De sussurro em sussurro até ao sacrifício final
Em Guerra delira com o fantasma sacrificial que se vem mostrando em Lindon nas colaborações com o cineasta Stéphane Brizé. Percurso por quatro filmes em que a intimidade familiar deu lugar à solidão do ícone. (...)

De sussurro em sussurro até ao sacrifício final
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Guerra delira com o fantasma sacrificial que se vem mostrando em Lindon nas colaborações com o cineasta Stéphane Brizé. Percurso por quatro filmes em que a intimidade familiar deu lugar à solidão do ícone.
TEXTO: Há algo de delirante na quarta colaboração deste “casal” de cinema, Stéphane Brizé, realizador, Vincent Lindon, actor: Em Guerra pode ser várias coisas, todas certamente à volta do social e do político, mas podemos também vê-lo como o momento em que uma obra se lança a fantasmar, e a sequência final é exaltada, a partir da persona, que o intérprete ganhou, de homem que representa todos os homens. O filme leva a extremos — de verosimilhança, por isso há perdas para o espectador em termos de empatia e de crença perante esta forma de brutalidade — a faceta missionária em que investe um actor que prefere as pessoas aos actores, que assume a profissão como forma de chegar aos outros e como ajuste de contas com o meio burguês em que nasceu e ao qual devolve os retratos, experiências e vidas dos “outros”: os proletários que encarna. O dirigente sindical que interpreta em Em Guerra, Laurent, líder das lutas numa fábrica que decidiu fechar, talvez já não seja uma personagem. É uma entidade que absorve e redistribui os desejos e as frustrações do grupo. É o homem-espelho. Há um desapossamento de qualquer intimidade e individualidade, está já para além delas. As cenas familiares não pertencem à convicção do filme. O horizonte de Laurent em Em Guerra só podia ser a aniquilação. É essa a brutalidade de que falamos. E é aqui que dizemos que o filme parece delirar com o fantasma sacrificial que se vem evidenciando em Lindon nas colaborações da dupla que forma com Brizé (duplos um do outro, o proletário realizador e o burguês actor: Mademoiselle Chambon, 2009, Quelques Heures de Printemps, 2012, A Lei do Mercado, 2015). E delira entusiasmando-se com o fogo-de-artifício. O que faz com que, sendo projecto nascido da convicção de que era necessário um filme para dar conta daquilo a que o espectáculo televisivo não acede, de que era preciso o cinema para ser resgatada a humanidade dos vultos ululantes das “reportagens” dos telejornais, Em Guerra acabe por não constituir alternativa. Faz o seu próprio espectáculo: incendeia-se. Fica a sensação, com travo de calculismo, de uma gestão de trunfos, o maior dos quais é o momentum Lindon, a forma como se intensificaram a missão e o ícone, como se amplificou a notoriedade mediática e a capacidade de abrangência — se Brizé podia afirmar no início “Lindon c’est moi”, para dizer o quanto os unia, entretanto Lindon passou a ser “todos nós”. Mas não deixa de ser irresistível e até previsível este passo em falso, embora em guerra, que foi da dissidência social, da objecção de consciência moral e ética, ao suicídio. É esse o movimento de A Lei do Mercado para Em Guerra — irresistível e previsível, como tal atingido também pela redundância. A Lei do Mercado foi um momento extraordinário para os trabalhos de Brizé e Lindon, intérprete que se viu consagrado com o prémio de interpretação em Cannes e o César do Melhor Actor. Sendo aí ainda tudo sussurrado, o mundo interior da personagem, um desempregado a querer regressar ao mercado de trabalho, era ameaçado de exposição, o privado violentado pela esfera pública, os silêncios importunados. O actor Lindon colocava-se mesmo “em perda” perante o saber e o domínio da linguagem dos “não-actores”, os verdadeiros desempregados com que Brizé o misturou no filme — aí , saindo da “bolha” do cinema, ganhava foros de concretização apoteótica a empatia de Vincent pelas “pessoas simples”. As primeiras sequências davam a ver a ruptura: expunham-se, ameaçavam-se os interiores que tinham sido trabalhados como memória e histórias em Mademoiselle Chambon e Quelques Heures de Printemps — filme em que Lindon, camionista, diz às tantas “on doit pas tout se dire”, reserva que se lhe conhece e que é brutalizada em A Lei do Mercado (as sequências de dança deste filme continuam a parecer a tentativa de controlo e violentação de uma individualidade. . . ). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Naqueles dois títulos iniciais da relação Brizé/Lindon, o actor, já vedeta em construção (Welcome, de Philippe Lioret, decisivo nessa deriva, é de 2009), deu versões sussurradas de si mesmo. (Já que assume o seu gosto por Jean Gabin. . . é como as versões sussurradas de Gabin em Gueule d’Amour, 1937, e Remorques, 1941, de Jean Grémillon. . . ) Revendo-os hoje, mantém-se a forma delicada como Brizé se expande pelos gestos e pela intimidade, mas evidencia-se sobretudo um mundo de interiores e familiar (um cinema de interiores) a chegar ao fim, ameaçado do exterior pelo social e pelo político. O património das personagens acabava, a morte em frente ou ao lado: num filme um pai escolhe o seu caixão, no outro uma mãe escolhe o suicídio. Mademoiselle Chambon é “a história” do encontro impossível entre uma professora e um carpinteiro — as dificuldades com o domínio da linguagem, sequência inicial, serve de apresentação da “personagem” Lindon tal como a passaríamos a conhecer. Lindon e Sandrine Kiberlain tinham sido anos antes um casal “na vida real”. Foi escolha arrojada de Brizé, e um desafio aceite pelos dois actores, dar-lhes os gestos de ternura e desejo de um casal de mundos diferentes que não se chega a formar. Era uma forma de, com eles, ser eternizado o fim. Quelques Heures de Printemps faz-se memento mori: Lindon, saído da prisão e a tentar (já aí) reingressar no trabalho, regressa a casa da mãe (espantosa Hélène Vincent, contraponto áspero à música de Nick Cave e Warren Ellis). Esta, com um tumor cerebral, decide avançar com os protocolos de suicídio assistido. “Há um momento em que é preciso admitir que é o fim”. Mesa de refeições, compotas, um cão e os duelos pelo espaço, as memórias de violência familiar. . . depois disso, depois da expansão, depois do “je t’aime mon garçon”, Vincent Lindon ficou sozinho, isolado, nos filmes de Brizé. E agora é mesmo um ícone, sem espaço para a intimidade.
REFERÊNCIAS:
João Salaviza e Renée Nader Messora premiados na secção Un Certain Regard
Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos recebeu o prémio especial do júri desta secção paralela do Festival de Cannes. (...)

João Salaviza e Renée Nader Messora premiados na secção Un Certain Regard
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.214
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos recebeu o prémio especial do júri desta secção paralela do Festival de Cannes.
TEXTO: Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, o filme que João Salaviza e Renée Nader Messora foram fazer ao estado de Tocantins, no Brasil, recebeu o Prémio Especial do Júri Un Certain Regard, secção paralela à selecção oficial do Festival de Cannes. Ficção rodada junto dos krahô — povo indígena do Brasil que Renée conhecia há dez anos e ao qual expôs João na ressaca da produção de Montanha, a anterior longa do realizador português, de que ela foi assistente —, começou como um filme de fuga a uma “parafernália”, o cinema com as suas equipas grandes, os seus compromissos de produção, e acabou na historia do jovem índio Ihjãc, personagem perseguida e atordoada pela "realidade" e pelos "fantasmas", que é o reencontro com o cinema como fabricação do mundo. João e Renée reencontram uma potência a céu aberto, a aldeia da Pedra Branca, com as suas pessoas, os elementos, os animais. O júri Un Certain Regard, que era presidido por Benicio del Toro, atribuiu o seu prémio principal a Border, de Ali Abbasi, dinamarquês de origem iraniana que se mostrou pela primeira vez em Cannes com um sedutor híbrido de realismo e de folclore nórdico. Abbasi encontra um lugar envolvente para estar com as personagens – por exemplo, Tina, que fareja como um cão, e por isso ajuda a polícia a desmantelar uma rede de pedofilia, e que devido a uma anomalia cromossómica tem o corpo coberto com pêlos e o rosto deformado. Não as afasta do mundo (não afastando o filme do realismo, apesar de povoado por criaturas de lendas escandinavas), mas também não as submete às regras dominantes. Outro filme português, Diamantino, de Gabriel Abrantes-Daniel Schmidt, recebera na quarta-feira o Grande Prémio da 57. ª Semana da Crítica, atribuído pelo júri presidido pelo cineasta norueguês Joachim Trier e que integrou também os actores Chloe Sevigny e Nahuel Pérez Biscayart. O filme conta a história de um futebolista, uma super-estrela mundial deste desporto, cuja carreira cai em desgraça, mas que talvez possa salvar Portugal do esquecimento.
REFERÊNCIAS:
Obesidade e diabetes do tipo 2 tratadas com sucesso (por agora em ratos)
Resultados de terapia genética estão publicados numa revista científica. (...)

Obesidade e diabetes do tipo 2 tratadas com sucesso (por agora em ratos)
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.75
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231204744/https://www.publico.pt/n1837417
SUMÁRIO: Resultados de terapia genética estão publicados numa revista científica.
TEXTO: Uma equipa de investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona encontrou um tratamento eficaz para a obesidade e a diabetes do tipo 2 em ratos através de uma terapia genética. O estudo foi apresentado pela equipa de investigação numa conferência de imprensa realizada no campus da Universidade Autónoma de Barcelona em Bellaterra, onde o grupo de investigadores, liderado por Fátima Bosch, esteve presente. Os resultados foram publicados na revista EMBO Molecular Medicine. Com a introdução, numa única injecção, de um vector viral adeno-associado portador do gene do factor de crescimento de fibroblastos 21 (FGF21), que permite a manipulação genética do fígado, tecido adiposo ou músculo-esquelético, o animal produz continuamente a proteína FGF21. Trata-se de uma hormona produzida naturalmente por vários órgãos e que actua em muitos tecidos para regular o funcionamento correcto no nível de energia, induzindo assim a sua produção por terapia genética, e levando a que o animal reduza o seu peso assim como a resistência à insulina. No que diz respeito à obesidade, a terapia aplicada através do projecto de investigação foi testada com sucesso em dois modelos da doença, induzidos tanto geneticamente como por dieta. Os investigadores perceberam que a administração da terapia genética em indivíduos saudáveis causa igualmente um envelhecimento mais saudável e protege-os do excesso de peso e resistência à insulina relacionados com a idade. Após o tratamento com AAV-FGF21, e durante o ano e meio em que os animais foram seguidos, os ratos perderam peso e reduziram a acumulação de gordura e a inflamação no tecido adiposo. A deposição de gordura (esteatose), a inflamação e fibrose no fígado também foram neutralizadas, enquanto a sensibilidade à insulina e a saúde geral aumentaram à medida que envelheceram, sem terem sido observados efeitos colaterais. A partir de todo o processo, os resultados foram reproduzidos pela manipulação genética de vários tecidos para produzir a proteína FGF21, seja o fígado, o tecido adiposo ou o músculo. “Isso dá uma flexibilidade muito grande à terapia, já que permite seleccionar o tecido mais apropriado e, caso haja alguma complicação que previna a manipulação de qualquer um dos tecidos, pode ser aplicada a qualquer um dos outros”, disse a investigadora que coordenou o estudo. Fátima Bosch acrescentou que quando um desses tecidos produz a proteína FGF21 e a coloca na corrente sanguínea, ela é distribuída por todo o corpo. Destacou ainda a relevância dos resultados perante o aumento dos casos de diabetes do tipo 2 e da obesidade em todo o mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Segundo os investigadores, a obesidade aumenta o risco de mortalidade e representa um factor de risco para doenças cardiovasculares, doenças imunitárias, hipertensão arterial, artrite, doenças neurodegenerativas e alguns tipos de cancro. “Esta é a primeira vez que a obesidade e a resistência à insulina a longo prazo foram neutralizadas pela administração de uma única sessão de terapia genética no modelo animal, que se assemelha mais à obesidade e diabetes do tipo 2 em humanos”, explicou a primeira signatária do artigo científico, a investigadora Verónica Jiménez, também da Universidade Autónoma de Barcelona. Os resultados do estudo mostram também como a administração de terapia genética tem um efeito protector contra o risco de formação de um tumor quando o fígado é submetido a uma dieta altamente calórica por um longo período de tempo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos doença estudo corpo animal
Greves não param. Há 47 pré-avisos até final do ano
Inspectores do SEF e seguranças dos aeroportos vão fazer greve no período das férias de Natal. Sector da saúde é o mais afectado no mês de Dezembro. (...)

Greves não param. Há 47 pré-avisos até final do ano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Inspectores do SEF e seguranças dos aeroportos vão fazer greve no período das férias de Natal. Sector da saúde é o mais afectado no mês de Dezembro.
TEXTO: As greves não tiram férias. Até ao final do ano, há 47 pré-avisos de greves em 11 áreas da administração pública, desde a justiça aos hospitais, passando pela inspecção das pescas. E há duas paralisações que podem vir a afectar as suas férias de Natal e Ano Novo. Um dos sindicatos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Sindicato dos Inspectores de Investigação, Fiscalização e Fronteiras, e duas empresas privadas de segurança vão fazer greve no fim do mês, comprometendo as acções de fiscalização nos aeroportos nacionais. Fonte oficial da ANA não quer, para já, comentar as greves anunciadas para os aeroportos por ser ainda cedo. Nos últimos meses, já foram desconvocadas greves semelhantes a poucos dias da sua realização. E só quando são definidos os serviços mínimos é que é possível fazer uma previsão de constrangimentos. Os dados da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público, que reúne todos os pré-avisos de greve da função pública, revelam que até fim de Dezembro não haverá um único dia sem paralisações previstas. Continuarão, assim, as greves sectoriais dos registos e notariado, dos educadores de infância e ensino básico e secundário (à componente não lectiva), dos trabalhadores dos hospitais E. P. E. , enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, guardas prisionais (15 de Dezembro a 6 de Janeiro), funcionários judiciais, bombeiros de 23 autarquias (desde Lisboa, Porto a Funchal ou Faro) e trabalhadores da Câmara de Oeiras. Alguns sindicatos fazem avisos de greve para vários dias, outros fazem avisos dia a dia, daí o número total de 47 pré-avisos. Se compararmos com igual período do ano passado, verifica-se que o número aumentou bastante: houve apenas 15 greves. E conclui-se também que a grande diferença reside na agitação provocada pelos enfermeiros e professores. Os enfermeiros (em greve desde dia 22 de Novembro e até 31 de Dezembro) reclamam a criação da categoria de enfermeiro-especialista e o descongelamento das progressões. Os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, por seu lado, exigem a conclusão do processo negocial de regulamentação das carreiras. Esta greve afecta praticamente todos os serviços de saúde, com incidência nos blocos operatórios, altas e internamentos hospitalares, diagnósticos, planos terapêuticos em curso e distribuição de medicamentos. Os bombeiros (em greve de dia 19 a 2 de Janeiro) estão contra a proposta de criação de um comando unificado com a Protecção Civil - agora em consulta pública (ver texto ao lado). Os funcionários judiciais, que vão ter uma greve nacional em Janeiro e mantêm a sectorial durante todo o mês de Dezembro, querem renegociar o estatuto profissional, promoções e pagamento do trabalho suplementar. Já os professores reclamam a contagem dos nove anos de tempo de serviço que foram congelados. Na verdade, os pré-avisos de greves dispararam com a subida do PS ao poder (embora tivessem diminuído as greves gerais). Pode parecer um contra-senso que haja mais greves agora em que o BE e o PCP apoiam o Governo em funções do que no passado quando o Governo era do PSD e CDS, mas o próprio ministro do Trabalho, José António Vieira da Silva, tem uma explicação: “Após um período longo de restrições”, as pessoas têm “agora expectativas de melhorias nas suas condições de trabalho”. Na sexta-feira, à margem do Congresso do Partido Socialista Europeu, Vieira da Silva tinha desdramatizado a existência de greves, lembrando que “a experiência histórica mostra que as fases finais das legislaturas são períodos em que diferentes actores procuram valorizar as suas posições”. As eleições legislativas estão previstas para 6 de Outubro. Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recebido na semana passada em Belém pelo Presidente da República, admitiu que 2019 seja um ano ainda mais agitado. “Depende da resposta que o Governo der e que for dada nas empresas, porque o mundo não se esgota com o Orçamento, e a verdade é que continuam por responder grandes questões de diversos sectores de trabalhadores”, disse. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Janeiro, já está prevista, por exemplo, uma greve de dois dias dos inspectores da Polícia Judiciária (PJ), que vai acontecer em conjunto com os sindicatos que representam os restantes funcionários da PJ. E os professores prometem não baixar os braços na defesa da contagem da totalidade dos anos de serviço que foram congelados. As palavras do secretário-geral da Fenprof na semana passada, depois de uma reunião no Ministério da Educação, ainda estão frescas: “Querem guerra, guerra terão”. No sector privado, o número de greves previsto até final de Dezembro é menor. Segundo a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, apenas quatro sectores registarão paralisações parciais: os trabalhadores dos portos; os trabalhadores dos serviços de vigilância de alguns hospitais (Setúbal, Barreiro e S. Francisco Xavier); trabalhadores do sector da hotelaria e restauração e da Securitas e Prosegur que “prestam serviços de controlo de passageiros e bagagens nos aeroportos nacionais”. A mais mediática destas tem sido a greve dos estivadores no Porto de Setúbal, que, segundo o Ministério do Mar, provocou a diminuição de 70% do tráfego habitual.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP BE
Miracolo, miracolo!, é Mario Monicelli
Efervescente, triste, eufórica, terminal - eis a "comédia à italiana" versão Mario Monicelli. Nove filmes, muitos deles gloriosos, na Cinemateca. Começa sexta-feira. (...)

Miracolo, miracolo!, é Mario Monicelli
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Efervescente, triste, eufórica, terminal - eis a "comédia à italiana" versão Mario Monicelli. Nove filmes, muitos deles gloriosos, na Cinemateca. Começa sexta-feira.
TEXTO: Dos seus 69 filmes, este nem era o que mais amou, embora mais tarde a ele tivesse regressado para fazer justiça. Mas é a grande emoção do ciclo de nove títulos com que a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, assinala, a partir de dia 12, o centenário de Mario Monicelli (1915-2010). Chama-se O Ladrão Apaixonado/Risate di Gioia (1960). Haverá outros planos, outras sequências, que podem exemplificar a “comédia à italiana” – género que dominaria os ecrãs mundiais entre os anos 50 e 70 – no tom Monicelli. Mas há uma tocante síntese do cinema do grande Mario na abertura de Risate di Gioia (quinta-feira, dia 18, 19h): uma explosão de balões num baile de final de ano, Roma em 1960, coisa efervescente, triste, eufórica, terminal – é champanhe. Monicelli deu sinais de irritação, um dia, numa entrevista, quando lhe falaram dos diálogos divertidos. O filme não era divertido, obstou, estava cheio de falhados, de gente que não encontra o seu lugar – nem na cidade, essa Roma que por aqueles anos estava a ser mitificada como La Dolce Vita. Era isto, concluía, a “comédia à italiana”: nada a ver com diálogos ou com piadas, mas com um fôlego capaz de respirar ferocidade (riso, também) e de ser abalroado pela tristeza e pela morte. Isso podia cobrir qualquer “género”, ensopar um filme de guerra (La Grande Guerra/A Grande Guerra, 1959) ou um film noir (Gangsters Falhados/I Solitti Ignoti, 1958). Era isso, finalmente, o “à italiana”. Entre os dias 12 e 24 de Junho, entre Gangsters Falhados e Um Herói do Nosso Tempo/ Un eroe dei nostri tempi (1955) – os filmes que abrem e fecham o ciclo –, vamos encontrar gente a caminhar da merda à glória sem sair da merda, como os miseráveis cavaleiros medievais comandados pela impostura de Vittorio Gassman em O Capitão Brancaleone/ L’Armata Brancaleone, de 1966 (dia 22, 21h30). Vamos encontrar gente colocada na periferia, a vida escravizada perante um frigorífico e outros acenos do boom económico italiano. Roma e os seus fogos-de-artifício de réveillon expulsam Magnani e Totò. Ele vive de expedientes, tem uma sabedoria clássica que o desenrasca (mal). Ela é figurante na Cinecittà. Acabam por se juntar numa noite em que apenas servem para fazer número num cortejo pela cidade. Roma começava a ser “Hollywood no Tibre”, invadida por turistas, estrelas e carros americanos. Magnani e Totò, resistentes, pedem licença para participar da festa. Pode ver-se Risate di Gioia como um La Dolce Vita dos pobres, comentário ao fim de um tempo, retrato nostálgico, para acabar com a nostalgia, de uma cidade. Monicelli contava que com a rodagem aconteceu pela última vez a possibilidade de filmar Roma pela noite e madrugada fora sem incómodos; a cidade podia ainda ser experimentada vazia. Com o que veio depois, La Dolce Vita, deixou de ser possível. O filme de Fellini estreou em Fevereiro de 1960, Monicelli começou a filmar o seu em Maio desse ano. Não é de espantar a picardia do underdog de uma segunda linha do cinema italiano perante os pavões de uma primeira linha, Fellini, Antonioni, Visconti e etc, que faziam sombra – há outro exemplo desta luta de classes, a irresistível referência à noia e à incomunicabilidade antonionianas em A Ultrapassagem, de Dino Risi (1962). A Roma de Risate di Gioia é um espectáculo a céu aberto com o fim. Quando o filme vai buscar a personagem de Magnani, porque alguém se lembra dela para integrar o grupo de convivas do último dia do ano, ela está nos estúdios da Cinecittà a gritar “Miracolo, Miracolo” num peplum. É uma súbita “passagem" para a antiguidade que investe Risate di Gioia de uma potência épica, apesar do maravilhoso tom que tira hipóteses a qualquer gigantismo: uma arena sobre as movimentações e a História do cinema popular italiano. Há um momento de arrepiar, quando as personagens vão dar a uma mansão de milionários alemães: os “penetras” são identificados pela luz que irrompe de uma porta que se abre e os paralisa, como se os encostasse à parede – encostando à parede aquela que fora a protagonista de Roma, Cidade Aberta (Roberto Rossellini, 1945), o filme sobre a cidade tomada pelos nazis. Eis então Roma, em 1960, cidade novamente ocupada. Magnani há-de gritar de novo “miracolo, miracolo”, mas ninguém acredita, nem ela, em milagres. Uma das razões que fizeram Monicelli apreciar só mais tarde o filme foi a memória da difícil Magnani: as imposições em relação à forma como permitia ser enquadrada, a implicação com Totò, presença que considerava desprestigiante. Não é nada que se sinta em Risate di Gioia. Pelo contrário, um dos momentos mais tocantes é o de uma milagrosa sintonia entre os dois – quando improvisam uma canção, por exemplo, permitindo-se e ao filme uma viagem feliz e dolorosa ao passado de ambos como artistas de revista. É uma viagem dentro do ciclo: Vida de Cão/Vita da Cani, de 1950 (segunda-feira, dia 15, 19h), é um nada edulcorante retrato de um grupo a fugir da miséria (mais uma vez), troupe a correr, ofegante, de um espectáculo ao outro, Milão-Roma-Milão, sem sair do mesmo sítio (mais uma vez). É um dos oito filmes que Monicelli dirigiu com Steno, com quem formara logo no pós-guerra uma dupla de argumentistas. Um dos títulos emblemáticos dessa colaboração vai ser exibido, Polícia e Ladrão/ Guardie e ladri, de 1951 (terça-feira, dia 16, 21h30). Viagem, então, ao “antes” de Monicelli: na sua autobiografia, L’Arte della commedia, dá conta desses tempos em que, primeiro com os argumentos com Steno, depois nos filmes co-realizados e que serviram de veículo a Totò, documentava o quotidiano nascido do pós-guerra, “a mimetização do fascismo, a falsa democracia”, o clientelismo e a corrupção. . . aquilo que mais tarde tornaria Alberto Sordi vulnerável e abjecto, arrivista e rastejante, em Um Herói dos Nossos Tempos/Un Eroe dei Nostri Tempi, de 1955 (dia 24, 19h). No pós-guerra, Monicelli e Steno corriam, então, de espectáculo de revista em espectáculo de revista para respirarem o que estava no ar. Assim se demarcavam do neo-realismo, que “continha uma seriedade que não era a do povo italiano” – Monicelli diz que a Itália não se reconhecia nos filmes do neo-realismo, “não eram assim os camponeses e os operários”, a Itália tinha mais a ver com os seus “canalhas”. Polícia e Ladrão foi um “caso”: esteve um ano suspenso pela censura antes de estrear, era demasiado ver um polícia (Aldo Fabrizi) perceber que pouco o separava do ladrão (Totò). A “tese” de Monicelli é que o humor foi uma conquista de maturidade para o espectador italiano, que no pós-guerra era “muito ingénuo”, estava refém dos dramalhões religiosos de Raffaello Matarazzo, Catene (1950), Tormento (1951) ou I figli di nessuno (1951), que constituíam a narrativa oficial democrata-cristã – como ele diz, naqueles anos a democracia cristã ganhava com a ajuda de senhoras que choravam e com milagres, com a ajuda de paróquias e de padres. E Monicelli conta, em L’Arte della commedia, como o humor podia ser, afinal, a temperatura de um medo, o medo da passagem do tempo, ou um filtro para conseguir enfrentá-lo. Para tactear a morte, em suma. Gostava de ir aos funerais para, com os amigos, dizer coisas divertidas sobre o defunto – está na cena final de Amici Miei (1975). Esse encontro do humor com a morte, Monicelli lutou para o impor a Gangsters Falhados, retrato de desajeitados ladrões que preparam um golpe maior do que as suas capacidades: a meio do filme, umas das personagens é atropelada por um eléctrico, momento brutal que oficializou a morte na comédia à italiana (o filme vai ser editado em DVD pela Festa do Cinema Italiano, em versão restaurada). Monicelli lutou também para impor Gassman, actor de teatro com créditos firmados que ninguém imaginava em comédia. Orgulhava-se de ser responsável pela panache kamikaze deste actor, tal como se orgulhava de outra “anomalia”, ter resgatado Monica Vitti à incomunicabilidade de Antonioni para a comédia La Ragazza con la pistola (1968) e, dois anos depois, para o seu episódio, Il frigorifero, de Le coppie. Há um momento em Gangsters Falhados em que os ladrões se inspiram no cinema americano para o golpe. É como um autoretrato de Monicelli e dos seus argumentistas, Suso Cecchi D’Amico, Age & Scarpelli, que começaram por pensar numa paródia a Rififi (Jules Dassin, 1955) que se chamaria Rufufú. Perante a hipótese de algo maior do que eles, a do “filme de Hollywood”, desatam num prodígio de pantomima, malabarismos e acrobacias, um jogo de identificações e de distanciações várias, como se a barraca da commedia del’arte tivesse sido montada para o film noir. Foi um sucesso, mas mesmo assim não foi caução suficiente para sossegar os incrédulos perante a associação de Monicelli, Age & Scarpelli, argumentistas de filmezinhos da comédia à italiana, ao gigantismo de um projecto de Dino de Laurentiis, A Grande Guerra (quarta-feira, dia 17, 21h30). Como colocar os valores do soldado italiano na mão destes três, e com comediantes da estirpe canalha de Sordi e Gassman, que interpretam homens que fazem tudo para não fazer a guerra?, polemizou-se nos jornais. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É verdade, reconheceu o cineasta: escrever um argumento a pensar naqueles dois actores correria o risco de sabotar a ideia inicial de um filme sobre a massa anónima, os soldados, os operários – e sobre a lama, o frio, os cigarros, a ração, os botões. . . Mas, à medida que A Grande Guerra vai serenando as suas hipotéticas contradições (é filme de guerra ou comédia, é filme sobre dois indivíduos ou sobre uma personagem colectiva?), vai deixando também ouvir o seu cântico – as legendas introduzem em surdina o lamento, o individual funde-se com a aventura colectiva, como nos píncaros do lirismo melodramático de Frank Borzage ou King Vidor (A Hora Suprema, A Multidão, essa é a filiação). Um monumento, A Grande Guerra recebeu o Leão de Ouro de Veneza, ex-aequo com O General della Rovere, de Rossellini – para quem estava tudo preparado, foi reviravolta de última hora. É o Non ou a Vã Glória de Guerrear de Monicelli. Milagre, milagre!
REFERÊNCIAS:
Zuckerberg deve estar outra vez a suar em bica
Walt Mossberg, o jornalista que um dia deixou o CEO do Facebook a suar por causa das suas perguntas anunciou aos seus seguidores no Facebook que no final do ano vai desactivar a sua conta. E não é o único que acha que o Facebook tem de mudar de rumo. (...)

Zuckerberg deve estar outra vez a suar em bica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Walt Mossberg, o jornalista que um dia deixou o CEO do Facebook a suar por causa das suas perguntas anunciou aos seus seguidores no Facebook que no final do ano vai desactivar a sua conta. E não é o único que acha que o Facebook tem de mudar de rumo.
TEXTO: Se fizermos uma busca pelas notícias que têm sido escritas ultimamente no PÚBLICO com a palavra Facebook encontramos títulos como: “Facebook clarifica partilha de ‘mensagens privadas’ com Netflix e Spotify”; “Falha no Facebook expôs fotos privadas e não publicadas de utilizadores” ou “Netflix, Airbnb e outras empresas tiveram acesso especial a dados do Facebook”… Isto faz qualquer um arrebitar as orelhas, ainda mais no ano em que estourou o caso Cambridge Analytica. Se formos até ao início de 2018 recordamos que, no encontro de Davos, o multimilionário George Soros avisou que empresas como o Facebook e o Google constituíam uma “ameaça para a sociedade” e representavam “obstáculos à inovação”. Na mesma altura, Roger McNamee, que foi um dos primeiros investidores da empresa de Mark Zuckerberg, afirmava que o Facebook e Google eram “ameaças à saúde pública”. Aliás McNamee não se ficou por discursos. No início do próximo ano, em Fevereiro, vai lançar o livro Zucked: Waking Up to the Facebook Catastrophe, publicado pela Penguin Random House. Two months until the launch of #Zucked . . . and @PenguinPress has chosen a new subtitle: Waking Up to the Facebook Catastrophe. Zucked will ship on February 5. Preorder hard cover: https://t. co/mnajnYOYskPreorder digital: https://t. co/prjeD9R217#ZuckedBook #ZuckedTheBook pic. twitter. com/FtzFWxRdU9Num post, publicado a 8 de Dezembro na sua página oficial no Facebook, McNamee escreve: “Durante uma década fui um verdadeiro crente. Até agora, ainda possuo acções da empresa. Em termos dos meus próprios interesses, não tenho razões para morder a mão do Facebook. Nunca me ocorreria ser um activista anti-Facebook”. Mas desde 2016 começou a ver acontecerem coisas no Facebook que não lhe pareciam correctas. No início, o Facebook pareceu-lhe a vítima. Só quis confortar os seus amigos. Mas o que foi sabendo entretanto chocou-o e desiludiu-o. No livro, afirma no post, vai explicar porque é que está convencido que “apesar de o Facebook proporcionar uma experiência convincente para a maioria que o usa”, “foi terrível para os Estados Unidos” e “precisa de mudar ou de ser mudado”. Vai também contar o que fez para tentar que isso acontecesse. “A minha esperança é que a narrativa da minha própria conversão ajude outros a perceberem a ameaça”, conclui. Também esta semana, a 17 de Dezembro, um dos veteranos jornalistas especializado em tecnologia, Walt Mossberg, anunciou aos seus seguidores no Facebook que no final do ano vai desactivar a sua conta e também a do Instagram, do Messenger e do WhatsApp (pertencem todos à mesma companhia). Para quem não se lembra, em 2010, Walt Mossberg e Kara Swisher entrevistaram Mark Zuckerberg na conferência D: All Things Digital e deixaram-no a suar em bica (literalmente) com perguntas difíceis. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Oito anos depois, Zuckerberg aprendeu a falar em público sem suar mas as controvérsias avolumaram-se. E Walt Mossberg tomou uma decisão: “Estou a fazer isto - depois de estar no Facebook há quase 12 anos - porque os meus valores e as políticas e acções do Facebook divergiram ao ponto de eu já não me sentir confortável aqui”, escreveu. Vai perder as novidades dos amigos que só comunicam através destas plataformas e tem muita pena. Estará disponível no Twitter (@waltmossberg), através de email e no telemóvel. “Não sou o primeiro a deixar o Facebook e não estou a incitar outros a fazê-lo, nem a tentar criar um movimento de debandada do Facebook. Também não estou a julgar quem cá fica ou quem trabalha aqui”, afirma. “Esta decisão é só minha. Se a empresa ou o serviço mudar de forma considerável para melhor, no meu ponto de vista, ou seja efectivamente regulado, eu poderei retomar o seu uso regular. ” Embora não tenha nenhuma esperança de que isso vá alguma vez acontecer.
REFERÊNCIAS:
Tempo Dezembro Fevereiro
Alexa, faz-me o trabalho de casa
As colunas com assistentes virtuais já estão a ajudar os estudantes mais preguiçosos. Até aqueles que só querem uma desculpa para não fazer os TPC. (...)

Alexa, faz-me o trabalho de casa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: As colunas com assistentes virtuais já estão a ajudar os estudantes mais preguiçosos. Até aqueles que só querem uma desculpa para não fazer os TPC.
TEXTO: Se a preguiça é a mãe do progresso, o progresso é o explicador da preguiça. Um dos vídeos virais deste Natal nas redes sociais foi filmado por uma mãe norte-americana que apanhou o filho de seis anos a pedir ajuda a um assistente virtual Alexa, da Amazon, para fazer os seus trabalhos de casa. “Era um dia normal e ele estava a fazer os trabalhos de casa”, contou Yerelyn Cueva, de 24 anos, ao New York Post. “Estava na sala e oiço-o a fazer perguntas sobre Matemática à Alexa, e não podia acreditar!” As questões, diga-se, não eram especialmente complexas. “Alexa, quanto é cinco menos três?”, perguntou Jariel, que ainda está no primeiro ano da escola. O vídeo já foi visualizado mais de oito milhões de vezes no Twitter em pouco mais de uma semana. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “O que é engraçado é que a Matemática é na verdade a sua disciplina favorita”, nota a mãe. “Fiquei surpreendida porque ele sabe estas coisas. Estava apenas a ser preguiçoso, a fazer batota”, explica ao diário nova-iorquino. O caso não será inédito, tanto que já existe todo um mercado de aplicações para a Alexa de apoio ao estudo, desde a Física à Gramática de língua inglesa. E também de desculpas para quem não quer fazer os trabalhos de casa — o Homework Excuses, por exemplo, gera automaticamente uma mentira para contar ao professor, incluindo o clássico “o cão comeu o meu trabalho de casa”. Por cá, a Alexa não será tão cedo um problema para os pais e professores, já que continua a ser difícil comprar o assistente pessoal da Amazon em Portugal. Mais acessível é o Google Home, que também permite fazer batota nos trabalhos de casa. Mas que, ao mesmo tempo, tenta incutir alguns hábitos de boa educação aos mais novos, pelo menos em inglês: através da funcionalidade pretty please, o assistente pessoal da Google responde com elogios a quem se lembrar de dizer “por favor” ao fazer um pedido.
REFERÊNCIAS:
O que é um Bandersnatch? É o novo Black Mirror, é interactivo e está a abanar o Netflix
Nem os autores concordam sobre quantos fins há para Black Mirror: Bandersnatch. E é um filme? Ou um episódio? O Netflix lançou esta sexta-feira um desafio para o fim-de-semana e para as férias de fim de ano – e para a televisão. (...)

O que é um Bandersnatch? É o novo Black Mirror, é interactivo e está a abanar o Netflix
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.01
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nem os autores concordam sobre quantos fins há para Black Mirror: Bandersnatch. E é um filme? Ou um episódio? O Netflix lançou esta sexta-feira um desafio para o fim-de-semana e para as férias de fim de ano – e para a televisão.
TEXTO: Três perguntas. O que é um bandersnatch? O que é Black Mirror: Bandersnatch? Como acaba Black Mirror: Bandersnatch? A primeira é de resposta fácil: é uma criatura imaginada por Lewis Carroll. A segunda é relativamente fácil, mas não definitiva: é um episódio da série, ou será o novo filme que o Netflix lançou esta sexta-feira com o pedigree da ficção científica do seu sucesso Black Mirror. A terceira é a mais complexa de todas e o segredo de Black Mirror: Bandersnatch – é que esta é uma história interactiva e em poucas horas já está a criar fãs em todo o mundo, que têm poucos segundos para tomar decisões para avançar a história. Há perto de um ano o serviço de streaming fazia das suas lançando, sem grande fanfarra, a série de ficção científica Dark, que se tornou num fenómeno. Em época de festas e com muitos subscritores, sobretudo jovens, de férias e com tempo para explorar os múltiplos caminhos que oferece um filme interactivo, o Netflix lançou esta sexta-feira Black Mirror: Bandersnatch. É um filme que na sua versão “estanque” tem 90 minutos, mas que nas suas diferentes opções e possibilidades acaba por oferecer mais de 300 minutos de imagens. Trezentos e doze, para sermos mais precisos, já acompanhados por conselhos sobre como devemos ir até ao fim, talvez tentar outra vez, e muitos GIF a serem partilhados no Twitter de espectadores a reagir ou a viver nesse outro ecrã a sua experiência de tentativa-erro que tem outro enorme potencial: o da repetição, ou seja, poder recuar e fazer novas escolhas. Ambiente de anos 1980, medo de qualquer era. Tudo começa com a nossa escolha do que será o pequeno-almoço do protagonista. O ponto de partida é aparentemente linear. “Em 1984, um jovem programador começa a questionar a realidade quando está a adaptar um romance de fantasia negra para um videojogo”, começa a sinopse, enquanto o trailer mostra que o livro se intitula Bandersnatch e que é escrito por um mítico Jerome F. Davies. Imagens de comprimidos à escolha, à la Matrix, e o som dos Frankie Goes to Hollywood pintam de sangue cenas mais assustadoras de uma “história alucinogénia com vários finais”. O jogo Bandersnatch existiu mesmo na década de 1980 e na história Netflix, o seu autor perdeu o controlo mental e acaba por matar a mulher. O protagonista de Black Mirror: Bandersnatch, Stefan, teme estar também a perder a sanidade. Black Mirror: Bandersnatch é protagonizado por Fionn Whitehead (Dunkirk), Will Poulter e Craig Parkinson. Foi criado por Charlie Brooker e tem Annabel Jones como produtora executiva. O realizador é David Slade (Black Mirror – Metalhead). Joga-se, ou conta-se, com uma barra negra que surge na base do ecrã e que dá ao espectador escolhas: que tipo de cereais comer; gritar com um progenitor ou arremessar algo em protesto? Há quem termine Black Mirror: Bandersnatch até mais depressa, em 60 minutos. Um alerta: as escolhas não funcionam no Chromecast, Apple TV, mas sim nas consolas, nas televisões mais modernas, nos smartphones com Android ou iOS ou na maior parte dos browsers. Um bandersnatch é uma criatura que os leitores do criador de Alice no País das Maravilhas conhecem bem. Apesar de ter feito a sua primeira aparição num poema de Alice do Outro Lado do Espelho (1872), o peludo animal surge em vários trabalhos de Carroll. Um filme é um filme, e um episódio de uma série é um episódio de uma série. Uma série antológica é aquela que tem temas e histórias independentes, normalmente durante uma temporada (American Crime Story, American Horror Story, True Detective); uma série antológica como Black Mirror tem episódios com histórias independentes que funcionam por vezes como filmes. Black Mirror: Bandersnatch é, com a sua hora e meia, o que o New York Times chama “o único episódio para a sua quinta temporada”, corroborado pela revista Wired; mas o Netflix classifica-o como “filme interactivo”. Haverá mais episódios da quinta temporada de Black Mirror, mas não serão interactivos segundo diz o criador de Bandersnatch. Para explorar um conteúdo deste género, que tem na base um tom de mistério e aventura com o habitual tom de alerta quanto à nossa relação com a tecnologia que contêm todos os episódios de Black Mirror, há que voltar a ele muitas vezes. O número de visionamentos, que o Netflix nunca divulga para os seus produtos, só pode aumentar com o sucesso de Black Mirror: Bandersnatch e dar-lhe o potencial do comportamento de uma série de vários episódios. Independentemente das tentativas (é sempre possível voltar atrás nas escolhas), caminhos e sucesso ou falta dele que espectadores e Bandersnatch venham a ter nos próximos dias, este novo Black Mirror é um novo sintoma do estado do audiovisual. Experimentar, diversificar, sobretudo nos novos players do streaming. Segundo escreve esta sexta-feira o New York Times, que esteve na sede da plataforma de streaming a explorar o mundo de Black Mirror: Bandersnatch, o Netflix está a pedir aos produtores que lhe façam mais propostas de histórias interactivas, já terá mais na calha e já criou um software (o Branch Manager) que ajuda a organizar histórias e dar-lhe variáveis infinitas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este não é o primeiro produto narrativo do género, dos livros Dungeons & Dragons dos anos 1980 ou do filme Late Shift (2016) à mais recente série da HBO Mosaic, criada por Steven Soderbergh e não muito amada pelo público. Até o Netflix já criou uma história infantil interactiva em 2017. Bandersnatch “não foi desenhado como um jogo. Foi desenhado como uma experiência cinemática”, garante Annabel Jones ao diário norte-americano. “Com elementos de jogo”, acrescenta Brooker. Black Mirror: Bandersnatch é mais uma tentativa para ver o que dá. É que “aprendemos a carregar no ‘play’, deixar cair o comando e a recostarmo-nos e a deixar a televisão inundar-nos”, como reconhece a directora de inovação de produto do Netflix, Carla Engelbrecht, ao New York Times. Isso leva à definição de espectador, alguém que assiste, observa mas não participa necessariamente, diferente de um jogador. É também uma experiência narrativa, de testar ritmos, limites, variações. São 170 páginas de guião e duas horas e meia de imagens fragmentadas em 250 pedaços, como como escreve a revista Wired, que teve acesso às salas de montagem da série - os criativos tiveram de “reinventar como se faz televisão”. Há mais de um trilião de variações da história, detalha a Variety. Resposta à terceira pergunta? “Não sei quantos fins existem. Não sabemos o que criámos”, disse Annabel Jones ao New York Times. “Desculpa. Sabemos”, corrigiu Charles Brooker, que inicialmente recusou fazer este episódio-filme interactivo. O produtor Russell McLean não tem tantas certezas. Serão, diz o Netflix, cinco fins com muitas variantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime mulher ajuda medo género animal negra infantil
Paulo Branco vai deixar o Monumental, mas o Monumental não quer deixar de ser cinema
Centro Comercial Monumental vai entrar em obras em 2019, refazendo até a fachada, e reabre com a intenção de manter a exibição de cinema — mas já não com a Medeia Filmes. Exibidora vai ter Sessões Monumental aos fins-de-semana até início das obras. (...)

Paulo Branco vai deixar o Monumental, mas o Monumental não quer deixar de ser cinema
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Centro Comercial Monumental vai entrar em obras em 2019, refazendo até a fachada, e reabre com a intenção de manter a exibição de cinema — mas já não com a Medeia Filmes. Exibidora vai ter Sessões Monumental aos fins-de-semana até início das obras.
TEXTO: O cinema Monumental vai entrar em obras em 2019 e deixar de ser explorado pela Medeia Filmes, suspendendo a partir de Fevereiro a exibição comercial de cinema — mas manterá, até à remodelação profunda do edifício numa das artérias nobres de Lisboa, sessões semanais programadas pela exibidora e distribuidora de Paulo Branco. O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo produtor, com fonte do proprietário do edifício do Monumental a confirmar que, findas as obras, se manterá ali a existência de cinemas. O anúncio surge depois de semanas de rumores sobre o fim do cinema Monumental, mas também quanto às possíveis intenções dos proprietários do edifício em repensar a sua actividade. A MP Properties, detida pela Merlin, a imobiliária espanhola dona desde 2016 do edifício ocupado pelo Centro Comercial Dolce Vita Monumental gerido pela Inogi, planeia obras no valor de 20 milhões de euros para a estrutura, que vão refazer a sua fachada e manter depois de um ano de trabalhos as valências de lojas, escritórios e espaço para cinema. As obras devem começar no segundo semestre de 2019. A mesma fonte avançou que terá de ser encontrado um novo exibidor para explorar o espaço – composto actualmente por quatro salas, uma das quais o Cineteatro de 378 lugares. Foi ali que Paulo Branco adiantou que até 20 de Fevereiro vai manter a actividade normal da Medeia nos cinemas, encerrando esse ciclo com uma homenagem ao cineasta João César Monteiro. Depois, “as coisas quando acabam, acabam”, respondeu ao PÚBLICO sobre se voltaria após as obras a gerir o Monumental. “Não está contemplada da minha parte qualquer volta”, frisou sobre os cerca de 4 mil m2 que estão até agora a exibir filmes como Roma, de Alfonso Cuarón, e que programa desde 1993. O futuro da actividade de exibição da Medeia em Lisboa continuará no Nimas e, sugeriu Paulo Branco, “há muitas surpresas” que o futuro pode trazer sobre novos espaços onde programar cinema. Segundo Paulo Branco, a decisão já se perfilava “há algum tempo” e foi tomada por “ambas as partes”, “no interesse de ambas”. Agora, firma-se que “o último dia de actividade normal no Cinema Monumental será a 20 de Fevereiro”, com a homenagem a César Monteiro, e depois só o Cineteatro acolherá as Sessões Monumental, ao fim-de-semana “até à reestruturação completa do prédio”. Na origem da decisão, além de a Inogi e a MP Properties considerarem que o edifício estava já depauperado, está o contexto. “Há uma conjuntura económica que faz com que a rentabilidade não se coadune com uma actividade” como a cinematográfica, disse o produtor, bem como “a quebra dramática do número de espectadores” dos últimos anos. Em termos de renda, os proprietários do espaço deram-lhe “condições de excepção durante anos”. “[Porém, ] não era economicamente viável continuarmos”, observou. Continuar a explorar o Monumental, diz Paulo Branco, “era absolutamente incomportável”. O exibidor diz que quer “continuar a mostrar a diversidade das cinematografias que existem no mundo”, como faz há 30 anos na Medeia Filmes, e garante que “o Nimas vai continuar, reforçado”. A situação levou ao fim de contrato de quatro trabalhadores e os restantes cinco vão continuar afectos ao Nimas e às sessões no Monumental. A intenção manifestada pelos proprietários do imóvel de manter um espaço na zona comercial dedicada ao cinema coloca assim em suspenso um dos temores que as mudanças que se anunciavam no Monumental deixavam em aberto: o fim de mais um cinema no centro de Lisboa e de um cinema de programação independente. Quando está em cima da mesa a demolição ou reafectação de um recinto de exibição cinematográfica para outros fins, o Artigo 14. º do Decreto-lei 23/2014 mantém uma regra com décadas em Portugal: isso “depende de autorização do membro do Governo responsável pela área da cultura, a ser obtida directamente pelo interessado ou pela entidade a quem competir o controlo prévio da operação urbanística”. O inspector-geral das Actividades Culturais, Luís Botelho, reiterou ao PÚBLICO, por email, que de facto “a IGAC [Inspecção-Geral das Actividades Culturais] não foi até ao momento chamada a pronunciar-se sobre pedido” nesse sentido. Entre 2019 e 2020 decorrerá assim mais um hiato na exibição de cinema no Saldanha lisboeta. Há 67 anos que a Praça do Saldanha não sabe o que não é ter um cinema. O primeiro hiato durou quase uma década, quando foi demolido o imponente cineteatro original, datado de 1951, e que foi abaixo em 1984. O actual edifício é já uma versão distante da glória da sua primeira encarnação, decorada com lustres, mármores e uma gigantesca sala de cinema de 2710 lugares. O Monumental é o cinema resistente do Saldanha depois de Paulo Branco ter fechado as salas do Saldanha Residence, no quarteirão abaixo, e de os seus sucessores, os @Cinema, terem apenas funcionado três anos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Paulo Branco, histórico produtor, distribuidor e exibidor de cinema de autor português, é mais um recinto que geriu durante décadas que vê mudar de mãos. Há cinco anos foram as salas do Cinema King (1990-2013), à Avenida de Roma e onde funcionava antes o cinema Vox, a encerrar devido ao valor da sua renda. Dois anos depois, as salas do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica, também faziam as últimas sessões. Em Lisboa, resta à Medeia — e bem perto do Saldanha, na Avenida de 5 de Outubro —, o Cinema Nimas, onde tem feito programação especial e temática, mas onde há dias já constava online uma nova programação, com exibição comercial regular de cinema em estreia. A Lisboa resta, no âmbito dos cinemas independentes, o Cinema Ideal, no Bairro Alto. A capital perdeu nos últimos anos, além dos cinemas da Medeia e da @Cinema, o histórico Londres, na Avenida de Roma, que era gerido pela Socorama, que pediu insolvência em 2013 e motivou uma transformação mais célere e profunda no mercado de exibição a nível nacional: fechou mais de cem salas, deixando algumas cidades e distritos sem exibição comercial regular de cinema, e permitiu a entrada de um novo operador, a brasileira Orient Cineplace, que no final de 2017 era a segunda maior exibidora em Portugal. Tal como no resto do país, a oferta tende a concentrar-se cada vez mais nos multiplexes. A Medeia Filmes tem ainda programação, fora de Lisboa, no Cine Estúdio Teatro do Campo Alegre, no Porto — onde em 2010 encerraram também os Cinemas Cidade do Porto —, no Auditório Charlot, em Setúbal, no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, no Theatro Circo de Braga e no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei cultura campo circo
UHF: soprar as velas dos 40 com Legendary Tigerman, Frankie Chavez e João Pedro Pais
40 Anos Numa Noite é o nome dos dois concertos com estes três convidados e Renato Gomes, o guitarrista original, que a banda de António Manuel Ribeiro vai fazer. Primeiro em Lisboa, este sábado, na Aula Magna, e uma semana depois no Porto, na Casa da Música. (...)

UHF: soprar as velas dos 40 com Legendary Tigerman, Frankie Chavez e João Pedro Pais
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: 40 Anos Numa Noite é o nome dos dois concertos com estes três convidados e Renato Gomes, o guitarrista original, que a banda de António Manuel Ribeiro vai fazer. Primeiro em Lisboa, este sábado, na Aula Magna, e uma semana depois no Porto, na Casa da Música.
TEXTO: Não há muitas bandas portuguesas que cheguem aos 40 anos de actividade, mas foi isso que aconteceu aos UHF. A banda de António Manuel Ribeiro, o único membro original que se mantém, assinalou a ocasião com a reedição de três discos raros da era em que passaram pela editora Rádio Triunfo, mas também em cima dos palcos. A festa passa pela Aula Magna, em Lisboa, este sábado. Segue-se, exactamente uma semana depois, a Casa da Música, no Porto. Nas duas ocasiões a banda terá com ela convidados especiais: Paulo Furtado, ou The Legendary Tigerman, Joaquim Chaves, ou Frankie Chavez, e João Pedro Pais, bem como Renato Gomes, o primeiro guitarrista da banda. Na passada quarta-feira, os três convidados reuniram-se com a banda para ensaiar pela primeira vez. O encontro, para o qual foram convidados jornalistas, aconteceu no estúdio PontoZurca, em Almada. “Queria convidar gente mais jovem”, explica António Manuel Ribeiro ao PÚBLICO, a justificar os convites. “Quis ir buscar gente de outra linguagem, até”, prossegue, referindo-se ao facto de tanto Frankie Chavez quanto Legendary Tigerman cantarem em inglês (neste caso, nenhum vai sequer cantar). Pouco antes, a banda tinha ensaiado Cavalos de corrida com a guitarra eléctrica de Paulo Furtado e a guitarra slide de Frankie Chavez, que preferiram cingir-se à condição de instrumentistas — ainda estava por decidir, nessa tarde, se Frankie, que escolheu Matas-me com o teu olhar, iria ou não juntar também a sua voz aos refrães e coros. As diferenças entre os convidados e a banda não são assim tão grandes. Paulo Furtado, por exemplo, conta que reparou em “códigos de linguagem semelhantes” entre o seu rock’n’roll e aquele praticado pelos UHF. António Manuel Ribeiro comenta: “Quando nós agarramos num instrumento, vamos para uma sala e nos juntamos todos, a nossa linguagem é exactamente a mesma. ” Assegura, portanto, que a união bastante espontânea entre a banda e os outros músicos tem vindo facilmente, algo que todos os outros intervenientes confirmam. Nascidos entre as décadas de 1970 e 80, todos os convidados têm noção de quem são os UHF desde pequenos. “Apanhei o auge da Cavalos de corrida e da Rua do Carmo. Tive colegas que compraram o álbum e eu ouvia-o à pala deles. Sabia as músicas, como esta”, recorda João Pedro Pais, que pega no baixo para tocar e cantar um pouco de Estou de passagem, de 1982. Antes da conversa, sozinho na sala, estava a tocar temas dos Pearl Jam, que partilham com os UHF um fascínio pelos Ramones, algo de que se lembrou ao ensaiar com a banda. A relação com os UHF não fica por aí. Quando fez o seu primeiro álbum, Segredos, em 1997, a banda que o acompanhava era composta por ex-membros dos UHF. Em Agosto deste ano, o músico convidou António Manuel Ribeiro para se juntar a ele numa versão de Cavalos de corrida nas festas de Corroios. O vocalista aceitou e a banda ensaiou, mas afinal já tinha compromissos nesse dia e a colaboração não aconteceu. Frankie Chavez, o mais novo dos três, conheceu António Manuel Ribeiro “há uns anos” e deram-se logo bem, afirma. Mas conhece os UHF “desde miúdo, tal como toda a gente”. Paulo Furtado voltou a prestar atenção ao que a banda de António Manuel Ribeiro tinha feito nos anos 1980 através da compilação Os Anos Valentim de Carvalho, de 2008. Ouviu, diz, certos efeitos sonoros, como phasers ou flangers, aplicados a pratos de choque, que são “um bocado fora para a altura” em que os discos foram feitos e soam muito “bem”. Isso fê-lo perceber, argumenta, que às vezes as pessoas “não tomam muita atenção” a “coisas que são incríveis e estão aí há muito tempo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os concertos em si vão tentar celebrar, como o nome, 40 Anos Numa Noite, indica, estas décadas de actividade. “Vai ser impossível, em duas horas e tal de espectáculo, resumir 40 anos”, assume o vocalista. “Vamos tentar não defraudar aquilo que as pessoas gostam de ouvir, sucessos com os quais cresceram, que fizeram parte das nossas vidas”, mas também trazer canções que estão “fora dos grandes palcos”. As duas noites servirão, diz António Ribeiro, para constatar “a emoção que os UHF trouxeram a muita gente”, o que “às vezes as pessoas não percebem”. “Vem gente de fora, das ilhas, de França, Suíça, Áustria, Tanzânia. . . ”, partilha. “É essa emoção e essa troca de energia, das pessoas que elevam os coros e colocam as palmas no sítio certo, o estarmos a tocar para uma audiência que faz parte de nós, que emociona até às lágrimas”, conclui.
REFERÊNCIAS: