Recados
“O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa. Um “recado” é uma “mensagem”, um “aviso”, um “mandado”, mas também é “censura”, “repreensão”, “ralho”. (...)

Recados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa. Um “recado” é uma “mensagem”, um “aviso”, um “mandado”, mas também é “censura”, “repreensão”, “ralho”.
TEXTO: Um “recado” pode ser entendido como “mensagem”, “aviso”, “mandado”, mas também como “censura”, “repreensão”, “ralho”. Num dicionário recente, regista-se como “aviso ou mensagem curta, oral ou escrita, remetida por uma pessoa a outra” e exemplifica-se com “mandar um recado”. “O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa, no que seria entendido como resposta a Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença que não se recandidataria, se houvesse outra tragédia como os incêndios do ano passado. Por sua vez, a declaração do Presidente seria também uma resposta ao que o primeiro-ministro disse anteriormente à revista Visão, afirmando que não veria razões para se demitir, mesmo que voltasse a haver mortes nos incêndios em Portugal. Para Pacheco Pereira, António Costa respondeu bem a Marcelo, “o que nem sempre é fácil, visto que neste combate verbal o Presidente sabe-a toda”. E escreveu: “Claro que manda [recados] por todos os meios. ”Também existe a expressão “dar conta do recado” e aqui sugerimos que se atente à diferente linguagem entre um dicionário de 1958 e outro de 2006. Escreve assim o primeiro: “Desempenhar-se cabalmente de determinada incumbência. ” O segundo, assim: “Sair-se bem de um encargo, desempenhar bem uma tarefa ou função. ” Ganha-se em simplificação, perde-se em requinte. Também no mais antigo se diz que “recado”, por extensão, pode significar, “papel e pena para escrever qualquer comunicação”. Bonito. “Recado” corresponde ainda a “pequenos serviços incumbidos a um criado ou outro serviço fora de casa” e “execução de um encargo ou tarefa ou de uma pequena compra, a pedido de alguém”. Exemplo: “O miúdo foi fazer um recado à mãe. ”No Sul do Brasil, quer dizer “conjunto de peças com que se encilha o cavalo para montaria”. No plural, “recados”, são “cumprimentos, recomendações, palavras afectuosas”. Exemplo: “Não se esqueça de lhe transmitir os meus recados. ”A expressão mais engraçada é “tomar o recado na escada”, ou seja, “responder antes de ouvir de todo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Antigamente, também se usava como sinónimo de “recato”, “cautela”. Dizia-se que “um homem de bom recado” era “um homem de confiança, que dá boa conta de si”. Deve ser assim que Presidente e primeiro-ministro se consideram. Estão bem um para o outro. Fica dado o “recado”. A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS:
Presidente do Banco BIG: "Incesto entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”
Carlos Rodrigues sublinha que as crises não se prevêem. Sobre uma eventual bolha da dívida, alerta que é mais provável que rebente por imprudência da gestão do que pela subida dos juros. (...)

Presidente do Banco BIG: "Incesto entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.083
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Carlos Rodrigues sublinha que as crises não se prevêem. Sobre uma eventual bolha da dívida, alerta que é mais provável que rebente por imprudência da gestão do que pela subida dos juros.
TEXTO: O presidente do Banco de Investimento Global (BIG) faz o seu diagnóstico sobre o estado da construção europeia, com um foco no momento da economia e da banca. E destaca: “a incestuosidade entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”. Disse há pouco tempo que se vive "uma certa calmaria" que o deixa receoso. Porquê?Estamos numa zona económica que, sendo uma das duas maiores do mundo, não faz medidas de aprofundamento dessa união que está imperfeita. E os únicos passos dados foram em resposta a uma crise [2008] que começou nos EUA, onde foi bem resolvida, e em dois anos os bancos já apresentavam lucros. Já na Europa não foi bem resolvida, as crises são latentes e resolveram-se sempre em reuniões às 04h00 da manhã, com todos os presentes cansados. Basicamente a única coisa que a Europa fez para avançar, foi a tentativa de União Bancária que deixou de fora um pilar: o Fundo de Garantia de Depósitos europeu. Ainda assim a UE criou o mecanismo europeu de estabilidade (MEE ou ESM, na sigla inglesa). Sim, mas é pouco. [O tratado de] Maastricht celebrou-se em 1992, estamos a falar de mais de um quarto de século. Na prática, o Tratado de Lisboa [2007] acabou por não aprofundar o projecto europeu como pretendia. Aprovou a meta de, em dez anos, a União Europeia (UE) ficar, em termos tecnológicos, à frente dos EUA, o que não se concretizou. E se uma União se quer monetária, deve ser aprofundada, pois, caso contrário, se deixar passar o tempo, acaba por poder morrer. E o que diz ao facto de a Alemanha ter vindo avisar que o Fundo de Garantia de Depósitos só será concretizado muito mais para à frente?Então, se assim for, a UE não resistirá muito tempo. Acredito, no entanto, que se fará mais cedo, pois uma união que se quer com a mesma moeda, terá de ser aprofundada dentro de um espaço de tempo razoável, com as vontades a convergirem para um espaço com regras comuns. E com legitimidade do voto. E aí a experiência não é boa: fizeram-se referendos e quando estes começaram a correr mal para a UE, a UE recuou porque não foi capaz de explicar as vantagens do projecto. E o que se vê é que cada país tem uma agenda própria. E hoje é muito imperfeita, muito desigual em termos de desenvolvimento económico dos vários países. E como avalia o papel da Alemanha depois da crise da dívida pública?A Alemanha tem uma moeda fraca, que é o euro, e acumula superavits, enquanto para outros países da União, o euro é uma moeda forte. As obrigações soberanas alemãs pagam, a 10 anos, um quarto de um por cento fixo, o que significa que se podem desenvolver sem quase gastarem dinheiro. O custo para Portugal é de 1, 7% e para os italianos até há poucos dias era superior a 3%. Existe, portanto, na União, uma assimetria que se auto perpetua e condiciona o desenvolvimento de alguns países e da União como um todo. A história da UE não é viver permanentemente atrás do prejuízo?Se a História se repetisse, viveríamos sempre em guerra. Agora vivemos num hiato. E como as primeiras crises surgiram na banca, o sistema circulatório das economias, fez-se o ESM, o SSM e o Fundo de Resolução Europeu. É que se a zona euro implodisse, a UE também implodia. Por isso digo que estando garantida a prosperidade e a paz, a União deveria aprofundar-se ou o seu futuro fica comprometido. O seu pessimismo resulta de quê?Não é pessimismo. É a constatação de uma realidade. Diz que não é possível construir a Europa contra a vontade dos povos, sem consultas directas, sem o seu envolvimento. E a médio prazo é verdade. É claro que há sempre os representantes eleitos nos vários Estados com poder de os comprometer. Mas se queremos aprofundar esta União, temos de consultar as populações, temos de as ouvir. Hoje, como agente económico, vejo prosperidades diferentes e problemas difíceis em zonas económicas distintas. Existem três grandes blocos económicos: a China, os EUA e a UE. E foi até nos anglo-saxónicos, onde nasceu a crise de 2007/2008, que o problema foi atacado de forma mais eficaz, em dois ou três anos estava resolvido. Não foi preciso aos governos fazerem de Pôncio Pilatos: o Tesouro americano [equivalente a Ministério das Finanças] e o Banco Central intervieram, fomentaram a consolidação e, no fim, o sistema foi redesenhado com ganhos para os contribuintes. Passados dez anos da queda do Lehman Brothers, que pôs em evidência a crise de 2008, nos EUA já se esqueceram?Nos EUA não se fala de crise. O que me leva a concluir que a UE não fez o seu trabalho, o que não beneficia o conjunto dos povos europeus. O movimento de integração europeia parou e há menos relevância em termos mundiais. Como comenta o facto de analistas, economistas e gestores estarem a dar como provável uma nova crise de dimensão semelhante à de 2008, nos sectores imobiliário e de dívida. . . Em geral as crises não se prevêem. E a experiência diz-nos que quando todos a antecipam é porque não acontecem. Mas crises vão sempre acontecer. A pergunta que deve ser feita é outra: com que resiliência as vamos enfrentar e como as vamos gerir? Hoje, na banca, os níveis de capital são importantes tal como os rácios de solvabilidade, mas a defesa fundamental [face a uma crise] é a qualidade dos activos em balanço. E as respostas às crises devem ser dadas em termos globais, o que exige maior integração europeia. A UE está muito mal preparada para enfrentar uma grande crise. Até Olli Rehn, o ex-comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários [2010-2014], actual governador do Banco Central da Finlândia, chamou a atenção para a vulnerabilização das economias pelo aumento da dívida. Há preocupação com os agregados de dívida que sendo sustentáveis em momentos de expansão económica, podem não resistir a ciclos de baixa. Nos EUA havia preocupação com as taxas de juro historicamente baixas [nulas], e que agora a cinco anos já estão a mais de 2, 5% e a dez anos perto dos 3%. Não acredita muito num estouro da bolha?Não diria que esteja controlada. Mas a bolha é mais fácil de acontecer por má gestão ou pela gestão imprudente de países e de empresas, do que por eventos excepcionais que mudem as taxas de 2 ou 3% para 5%. Acredito que os efeitos de uma explosão [da dívida] aconteçam mais pela imprudência da gestão de quem necessita de se endividar [do que pela subida dos juros]. Quando tudo corre bem a tendência é para relaxar e para assumir compromissos estruturais. E reconheço que os avisos dos supervisores são importantes pelos efeitos prudenciaisHá sinais de que a banca, nomeadamente a portuguesa, tem tratado de furar esses avisos. Não sei. Houve uma descida muito grande dos rácios de alavancagem [rácio empréstimos sobre depósitos] que, nalgumas instituições, chegavam a quase 200% e que agora estão em menos de 100%. Verificou-se realmente uma desalavancagem na banca e empresas do sector real registam agora equilíbrios. Há a ideia de que os reguladores tomam medidas mais para responder às crises do passado [exigências sucessivas de aumentos dos rácios de capital], do que para antecipar as que estão para vir. Há um elemento de verdade, mas também melhorou a supervisão, a qualidade dos activos, a legislação. E a questão é menos verdadeira nas unidades económicas dos países onde ninguém já fala da crise de 2008, como os EUA. E até países do centro da Europa, os tais que têm superávites brutais, que enriqueceram muito com a crise por terem uma moeda fraca. E ainda assim a Alemanha não ajuda a expandir a zona euro. O caso alemão choca-o?O que digo é que se os alemães quisessem construir “auto-estradas no céu”, faziam-no financiados a taxa fixa a 30 anos abaixo de um por cento. Ora, ir pedir dinheiro e ficar a pagar menos de um por cento por um crédito a 30 anos é quase a garantia de que os investimentos são rentáveis. É muito diferente ter de pagar 3% ou 4% ao ano a 30 anos, como acontece em Portugal. Dito isto, não podemos viver com um nível de endividamento alto. Antes quando a dívida pública ultrapassava os 30% do PIB era uma anormalidade. Agora se fica em 40% é muito aceitável. Olhando para o cenário do que é o sistema financeiro internacional e se compararmos, em termos de evolução histórica, os rácios de dívida das empresas e dos Estados, não haverá necessidade de reforçar a prudência?Também é verdade que os níveis de inflação e das taxas de juro baixaram muito, enquanto o nível de concorrência aumentou imenso. E a legislação europeia está a criar uma distorção concorrencial. No caso da Grécia, foi a desigualdade dos credores. Os credores oficiais receberam 100 por cento da dívida [dos empréstimos que fizeram à Grécia] e os privados levaram um haircut [receberam menos 60% do que emprestaram], que se revelou ter sido um enorme erro. Esta decisão, a par de outras, contribui enormemente para que ainda hoje na UE se sintam os efeitos colaterais da crise de 2008. O que foi feito com a Grécia levou a uma grande desigualdade. . . . . . a uma enorme desigualdade no crescimento da UE e das instituições que ali operam. As medidas deixaram marcas nas economias, principalmente nas periféricas do sul. É verdade que a dívida hoje é maior, tal como é verdade que o custo da dívida e os níveis de inflação são menores. Mas também é preciso ver que, mesmo assim, a prosperidade mantém-se. A resposta das autoridades à crise de 2008 gerou stress regulatório aos bancos?Sem dúvida. E stress de custos. Temo que à falta de unidade europeia se tenha, a União tenha adoptado um excesso de regulação, sobretudo por extensão dos regulamentos muito densos, sem que haja regulação simples e directa. Passa-se o tempo a redigir regulação, alguma é necessária, mas outra não é, do que a fazer o devido controlo de qualidade. Foi-se longe de mais?Não no sentido das exigências de capital e de procedimentos, mas do ritmo em catadupa em que se produz legislação. Nesta crise financeira, na UE, muitas instituições e responsáveis ficaram sem condenações. E os que menos sofreram foram as agências de rating, assim como as empresas de auditoria e os órgãos de fiscalização internos das instituições que eram supostos controlar e garantir a boa gestão. E obviamente os reguladores e os supervisores também não estão imunes. E não são as milhares de páginas de regulação que vão resolver o assunto, até porque elas são difíceis de seguir. E no final o negócio desaparece se se ficar sem tempo para o desenvolver. Os supervisores deram conta disso?Acredito que sim. Acharam que fizeram o melhor e já perceberam que talvez tenham ido longe demais. O risco é quando [reguladores] tentam controlar aquilo que são as funções e os direitos dos investidores, os que colocam o seu capital nas instituições, o que lhes deveria dar o direito de escolher quem manda na gestão do seu dinheiro. Não me parece ser uma boa ideia que os reguladores tentem ocupar as funções dos investidores e dos gestores, isto, sem prejuízo de poderem exercer os deveres de vigilância do que é “fit” do que é “proper” quanto ao carácter, experiência e passado dos membros indicados para os órgãos sociais dos bancos. O que é que quer dizer?Onde há mercados concorrenciais, as boas empresas têm tendência para sobreviver, já, e por oposição, nos mercados pouco concorrenciais, com preços formados de forma mais administrativa, ou então, pelas autoridades centrais, surgem problemas. O risco é acabar por estatizar os sectores. E o financeiro é um deles. Os Estados estatizam os bancos?Não falo de Estados. O que digo é que a produção regulatória acaba por uniformizar as ofertas porque, em certa medida, protege os tamanhos dos bancos, os de maior dimensão [o objectivo do BCE é que a UE fique com apenas 30 bancos, todos grandes], e assim acabar com a inovação quando ela é mais necessária, e que é produzida, muitas vezes, em instituições de pequena dimensão. Corre-se o risco de se criarem grandes bancos que são too big to fail [demasiado grandes para falir] e um pesadelo para os reguladores e de, ao mesmo tempo, estes gigantes se tornarem too big to function or operate [demasiado grandes para funcionar]. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Está moderadamente optimista?Costumo dizer que se não mudarmos nada num mundo que evolui rapidamente, tendemos a desaparecer. Há sempre gente em todos os blocos a pensar em coisas novas, sejam as fintechs, sejam as novas entidades não reguladas. As fintechs são uma moda?Não me parece que sejam e algumas têm soluções interessantes. E daí a necessidade dos bancos terem de inovar e de cooperar com o sector das fintechs. Acha que continua a existir uma cultura tóxica na gestão dos bancos?Não estou certo que dominasse no sector ou que fosse tóxica. O que eu diria é que a incestuosidade entre a banca e o Estado foi sempre maior do que o desejável. E não estou a falar apenas de Portugal, onde era acentuada, mas havia em todo o lado. E havia incompetência. E isso não era cultural, nem estava institucionalizada.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
Sonangol não distribui dividendos, lucro de 2017 reduz prejuízos acumulados
Petrolífera confirma que vai manter-se no Millenium BCP, onde detém 19,49% do capital. (...)

Sonangol não distribui dividendos, lucro de 2017 reduz prejuízos acumulados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Petrolífera confirma que vai manter-se no Millenium BCP, onde detém 19,49% do capital.
TEXTO: A petrolífera estatal angolana Sonangol não vai distribuir os dividendos do exercício de 2017, usando os lucros para reduzir os prejuízos acumulados de anos anteriores, que ascendiam, no final desse ano, a mais de 2100 milhões de euros. Sobre a participação no banco Millenium BCP, onde a petrolífera detém 19, 49% do capital, o relatório da administração afirma que esse investimento de mais de 800 milhões de euros é considerado "um investimento estratégico", confirmando assim que pretende manter essa posição numa altura em que tem em curso um processo de saída de 52 empresas, na banca e noutras empresas do grupo. “A participação da Sonangol no Millennium BCP é um investimento estratégico, já que é um suporte relevante para a diversificação do seu investimento, em geografias como África e a Europa, e acentua a natureza e vocação internacional da empresa”, lê-se no relatório de gestão. A 31 de Dezembro de 2017, a Sonangol detinha 2. 946. 353. 914 acções do Millennium BCP, avaliadas nas contas da Sonangol em 801, 4 milhões de euros, no regime de justo valor (ou preço de mercado). A manutenção na estrutura accionista do BCP já tinha sido objecto de indicação por parte do Presidente angolano, João Lourenço, aquando da visita de Estado que fez a Portugal no final de Novembro. João Lourenço indicou, na ocasião, que a Sonangol deve alienar as participações em 52 das cerca de 100 em que está presente. Em Portugal, a empresa detém ainda uma participação na Galp Energia. Segundo as contas referentes a 2017, divulgadas neste sábado pela Lusa, a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) registou um resultado operacional positivo de 197. 538 milhões de kwanzas (1060 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). As contas são do último ano da gestão de Isabel dos Santos na petrolífera, cujo relatório só foi validado pelo accionista Estado neste mês de Dezembro. Porém, ao abrigo Lei das Sociedades Comerciais, a empresa “não poderá efectuar a distribuição dos resultados, até à cobertura integral dos prejuízos acumulados dos exercícios anteriores”. Esses prejuízos acumulados ascendiam, no final de 2017, a 398. 178 milhões de kwanzas (2160 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, liderou a Sonangol entre Junho de 2016 e Novembro de 2017, tendo sido depois afastada pelo novo chefe de Estado, João Lourenço. “Propomos que o resultado líquido do exercício seja integralmente aplicado para a cobertura dos prejuízos de exercícios anteriores, por serem necessários para o efeito. A presente proposta de aplicação de resultados, tem subjacente a necessidade de garantir a sustentabilidade da empresa, de modo a continuarmos a implementação da estratégia de crescimento e solidez definida no Programa de Regeneração da Sonangol”, lê-se no relatório da administração da petrolífera, que desde Novembro de 2017 é liderada por Carlos Saturnino. Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, produto que representa mais de 95% das exportações do país. João Lourenço considera a Sonangol a "galinha dos ovos de ouro". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Globalmente, o resultado líquido do grupo Sonangol em 2017 foi de 27. 250 milhões de kwanzas (147 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017), correspondente a um aumento de 107% face a 2016, “reflectindo os ganhos da estratégia adoptada pela OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]”, refere a administração da petrolífera, sobre o acordo envolvendo os países produtores para o corte na produção. As vendas da Sonangol em 2017 – essencialmente petróleo bruto – aumentaram 19% face ao ano anterior, para 2, 916 biliões (milhões de milhões) de kwanzas (15. 700 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). O custo com o pessoal desceu para 152. 952 milhões de kwanzas (826 milhões de euros), fruto da quebra de 1, 46% no total de trabalhadores do grupo – que conta com cerca de 20 subsidiárias –, para 8099 colaboradores efectivos no final de 2017.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha lei
João Pedro Rodrigues e a atracção do abismo
Um novo filme há muito aguardado, O Ornitólogo, esta semana em concurso em Locarno. Uma instalação em Vila do Conde com o cúmplice de sempre João Rui Guerra da Mata. Uma retrospectiva parisiense no final do ano. O balanço de um ano em cheio por um cineasta discreto mas dado a desafios. (...)

João Pedro Rodrigues e a atracção do abismo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um novo filme há muito aguardado, O Ornitólogo, esta semana em concurso em Locarno. Uma instalação em Vila do Conde com o cúmplice de sempre João Rui Guerra da Mata. Uma retrospectiva parisiense no final do ano. O balanço de um ano em cheio por um cineasta discreto mas dado a desafios.
TEXTO: Não são muitos os cineastas - portugueses ou de outras nacionalidades - que possam gabar-se de terem estado em todos os principais festivais de cinema de “classe A”. João Pedro Rodrigues, logo à primeira longa, O Fantasma (2000), entrou no concurso oficial de Veneza. Odete (2005) e Morrer como um Homem (2009) estiveram em Cannes – o primeiro na Quinzena dos Realizadores, o segundo em Un Certain Regard (e a curta Manhã de Santo António fechou a Semana da Crítica em 2012). Agora, o seu novo filme, O Ornitólogo (2016), está no concurso oficial de Locarno, como “ponta de lança” de uma “embaixada” de uma dúzia de produções ou co-produções portuguesas – é a sua segunda presença na competição suíça, depois da sua longa a meias com o companheiro e cúmplice João Rui Guerra da Mata, A Última Vez que Vi Macau (2012). Some-se a isto o percurso internacional que João Pedro Rodrigues (n. 1966) tem tido ao longo da última década, com retrospectivas regulares, viagens constantes e residências artísticas (no francês Le Fresnoy ou em Harvard), para percebermos como é um dos realizadores portugueses mais respeitados no espaço cinéfilo global. Some-se também a isto a retrospectiva integral que decorrerá em Paris no final do ano a convite do Centro Pompidou, coincidindo com a estreia francesa de O Ornitólogo; isto enquanto a galeria Solar, em Vila do Conde, recebe até finais de Setembro a exposição Do Rio das Pérolas ao Ave, que, 20 anos depois da primeira curta “oficial”, Parabéns!, revê de modo lúdico toda a sua carreira. Mas gabar-se é coisa que João Pedro Rodrigues não faz, sentado na esplanada frente ao Teatro Municipal de Vila do Conde, onde veio acompanhar a inauguração de Do Rio das Pérolas ao Ave e apresentar o programa paralelo de filmes que, com Guerra da Mata, pensou para o Curtas Vila do Conde. “Tudo isto é exterior a mim, ” começa por dizer, enquanto bebe um café. “Locarno, o Pompidou, Vila do Conde – são coisas circunstanciais, calhou acontecerem com esta proximidade. Mas acho que os filmes se ligam misteriosamente uns aos outros. E também acredito que as coisas, apesar de serem completamente racionais e pensadas, ultrapassam a racionalidade. Encontro nelas uma certa lógica, por razões que não são puramente racionais. Há um lado de instinto em que estou a aprender a ter confiança. Não quero encontrar nenhuma receita para fazer os meus filmes, mas também não tento racionalizar demasiado as coisas. Esse não é o meu papel. ”O papel de João Pedro Rodrigues, então, é fazer filmes; o nosso será tentar decifrar porque é que ele os faz, e porque é que os faz assim, e porque é que eles falam deste modo a uma plateia global que o aclama repetidamente, mais do que a um público português (que, assim como assim, continua preso a uma ideia de “cinema português” que pouco ou nada tem a ver com a realidade da produção). A expressão que vem à cabeça, ao longo de hora e meia de conversa, é “desafio”. Ele explica: “Sou sempre o primeiro espectador dos meus filmes, e sou um espectador que gosta de estar desconfortável. Gosto de coisas que me questionem e me provoquem, procuro uma reacção visceral, quase orgânica. Gosto muito de sentir os filmes, mas não faço filmes com uma agenda relativamente ao espectador. Não gosto de filmes que te dizem 'esta é a emoção que deves sentir, esta é a emoção que as personagens sentem', de uma forma demasiado sublinhada. ”Pensar o que os espectadores vão sentir perante os filmes de João Pedro Rodrigues é complicado, em parte porque a sua carreira se tem desmultiplicado, em parte porque nos últimos anos têm sido os seus filmes a meias com Guerra da Mata, mais lúdicos e irónicos, a terem maior visibilidade. O realizador fala das reacções a O Fantasma e à curta de 2012 O Corpo de Afonso, encomenda de Guimarães Capital da Cultura onde o realizador procura junto de culturistas galegos uma presença física para dar corpo à ideia mítica de Afonso Henriques. “Surpreende-me, por exemplo, que as pessoas achassem O Fantasma um filme provocador, quando quis fazer um filme quase inocente, à volta de uma personagem inocente, com um lado cândido. Por outro lado, O Corpo de Afonso tem algo de provocatório. Fui fazer um casting a não sei quantos galegos, porque Portugal não existia antes de Afonso Henriques, e porque o galego é uma espécie de mistura entre o português e o espanhol. E quando o filme passou pela primeira vez, não houve grande reacção. . . ”A ideia de “provocação”, mais do que dirigida para fora, vem no entanto da sua necessidade de se questionar a si próprio enquanto cineasta. “Tento fazer coisas em que me sinto confortável, mas questiono-me dentro desse próprio conforto, ” defende Rodrigues. “Não quero encontrar um método, um sistema de fazer as coisas. Não quero fazer sempre o mesmo filme. Mas também não sei o que vem a seguir. Não tenho 30 projectos na gaveta. Tenho sempre uma coisa que me angustia muitíssimo, que é uma espécie de vazio de ideias. Mas é dessa angústia que nascem os filmes. Hesito sempre: será que vou ser capaz de fazer isto? Se calhar não vou ser capaz de fazer nada, se calhar vai ser uma porcaria…”É irónico que fale de questionamento, de angústia, de dúvida, pois desde Morrer como um Homem que tem estado num período de produção constante e quase imparável, assinando ora a solo ora com o companheiro de sempre e cúmplice criativo João Rui Guerra da Mata (n. 1966). Três filmes inspirados por Macau, assinados em duo: as curtas Alvorada Vermelha (2011) e IEC Long (2015) e a longa A Última Vez que Vi Macau. Uma curta a solo, Manhã de Santo António. Três encomendas: O Corpo de Afonso; para o Curtas Vila do Conde, Mahjong (2013), assinada a meias; um fragmento a solo para o 70º aniversário do festival de Veneza em 2013. Mais a primeira curta a solo de Guerra da Mata, O Que Arde Cura (2012), onde Rodrigues era o único actor e co-argumentista. Mais uma instalação criada em 2013 para o museu sul-coreano Mimesis à volta de Manhã de Santo António, e depois adaptada para Harvard. Tudo isto durante o “momento negro” do cinema português, em que não houve quase dinheiro para filmar. . . João Rui Guerra da Mata, que assiste à conversa, ri-se: “Não parávamos de fazer coisas, quase como reacção contra [esse momento]”. João Pedro é mais prosaico. “Foram, mais uma vez, as circunstâncias. Foram filmes que fui fazendo porque tinha de fazer alguma coisa, e também porque mos encomendaram. E sempre penso que as curtas são tão difíceis como as longas, mas é uma ilusão pensar que as pessoas olham da mesma forma para elas. São sempre uma espécie de objecto menor. Dito isto, acho que estes filmes mais curtos me deram mais liberdade, até para poder experimentar. São todos bastante diferentes uns dos outros; sinto que são uma espécie de caminho feito de outros caminhos, de muitos passos, de desvios. ” Sorri. “Os meus filmes são todos bastante diferentes, mas agrada-me a ideia de serem espelhos, de comunicarem de alguma forma, de haver coisas que passam uns para os outros e que voltam. Por exemplo: O Ornitólogo é um filme que volta a muitas coisas dos meus outros filmes, mas talvez seja aquele onde me senti mais livre, apesar das imensas dificuldades de produção. ”O Ornitólogo, que terá estreia mundial em Locarno na próxima semana, é um projecto de que João Pedro Rodrigues fala há muito em entrevistas. Não é por acaso. “Eu queria ser ornitólogo quando era miúdo, ” explica o realizador, que tem formação em biologia, “e como as coisas em mim surgem sempre de uma forma obsessiva, a única coisa que eu fazia [nessa altura] era observar pássaros. Passávamos todos os fins de semana fora de Lisboa, na aldeia de onde o meu pai é originário, e eu queria fazer uma espécie de inventário de todas as espécies, porque há um lado qualquer científico que me interessa nas coisas, queria conhecer a fauna daquele lugar. Quando comecei a ir ao cinema, quando tinha 15 anos, comecei a ir muito obsessivamente. E uma coisa substituiu a outra. Se calhar é por isso que ele agora reaparece. . . ”Rodrigues não levantará demasiado o véu sobre o novo filme, “uma espécie de história do Santo António” como diz, co-produzida entre Portugal, França (onde já tem estreia marcada para o final do ano) e Brasil e que, pela primeira vez na sua carreira, se passa inteiramente na natureza. Mas a sua gestação e produção prolongada iluminam de algum modo o seu processo criativo. “Sei que não sou muito rápido a fazer filmes, ” admite. “Muitas vezes são as circunstâncias que mo impedem. O Ornitólogo foi escrito muito depressa; tivemos o dinheiro para o fazer no último concurso antes do 'período negro', e isso foi uma das razões pelas quais demorou tanto tempo. Depois, foi complicado, como sempre, arranjar dinheiro lá fora. E teve no fundo dois momentos de rodagem: uma primeira em 2014 em que só filmei animais selvagens, e a rodagem com os actores, no Verão de 2015. Não demoro muito tempo na montagem; gosto é de ter tempo para filmar, e luto por ter tempo para filmar, e luto cada vez mais porque é cada vez mais difícil ter tempo. ”Se a rodagem é “o momento decisivo, onde se joga tudo”, como diz, é que é na escrita do guião que as coisas se decidem. “As coisas já estão muito escritas, os meus filmes quase não mudam. No Ornitólogo, só houve uma cena que mudou de sítio – o resto ficou exactamente na sequência do guião. Mas sempre foi assim. No fundo é como se fizesse várias vezes o meu filme, e cada vez traz uma coisa diferente, entre a escrita, a filmagem e a montagem. E nas contingências do espaço físico as coisas mudam. As últimas versões do argumento, por exemplo, foram escritas a pensar em sítios específicos. ”É essa dimensão espacial que acaba por explicar os convites regulares para criar instalações artísticas. “Sempre pensei que os filmes que faço são para cinemas, não para galerias, ” surpreende-se. “E quando tivemos o convite em 2012 para a Coreia, eu não sabia o que havia de fazer. Como é que podia apresentar um filme num museu, e que sentido é que podia fazer?” João Rui Guerra da Mata, responsável desde sempre pela cenografia e produção visual dos filmes e co-autor da exposição de Vila do Conde, fala da geografia do espaço - “que, a par da arquitectura, representa um factor muito importante no cinema do João Pedro. Temos primeiro de conhecer o espaço, e depois pensar o que é que podemos fazer ali, e não conseguimos desenvolver ideias até ir lá e olharmos para aquilo. ”O espaço é algo que o cinema de Rodrigues sempre procurou e explorou, como confessa o cineasta. “Há uma espécie de tique do cinema contemporâneo que é a obsessão pelo plano geral, estar tudo à distância. a câmara fixa, a distância e as personagens ao fundo. Ou então andar atrás delas com a câmara aos pulos, ” diz enquanto se ri. “Isso não é no geral cinema de que eu goste. Tenho interesse em olhar o corpo que está ali à minha frente. Esse corpo é o corpo do actor, que vai interpretar uma personagem que eu criei para ele. Como é que ele se desloca no espaço? Como é que interage com os outros? A tensão de um plano também vem do modo como pões os actores a interagir num determinado espaço. O que me interessa é encontrar a distância justa. E o cinema também é feito desse contraponto entre o perto e o longe. ”É o espaço físico e o espaço entre os filmes, então, que Do Rio das Pérolas ao Ave percorre em simultâneo, redesenhando a própria estrutura das salas do Solar de São Roque, onde a galeria está instalada, para criar pontes conceptuais entre filmes que, imprevisivelmente, “desaguam uns nos outros, como se fossem uma espécie de rio ou de delta”. “O que nos interessava, ” diz Rodrigues, “era ver como apresentar estes filmes de outra forma, que ligações podíamos criar entre eles. Não me interessa só ter uma sala onde está o Corpo de Afonso a ser projectado. Era tentar pensar o que vamos fazer para transformar os filmes, para deixarem de ser só os filmes e tornarem-se uma coisa que faz parte de um ambiente onde há adereços e tudo junto faça um outro sentido”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A resposta surgiu de modo “meio teatral”, exemplificando com uma das salas criadas na Solar, a que chamaram Identidade Nacional. “Pensámos numa espécie de revisão lúdica da masculinidade, ” segundo Rodrigues, “em que confrontamos uma espécie de hiper-masculinidade com estereótipos do que é a representação da feminilidade. De um lado projectamos O Corpo de Afonso, depois temos em frente uma à outra duas fotografias que já estavam no Morrer como um Homem, da Maria Bakker [criação em travesti do actor Gonçalo Ferreira de Almeida] e outra da [transsexual] Jenny LaRue, e a réplica da espada de Afonso Henriques, como que a sair do écrã e ao mesmo tempo a dividi-lo em dois com a sombra que projecta. São imagens que passam umas através das outras ou umas sobre as outras, que criam novas imagens, novos sentidos, para nós e esperamos que também para os outros. ” É também por isso que esta exposição só terá existência em Vila do Conde, onde está patente até 25 de Setembro; tudo foi pensado especificamente para o espaço da Solar, e transpô-la para outra galeria implica reconfigurá-la, torná-la noutra exposição diferente. Guerra da Mata falava de criar na Solar “um percurso lúdico que não fosse chato, que pudesse ser playful. Nós sabemos onde queremos chegar, mas não é importante explicar, dizer «é isto porque não sei o quê». Se o público quiser tirar ilações sobre o que lá está, que o faça. ” De certo modo, é essa questão de não impôr uma leitura, antes de propor desafios, que se jogou sempre no cinema de João Pedro Rodrigues. Ele já o disse, mas define-o de outro modo: “O cinema não é como a vida, é uma depuração. É uma construção. Não são só momentos a seguir a momentos, mas coisas que se articulam numa estrutura mais longa. Os meus filmes estão sempre à beira de cair no grotesco, que é a coisa que eu mais detesto, no cinema e na vida também. Mas é como se me sentisse atraído por isso, como se estivesse a olhar para o abismo. É qualquer coisa de querer arriscar, de cinema que arrisca. . . ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Uma nova aventura de Vasco Mendonça para piano e orquestra
O concerto desta sexta-feira à noite na Gulbenkian, com música da actualidade, inclui a estreia de um concerto para piano do compositor Vasco Mendonça, uma obra que será gravada e editada em CD brevemente. “Aprocheguem-se”, ou melhor, Step right up! (...)

Uma nova aventura de Vasco Mendonça para piano e orquestra
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O concerto desta sexta-feira à noite na Gulbenkian, com música da actualidade, inclui a estreia de um concerto para piano do compositor Vasco Mendonça, uma obra que será gravada e editada em CD brevemente. “Aprocheguem-se”, ou melhor, Step right up!
TEXTO: Step right up pode traduzir-se por “juntem-se todos”, ou “aproximem-se, venham ver”, como se chamasse a gente num espectáculo de feira. Um título convidativo à escuta da nova peça de Vasco Mendonça que esta sexta-feira se estreia no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, às 21h. Vasco Mendonça é um compositor português que tem tido uma carreira fulgurante. A Fundação Gulbenkian apresenta-o como “um compositor que é já uma voz essencial na música contemporânea portuguesa e europeia”. Vasco Mendonça estudou com os compositores Klaas de Vries e George Benjamin (para muitos conhecido por ser o autor da ópera Written on Skin) e a sua música tem sido tocada em várias salas europeias. Recentemente, teve a felicidade de ter ganho o Rolex Mentor and Protegé Arts Initiative (com a compositora finlandesa Kaija Saariaho), um programa filantrópico de apoio a jovens artistas, acedendo a uma bolsa que lhe dá a oportunidade de desenvolver novos projectos e ver a sua música interpretada em diversas partes do mundo. Entre esses projectos está agora a gravação de um disco monográfico com obras orquestrais do compositor. A Gulbenkian e o seu director do serviço de música, Risto Nieminen, apoiou e acolheu a ideia, programando este concerto para piano e esta gravação e incluindo-o num concerto maior dedicado a música da actualidade – um dos espectáculos que resultam de uma parceria da fundação com a Orquestra Sinfónica de São Paulo dedicados a música contemporânea do Brasil e de Portugal. “Quando falei com Risto, disse-lhe logo que achava graça fazer um concerto para piano e ele achou bem”, conta-nos Vasco Mendonça no foyer da Fundação Gulbenkian, na sequência de um vivo ensaio do seu novo concerto. “É o primeiro concerto que escrevo”, diz Vasco Mendonça. Logo se pôs a questão de quem seria o solista de concerto para piano: “Tinha visto o Roger Muraro a tocar o concerto de Ravel e lembrei-me logo dele. Para além do mais, ele conheceu o Messiaen e toca a música dele frequentemente. Eu estudei com um aluno do Messiaen [George Benjamin] – há aqui uma genealogia interessante também. . . ” Tudo bateu certo, e o pianista Muraro aceitou o desafio. “Eu sou péssimo pianista, mas gosto profundamente do piano”, diz Vasco Mendonça, que nos fala depois das suas ideias estéticas para este Step right up: “O género concertante é um enigma – são duas entidades que estão ou não estão. Para mim a orquestra e o piano são mecanismos de precisão, e o piano é em si mesmo uma máquina de carácter orquestral, pelo registo, o âmbito, o volume sonoro, a agilidade dinâmica, tudo. Por outro lado, a orquestra é um caleidoscópio e abre um mar de possibilidades. Um é uma extensão do outro, isso alimentou dramaticamente a forma da obra: expansão, precisão e sincronismo. ”Vasco Mendonça parece entusiasmado com este seu projecto e isso vê-se no ensaio, em que, com a partitura na mão, vai dando esclarecimentos ou respondendo a dúvidas do maestro e da orquestra: “Há sempre pequenos ajustes, para clarificar as coisas. É preciso moldar a música como um oleiro, o material musical. ” Para ele, tudo tem de se articular na perfeição, como num relógio: “As dificuldades rítmicas e dinâmicas têm que ver com a precisão — se conseguimos encaixar tudo, vemos um relógio por dentro. Creio que há poesia nisso. ”Para Vasco Mendonça escrever um concerto para piano não tem de ser carregar às costas toda a história do piano e da forma concerto. “Estou menos ligado ao piano romântico”, diz o compositor. “A história do instrumento e da forma concerto é tão rica que podia ser paralisante. Tive de pensar que piano quero, como articular as ideias que me interessam para a minha música. Queria ser sincero, pessoal e consistente sem me preocupar muito com a ideia de concerto. ” Tudo para chegar à “oposição dramática entre o piano e o grupo, em que o piano é como um mestre de cerimónias, aquela forma preta no meio da orquestra”. Nas notas de programa ao concerto, o compositor explica que os três andamentos procuram “um equilíbrio diferente entre o piano e a orquestra, uma relação dramática instável entre quase iguais”. Quase. . . Vasco Mendonça foi buscar o título Step right up a uma expressão típica no circo de província, sobretudo nos EUA. “Significa ‘juntem-se todos’, é uma interjeição que achei que era bonita. Tem que ver com música de rua, o que se pode sentir sobretudo no primeiro e no terceiro andamentos, em que há uma ‘exterioridaded da música. E há também a ideia de as pessoas se juntarem para partilhar um momento. Vejo a música e as artes como formas de comunicação e empatia, uma forma de comunicar com outro. Não quer dizer que vão gostar, mas estamos disponíveis para mostrar ao outro. Até socialmente essa disponibilidade para o outro é necessária, é um acto de partilha, generoso. ”Este Step right up será gravado para edição futura em CD monográfico. “Fui atrasando fazer um disco em meu nome, talvez por um certo pudor em tomar essa decisão”, confessa Vasco Mendonça. “Mas há uma razão prática: fazer um disco orquestral é uma tarefa homérica por causa dos custos, por isso estou muito agradecido à Gulbenkian, que pôs a orquestra e o auditório à disposição uma semana. E tive a sorte de ter o apoio e a disponibilidade da Rolex. Então juntei as duas coisas, a estreia do concerto e o disco, e posso fazê-lo nas melhores condições, com um maestro excelente, uma orquestra excelente, um solista excelente. Com meios técnicos para fazer um projecto sólido. A verdade é que às vezes excelentes projectos falham por falta de tempo e dimensão. Sinto-me sortudo por ter esta oportunidade”, diz o compositor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Senti necessidade agora de fixar este momento. O disco tem peças com coisas em comum e no seu conjunto são uma boa demonstração do que é o meu trabalho orquestral”, diz. É também uma forma de arrumar uma fase num percurso em aberto? Ele diz-nos não ver bem a coisa assim, mas assume que sente a necessidade de enveredar por outros caminhos: “Interessa-me, por exemplo, a performance. Tenho, por exemplo, um projecto com o Drumming, que tem mais que ver com performance. Acho que é saudável não estar sempre nos mesmos espaços com o mesmo tipo de pessoas. ” E insiste na procura também de contacto com novos ouvintes: “Há muitas pessoas que podem descobrir o deslumbramento e o prazer da música contemporânea. Associá-la ao repertório canónico é mais artificial. Aquela vibração tem de ser incentivada, é preciso falar com as pessoas, manter a identidade, mas mostrar disponibilidade para interagir com elas. Como um quadro do Rothko – é esmagador, não sabes onde vai tocar, mas toca. ” Na designação de “música contemporânea”, ele prefere pôr o acento na palavra “contemporâneo”: “No sentido de aventura, de procura de outras coisas, claro, de estarmos neste mundo. ”No concerto desta sexta-feira à noite, Vasco Mendonça estará acompanhado por obras bem diferentes, uma da islandesa Anna Thorvaldsdottir (Aeriality) e outra do compositor e DJ Mason Bates, com a peça Anthology of Fantastic Zoology (descrita como “um Carnaval dos Animais psicadélico”), que sugeriu o título para o espectáculo no seu conjunto, Zoologia Fantástica, que será dirigido pelo maestro Benjamin Shwartz. Música actual para descobrir esta sexta-feira, na Gulbenkian, neste mundo. Com a ajuda de um piano preto no mar da orquestra.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
O amor e a crueldade, demonstrados por Mr. Percival, o pelicano
Baseado no livro de Colin Thiele, Storm Boy: The Game é uma obra destinada a um público infanto-juvenil. Mas falta-lhe longevidade para contar as vidas além do protagonista e da ave. (...)

O amor e a crueldade, demonstrados por Mr. Percival, o pelicano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Baseado no livro de Colin Thiele, Storm Boy: The Game é uma obra destinada a um público infanto-juvenil. Mas falta-lhe longevidade para contar as vidas além do protagonista e da ave.
TEXTO: Para compreender Storm Boy: The Game enquanto videojogo ter-se-á sempre que ter em conta os escalões etários dos jogadores. Não podendo contrastar mais com Red Red Redemption 2, a obra da Blowfish Studios destina-se a um público infanto-juvenil, o que não significa que não tenha algo a dizer a todos. Tendo como base o livro infantil de Colin Thiele publicado em 1964, a obra leva os jogadores até ao areal do sul Australiano, vestindo a pele de Storm Boy, um pequeno herói que dedica a sua existência a resgatar pelicanos, além de comungar com a vida afastada da cidade instigada pelo pai. Produtora: Blowfish StudiosPlataformas: Android, iOS, PC, PlayStation 4, Switch, Xbox OneO arco narrativo começa a ganhar o afunilamento necessário para uma lição no final, quando um dos pelicanos resgatados por Storm Boy ganha nome: Mr. Percival. Mais do que uma ave, é um amigo, um companheiro de aventuras, a verdadeira força motriz que faz o protagonista explorar as dunas e até perceber a importância do dinheiro quando o pai lhe diz que um animal de estimação precisa de cuidados, alguns dos quais com um preço. Como videojogo didático, Storm Boy: The Game ensina a tal lição valiosa no final: o quão cruel pode ser um humano no momento de satisfazer um capricho e o sublinhar de que a mesma espécie consegue manter na memória quem a marca de uma forma tal que a supressão do corpo não danifica irreparavelmente o que ficará. É um final que alicerça a ponderação sobre os diferentes quadrantes do ser humano, disso não restam grandes dúvidas, tal como há a certeza que Storm Boy: The Game é um jogo muito, mas mesmo muito, curto. Certo que o preço também é reduzido, mas é uma adaptação de um livro que pode ser tranquilamente terminada em quarenta e cinco minutos. Fica a sensação que em vez de um livro tivemos oportunidade de jogar um capítulo: um capítulo que podia ser o último capítulo da obra de Thiele, mas que ainda assim deixa o pensamento de que ficou bastante por mostrar. Durante estes minutos, somos convidados a participar em vários mini-jogos, que vão desde desenhar na areia a alimentar outros pelicanos, passando por ajudar marinheiros – provavelmente o momento mais desafiante do ponto de vista da jogabilidade para uma criança – e até simplesmente sentir o prazer de voar ou mergulhar para ver o fundo do mar. É tudo muito simples e muito directo, ou seja, a dificuldade é nula. Novamente, é um videojogo que quer passar uma mensagem, começando pelos mais novos, pelo que os processos foram pensados para a infância. É evidente que a Blowfish Studios quis que Storm Boy: The Game fosse uma estadia relaxada, algo que é sublinhado pelo aspecto gráfico. Optando por uma deslocação em cenários que se apresentam em duas dimensões falsas, ou seja, há uma profundidade dada aos cenários por onde se deslocam as personagens com uma modelagem que parece inspirada em ilustrações de um livro. Não esperem liberdade para explorar estas areias, pois a obra tem o jogador onde quer enquanto dura. Declaradamente apontado a um público jovem, tem no seu final uma mensagem que é útil a qualquer um, independentemente da idade. A fazer lembrar as ilustrações de um livro, o jogo tem um grafismo que assenta bem no objectivo de oferecer uma estadia tranquila. Excluindo os breves mini-jogos, a interacção é praticamente nula. Menos de uma hora é pouco, mesmo tendo em consideração o preço. Uma longevidade tão curta faz transparecer a ideia que acabamos de jogar a adaptação de um capítulo final e não de um conto. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto não quer dizer que seja um departamento técnico mau. As cores e a plasticidade são apelativas, passando bem a sensação de que estas vidas estão isoladas no seu próprio mundo e, novamente, servindo também para ir construindo através da animação a relação entre Storm Boy e Mr. Percival. É pena que tais vidas não permitam uma maior interacção, ou seja, passando de livro a videojogo, é uma proposta que, excluindo os mini-jogos, se parece com uma leitura que coloca o jogador no papel de ouvinte. Apontado a um público jovem, Storm Boy: The Game peca por ser demasiado curto e por essa escassez não lhe permitir uma afirmação mais vincada das personagens satélite. Mas conta bem a história entre o protagonista e o pelicano, mostrando o quão grande pode ser o coração de um humano. Mais críticas em Videogamer Portugal
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O movimento do tempo
Na primeira exposição individual de André Príncipe num museu, a fotografia é uma arte das aparições, entre a vida e a morte, o real e a ficção. (...)

O movimento do tempo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na primeira exposição individual de André Príncipe num museu, a fotografia é uma arte das aparições, entre a vida e a morte, o real e a ficção.
TEXTO: Elefante não é a primeira exposição individual de André Príncipe, cineasta e fundador (com José Pedro Cortes) da editora de livros de fotografia Pierre Von Kleist, mas tem elementos que lhe conferem um carácter inédito: um trabalho de curadoria (de Ana Anacleto e de João Pinharanda) e uma selecção de obras do arquivo do artista (realizadas em 1998). André Príncipe confronta-se assim, e a título individual, com as condições e as possibilidades de uma exposição de arte contemporânea. E desse confronto — que é um trabalho — mostra-nos dípticos, constelações de imagens sobre superfícies, fotografias isoladas e uma instalação. Há uma dispersão nestas propostas que é aparente. Liames de sentido, relações conceptuais ligam-nas entre si, afirmando Elefante enquanto obra una numa produção artística. Comissário(s): Ana Anacleto e João Pinharanda Artista(s): André Príncipe Lisboa. MAAT — Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Av. Brasília — Ed. Central Tejo. Até 31 de Dezembro. Todos os dias das 11h às 19h. Encerra à 3ª feiraO movimento da imagem é um desses liames. Num painel, vemos 10 fotografias da estátua de um dançarino dervish (praticante do islamismo sufista) realizada de diferentes ângulos. A composição acentua o movimento, o rodopio da dança, mas a imagem, como a estátua permanecem imóveis. É o olhar do espectador que anima, que imagina o movimento nos intervalos entre as fotografias. Na instalação que dá o nome à exposição, pelo contrário, são as imagens que avançam lentamente, como vapor ou neblina, diante dos nossos olhos, escapando-lhes. Trata-se de um extraordinário trabalho de retratos em que nenhum é anónimo, todos os retratados foram um dia vistos por André Príncipe, fizeram ou fazem parte da sua vida individual (e, porventura, o espectador poderá reconhecer alguns: a fotografia na sua inescapável relação com o real presta-se a coincidências, a reencontros tão fugazes quanto intensos e surpreendentes). Desfilam, sob o efeito do fade in e do fade out, aparecendo e desaparecendo, sobrepondo-se. Há cores que se estendem de um a outro retrato, ilusões efémeras, formando figuras ou imagens que só existem na instalação, naquele ecrã, em forma de lápide. Na verdade, todas as pessoas ali representadas já não existem como as vemos. Ainda são elas ali, naquele memorial que podemos contemplar sentados, mas já não são assim no mundo, embora estejam, certamente, no mundo. Este aparecer e desaparecer manifesta-se em mais dois painéis de fotografias, muito distintos, quase contrários. Num, as fotografias, parecem desprotegidas, como se ameaçassem cair da tela, fugir-lhe, numa composição manual, quase anárquica, rápida (que lembra as capas dos cadernos de escola dos adolescentes, cobertas de recortes e imagens). Domina o preto e o branco de uma noite escura e chuvosa em imagens de desamparo e solidão. Vemos alguém deitado, imóvel, há um sem-abrigo, um grupo de homens que avança na noite, escondendo o rosto, fugindo do frio e de uma intempérie que deixa as sua marcas, as suas manchas na fotografia. Crime, acidente, noite, rua, cidade, morte. André Príncipe parece evocar Weegee (nome maior da fotografia, em particular daquela que retratou e documentou o quotidiano nos Estados Unidos do século passado) mas são as possibilidades da ficção que explora. Aquele lugar e aquela noite não têm nome e, no entanto, todos as podem reconhecer, sem a elas se entregarem (entre o preto e o branco não deixa de haver luz e fogo). A outra composição é menos sombria e menos material, “abrindo-se” como uma página cheia de um álbum de família, na qual ressaltam imagens de pessoas e animais, paisagens, referências à música, à natalidade, a viagens. Uma polifonia luminosa, que dá conta da pluralidade da vida e do mundo, resgatada ao passado pela arte da fotografia, concebida esta como prática democrática e nómada. Uma e outra composição contrastam em termos cromáticos e de conteúdo, mas não se revelam uma sem a outra, entre a vida e a morte, o real e a ficção. Falou-se de movimento. Regressa nos dípticos que reúnem retratos de pessoas em repouso, quase imobilizadas, com imagens de clarões, raios intensos de verde, amarelo e branco que André Príncipe fez em 1998, apontando a máquina para várias fontes de luz. Os retratos resultam de um olhar que poderíamos partilhar com o artista (sobre o lugar e o retratado, numa sensação comum do que é a realidade), a segunda é feita de espectros que o gesto de André Príncipe trouxe ao mundo na sua dança com a máquina. Brilham como pinturas que escorrem, luzes de néon distorcidas, liquefeitas. Lado a lado, os dois tipos de imagens propõem dialécticas, tensões de ordem cromática, formal, representacional antes de culminarem num sentido comum: são ambas aparições, como a do tigre que, numa das fotografias de maiores dimensões, parece avançar, desperto, cativado pela nossa sombra.
REFERÊNCIAS:
Debate do estado da nação abre a porta das legislativas
PSD foi mais crítico, CDS anunciou uma proposta para baixar o IRC. À esquerda, o duelo Costa/Catarina Martins foi mais aceso, com o PCP foi mais brando. (...)

Debate do estado da nação abre a porta das legislativas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: PSD foi mais crítico, CDS anunciou uma proposta para baixar o IRC. À esquerda, o duelo Costa/Catarina Martins foi mais aceso, com o PCP foi mais brando.
TEXTO: O primeiro-ministro e o ministro das Finanças chegaram ao fim da legislatura com uma mensagem: afinal, havia alternativa à governação da direita e esta impôs-se à desconfiança e pessimismo das vozes de PSD e do CDS ouvidas no arranque. No último debate do estado da nação antes das legislativas, o BE acenou com o fantasma da maioria absoluta, o PCP pediu “força” ao povo. À direita, o discurso não se fez a uma só voz. O PSD foi mais duro contra o Governo, o CDS preferiu fazer o balanço do seu trabalho. Mas da esquerda à direita, o tom já foi de campanha eleitoral. Como o tempo é mesmo de balanços, o primeiro-ministro ensaiou a sua visão, assente na palavra “confiança”. António Costa elogiou a recuperação de rendimentos – e nisso coincidiu com os parceiros à esquerda – e o virar da página da austeridade. E insistiu em fazer o contraste com o início da legislatura, em que sobretudo o PSD de Passos Coelho estava apostado em demonstrar que a estratégia não resultaria. “Nem o diabo apareceu, nem a austeridade se disfarçou”, disse Costa. O discurso começou com um elogio ao BE, PCP e PEV por terem, em conjunto com o PS, “ousado derrubar um muro anacrónico” ao formarem a maioria parlamentar que governou nos últimos três anos. Já na fase de encerramento, o ministro das Finanças sublinhou a mesma ideia de que a política do Governo permitiu melhorar o rendimento das famílias e provocou PSD e CDS, ao falar nos “velhos” que não eram do Restelo mas “desceram da Lapa e do Caldas” que estavam “errados” ao terem chamado pelo “mafarrico durante meses a fio”. Foi o ministro das Finanças que atacou as propostas do PSD e CDS, sugerindo que não se entre em “leilões de promessas eleitorais” e que essa é a “política do passado, das paragens bruscas”. Se Mário Centeno enalteceu o investimento em serviços públicos e nos transportes nesta legislatura, António Costa disse não ver o país pintado de “cor-de-rosa”. E sublinhou o que “ainda está por fazer” e a ideia de que o Governo encontra uma solução – nos cartões do cidadão por exemplo – quando surge um problema ainda que “temporário ou sazonal”. A referência ao fantasma da maioria absoluta veio da líder bloquista. Catarina Martins já tinha garantido que, se regressasse a 2015, “nas mesmas condições, voltaria a assinar” o acordo com o PS - e recebeu a concordância de António Costa. Ao mesmo tempo, a dirigente bloquista usou a táctica do PCP de realçar que muitas das medidas foram impostas pelo seu partido ao Governo. Quando subiu à tribuna, voltou a repetir tais premissas, deixando no ar a ideia do perigo de ter o PS a governar sozinho. “Alguém pediu uma maioria absoluta”, questionou, afirmando que os principais dirigentes do PS, como Ana Catarina Mendes e Carlos César, pediram uma maioria para governar “sem bloqueios”. “Que bloqueios incomodam o PS? Aqueles que impediram congelamento das pensões”, perguntou, concluindo que “quem suspira pela maioria absoluta são os outros”. Ou sejam, os patrões, a saúde privada ou empresas com a Altice, dona do Siresp. "Não podemos voltar à política das maiorias absolutas que nos perderam”, avisou. A declaração de fidelidade de Catarina Martins levou Costa a escancarar a porta para Outubro – como os resultados “são bons”, “voltaria a tomar a mesma decisão” de celebrar o acordo da esquerda, mesmo não estando em 2015. Mas o socialista não perdeu a oportunidade para dar um puxão de orelhas à bloquista, dizendo ser “muito injusto para o PEV, PCP e até para o PS” este “jogo de que tudo o que é bom dependeu” de um de nós e “tudo o que é mau ficou a dever-se aos outros”. “Aquilo que temos que assumir, por inteiro, é o passivo e o activo desta legislatura”. E depois de Catarina Martins tentar desenhar já umas quantas exigências para a próxima legislatura e até para a Lei de Bases da Saúde, Costa voltou a travá-la: “A vida não começa e acaba no acordo com o Bloco. ”Sem negar os contributos dos parceiros, o primeiro-ministro colocou o PS como “a base fundamental” do Governo e suavizou as respostas ao PCP, embora Jerónimo de Sousa tenha usado a mesma estratégia da bloquista, reclamando louros para o partido e acusando o Governo de “impedir mais avanços” nos salários, protecção dos trabalhadores ao eleger o défice como prioridade. Pediu, por isso, “força” ao povo para uma "nova correlação de forças mais favorável aos trabalhadores”. Cauteloso, o primeiro-ministro respondeu que se deve “continuar a caminhar” mas com cuidado, porque “quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos. E para trabalhos já bastou o que bastou. ”Se este debate também foi, em parte, um recuo no tempo, esse salto pareceu maior quando a deputada de Os Verdes se referiu à reposição de rendimentos como “aquilo que PSD e CDS tinham roubado aos portugueses”. O verbo usado por Heloísa Apolónia gerou protestos nas bancadas do PSD e do CDS, tal como acontecia na anterior legislatura. Nas bancadas da oposição, o PSD fez uma intervenção mais dura pela voz do líder parlamentar - secundada por António Leitão Amaro - enquanto Assunção Cristas escolheu ser mais suave nas críticas ao Governo. Respondendo à pergunta que país temos hoje, Fernando Negrão fez o contraste do “país real” – do mau funcionamento dos serviços, dos transportes, da segurança social, de falta de meios na segurança – e o do país do “está tudo bem” para o Governo. A recuperação de rendimentos “foi engolida por impostos, taxas e taxinhas”, criticou o social-democrata, acusando o Governo de “tirar a todos” para “dar a alguns”. Já a líder do CDS-PP apresentou-se como a protagonista de uma oposição “firme e construtiva”, considerando que foi “liderante” em propostas na segurança social e na regulamentação do lobbying. Foi um discurso quase sem críticas ao Governo - essas ficaram a cargo do líder parlamentar, Nuno Magalhães, e de dois vice-presidentes da bancada -, mas em que a líder do CDS deixou recados ao PSD. “Fomos firmes na oposição – em muitos casos com o cargo exclusivo de oposição, que as duas moções de censura ilustram”, disse. Já a olhar para as legislativas, Assunção Cristas detalhou uma das propostas fiscais que vai apresentar esta quinta-feira: a redução do IRC para 12, 5% em seis anos (actualmente a taxa é de 21%). E desejou ver o país a “crescer 4 ou 5%” por ano. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com um discurso em que falou da necessidade de reforçar a prevenção na saúde e de cumprir metas ambientais, André Silva, do PAN, apontou o dedo ao ministro da Agricultura por ter ido a uma corrida de touros na “companhia de quem mais ama, o presidente da CAP”. Sinal de que a legislatura está a chegar ao fim foi o cumprimento de António Costa a todos os líderes parlamentares, da esquerda à direita, no final do debate. Mas horas antes, ao sair do plenário para fazer um intervalo, o primeiro-ministro optou por passar nas bancadas do centro-direita e cumprimentar, com boa disposição, dois deputados da oposição que não serão candidatos em Outubro: Pedro Mota Soares (CDS) e Hugo Soares (PSD).
REFERÊNCIAS:
Chico Buarque, um Prémio Camões com mensagem artística e política
O prémio literário mais importante do universo da língua portuguesa distinguiu nesta terça-feira, na sua 31.ª edição, um ícone da música popular brasileira a que faltava a definitiva consagração como escritor. (...)

Chico Buarque, um Prémio Camões com mensagem artística e política
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O prémio literário mais importante do universo da língua portuguesa distinguiu nesta terça-feira, na sua 31.ª edição, um ícone da música popular brasileira a que faltava a definitiva consagração como escritor.
TEXTO: “Não estamos a premiar o músico. Estamos a premiar o homem da literatura”, disse ao PÚBLICO Manuel Frias Martins, o português que presidiu à reunião do júri que nesta terça-feira decidiu atribuir a Chico Buarque o Prémio Camões. “Quando falamos de Chico Buarque, esquecemo-nos muitas vezes de que estamos perante um escritor de grande qualidade na poesia, um dramaturgo de grande qualidade e, sobretudo, um romancista de grande qualidade”, continuou o professor da Faculdade de Letras de Lisboa, sublinhando a unanimidade do júri à volta do criador da Ópera do Malandro e de Circo Místico, do autor dos romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e O Irmão Alemão (2014), do letrista e compositor com 49 discos gravados, do argumentista e co-argumentista em cinco filmes. “A obra dele é transversal a vários géneros literários e reconhecida em todos os países de língua portuguesa por várias gerações”, sublinhou ainda Frias Martins, minutos depois do fim da reunião do júri na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.
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Palavras-chave homem circo
Prémio Booker Internacional atribuído pela primeira vez a obra traduzida do árabe
Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês. Venceu a distinção com Celestial Bodies, traduzido por Marilyn Booth. (...)

Prémio Booker Internacional atribuído pela primeira vez a obra traduzida do árabe
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.125
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês. Venceu a distinção com Celestial Bodies, traduzido por Marilyn Booth.
TEXTO: A escritora de Omã Jokha Alharthi e a sua tradutora Marilyn Booth são as vencedoras do prémio Man Booker Internacional, com o livro Celestial Bodies, anunciaram na noite desta quarta-feira, em Londres, os promotores da distinção. Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês e, em simultâneo, a primeira autora a escrever em árabe distinguida com o galardão, segundo comunicado da organização. A autora recebera já com o mesmo livro os prémios Sahikh Zayed para jovens escritores e o prémio de melhor romance publicado em Omã. Alharthi, inédita em Portugal, é autora de dois outros romances, de duas colectâneas de contos e de um livro para crianças, tendo o seu trabalho sido publicado em inglês, alemão, italiano, coreano e sérvio, destaca a organização do prémio Booker. A tradutora norte-americana Marilyn Booth, especializada em árabe, está ligada ao Magdalen College, em Oxford, e detém a cátedra Khalid bin Abdallah Al Saud para o Estudo do Mundo Árabe Contemporâneo no Instituto Oriental. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O livro premiado foi escolhido por um júri de cinco elementos, presidido pela historiadora Bettany Hughes, e composto pela presidente do PEN inglês, Maureen Freely, pela filósofa Angie Hobbs e pelos escritores Elnathan John e Pankaj Mishra. “Um livro que conquista a mente e o coração de formas iguais, que merece ser lido com calma. Vozes e linhas temporais entrelaçadas são servidas pelo ritmo do livro. A sua delicada arte atrai-nos para uma comunidade ricamente imaginada – que se abre para abordar questões profundas de tempo e mortalidade e aspectos perturbadores da nossa história comum”, afirmou a presidente do júri, citada no mesmo comunicado. No ano passado, o prémio Man Booker Internacional foi atribuído ao livro Flights, da polaca Olga Tokarczuk, a primeira autora daquela nacionalidade a vencer o galardão. O livro chegou às livrarias portuguesas já este ano, com o título Viagens, editado pela Cavalo de Ferro.
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