A Finlândia viajou até Bruxelas com os seus sabores (e não só) de Natal
Mais do que um tradicional mercado, os "Prazeres de Inverno" da capital belga são uma experiência abrangente das sensações e tradições associadas à época da natividade. Este ano a organização convidou a Finlândia a assumir o lugar de destaque do festival e ocupar o centro das celebrações. É por isso que há salmão e glögi, vinho quente onde dominam as notas do mirtilo selvagem. (...)

A Finlândia viajou até Bruxelas com os seus sabores (e não só) de Natal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais do que um tradicional mercado, os "Prazeres de Inverno" da capital belga são uma experiência abrangente das sensações e tradições associadas à época da natividade. Este ano a organização convidou a Finlândia a assumir o lugar de destaque do festival e ocupar o centro das celebrações. É por isso que há salmão e glögi, vinho quente onde dominam as notas do mirtilo selvagem.
TEXTO: Houve chuva em vez de neve na inauguração, mas não a suficiente para encharcar o entusiasmo, desmanchar o cenário e comprometer o ambiente dos “Prazeres de Inverno” preparados pela cidade de Bruxelas para a quadra festiva. Muito mais do que um mercado de Natal, o que a capital belga oferece aos mais de dois milhões de visitantes esperados até 6 de Janeiro é uma experiência abrangente, até mesmo exorbitante, das sensações e tradições associadas à época da natividade. Para isso, este ano a organização foi beber a inspiração directamente à fonte, convidando a Finlândia a assumir o lugar de destaque do festival e ocupar o centro das celebrações. Ao longo da Rue Auguste Ors, encontramos uma pequena aldeia finlandesa que, garantem-nos, representa na perfeição o “espírito Kalevala”, exportado das florestas de Kajaani, na região de Kainuu, para os arredores do enorme edifício da Bourse, epicamente engalanada com luzes natalícias, como de resto todas as fachadas monumentais e as ruas do centro de Bruxelas. Ali, no epicentro das festividades, a lenha é utilizada para fumar lentamente o salmão, que pode ser consumido em prato, em pão ou em sopa; os alces e as renas dão o nome às salsichas e as bagas vermelhas não são decorativas, mas antes o ingrediente principal do glögi, a receita de vinho quente onde as notas do mirtilo selvagem dominam e fazem esquecer os sabores cítricos e carregados de especiarias do doméstico vin chaud ou glühwein. Preparado por monges do mosteiro de Valamo, com os frutos silvestres amadurecidos pelo sol da meia-noite, podem experimentar-se duas variedades de glögi branco ou tinto. Feito o teste, é difícil escolher um favorito: mais seco (o primeiro) ou mais robusto (o segundo), ambos são merecedores dos três euros pedidos por cada dose individual. Além dos artigos artesanais feitos com os produtos naturais do país — a madeira, a lã, a pele e a pedra —, da gastronomia tradicional e do folclore, o que os finlandeses prometeram trazer até Bruxelas foi o “respeito pela natureza”, o “espírito de convivialidade e partilha” e o “calor” da sua cultura polar. E mesmo só uma observação fugaz da multidão ruborescida que se deliciava com o salmão bastava para concluir que a missão foi cumprida. Sentados em bancos de madeira em redor de um fogo aberto, num gigantesco tipi que aprendemos se chama kota em finlandês, dezenas de pessoas protegiam-se da chuva e chocavam animadamente os seus copos de glögi fumegantes (e também, mas menos, de gin napue), embalados pelas tentativas de um apreciador da música de David Bowie de replicar as canções do seu ídolo numa versão mais ou menos acústica. Além do tipi, também existe o Tikku, o protótipo de uma casa com dez metros de altura e a largura e comprimento de um lugar de estacionamento. Desenhado pelo gabinete de arquitectura Casagrande Laboratory, o edifício experimental serve para transportar — virtualmente — os seus visitantes até ao Parque Nacional Hossa. Quem entra, deixa para trás todo o burburinho da rua e depara-se com as maravilhas da Lapónia em estado selvagem. Como está escrito na fachada, trata-se de uma “Maison du Silence”, pelo que o bulício das luzes, dos sinos e dos guizos fica do lado de fora: uns óculos de realidade virtual e de repente a aurora borealis está à nossa frente, a dançar por cima das copas das árvores. (Outras luzes do Norte correm as magníficas fachadas da Grande Place num espectáculo de luz e som que começa a partir das cinco da tarde, cada vez que o relógio marca a hora certa). A experiência natalícia finlandesa não ficaria completa sem a visita do Pai Natal, que virá directamente da Lapónia, não num trenó puxado por renas voadoras, mas num voo patrocinado pela Finnair. A sua chegada a Bruxelas coincide com a celebração preferida das crianças belgas, o Saint-Nicolas ou Sint-Niklaas, que durante a madrugada de 6 de Dezembro deixa presentes a quem se portou bem, geralmente na forma de chocolates e biscoitos de speculoos, que são ubíquos na Bélgica — pelo menos desde 1650, data da primeira referência escrita a esta iguaria feita com manteiga, açúcar mascavado e especiarias (canela, noz moscada, gengibre, cravinho, cardamomo), no molde do simpático bispo que viveu no século III. Não há como negar as semelhanças entre o cristão Sint-Niklaas e o pagão Pai Natal: as longas barbas brancas, as vestes vermelhas, os ajudantes que se encarregam de distribuir os presentes, e, claro, o nome. Mas isso seria assunto para outro artigo e não este — voltemos, por isso, a explorar as maravilhas de Inverno de Bruxelas, e concentremo-nos agora no mercado de Natal. Com mais de 250 cabanas (chalets, como se diz por estas partes), distribuídas num percurso que toca quase todos os pontos obrigatórios do turismo do centro da cidade, num triângulo que abarca a Grande Place, a Bourse e Sainte-Catherine, o mercado reproduz a natureza cosmopolita e internacional da capital belga, com produtos provenientes dos quatro cantos do mundo — bebidas e comidas, claro, mas também têxteis, jóias, brinquedos, cerâmica, velas, sabonetes, e inúmeros artigos decorativos. Ao mesmo tempo, expõe orgulhosamente as paixões dos belgas aos visitantes estrangeiros, principalmente pela cerveja, o que explica o enorme pavilhão da cerveja Leffe no meio do percurso. A lógica dos patrocínios a isso obriga, mas o palco não parece desajustado: pelos vários pontos do mapa, há chalets ocupados por produtores de cervejas artesanais e outras bebidas mais ou menos alcoólicas consumidas na época natalícia: abundam os especialistas em vin chaud e em genebras, e nenhuma das bancas onde se vendem ostras ou escargots dispensam o cliente sem um copo de champanhe. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quem estiver interessado em conhecer as outras delícias natalícias belgas, encontrará os famosos cuberdons (uma espécie de gomas de fruta com uma capa cristalizada em formato de cone), o tradicional cougnou (um pão de leite tipo brioche, que pode ter diferentes recheios como passas, chocolate ou caramelo salgado) ou o boeuf fumé séché, especialidade conhecida como o filete de Antuérpia. Num percurso pelo movimentado "boulevard” instalado no Marché aux Poissons, damos de cara com o casal Milena Araújo e Daniel Portelo, de passeio por Bruxelas e pelos recém-inaugurados “Prazeres de Inverno”. A visita foi marcada há meses, e embora Daniel desconfiasse que “era muito provável” encontrar um mercado de Natal, não foi essa a razão que os atraiu à capital belga. Mas foi seguramente um bónus no seu programa — “uma feliz coincidência”, disseram. Depois de umas boas horas a espreitar as cabaninhas, Milena destacava a “grande variedade” de produtos que viu em exposição: recordando uma visita feita noutro ano ao mercado de Natal de Bruges, preferiu a experiência bruxelense. “Gosto de passear, de picar, de experimentar sabores de vários países, e aqui há uma grande diversidade. Bruges tem um ambiente mais idílico, mais romântico, mas penso que aqui é melhor para passear, comer e procurar prendas para oferecer”, comparou. Pelo seu lado, Daniel “adorou” o carrossel da praça de Sainte-Catherine, onde as crianças pequenas esperam impacientemente uma oportunidade para rodopiar em cima de animais fantásticos ou máquinas mirabolantes. Uma corrida no “Manége de Andrea” custa dois euros e meio, mas o verdadeiro prazer, que é o de apreciar a felicidade infantil naquele mundo bizarro, é de borla. E vale mesmo a pena.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura espécie infantil
Com as mãos na massa do bolo-rei mais saloio de Lisboa
Na Pastelaria Batalha, no Chiado, um jovem pasteleiro admirador de Beatriz Costa ensina os segredos de um bolo-rei premiado. (...)

Com as mãos na massa do bolo-rei mais saloio de Lisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na Pastelaria Batalha, no Chiado, um jovem pasteleiro admirador de Beatriz Costa ensina os segredos de um bolo-rei premiado.
TEXTO: Na jaleca de João Batalha espreita do rosto de Beatriz Costa, franja negra a aparecer por baixo do lenço azul às bolinhas, lábios pintados de vermelho. João, pasteleiro de 27 anos, é saloio e orgulhoso de o ser, por isso apresenta a sua pastelaria – que nasceu na Charneca, a “Aldeia da Roupa Branca”, abriu depois uma segunda loja na Venda do Pinheiro e, por fim, há pouco mais de um ano, chegou ao Chiado, em Lisboa – como “a mais famosa das saloias”. Em cima da mesa cheia de doces de Natal que nos espera na loja do Chiado há também algumas especialidades da região saloia, incluindo aquele que, garante, era o bolo favorito da famosa actriz, o parrameiro, “feito para os romeiros, que andavam a cavalo ou de burro, e que, por isso, tem a forma de ferradura”. Mas o que nos traz aqui não é o parrameiro, nem a deliciosa queijada de Lisboa (uma receita da mãe de João), a premiada rabanada feita com pão de Mafra, nem sequer o já famoso workshop de pastel de nata, muito procurado pelos turistas e destacado pelo TripAdvisor (o próprio pastel de nata da Batalha conquistou o terceiro lugar no concurso que se realiza durante o festival Peixe em Lisboa). Hoje viemos pelo bolo-rei. Vamos passar as duas horas seguintes na cozinha da Pastelaria Batalha para aprender com João a fazer este bolo, que chegou a Portugal nos finais do século XIX, através da Confeitaria Nacional, vindo de França onde terá nascido durante o reinado de Luís XIV. Aqui fazem-se muitos bolos-rei e por isso temos a vida de alguma forma facilitada pela ajuda de máquinas como o poderoso forno e a amassadeira. É para aí que deitamos os dois quilos de farinha sem fermento tipo 55, mais os 300 gramas de margarina (a ideia é fazer uns oito bolos, diz João), 50 gramas de sal, quatro ovos, 400 ml de leite. Depois vêm os ingredientes que tornam especial este rolo-Rei, vencedor da medalha de Melhor Bolo-Rei 2016/17 no concurso Wonderland Lisboa. Um dos segredos é a calda de laranja, feita na casa com as cascas de laranjas do Algarve, as mesmas que serão, no final, usadas para a decoração. Colocamos os ingredientes na amassadeira e deixamos que os braços mecânicos façam o trabalho, inicialmente dois a três minutos numa velocidade mais lenta, “para homogeneizar”, explica o pasteleiro, e depois cerca de seis minutos em ritmo mais rápido. É depois disso que se deitam os licores, que lhe vão dar um tom mais escuro, e o fermento para crescer, antes de ser amassada mais quatro minutos – a mistura de licores fica mesmo um segredo, guardado por João, mas percebemos pelo menos que leva anis e vinho do Porto. “A qualidade da fruta seca e da cristalizada é o que faz a diferença”, afirma. “Compramos os pinhões de Alcácer do Sal, tentamos ter amêndoa e noz nacionais, embora nem sempre seja fácil. ” A fruta cristalizada, já cortada em quadradinhos, é comprada, mas João garante que é de óptima qualidade, sem excesso de açúcar e com a frescura necessária para conferir alguma humidade à massa do bolo. Os pais de João (as pastelarias são um negócio familiar) passam pela cozinha quando estamos todos literalmente de mãos na massa e o pai explica que “é preciso mexer na farinha para se ficar viciado”. Foi, de certa forma, o que aconteceu com João, que nasceu “dentro do restaurante” dos pais, em 1991, e que quando era mais jovem ainda pensou seguir informática. “O meu pai perguntou-me ‘é mesmo isso que tu queres, estar sentado a uma secretária?’”. Hoje, sabe que não era isso e que é na cozinha que se sente feliz. Foi no ano passado, no seu 27. º aniversário, que surgiu a oportunidade de adquirir este espaço em pleno Largo de Camões. É a partir daqui que hoje faz toda a produção, não só o que vende na casa mas a que se destina a hotéis de Lisboa, como o Corpo Santo ou o Martinhal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Conversamos e provamos as azevias com amêndoa e grão, os coscorões, os sonhos, as broas castelares e as trouxas-de-ovos, enquanto esperamos que a massa do bolo descanse. Depois chega a parte que exige mais habilidade manual: enrolar a massa, criando primeiro uma bola, depois abrindo um buraco no centro (com o cotovelo) e por fim dando-lhe o formato de coroa. Os bolos-rei que saem das nossas mãos não ficam perfeitos, como os que João faz, mas ele garante que é uma questão de prática e que, se formos persistentes, lá chegaremos. De preferência, antes da noite de Natal. Nota: o workshop de bolo-rei destinou-se apenas à imprensa. No entanto, a Pastelaria Batalha faz workshops de pastel-de-nata todos os dias às 17h (também em inglês) para grupos até 10 pessoas – mais informações em www. pasteldenataworkshop. com. Preço: 50€Rua da Horta Seca, 1, LisboaTel. : 214 019 117Horário: todos os dias das 7h30 às 20hPreço bolo-rei: 14, 90€/kg
REFERÊNCIAS:
Não estrague o seu Natal com um mau azeite
Não há ceia de Natal sem azeite. Mas nem todo o azeite está à altura da importância desta refeição. Se gosta desta época e se aprecia o que é bom e faz bem à saúde, escolha apenas azeite Virgem Extra, de preferência com origem em olivais tradicionais. (...)

Não estrague o seu Natal com um mau azeite
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.69
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não há ceia de Natal sem azeite. Mas nem todo o azeite está à altura da importância desta refeição. Se gosta desta época e se aprecia o que é bom e faz bem à saúde, escolha apenas azeite Virgem Extra, de preferência com origem em olivais tradicionais.
TEXTO: Não há forma de fugir à tradição: sem um bom bacalhau, umas boas batatas, umas boas couves e um bom azeite, o Natal não é Natal. Mas o que é, afinal, um bom azeite?Se nos guiarmos pela nossa memória emocional, o bom azeite era aquele que comíamos em casa da família, grosso e de sabor intenso, que se sumia nas batatas Kennebec ou Arran Banner (em Trás-os-Montes chamavamos-lhes “Rambene”) e ensopava as lascas do bacalhau curado ao sol na zona de Aveiro depois de pescado nas águas frias e longínquas da Terra Nova. Não o sabíamos, mas muito desse azeite “saboroso” estava cheio de defeitos, com aromas, por exemplo, a ranço (típico dos azeites velhos), terra (provocado por azeitonas colhidas já no chão) ou vinagre (azeitona que entra em fermentação antes de ser processada). Sabia-nos bem porque não conhecíamos outro. Acontecia o mesmo com o vinho. Sem referências e termos de comparação, o vinho caseiro era o melhor do mundo, mesmo que já tivesse um “piquinho” (meio avinagrado). Nesse tempo - ainda assim, de felicidade -, o azeite só era feito quando a azeitona estivesse pretinha e caísse bem ao varejo dos homens. Quase sempre, a apanha ocorria já depois do Natal, e em muitos lugares era costume colocar a azeitona em água durante vários dias ou guardá-la em sacos de plásticos fechados à espera de vez no lagar. Tudo o contrário do que se deve fazer para se conseguir um azeite sem defeitos e de boa qualidade. Como acontece com as uvas, também as azeitonas dão um melhor azeite se forem colhidas no tempo certo (quando começam a ficar roxas) e processadas imediatamente a seguir à apanha com extracção a frio (rende menos, mas preserva o melhor das azeitonas). Nas zonas de olival tradicional, a cultura do azeite ainda é marcada por algum arcaísmo, mas é também nesses lugares, povoados de oliveiras centenárias tratadas quase naturalmente de forma biológica e onde o olival hiper-intensivo e regado ainda não chegou, que se continuam a fazer os melhores azeites do país. Não há milagres: os olivais modernos, sobretudos os que estão a nascer como cogumelos no Alentejo do Alqueva (um dia haveremos de chorar sobre os seus elevadíssimos custos ambientais), servem, sobretudo, para obter grandes produções. Nos olivais tradicionais, as produções são muito mais baixas, mas a qualidade é melhor (quanto mais concentrado for o fruto, mais rico é). Em regra, claro, porque não basta ter boas azeitonas para fazer um bom azeite. Como no vinho, também no azeite há centenas de substâncias químicas que interferem na sua qualidade. Esta também varia de cultivar para cultivar e de região para região; e depende também da natureza do solo e do clima, do estado de maturação das azeitonas na altura da colheita, do método de apanha da azeitona e de transporte para o lagar, do tempo de espera para o processamento da azeitona, da higiene, do equipamento, da temperatura de extracção e das condições de armazenamento e acondicionamento. São demasiados factores críticos para continuarmos a olhar para a olivicultura com a mesma negligência e desconhecimento de antigamente e para o azeite como uma gordura mais ou menos saborosa. Antes de ser uma gordura, o azeite é primeiro um condimento. Uma das melhores definições sobre as virtudes e os tempos do azeite é aquela que situa a sua durabilidade nestes termos: até um ano, o azeite é um condimento; de um ano a 18 meses é um alimento; a partir daí, passa a ser uma gordura. Por lei, o tempo recomendado de consumo para um azeite é de 18 meses após ser engarrafado. Findo este limite não quer dizer que o azeite fique estragado. Apenas perde qualidades e pode desenvolver defeitos desagradáveis. Se forem bem acondicionados (em recipientes escuros, para não oxidarem com a luz), há azeites que ao fim de três, quatro anos continuam bons. Porém, até esses - e são raros os que aguentam tanto tempo -, já não apresentam o mesmo fulgor aromático de um bom azeite novo. Aquele frescor verde, aquele cheirinho a azeitona pouco madura, a erva cortada e a rama de tomate, três exemplos de atributos positivos na avaliação sensorial de um azeite. Os bons azeites podem ter também sabores a fruta (maçã, banana), a ervas aromáticas, a especiarias e deixar no final um travo amargo e picante que por vezes até nos faz tossir. A forma como todas estas sensações se integram, o nível de complexidade e, muito importante, a sua harmonia, é que determinam a qualidade global do azeite. Os melhores azeites não podem, desde logo, ter qualquer defeito sensorial. Só esses é que podem usar a chancela Azeite Virgem Extra. De cheiro e sabor intenso a azeitona sã, conservam o aroma, vitaminas, antioxidantes e todas as propriedades da azeitona. É o azeite obtido na primeira prensagem. O parâmetro da acidez não pode ser superior a 0, 8%. Já agora: a acidez do azeite não se detecta no nariz e no paladar. É “apenas” um parâmetro químico que nos indica o nível de deterioração do azeite. Quanto mais alta for a acidez, maior é o grau de deterioração do azeite. Se for baixa, significa que o azeite tende a durar mais tempo. Num nível de qualidade inferior, vêm logo a seguir o Azeite Virgem (pode ter defeitos muito ligeiros de cheiro e sabor e a acidez não poderá ser superior a 2%) e o Azeite (contém mistura de azeite refinado). Tanto o Azeite Virgem como o Azeite podem ser boas opções, por serem mais baratas, para frituras e refogados. Mas, para usar em cru, o melhor, o mais saboroso e o mais saudável é, sem dúvida, o Azeite Virgem Extra. É só deste que devemos usar na sopa, em saladas e nos temperos de carnes e peixes. Por maioria de razão, não deveria haver lugar para mais nenhum outro na ceia de Natal, porque nem o melhor bacalhau resiste a um mau azeite. Se somos cada vez mais exigentes com o que bebemos, devemos sê-lo ainda mais com o que comemos. E nem sequer podemos queixar-nos do preço. Pelo preço de um vinho banal compramos uma garrafa de um grande azeite. Mais: a garrafa de vinho bebe-se numa refeição e uma garrafa de um bom azeite pode dar para várias refeições. Também já não nos podemos queixar de escassez de oferta. Hoje, já há lojas só de azeite e basta irmos a qualquer grande superfície para encontrarmos dezenas de opções. Há preços e embalagens para todos os gostos e até azeites com designações que conhecíamos só dos vinhos, como “Grande Escolha”, “Superior”, “Selecção” ou “Premium”. Na verdade, começa a ser difícil escolher. Como nos vinhos, a origem pode ser um bom critério. De uma forma genérica e simplista, podemos dizer que os azeites transmontanos se distinguem pela aliança entre o frutado da azeitona e os aromas dos frutos secos e por um peculiar toque amargo e picante; que os do Alentejo sobressaem pelo frutado e aroma fresco; que os do Ribatejo são mais redondos e doces; e que os das Beira são mais neutros. O problema é que mesmo dentro de cada região os azeites variam muito. O melhor remédio é mesmo ir comprando e testando. Para facilitar, aqui ficam algumas sugestões que podem tornar ainda mais saboroso o seu Natal e também o daqueles de quem mais gosta. Coma e ofereça azeite. Por alguma razão lhe chamam “óleo santo”. Rosmaninho Azeite Virgem Extra Premium D. O. PA Cooperativa de Olivicultores de Valpaços faz um dos melhores azeites do país. Situa-se na chamada Terra Quente transmontana, com forte tradição oleícola. Neste Premium, com o selo DOP (Denominação de Origem Protegida), entra a santíssima trindade das variedades de azeitona daquela região: Madural, Cobrançosa e Verdeal. É um azeite com um aroma a puxar para o verde mas também com notas amendoadas. Na boca, é intenso e encorpado, terminando com um bom amargor e picante, mas nada de sufocar. O que se destaca neste azeite é mesmo a sua excelente harmonia. Cooperativa de Olivicultores de ValpaçosRegião: Trás-os-MontesPreço: 7, 49€ (50cl)Casa Anadia Virgem Extra Private ColectionEsta pode ser uma boa escolha para quem não aprecia azeites muito intensos e picantes. Trata-se de um azeite de aroma e sabor mais maduro, embora no final pareça ganhar uma vivacidade insuspeita, mostrando um picante mais do que tolerável mas interessante. Quinta do Bom SucessoRegião: RibatejoPreço: 6, 49 € (50cl)Moura Azeite Virgem Extra DOPOutra cooperativa com pergaminhos na produção de azeite de qualidade. O que surpreende neste caso é o preço: 3, 69 euros para uma garrafa de 75cl (comprada numa loja Continente). É muito barato, ainda mais tratando-se de um azeite DOP. Tem um gosto muito distinto, mais fresco do que é habitual encontrar até noutros azeites do Alentejo. Invoca-nos rama de tomate e até o molho que sobra nas saladas de tomate. No final sobressai o sabor a azeitona, mais concretamente a azeitona curtida, ainda com um ligeiro toque amargo. Cooperativa Agrícola de Moura e BarrancosRegião: AlentejoPreço: 3, 69 € (75cl)Oliveira Ramos Premium Virgem ExtraJoão Portugal Ramos é um dos muitos produtores de vinho que nos últimos anos entraram também no negócio do azeite, um fenómeno transversal a todo o país e que a está a puxar a qualidade do azeite nacional para patamares nunca vistos. Este seu Oliveira Ramos está entre os melhores do Alentejo. Feito com azeitonas das variedades Cobrançosa, Galega e Picual, tem um aroma muito frutado, a azeitona verde, e é bastante intenso de sabor, mostrando um bom equilíbrio amargo/picante no final. João Portugal RamosRegião: AlentejoPreço: 9, 90€ (50cl)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Casa de Santo Amaro Virgem Extra PremiumFrancisco Pavão é um dos herdeiros desta casa transmontana e, como divulgador do azeite e provador renomado, é também um dos grandes responsáveis pelo boom dos azeites de quinta no Douro. Os azeites que produz têm geralmente uma cor pouco verde (a cor no azeite não tem importância, razão pela qual a prova se faz em copos escuros), mas basta cheirá-los e prová-los para se perceber a sua delicadeza, riqueza e complexidade. Invocam maçãs verdes e erva acabada de cortar. Na boca, são muito expressivos de sabor, terminando sempre com notas amargas e picantes de grande qualidade. É o caso deste Premium. Casa de Santo AmaroRegião: Trás-os-MontesPreço: 10€ (50cl)
REFERÊNCIAS:
Orcas partilham traços de personalidade com humanos e chimpanzés
Investigação analisou estes mamíferos e concluiu que são semelhantes aos humanos e chimpanzés na brincadeira e no sentido gregário e social. (...)

Orcas partilham traços de personalidade com humanos e chimpanzés
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181219185505/https://www.publico.pt/n1851274
SUMÁRIO: Investigação analisou estes mamíferos e concluiu que são semelhantes aos humanos e chimpanzés na brincadeira e no sentido gregário e social.
TEXTO: As orcas exibem características de personalidade semelhantes aos humanos e chimpanzés, como a brincadeira, a alegria e o afecto, de acordo com uma nova investigação divulgada esta quinta-feira pela Associação Americana de Psicologia (AAP). Investigadores em Espanha analisaram os traços de personalidade de 24 orcas em cativeiro, nos Estados Unidos e nas Canárias — seis foram capturadas na natureza, enquanto as restantes já nasceram em cativeiro — e utilizaram questionários preenchidos por treinadores e outros funcionários que trabalham de perto com os animais para classificar cada orca estudada numa lista de 38 traços de personalidade, incluindo a brincadeira, a independência, a teimosia, a coragem, a sensibilidade e a proactividade. Estas características foram analisadas e comparadas com estudos anteriores sobre os mesmos traços de personalidade nos chimpanzés e nos humanos, refere um comunicado da AAP sobre o estudo, publicado esta quinta-feira no boletim científico Journal of Comparative Psychology. "Este é o primeiro estudo a examinar as características de personalidade das orcas e de como estão relacionadas com os humanos e outros primatas", explicou a autora principal do estudo, Yulán Úbeda, estudante de doutoramento na Universidade de Girona, em Espanha. "Estes traços similares de personalidade podem ter sido desenvolvidos porque foram necessários para formar as complexas interacções sociais em grupos bem unidos que vemos nas orcas, humanos e outros primatas", precisou. O estudo usa um marcador comum de personalidade designado Modelo dos Cinco Factores — extroversão, consciencialização, cortesia, dominância e cuidado. O modelo, que foi desenvolvido nos anos 30, descreve características de personalidade usando uma combinação de adjectivos isolados ou frases descritivas. Os investigadores descobriram que alguns traços de personalidade das orcas eram semelhantes aos dos humanos e chimpanzés. "As orcas foram semelhantes aos humanos e chimpanzés no factor extroversão (brincadeira, sentido gregário e social)", lê-se no comunicado. As orcas e os chimpanzés partilham também uma combinação de traços de personalidade na consciencialização (constância, teimosia e proactividade) e amabilidade (paciência, pacificação e não agressão), juntamente com algumas características relacionadas com a dominância. De acordo com a AAP, as descobertas podem sugerir alguma evolução convergente, em que as características de personalidade das orcas e dos primatas se assemelham devido às avançadas capacidades cognitivas necessárias a interacções sociais complexas. As orcas podem viver até aos 90 anos em grupos unidos que caçam juntos e partilham a comida, demonstrando avançadas capacidades de comunicação e coordenação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estes traços receberam cobertura noticiosa internacional quando uma orca de 20 anos, conhecida como J-35 ou Tahlequah, começou a empurrar a cria recém-nascida morta, em Julho, na costa da Ilha de Vancouver, no Canadá. Com a ajuda de outros membros do clã, manteve a cria morta a flutuar durante 17 dias, enquanto nadou centenas de milhas, num esforço exaustivo que interferiu com a capacidade do grupo para caçar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos ajuda social estudo morta cativeiro
Baleia encontrada morta com mais de 1000 objectos de plástico no estômago
Animal foi encontrada na Indonésia, com 5,9 quilos de plástico no estômago. (...)

Baleia encontrada morta com mais de 1000 objectos de plástico no estômago
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Animal foi encontrada na Indonésia, com 5,9 quilos de plástico no estômago.
TEXTO: Uma baleia com nove metros e meio foi encontrada morta esta segunda-feira, na costa sudeste da Indonésia, com 5, 9 quilos de plástico no estômago. Entre os objectos de plástico encontrados dentro da baleia estão 115 copos, quatro garrafas, sacos, chinelos e um milhar de outros objectos, concluiu a organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla inglesa), diz a agência Associated Press, citada pelo jornal The Guardian. Ainda não foi confirmado se o consumo de plástico foi a causa da morte do animal porque já estava em estado de decomposição no mar. No entanto, “os factos são verdadeiramente horríveis”, disse a coordenadora da WWF na Indonésia Dwi Suprapti. A baleia foi encontrada por habitantes a passar no local e mais tarde foi levada para o parque nacional de Wakatobi, onde continua em observação. Um estudo publicado em Janeiro pela revista científica Science, citado pelo Guardian, realça o facto de a Indonésia ter sido o segundo país que polui mais com o plástico, estando apenas abaixo da China. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com cerca de 260 milhões de habitantes, este arquipélago produz cerca de 3, 2 milhões de toneladas de desperdício plástico por ano e mais de metade, 1, 29 milhões, vai parar aos mares. O ministro dos Assuntos Marítimos da Indonésia disse que este acontecimento deve aumentar a “consciência pública” sobre o uso do plástico, que deve ser reduzido. Luhut Binsar Pandjaitan apela também para que o governo continue a fazer esforços de protecção do oceano, algo que tinha prometido em campanha política. O governo indonésio tem como meta reduzir o uso do plástico em 70% até 2025. Em Junho, uma baleia morreu na Tailândia por ter engolido 80 sacos de plástico.
REFERÊNCIAS:
Matosinhos com orçamento de “continuidade” aposta em 2019 na Educação e Habitação
A autarquia investirá cerca de 25 milhões de euros na requalificação do parque escolar e do parque habitacional do concelho. (...)

Matosinhos com orçamento de “continuidade” aposta em 2019 na Educação e Habitação
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: A autarquia investirá cerca de 25 milhões de euros na requalificação do parque escolar e do parque habitacional do concelho.
TEXTO: Com duas abstenções dos vereadores de António Parada, Sim! e um contra do PSD o Plano de Actividades e Orçamento de Matosinhos para 2019 foi aprovado por maioria esta terça-feira nos Paços do Concelho com oito votos a favor. Para o próximo ano está estimado que a autarquia disponha de um orçamento no valor de 106 milhões de euros, menos 3 milhões do que este ano, sendo que 66% resulta de receitas próprias, arrecadadas por impostos directos. Aos jornalistas, a presidente da câmara, Luísa Salgueiro, anunciou ainda que a capacidade de endividamento está nos 66%, o que numa situação limite permitirá à autarquia utilizar mais 20 milhões de euros numa situação de emergência. As despesas correntes – 85 milhões de euros – aumentam em relação ao ano passado (79 milhões), por força de encargos com pessoal, que decorrem da alteração da legislação na matéria das progressões na carreira e de mais trinta novas contratações para a Polícia Municipal. Grande aposta para o próximo ano serão os investimentos em equipamentos nas áreas de Educação e Habitação – cerca de 25 milhões de euros. Aproximadamente 15 milhões estão destinados para a requalificação das escolas da Boa Nova, Abel Salazar, Barranha, Agudela, Godinho e Amieira. Cerca de 10 milhões serão canalizados para obras de requalificação nos bairros dos Pescadores, Moalde, Seixo, Biquinha, Carcavelos e Custóias. Na Acção Social (5 milhões de euros) destaca-se o investimento no arranque do Plano Municipal de Saúde, em todas as suas áreas de funcionamento, nomeadamente para a Bolsa de Cuidadores Informais e para a introdução da Tarifa Social da Água. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para a Cultura estão reservados cerca de 5 milhões, sendo que as prioridades do próximo ano são a abertura do Museu de Matosinhos que será integrado na Rede de Museus do concelho, a Bienal de Design, que será realizada em parceria com a câmara do Porto, e a continuação da programação da Casa da Arquitectura. No pelouro do Ambiente os investimentos de maior relevo serão realizados no reforço da recolha de resíduos porta-a-porta e na ampliação do parque ambiental de São Gens, em Custóias, na execução do primeiro troço do corredor Verde do Rio Leça, entre Ponte da Pedra e Ponte das Barcas, e na construção do Centro de Bem-estar Animal. Na matéria da Mobilidade e Transportes, destaca-se a nova concessão da rede de transportes colectivos do concelho em 2019. “Este é um orçamento ajustado às nossas necessidades”, afirma Luísa Salgueiro, que sublinha ser resultado de um trabalho de “continuidade”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Ser investigador é doar o corpo à ciência, mesmo antes de morrer
Anseio pelo dia em que a investigação em Portugal seja uma profissão merecedora de reconhecimento; anseio pelo dia em que fazer ciência permita estabilidade e uma vida normal; anseio por uma só, a última, oportunidade. (...)

Ser investigador é doar o corpo à ciência, mesmo antes de morrer
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DATA: 2018-12-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Anseio pelo dia em que a investigação em Portugal seja uma profissão merecedora de reconhecimento; anseio pelo dia em que fazer ciência permita estabilidade e uma vida normal; anseio por uma só, a última, oportunidade.
TEXTO: Em Portugal, ser-se investigador é usar a camisola com mais orgulho que o vermelho, o verde, o escudo e a esfera armilar. É preciso ter “muito amor à camisola”, seja ela de que área for — ainda que o protagonismo de algumas permita um sentimento um pouco mais leve. A montante, ser-se um jovem investigador é ir à guerra nas botas de um soldado raso. É uma luta constante, batalha atrás de batalha, quando tudo o que nós queremos é uma oportunidade. Nós queremos trabalhar, aprender, partilhar e dar conhecimento. Para alguns de nós, a investigação pode ter sido a última opção, no quadro de desemprego generalizado que vive a geração das vacas que já não são gordas. Para os que cá ficam por vontade, fazer ciência requer vocação, requer dar tudo de nós. As oportunidades são escassas; grande parte dos novos editais para admissão de bolseiros de investigação têm um destino escolhido mesmo antes do concurso abrir; por mero acaso, por sorte e por vezes mérito, alguns de nós conseguem um lugar, uma oportunidade. Mesmo que essa oportunidade signifique deixar tudo, “ir para fora cá dentro”, nós lutámos. A primeira batalha está ganha. Passamos meses, ou mesmo anos, deixando tudo o resto em segundo plano. A vida pessoal pode estar a centenas de quilómetros de distância e é assim que damos tudo de nós à ciência. Porém, os projectos financiados acabam e com eles vão as bolsas. A continuidade depende de novos financiamentos que podem não existir. A única coisa que permanece é a vontade. Podemos ter trabalhado continuamente durante três ou quatro anos, mas nos nossos direitos não consta o subsídio de desemprego. Caímos então no vazio escuro onde continuam a existir contas da luz para pagar. Uma batalha perdida. Presumivelmente, o currículo enriquecido pela oportunidade que nos foi dada favorece uma nova ofensiva, mais legítima e justa. Alguns de nós lutam por uma bolsa de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Julgo que esta seja a primeira vez que nos deparamos com a realidade de ser cientista em Portugal, numa batalha que se repetirá ciclicamente até ao fim de uma carreira na investigação. Estamos sozinhos e a competição é louca e voraz. Podia continuar esta exposição descrevendo a incoerência nas avaliações por parte da FCT, as alterações anuais nos critérios de avaliação, a disparidade nas bolsas atribuídas por painel, mas tudo isto já é certo e sabido por todos os que alinham nesta frente de combate. Opto apenas por vos resumir a estratégia de avaliação da FCT numa só palavra: cortar — e talvez contar o mérito que resta, a metro. As classificações sofrem cortes por tudo e por nada, a argumentação é demasiado abrangente ou demasiado específica e, por vezes, somos incapazes de lhe atribuir algum sentido que nos apazigue. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Demos tudo de nós e o que recebemos de volta é um julgamento infundado. Outra batalha se perde. Depois de muita luta, eventualmente conseguimos. Com sorte, voltamos para casa. Com muita sorte, voltamos a ter uma vida pessoal, ainda que esporádica. Contudo, todas as bolsas acabam. Até para investigadores sénior as bolsas acabam, os diminutos contratos acabam. Permanece apenas o inseguro autofinanciamento a prazos de quatro a seis anos. Os investigadores que me orientam e me inspiram a investir na ciência, que passaram os últimos 15 ou 20 anos nesta luta por bolsas, continuam exactamente onde eu estou: à procura de uma oportunidade. Eu sou uma jovem investigadora. Sou jovem, tenho muita vontade de cá ficar e dar tudo de mim à ciência. Anseio pelo dia em que a investigação em Portugal seja uma profissão merecedora de reconhecimento; anseio pelo dia em que fazer ciência permita estabilidade e uma vida normal; anseio por uma só, a última, oportunidade. Por agora, desenganem-se. A guerra de um investigador não tem fim. Investigação é ir doando o corpo à ciência, mesmo antes de morrer.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos guerra corpo desemprego
Como os morcegos podem ser amigos dos agricultores (e não só)
Várias espécies alimentam-se de insectos, controlando assim pragas de forma e natural e ajudando a conservar a biodiversidade. (...)

Como os morcegos podem ser amigos dos agricultores (e não só)
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DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Várias espécies alimentam-se de insectos, controlando assim pragas de forma e natural e ajudando a conservar a biodiversidade.
TEXTO: Uma experiência de investigadores da Universidade de Lisboa comprovou que os morcegos são um controlo de pragas natural eficaz, salvando culturas de arroz dos insectos e evitando a desflorestação. Num estudo publicado na revista Agriculture, Ecosystems and Environment analisa-se o papel de várias espécies de morcegos que se alimentam de “pragas de insectos nefastos” para a agricultura, especialmente a cultura do arroz, na ilha de Madagáscar. As pragas destroem grandes quantidades de arroz e, para arranjar mais campos de cultivo, 1% das florestas de Madagáscar desaparece todos os anos. Na investigação, usaram-se gravadores ultrassónicos de última geração e técnicas moleculares para analisar a alimentação de seis espécies de morcegos insectívoros e analisaram-se geneticamente as suas fezes para descobrir o que comiam. “Verificámos que algumas espécies estão a tirar partido da modificação do habitat para caçarem os insectos que se aglomeram sobre os arrozais do país. Várias destas espécies são aves e morcegos insectívoros que, através da supressão de pragas agrícolas, podem fornecer um valioso serviço às populações locais”, descreveu, em comunicado, Adrià López-Baucells, co-autor do artigo e estudante de doutoramento no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Ora as seis espécies de morcegos analisadas banqueteiam-se com pragas que insectos que têm um grande impacto económico: não só pragas que afectam as plantações de arroz como outras culturas, como a noz-macadâmia, a cana-de-açúcar e os citrinos. “Trata-se da primeira evidência de controlo de pragas por morcegos em Madagáscar e, de acordo com os investigadores, irá permitir aliviar a actual pressão financeira que existe sobre os agricultores para converterem florestas em terrenos agrícolas”, acrescenta o comunicado do cE3c. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “A eficácia dos morcegos no controle de pragas já foi comprovada nos Estados Unidos e na Catalunha”, explica ainda James Kemp, primeiro autor do artigo e estudante de doutoramento no cE3c-FCUL, também citado no comunicado. “O nosso estudo é o primeiro a demonstrar este resultado em Madagáscar, onde há muito em jogo para os agricultores e para os biólogos da conservação. ”Em Madagáscar habitam 36 espécies de morcego únicas no mundo, mas entre a população são vistos como um incómodo que espalha doenças. No entanto, além de pragas que afectam a agricultura, os morcegos também comem mosquitos e parasitas que espalham doenças entre os seres humanos, como a malária e a elefantíase. Em Portugal continental, estão presentes 25 espécies, segundo o primeiro atlas dedicado a estes animais, de 2014.
REFERÊNCIAS:
Criatura cega que enterra a cabeça na areia nomeada em honra de Donald Trump
A Dermophis donaldtrumpi foi descoberta no Panamá. Os investigadores dizem que vão usar a designação quando publicarem a descoberta nas revistas científicas. (...)

Criatura cega que enterra a cabeça na areia nomeada em honra de Donald Trump
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Dermophis donaldtrumpi foi descoberta no Panamá. Os investigadores dizem que vão usar a designação quando publicarem a descoberta nas revistas científicas.
TEXTO: Uma pequena criatura anfíbia descoberta recentemente, semelhante a uma minhoca com dez centímetros de comprimento, cega e que tem como hábito enterrar a cabeça na areia, foi nomeada Dermophis donaldtrumpi, em reconhecimento das políticas de negação das alterações climáticas do Presidente norte-americano. O nome foi escolhido pelo presidente de uma empresa britânica, no final de um leilão que rendeu 25 mil dólares (22 mil euros) à Rainforest Trust – uma organização ambientalista sem fins lucrativos norte-americana que compra e protege pedaços de terra em florestas tropicais para preservar espécies em perigo. Os investigadores que descobriram a pequena criatura anfíbia, no Panamá, concordaram em usar a designação científica Dermophis donaldtrumpi quando publicarem a descoberta nas revistas científicas. O leilão foi ganho por Aidan Bell, o presidente da empresa britânica EnviroBuild, que fabrica materiais de construção sustentáveis. Foi a empresa que divulgou a imagem da criatura anfíbia com um penteado a fazer lembrar o de Donald Trump. "É o nome perfeito", disse Bell, referindo-se à designação da espécie em latim. "'Caecus' significa cego, o que espelha na perfeição a visão estratégica que o Presidente Trump tem mostrado de forma consistente em relação às alterações climáticas. "Segundo a organização Rainforest Trust, por ser uma criatura anfíbia, a Dermophis donaldtrumpi é particularmente sensível às consequências do aquecimento global. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "É sabido que proteger as últimas florestas tropicais do mundo é uma das formas mais eficazes de mitigar as alterações climáticas. E, no entanto, a cada dia são destruídas para sempre quase 28 mil hectares de floresta tropical", disse Chris Redston, director executivo da delegação da Rainforest Trust no Reino Unido, citado pelo jornal Guardian. "Esta destruição não só é uma das principais causas das alterações climáticas, como tem um impacto devastador na vida animal em perigo, nas comunidades indígenas e nos padrões de condições climatéricas do planeta", disse o mesmo responsável. Esta é a segunda espécie a ser nomeada em honra do Presidente Donald Trump. Em 2017, o cientista canadiano Vazrick Nazari deu o nome Neopalpa donaldtrumpi a uma espécie de traça que tem escamas amareladas na cabeça.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave espécie animal
Pandemia da sida resultou de uma “tempestade perfeita” que começou em Kinshasa em 1920
O alastramento do vírus VIH pelo mundo foi propiciado por mudanças económicas e sociais que começaram há quase um século em África. (...)

Pandemia da sida resultou de uma “tempestade perfeita” que começou em Kinshasa em 1920
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181212210009/https://www.publico.pt/n1671696
SUMÁRIO: O alastramento do vírus VIH pelo mundo foi propiciado por mudanças económicas e sociais que começaram há quase um século em África.
TEXTO: No início do século XX, algures no Sudeste dos Camarões (África centro-ocidental), numa área rodeada pelos rios Ngoko, Sangha e Bomba, um ser humano é infectado por um vírus ao caçar ou preparar a carne de um chimpanzé. O vírus permanece confinado a essa remota região até 1920, quando esse “doente zero” – ou alguém que esteve em contacto com ele e ficou infectado – viaja pelo rio Sangha, afluente do rio Congo, até Kinshasa, capital da actual República Democrática do Congo (RDC, o ex-Congo Belga). Ali, esse doente transmite o vírus a outras pessoas. Kinshasa é naquela altura um pujante centro mineiro, com uma rede ferroviária em pleno desenvolvimento. Ajudado por estas circunstâncias, entre 1937 e 1940, o vírus, hoje designado “VIH-1 grupo M”, espalha-se para Brazzaville (capital da República do Congo) via rio Congo e para Lubumbashi e Mbuji Mayi, no Sul da RDC, por barco e comboio. Uns anos mais tarde, entre 1946 e 1953, dissemina-se para Bwamanda e Kisangani, no Norte da RDC. Mas é só a partir dos anos 1960, com a independência do Congo Belga – um período de menor pujança económica –, que essa forma particular do vírus (VIH-1 grupo M) conhece uma fase de crescimento exponencial em comparação com outras formas então existentes do VIH-1 na região. Em 1964, o seu subtipo B – a linhagem dos vírus M mais frequentemente encontrada no hemisfério Norte (EUA, Europa, Japão) – desembarca no Haiti, levado por trabalhadores que regressam da RDC ao seu país de origem. Dali é disseminado para os Estados Unidos e para o resto da Europa. Em 1981, os primeiros casos de sida são reportados nos Estados Unidos. Segue-se a história que todos conhecemos de uma pandemia que, até hoje, já infectou 75 milhões de pessoas. Foi este cenário da emergência da pandemia de sida que o investigador português Nuno Faria, da Universidade de Oxford (Reino Unido), traçou para o PÚBLICO. Nuno Faria integra a equipa internacional que conseguiu agora, pela primeira vez, reconstituir a “árvore genealógica” do vírus HIV-1 grupo M, hoje responsável por 90% dos casos de infecção a nível global. Os resultados, que são publicados esta sexta-feira na edição em papel da revista Science, permitem afirmar com grande certeza, segundo os seus autores, que foi efectivamente desta forma que se gerou a pandemia global de VIH, quase um século antes de pandemia surgir. “O nosso estudo encaixa pela primeira vez as várias peças fragmentárias do puzzle”, diz Nuno Faria, “e mostra que a pandemia de HIV-1 emergiu em Kinshasa por volta de 1920 e daí se espalhou para outras localidades [na RDC e em países vizinhos], décadas antes de ser detectado pela primeira vez”. Mudanças de comportamentoPor que é que os cientistas se focaram em Kinshasa? “Até hoje, as amostras mais antigas de HIV-1 foram recuperadas em sangue e biopsias datadas de 1959-1960, que pertenciam a dois indivíduos distintos que viveram em Kinshasa”, explicou Nuno Faria ao PÚBLICO. “Esse facto sugeria que a pandemia poderia ter começado nesta cidade, que tinha o crescimento populacional mais rápido da Africa central no início do seculo XX. ”Porém, acrescenta, vários estudos sugeriam que a pandemia também poderia ter começado noutras regiões. Foi isso que o novo estudo veio agora desempatar. Já se sabia, a partir de anteriores comparações genéticas dos vírus VIH humanos e SIV dos macacos e grandes símios (como chimpanzés e gorilas), que houve, no início, pelo menos 13 transmissões pontuais do vírus entre primatas ou grandes símios e seres humanos, explica a universidade de Oxford em comunicado. E que apenas uma dessas transmissões entre outra espécie e a nossa deu origem ao vírus VIH que se tornaria pandémico – o VIH-1 grupo M. Mas, em particular, não se percebia por que é que de repente, na década de 1960, as infecções pelo vírus M triplicaram e a epidemia alastrou para o resto do mundo. Como explicar que, ao mesmo tempo, um outro grupo de VIH-1, o grupo O, principalmente presente nos Camarões e cuja história, até 1960, foi semelhante à do grupo M, ainda hoje permanece confinado à África centro-ocidental?“Os nossos resultados sugerem que (…) houve apenas uma pequena ‘janela’ de oportunidade, durante a época colonial belga, para a emergência e difusão desta estirpe particular de VIH”, salienta Oliver Pybus, co-autor de Oxford, no mesmo comunicado. E conclui: “Ao que tudo indica, uma combinação de factores que se verificou em Kinshasa no início do século XX criou uma ‘tempestade perfeita” para a emergência do VIH [pandémico], dando lugar a uma epidemia generalizada e imparável que se difundiu pela África subsariana”, explica. Os transportes ferroviários fazem claramente parte da equação: “Os dados dos arquivos coloniais revelam que, no fim dos anos 1940, mais de um milhão de pessoas passava de comboio por Kinshasa cada ano”, diz Nuno Faria. Mas para além dos caminhos-de-ferro da época colonial – e da própria capacidade de o vírus M se adaptar à espécie humana através de mutações – , os ingredientes dessa fórmula para o desastre também incluem o crescimento demográfico. E sobretudo, argumentam os autores, incluem, a partir de 1960, mudanças de comportamento dos trabalhadores sexuais na RDC, bem como campanhas de vacinação das populações com material médico contaminado. Nova abordagemO estudo agora publicado articula, pela primeira vez, dados genéticos extensos com dados históricos. “Até aqui, a maior parte dos estudos abordava o problema de forma fragmentada, olhando para certos genomas de VIH em certas localidades”, diz Oliver Pybus. “Pela primeira vez, nós analisámos todos os dados disponíveis utilizando as mais recentes técnicas filogeográficas, que permitem estimar estatisticamente a proveniência dos vírus. E podemos afirmar, com um alto grau de certeza, onde e quando a pandemia de VIH nasceu. ”Mais precisamente, os cientistas analisaram todas as sequências genéticas dos vírus do grupo M contidas na base de dados do laboratório nacional de Los Alamos, nos EUA, e cruzaram esses resultados com dados geográficos e epidemiológicos. “O nosso estudo exigiu o desenvolvimento de um conjunto de ferramentas estatísticas para reconstituir a disseminação dos vírus no tempo e no espaço a partir das suas sequências genéticas”, diz por seu lado Philippe Lemay, co-autor da Universidade de Lovaina (Bélgica). E, uma vez esclarecida essa origem espácio-temporal, tornou-se possível comparar o resultado com os dados históricos e concluir que os dados genéticos e os dados documentais contavam histórias compatíveis. Apesar de achar que o estudo é “tecnicamente brilhante”, Michael Worobey, especialista do estudo das origens do VIH pandémico na Universidade do Arizona (EUA), não concorda totalmente com as conclusões deste trabalho, como relata Jon Cohen, jornalista da Science, num jornalístico publicado na mesma edição que o estudo. Em particular, a ideia de que o vírus M terá sido disseminado pelas campanhas de vacinação não o convence. “Não acho que este artigo resolva a questão das diferenças entre os vírus do grupo O e do grupo M”, salienta. Os próprios autores também acham que serão precisos mais estudos para perceber o papel exacto dos diversos factores sociais na emergência da pandemia de sida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. PUB
REFERÊNCIAS: