho como ministro do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro teve curiosidade de saber qual o valor económico daquilo a que chama a “fileira da gastronomia”. Um estudo sobre o assunto, encomendado pelo seu ministério, concluiu que, se somarmos as várias actividades com ligações à gastronomia (da agricultura à cerâmica), estas representam “mais de 20% do PIB”. Poiares Maduro foi uma das pessoas que Ana Músico, organizadora do festival Sangue na Guelra, ouviu atentamente no seu esforço para ajudar um grupo de chefs a organizar ideias para um manifesto sobre a cozinha portuguesa. E nessas conversas o antigo ministro defendeu a sua ideia. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias entre estes vários sectores”, explica Poiares Maduro ao PÚBLICO. “Estamos a falar de áreas de actividade que muitas vezes não estão relacionadas e por isso não se potencial o valor acrescentado que daí pode resultar. ”Conta que durante a sua passagem pelo Governo tentou explorar algumas dessas sinergias, aproximando, por exemplo, os chefs portugueses dos produtores de carne de raças autóctones ou dos artesãos que fazem peças em barro que podem valorizar a apresentação dos pratos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além disso, continua, “do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”. Sendo uma área que vem despertando um interesse cada vez maior, “pode ser simbólica para algo de que Portugal necessita muito: promover a criação e a inovação mas baseadas na tradição e na história. ”Por isso, defende, “o manifesto deve identificar muito claramente as mais-valias que quer promover, a cooperação e os efeitos de rede entre os diferentes actores, a valorização da tradição sem ter receio da inovação e da criatividade”. Lembra que outros países, como o Peru, criaram estratégias “para fazer da gastronomia o seu farol turístico e tiveram um impacto enorme”. Isso pode passar por coisas muito simples, como estabelecer que todas as embaixadas passem a usar obrigatoriamente produtos portugueses. No passado talvez fosse difícil fazer avançar uma ideia como esta – “havia quase vergonha de promover a gastronomia como actividade económica, se um governo dissesse que ia promover um plano estratégico para a valorização da nossa gastronomia, provavelmente arriscava-se a ter artigos nos jornais a dizer que ‘esses senhores querem é comer bem’”. Hoje as coisas mudaram, acredita Poiares Maduro, e o país cada vez percebe melhor a necessidade de potenciar uma área económica aproveitando os recursos endógenos. “Isso é que pode ser diferenciador”, afirma. A. P. C.
REFERÊNCIAS:
Chefs juntam-se e criam o Manifesto para a Cozinha Portuguesa
Partilhar ideias, conhecimentos, produtores. Discutir. Investigar. Há nos cozinheiros a vontade de ir mais longe. Vai nascer um manifesto, que será revelado em Maio, para unir as pessoas “em torno de uma bandeira gastronómica”. (...)

Chefs juntam-se e criam o Manifesto para a Cozinha Portuguesa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180621174349/https://www.publico.pt/1769843
SUMÁRIO: Partilhar ideias, conhecimentos, produtores. Discutir. Investigar. Há nos cozinheiros a vontade de ir mais longe. Vai nascer um manifesto, que será revelado em Maio, para unir as pessoas “em torno de uma bandeira gastronómica”.
TEXTO: Nunca até agora os chefs portugueses se tinham juntado desta forma para discutir aquilo que têm em comum: o passado, o presente e o futuro da cozinha que fazem. A iniciativa partiu dos organizadores do festival Sangue na Guelra, Ana Músico e Paulo Barata, e o resultado será o Manifesto para a Cozinha Portuguesa 0. 0, a apresentar no simpósio que marca o primeiro dia do festival, a 5 de Maio. Nesse dia, um grupo de chefs portugueses subirá ao palco e dirá ao que vem. Ana e Paulo esperam que seja o princípio de um movimento. “O que nos mobiliza é perceber que vivemos um momento único na nossa gastronomia, que tem vindo num crescendo nos últimos dez anos”, diz Ana. “Percebemos que há uma vontade de as pessoas se unirem em torno de uma bandeira gastronómica. ”As muitas conversas que tiveram com cozinheiros ao longo dos cinco anos em que organizam o Sangue na Guelra — um festival que se assumiu sempre como alternativo e que veio dar visibilidade aos “número dois” dos grandes chefs — levaram Ana Músico e Paulo Barata a perceber que uma das coisas que mais preocupam este grupo é “a desunião”. Daí a proposta de criar espaços de encontro e momentos que lhes permitam trabalhar em conjunto. Depois surgiu a ideia de um manifesto, tal como aconteceu noutros países — o mais famoso é, provavelmente, o da Nova Cozinha Nórdica, que consolidou a revolução que estava a acontecer nos países escandinavos, muito impulsionada pelo restaurante Noma e pelo seu chef, Rene Redzepi. Nesse documento, que afirmou um novo momento numa cozinha até aí quase totalmente ignorada pelo resto do mundo, os chefs comprometiam-se, entre outras coisas, a trabalhar com ingredientes da estação, a promover os produtos nórdicos, a “expressar a pureza, frescura, simplicidade e ética” que queriam associar à sua região. O conteúdo do manifesto português só será divulgado a 5 de Maio, mas passará também por alguns desses pontos — a relação com os produtores, por um lado, mas também com os investigadores em diversas áreas, da história da alimentação à nutrição — e acrescentará outros que reflictam mais o debate em Portugal, nomeadamente o equilíbrio entre tradição e inovação. “A nossa gastronomia tradicional é tão forte que para a maior parte das pessoas a nova gastronomia é ainda uma coisa muito estranha. Muitos chefs sentem-se limitados na sua criatividade porque as pessoas esperam deles uma cozinha reconhecível”, explica Ana Músico. Que sublinha: “Este manifesto é dos cozinheiros, nós limitámo-nos a absorver as ideias deles. ” E porquê o “0. 0” no nome do manifesto? “Zero de origem e zero por ser um número que não vale sozinho, que precisa dos outros”, responde Ana Músico. Não será um documento de ruptura, de corte com o passado ou com o tradicional. Para Hugo Brito, do Restaurante Boi-Cavalo, por exemplo, o que está em causa é afirmar uma cozinha que respeita “e faz perdurar uma memória histórica”. E sublinha: “As nossas tradições não são tão claramente marcadas por um território com uma cozinha tão específica como a nórdica [que tem menos ingredientes por depender de um clima muito mais difícil]. Temos falado da ideia de Lisboa como uma cidade porosa, generosa, aberta. Além disso, somos menos regionalistas do que outros países, sempre tivemos migrações internas e isso também nos caracteriza. ”Sangue, sal, pão, frituras — os temas escolhidos para os chefs trabalharem foram os básicos da cozinha. Divididos em grupos, começaram a explorá-los para perceber até onde os podiam levar. Luís Barradas, do Tago’s, em Almada, diz estar “muito entusiasmado” com o que seu grupo já aprendeu sobre sal desde que começaram a visitar as salinas nas diferentes zonas do país. “Só chegámos até Rio Maior. Ainda temos muitas salinas para visitar. ”É por isso que, defende, encara o manifesto como um ponto de partida. “Sou uma pessoa mais de acção”, explica. “É importante pôr as ideias no papel, mas mais importante é a acção, é o que temos estado a fazer no grupo do sal, criar interesse por um ingrediente, explorá-lo, encontrarmo-nos regularmente, criar uma rede. ”Não é fácil arranjar tempo para tudo, mas assegura que está determinado a continuar a reunir-se uma vez por mês com os seus companheiros de grupo para estudar, aprender, trocar ideias. Hugo Brito diz o mesmo: “Para mim, o manifesto é uma óptima desculpa para começarmos a falar de nós como comunidade, para promover um diálogo. E obriga-nos a criar um discurso com alguma coerência e consistência, que é uma coisa que até agora tem existido pouco. ”Mas não são apenas os chefs que chegaram mais recentemente à actividade que estão entusiasmados. Os grupos de trabalho integram também, por exemplo, José Avillez, que com o Belcanto já conquistou duas estrelas. “Gosto muito de partilhar e acho que tenho essa obrigação”, diz Avillez. “Além disso, mesmo com chefs mais novos, podemos aprender sempre. A partilha faz-nos crescer e querer ser melhores. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não lhe agrada a ideia de associações formais. “As coisas vão surgindo naturalmente. E estamos cada vez mais próximos. ” O grupo de Avillez, que está a trabalhar o pão para o simpósio do Sangue na Guelra, reuniu-se em casa dele para fazer pão no forno a lenha e, apesar de ter sido muito difícil conciliar todas as agendas, gostaram muito da experiência. Avillez recorda que no passado houve iniciativas de encontro, como os pequenos-almoços de chefs (e continua a haver, com sucesso, a Rota das Estrelas), mas acredita que hoje estão reunidas outras condições. “No fundo, vai ter tudo ao mesmo sítio: a economia. Com os restaurantes cheios, temos mais possibilidades de nos juntarmos. Há mais público, há mais dinheiro, logo, mais disponibilidade. ” Hoje existe “uma partilha maior”, diz, por seu lado, Luís Barradas. “Nas gerações anteriores havia mais rivalidade. ”Da “bolha de criatividade”, nas palavras de Ana Músico, que se criou para este simpósio, deve nascer algo mais consequente. “O manifesto não são ideias atiradas para o papel por meia dúzia de pessoas apaixonadas. Ele não será nada sem um contexto político, de acção. Tem que haver consequências e estamos já a planear uma série de iniciativas, que serão depois anunciadas, para lhe dar continuidade. ”
REFERÊNCIAS:
Agências patrocinam eleições de associações de estudantes para garantirem viagens de finalistas
Apoios das agências garantem festas e celebridades nas campanhas eleitorais dos alunos das escolas secundárias. Em troca, ficam com a organização das viagens de finalistas. (...)

Agências patrocinam eleições de associações de estudantes para garantirem viagens de finalistas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-04-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apoios das agências garantem festas e celebridades nas campanhas eleitorais dos alunos das escolas secundárias. Em troca, ficam com a organização das viagens de finalistas.
TEXTO: Algumas agências de viagens usam estudantes do ensino secundário, uma grande parte menores, como angariadores de clientes para viagens de finalistas dando-lhes em troca viagens de graça ou trocando essa colaboração por dinheiro. É igualmente prática corrente agências patrocinarem listas concorrentes à direcção das associações estudantes (AE) de variadas formas, de modo a garantirem a organização da viagem de fim de curso. Uma das agências que angariam estudantes como relações públicas dá-lhes o nome de dealers. O Ministério da Educação “desconhece” esta prática. A “colaboração” dada pelas agências durante a campanha eleitoral para a eleição das AE passa, por exemplo, pela contratação de artistas, cantores, dj’s e actores de séries e telenovelas. Também fornecem brindes e instalam insufláveis. O acordo com as listas candidatas às associações é feito de forma verbal, com os candidatos a darem como garantia optarem pelo programa da viagem de finalistas proposto pela agência caso ganhem as eleições. Os eleitos podem ter ainda outras regalias: por cada 25 viagens garantidas ganham uma viagem de oferta. Essa viagem é atribuída a quem a direcção da associação de estudantes entenda. Esta é, pelo menos, a prática descrita por duas das agências contactadas pelo PÚBLICO. As viagens ganhas podem ser trocadas por dinheiro. “Há eleições em que cada lista é apoiada por uma agência de viagens. É um apoio logístico”, conta Nuno Dias, sócio gerente Slide In Travel. Este empresário afirma que hoje em dia a agência tem mesmo “dificuldade” em garantir a “colaboração” que lhe é pedida pelas listas candidatas às AE devido às muitas solicitações que lhe são feitas. Admitindo que está prática possa “ser estranha”, o sócio gerente da Slide In diz ser difícil fugir a ela porque “são as próprias listas” que concorrem às AE que a exigem. “Eles querem é ganhar as eleições. Quem lhes garanta os artistas mais conhecidos ou as melhores actividades durante a campanha. E nós tivemos de nos adaptar a isto. ”Nuno Dias, que há 20 anos trabalha no mercado das viagens de finalistas, diz lamentar que as coisas se passem assim. “Eles já nem analisam quem lhes apresenta o melhor programa de viagem, o melhor hotel ou a melhor proposta”, diz. “Eles [candidatos às associações] querem ao seu lado quem lhes garanta o melhor apoio durante a campanha. ”Mas também já aconteceu à sua agência e a outras “darem o apoio a uma lista candidata” e esta, depois de ganhar as eleições, “escolhe outra agência”. Este tipo de apoios é igualmente dado a outras organizações responsáveis pelas viagens, como comissões de finalistas que, muitas vezes, se autonomeiam para organizar a viagem, com a participação de artistas ou os brindes a servirem para angariar fundos para ajudar a custear as deslocações. O tema das viagens de finalistas regressou às notícias depois de no fim-de-semana um grupo de alunos portugueses ter sido acusado de causar danos de milhares de euros num hotel em Torremolinos. Já a agência de viagens diz que o grupo não cometeu qualquer acto de vandalismo. O sócio gerente da Slide In defende, contudo, que a organização deste tipo de experiências “devia ter uma participação mais activa dos pais”, lamentando que na maioria dos casos “eles não querem saber de nada”. “A maior parte dos pais quer que o seu filho vá na viagem para não ser a ovelha negra da escola, mas querem que tudo passe depressa. Quando marcamos reuniões de planeamento, na maior parte dos casos aparece um ou dois. ”Há agências que nomeiam “RP” (relações públicas), ou dealers — estudantes que, de forma individual, conseguem clientes para as viagens e que, tal como as associações, ganham viagens grátis ou as trocam por dinheiro. Nuno Dias diz que o “primeiro contacto” para apresentar os programas de viagens é sempre feito com as associações de estudantes, embora também aceitem a colaboração dos chamados “RP”. Na agência Megafinalista esta prática é fortemente incentivada. “We Want You” (“nós queremos-te”), lê-se no seu site. “Queres ser o próximo dealer da tua escola? Envia os teus dados. ” Depois, vêm as explicações mais detalhadas: “Um dealer é aquele que vai convencer e influenciar os amigos e conhecidos a participar numa das viagens que está a organizar”, prossegue. “Imagina o que é ganhares viagens para ti, para os teus amigos. . . ou então podes trocar por €€€. Ganhas uma comissão por cada inscrição que fazes, portanto quantos mais inscreveres mais ganhas!”A agência incentiva ainda os jovens a recrutar e a gerir “uma rede de dealers”. “Afinal não conheces só malta da tua Escola. Imagina o que é teres uma rede de amigos/conhecidos a vender as viagens e tu a ganhares por cada inscrição que eles conseguem! O Céu é o limite. ”A Megafinalista garante que trata os seus dealers “como VIPP’s (Very Important Party People). ” E diz que os “dealers” ganham também “experiência profissional na área de eventos, marketing, relações públicas e social media”. No que respeita ao apoio a candidatos a comissões de estudantes garantem “material que nunca mais acaba”: “Tens uma lista ou conheces alguém que vá concorrer à AE e queres fazer parte? Nós podemos ajudar, temos material que nunca mais acaba bem como parceiros”, dizem, citando várias empresas que “ajudam com brindes, materiais, etc. ” Em suma: “Só tens de garantir que os membros da lista inscrevem 5 pax na tua viagem para teres o nosso apoio!” Uma das imagens que acompanha o texto no site mostra uma jovem com um maço de notas de dólar nas mãos, que parece usar como se fosse um leque. Tomás Linhares de Andrade, sócio gerente da Megafinalista, diz que este tipo de “práticas são correntes”, recusando a ideia de que os estudantes trabalhem para as agências de viagens. “Nós ajudamos os estudantes e eles ajudam-nos a nós”, afirma ao PÚBLICO. Nota, porém, que a “principal prática da agência é a realização de Road Shows [apresentações]” pelas escolas do país, onde revelam os seus programas de viagens. “Temos patrocínios de empresas que nos ajudam e são os alunos que nos pedem ajuda. ”Sobre a escolha do nome dealer para os angariadores de viagens, explica: “Todos lhe chamavam RP e nós quisemos inovar, ser diferente. É uma palavra popular que também está, por exemplo, associada aos vendedores de carros nos Estados Unidos. ”O representante da Megafinalista diz que, este ano, a sua agência terá oferecido “cerca de 100 viagens” graças a este tipo de angariações individuais e colectivas. Um número que representa “15 a 20% de viagens vendidas”. A viagem mais popular e acessível pode ir dos cerca de 300 euros a pouco mais de 500. Já Nuno Dias, da Slide In, diz que a sua empresa terá oferecido entre 30 a 40 viagens. João Rosa, sócio da agência XTravel, que por esta altura também organiza uma viagem que envolve finalistas — embora lhe prefira chamar “festival” —, diz condenar este tipo de práticas. E conta que quando ele e alguns dos seus sócios criaram, há sete anos, esta agência, deixando de trabalhar para outras, o fizeram “por não concordarem com a forma como elas actuavam”. Tinham vontade de “fazer diferente”. Aliás, este empresário não quer que o seu “festival” seja “associado a uma viagem de finalistas. “É um festival de música, num resort de praia, que se realiza na altura das viagens de finalistas, mas que vai muito para lá disso. ”João Rosa diz que “o mundo das viagens de finalistas tem melhorado muito”, mas "ainda hoje há práticas muito pouco recomendáveis". "É um mundo complexo onde há muito experimentalismo. ”“Não é por acaso que quase todos os anos há notícias pouco positivas sobre as viagens de finalistas”, continua. “Desordens, destruições, jovens a quem são prometidos hotéis de quatro estrelas e acabam em parques de campismo, ou agências que recolhem dinheiro para viagens e depois desaparecem com ele. Todos os anos aparece um pato bravo a meter-se no negócio. ”Por isso, defende “que as autoridades e os governantes deviam estar mais atentos” a esta actividade. João Rosa admite que a sua agência também apoia listas candidatas às AE, garantindo, porém que apoiam “sempre todas as listas concorrentes da mesma maneira”, não optando “nunca por uma individual”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Vários pais e alunos ouvidos pelo PÚBLICO dizem que estes procedimentos estão generalizados. Rui Teixeira, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Almeida Garrett, em Gaia, afirma que acontecem “em quase todas eleições de estudantes do secundário no país”. “São como o apoio que dá o café ao lado da escola ou a empresas x ou y. Eles dão-nos apoio e nós devolvemos dando-lhes a organização da viagem de finalistas. Mas para nós o que conta é o programa que apresentamos aos alunos, é isso que nos elege, não é a viagem de finalistas. Se o programa da associação for só a viagem de finalistas, ou os artistas que vão às escolas, isso é que é grave”, afirma admitindo, contudo, que “algumas eleições podem ser condicionadas pelos apoios das empresas”. Rui Teixeira está a organizar, com o apoio do Conselho Nacional da Juventude, um Encontro Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Básico e do Secundário, que terá lugar em Maio, onde este tema estará em debate.
REFERÊNCIAS:
Governo prevê défice de 0,2% em 2019 e crescimento de 2,2%
Mário Centeno revelou ao PAN que o desemprego deverá descer até aos 6% e a dívida pública poderá ficar nos 117% do PIB. O líder da bancada do PSD mostrou-se satisfeito com a redução do défice, mas afirmou estar preocupado com a subida das taxas de juro (...)

Governo prevê défice de 0,2% em 2019 e crescimento de 2,2%
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181224204334/https://www.publico.pt/n1846667
SUMÁRIO: Mário Centeno revelou ao PAN que o desemprego deverá descer até aos 6% e a dívida pública poderá ficar nos 117% do PIB. O líder da bancada do PSD mostrou-se satisfeito com a redução do défice, mas afirmou estar preocupado com a subida das taxas de juro
TEXTO: O défice estimado pelo Governo para 2019 é de 0, 2%, confirmou aos jornalistas o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos, no final de uma ronda com os partidos para a apresentação das linhas gerais da proposta de Orçamento do Estado para 2019 (OE2019). Pedro Nuno Santos disse ver alguma “preocupação” com o facto de se considerar que o próximo Orçamento “poder vir a ser bom”. “Os nossos orçamentos têm sido sempre bons”, afirmou, lembrando que “têm permitido uma melhoria de vida das famílias”. Sobre a redução da dívida pública, o secretário de Estado aproveitou para lançar uma farpa aos partidos da oposição: “Este Governo investiu no Estado social, melhorou rendimentos e tem bons resultados na dívida e no défice. Ainda está por aparecer o primeiro Governo PSD/CDS com melhores resultados que nós em matéria orçamental. "Sem comentar medidas concretas que estão nas negociações da geringonça, Pedro Nuno Santos criticou os “comentadores” que alegam que o Orçamento não tem medidas para as empresas. “Esta separação entre portugueses e empresas não existe”, afirmou, lembrando que este é o OE que “elimina o pagamento especial por conta”. Questionado sobre se dá o OE2019 por aprovado no Parlamento, o governante disse não poder “garantir nada”. “Nós, Governo, PS e restantes bancadas estão a trabalhar e vão trabalhar até ao último minuto para ter um Orçamento aprovado”, afirmou. Durante a manhã, o valor do défice de 2019 previsto pelo Governo gerou alguma confusão. Depois de o deputado do PAN, André Silva ter dito que o ministro das Finanças Mário Centeno – presente nas reuniões desta manhã - tinha admitido que o défice de 2019 podia ficar “entre 0% e 0, 2%”, ou seja, abaixo do previsto no Programa de Estabilidade enviado a Bruxelas em Abril, a deputada do PEV, Heloísa Apolónia, afirmou aos jornalistas que o valor confirmado pelo ministro aos Verdes é de 0, 2%. Quando o PÚBLICO questionara a assessoria do PAN, esta confirmara a tese do intervalo entre 0 e 0, 2%, mas agora - depois da pressão do Governo - o deputado André Silva já admite que possa ter percebido mal e que o valor seja mesmo de 0, 2%. Para além disso, a expectativa é que em 2019 a economia deverá crescer 2, 2% - uma revisão em baixa de 0, 1 pontos em relação ao estabelecido no programa enviado à Comissão Europeia. E também que a taxa de desemprego baixe para 6% e que a dívida pública fique em 117% do PIB. Mário Centeno comunicou estes números ao deputado André Silva, do PAN - Pessoas, Animais, Natureza, o primeiro a ser recebido pelo ministro no Parlamento. Um défice "entre zero e 0, 2%. Nessa ordem de grandeza, foi o que o ministro das Finanças referiu", diria o deputado aos jornalistas, à saída, que acabaria por deixar em dúvida duas horas depois quando admitiu que possa ter percebido mal. 85% das pensões aumentadas acima da inflaçãoO ministro das Finanças adiantou ainda que as pensões serão aumentadas pela lei, ou seja, ligeiramente acima da inflação mas não mencionou qualquer aumento extraordinário de dez euros, como reclamam os partidos à esquerda do PS. "O ministro das Finanças não falou num aumento extraordinário mas disse que 85% das pensões vão ser aumentadas num valor superior à inflação", contou André Silva aos jornalistas. "É, de facto, um orçamento de fim de legislatura, que segue a mesma linha orçamental de anos anteriores: mantém a trajectória de redução da dívida, a reposição de rendimentos e um aparente equilíbrio na medida em que doseia a satisfação das necessidades com a contenção", descreveu André Silva. Ou seja, é um orçamento "claramente virado para os grandes grupos sociais". O que leva o deputado do PAN a lamentar que "continue a não priorizar áreas tão importantes como o ambiente e a inclusão". "Não há medidas de fundo para a protecção e conservação da natureza; não há medidas que visem travar a expansão da área do eucalipto que continua a grassar; e não há medidas que visem corrigir o deficiente tratamento de resíduos em Portugal. As metas de reciclagem não estão a ser cumpridas e a maior parte dos resíduos urbanos continua a ser aterrada ou incinerada com elevados custos ambientais. "Mas o deputado congratulou-se com a "aproximação do PS" ao PAN por a proposta inicial do OE2019 incluir o fim da isenção da taxa do IVA para os artistas tauromáquicos. André Silva realçou que vai continuar a insistir com o Governo para que "introduza também algumas medidas no âmbito da mobilidade eléctrica, da inclusão no SNS e no ensino superior (com a criação de gabinetes de apoio aos estudantes com necessidades educativas especiais), com a contratação de intérpretes de língua gestual portuguesa". Apesar de admitir que este é um orçamento que "agrada" à função pública, aos pensionistas e a uma "fatia muito grande da população", em especial a quem reside nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto (por causa dos passes sociais), e a Bruxelas, André Silva não quis dizer se lhe agrada o suficiente para votar a favor - como fez no deste ano. "Ainda não está fechado; até ao final da semana queremos introduzir mais medidas", afirmou o deputado. Na ronda com os partidos ao abrigo do estatuto da oposição, o PSD foi o segundo a ser recebido. No final da reunião, de cerca de uma hora, Fernando Negrão revelou estar preocupado com a subida das taxas de juro e que o "próprio ministro [das Finanças] reconheceu isso". Questionado sobre se o PSD está satisfeito com a redução do défice e com a taxa de desemprego, o líder da bancada social-democrata respondeu positivamente. No caso da redução do défice, Negrão lembrou que se "trata de uma exigência da União Europeia", mas que no caso do emprego "tem um problema de qualidade". Fernando Negrão manteve em aberto o sentido de voto do PSD, lembrando que o presidente do partido só decide depois de "analisar a proposta" de OE. Mas garantiu que a bancada irá apresentar propostas de alteração que não quis detalhar. Já com a posição definida quanto ao OE2019, a vice-presidente da bancada do CDS Cecília Meireles disse ver na proposta “uma linha de continuidade” e que o partido “disse desde o primeiro Orçamento discordar deste rumo”. A deputada lamentou que o Governo “tenha perdido a oportunidade que era única de investir na economia e defendeu medidas como a eliminação da sobretaxa do imposto sobre combustíveis. A deputada ecologista Heloísa Apolónia congratulou-se com a perspectiva do descongelamento dos salários da função pública mas defendeu que deve ser um "aumento real e que abranja todos os funcionários", acrescentando acreditar ser possível ir além dos 50 milhões de euros, valor que o Governo já admitiu. Sobre as pensões, a deputada dos Verdes contou que Mário Centeno apenas falou no aumento pela lei, mas acredita que a questão do aumento extraordinário é matéria para a discussão na especialidade. Questionada sobre os limites do défice nos 0, 2%, Heloísa Apolónia realçou que "os Verdes não são a favor do descontrolo das contas públicas". "Mas não temos que estar obcecados com os números concretos porque o país precisa estruturalmente de investimento", defendeu, argumentando que o investimento "é relevante para a dinamização da economia e para a capacidade de criação de emprego e riqueza - através das quais também se ajuda a controlar as contas públicas". Como exemplos das medidas que os Verdes querem ver consagradas no OE2019, Heloísa Apolónia enumerou o investimento na Cultura, na ferrovia, no apoio à cultura de espécies autóctones, na atribuição de médico de família para todos os utentes e da disponibilização de cuidados de saúde oral em todos os centros de saúde. À saída da reunião com Mário Centeno e Pedro Nuno Santos, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda salientou que o "objectivo comum" do BE e do Governo é "baixar o custo da energia", embora se dividam no caminho para o conseguir. Se o Bloco insiste na redução do IVA, as Finanças preferem medidas alternativas mas "que o Bloco não exclui". Entre as prioridades dos bloquistas está também o aumento das pensões já em Janeiro. Questionado sobre se o Bloco tenciona votar a favor da proposta de orçamento do Governo, Pedro Filipe Soares diz que o partido nunca começou um processo orçamental impondo condições e salientou que o processo é longo, que um dos pontos é a votação na generalidade mas “só fica fechado no final de Novembro”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Insistindo que os aumentos da função pública têm que ser discutidos com os sindicatos, o líder parlamentar do PCP considerou que os 50 milhões são um valor escasso para distribuir por todos os funcionários - o partido defende que o aumento seja para todos. Mas João Oliveira continua a não adiantar valores unitários. Questionado sobre a necessidade de o valor global ter que estar previsto na proposta de orçamento, o líder parlamentar comunista replicou que mesmo que não esteja há sempre margem nas dotações provisionais do Ministério das Finanças onde se ir buscar dinheiro. À saída da reunião com Mário Centeno, o deputado comunista desfiou as propostas da sua bancada, do aumento extraordinário de 10 euros em todas as pensões em Janeiro (para evitar acusações de eleitoralismo) ao novo escalão no IRC para lucros das empresas entre 20 e 35 milhões de euros, passando pelo aumento do abono de família ou da criação de um novo patamar do adicional ao IMI, o aumento dos escalões do IRS ou ainda do englobamento dos rendimentos imobiliários na tributação do IRS. Questionado sobre o sentido de voto do PCP, o líder parlamentar vincou não haver "orçamentos aprovados ou rejeitados à partida" e prometeu que o partido continuará a bater-se até às votações na especialidade pelas suas medidas.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP BE PEV
Herman José: “Ter piada em 15 segundos é fascinante”
O humorista e apresentador esteve na Lisboa Games Week para se voltar a mostrar como apresentador de um concurso — num videojogo. Do Instagram às consolas, retira do público jovem um alívio da “tristeza de assistir à passagem do tempo”. (...)

Herman José: “Ter piada em 15 segundos é fascinante”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-12-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O humorista e apresentador esteve na Lisboa Games Week para se voltar a mostrar como apresentador de um concurso — num videojogo. Do Instagram às consolas, retira do público jovem um alívio da “tristeza de assistir à passagem do tempo”.
TEXTO: Herman José esteve a jogar PlayStation. Está bem-disposto mas ligeiramente frustrado. “Mais valia não ter nascido!”, brinca sobre os novos truques que não domina do jogo de quiz Saber É Poder: Gerações, do qual é anfitrião pela segunda vez para o gigante das consolas. Depois da sua apresentação na Lisboa Games Week, fala ao PÚBLICO de como o jogo o devolve ao passado dos concursos e de como o Instagram é parte importantíssima do seu presente — ambos criaram novos públicos. Acumula esses novos fãs com os que o vêem na RTP, e admite: “Isso alivia-me imenso a inevitável tristeza de assistir à passagem do tempo e de estar a viver o terceiro acto da minha vida. ”Para 2019 prepara “um grande espectáculo em Lisboa, acompanhado da regravação de algumas músicas e com algumas novas”. Herman José está num evento a transbordar de miúdos, mas tem sempre em pano de fundo o envelhecimento — de um humorista, do verdadeiro artista. Falamos de Madonna, do Instagram e do prazer de depurar piadas ao segundo. Voltar a este papel, numa consola, é exercitar o músculo de apresentador de concursos de A Roda da Sorte (1990-94) ou Com a Verdade me Enganas (1994-95)?Está a repetir na RTP Memória o Com a Verdade me Enganas e às vezes dou por mim a olhar para aquilo e a ter uma inveja daquele tempo, e daquele tipo que ali está. Com 40 anos, on top of the world, sem problemas de nenhuma espécie, felicíssimo, montado naquela dinâmica de sucesso, de felicidade, de juventude. Estes acontecimentos, neste mundo colorido dos videojogos, essa deliciosa inconsciência das pessoas novas, devolvem-me um bocadinho a esse tempo. Tem saudades de ser mais feliz?Não é uma saudade bacoca, é uma saudade saborosa porque ainda estamos vivos, de saúde. O que mais me espanta é ter dos miúdos e miúdas de 15, 16, 17, 18 anos o mesmo olhar de admiração incondicional — porque a juventude tem essa coisa, gostamos porque gostamos — e isso faz-me sentir tão útil. Hoje, também muito graças ao Instagram e ao YouTube, tenho os espectáculos cheios de pessoas novas. Que riem das coisas certas. As pessoas são muito mais informadas do que há 20 ou 30 anos. Isso alivia-me imenso a inevitável tristeza de assistir à passagem do tempo e de estar a viver o terceiro acto da minha vida. No Com a Verdade me Enganas já tinha as suas “Porcazinhas”, um grupo de jovens no público que o acompanhava. Estar nas consolas, e no Instagram, como tem feito de forma militante, foi estratégico da sua parte para encontrar novos públicos?Não tem verdadeiramente nada de estratégico. Há uma coisa que acontece muito, sobretudo com os humoristas: o processo interior de envelhecimento é muitas vezes retardado porque se está a lidar com material que não envelhece. Por dentro temos sempre a mesma idade. Quando estou a fazer disparates para fazer os outros rir, tenho a mesma idade quando na escola fazia disparates para fazer rir os professores. Essa criança interior estava sempre lá. Quando se tem essa característica, a parte intelectual e interior está sempre fresca. Em Portugal houve imensos exemplos desses, como o do locutor Fernando Pessa. Isso ajuda-nos a combater as inevitáveis chatices que a passagem do tempo traz. Por que é que foi no Instagram, e não antes no Facebook, que começou esta nova faceta do seu humor?O Facebook é uma coisa muito séria. As pessoas precisam de discutir coisas muito importantes, andam à procura do politicamente incorrecto. O Facebook é um bocadinho formal. O Instagram é de uma grande leveza. E é muito infantil. Os bonequinhos do SnapChat, os timings. Isso obrigou-o a ajustar timings de comédia? Há décadas já fazia coisas curtas na rádio ou na TV. Ter piada em 15 segundos é fascinante. Muito pouca gente sabe fazer. É um desafio giríssimo, mesmo estando a fazer televisão tenho de fazer o bypass do que estamos a fazer se quiser fazer uma instastory. Estivemos a gravar a [Maria] Rueff a fazer de Cinha Jardim e eu a fazer de Lili [Caneças]. Numa instastory só temos tempo para três frases. A Lili diz: “Estive noutro dia com o ministro das Finanças e disse-lhe que estar rico é o contrário de estar pobre. ” Diz a Cinha: “Mas isso não é de La Palice?” “Não, querida, isto é João Rolo. ” Em três frases o sketch está feito. A maior parte dos miúdos também não tem mais pachorra para além dos 15 segundos. É muito engraçado porque é quase como uma disciplina, uma escola. Na verdade não tive de me adaptar muito. Sempre tive a mania dos timings. O Tal Canal é um programa com 35 anos e tem um timing mais rápido do que a maior parte dos programas de humor feitos hoje. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tem uma equipa a trabalhar nas suas redes sociais?Sou eu. Noutro dia, o Tony Carreira fez-me o maior elogio involuntário, queria convidar a minha equipa a trabalhar com ele. Tenho uma ajuda na página oficial do Face, que está muito ligada à contratação de espectáculos, mas o resto sou eu que faço a gestão. É o meu passatempo. Quando se meteu com a Madonna e com as suas raízes do cabelo no Instagram, por exemplo, isso teve muito eco — alguma vez obtém respostas dos visados nas redes sociais?A Madonna não dá confiança a ninguém. Acho que ela até faz gala em não comunicar com ninguém em Portugal, tirando as pessoas que a servem, ou porque vai alugar cavalos, ou músicos. . . É horrível de dizer, mas ela não sente Portugal como país verdadeiramente, é como um sítio muito giro onde está. Como os miúdos que vão para Lloret de Mar, Portugal está para a Madonna como Lloret de Mar está para os putos. Isso chateia-me imenso. Mas tenho tido reacções muito giras de outras figuras, como o grande cantor alemão Max Raabe ou uma ou outra figura que passou pelos meus programas, como a Joan Collins ou o Lionel Richie. Tenho tido umas surpresas agradáveis.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola ajuda criança espécie infantil
Parados após acidente fatal, carros sem condutor da Uber voltam às estradas
O projecto esteve suspenso durante nove meses, depois de um automóvel ter atropelado uma mulher nos EUA. (...)

Parados após acidente fatal, carros sem condutor da Uber voltam às estradas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O projecto esteve suspenso durante nove meses, depois de um automóvel ter atropelado uma mulher nos EUA.
TEXTO: Depois de uma pausa de nove meses, os carros autónomos da Uber vão voltar às estradas norte-americanas. A empresa suspendeu todos os testes com estes carros, depois de um acidente em Março ter morto uma mulher que estava a atravessar uma estrada no estado do Arizona, nos EUA. Aquele não foi o primeiro acidente com veículos em que a inteligência artificial controla o volante, mas foi o primeiro caso de uma morte por atropelamento causada por um veículo sem condutor – o que levou a Uber a ser alvo do escrutínio da polícia, investidores e legisladores. O programa vai agora recomeçar na cidade de Pittsburgh, depois de a empresa ter obtido autorização do estado da Pensilvânia. “Está na hora de seguir em frente”, lê-se num comunicado da Uber, publicado esta quinta-feira (não está acessível a partir de Portugal, porque o site foi bloqueado por decisão judicial em 2015). A mensagem da empresa é assinada por Eric Meyhofer, que gere o programa de veículos autónomos da Uber. O projecto recomeça com apenas cinco carros na estrada, mas o objectivo é aumentar o número gradualmente. “Nos últimos nove meses, pusemos a segurança o centro de tudo aquilo que fazemos”, notou Meyhofer. Diz que o objectivo é trabalhar num “sistema que cumpra a promessa de transformar os transportes num sector mais seguro e acessível a todos. ”Os carros autónomos da Uber também vão voltar a circular nas estradas de São Francisco, nos EUA, e Toronto, no Canadá. Nestas cidades, porém, os carros não vão poder circular unicamente no modo autónomo. Em vez disso, cada veículo vai seguir com dois condutores humanos preparados para assumir o controlo a qualquer momento. Não vão existir passageiros. Imagens divulgadas pela polícia de Tempe, no estado do Arizona, mostravam que o acidente fatal da Uber podia ter sido evitado pela “condutora de segurança”. Porém, na altura do impacto, esta não estava a prestar atenção à estrada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2016, uma colisão entre um Tesla Model S e um camião resultou na primeira morte que envolveu veículos sem condutor. O aumento da segurança nas estradas é das maiores promessas dos carros autónomos, mas vários investigadores, engenheiros e profissionais de ética também têm alertado que é fundamental programar as máquinas para o inesperado, como um peão que corre para a frente de um carro. Um estudo global recente, publicado em Outubro, revelou as preferências mais pronunciadas entre as pessoas em relação ao comportamento dos carros quando o acidente é inevitável: poupar vidas humanas face a animais, escolher salvar o maior número vidas possível, e dar a prioridade aos mais novos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA