Seferovic salva Benfica em Vila das Aves
Os minhotos estiveram a ganhar e criaram oportunidades suficientes para seguir em frente na prova. A exibição pálida dos “encarnados” acabou por bastar. (...)

Seferovic salva Benfica em Vila das Aves
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os minhotos estiveram a ganhar e criaram oportunidades suficientes para seguir em frente na prova. A exibição pálida dos “encarnados” acabou por bastar.
TEXTO: O Benfica encerrou um ciclo de sete triunfos consecutivos, o melhor da temporada, com um empate no terreno do Desportivo das Aves a um golo. Um resultado penalizador face à exibição da equipa da casa, mas com sabor a vitória para os “encarnados” que estão na final a quatro da Taça da Liga. Com um empate a servir para seguir em frente na prova, o conjunto orientado por Rui Vitória entrou no encontro relativamente descontraído e acabou por ser surpreendido pela equipa da casa logo nos minutos iniciais. Em duas transições atacantes rápidas, o ataque do Desp. Aves esteve muito perto de marcar (7’ e 9’), mas falhou incrivelmente na finalização. Apontou o golo do Desportivo das Aves e esteve também muito perto de marcar no primeiro tempo. A velocidade deste jogador emprestado pelo Sporting foi sempre uma dor de cabeça para a defesa “encarnada”. O sérvio foi o mais inconformado do Benfica na primeira metade e também o mais clarividente nos lances ofensivos dos lisboetas. Cruzou para o golo de Seferovic que valeu a final a quatro. Depois dos seis golos apontados ao Sp. Braga para o campeonato, a equipa voltou a manifestar dificuldades na finalização e mesmo na construção de lances de perigo. E até defensivamente esteve particularmente desastrada. Os “encarnados” foram paulatinamente assumindo o controlo do encontro, mas longe de o dominar. Mesmo assim, faziam circular a bola, empurrando o adversário, mas com pouca criatividade ofensiva. A excepção era Zivkovic, que procurava desenhar jogadas e abrir espaços para os seus companheiros, sem efeitos práticos. E, aos 39’, voltaria a ser o Desp. Aves a colocar a defesa benfiquista em sentido. Com um grande passe em profundidade, Vítor Gomes assistiu Amílton, na esquerda, mas o extremo, isolado perante Svilar, atirou às malhas laterais. O Benfica acusou o toque, ainda que timidamente, e criou duas oportunidades na baliza dos minhotos já nos instantes finais da primeira metade, mas sem grande perigo. O nulo ao intervalo penalizava mais os homens da casa, face ao rendimento dos “encarnados”, que entraram em campo apenas com três novidades em relação àquele que é o seu “onze” titular. Rui Vitória chamou à equipa Svilar para render Odysseas na baliza; Yuri Ribeiro no lugar de Grimaldo, no lado esquerdo da defesa e Seferovic substituiu Jonas no ataque. As ameaças do Desp. Aves deixaram de o ser logo no arranque do segundo tempo. Um passe errado do Benfica (e foram muitos), aos 49’, resultou em mais um contra-ataque dos minhotos, com Mama Baldé a antecipar-se de cabeça aos centrais benfiquistas e a bater, desta vez, Svilar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A vencer e com o acesso à final a quatro na mão, o Desp. Aves não baixou o bloco e Baldé voltou a estar perto do golo aos 57’, atirando ligeiramente ao lado. Rui Vitória tirou as suas conclusões e respondeu prontamente com a chamada de Jonas (para o lugar de Cervi) para reforçar o ataque. As coisas estavam bastante complicadas para os visitantes, mas a felicidade acabou por estar do seu lado. Após uma jogada de Zivkovic, na esquerda, o sérvio cruzou para o segundo poste, onde Seferovic, apesar da má recepção, acabou por conseguir empurrar a bola para as redes, aos 70’.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque aves
Marcelo promulga lei que define acesso aos domicílios em acções de fiscalização
Presidente da República promulgou diploma que define, após obtenção de mandado judicial, o regime de entrada num domicílio sem o consentimento do proprietário no âmbito de fiscalizações de operações urbanísticas. (...)

Marcelo promulga lei que define acesso aos domicílios em acções de fiscalização
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presidente da República promulgou diploma que define, após obtenção de mandado judicial, o regime de entrada num domicílio sem o consentimento do proprietário no âmbito de fiscalizações de operações urbanísticas.
TEXTO: O Presidente da República promulgou o diploma que define, após obtenção de mandado judicial, o regime de entrada num domicílio sem o consentimento do proprietário no âmbito de fiscalizações de operações urbanísticas, anunciou hoje a Presidência. Segundo a página da Presidência na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa promulgou o diploma do Governo que, "ao abrigo da autorização legislativa concedida pelo artigo 327. º da Lei do Orçamento do Estado para o ano de 2018, altera o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação no sentido de proceder à definição do regime de entrada no domicílio de qualquer pessoa sem consentimento, após obtenção de mandato judicial prévio, no âmbito de eventual fiscalização administrativa no âmbito de operações urbanísticas". O decreto-lei que altera o Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação tinha sido aprovado em Conselho de Ministros no passado dia 13, estabelecendo que a entrada no domicílio de qualquer pessoa sem o seu consentimento depende da obtenção de prévio mandado judicial, tendo por fundamento a actividade de fiscalização administrativa a quaisquer operações urbanísticas e abrangendo quer operações urbanísticas em curso, quer operações urbanísticas já concluídas. As pessoas habilitadas a entrar são os fiscais municipais ou os trabalhadores das empresas privadas contratados pelas câmaras, para além das forças de segurança e dos elementos que integram o serviço municipal de protecção civil, sempre que haja "fundadas dúvidas" ou possa "estar em causa a segurança de pessoas, animais e bens". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A legislação estabelece que a entrada no domicílio "deve respeitar o princípio da proporcionalidade", ocorrer "pelo tempo estritamente necessário à actividade de fiscalização" e incidir "sobre o local onde se realizam ou realizaram operações urbanísticas", devendo a prova a recolher limitar-se à actividade sujeita a fiscalização. O Presidente da República promulgou também este sábado três outros diplomas: um onde se define “o modelo de governação para a implementação da facturação electrónica nos contractos públicos”; outro que “altera o regime jurídico que estabelece os requisitos de acesso e de exercício da actividade de intermediário de crédito e da prestação de serviços de consultoria”; e outro ligado aos bancos. Neste último caso, o diploma “estabelece os limites máximos das perdas por imparidade e outras correcções de valor para risco específico de crédito dedutíveis para efeitos do apuramento do lucro tributável em imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas relativamente a empresas do sector bancário.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei
Para estes bailarinos, a diferença é uma condição e não uma limitação
Desde 2015, o projecto Dança para Todos, da Fundação Nuno Silveira, em Gondomar, recorre à dança como estímulo para pessoas com deficiências físicas e cognitivas. Semanalmente, 24 utentes entregam-se de corpo e alma a uma arte que não tem fronteiras. (...)

Para estes bailarinos, a diferença é uma condição e não uma limitação
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde 2015, o projecto Dança para Todos, da Fundação Nuno Silveira, em Gondomar, recorre à dança como estímulo para pessoas com deficiências físicas e cognitivas. Semanalmente, 24 utentes entregam-se de corpo e alma a uma arte que não tem fronteiras.
TEXTO: “Gosto de fazer aqueles passinhos ao som do Dura”, conta Mónica, referindo-se ao êxito mundial de Daddy Yankee que invadiu as rádios em Janeiro. Mal ouve a palavra-chave, o resto do grupo irrompe em aplausos para reforçar a preferência pela faixa. Não demora muito até que todos se ponham em fileira para dar início à coreografia. Afinal, conhecem cada passo de cor e salteado e sabem que são imbatíveis nos movimentos da cintura para cima. À medida que o compasso acelera, o bater dos pés faz estremecer o chão do pavilhão da Fundação Nuno Silveira, em Gondomar. É mais um ensaio do grupo Dança para Todos, criado em 2015 para mostrar que a força de vontade é o único requisito para dançar. Começou com uma dezena de utentes, mas são já 24 os bailarinos que compõem o projecto. Tal como Mónica, alguns vivem na instituição há vários anos, ao passo que outros são externos, mas participam diariamente em actividades como yoga, música, teatro e storytelling. A dança, enquanto expressão artística particularmente sensorial que comunica o que não cabe em palavras, surgiu para potenciar as capacidades dos utentes e evitar que sejam reduzidos às limitações motoras e cognitivas. Então, criaram-se três turmas de trabalho por níveis: o grupo mais autónomo, o grupo menos autónomo e a junção dos dois. Pedro tem 30 anos e faz parte do Pétalas Soltas, colectivo de exibição que se apresenta regularmente em público. Já tinha experimentado hip-hop antes de entrar para a instituição, mas considera-se “muito dançarino” e afirma que gosta de “todo o tipo de dança”. “Aprendo as coisas rápido e gosto de aprender muito”, confessa ao PÚBLICO. Além de actuar com os colegas, Pedro já subiu a palco a solo na Exponor, conquistando uma estrondosa ovação em pé. Na audiência estava, de olhos marejados e peito a inchar de orgulho, a sua maior fã – Sofia Almeida, técnica superior de educação social na fundação. “Quando todos se levantaram para aplaudir, eu senti que era a família dele”, diz. “Não há nada que pague isso”. Foi, aliás, Sofia quem batalhou para dar vida ao projecto, por isso faz questão de acompanhar as actuações do grupo sempre que pode. “A dança permite uma criatividade e libertação que são muito boas para eles”, reconhece. A satisfação dos utentes reflecte-se no passa-palavra que, volta e meia, traz um novo membro aos ensaios. “Na primeira aula experimentam e, à partida, ficam, porque todos conseguem fazer alguma coisa”, reconhece. Ana Cláudia é a mais recente bailarina do grupo. Ainda “não tem muito a dizer”, como novata que é nestas andanças, mas é prova viva de que aqui não há impossíveis. “Ela não sai da cadeira [de rodas], mas tenta levantar a parte superior do corpo com a ajuda de uma faixa”, revela Sofia Almeida, que exemplifica também com o caso de “Cristiano, que dança muito com os ombros”. “Todos eles conseguem, desde que tenham vontade”, reforça. É esse espírito de superação que Maria Manuel Mendes, professora e responsável pelo projecto, tenta incutir nos alunos a cada aula, combinando as capacidades de cada um. “Há uns que têm mobilidade, mas têm dificuldade em sentar-se, então nós jogamos com uns nas cadeiras e outros no chão”, exemplifica, notando “que há movimentos mais difíceis, mas é igual quando pessoas que não têm deficiência se sentem limitadas com certos passos”. A noção muito própria de espaço e tempo e a existência de diferentes destrezas dentro do grupo exige um trabalho adaptado às necessidades de cada turma. “No Pétalas Soltas, eles aprendem rápido e decoram muito bem”, conta Maria Manuel. “Nos outros dois, fazemos o primeiro passo, depois o segundo, depois vamos juntando e treinando”. Em média, são precisos dois a três meses para que interpretem duas coreografias de forma mais autónoma. A estrutura dos ensaios é semelhante: primeiro faz-se o aquecimento, depois recapitula-se o que foi feito, pratica-se a coreografia e, no final, há espaço para jogos e brincadeiras, “como se fosse um espectáculo ou um concurso”. A aprendizagem é constante e mútua, sublinha Maria Manuel. Formada em dança, actividade física e saúde, foi na Fundação Nuno Silveira que teve oportunidade de trabalhar pela primeira vez a dança como motor de inclusão social. “No início, encarava-os como pessoas diferentes, achava que tinha que ter outro comportamento”, recorda. “Ao longo do tempo, fui aprendendo a falar com eles como os adultos que são”. No Dança para Todos, não há lugar para estereótipos nem preconceitos. “Eles não gostam de sentir que é música mais para crianças, ou coreografias infantis a imitar os animais”, conta a professora. Nesse sentido, há o cuidado de escolher músicas que passam na rádio e que todos conhecem. Para decorar, “pegam em palavras-chave e vão lá por associação”. Jorge, 46 anos, revela que gosta muito de dançar o “fado”. Refere-se não à canção portuguesa, mas aos versos do mesmo nome que compõem Lusitana Paixão, música interpretada por Dulce Pontes. Tanto nas coreografias lentas como mexidas, “é preciso alguma paciência”, diz o bailarino, que tem que “fazer um esforço maior por causa da perna”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se é verdade que a dança goza aqui de uma cadência e sensibilidade próprias, também os contratempos assumem outra escala. “Ás vezes não trouxeram um brinco e para eles é um problema”, diz Maria Manuel. “Mas não dura muito, porque eles relativizam tudo”. O ano lectivo arrancou há algumas semanas, mas o Dança para Todos já treina as novas coreografias e pensa em vôos maiores. Sonham ir a um programa da tarde na televisão nacional e inspirar toda a gente a dançar independentemente da sua condição. “Eles são felizes com as suas limitações – essa é a grande lição que todos podemos levar para a vida. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação ajuda social corpo
Jornalismo e financiamento do Estado
Está efectivamente em causa a existência de imprensa livre, com capacidade para exercer a sua actividade com independência e imparcialidade e até para assegurar aos jornalistas as condições necessárias ao exercício da sua profissão com dignidade e respeito pelo código deontológico. (...)

Jornalismo e financiamento do Estado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Está efectivamente em causa a existência de imprensa livre, com capacidade para exercer a sua actividade com independência e imparcialidade e até para assegurar aos jornalistas as condições necessárias ao exercício da sua profissão com dignidade e respeito pelo código deontológico.
TEXTO: O problema da falta de sustentabilidade económica dos meios de comunicação social entrou finalmente em debate com as declarações do Presidente da República sobre a necessidade do Estado ajudar o sector. A opinião publicada começou logo a inclinar-se para o lado contrário a esta possibilidade, com os argumentos principais de que tal coisa é comprometedora da independência do jornalismo e iria distorcer o mercado. Por exemplo, Pedro Santos Guerreiro, no Expresso, defendeu que os jornais não precisam de “ajudinhas” que classificou como intervencionismo do governo. Henrique Monteiro, também no Expresso, afirma que a ajuda estatal aos media iria matar a criatividade “porque é o engenho que aguça a arte”, e João Miguel Tavares, no PÚBLICO, considera que se trataria de uma “esmola”, e que o jornalismo passaria a ser um cão de guarda alimentado pelo ladrão. Os dois últimos autores entendem que está em causa o modelo de negócio, e que o jornalismo terá futuro se os órgãos de comunicação social tiverem uma boa gestão, com criatividade e capacidade para se reinventarem e aproveitarem as novas tecnologias. A questão é bem mais funda. Radica no modelo de financiamento, pelo que ultrapassa o modelo de negócio. Ou seja, o jornalismo pode até não dever ser um negócio. Qualquer modelo de negócio, independentemente do grau de criatividade e da capacidade da gestão, é do âmbito do mercado, e o jornalismo é uma função demasiado importante para depender apenas da economia de mercado. O jornalismo corresponde a uma função de interesse público fundamental, de tal forma que historicamente se reconhece como o quarto poder; um poder constitucional material. I. e. , um dos poderes com que a Constituição assegura e prossegue o equilíbrio através da separação de poderes, embora neste caso não formalmente consagrado. Dai o alerta de Marcelo Rebelo de Sousa, de que está directamente em risco a democracia. É por esta componente de natureza pública que o jornalismo não pode ser função tão dependente da lógica do mercado. Há um serviço público muito relevante – de escrutínio da vida pública – prestado pelos jornalistas e pela comunicação social. É com isso que se justifica a existência de meios públicos. Independentemente da avaliação que fazemos da realidade da comunicação social pública em Portugal, todos percebemos que a rácio da sua justificação assenta no serviço público que lhe está subjacente. Esse serviço público não se esgota na oferta alternativa, na preocupação com as minorias e outros aspectos decorrentes das externalidades do funcionamento da economia de mercado, nem é exclusivo dos meios detidos pelo Estado. Os meios de comunicação social que são propriedade privada também prestam um serviço público, precisamente porque esta qualidade – a utilidade para o interesse público – é da natureza do jornalismo. Este facto é já minimamente reconhecido desde que se aceitou que, no plano da televisão em português para o estrangeiro, o serviço público não é um exclusivo da RTP Internacional. Sucede que a capacidade dos meios estarem à altura do serviço público que prestam depende da sua capacidade económica. E os privados em Portugal já não têm essa capacidade. Sabendo que os jornais e restantes meios lutam pela sobrevivência, facilmente concluímos em que estado está este serviço. Comparemos o jornalismo a um exército que combate pela verdade. Como acabará uma guerra em que esses combatentes, pela falta de meios e recursos, em vez da batalha com os inimigos da verdade, travam uma outra luta, pela sua própria sobrevivência? Recorrendo ao exemplo do cão de João Miguel Tavares; como pode o cão que morre de fome recusar o alimento que o ladrão lhe dá?O jornalismo hoje, em Portugal, está neste nível, na luta pela subsistência, sem capacidade para recusar os modelos de negócio criativos, mesmo os nocivos e perversos, que passam pela crescente subordinação das opções editoriais ao interesse comercial. Os programas que se produzem são os que têm maiores audiências, os temas das edições especiais dos jornais e revistas são as que geram mais publicidade, as rubricas informativas das rádios são aquelas que os anunciantes estiverem dispostos a pagar. Os conteúdos e os alinhamentos já são decididos mais em função do comercial do que do leitor. E quanto mais caem as vendas em banca mais isto é verdade, e vice-versa, numa espiral assustadora que não augura nada de bom. Com o sector embrenhado nesta luta pela subsistência, sem meios e sem recursos, onde está a capacidade dos meios para investir na investigação, na reportagem de fundo, na diversidade e na qualidade?O panorama português da comunicação social é conhecido. É grave, genericamente, nos meios de âmbito nacional e, nos planos regional e local, agrava-se ainda mais. A dependência económica dos meios, sobretudo dos locais, é um óbice, actual, real, concreto e grave, ao desempenho da sua missão. Está efectivamente em causa a existência de imprensa livre, com capacidade para exercer a sua actividade com independência e imparcialidade e até para assegurar aos jornalistas as condições necessárias ao exercício da sua profissão com dignidade e respeito pelo código deontológico. Feito o diagnóstico – negro mas honesto –, temos de partir para o debate sobre o financiamento dos media, e com as premissas de que o jornalismo é serviço público, tem relação directa com a existência e a qualidade da democracia, e constitui um bem demasiado importante para estar entregue apenas ao mercado. Resta-nos debater como pode o Estado cumprir o seu dever no financiamento dos media sem intervencionismo dos governos. O Estado já ajuda o sector da cultura, e ninguém rasga as vestes por estar em causa a liberdade de criação e de opinião. No caso do jornalismo, cuja importância não é menor, o financiamento justifica-se igualmente, embora se admita que as regras têm de ser diferentes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para ser do Estado e não do governo, o financiamento requer um acordo de regime, como defende o Presidente da República, e obriga a mecanismos de garantia de transparência, justiça e independência, para garantir que o cão de guarda não precisa do alimento do ladrão. Entretanto, o Estado, todos os estados e organizações internacionais, como a União Europeia, têm muito a fazer no domínio da regulação, nacional e supra nacional, da actividade dos gigantes da Internet, como Facebook, Google e YouTube, quanto a direitos de autor, fiscalidade e acesso à publicidade. Enquanto o alimento vier do mercado, o nosso cão, que é o guarda do portão – a teoria do gatekeeper cruzada nos domínios de Kurt Lewin e David White –, pouco caça com estes lobos à solta.
REFERÊNCIAS:
Projecções demográficas e economia: agir antes que seja tarde de mais!
Se nada fizermos, os padrões de prosperidade que conhecemos em cada escalão etário pura e simplesmente desaparecerão. (...)

Projecções demográficas e economia: agir antes que seja tarde de mais!
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.37
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se nada fizermos, os padrões de prosperidade que conhecemos em cada escalão etário pura e simplesmente desaparecerão.
TEXTO: A Europa, e muito especialmente Portugal, estão confrontados com um enorme desafio demográfico que urge enfrentar quanto antes, sob pena de nós, cidadãos, sermos esmagados pelas suas consequências no nosso modelo de sociedade e nos níveis de prosperidade de cada um ao longo da vida. A fim de ajudar a despertar consciências para a urgência de o país abandonar a inércia perante o problema e pensar no que pode fazer diferente, o centro de reflexão Cidadania Social promoveu uma conferência no passado dia 11 em torno de quatro temas. Estes temas correspondem às quatro áreas da economia nas quais as projecções demográficas maior impacto poderão ter: território e desenvolvimento, prestação e financiamento de cuidados de saúde, digitalização e envelhecimento activo no mercado de trabalho, e poupança e pensões de reforma. A nível nacional, Portugal regista desde 2010 um duplo fenómeno demográfico: perda e envelhecimento populacionais. O Instituto Nacional de Estatística (INE) produz a cada três anos projecções de muito longo prazo que visam antecipar tendências e dar, precisamente, a todos os cidadãos e aos decisores económicos informação útil para prepararem o futuro. A actualização mais recente deste exercício prospectivo consta da publicação Estatísticas Demográficas 2017, divulgada em 15 de Novembro último. Com a devida vénia, evidenciam-se nos gráficos juntos os dois fenómenos acima mencionados. Os dados posteriores a 2017 são as projecções resultantes do cenário central, que corresponde à assunção de hipóteses que não são pessimistas nem optimistas quanto à evolução das componentes fertilidade, mortalidade e migrações. Assim, após o pico atingido em 2009 (10, 6 milhões de indivíduos), a população residente em 2017 baixou para 10, 3 milhões de habitantes, podendo cair para 7, 7 milhões em 2080 (vide Gráfico 1) no cenário central. A queda será substancialmente mais acentuada no grupo etário dos 15 aos 64 anos de idade, que concentra a população activa (Gráfico 2). Actualmente, temos cerca de 155 idosos (pessoas acima dos 64 anos) por cada 100 jovens, definidos como indivíduos com menos de 15 anos — Gráfico 3. Em 2080, este rácio, conhecido como índice de envelhecimento, poderá chegar a 309. As projecções são assustadoras, no sentido de que se nada fizermos para mitigarmos a sua concretização nem nada mudarmos na organização social então os padrões de prosperidade que conhecemos em cada escalão etário pura e simplesmente desaparecerão, ainda que lentamente. A nível nacional, o duplo fenómeno demográfico ocorre desde 2010. Porém, custa ainda mais aceitar nada fazermos quando é verdade que temos territórios a perder população e a envelhecer há, pelo menos, 60 anos! Dir-se-á que são meros interstícios do todo nacional e onde habitam poucos eleitores, poucos consumidores, poucos empreendedores e que o país passa bem sem eles. Os fenómenos começaram em meia dúzia de freguesias rurais nas Beiras e em Trás-os-Montes, a seguir à 2. ª Guerra Mundial. Mas, paulatinamente, galgaram fronteiras político-administrativas e hoje poderemos estar já a falar de 60% da superfície nacional. Em 2011, ano do último censo, mais de 60% da superfície nacional tem menos de 45 habitantes por km2, contra a média nacional de 115. Cerca de um milhão de pessoas vive naqueles 60% do território nacional, com um poder de compra inferior a 60% da média nacional. Se não provámos ser capazes de conter espacialmente as tendências demográficas e económicas, como é que seremos capazes de impedir que elas atinjam o litoral e o coração económico do país?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao longo das últimas três décadas, colocámos no terreno dispositivos de política pública com o objectivo de promover a coesão e a competitividade nos territórios demográfica e economicamente mais frágeis. Várias avaliações mostram, à escala NUTS III, que o país progrediu imenso em coesão: mais e mais indivíduos passaram a aceder a bens e serviços de interesse colectivo, como electrificação, saneamento, educação, cuidados de saúde, mobilidade. . . Porém, o progresso em indicadores de competitividade tem sido espacialmente heterogéneo, havendo cada vez mais territórios de baixa densidade a ficar para trás. Promover a coesão é relativamente fácil. Havendo financiamento (e a UE foi pródiga neste campo) e planeamento público (e Portugal avançou imenso neste domínio), quase que basta espalhar cimento nos territórios para os graus de cobertura da população aumentarem. Incrementar o valor acrescentado pelas empresas, atrair investimento directo, valorizar e reter capital humano, atrair visitantes, são tarefas muito mais difíceis de concretizar e que exigem a mobilização de parceiros privados, sociais e públicos em torno de estratégias de médio e longo prazo orientadas para a criação de valor e adequadas aos recursos e capacidades de cada região. No painel que moderei, intitulado “População, Território e Desenvolvimento”, os oradores convergiram na necessidade de as políticas públicas com maior impacto estrutural no desenvolvimento (saúde, ambiente, educação, mobilidade, cultura, economia. . . ) não poderem mais ser territorialmente cegas nem desarticuladas. Precisam de um modelo de governança que as coordene ao serviço de uma visão comum de médio e longo prazo para o desenvolvimento das regiões. Neste sentido, a proposta fundamentada [1] que fiz no primeiro artigo que assinei para esta coluna — “Desenvolvimento de Portugal e a orgânica do próximo Governo”, edição PÚBLICO de 5 de Março de 2018 — retém a sua oportunidade. É irrealista pensar que voltaremos a ter o povoamento que tínhamos na economia rural de 1950, nem as pessoas que ainda vivem nos territórios de menor densidade querem regressar a esse tempo, pois hoje estão melhor. Precisamos criar massa crítica nos locais de residência, em torno de vilas e cidades de pequena e média dimensão, mas, ao mesmo tempo, temos de favorecer a produção dos diversos bens e serviços que só pode existir no meio rural e que tanto beneficiam os cidadãos das áreas metropolitanas: qualidade ambiental, património material e imaterial, terra arável, prevenção de fogos florestais, diversidade de habitats naturais, humanos e animais e, claro, a tranquilidade e a paz de espírito que há muito se perderam nas grandes cidades. Com ou sem regionalização político-administrativa, é possível e imperioso fazermos mais e fazermos diferente. Antes que seja tarde de mais. . . [1] Baleiras (2016), Rui Nuno, “Bloqueios institucionais e possíveis soluções para a operacionalização de políticas transversais: O caso do desenvolvimento económico em Portugal”, Public Policy Portuguese Journal, Vol. 1, n. º 1, pp. 28-56. ?Cidadania Social – Associação para a Intervenção e Reflexão de Políticas Sociais – www. cidadaniasocial. pt
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
O leite faz mesmo bem à saúde. É a ciência que o diz
Dizer mal do leite tornou-se moda, mas isso não é suficiente para alterar a verdade. Partilhamos dez factos científicos que atestam que o leite é mesmo um alimento completo, saudável e seguro. (...)

O leite faz mesmo bem à saúde. É a ciência que o diz
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-11-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dizer mal do leite tornou-se moda, mas isso não é suficiente para alterar a verdade. Partilhamos dez factos científicos que atestam que o leite é mesmo um alimento completo, saudável e seguro.
TEXTO: Quem nunca leu um artigo a contestar o consumo de leite que levante o dedo. Argumentos, crenças e mitos de toda a espécie são utilizados para levar o consumidor a acreditar que deve deixar de beber leite. Mas será que é mesmo assim? Numa altura em que a informação sobre nutrição está cada vez mais disponível, importa procurar saber o que a ciência realmente nos diz antes de aceitar qualquer falsa verdade. Foi isso mesmo que fizemos e chegámos à conclusão que o leite é aquilo que, há muitos séculos, Hipócrates já nos tinha dito que é: “Um alimento muito próximo da perfeição. ” Vejamos porque é que o pai da Medicina tinha razão:Um simples copo com 250 ml de leite meio gordo contém nove nutrientes essenciais ao corpo humano: proteínas, hidratos de carbono, gordura, riboflavina (vitamina B2), vitamina B12, cálcio, fósforo, potássio e iodo. E ainda que muitos destes nutrientes possam ser encontrados noutros alimentos, a verdade é que o leite os apresenta a todos reunidos numa fórmula de consumo fácil e acessível, em boa quantidade. O cálcio é um dos elementos mais importantes do corpo humano, sendo imprescindível para o bom funcionamento das células e estando presente nos ossos, dentes e também no sangue. A sua presença é fundamental para a transmissão dos estímulos nervosos, coagulação sanguínea, contracção muscular e funcionamento celular. Mas porque o corpo humano não o consegue fabricar sozinho tem de o ir buscar à alimentação. O leite é o alimento que apresenta maior quantidade de cálcio e este é muito bem absorvido pelo organismo. Este facto é particularmente importante, pois embora alguns produtos hortícolas sejam ricos em cálcio, como os espinafres ou os brócolos, a sua absorção não é fácil devido à presença de oxalatos. O mesmo acontece com os cereais, por conterem fitatos. As vitaminas presentes no leite ajudam a reforçar a sua importância nutricional. Entre elas encontra-se a vitamina B12, essencial para o organismo humano ao ajudar na formação normal de glóbulos vermelhos e no normal funcionamento do sistema nervoso. Além disso, contribui para o normal metabolismo da homocisteína. Um dos argumentos mais comuns para o “não consumo” do leite é a de que o ser humano é o único mamífero que o consome na idade adulta. Supostamente, a partir de certa idade, não só deixaria de ser necessário, como poderia até ser prejudicial. A ciência desmente esta afirmação e o senso comum diz-nos que o ser humano é também o único que consome muitos outros alimentos que não existiam há milhares de anos. Os especialistas recomendam que seja consumido em qualquer fase da vida – incluindo na infância e na idade adulta - porque é um alimento de excelente densidade nutricional, ou seja, oferece uma extraordinária relação entre calorias e nutrientes essenciais para o organismo. Um simples copo com 250 ml de leite meio gordo contém nove nutrientes essenciais: proteínas, hidratos de carbono, gordura, riboflavina (vitamina B2), vitamina B12, cálcio, fósforo, potássio e iodo. Outra razão por que o leite é importante na alimentação dos mais novos prende-se com o facto de ser uma boa fonte de iodo, um nutriente relevante para o crescimento normal das crianças e para uma normal função cognitiva. É de tal forma importante que se estima que o seu défice possa comprometer o coeficiente de inteligência (QI) em 15 pontos. De acordo com os resultados do estudo IoGeneration, cerca de um terço das crianças portuguesas entre os 6 e os 12 anos apresenta níveis insuficientes de iodo, melhorando a situação entre as que têm por hábito beber leite. É outro dos mitos que aparece associado ao consumo de leite, mas não passa disso mesmo, de um mito. O estudo “Cancer Prevention & Survival” do World Cancer Research Fund International/American Institute for Cancer Research, publicado em Setembro de 2017, confirma que o leite e produtos lácteos não estão associados a um risco aumentado de cancro. Ao contrário do que também se passou a apregoar, o leite não aumenta o risco cardiovascular. Na verdade, pode até proteger a saúde do coração. Esta foi uma das conclusões de outra revisão científica, esta publicada no “Food & Nutrition Research”. Da mesma forma, uma outra meta-análise, publicada na Cochrane (uma rede independente de investigadores, profissionais, doentes e outros parceiros), revela uma redução do risco cardiovascular associada à dieta mediterrânica, a qual inclui o consumo de lacticínios. Se o leite não fosse um alimento saudável não estaria na Roda dos Alimentos, que é a representação gráfica daquilo que se considera ser uma alimentação equilibrada, completa e variada à luz da evidência científica disponível. Ali é aconselhada a ingestão diária de duas a três porções de leite ou derivados, o que representa cerca de 18% da nossa alimentação. Além disso, o leite dá uma excelente ajuda à hidratação diária de que todos necessitamos. As bebidas vegetais não substituem os benefícios do leite de vaca em termos nutricionais. Já quanto aos leites sem lactose, sim, são em tudo idênticos ao leite “normal”, pelo que constituem uma boa alternativa para as pessoas com intolerância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Consciente da necessidade de fazer chegar ao consumidor e aos profissionais de saúde mais e melhor informação, a Mimosa criou o Centro de Nutrição e Alimentação Mimosa (CNAM). Este é um centro de conhecimento do leite e produtos lácteos. Com mais de 20 anos de experiência, o CNAM trabalha em três vertentes: nutrição, educação e inovação. Além de participar na educação alimentar e nutricional da população, o centro promove e dinamiza o conhecimento técnico-científico sobre lacticínios e nutrição e contribui ainda para a criação de produtos lácteos adaptados às necessidades específicas dos consumidores, nomeadamente, sem lactose, leites adequados às fases de crescimento ou com adição de ómega 3, cálcio, esteróis vegetais, e proteína para a prática desportiva.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação ajuda consumo estudo espécie corpo vaca alimentos
Derrame de três toneladas de nafta no mar de Peniche
Capitania do Porto garante que a maior parte do combustível já foi recolhida. (...)

Derrame de três toneladas de nafta no mar de Peniche
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Capitania do Porto garante que a maior parte do combustível já foi recolhida.
TEXTO: Uma ruptura no abastecimento de uma caldeira de uma empresa provocou o derrame de cerca de três toneladas fuelóleo para o mar de Peniche, mas a Capitania do Porto garantiu que a maior parte da nafta já foi recolhida. "A escorrência de hidrocarbonatos foi detectada cerca das 13h de ontem [quinta-feira] junto à praia do Abalo, mas conseguimos identificar a fonte e foi estancada cerca das 14h", disse à agência Lusa o comandante do Porto de Peniche, Marcos Augusto. Ainda assim, o responsável pela capitania estima que "cerca de três toneladas tenham sido derramadas para o domínio público hídrico", tendo causado "algumas manchas no mar" e o aparecimento, durante a tarde, de manchas de nafta na Praia do Abalo, um pequeno areal que fica a descoberto na baixa-mar e que é utilizado essencialmente por pescadores. De acordo com Marcos Augusto, "cerca de um terço do areal foi limpo ao final do dia" através da brigada antipoluição da Polícia Marítima com o apoio da empresa responsável pelo derrame, a Plastimar, com sede na zona industrial de Peniche. Na manhã desta sexta-feira foram concluídas as acções de limpeza no areal, com a nafta "recolhida em sacos que vão ser encaminhados para aterro", mantendo-se por limpar "uma zona de rochas, em arribas de difícil acesso", em relação à qual "a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a analisar que medidas podem ser tomadas, se a utilização de dispersantes ou se se aguarda que o mar faça a limpeza natural", acrescentou o comandante do porto. O derrame de fuelóleo teve origem "no sistema de alimentação de uma caldeira "da empresa Plastimar, confirmou à Lusa o director-geral Luís Carvalho, acrescentado que "logo que foi detectada a fuga foi cantonada". De acordo com a empresa, "na monitorização feita entre as oito e as nove horas da manhã não foi detectado qualquer problema", suspeitando-se que a fuga tenha acontecido "a meio da manhã". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Luís Carvalho adiantou ainda que, após reunião com a Polícia Marítima, a empresa "disponibilizou meios no terreno para bombear e limpar os hidrocarbonetos no mar e no areal" e, segundo Marcos Augusto, "está também a colaborar no transporte dos sacos recolhidos para o aterro". A ocorrência já foi reportada ao Ministério Público para apurar a graduação da infracção. A Plastimar tem sede na zona industrial de Peniche e produz plásticos expandidos, entre os quais poliestireno expandido, espuma de polipropeno, bioplásticos e materiais revestidos com silicatos.
REFERÊNCIAS:
Tempo sexta-feira quinta-feira
Ficção: o melhor do ano
Escolhas de Helena Vasconcelos, Isabel Lucas, José Riço Direitinho e Mário Santos. (...)

Ficção: o melhor do ano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escolhas de Helena Vasconcelos, Isabel Lucas, José Riço Direitinho e Mário Santos.
TEXTO: ex aequoMichael OndaatjeRelógio D'Água"Em 1945 os nossos pais foram-se embora, deixaram-nos ao cuidado de dois homens que podiam muito bem ser criminosos. " Nathaniel, o narrador, tem 14 anos, a irmã, Rachel, "quase" 16. A partir desta história de abandono, o canadiano Michael Ondaatje constrói um romance onde explora a inventividade da memória nas suas diversas paisagens e grandes momentos de luz e sombra. Uma sinfonia romanesca, pelo vencedor do Booker dos Bookers, com O Paciente Inglês. I. L. ex aequoAntónio CabritaExclamaçãoReencontrado por acaso na Baixa Pombalina, Deus confessa-se, conta tudo. João de Deus, a personagem-máscara do realizador João César Monteiro. Aqui continuada por outros meios, mas com idêntico efeito humorístico. Trata-se de uma biografia imaginária da imaginária figura, uma homenagem paródica que António Cabrita tinha na gaveta há vários anos. Obra libertadora dos costumes e, sobretudo, do verbo, é um sumptuoso divertimento literário. M. S. ex aequoDubravka UgresicCavalo De FerroErudita e inteligente, Dubravka Ugresic (n. 1949) confunde o real e o imaginário de maneira a interrogar ambos, reivindicando uma maior veracidade para a magia da literatura. Romance de estrutura episódica, que acumula partes narrativas e polifonia de registos, e no qual os temas habituais da escritora croata surgem mais uma vez: a condição do exílio, os nacionalismos, a reabilitação da História, o modo de vida do escritor, e o mercado cultural da arte. J. R. D. ex aequoJennifer EganQuetzalDurante a Segunda Grande Guerra, uma jovem intrépida decide juntar-se às equipas de mergulho que reparam navios e levam a cabo duros trabalhos. No ambiente electrizante das docas, com gangsters trágicos, pais desaparecidos, pobreza e dificuldades de vária ordem, ela envolve-se numa história de sacrifício, paixões e decisões difíceis. A Nova Iorque das fotografias de Stieglitz, romântica e avassaladora, romanceada por uma escritora de excepção. H. V. ex aequoSalman RushdieD. QuixoteOs Golden surgem um dia em Nova Iorque e adquirem uma enorme mansão, recusando-se a revelar seja o que for sobre o seu passado. A vida desta família, por detrás das paredes bem defendidas do palacete no centro de Manhattan é escrutinada pelo narrador que, à semelhança de Nick Carraway em O Grande Gatsby de Fitzgerald, é um observador passivo, mas não isento de crítica. Uma parábola da sociedade americana, em vésperas da eleição de Trump. H. V. ex aequoHélia CorreiaRelógio D’ ÁguaPara que serve a literatura? Serve para ‘isto’. Hélia Correia colhe a escuridão do mundo e transforma-a em luminosa memória literária. Um Bailarino na Batalha (citação de um poema de Nietzsche intitulado Última Vontade) narra uma travessia do deserto em busca de uma terra prometida chamada Europa. E eis que a ficção ascende, como se fora nova, ao real e ao político pelo melhor caminho: a poesia. M. S. António Lobo AntunesD. QuixoteO título remete para uma ópera de Bela Bartók e parte de um crime real: a morte de um empresário e a destruição do corpo com ácido sulfúrico. Desde a elaboração do plano à concretização do acto e as suas consequências, António Lobo Antunes entra na cabeça e na intimidade de cada um dos cinco criminosos para explorar cada carácter. São homens infantis, perversos, medrosos, mesquinhos, cobardes. Um romance polifónico que se abstém de julgamento moral e expõe, através de recursos linguísticos, a grande contradição humana. I. L. Dulce Maria Cardosoed. Tinta-da-ChinaSete anos depois de O Retorno, Dulce Maria Cardoso regressa com outra grande personagem. Eliete é uma mulher de meia-idade com uma vida normal na sua terrível e muito pessoal anormalidade. A partir dela, do seu quotidiano, frustração, da sua relação com o tempo e com o que ele faz, por exemplo, ao corpo e à memória, a escritora traça um retrato detalhado do presente em Portugal. Neste que é o primeiro volume de um projecto maior, há a inquietante percepção de que Eliete somos nós, sobretudo quando não gostamos muito do que vemos. I. L. John BanvilleEd. Relógio D’ÁguaPerante a impossibilidade de sabermos o que acontece a Isabel Archer, protagonista trágico-cómica de O Retrato de uma Senhora de Henry James, o irlandês John Banville fá-la renascer e arrasta-a de novo para o pathos da sua existência. Continuará Isabel a ser “uma senhora” ou rebelar-se-á? Como poderá escapar de um marido cruel e das suas maquinações? Banville, com o seu virtuosismo exasperante, responde. Ou talvez, não. H. V. Javier MaríasEd. Alfaguara PortugalEm Berta Isla o espanhol Javier Marías recupera algumas personagens da sua trilogia O Teu Rosto Amanhã. Como acontece em alguns dos seus livros mais recentes, também neste existe uma personagem dividida entre a cultura inglesa (estudou em Oxford, universidade onde Marías também leccionou) e a cultura espanhola. Tomás (Tom Nevinson), filho de pai inglês, cresce em Madrid (onde muito novo conhece Berta Isla, com quem se virá a casar) mas faz os estudos universitários em Inglaterra. É durante estes anos que os serviços secretos ingleses o recrutam – ele é um superdotado para línguas – e passa a ser enviado em missões de espionagem. Mas este recrutamento acontece depois de ele ser chantageado ao ver-se envolvido num assassinato. Dito isto assim, poderá parecer ser este um romance sobre espiões. Não é. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Marías a literatura parece funcionar sempre como uma forma de se chegar ao conhecimento, tentando antes descobrir os mistérios que as personagens guardam, aquilo que nelas está invisível e que aos poucos vai saindo da penumbra. A sua prosa introspectiva (característica cada vez mais acentuada), bastante digressiva e heterodoxa, serve para, aos poucos, ir tornando clara uma tentativa de compreensão do mundo. A acção narrada é reduzida, como se fosse necessário parar o tempo para perceber melhor a vida. Berta Isla é um romance sobre a decepção e a incerteza da espera, a história de uma mulher que ao longo de décadas tenta resistir a uma ideia de amor, e que se vai apercebendo que a história da sua vida se resume a umas linhas na narrativa da vida de alguém com quem viveu muito tempo e que não conhece. J. R. D.
REFERÊNCIAS:
2018 foi o ano em que ganharam um prémio — e em que lhes aconteceram outras coisas
A ilustradora Madalena Matoso, o galerista Nuno Centeno, a arquitecta Inês Lobo e o investigador Emanuel Cameira são apenas alguns dos portugueses que em 2018 se viram premiados pelo trabalho que vêm desenvolvendo em diferentes áreas da cultura, e a que a pressa dos dias não nos permitiu dar a devida atenção. Agora que o ano em que se distinguiram está a terminar, recuámos a esses dias que ficaram marcados a bold nos seus calendários. (...)

2018 foi o ano em que ganharam um prémio — e em que lhes aconteceram outras coisas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ilustradora Madalena Matoso, o galerista Nuno Centeno, a arquitecta Inês Lobo e o investigador Emanuel Cameira são apenas alguns dos portugueses que em 2018 se viram premiados pelo trabalho que vêm desenvolvendo em diferentes áreas da cultura, e a que a pressa dos dias não nos permitiu dar a devida atenção. Agora que o ano em que se distinguiram está a terminar, recuámos a esses dias que ficaram marcados a bold nos seus calendários.
TEXTO: No primeiro plano dos seus livros, mesmo antes de chegarmos às letras, há quase sempre um padrão gráfico que nos puxa para dentro. Pelas cores que atraem, pela capacidade que tem de divertir e de intrigar, pelas ilusões que cria. É assim em Cá Dentro – Guia para Descobrir o Cérebro, é assim em Não é Nada Difícil – O Livro dos Labirintos, que lhe valeu este ano, e pela segunda vez, o Prémio Nacional de Ilustração. Madalena Matoso desenha desde sempre. É-lhe tão natural quanto contar histórias recorrendo à cor e às formas que vai recortando em papéis de texturas variadas. É-lhe natural, mas não é fácil. “Quando digo que não sou uma virtuosa do desenho, quero dizer que tudo isto para mim é difícil. Às vezes a minha mão não consegue corresponder ao que imagino – os desenhos que tenho na cabeça são melhores do que os que consigo pôr no papel”, diz esta autora de 44 anos que em 2018 viu ainda Não é Nada Difícil ser considerado uma das 30 melhores obras visuais do mundo pela New York Rights Fair, uma importante feira internacional do negócio livreiro. As dificuldades, explica, obrigam-na a criar outros recursos, impedem-na de ficar acomodada a uma fórmula. “Alguns caminhos surgem precisamente na busca de soluções para resolver os tais problemas entre a cabeça e a mão. ” E alguns livros surgem de contaminações, nascem quando se está a trabalhar noutro projecto. Foi o caso de Não é Nada Difícil, que está cheio de labirintos. “A ideia de labirinto estava muito presente no Cá Dentro [com texto de Isabel Minhós Martins e Maria Manuel Pedrosa], que é um livro para ajudar a descobrir o cérebro e foi um projecto muito intenso, em que trabalhei cerca de seis meses em exclusivo. Fiquei com vontade de mexer nos labirintos de forma mais lúdica. ”Formada em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e com uma pós-graduação em Design Gráfico Editorial pela Faculdade de Belas-Artes de Barcelona, Matoso enveredou também pela edição. Em 1999 fundou com mais três amigos do liceu – Minhós Martins, Bernardo P. Carvalho e João Gomes de Abreu, todos eles autores – o Planeta Tangerina, um atelier de ilustração que a partir de 2006 começou a editar álbuns, arrancando com Uma Mesa é Uma Mesa (Isabel Minhós Martins/Madalena Matoso) e com dois livros da dupla Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho: Obrigado a Todos e Pê de Pai, este último já um sucesso “clássico” do Planeta. “Queríamos editar os nossos projectos e os de outros em que acreditássemos, queríamos arriscar mais e não ficar a meio caminho como as editoras mais tradicionais. E fazer isso à nossa maneira, sem ter de discutir a qualidade de papel, as cores que podíamos usar…”No Planeta Tangerina, garante a ilustradora que está já a trabalhar num novo livro com saída marcada para Fevereiro, Metade Metade, só se discute "o importante”. “Somos amigos há muitos anos, gostamos de conversar sobre o que cada um anda a fazer e temos a tendência para mudar de direcção. Gosto deste lado de trabalho de equipa. O Pê de Pai, por exemplo, nunca sairia como saiu, com cores mais secas, cheio de castanhos, se fosse proposto a uma editora mais convencional. ”Madalena Matoso não tem dúvidas de que o melhor que os quatro amigos podiam ter feito foi mesmo publicar os seus próprios livros. É claro que, também nesta dimensão, a coisa não é fácil. Apesar de o mercado nacional ter ganho reconhecida vitalidade nos últimos sete ou oito anos, defende a ilustradora, a verdade é que as tiragens continuam a ser pequenas (1500 ou 2000 exemplares) e o número de títulos editados por ano reduzido. “Aqui no Planeta editamos seis ou sete livros por ano, mas gostamos assim. Damos tempo aos projectos. É claro que [o negócio] não seria sustentável, não daria para vivermos, se não vendêssemos os direitos dos nossos livros para muitos países. É por isso, sobretudo, que participamos em feiras e concursos internacionais – para mostrar e promover o que fazemos. ”Matoso tem vários dos seus livros traduzidos em múltiplas línguas e hoje os originais do seu Não é Nada Difícil estão expostos no Japão, depois de terem passado por Nova Iorque e Bolonha. Falamos de originais porque esta ilustradora, que traz da infância as memórias de tardes passadas a desenhar sobre a mesa, a Miffy de Dick Bruna ou A Fada Oriana de Sophia de Mello Breyner com ilustrações de Luís Noronha da Costa, continua a preferir fazer boa parte do trabalho à mão. Mostrando sobre o seu estirador as folhas com as “experiências” para o novo livro com o mesmo cuidado com que procura as palavras para falar com entusiasmo do seu trabalho e do dos amigos, Madalena Matoso explica: “No computador há a tendência para produzir de mais porque é rápido, fácil de corrigir… Quando mudo de técnica e trabalho com papéis, com recortes, parece que o desenho ganha vida e se faz quase sozinho. ”Fazer à mão dá-lhe um imenso prazer e permite-lhe reflectir mais sobre cada traço, sobre o ritmo que vai impor à história. “O ritmo não se vê, mas está lá, faz parte da leitura e temos de pensar nele, criando em cada livro uma harmonia entre as páginas que se passam depressa e as que precisam de tempo. ” Tudo na experiência de ler conta porque, para ela, “o livro continua a ser o objecto de design mais incrível, ao nível da roda": "Um universo gigante compactado entre uma capa e uma contracapa. ” Lucinda CanelasQuando Nuno Centeno (n. Porto, 1979) diz que, na sua vida profissional, “as coisas vão acontecendo de uma forma muito espontânea, passo a passo, mas sempre a subir um degrau”, não está apenas a referir-se ao percurso normal de uma carreira. Há também um significado literal: passada praticamente uma década sobre a abertura da sua primeira galeria, a Reflexus, frente ao Palácio de Cristal, no Porto, Nuno Centeno inaugurou em Setembro a sua nova galeria em nome próprio na zona mais alta da cidade, recuperando e transformando a antiga oficina da Cooperativa dos Pedreiros num espaço invulgarmente apelativo para quem se interessa pelas coisas das artes, e não só. Subimos a rampa que dá acesso à nova Galeria Nuno Centeno (na Rua da Alegria, 598) sem nenhum sinal do que nos espera. Uma porta de vidro transparente oferece-nos a visão das peças da exposição aí patente – no caso, Natureza dinâmica, do artista conceptual belga Philippe Van Snick –, mas também uma viagem no tempo até à arquitectura brutalista do que foram as instalações originais, entre os anos 1940-90, da cooperativa ligada à edificação de alguns ícones patrimoniais da cidade, da Estação de São Bento aos Paços do Concelho ou ao Monumento à Guerra Peninsular. Numa espécie de open space cheio de cantos e recantos, que se espraia por mais de mil metros quadrados, o espaço para a arte, desenhado pelo arquitecto André Gonçalves, convive paredes meias com vestígios de tanques, canais de água, máquinas de cortar pedra, tornos mecânicos, trilhos de vagões de carga e mesas com tampos de mármore…“Isto foi a concretização do sonho que eu sempre tive de arranjar um espaço amplo, com boas condições para receber as pessoas e que fugisse aos moldes da tradicional galeria white cube”, diz Nuno Centeno, explicando ter também pretendido preservar a memória histórica do espaço. Após 12 meses de obras, a inauguração da nova Galeria Nuno Centeno veio concluir um ano especialmente feliz para o galerista: o ano em que foi premiado pelo melhor stand na feira internacional Frieze, de Nova Iorque; e em que integrou a lista das figuras mais inspiradoras (com menos de 40 anos) para o Apollo – The International Art Magazine, de Londres. “Foram todos pequenos grandes acontecimentos que me ajudaram a ganhar confiança”, diz Centeno, realçando que estas duas distinções vêm suceder à sua inclusão na lista dos dez galeristas mais influentes na Europa do site ArtNet, em 2016. “Essa foi um bocadinho o início de tudo”, e ao mesmo tempo “o resumo dos primeiros dez anos de carreira”, observa. Nuno Centeno, filho do artista plástico Sobral Centeno (n. Porto, 1948), iniciara, de facto, a sua actividade no mercado da arte uma década antes, depois de ter vivido e estudado no Brasil, aproveitando os contactos do pai. Começou por frequentar um curso de Design Industrial na Cooperativa Árvore, no Porto, mas, em 2000, rumou ao outro lado do Atlântico para estudar na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. “Sempre achei, desde pequeno, até pela envolvência familiar, que iria seguir o ramo das artes; dizia assim: ‘Vou ser artista e abrir um espaço’. Mas, quando me apercebi, era galerista. Fui-me tornando galerista quase sem querer. Foi um processo muito intuitivo”, conta. Chegado agora ao “topo” da sua cidade natal, Nuno Centeno propõe-se colocar a sua nova galeria (e o Porto) “no mapa internacional das artes”, simultaneamente “respeitando aquilo que foi feito nas últimas décadas” e olhando para o futuro. E o futuro passa igualmente pela aposta em dois outros projectos: a Artist Book Gallery e o Sculpture Park and Outdoor Tendencies (SPOT). A primeira é uma espécie de submarca da Nuno Centeno, que aproveita a atmosfera brutalista da antiga caverna dos pedreiros para expor livros de artista. Aí se podem folhear, actualmente, livros-objectos-de-arte de Sobral Centeno – “Tenho vindo a fazer uma investigação grande da obra do meu pai”, diz Nuno, “e esta é uma forma de chamar a atenção para o trabalho dele” –, Julião Sarmento, Carolina Pimenta, Nuno Sousa Vieira e Filipe Cortez. “A ideia é que os livros sejam exibidos fisicamente, mas que também sejam fotografados e filmados para ganharem uma segunda vida online”, diz o galerista, com a perspectiva de criar uma base de dados neste domínio, com a qual possa “educar os coleccionadores e o público em geral a prestar mais atenção a estes objectos raros e preciosíssimos”. O SPOT, em fase de lançamento, é uma parceria de Centeno com Rita Almeida Freitas, um parque de arte pública ao ar livre (actualmente numa casa privada), aberto a coleccionadores privados mas também a instituições públicas, com a expectativa de lhes abrir “novos horizontes em termos de aquisição”. Já na galeria da Rua da Alegria, para o novo ano, e cumprindo o projecto de olhar simultaneamente para o passado, o presente e o futuro, Nuno Centeno vai expor a brasileira de origem japonesa Lydia Okumura e os portugueses Silvestre Pestana, Carolina Pimenta, Ana Cardoso, Luísa Mota e Mauro Cerqueira, entre outros. Sérgio C. AndradeEm cima da mesa do atelier estão os desenhos de um aldeamento para a Comporta, sobre o qual a arquitecta Inês Lobo, 52 anos, não vai entrar em detalhes. É uma encomenda privada e o segredo pode mesmo ser a alma de parte deste negócio ligado ao turismo. “Acho que todos os ateliers têm agora mais encomenda privada do que pública. Tivemos um momento em Portugal em que andámos a construir aquilo que os outros países já tinham: universidades, bibliotecas, museus. ” Depois, chegaram às mãos deste atelier projectos de recuperação da Parque Escolar (quatro escolas espalhadas por várias cidades) e a requalificação do espaço público, com alguns estudos para Lisboa. “Construiu-se muita coisa que eventualmente já não temos necessidade de continuar a construir. Esse momento, em que nós tivemos a sorte de participar através de muitos concursos públicos, não vai voltar a acontecer tão cedo. ”Mas as mudanças dos últimos tempos serão assunto apenas no final desta conversa que teve lugar no atelier situado no lisboeta bairro de Marvila, para onde Inês Lobo se mudou em 2016. Se a recuperação económica trouxe outro tipo de projectos a um dos raros ateliers conhecidos que é liderado por uma mulher em Portugal, o Prémio Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA) que recebeu este ano destacou a sua capacidade “ímpar” de montar estratégias de trabalho muito diversas. Da pequena à grande escala, da investigação ao desenho do edifício e da cidade, da qualidade da construção à dimensão social da arquitectura, da capacidade de colaborar com outros arquitectos à curadoria, uma “situação muito invulgar no panorama da arquitectura portuguesa”, escreveu o júri. O Prémio AICA, atribuído em parceria com o Ministério da Cultura e a Fundação Millenium bcp, foi inesperado para Inês Lobo. “Como hoje há a fúria dos prémios, a nossa relação com eles é de uma certa distância. Há imensos: uns a que temos de concorrer, outros em que somos convidados, outros ainda em que se paga para entrar. É um universo que está um pouco pervertido. Já o prémio AICA é o oposto disso, porque são os nossos pares próximos que decidem que o nosso trabalho deve ser reconhecido. ”A distinção é também o reconhecimento de que a diversificação do percurso profissional do atelier estava certa depois de a crise ter obrigado a equipa a pensar o que podia continuar a fazer em termos de arquitectura pública. “Ficámos muito contentes porque o prémio reconheceu não só a arquitectura enquanto encomenda e reposta, mas que a arquitectura é, per se, um acto de investigação permanente. ”Essa inversão chegou por volta de 2012, quando Inês Lobo foi convidada para comissariar a representação nacional na Bienal de Veneza de Arquitectura, dedicada às várias transformações na cidade de Lisboa que começaram com a intervenção de Álvaro Siza no Chiado, depois do incêndio de 1988. A curadoria da Bienal de Veneza e a reflexão acerca do que tinha sido a construção de Lisboa nesses anos levaram-a a fazer uma série de trabalhos, tal como o que se iniciou com o projecto para a Mesquita da Mouraria. Apesar de a construção do futuro templo da Rua da Palma estar atrasada devido às expropriações, o projecto serviu para desenvolver nos últimos dois anos um trabalho com os alunos sobre requalificação do espaço público na Avenida Almirante Reis. O resultado vai sair brevemente num livro, intitulado Atlas da Almirante Reis, edição conjunta das universidades Autónoma e Nova, com textos de vários autores e fotografias de Paulo Catrica. De certa forma, explica Inês Lobo, “foi a forma de continuar a participar na arquitectura enquanto arte pública e não apenas enquanto arte privada”. Este ano, Inês Lobo foi também convidada pelas comissárias-gerais da Bienal de Veneza para mostrar um trabalho de requalificação de espaço público que fez em 2015 para a cidade italiana de Bérgamo. Com Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, Inês Lobo completava a participação portuguesa na exposição principal da bienal com a obra Um Banco, um Espaço Livre para Cem Pessoas. “Gostei muito do tema do espaço livre, da arquitectura ter de reflectir constantemente sobre o espaço que é de todos. ”O projecto de Bérgamo também foi nomeado recentemente para o Prémio Secil, desta vez juntamente com a Biblioteca e Arquivo de Angra do Heroísmo, uma obra magnífica cuja construção foi várias vezes interrompida pela crise e levou uma década a terminar. Outro dos seus projectos, uma casa na rua do Quelhas, em Lisboa, feita em parceria com o arquitecto paulista Paulo Mendes da Rocha, um gigante da arquitectura brasileira, foi igualmente nomeado para o Prémio Mies van der Rohe. Por causas das colaborações com outros arquitectos – Inês Lobo teve igualmente projectos em parceria com Pedro Domingos, Carlos Vilela, Ricardo Bak Gordon, João Maria Trindade ou João Mendes Ribeiro –, regressámos ao tema do género, de que a arquitecta falou detalhadamente quando recebeu o Prémio arcVision – Women and Architecture em 2014. “Por ser mulher, tenho, eventualmente, uma certa facilidade em lidar com situações de colaboração. Os homens, de uma forma geral, são mais competitivos. Sempre fiz projectos em parceria e gosto bastante. É um momento em que se pode discutir arquitectura com um parceiro da forma mais intensa possível. ” Mas, tal como há quatro anos, apesar de o tema ser “incontornável e fundamental na sociedade”, Inês Lobo não pensa “que os grandes problemas na questão de género aconteçam especificamente na arquitectura”. Muito menos, acrescenta, com ela. Isabel SalemaSe a história de um editor contemporâneo, e que ainda por cima teimou em “permanecer amadorístico e minúsculo e quase artesanal”, já não constitui, à partida, o tópico mais óbvio para uma tese de doutoramento em sociologia, a dissertação A &etc de Vitor Silva Tavares: narrativa histórico-sociológica, de Emanuel Cameira, soma ainda outras singularidades, como a de ser escrita na primeira pessoa, tornando-se de algum modo a narrativa de uma investigação, e não apenas o seu resultado. Defendida no início deste ano perante um júri que incluiu, entre outros, o historiador Diogo Ramada Curto e Rosa Maria Martelo, uma ensaísta que tem dedicado particular atenção à poesia portuguesa contemporânea, a tese de Cameira venceu recentemente, ex-aequo com um trabalho de José Avelãs Nunes sobre a arquitectura dos sanatórios portugueses, o prémio Victor de Sá de História Contemporânea, atribuído pela Universidade Minho. Um prémio que considera genuinamente “prestigiante”, mas que recebeu com sentimentos contraditórios. Se o satisfaz ver reconhecido um trabalho, “por natureza solitário”, no qual investiu seis anos, e se os 1750 euros de meio prémio lhe dão certamente jeito, esta distinção também vem acentuar a injustiça da situação profissional em que se encontra, precária, mal paga e sem horizontes. Os treze anos já decorridos desde que se licenciou pelo ISCTE, onde hoje dá aulas, ainda não foram suficientes para este investigador de 36 anos, pai de duas filhas pequenas, conseguir um emprego minimamente estável: “É muito difícil chegar a professor do quadro, porque quase não abrem vagas, e quando abrem já estão atribuídas, e a lógica da universidade é hoje totalmente contrária a tudo o que seja dar tempo às pessoas para produzir coisas de qualidade”, lamenta o investigador. “O prémio é óptimo, mas não muda o dia-a-dia”, resume, sublinhando que só evoca estas suas dificuldades para não se pensar que é “uma pessoa instalada e que vive maravilhosamente”. Entre a licenciatura e o início da docência, Emanuel Cameira frequentou um mestrado em Estudos Curatoriais na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa que acabaria por ter um efeito colateral importante, proporcionando o seu primeiro encontro a três dimensões com Vitor Silva Tavares (VST). No âmbito desse mestrado co-organizou a exposição João César Monteiro: Assim e Não Assado, que esteve em 2010 no Convento dos Cardaes, em Lisboa, e para cujo catálogo VST viria a escrever um texto. “Conheci-o nessa altura, na Rua da Emenda [onde funcionava a &etc], conta Emanuel Cameira. “Já era leitor assíduo e coleccionador das edições &etc e depois fez-se um clique qualquer na minha cabeça em termos sociológicos e decidi fazer esta tese”. Leitor de poesia e apreciador de edições artesanais, ele próprio veio a dar o gosto ao dedo com a revista-almanaque Postas de Pescada, lançada em 2016 com a ilustradora Ana Biscaia, de que saíram dez números, com colaboração de poetas como A. M. Pires Cabral, Carlos Poças Falcão ou Manuel de Freitas. Com a mesma chancela, editaram ainda o volume colectivo Arar (2017), que recuperava um texto homónimo de VST originalmente publicado por Paulo da Costa Domingos na Frenesi, em 1984. Decidido a eleger a &etc como tema da sua tese de doutoramento, uma das questões prévias que o investigador se colocou foi a de saber “como se estuda algo que parece funcionar quase fora do social”, ou seja, passar dessa imagem de uma editora que todos elogiam como singular e marginal para “tentar perceber como se tinha chegado àquele figurino, como aquela singularidade editorial se alicerçava numa série de outras singularidades”. E desde logo a do invulgaríssimo percurso de vida do editor: “A trajectória de Vitor Silva Tavares é completamente improvável, e é fascinante, enquanto desafio à compreensão sociológica, tentar compreender como é que alguém que não tinha nada, que não tinha livros em casa, que não tinha que comer, acaba por ser um decisivo na edição literária portuguesa da segunda metade do século XX. ”Não surpreende, portanto, que esta narrativa histórico-sociológica da &etc inclua uma verdadeira biografia de VST, para a qual o próprio contribuiu disponibilizando-se para uma série de conversas com Emanuel Cameira. Desses anos da infância na Madragoa, quando vivia com mais 12 pessoas num espaço que se resumia a “meia varanda, uma sala, um corredor e meia cozinha”, o futuro editor recordava “uma cama muito grande que ocupava praticamente o espaço todo daquilo a que pomposamente se podia chamar sala", onde dormiam a avó, as tias e ele próprio, "rodeado de mamas por todo o lado”. Cameira acha que a sua dissertação “não belisca de todo a imagem” de VST e da &etc. Pelo contrário, muito do material que investigou confirma essa ideia de “uma editora que funcionava nos antípodas desta lógica de indústria cultural”, reforça a intuição de que a edição serviu a Vitor Silva Tavares como um modo de “afirmação criativa” e não perturba o retrato que dele foi sendo feito como “um indivíduo quase à parte”, comparável, segundo o investigador, a “figuras como João César Monteiro ou Luís Pacheco nos seus respectivos campos de actividade”. Mas o trabalho de Cameira permite também perceber que sem o respaldo económico que lhe foi sempre sendo assegurado por Célia Henriques, com quem se casou em 1965, e que provinha de uma família portuense abastada mas de convicções progressistas, Vitor Silva Tavares nunca teria podido manter a &etc nos moldes em que ela existiu. “Os livros eram caros de fazer, porque tinham bons acabamentos, e vendiam-se pouco”, nota Cameira, o que deveria levar qualquer um a perguntar-se como podia a &etc sobreviver quando tantas outras editoras iam fechando portas. Uma boa parte da resposta chama-se Célia Henriques, defende agora esta tese com uma clareza até aqui nunca assumida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outra dimensão pouco conhecida que emerge dos arquivos pessoais a que o investigador teve acesso é a de um Vitor Silva Tavares que se via a si próprio como um escritor e um artista visual falhados. “Há documentos, alguns publicados na dissertação com a autorização da família, em que ele mostra uma certa tristeza por não alcançar a Obra, com maiúscula”, diz Cameira, sugerindo que “é também por isso que ele busca uma afirmação criativa noutro plano, na edição”. O momento mais complexo na escrita deste trabalho agora premiado foi, claro, a morte de Vitor Silva Tavares. “A tese esteve parada dois meses, não sabia como dar a volta àquilo, tinha criado uma afinidade pessoal com o meu objecto de estudo e ele morreu-me, literalmente”. O instante ficou, aliás, inscrito no texto. Entre um parágrafo sobre as tertúlias nos cafés e uma citação que ajuda a contextualizar o que está a descrever, Emanuel Cameira introduz esta frase em maiúsculas: “Vitor Silva Tavares faleceu hoje, 21 de Setembro de 2015. Triste tese. Como prosseguir?”. Mas a morte de VST deu também ao investigador a oportunidade e a responsabilidade de aceder aos papéis do editor, cuja consulta lhe foi facultada pelos familiares. “Artigos de jornal, folhetos, memórias descritivas, livros de contas, textos literários”, inventaria Emanuel Cameira, sublinhando que só então teve noção da intensidade com que Vitor Silva Tavares se dedicava à escrita: “São centenas de textos, para não dizer milhares, que ele escrevia em papelinhos, em guardanapos, em todo o lado, e atirava para as gavetas”. Luís Miguel Queirós
REFERÊNCIAS:
Os senhores burocratas da Universidade de Lisboa
Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia. (...)

Os senhores burocratas da Universidade de Lisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia.
TEXTO: Aqui há uns dez anos, vivi numa rua onde havia um lugar de estacionamento reservado para um morador com problemas de saúde. Um dia o senhor mudou de casa e informou as autoridades competentes. As autoridades competentes não mexeram uma palha e a placa com a matrícula do seu carro continuou no mesmo local. Os moradores, naturalmente, começaram a ignorar a placa e a estacionar os carros. Começaram também a ser multados pela polícia. Ao fim de duas ou três multas expliquei calmamente a um agente que o dito senhor já não morava ali. Recebi como resposta que a lei era a lei. Nessa mesma noite, com a ajuda do meu pai, enfiei três pontapés no sinal, arranquei-o do chão, meti-o no carro com a bagageira aberta e fui despejá-lo num descampado. Problema resolvido. Moral da História: a lei existe para servir o homem; não o homem para servir a lei. Todos nós devemos cultivar uma semente anarquista que nos ajude a resistir aos abusos e à estupidez do Estado, mais os seus dedicados acólitos. O espírito da lei nem sempre está conforme à letra, e é por isso que transportamos uma cabeça em cima dos ombros – para usá-la sempre que se afigure necessário. Mas isto sou eu, claro. Já os senhores que mandam na Universidade de Lisboa preferem não se dar a esse trabalho, e num curto intervalo de tempo tomaram duas decisões abracadabrantes: entenderam que o professor Domingos Farinho era a pessoa mais indicada para integrar o júri que vai decidir quais serão os nossos futuros juízes (sim, refiro-me ao professor Farinho que admitiu ter dado uma ajudinha a José Sócrates na escrita da sua tese de mestrado e que foi apanhado a fazer pesquisa para a sua tese de doutoramento) e concluíram que o novo regulamento europeu de protecção de dados proíbe que as pautas de avaliação sejam tornadas públicas. Os senhores da Universidade de Lisboa fogem da transparência como o Conde Drácula fugia da luz. Eu li a notícia na semana passada no site da Renascença e esperei até hoje por um desmentido oficial – nada. A Renascença baseou a sua notícia num grupo de alunos que confirmaram à rádio que as novas regras da instituição estabeleciam que cada aluno só teria acesso às suas notas individuais. Na notícia era também ouvido um jurista que discordava por completo dessa interpretação do regulamento. Mas ainda que concordasse: se a Universidade de Lisboa fosse gerida por homens livres em vez de mangas de alpaca muito atentos às novas modas internacionais (lá fora há já quem fale em “grade shaming”, e um grupo de estudantes tentou pressionar Cambridge para fazer aquilo que a Universidade de Lisboa agora acolhe com fervor) jamais poderia aceitar tal coisa. As pautas de avaliação públicas não existem para a Maria meter o nariz nas notas do Manel. Elas existem para a Maria e o Manel meterem o nariz nas notas do professor Farinho e verificar se estão a ser justamente tratados, ou se por acaso um é tratado mais socraticamente do que o outro. Chama-se a isto escrutínio. E há menos em Portugal do que linces na serra da Malcata. Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia – e onde a sensibilidade do aluno é mais importante do que a credibilidade da instituição. É isto a maior universidade portuguesa: protege quem não pode; esconde o que não deve.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens lei ajuda homem