Roma e Black Panther avançam na shortlist das nomeações para os Óscares
Portugal fica de fora da possibilidade de competir pelo Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. A lista contém indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original. (...)

Roma e Black Panther avançam na shortlist das nomeações para os Óscares
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal fica de fora da possibilidade de competir pelo Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. A lista contém indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original.
TEXTO: É só uma shortlist, mas com indicadores ou confirmações para as nomeações que serão anunciadas a 22 de Janeiro para os mais importantes prémios de cinema do mundo. Para já, dois títulos em torno dos quais giram as conversas sobre os Óscares de 2019 já têm presença: Roma está como candidato a nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e Black Panther, o filme Marvel que se questiona se será a primeira nomeação de um filme de super-heróis para o Óscar de Melhor Filme, já tem menções nas expectáveis categorias técnicas. A lista, divulgada na noite de segunda-feira (hora portuguesa) contém alguns indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original. Unanimemente, a reacção principal é de que Roma, o filme de Alfonso Cuarón que mudou a forma como o Netflix se posiciona perante as salas de cinema, tem a presença esperada na categoria de candidato a nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Concorre com outros considerados incontornáveis de 2018, como Cold War - Guerra Fria, o sexto filme do polaco Pawel Pawlikowski que recebeu o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, ou Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões, que deu a Palma de Ouro de Cinema de Cannes ao cineasta japonês Hirokazu Koreeda. E ainda com Ayka (Cazaquistão) e Capernaum (Líbano), também concorrentes de Cannes - o magnífico Ayka, de Sergey Dvortsevoy, do Cazaquistão, valeria no festival um prémio de interpretação a Samal Yeslyamova colocando-nos no corpo, nas dores, de uma mulher que acabou de dar à luz mas não tem tempo para ser mãe, porque tem dívidas. Não há candidatura possível à nomeação para Portugal, que tinha seleccionado como representante de 2018 Peregrinação, de João Botelho. Os nove filmes foram seleccionados a partir de 87 candidaturas. Roma, de Alfonso Cuarón, é um filme Netflix que se estreou em sala antes de chegar à plataforma (em Portugal, na semana passada) e que é tido como forte candidato à nomeação também para Melhor Filme. Essa categoria, a mais observada e rentável dos prémios atribuídos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, está bem em aberto mas a presença ou não de Black Panther, o filme Marvel sobre negritude que Ryan Cooler realizou com aclamação crítica e de bilheteira, é uma das grandes questões a deslindar a 22 de Janeiro. Até lá, Black Panther já está na shortlist para Efeitos Visuais e Caracterização, mas também por All the Stars, de Kendrick Lamar e SZA, como canção original, e pelo total da sua banda sonora original, um trabalho de composição e curadoria do mesmo Kendrick Lamar. Na mesma shortlist está a incontornável Shallow, de Assim Nasce uma Estrela. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto à corrida de Melhor Documentário, ficaram de fora o muito aguardado Amazing Grace, o documentário há décadas congelado de uma actuação mítica de Aretha Franklin, mas a América continua bem presente com RBG, sobre a juíza candidata a ícone pop Ruth Bader Ginsberg, ou Won’t You Be My Neighbor?, sobre o apresentador infantil Mr. Rogers. Também O Regresso de Mary Poppins, que se estreia esta semana em Portugal, teve o seu quinhão de reconhecimento prévio da Academia. Entre os votantes, pela primeira vez este ano, está além de outros portugueses membros da Academia, como o português Pedro Costa, a cineasta portuguesa Regina Pessoa, autora de curtas de animação e cuja shortlist também foi agora revelada a partir de 81 candidatos. Os Óscares realizam-se a 24 de Fevereiro de 2019. A lista completa dos pré-candidatos aos Óscares em nove categorias:Melhor Filme EstrangeiroPájaros de verano (Colômbia)O Culpado (Dinamarca)Werk ohne Autor - Never Look Away (Alemanha)Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões (Japão)Roma (México)Cold War - Guerra Fria (Polónia)Ayka (Cazaquistão)Capernaum (Líbano)Beoning - Burning (Coreia do Sul)Melhor DocumentárioCharm CityCommunionCrime + PunishmentDark MoneyThe Distant Barking of DogsFree SoloHale County This Morning, This EveningMinding the GapOf Fathers and SonsOn Her ShouldersRBGShirkersThe Silence of OthersThree Identical StrangersWon’t You Be My Neighbor?Melhor Curta-metragem DocumentalBlack SheepEnd GameLifeboatLos ComandosMy Dead Dad’s Porno TapesA Night at the GardenPeriod. End of Sentence. ’63 BoycottWomen of the GulagZionMelhor CaracterizaçãoBlack PantherBohemian RhapsodyStan & OllieSuspiriaViceBorderMary Queen of ScotsMelhores Efeitos VisuaisBlack PantherVingadores: Guerra do InfinitoReady Player One: Jogador 1Han Solo: Uma História Star WarsChristopher RobinHomem-Formiga e a VespaO Primeiro Homem na LuaMundo Jurássico: Reino CaídoO Regresso de Mary PoppinsWelcome to MarwenMelhor Banda Sonora OriginalAniquilaçãoVingadores: Guerra do InfinitoBlack PantherBlacKkKlansman: O InfiltradoMonstros Fantásticos: Os Crimes de GrindelwaldThe Ballad of Buster ScruggsO Regresso de Mary PoppinsReady Player One: Jogador 1Ilha dos CãesA Morte de StalinUm Lugar SilenciosoCrazy Rich AsiansIf Beale Street Could TalkFirst ManViceMelhor Canção OriginalWhen a Cowboy Trades His Spurs for Wings - The Ballad of Buster ScruggsTreasure - Beautiful BoyAll the Stars - Black PantherRevelation - Boy ErasedGirl in the Movies - Dumplin'We Won’t Move - The Hate U GiveThe Place Where Lost Things Go - O Regresso de Mary PoppinsTrip a Little Light Fantastic - O Regresso de Mary PoppinsKeep Reachin - QuincyI’ll Fight - RBGA Place Called Slaughter Race - Ralph vs InternetOYAHYTT - Sorry to Bother YouShallow - Assim Nasce uma EstrelaSuspirium - SuspiriaThe Big Unknown - ViúvasMelhor Curta-metragemCarolineChuchotageDetainmentFauveIcareMargueriteMay DayMotherSkinWaleMelhor Curta de AnimaçãoAge of SailAnimal BehaviourBaoBilbyBird KarmaLate AfternoonLost & FoundOne Small StepPepe le MorseWeekends
REFERÊNCIAS:
De mãos portuguesas nascem produtos de excelência
Recorrendo a métodos distintivos e a matérias-primas de qualidade, os nossos artesãos destacam-se cada vez mais. Prova disso é a presença que marcam na Feira Internacional do Artesanato, que decorre até domingo, na FIL. (...)

De mãos portuguesas nascem produtos de excelência
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Recorrendo a métodos distintivos e a matérias-primas de qualidade, os nossos artesãos destacam-se cada vez mais. Prova disso é a presença que marcam na Feira Internacional do Artesanato, que decorre até domingo, na FIL.
TEXTO: É considerada a maior feira ibérica de homenagem à multiculturalidade – porque nela estão representados 40 países dos cinco continentes – mas visitá-la tem em nós o efeito imediato de reforçar o imenso orgulho que sentimos dos produtos portugueses. Referimo-nos à Feira Internacional do Artesanato (FIA) de Lisboa, que embora seja uma enorme montra do melhor que se faz no mundo naquela área (num total de 650 expositores oriundos dos quatro cantos do globo) concede ao artesanato português um pavilhão inteiro para se mostrar. Razões para o destaque não faltam e essas foram-nos sendo reveladas no decurso das várias conversas que mantivemos ao longo do dia de abertura do certame, que decorre na Feira Internacional de Lisboa (FIL): elevada qualidade dos produtos, respeito por excelentes matérias-primas, recurso a técnicas antigas e também inovação. É, pois, esta a combinação que explica a grande aceitação do artesanato português e justifica também a aposta do programa “Portugal Sou Eu”, que levou à FIA um total de 16 artesãos nacionais - veja o vídeo da inauguração. Presente na inauguração da feira, o secretário de Estado da Defesa do Consumidor, João Torres, realçou precisamente a procura crescente de que o nosso artesanato é alvo, “não apenas por estrangeiros como também por portugueses”, e prova disso é, nas suas palavras, “a enorme afluência” à feira. Note-se que quase um quarto dos artigos (23%) que apresentam o selo identificativo “Portugal Sou Eu” – a iniciativa do Governo destinada a estimular o consumo de produtos nacionais - provêm de actividades artesanais. Questionado sobre a relevância do programa, o responsável não hesita em considerar que este “serve os interesses de Portugal”. Como o faz? “Ao dar uma muito maior visibilidade aos produtos portugueses, o programa aproxima essa oferta nacional dos consumidores, que estão cada vez mais disponíveis para, quando realizam uma compra no seu dia-a-dia, optarem por um produto português”, responde. Para o governante, os benefícios económicos são evidentes: “Sabemos que o programa Portugal Sou Eu é muito relevante para que a nossa balança comercial seja mais reforçada de forma positiva e ajuda as empresas portuguesas a afirmarem os seus produtos e a sua produção. ”Tendo em conta a relevância do programa, que vai já na terceira fase, o secretário de Estado mostrou-se optimista quanto à sua continuidade. Realçando o investimento público de 2, 5 milhões de euros na iniciativa, sublinhou a “muita consideração” em que o Governo a tem e garantiu o interesse no prolongamento: “Continuaremos a investir para dar a conhecer os produtos portugueses, para valorizar os produtos portugueses e para aproximá-los dos consumidores nacionais. ”Ciente das vantagens do programa está também Norma Rodrigues, directora-geral da Associação Industrial Portuguesa (AIP), uma das várias entidades parceiras da iniciativa: “Permite promover a valorização dos produtos nacionais, aproxima o consumidor das empresas que têm uma grande incorporação nacional e dessa forma ajuda a que as empresas sejam mais competitivas, mantenham emprego e contribuam para a produção nacional. ”Além disso, considera que o programa favorece também “a aproximação entre empresas”, que é outro dos objectivos da AIP: “Nós apostamos muito em que as empresas incorporem valor através de produtos intermédios, comprando a outras empresas portuguesas. ”Fazendo um balanço “muito positivo” do “Portugal Sou Eu”, a AIP vê-o mesmo como “um programa intemporal”. “Nasceu na fase do ajustamento, em plena crise, onde havia uma grande retracção de consumo internacional e era muito importante estimular o consumo de produtos produzidos em Portugal. Hoje estamos numa fase de crescimento e o programa continua a ser importante, porque o mundo aposta em produtos inovadores, em produtos altamente competitivos, com qualidade e Portugal tem”, justificaPara Norma Rodrigues, há que destacar também aquilo que designa como um “contexto favorável” ao nosso país, lembrando que “Portugal está na moda e é premiado em vários sectores”. “Direi mesmo que é possível que muitos produtos portugueses têm já em si um premium que atrai o consumidor”, acrescenta. João Torres partilha da mesma opinião, sublinhando que os portugueses “estão cada vez mais atentos à oferta nacional” e também “mais disponíveis para comprar esses produtos”, ainda que possam eventualmente “ter de pagar um pouco mais”. A maior sensibilização dos consumidores nacionais para a origem do produto é uma realidade percepcionada pelos diversos aderentes ao programa, nomeadamente por José Pedro Marques, artesão responsável pela Science Track. Criador de jogos, brinquedos e kits lúdicos e pedagógicos, construídos em materiais naturais como madeira, cortiça ou papel reciclado, entende que “os portugueses estão consciencializados em relação ao produto tradicional, especialmente com o selo do Portugal Sou Eu”. Corrobora que o país está “em voga”, o que leva clientes - turistas incluídos - a procurarem com exactidão aquilo que pretendem: “Reconhecem perfeitamente o selo e até vão à procura na base de dados do Portugal Sou Eu. ”A preferência de estrangeiros pelo selo é destacada também por Pedro Cabral, da Art Rústica, segundo o qual, desta forma “eles reconhecem que é um produto nosso e daí não o quererem tirar da peça. ” Igual perspectiva é partilhada por Teresa Costa, uma das primeiras artesãs a fazer parte do “Portugal Sou Eu”. Ao longo dos oito anos que leva nesta actividade tem observado que “os clientes dão mais valor ao que é português, ao tradicional, ao que é feito à mão” e concorda que os consumidores não só reconhecem o selo, como o “identificam logo com qualidade”. Além da identificação do produto como sendo nacional, os artesãos aderentes destacam ainda como vantagem do programa a notoriedade que este lhes concede. Luís Nogueira, que fabrica peças de vestuário e acessórios em burel para a marca com o seu próprio nome - By Luís Nogueira – refere precisamente “a visibilidade que este programa traz aos produtos”. A dimensão relacionada com a comunicação é reconhecida pelo secretário de Estado da Defesa do Consumidor, para quem “os aderentes saem beneficiados através de múltiplas frentes”, particularmente no que toca à divulgação. “Os produtos Portugal Sou Eu estão de alguma forma numa cadeia de produtos que tem uma imagem mais uniformizada através do selo Portugal Sou Eu, um selo que hoje tem uma notoriedade cada vez maior”. Na sua opinião, este reconhecimento é “não apenas uma marca distintiva em relação à dinamização da produção nacional, como é também uma marca distintiva em relação à qualidade”. Paula Pão Alvo, da Cosmic Shoes, diz-nos igualmente que “quando estamos distinguidos por um determinado rótulo é sempre mais fácil demonstrarmos algumas das qualidades dos nossos trabalhos e uma delas é trabalharmos com matérias-primas portuguesas”. Este é o seu caso, já que nos sapatos que produz usa apenas peles nacionais e é essa a razão principal por que integra o programa. A artesã de calçado com 32 anos de actividade enfatiza ainda outra vantagem do “Portugal Sou Eu”: “Quando trabalhamos em grupo é sempre benéfico, pois conseguimos sempre mais coisas quando estamos em conjunto do que se estivermos sozinhos. ”Outro dos benefícios destacados por Paula Pão Alvo – como, aliás, por todos os artesãos com quem falámos - diz respeito aos “descontos nos eventos e certames” de que beneficiam ao participarem em representação da iniciativa governamental. Fazer artesanato é manter uma relação permanente com técnicas antigas - preservando-as - mas inovando sempre que possível. Só assim a tradição se mantém. E é assim também que Luís Nogueira tem trabalhado desde que, em 2012, começou a dedicar-se ao burel, na zona de Gouveia. Explica-nos que este tecido “é um produto 100% artesanal, fabricado na serra da Estrela a partir da lã de uma raça de ovelha autóctone, a Bordaleira”. Por ter um pelo curto mas muito denso, a lã da ovelha Bordaleira dá origem ao burel, um tecido bastante compacto e com características únicas, pois é impermeável, resistente, não corrosivo, não inflamável e muito quente. Quando começou o seu projecto, este era um tecido “que estava bastante esquecido”, usado na serra quase exclusivamente para o traje de pastor. Mas Luís Nogueira meteu mãos à obra e, apelando à sua formação em Educação Visual e Tecnológica, inovou no design e na técnica sem desvirtuar a tradição. Hoje produz peças práticas e citadinas, de uso quotidiano, sobretudo na área do vestuário feminino e também nos acessórios, como malas e carteiras. O facto de trabalhar o burel termocolado abre-lhe ainda mais as portas da criatividade, já que se trata de um tecido com duas faces, o que lhe permite ter duas cores no mesmo burel. Numa altura em que os consumidores estão muito atentos à sustentabilidade do planeta, bem como aos riscos inerentes a determinadas matérias-primas, esta é uma dimensão cada vez mais cuidada pelos artesãos. Inovar pela recuperação de técnicas antigas é, pois, também o que faz Paula Pão Alvo, que para a produção dos seus sapatos opta sempre por peles de curtimenta vegetal, isto é, “peles que não contêm crómio, são curtidas de forma muito ancestral e não têm produtos químicos nocivos nem ao meio ambiente nem ao ser humano”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pôr o antigo a dialogar com a novidade foi também a premissa de José Pedro Marques ao criar a Science Track. No seguimento de um mestrado em Gerontologia Social, no qual trabalhou com idosos e crianças, apercebeu-se de que “havia falta de transmissão de conhecimento imaterial” dos mais velhos para os mais novos. E percebeu ainda outra coisa interessante: afinal, os mais pequenos estavam ansiosos por conhecer essas histórias de antigamente “e não só a tecnologia”. Daqui à concretização da sua ideia foi um passo e hoje produz jogos e cartas, “interligando a cultura e a tradição com a ciência”. Estes e outros trabalhos feitos por mãos habilidosas e com selo nacional podem ser vistos até dia 7 de Julho na FIA. Tanto o artesanato – mas também a inevitável gastronomia – merecem bem a visita de todos nós, portugueses ou não.
REFERÊNCIAS:
Palcos da Semana
Um quarteto belga com quase 20 anos, a música da televisão junta-se à do cinema, o desenho de um escultor, Miró e um anátema a solo são alguns dos destaques da semana. (...)

Palcos da Semana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um quarteto belga com quase 20 anos, a música da televisão junta-se à do cinema, o desenho de um escultor, Miró e um anátema a solo são alguns dos destaques da semana.
TEXTO: TeatroUm quarteto com 19 anos chega a LisboaEm 1999, a companhia de dança Rosas e o colectivo de teatro tg STAN, ambos belgas, juntaram-se para uma colaboração. Quartett, baseado no texto do alemão Heiner Müller (1929-1995), que parte de As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, chega agora ao D. Maria II. No espectáculo, uma mulher (a bailarina Cynthia Loemij) e um homem (o actor Frank Vercruyssen) competem por afectos dentro de portas enquanto o mundo exterior colapsa. É uma criação dos próprios protagonistas, bem como de Anne Teresa De Keersmaeker e Jolente De Keersmaeker. LISBOA Teatro Nacional D. Maria II. 11-13 de Dezembro. Ter-qua 19h; Quinta 21h. Bilhetes 7, 50€-12, 75€. MúsicaA música da TV junta-se à do cinemaA Lisbon Film Orchestra tem-se destacado ao interpretar bandas sonoras de filmes. Agora juntarão pela primeira vez ao repertório, que inclui as composições para Star Wars de John Williams, os oscarizados temas de Justin Hurwitz para La La Land, a magia de Ennio Morricone para Cinema Paraíso ou o trabalho de Thomas Newman em Skyfall, música de séries. Nomeadamente, A Guerra dos Tronos, da autoria de Ramin Djawadi e La Casa de Papel, em particular, My Life is Going On, escrita por Manel Santisteban e popularizada pela voz de Cecilia Krull. LISBOA Praça de Touros do Campo Pequeno. Domingo às 18h. Bilhetes de 10€ a 35€. DesenhoUm desenho que não acabaQuando não está a esculpir, Rui Chafes (n. 1966, Lisboa), que ganhou o Prémio Pessoa em 2015, desenha. A exposição Desenho sem Fim, com curadoria de Delfim Sardo e Nuno Faria, pretende dar visibilidade, em Guimarães, a essa prática que regista a vivência do artista e que o tem acompanhado de forma continuada desde 1987. Desenho Sem Fim reúne obras em várias técnicas, do guache ao chá, passando pela grafite e o pólen de flores, entre muitas outras, aplicadas sobre formatos e suportes diferentes. GUIMARÃES Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Até 10 de Fevereiro de 2019. Terça a domingo, 10-13h e 14h-19h. Bilhetes a 4€. PinturaMiró de volta a SerralvesAos 80 anos, em 1973, Joan Miró estava a preparar uma exposição retrospectiva no Grand Palais, Paris. Tentava, numa época em que se anunciava “a morte da pintura” que dá nome a esta mostra, Joan Miró e a Morte da Pintura, reinventar a sua pintura de uma forma radical. É na produção desse ano que assenta o regresso de Miró a Serralves, com obras da colecção do Estado português que foram depositadas na fundação e outras vindas de colecções espanholas e francesas, algumas delas nunca antes mostradas em Portugal. O comissário é Robert Lubar Messeri, especialista em Miró. PORTO Museu de Serralves. De 12 de Dezembro a 3 de Março de 2019. Seg-sex. 10h-18h; Sáb, dom. e feriados 10h-19h. Bilhetes a 10€. MúsicaUm anátema sozinhoDesde 1998, quando o baixista Duncan Patterson abandonou a formação, que Daniel Cavanagh é, além de guitarrista, o compositor principal da banda de rock progressivo/gótico/alternativo britânica de culto Anathema, que fundou com os ormãos em 1990. Em 2002, começou a apresentar-se a solo, e lançou em Outubro do ano passado Monochrome, o pretexto para a vinda a Portugal. É um disco intimista e mais pessoal do que é normal do seu trabalho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. PORTO Hard Club - Sala 2. Dia 13, quinta, às 21h. Bilhetes a 18€. LISBOA RCA Club. Dia 14, sexta, às 21h. Bilhetes a 18€.
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Palavras-chave morte guerra campo mulher homem
Modelo revisto de apoio às artes entra esta semana em discussão pública e sai em Fevereiro
Uma das medidas mais polémicas da anterior equipa governativa, que teve impacto no funcionamento de várias estruturas, vai ser reformulada e deve ter resultados antes do próximo Verão. (...)

Modelo revisto de apoio às artes entra esta semana em discussão pública e sai em Fevereiro
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma das medidas mais polémicas da anterior equipa governativa, que teve impacto no funcionamento de várias estruturas, vai ser reformulada e deve ter resultados antes do próximo Verão.
TEXTO: A versão definitiva do modelo de apoio às artes será publicada em Fevereiro e as estruturas artísticas deverão ter resultados dos concursos antes do Verão de 2019, afirmou segunda-feira à Lusa a ministra da Cultura. Graça Fonseca explicou que esta semana vai ser publicado e colocado em discussão pública o modelo de apoio às artes, já revisto, integrando 24 propostas que obtiveram consenso, entre as 36 apresentadas pelo grupo de trabalho, criado para discutir a reformulação de regras. Segundo Graça Fonseca, há dois meses no cargo de ministra da Cultura, "todas as propostas acolhidas [no grupo de trabalho] têm apenas impacto ou nas portarias ou nos avisos de abertura de concurso". "Não implicam alteração do decreto-lei, o que nos permite ter um calendário de concurso bastante mais folgado", disse. Apesar de toda a discussão ocorrida durante vários meses no grupo de trabalho - com representantes do sector -, por lei, o documento tem de estar em consulta pública durante 30 dias. Nesse período "é possível que surjam contributos de várias entidades relativamente ao que alterámos face ao modelo anterior". "Esses contributos serão analisados. Não é previsível ou expectável que venham a pôr em causa" a revisão proposta, disse. Em causa está um novo modelo de apoio às artes muito contestado pelas estruturas culturais quando, no início deste ano, saíram os resultados provisórios dos concursos. A contestação culminou em Abril com manifestações em várias cidades, levando o primeiro-ministro, António Costa, a garantir que o modelo seria revisto e que os montantes disponíveis seriam reforçados. Graça Fonseca recordou que o Orçamento do Estado para 2019 contempla 25 milhões de euros para o apoio às artes, através da Direcção-Geral das Artes, com um aumento de 16% face a 2018. Questionada sobre este processo de alteração do modelo entre 2018 e 2019, com impacto na vida das estruturas culturais, Graça Fonseca reconheceu que não é possível apagar o que já aconteceu. "A partir da experiência de 2018, a partir do trabalho que foi feito entre pessoas das áreas da cultura e de todas as entidades - que representam mais de 900 estrutura do país -, aproveitar todo o trabalho e aceitar praticamente cem por cento das propostas apresentadas em consenso, conseguimos aumentar as verbas a ainda antecipar os prazos. Não estamos a empatar, pelo contrário, estamos a desempatar", disse. Entre as propostas de alteração ao modelo sugeridas pelo grupo de trabalho, aceites pela tutela e já anunciadas na Declaração Anual, dos programas de apoio a abrir em 2019, estão o alargamento do prazo de candidaturas, "sem prejudicar o calendário dos concursos e a respectiva atribuição dos apoios" e a eliminação "da exigência de obtenção de pontuação mínima de 60% em cada um dos critérios de apreciação no Apoio Sustentado". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Haverá ainda uma separação entre apoios à criação e apoios à programação. No âmbito da criação "e outros domínios", o programa de apoio sustentado vai distribuir-se pelas seis áreas (artes visuais, dança, música, teatro, cruzamento disciplinar e circo contemporâneo e artes de rua), enquanto na programação o concurso é comum a todas. "São alterações que vão ter muito impacto na forma como as candidaturas vão ser apreciadas", disse Graça Fonseca.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei cultura circo
Concursos de apoio às artes já têm novas regras, na esperança de que haja menos contestação
Os programas a abrir em 2019 integram algumas das recomendações do grupo de trabalho criado pelo Governo na sequência de amplos protestos do sector. A começar pela separação entre o apoio à criação e o apoio à programação. (...)

Concursos de apoio às artes já têm novas regras, na esperança de que haja menos contestação
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.01
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os programas a abrir em 2019 integram algumas das recomendações do grupo de trabalho criado pelo Governo na sequência de amplos protestos do sector. A começar pela separação entre o apoio à criação e o apoio à programação.
TEXTO: O Ministério da Cultura publicou ao final da tarde desta sexta-feira a sua Declaração Anual relativa aos programas de apoio às artes a abrir em 2019, e esta inclui já as recomendações feitas pelo grupo de trabalho nomeado pelo Governo para colaborar na revisão das regras do muito contestado modelo lançado em 2017 pelo então secretário de Estado Miguel Honrado. Uma das mais significativas, e das mais reivindicadas pelo sector, é a separação total entre os concursos para criação e os concursos para a programação, que fica agora consagrada. O próximo Programa de Apoio Sustentado Bienal (2020-2021), cuja abertura ocorrerá "no máximo no decurso do mês de Março", conforme o documento assinado pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, adopta "uma lógica estruturada por domínios de actividade", abrindo na área da criação seis concursos (artes visuais, dança, música, teatro, cruzamento disciplinar e circo contemporâneo e artes de rua) e na área da programação um único concurso agregando todas as áreas artísticas. O montante total disponível para o biénio é de 17, 58 milhões de euros. No âmbito do Programa de Apoio a Projectos (com uma dotação de quase 2, 5 milhões de euros), a DGArtes compromete-se a lançar entre Fevereiro e Setembro, "vários procedimentos simplificados", considerando os domínios da circulação nacional, da internacionalização, do desenvolvimento de públicos, da edição, da investigação e da formação, contemplando todas as áreas artísticas (incluindo, além das acima mencionadas, arquitectura, design e fotografia e novos media). O concurso limitado (por convite) respeitante à representação oficial portuguesa na 17. ª Exposição Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza 2020 abrirá em Junho, adiantou ainda o Ministério da Cultura. O modelo, já testado na edição anterior, com a escolha dos curadores Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah, foi também entretanto já adoptado para a escolha da participação portuguesa na próxima Bienal de Arte. Antes, em Maio, será lançado o Programa de Apoio em Parceria, com a finalidade de captar parcerias destinadas ao apoio do desenvolvimento de projectos estratégicos. A sua dotação total é de 500 mil euros. De entre as recomendações do grupo de trabalho nomeado pelo anterior ministro, Luís Filipe Castro Mendes, que irão ser incorporadas no modelo consta também, segundo nota enviada às redacções, o alargamento do prazo das candidaturas e a eliminação da exigência de pontuação mínima de 60% em cada um dos critérios de apreciação no Apoio Sustentado. As entidades que se candidatem a esta modalidade de apoio deixam também de estar obrigadas a apresentar um plano de actividades e um orçamento de actividades detalhados para os vários anos abrangidos pela candidatura, passando a ter de fornecer apenas indicações exaustivas acerca do primeiro dos dois ou quatro anos que pretendem ver financiados. As entidades apoiadas terão também a partir de agora "direito ao contraditório relativamente ao relatório das comissões de avaliação e acompanhamento". A contestação ao modelo com que Miguel Honrado quis reorganizar o apoio às artes, e que foi lançado em 2017 após um longo processo de gestação, rebentou em Março deste ano, quando foram conhecidos os primeiros resultados dos concursos abertos já à luz das novas regras. Na área dos cruzamentos disciplinares, por exemplo, o grosso do montante disponível foi arrebatado por estruturas de programação de grande dimensão (e fortemente apoiadas pelas autarquias) como o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, o Teatro Viriato, em Viseu, ou O Espaço do Tempo, de Montemor-o-Novo, deixando outras com historial reconhecido, mas de incomparavelmente menor dimensão, como o festival Circular ou a companhia Circolando, fora da lista de entidades apoiadas. Não tardaram as acusações de que as novas regras promoviam situações de "concorrência desleal". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os resultados dos concursos nas áreas da dança e do teatro fizeram a contestação subir de tom, com várias estruturas históricas (incluindo o Teatro Experimental de Cascais, o Teatro Experimental do Porto e a Escola da Noite, entre muitas outras) e figuras fundamentais da criação contemporânea portuguesa como Mónica Calle a verem-se excluídas. Perante as reivindicações cada vez mais insistentes de que era imprescindível aumentar a dotação dos concursos, para tornar menos curta a manta dos apoios, o próprio primeiro-ministro teve de intervir pessoalmente para apaziguar o sector. Em apenas 17 dias, o Governo, pressionado à esquerda e à direita, anunciou três reforços orçamentais, que expandiram de 15 para 19, 2 milhões o montante disponível para os concursos e permitiram a repescagem de várias das estruturas que haviam sido consideradas elegíveis para financiamento, mas ainda assim não o haviam obtido. No auge da crise, e com muitas vozes a reclamarem a demissão de Miguel Honrado, o próprio António Costa se viu obrigado a intervir pessoalmente, disponibilizando-se a ouvir os representantes do sector numa audiência no Palácio de São Bento em que se comprometeu a trabalhar numa revisão do modelo de apoio às artes. Em Junho, com os resultados dos vários concursos já homologados e várias estruturas dispostas a continuar a luta por via jurídica, Castro Mendes foi ao Parlamento especificar as afinações que era preciso fazer no modelo de apoio às artes e anunciar a criação de um grupo de trabalho para sugerir recomendações. Entretanto, em Outubro, tanto o ministro da Cultura como o seu secretário de Estado saíram do Governo em Outubro.
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Palavras-chave escola cultura circo
As 350 figuras do maior dos presépios do Museu Nacional de Arte Antiga já recuperaram o seu fulgor
Os técnicos de restauro ainda estão a trabalhar no móvel que serve de casa a este conjunto monumental, mas no Dia de Reis tudo deverá estar no seu lugar. Foram cinco meses de trabalho e de descoberta, mas o museu ainda quer saber mais sobre esta obra de Barros Laborão e o coleccionador que a encomendou. (...)

As 350 figuras do maior dos presépios do Museu Nacional de Arte Antiga já recuperaram o seu fulgor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os técnicos de restauro ainda estão a trabalhar no móvel que serve de casa a este conjunto monumental, mas no Dia de Reis tudo deverá estar no seu lugar. Foram cinco meses de trabalho e de descoberta, mas o museu ainda quer saber mais sobre esta obra de Barros Laborão e o coleccionador que a encomendou.
TEXTO: Sobre uma das mesas dos bastidores do museu, perto dos laboratórios de conservação, repousam ainda um anjo delicado, em veneração, e um tocador de sanfona a lembrar que cabia a estes músicos, muitas vezes cegos, vender cânticos de Natal nas ruas da Lisboa dos finais do século XVIII. Uma mulher jovem de olhar terno abraça uma criança, um pastor ajoelha-se, em recolhimento. Em todos parece haver uma naturalidade no gesto, no movimento. São figuras do Presépio dos Marqueses de Belas (1796-1806), o maior do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), e estão entre as 350 que nos últimos cinco meses concentraram as atenções e os esforços de sete técnicos de restauro. A umas faltavam braços, a outras dedos e elementos diversos. Alguns destes pedaços estavam guardados nas reservas mas não se sabia, até aqui, de onde vinham. “Foi como fazer um puzzle. Quanto mais mexíamos nas figuras do presépio, mais fácil se tornava reconhecer os fragmentos que havia nas reservas e pô-los no lugar. Isto porque vamos ganhando a mão à medida que trabalhamos, compreendendo melhor o artista”, diz Conceição Ribeiro, conservadora-restauradora do museu, acrescentando que desde que a intervenção começou a equipa apercebeu-se de que há nas colecções em reserva outras peças de Joaquim José de Barros (1762-1820), o escultor conhecido como Barros Laborão e autor deste presépio. O trabalho dos restauradores e outros conservadores do MNAA é apresentado ao público esta sexta-feira, embora o presépio totalmente montado nos vários patamares de cortiça que constituem o “torrão” (assim se chama a estrutura que cria o cenário em que as peças são encaixadas) só fique visitável no Dia de Reis, a 6 de Janeiro. Algumas das principais figuras ficarão até lá expostas nas vitrinas que separam a sala onde se encontra o grande armário que lhes serve de casa e a Capela das Albertas, que em breve se verá transformada num laboratório de restauro visitável. A ideia, explica José Alberto Seabra Carvalho, subdirector do MNAA, foi fazer desta galeria um prolongamento “natural” da sala de presépios do museu e uma “antecâmara” das Albertas, já que a capela “ajuda a explicar” algumas das peças – esculturas e alfaias litúrgicas – que se encontram no novo espaço concebido por Manuela Fernandes, a que se acede por uma escada marcada por uma estrutura laminada que depois se repete junto ao grande armário do Presépio dos Marqueses de Belas. “Esta solução das escadas com lâminas lembra que aqui houve um convento de clausura e, ao mesmo tempo, permite-nos manter um pé-direito generoso e não revelar o espaço todo de uma vez”, argumenta a arquitecta. “Junto ao presépio, as lâminas fazem com que possamos ver a parte de trás do armário, perceber como foi construído. ” E acrescentado. “Acrescentar” é palavra-chave quando se fala deste presépio encomendado a Barros Laborão por José Joaquim de Castro – empresário que fez fortuna com a comercialização da chamada “Água de Inglaterra”, um “antepassado da água tónica” usado sobretudo no tratamento da malária – e comprado em 1937 para o MNAA pelo seu primeiro director, José de Figueiredo, a um descendente do Marquês de Pombal. Passado quase meio ano de estudo e restauro, uma das principais conclusões a que a equipa do museu chegou é que este presépio cresceu entre o projecto original de Barros Laborão e a versão que chegou aos nossos dias. “Sempre achámos estranho que o primeiro plano do presépio estivesse tão vazio. Parecia que faltavam figuras. Mas agora sabemos, através do estudo material do móvel e da documentação, que ele a dada altura foi acrescentado a pedido do coleccionador”, diz Maria João Vilhena, conservadora de escultura do MNAA e responsável por esta intervenção. “Este acrescento pode explicar o diferendo que houve entre o encomendador e o Barros Laborão, que foi acusado de sobrefacturar a obra, mas também a participação de outros artistas [como Pedro Alexandrino e Joaquim António de Macedo] e até a existência de figuras avulsas. ”Hoje não há dúvidas de que o armário deste presépio foi ampliado nos três eixos – altura, largura e profundidade –, assegura Tiago Dias, o técnico encarregue do seu restauro, apontando para os locais onde se torna evidente esse acrescento, como o arco de volta perfeita que se transformou num arco abatido para que esta monumental cena da natividade pudesse avançar 30 centímetros. “Agora a nossa principal preocupação é o torrão, composto por placas de cortiça, quase todas coladas. Como não tem muitos encaixes, a estrutura é frágil”, diz. Nas figuras centrais houve trabalhos de recomposição de elementos, com colagens e reconstituições, acrescenta Vilhena, mas o trabalho não apresentou grandes dificuldades e o restauro permitiu perceber quais as que saíram das mãos de Barros Laborão, porque há “matrizes que se repetem e que ajudam a descobrir afinidades entre peças”. É dele a cena central do nascimento de Jesus, como seria de esperar, mas também a do anúncio aos pastores, a da matança do porco, o impressionante grupo das cavalgadas, com o elefante, e o menino que brinca entre colunas, “que é como uma ‘assinatura’ na obra de Barros Laborão”. Para Conceição Ribeiro, a “mão” deste artista passa pelo facto de ele chegar a trabalhar em três escalas, o que de início causou estranheza mas, depois, se tornou evidente entre os vários núcleos do presépio. “Este tratamento por escalas é próprio do presépio português porque ele é construído numa lógica pictórica”, explica António Filipe Pimentel, historiador de arte e director do MNAA. “As escalas permitem dar-lhe um tratamento de profundidade. ”Entre os núcleos atribuídos a Barros Laborão está o “grupo do mouro” em que se encontra o casal nobre que, durante muito tempo, e de acordo com a tradição popular, se julgou representar os marqueses de Belas, mecenas do escultor. “Hoje sabemos que o casal que deu nome a este presépio que nunca foi dos marqueses de Belas é recorrente na obra de Barros Laborão, é mais um ‘tipo’ da grande crónica social que ele aqui faz, ao mesmo tempo que representa o nascimento de Jesus”, acrescenta Maria João Vilhena. “O outro mito que caiu definitivamente em relação a este presépio – e que é recorrente sempre que há uma peça de grande qualidade deste período – é o que o atribuía a Machado de Castro. Não há qualquer dúvida de que é um projecto de Barros Laborão. ”Entre o que ainda não se sabe está a participação que nele terá tido Pedro Alexandrino de Carvalho (1729-1810), o pintor mais activo da Lisboa pós-terramoto de 1755, que já tinha trabalhado com Barros Laborão no Paço da Bemposta e que terá expostos na sala dois desenhos em fac-símile feitos a partir do presépio. A equipa vai continuar a estudar a documentação existente acerca desta obra. Para saber mais sobre o empresário que a encomendou, um coleccionador de autómatos, gravura e pintura a quem se perdeu o rasto e que terá estado até envolvido em episódios de espionagem industrial, conta a conservadora. E também sobre o autor das figuras mais antigas, Joaquim António de Macedo, que se revelou um “escultor muito qualificado”, “belíssimo na representação naturalista”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Apesar dos anúncios de modernidade, presentes nalguns elementos que parecem já apontar para o neoclássico, esta é uma obra que, condensando toda a tradição do presépio português, está ainda muito presa ao passado”, diz Villhena. “É também uma obra em que a qualidade escultórica de cada figura, que podia muito bem apresentar-se só por si, é muito boa. Saiu das mãos de escultores que são exímios a trabalhar e a experimentar na pequena escala. ”Entre os núcleos em que essa qualidade é evidente está o do anúncio aos pastores, “com uma dinâmica de composição e um movimento muito pouco comuns”, e a cavalgada, com o seus “cavalos espantados”, de uma “erudição de execução notável”. O restauro deste presépio, lembra Pimentel, está longe de ser o ponto de chegada para a equipa do MNAA no que toca a esta obra de Barros Laborão: “Vamos continuar a aprofundar o estudo porque um museu é antes de tudo um centro de investigação e não uma montra. ” E o que se vier a saber será para partilhar em livro.
REFERÊNCIAS:
Foi igreja de carmelitas e em breve será um laboratório de restauro que se pode espreitar
Para devolver à chamada Capela das Albertas o brilho de outros tempos, o Museu Nacional de Arte Antiga lança esta sexta-feira nova campanha de angariação de fundos. Objectivo: 300 mil euros e a obra concluída até ao final de 2020. (...)

Foi igreja de carmelitas e em breve será um laboratório de restauro que se pode espreitar
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DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para devolver à chamada Capela das Albertas o brilho de outros tempos, o Museu Nacional de Arte Antiga lança esta sexta-feira nova campanha de angariação de fundos. Objectivo: 300 mil euros e a obra concluída até ao final de 2020.
TEXTO: A separar a Capela das Albertas da sala contígua, onde estão a ser instaladas as vitrinas que hão-de receber as peças que farão companhia ao Presépio dos Marqueses de Belas, há agora umas cortinas de plástico. Mas em breve a vista estará desafogada para que quem chega possa acompanhar ao vivo e em tempo real o trabalho dos técnicos de restauro. “A ideia é fazer da Capela das Albertas um laboratório de restauro que recebe visitas, não interrompendo a dinâmica que começou pelos azulejos”, diz o director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), António Filipe Pimentel. “É importante que o nosso público perceba como é que vamos valorizando as colecções, como é fundamental o trabalho dos conservadores-restauradores. E é ainda mais importante quando estamos a pedir-lhe que comparticipe esta intervenção com os seus donativos. ”O restauro desta pequena igreja do Convento de Santo Alberto (1585), a primeira casa feminina da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal, começou em Março pelos painéis de azulejos historiados, com cenas das vidas de Cristo e de Santa Teresa de Ávila. A estes trabalhos entretanto concluídos — executados graças a um apoio de 25 mil euros da TEFAF, a feira de arte e antiguidades de Maastricht, uma das mais importantes do mundo no seu género — deverão seguir-se intervenções nos altares, nas paredes e nos tectos, onde há talha dourada, escultura, pintura e mais azulejo (mas desta vez de padrão). E isto sem esquecer a minúscula sacristia que fica por trás do altar-mor e a estreita passagem que nele dá acesso ao trono, a precisar dos cuidados de um conservador, como quase tudo o resto. O ambicioso programa de revalorização, orçado em 300 mil euros, que até ao final de 2020 quer devolver aos visitantes esta capela considerada uma jóia do barroco — uma das “peças” mais singulares do museu, fechada há 11 anos por motivos de segurança — será objecto de mais uma das campanhas de mecenato a que o MNAA já habituou os portugueses. Depois do sucesso do envolvimento de particulares, empresas e instituições na compra de Adoração dos Magos (Domingos Sequeira, 1828, 600 mil euros) e do retrato de José Maria da Fonseca Évora, frade que foi embaixador de D. João V em Roma e bispo do Porto (Maria Tibaldi, c. 1730, dez mil euros), assim como no restauro do Presépio dos Marqueses de Belas (Barros Laborão, 1796-1806, 40 mil euros), o MNAA e o seu Grupo de Amigos voltam a lançar o repto à participação cívica. “A generosidade dos portugueses para com o museu tem ajudado a enriquecer as nossas colecções e a chegar onde não poderíamos chegar com o financiamento do Estado”, diz o director, lembrando que a nova campanha conta já com a participação de dois artistas que doaram obras — Jorge Molder e Alexandre Farto (Vhils). O primeiro é o autor da fotografia Cão, objecto de uma edição limitada a 19 exemplares que serão vendidos a mil euros cada. O segundo assina 6 de Maio, obra feita para a exposição Do tirar polo natural, que até 14 de Outubro mostrou no MNAA a evolução do retrato em Portugal. Esculpida em baixo-relevo numa parede que resultou das demolições do Bairro 6 de Maio, na Amadora, e mostrando parte do rosto de três moradores de gerações diferentes, poderá ser licitada até esta sexta-feira no site da leiloeira Palácio do Correio Velho, tendo uma base de licitação de 30 mil euros (60% do produto da venda reverterá para o museu, a Associação 6 de Maio ficará com os restantes 40%). “Tivemos de definir uma verba para a campanha de restauro da capela, mas é natural que os 300 mil euros não cheguem porque quando se trata de património desta natureza, que durante séculos não foi mexido, as surpresas podem ser mais do que muitas”, acrescenta Pimentel. “Sabemos como começamos, mas não sabemos como vamos acabar. ”Conceição Ribeiro, restauradora do museu, dá um exemplo de como as coisas se podem complicar: “A talha assente no lado da parede exterior da capela está cheia de enfolamentos. Para a tratarmos teremos de a apear, o que é sempre uma operação arriscada. Essa parede ainda é a original, nunca foi mexida. Não sabemos como está, que problemas tem. ” A estimativa de custos é, por isso, a mais rigorosa possível de acordo com as necessidades de intervenção que hoje se conhecem. “Só quando começarmos a mexer podemos ter uma noção mais exacta das infiltrações, da integridade dos materiais. . . ”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A construção da Capela das Albertas terminou no final do século XVI, mas a decoração do interior só foi dada por concluída cem anos mais tarde. Só que depois veio o terramoto de 1755 e a pequena igreja, assim como o convento, foi seriamente afectada. O que chegou até à actualidade é o resultado, no plano ornamental, de “sucessivas campanhas de obras que documentam três séculos de evolução de arte portuguesa”, pode ler-se num texto de sala que está já colocado na igreja para que o visitante compreenda melhor o espaço que está a ser objecto de restauro. “Esta capela, que faz parte do museu desde 1911, é uma jóia em si mesma, mas ajuda também a contextualizar muitas peças que temos espalhadas pelas nossas salas”, conclui Pimentel. “Não podia continuar fechada. Faz parte da história do próprio museu, vem nos guias turísticos, os portugueses e os estrangeiros perguntam por ela. "
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Hóquei no gelo: “dilúvio” de peluches solidários bate recorde do mundo
Tradição natalícia faz parte da campanha Teddy Bear Toss, que angaria brinquedos para instituições de solidariedade. No domingo, foram atirados quase 35 mil peluches para o ringue de um jogo de hóquei no gelo, nos EUA. (...)

Hóquei no gelo: “dilúvio” de peluches solidários bate recorde do mundo
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DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tradição natalícia faz parte da campanha Teddy Bear Toss, que angaria brinquedos para instituições de solidariedade. No domingo, foram atirados quase 35 mil peluches para o ringue de um jogo de hóquei no gelo, nos EUA.
TEXTO: O primeiro golo de Riley Barber, jogador dos Hershey Bears, equipa de hóquei no gelo do estado da Pensilvânia, foi o ponto de ignição para uma “chuva” de animais de peluche destinados a instituições de solidariedade que trabalham com crianças carenciadas. No domingo, 2 de Dezembro, a campanha solidária, que faz parte da iniciativa Teddy Bear Toss, registou a maior recolha de sempre no jogo entre os Hershey Bears, que saíram vitoriosos, e os Binghamton Devils. Foram angariados quase 35 mil peluches e, assim, estabelecido um novo recorde do mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os bonecos vão ser, ao longo do mês de Dezembro, distribuídos por hospitais e instituições de solidariedade da região. Para além dos brinquedos, a Community Aid — organização sem fins lucrativos que patrocina a iniciativa — prometeu doar 50 cêntimos por cada peluche recolhido e 15 mil dólares extra, caso se batesse um novo recorde do mundo, como se acabou por verificar. A iniciativa natalícia Teddy Bear Toss ("lançamento do ursinho de peluche", em português) teve início em 1993 e, com o passar dos anos, foi atraindo cada vez mais adeptos. Depois de contagiar a América do Norte, este evento já se estendeu ao continente europeu, com o Lulea HF, equipa de hóquei sueca, a adoptar a tradição em 2017.
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Tempo Dezembro
Os maiores coleccionadores de Lego de Bragança construíram uma “cidade Natal”
Foram precisas 400 mil peças de Lego de duas gerações diferentes de coleccionadores para montar uma "cidade Natal", no Mercado Municipal de Bragança. Pode ser vista a partir de 1 de Dezembro, no sábado (...)

Os maiores coleccionadores de Lego de Bragança construíram uma “cidade Natal”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foram precisas 400 mil peças de Lego de duas gerações diferentes de coleccionadores para montar uma "cidade Natal", no Mercado Municipal de Bragança. Pode ser vista a partir de 1 de Dezembro, no sábado
TEXTO: A "cidade Natal em Lego", construída com quase 400 mil peças de duas gerações de coleccionadores, é uma das atracções das festividades natalícias de Bragança. O mundo imaginário está pronto para ser visitado a partir de sábado, 1 de Dezembro, no Mercado Municipal de Bragança. A exposição pode ser vista todos os sábados até aos Reis, integrada no programa do evento Bragança Terra Natal e de Sonhos. A paixão pelos Legos contagiou em criança Fernando Pimparel, agora com 48 anos, que passou o entusiasmo à filha Maria João, de 12 anos, e que o juntou a Miguel Miranda, que aos dez anos conquistou o título de legoman, tal é a colecção de peças. Miguel já fez uma exposição no Museu Terras de Miranda, em Miranda do Douro. Pimparel já tinha recebido convites para expor as suas construções noutras zonas do país, mas resolveu esperar para se estrear na cidade natal, Bragança, e a oportunidade surgiu este Natal. Os três foram convidados pela Câmara para mostrar as suas criações e, em duas semanas, instalaram apenas uma amostra do que têm acumulado. Com quase 400 mil peças construíram uma cidade ideal, onde não falta nada: desde a livraria ao hospital, cabeleireiro, cinema, shopping, o comboio que não há em Bragança, avião, espaços verdes, diversões. Acrescentaram-lhe uma vila Natal com as atracções da quadra, onde sobressai a roda gigante, a preferida de Miguel que levou também réplicas de modelos de carros emblemáticos e dos edifícios mais conhecidos do mundo, desde a Casa Branca à Torre Eiffel. Nas construções não faltam pormenores: desde a mobília nas casas, aos motores nos automóveis ou a lancheira na bagagem para um piquenique. Os animais e os bonecos "da cabeça quadrada" são os que Maria João mais gosta de construir, além de casas, a preferência também do pai Pimparel, que fotografa moradias reais para replicar em lego. E é um edifício, que também está exposto, o preferido de Pimparel por uma questão sentimental. Construiu com Legos a Casa do Trabalho de Bragança, a instituição para crianças e jovens que acolheu e onde trabalha há 25 anos. Para quem vê estas construções, tudo parece pequeno, mas é de grandezas que são feitas estas obras daqueles que são os maiores coleccionadores de Legos de Bragança — horas incontáveis de trabalho com este brinquedo "dispendioso", que não conseguem traduzir em investimento. "Cada pecinha custa dez a 12 cêntimos", contou à Lusa Pimparel, ao mesmo tempo que aponta para alguns exemplares desta exposição. Um comboio ficou em 120 euros, um hospital em 100 euros, o edifício do teatro em 150 euros, um barco 200 euros e numa moradia foram gastos quase 300 euros. Entre todos, a expectativa é agora ver a reacção da comunidade com quem decidiram partilhar esta paixão, que despertou cedo nos três. Aos seis anos, a mãe ofereceu uma caixa de Legos a Fernando Pimparel e, desde então, brinquedos ou presentes são "sempre Lego, Lego, Lego". Continua a juntar peças e guarda as que recebeu desde criança "tudo bem cuidadinho", em vitrinas, por causa do pó, num compartimento em casa exclusivamente para ter as peças expostas. As dele e as da filha, que cedo começou a fazer construções com o pai. Não consegue precisar quantos Legos tem: "Sei que tenho cerca de meio milhão de peças, a passar. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Começou a construir seguindo as instruções de manuais e depois passou a transformar as peças naquilo que imagina. "Isso é o que é o interessante do Lego: podermos fazer aquilo que a nossa imaginação nos permitir fazer", sustentou. "Nunca pensei ter assim tantos Legos com esta idade e espero continuar", diz por sua vez Miguel, agora com dez anos, que fez a primeira construção com dois. Tudo começou numa espera hospitalar por uma cirurgia a que a mãe foi sujeita. Para passar o tempo, o pai comprou um lego num quiosque e o Miguel começou a montar. Achou piada: "É divertido construir e bonito de se ver. " Tem muitos Legos em casa, não sabe bem quantos. "São muitos, que eu já perdi a conta", resumiu. "Esta vai ser a minha segunda [exposição], era o meu sonho fazer aqui (em Bragança) uma exposição com o Pimparel, que é o meu amigo", contou à Lusa. Os Legos são muito mais do que brinquedos, para ele. Para ele são amigos, uma família que espalhada por toda a casa. Além de ajudar "a melhorar o cérebro, a sonhar, os Legos são divertidos", garante.
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“Ljubomir-Cooper-Stanisic” e “Alexandre-Clooney-Silva” à volta dos tachos e da sustentabilidade
O mediático chef jugoslavo, consultor no hotel de Samodães, Lamego, está a convidar os amigos para irem cozinhar com ele. Os jantares a quatro mãos são experiências gastronómicas marcantes que promovem uma alimentação saudável e sustentável. (...)

“Ljubomir-Cooper-Stanisic” e “Alexandre-Clooney-Silva” à volta dos tachos e da sustentabilidade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mediático chef jugoslavo, consultor no hotel de Samodães, Lamego, está a convidar os amigos para irem cozinhar com ele. Os jantares a quatro mãos são experiências gastronómicas marcantes que promovem uma alimentação saudável e sustentável.
TEXTO: Ljubomir Stanisic já despiu a jaleca há umas horas. Está agora de calções e t-shirt sentado a uma mesa do bar do Six Senses Douro Valley, o hotel nas margens do rio onde é chef consultor, a fazer a retrospectiva do jantar da noite anterior. “Sou amigo do Alexandre há mais de dez anos e nunca tínhamos cozinhado juntos”, reflecte. Alexandre é Alexandre Silva, o chef do Loco, em Lisboa, uma estrela Michelin. “Não gosto muito desta coisa de partilhar cozinhas. Na verdade, não gosto muito de pessoas”, atira, imperturbável. Alexandre, sentado numa cadeira ao lado, também ele de calções e t-shirt, ri-se. Quem conhece a personalidade de Ljubomir, chef jugoslavo de 40 anos, sabe que ele é assim, provocador. E quem não conhece é capaz de o achar arrogante, às vezes desagradável. Que o diga a hóspede do Dubai com quem partilhámos a mesa na véspera. Foi ela, aliás, que deu o mote para o título desta reportagem: na Open Kitchen do hotel, os dois cozinheiros, atarefados, ultimavam o desfile de 18 pratos que iriam servir dali a pouco e a hóspede, desinibida, cirandava por ali. Ljubomir pediu-lhe que se sentasse. “Você parece o Bradley Cooper [no filme Burnt, de 2015, no qual o actor interpreta um chef de cozinha que caiu em desgraça e procura depois redimir-se conquistando uma terceira estrela Michelin para um restaurante de Londres] e o seu colega, que é um gentleman, parece o George Clooney. ”Não é à toa que a hóspede é para aqui chamada. Nesta tarde de domingo, quando estamos à conversa com os dois chefs, ela continua a rondar. Quando terminamos dirige-se de novo a Ljubomir, pede-lhe desculpa pela noite anterior e diz-lhe isto: “A comida foi incrível. Foi uma das melhores experiências que já tive. ” Tudo está bem quando acaba bem: não é esse o melhor elogio que podem dar um chef?Voltemos à noite anterior e sentemo-nos à mesa, para provar o que Ljubomir e Alexandre Silva prepararam para nós. Ainda não sabemos, mas esperam-nos quatro horas, quatro, a ver desfilar os pratos dos chefs. Começamos com o “mata-bicho” de Ljubomir, uma sanduíche de bacon com alcatra e caviar de lima: primeiro apontamento crocante da refeição e um dos poucos que incluirá carne na sua confecção. Nas próximas horas, andaremos sobretudo à volta do peixe e dos vegetais. À mesa, onde se acomodam 14 comensais, entre hóspedes do hotel e jornalistas, chega agora Alexandre Silva, que serve um rolo de alga nori com fígado de tamboril, um dos momentos mais gabados da noite. Seguimos para ostra com caril verde, depois para berbigão com gelatina, haveremos de passar por camarão e mexilhão, até que chegamos ao ravioli com carbonara de queijo da Serra e trufa. E vão sete pratos, mas este, para já, leva a taça. No dia seguinte, quando nos explica que estes jantares a quatro mãos nunca envolvem grande combinação entre os dois chefs que partilham a cozinha, Ljubomir revela que o ravioli não estava no plano inicial. “Tínhamos pensado fazer oito pratos, quatro cada um. Mas depois, com os produtos que eu tinha pedido ao meu chef executivo para comprar, acabámos por fazer mais. O pregado, por exemplo, deu para três pratos. ” Lá chegaremos, chef, ao pregado, para já ainda nos deliciamos com a textura delicada do queijo da Serra e o sabor pronunciado da trufa. Em boa hora levaram o ravioli para o menu!Prosseguimos com sashimi de salmonete e depois divertimo-nos com um chupa-chupa de foie gras com cereja e flores de funcho — não é só fun, é um concentrado de sabores. Já perdemos a conta aos pratos que nos passaram pela frente, mas ainda há várias surpresas na manga. A sopa de sardinha com sardinha fumada e alho francês fica na memória, mas mais ainda a carne fermentada, pregado e flor de alho francês. Ljubomir avisa que a carne tem um “sabor muito forte” e não nos engana: é forte, sim, mas inesquecível. Com o peixe-galo, cerejas e espinafres vem para a mesa um vinho muito especial: um Porto da Quinta Vale de D. Maria de 1870, resultado de uma provocação de Ljubomir a Cristiano van Zeller. “Primeiro achei que ele estava louco, depois comecei a pensar que podia resultar”, comenta o enólogo. A reacção dos comensais revela que Stanisic tinha razão. Ainda não se vislumbra o fim do jantar — ainda servirão a bochecha de porco bísaro com moscatel, trufa, cogumelos e legumes da horta, mais as duas sobremesas, sorbet do jardim e morangos — mas este vinho é uma espécie de fecho com chave de ouro. O jantar que juntou Ljubomir e Alexandre Silva foi o segundo a quatro mãos que o hotel de Samodães, Lamego, organizou este Verão. O primeiro levou o espanhol Patricio Fuentes à cozinha de Ljubomir — “Somos amigos há muitos anos, como sou amigo do Alexandre [Silva] há muitos anos. Aliás, os chefs que vão passar por aqui são todos meus amigos, porque para mim isso é que faz sentido”, explica Stanisic. O próximo encontro está marcado para o último fim-de-semana de Agosto, e trará ao Douro Hugo Nascimento, da Tasca, Peixaria e Padaria da Esquina (todos de Vítor Sobral). E em Outubro haverá mais, embora o elenco ainda não esteja fechado. O preço é de 120€ por pessoa. Quinta Vale de Abrão, Samodães, Lamego Tel. : 254 660 600 SiteSubjacente a cada um destes jantares está a filosofia “Eat with Six Senses”, replicada em vários hotéis do grupo em todo o mundo e que, em traços largos, promove uma alimentação saudável e sustentável. Explica Ljubomir: “Sustentabilidade em primeiro lugar. Nós trabalhamos com produtores que respeitam esse princípio, investimos neles para que os produtos sejam os melhores possíveis. Não usamos químicos, mas sim pesticidas naturais, temos as nossas próprias hortas, tentamos que o peixe que usamos seja todo pescado no anzol. Obviamente de vez em quando saímos da linha: a sardinha não se pesca no anzol e nem sempre recebemos o peixe em caixas de madeira, como preferimos, mas sim em recipientes de esferovite. Mas temos cuidado com o produto, com o produtor, com o planeta e connosco próprios. ”Alexandre Silva partilha deste pensamento e foi também por isso que “Ljubo” o convidou: “‘Eat with Six Senses’ é completamente a cara do Alexandre. ” O chef do Loco acena com a cabeça. “Eu interesso-me muito por essa questão. Nós, os chefs, temos um dever social e a sustentabilidade é fundamental. Claro que ainda não consegues ser 100% sustentável, tudo o que está ao teu redor não te deixa. Estas preocupações encarecem muito as experiências”, comenta. E dá um exemplo: “O preço de um quilo de açúcar de coco, sem químicos, é de mais de 600% face a um quilo de açúcar refinado. E o cliente nem sempre entende por que é que uma mousse de chocolate pode ser tão cara: é cara porque o cacau não foi apanhado por uma criança de cinco anos, porque não leva açúcar refinado, porque a gordura é uma gordura como deve ser. As pessoas querem que lhes saiba bem e querem pagar três euros. Agora quando lhes pedem oito, ou dez ou doze euros… Soube-lhes bem à mesma, fez-lhes menos mal, mas isso já não querem pagar. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há um longo caminho a percorrer nesta matéria, concordam os dois chefs. “A população mundial aumentou e a observação sobre a alimentação é uma coisa muito preocupante. Dentro de alguns anos, não vai haver comida suficiente. E o papel dos grandes cozinheiros é saberem reinventar-se”, declara Ljubomir. Pela parte que lhe toca, garante que já está a fazê-lo. “Tive um problema de saúde e passei realmente a preocupar-me com comer saudável. E atenção que, para mim, comer um porco de 160 quilos é comer saudável. É preciso é sabermos o que estamos a comer. Um animal gordo, que teve um pasto bom, que não comeu farinhas, como um bom porco mangalitsa ou bísaro, é um alimento saudável. Já 99% do que vemos nos supermercados…”Reticências, longas reticências, que só terminam quando lhe perguntamos pelo Terroir, o restaurante vegetariano que abriu há um ano no Six Senses. “Estou apaixonado por ele. Abrimos quatro dias por semana, os hóspedes adoram, é um verdadeiro sucesso, porque é um restaurante vegetariano que serve comida com sabor. Aproveitamos os produtos da nossa horta, criámos o nosso quilómetro 20, com mais duas hortas e sítios fantásticos de onde saem produtos fantásticos. Foste lá comer? Não? Como não?”A Fugas esteve alojada a convite do Six Senses Douro Valley
REFERÊNCIAS: