Um grão das artes de Ângelo de Sousa à conquista da Europa
A Fundação Gulbenkian em Paris inaugura esta terça-feira a primeira exposição monográfica deste artista em França. Meia centena de obras a mostrar ao circuito internacional das artes a importância de um criador e experimentador obsessivo. (...)

Um grão das artes de Ângelo de Sousa à conquista da Europa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Fundação Gulbenkian em Paris inaugura esta terça-feira a primeira exposição monográfica deste artista em França. Meia centena de obras a mostrar ao circuito internacional das artes a importância de um criador e experimentador obsessivo.
TEXTO: A meio da semana passada, ultimavam-se os trabalhos de montagem da nova exposição da delegação da Gulbenkian em Paris, e no verso das telas podiam ler-se indicações expressas de Ângelo de Sousa (1938-2011) sobre o modo correcto da sua instalação. Só que, em algumas delas, o “boneco” tanto estava virado para cima como para baixo; e noutras ainda, a seta não corresponde ao sentido que o próprio artista lhes deu em mostras anteriores!…Era assim Ângelo de Sousa, para quem o humor e a ironia eram parte integrante da sua arte, além do seu carácter aberto, em permanente busca e experimentação. A Fundação Calouste Gulbenkian inaugura esta terça-feira na capital francesa aquela que é a primeira exposição individual neste país deste artista que é uma referência fundamental da arte portuguesa da segunda metade do século XX até à primeira década do novo milénio, mas que permanece desconhecido no resto do mundo. Tem por título Ângelo de Sousa. La couleur et le grain noir des choses [A cor e o grão negro das coisas], e como comissário Jacinto Lageira, português radicado na capital francesa desde criança, e que é professor de Estética na Universidade Paris 1 - Panthéon-Sorbonne, além de curador e crítico de arte. “Esta é uma pequena apresentação, de cerca de meia centena de trabalhos, de uma obra gigantesca e que está cheia de peças fantásticas, não só do ponto de vista da invenção e da imaginação, e que pode verdadeiramente ser comparada com aquilo que na mesma época se ia fazendo nos outros países da Europa”, diz Jacinto Lageira, lamentando o seu desconhecimento nos circuitos internacionais da arte. De facto, antes da presente chegada a Paris com esta mostra monográfica, só por escassas ocasiões Ângelo de Sousa teve trabalhos seus exibidos fora de Portugal – e foram sempre em colectivas de arte portuguesa –, desde que, em 1970, se apresentou com o grupo Os Quatro Vintes (com Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues), numa galeria também na capital francesa. E em 1975 foi distinguido com o Prémio Internacional da Bienal de São Paulo. Paris pode ser agora um ponto de partida para o reconhecimento de um autor que “merece visibilidade internacional como artista” e não apenas enquanto “uma manifestação do meio artístico português”, diz ao PÚBLICO Miguel Magalhães, o recém-nomeado director da delegação francesa da Gulbenkian. Anunciada na entrada da delegação da Gulbenkian – e também numa série de cartazes na estação de metro Concorde – com a reprodução de uma obra que parece uma secção do arco-íris e denota o persistente trabalho de pesquisa da cor por parte de Ângelo de Sousa, a exposição abre precisamente, ao cimo da escadaria de entrada, com um vídeo que reproduz a série Slides de cavalete (1977-79). “Representa pinturas que ele nunca fez, que projectou apenas num ecrã, representando formas geométricas e um aturado trabalho sobre a cor e a memória”, diz Jacinto Lageira na visita em que guiou o PÚBLICO pela exposição em final de montagem. A sala maior do primeiro piso da delegação dá espaço às grandes telas, e as mais conhecidas, com que Ângelo expressa essa sua obsessão pela cor, com destaque para as pinturas amarelas pertencentes à Colecção Gulbenkian (as outras obras tendo origem nas colecção de Serralves e do filho do artista, Miguel Sousa). “Não é pintura abstracta no sentido mais literal do conceito”, explica o curador, fazendo notar que “Ângelo ultrapassa a dicotomia tradicional real-abstracto”. “Ele é formal, mas não é um formalista; presta sempre uma grande atenção à materialidade do quadro, da cor, do pigmento, do pincel”, acrescenta. Mas antes das três salas centrais dominadas pelos grandes quadros, o visitante é convidado a “espreitar”, numa divisão mais pequena, uma primeira selecção de fotografia. É a série A mão, a cores (mas Ângelo cultivou-a também a preto-e-branco), que remonta aos anos 70, e que teve também desenvolvimentos em desenho, pintura e filme. “A mão como parte do corpo, como órgão, mas também como uma coisa no meio de outras coisas”, diz Lageira. No seguimento do percurso de La couleur et le grain noir des choses, três vitrinas dão a ver um conjunto das pequenas esculturas em alumínio e em aço pintado – a expressão mais notória desta vertente do trabalho do artista sendo a escultura monumental associada à arquitectura de Eduardo Souto de Moura do edifício Burgo, no Porto –, mas também as famosas “orelhas” criadas a partir de embalagens de iogurte distorcidas por efeito do calor. E a fotografia regressa na parte final da exposição, com a sucessão das séries Epifanias, O sensível e Os umanistas. “É o lado mais negro e inesperado do trabalho do Ângelo”, diz o curador perante as imagens chocantes das “epifanias”: uma sucessão de animais mortos e em decomposição. São “revelações” de um mundo imprevisto, em que as coisas e os fenómenos triviais do quotidiano são transformados em experiência estética. Uma démarche que Ângelo também estendeu à captação de imagens menos chocantes, mas igualmente, à partida, desprovidas de aura artística: uma parede, o chão da rua, uma corda de secar roupa, um cabelo…E chegamos aos “umanistas” – “Gosto muito da ideia dele de escrever sem o ‘h’, à italiana, retirando aquela ideia naïf do ‘humanismo’, com aquele sentido sempre muito irónico que ele colocava na sua arte”, diz Lageira –, uma pequena selecção feita a partir de mais de um milhar de fotografias a preto-e-branco de cenas do quotidiano na cidade do Porto, muitas delas captadas a partir da própria janela do artista: uma mulher dentro de casa, duas crianças a brincar na rua, homens a trabalhar, pessoas na paragem do eléctrico com parte de uma inscrição sobre as suas cabeças: “Os serviços funcionam provisoriamente na rua…”. “Não se trata de realismo ou de uma variante neo-realista da época”, escreve o comissário no roteiro que elaborou para o percurso da exposição. “É apenas porque nos interessa a humanidade do humano, num sentido quase antropológico – o que faz com que ele seja aquilo que é, do mesmo modo que as coisas são aquilo que são”, acrescenta. E Ângelo de Sousa estava lá para o registar, e reinventar. A exposição Ângelo de Sousa. La couleur et le grain noir des choses, que é acompanhada por um catálogo com textos de vários críticos e historiadores de arte, vai ficar patente até 16 de Abril. O que poderá acontecer depois de Paris? “Nunca se sabe; espero que a exposição seja uma descoberta, e que as galerias, francesas e europeias, peguem depois na sua obra”, diz Jacinto Lageira. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A operação Ângelo de Sousa em Paris vai prolongar-se, em Fevereiro, com a edição – e lançamento numa livraria da cidade, ainda a especificar – de uma parte da criação fotográfica do artista. Trata-se de uma caixa com oito cadernos de fotografia, com curadoria do professor e investigador Sérgio Mah, que documentam outros tantos capítulos, ou séries, que Ângelo foi desenvolvendo praticamente ao longo da sua vida, desde o final da década de 60 até à primeira década do ano 2000 – desde Os umanistas aos ensaios sobre a mão, dos auto-retratos aos Slides de cavalete, das janelas às procissões. . . Miguel Sousa, filho e responsável pela gestão da herança artística de Ângelo, explica ao PÚBLICO que o seu pai, já perto do final da vida, tinha manifestado o desejo de “editar sete livros de fotografia dedicados apenas ao tema Os umanistas”, e que gostaria que essa edição “fosse comissariada por Sérgio Mah”. O projecto é agora concretizado, com o patrocínio da Gulbenkian, mas tanto Sérgio Mah como Miguel Sousa decidiram abrir o leque da selecção às várias séries que Ângelo foi realizando ao longo de décadas. A nova edição vem assim acrescentar-se ao catálogo da exposição Encontros com as formas. Fotografia e vídeos, realizada pela Fundação EDP no Porto em 2014, e já também com curadoria de Sérgio Mah. Será mais uma nova oportunidade para desvendar o património de uma criação torrencial, que é constituído por mais de 80 mil imagens. O PÚBLICO viajou a convite da Fundação Calouste Gulbenkian - Delegação em França
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filho mulher negro criança corpo
Os Smashing Pumpkins regressados voltam a Portugal em Julho
Concerto no Nos Alive junta-se ao dos The Cure e Bon Iver para começar a construir o cartaz do festival. A banda que se destacou na década de 1990, agora sem a baixista D'Arcy, lançou um novo álbum, Shiny and Oh So Bright. (...)

Os Smashing Pumpkins regressados voltam a Portugal em Julho
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DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Concerto no Nos Alive junta-se ao dos The Cure e Bon Iver para começar a construir o cartaz do festival. A banda que se destacou na década de 1990, agora sem a baixista D'Arcy, lançou um novo álbum, Shiny and Oh So Bright.
TEXTO: Os Smashing Pumpkins, banda formada em Chicago em 1988, vão voltar para mais uma actuação em Portugal e no festival Nos Alive, desta feita no dia de encerramento do evento, a 13 de Julho do próximo ano. Fazem-no numa altura em que lançam um novo álbum depois de anos de hiato, Shiny and Oh So Bright. A banda liderada por Billy Corgan, que se estreou em Portugal num concerto na Praça de Touros de Cascais em Maio de 1996, já passou pelo Nos Alive em 2007, precisamente na edição inaugural do festival. Junta-se agora aos The Cure, o primeiro grande nome anunciado para a edição de 2019 (os britânicos actuam dia 11), parecendo reforçar a opção da organização por bandas consagradas das décadas de 1980 e 1990 como cabeças de cartaz. Nos últimos anos, o festival que decorre no Passeio Marítimo de Algés teve as suas maiores enchentes com nomes como Pearl Jam, Radiohead ou Depeche Mode, mas também noites cheias para os mais jovens The xx ou Alt-J. Billy Corgan, James Iha e Jimmy Chamberlin trarão consigo o novo disco, de nome completo Shiny and Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun. , mas vêm, depois de anos de disputa entre o vocalista e a baixista D'Arcy Wretzky, com Jeff Schroeder a substituí-la no alinhamento. O músico está com a banda desde 2007 (entrou na altura para substituir Iha). São apenas duas de várias mudanças na formação da banda, que esteve também alguns anos em pousio. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O seu segundo álbum, Siamese Dream, de 1993, foi passaporte para o sucesso nas rádios, precedendo o êxito mais global de Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995). Em Portugal, a banda passou também pelo Festival Imperial ao vivo (1997), pela Aula Magna de Lisboa (1998), pelos Coliseus de Lisboa e Porto, pelo Campo Pequeno (2011), e pelo Rock in Rio (2012). Os Smashing Pumpkins actuam no festival num dia em que já estava confirmada a presença dos Bon Iver.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo
Ilhéu das Rolas: no centro do mundo mora um cenário paradisíaco
O ilhéu das Rolas, a sul da ilha de São Tomé, é um pequeno pedaço de muito verde e praias de sonho cristalino. (...)

Ilhéu das Rolas: no centro do mundo mora um cenário paradisíaco
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DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O ilhéu das Rolas, a sul da ilha de São Tomé, é um pequeno pedaço de muito verde e praias de sonho cristalino.
TEXTO: Junto à ardósia da sala de aula, está pendurada uma composição dos alunos do 4. º ano. Intitula-se “a localidade”. No ilhéu das Rolas, escrevem as crianças, “vivem cerca de cento e cinquenta habitantes”, que se dedicam “à pesca, à pecuária e ao negócio”. Tem “as praias mais lindas do nosso país” e “um hotel que recebe muitos turistas”.
REFERÊNCIAS:
Desportos Pesca
Por que é que devíamos estar todos a ler o 1984?
É hoje muito mais importante para ler nas democracias do que nas ditaduras, porque o que ele diz para as democracias, para a defesa das democracias das investidas autocráticas dos dias de hoje, cada vez o sabemos menos. (...)

Por que é que devíamos estar todos a ler o 1984?
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DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: É hoje muito mais importante para ler nas democracias do que nas ditaduras, porque o que ele diz para as democracias, para a defesa das democracias das investidas autocráticas dos dias de hoje, cada vez o sabemos menos.
TEXTO: Poucos livros são tão importantes para os nossos dias do que o 1984, de George Orwell. É hoje muito mais importante para ler nas democracias do que nas ditaduras, porque o que ele diz sobre as ditaduras totalitárias já todos o sabemos (e o sabem os que lutam contra elas), mas o que diz para as democracias, para a defesa das democracias das investidas autocráticas dos dias de hoje, cada vez o sabemos menos. O reducionismo do 1984 a um panfleto antiestalinista, ou mais genericamente anticomunista, e o seu esquecimento como uma distopia datada de há já quase 25 anos são um erro e reduzem o património escasso de grandes obras literárias e políticas, de que precisamos, mais do que nunca, nos dias de hoje. Orwell percebeu o caminho para o mundo actual de fake news, de relativização da verdade e dos factos, da “verdade alternativa”, do tribalismo, do combate ao saber a favor da ignorância atrevida das redes sociais, da crise das mediações a favor de uma valorização da pressa, do tempo instantâneo, do fim do tempo lento, do silêncio, e da pseudopresença num mundo de comunicações vazias, ideal para o controlo afectivo, social e político. Orwell sabia que o Big Brother estaria feliz nos dias de hoje com o permanente ataque a toda a espécie de delegação de poder pelos procedimentos das democracias, ou pelas hierarquias da competência e do saber, a favor de um falso empowerment igualitário, que enfraquece os mais débeis, os mais incultos, e os mais pobres, mas dá mais poder aos poderosos, aos ricos, aos que estão colocados em lugares decisivos por nascimento, herança, ou amoralidade. Descreveu, pela primeira vez no 1984, o mundo da manipulação e geral degenerescência da linguagem, das palavras e das ideias. Um mundo onde quem manda reduz as palavras em circulação a uma linguagem gutural, a preto e branco, sem capacidade expressiva e criadora, mas também desprovida da capacidade de transportar raciocínios e argumentos lógicos, mas apenas banhar-nos em pathos. Ele escreveu uma distopia, nós vivemos nessa distopia. Uma das fontes do 1984 foi o conhecimento que tinha do totalitarismo comunista e em particular a sua experiência na Guerra Civil espanhola, que lhe serviu também para escrever Animal Farm. Mas a outra fonte importante do livro foi a sua experiência na BBC, na comunicação social em tempo de guerra e no papel que esta tinha na própria guerra como arma. Arma de propaganda, mas também arma de manipulação, através da chamada “propaganda negra” ou daquilo a que mais tarde os serviços soviéticos deram o nome de “desinformação”. Orwell conjugou estas duas fontes, de origem muito diversa, numa interpretação do valor da verdade, e da ideia de que quem controla as palavras controla as cabeças e o poder. A isto Orwell acrescentava algo que sabia estar ausente do mundo da ideologia, uma genuína compaixão pelos “danados da terra”, pelos que nada tinham, e é a eles que dá a capacidade de revolta: “If there is hope, it lies in the proles. ”Dois exemplos mostram a manipulação das palavras, que é hoje uma actividade especializada e lucrativa de agências de comunicação e publicidade, de assessores de imprensa e de outros amadores de feiticeiros na Internet, já para não falar dos serviços secretos: um, de há uma semana na América de Trump, o grande laboratório do Big Brother; e outro dos nossos anos do lixo, entre a troika e o Governo PSD-CDS. No primeiro caso, trata-se do interrogatório do candidato a juiz do Supremo Tribunal Ben Kavanaugh, em que as mesmas armas, espingardas de tiro automático ou semiautomático, são descritas como “armas de assalto” (“assault weapon”), pelos que defendem o seu controlo, ou como “espingardas de desporto modernas” (“modern sporting rifles”), como entendem os defensores da interpretação literal da Segunda Emenda, para quem o direito de ter, transportar e exibir armas é intangível. O exemplo português é um entre muitos dos anos do Governo da troika-PSD-CDS, que começam a ser perigosamente esquecidos. Quando começaram os cortes em salários, pensões, reformas, despesas sociais, durante dois ou três dias, mesmo os membros do Governo usavam a expressão verdadeira de “cortes”. Depois, de um dia para o outro, e de forma concertada, deixaram de falar de “cortes” para falar em “poupanças”. O mais grave é que, como no mundo do Big Brother, a expressão começou a impregnar a linguagem comum, a começar pela da comunicação social, que nesses dias e nalguns casos até hoje mostrou uma especial capacidade de ser manipulada pelo “economês”. Leia-se pois o 1984, ou “releia-se”, que é a forma politicamente correcta de se dizer que se leu sem se ter lido, até porque é um livro que não engana ninguém logo à primeira frase: “Era um dia de Abril, frio e cheio de sol, e os relógios batiam as treze horas. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Ilha de Jaco: quando o sagrado se junta a estradas esburacadas
A leitora Ana Vargas partilha a sua experiência por Timor-Leste. (...)

Ilha de Jaco: quando o sagrado se junta a estradas esburacadas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A leitora Ana Vargas partilha a sua experiência por Timor-Leste.
TEXTO: Este ano, as férias foram passadas em Timor-Leste. Uma viagem em família há muito sonhada e até agora adiada. Como seria impossível conhecer o país todo, elegemos alguns locais que, para nós, eram visita obrigatória, entre eles a ilha de Jaco. Saímos de Díli no dia seguinte ao da nossa chegada, a conduzirmos um carro com o volante à direita e mudanças automáticas. Tudo diferente do que estamos habituados, pelo que, concentrados na condução, ignorámos os avisos de que a estrada estava em mau estado. Baucau fica a pouco mais de 120 quilómetros de Díli, contudo, demorámos cerca de quatro horas a chegar. A estrada era pior do que esperávamos, estreita e cheia de buracos. Motas e microletes (camionetas de transporte de passageiros) passavam por nós a velocidades que nos pareciam vertiginosas. Nas motos seguem famílias inteiras. O pai, que conduz, uma criança à frente e outra entalada entre o pai e a mãe, esta, por vezes, montada à amazona. Não conseguimos deixar de nos surpreender com a decoração das microletes, com representações diversas, desde as Spice Girls a Jesus Cristo. Por vezes, no topo seguem passageiros e malas e, mais raramente, cabritos. A cada curva ou solavanco tememos que caiam e aterrem na estrada à nossa frente, mas voltam sempre a equilibrar-se. Revezamo-nos ao volante do carro e os outros passageiros vão assinalando os obstáculos: buraco, berma, mota, pedras, galo, cão, búfalo…Chegamos a Baucau, almoçamos no restaurante Amália e retomamos a viagem. O nosso guia avisa-nos que a distância agora é menor, embora a estrada esteja em pior estado. Custa-nos a acreditar, mas é verdade. Quando chegamos à Pousada de Tutuala já está escuro. Estamos tão cansados que jantamos e vamos dormir. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No outro dia, acordamos cedo e, quando saímos dos quartos, sustemos a respiração com a vista: a pousada está situada num promontório e, à volta, estende-se o mar enquadrado por encostas verdejantes. O jardim tem várias árvores por onde passeiam pequenos macacos. A custo partimos. A distância agora é bastante mais curta e a estrada, em terra batida, faz-se bem. Chegamos à frente da ilha de Jaco, onde pescadores aguardam os visitantes. Peixes de vários tamanhos e cores estão pendurados nas árvores. Escolhemos dois, um vermelho e outro a lembrar um robalo, e logo depois somos levados por um dos pescadores à ilha de Jaco. Um estreito canal separa Timor desta ilha que parece terminar num extenso areal branco que circunda o centro, de um verde luxuriante. Somos as primeiras pessoas a lá chegar. Ao longo do dia os pescadores trarão outras pessoas, pequenos grupos que se dispersam ao longo do areal. A areia é muito fina e a água é azul opala, transparente e morna. Quando mergulhamos, vemos corais e peixes de várias cores e tamanhos. Por volta do meio-dia, o pescador regressa. Traz os dois peixes grelhados, temperados apenas com sal e pousados em folhas de palmeira sobre um rectângulo de plástico. Comemos os peixes com as mãos, acompanhados por pão e água que tínhamos trazido. O sol queima. Procuramos a sombra das árvores, mas o calor aperta. Mergulhamos e voltamos a surpreender-nos com a cor dos peixes e a forma dos corais. A meio da tarde, os pescadores regressam para levar as pessoas de volta. É com pena que percebemos que o dia está a acabar e que temos de regressar. Sabemos que é a mistura da estrada esburacada, do carácter sagrado e da proibição de pernoita na ilha que a mantém deserta e selvagem. Única. Esperamos um dia lá voltar e encontrá-la assim. Ana Vargas
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Terapias alternativas, actividades inclusivas
A APPACDM Gaia promove, diariamente, a melhoria das condições de vida de centenas de pessoas com necessidades especiais. Muitas vezes, conquistar um resultado pode ser ver um sorriso num rosto. (...)

Terapias alternativas, actividades inclusivas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A APPACDM Gaia promove, diariamente, a melhoria das condições de vida de centenas de pessoas com necessidades especiais. Muitas vezes, conquistar um resultado pode ser ver um sorriso num rosto.
TEXTO: “Há 46 anos a cultivar sorrisos”. O núcleo de Vila Nova de Gaia da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) dá apoio directo a cerca de 180 utentes com problemas de saúde mental e apoio indirecto a mais de 400 pessoas no concelho. Em estreita colaboração com o Município, a APPACDM é, também, responsável pela dinamização de algumas terapias alternativas que estimulam física e intelectualmente crianças e adultos com necessidades especiais. Com três centros no concelho, dois dos quais lares residenciais, a APPACDM de Gaia conta com uma equipa de 105 funcionários efectivos a trabalhar, diariamente, para proporcionar melhores condições de vida a estes “jovens”. “Jovens”, é assim que Joaquim Queirós, presidente da instituição, ternamente se refere aos utentes: “para nós, são todos jovens, alguns com mais de 60 anos”. Para esta IPSS, tal como para todas, as sinergias são fundamentais. Especialmente nos casos dos utentes com patologias que impedem uma maior autonomia no dia-a-dia, todos os apoios são bem-vindos. Para as famílias, é essencial poderem contar com técnicos especializados. Para os “jovens” utentes da APPACDM, todas as actividades que lhes proporcionem melhores condições de vida e uma melhor integração na sociedade são fundamentais. “Temos o ‘know how’ necessário e os nossos técnicos, melhor do que ninguém, sabem o que deve ser feito”, assegura Joaquim Queirós, há mais de 18 anos na instituição e desde o início de 2015 enquanto presidente da direcção. Sobre este acompanhamento contínuo e essencial à vida destas pessoas, Joaquim Queirós destaca dois programas implementados em colaboração com a Câmara Municipal de Gaia: a integração de utentes em Centros de Actividades Ocupacionais e as iniciativas no âmbito do Gaia Aprende+(i). “Há quase 30 anos que, em parceria com o Município, temos utentes integrados nos chamados CAO socialmente úteis. No Parque Biológico de Gaia, temos cerca de 20 pessoas com deficiências não severas que têm capacidades para desenvolver determinado tipo de actividades”, afirma. Sobre o Gaia Aprende+(i), destaca, desde logo, o facto de ser direccionado para crianças tão novas. Com o propósito de promover a igualdade de oportunidades, independentemente da condição física e intelectual das crianças, o programa inédito, criado pela Câmara Municipal de Gaia com o apoio das IPSS do concelho, proporciona actividades únicas a cerca de 300 crianças com necessidades educativas especiais (NEE). Engloba actividades como a cinoterapia e a hipoterapia - terapias assistidas por animais - além do Karaté adaptado e da hidroterapia. Desde 2016 que a APPACDM dá apoio a algumas dessas actividades e assegura a dinamização dos períodos não lectivos no âmbito deste programa. O repto veio directamente do presidente da Câmara, que desafiou a instituição, como recorda Joaquim Queirós, a “tirar os miúdos com NEE das salas de ensino regular e desenvolver com eles outro tipo de actividades, mais úteis para a vida deles”. São os auxiliares da APPACDM que acompanham a hidroterapia, a hipoterapia e o karaté adaptado, por exemplo. Sobre os maiores desafios para a instituição, o presidente da APPACDM de Gaia não hesita quando refere a capacidade de adaptação e de inovação, independentemente da idade e do grau de incapacidade. “O que parece um passinho de pardal, o sorriso de um jovem no fim de uma actividade, é sinal de que realmente temos resultados”, refere Joaquim Queirós. Sobre terapias diferentes e com este tipo de resultados imediatamente visíveis, o Snoezelen despertou-nos especial curiosidade. Fomos espreitar uma sessão mas não sem antes o responsável nos alertar para o facto de a APPACDM contar com esta actividade há mais de quinze anos. “Na altura, era realmente inovador mas as nossas terapeutas são sempre dinâmicas e os utentes adoram o Snoezelen”, recorda. Estimular os sentidos através de sons, luzes, texturas e suaves vibrações. Assim funciona uma sessão de Snoezelen. Esta técnica de relaxamento combina estímulos sensoriais através de alguns equipamentos mas recria, essencialmente, um ambiente calmo, onde o paciente se “desliga” do exterior e se concentra nos sentidos. Com efeitos transversais a todo o tipo de pessoas, com ou sem patologias, é muito utilizada em pacientes com paralisias profundas, doenças mentais ou distúrbios de comportamento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sofia Pinho, terapeuta ocupacional e responsável pelas sessões de Snoezelen na APPACDM de Gaia, começa por esclarecer que, muitas vezes, há patologias semelhantes com défices diferentes: “Cada patologia é uma patologia, cada défice é um défice e, por isso surgem diferentes estímulos e diferentes formas de aplicá-los”. É um trabalho feito individualmente, de acordo com as características de cada utente. Joana (nome fictício) tem uma deficiência intelectual moderada que a impede de comunicar verbalmente. Nas sessões de Snoezelen trabalha a interacção com o outro e a comunicação não verbal através dos estímulos multi-sensoriais. “Para nós, é uma terapia mas para eles não”, assegura a terapeuta. Nas primeiras sessões, são apresentados os diferentes materiais e o utente é convidado a escolher e a interagir. Trabalham-se emoções e conquista-se auto-estima e auto-controlo. No final, de dentro da sala para fora da sala saem. . . sorrisos. E esses sorrisos espelham pequenas conquistas no dia-a-dia destas pessoas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave igualdade
A propósito da polémica das beatas
É necessária uma lei para que deixe de ser “normal” atirar beatas para o chão? Então, que venha a lei. Ou queremos antes continuar a discutir se temos o direito de mandar as beatas para o chão? (...)

A propósito da polémica das beatas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: É necessária uma lei para que deixe de ser “normal” atirar beatas para o chão? Então, que venha a lei. Ou queremos antes continuar a discutir se temos o direito de mandar as beatas para o chão?
TEXTO: A sentença está traçada e a confusão instalada. Depois dos sacos de plástico, dos pratos e talheres de plástico e das palhinhas, vamos eliminar as beatas dos cigarros. O próximo alvo do plástico está seleccionado e os fumadores portugueses não vão sair ilesos. Dentro de sensivelmente um ano vamos ser proibidos de deitar beatas para o chão e multados se não cumprirmos a lei que está prestes a ser aprovada. Haverá uma distribuição em massa de cinzeiros portáteis e, por todo o lado, teremos cinzeiros permanentes disponibilizados por empresas de comércio, transportes públicos, hotelaria, alojamento local e instituições de ensino superior. A origem do problema é esta: cerca de 90% dos mais de 5, 6 mil biliões de cigarros fabricados anualmente em todo o mundo têm filtros feitos de acetato de celulose, um derivado do plástico que pode demorar entre cinco a 15 anos para se decompor. Anualmente, mais de dois terços destes filtros são descartados de forma irresponsável. Em Portugal, dizem, atiramos cerca de 7000 beatas para o chão a cada minuto que passa. Porquê? Por irresponsabilidade, desconhecimento, apatia, desinteresse, rebeldia ou outros motivos. Os estudos evidenciam que deitar a beata no chão é, para muitos, o momento final do ritual de fumar um cigarro. No entanto, as beatas que deitamos no chão acabam por cair nas sarjetas e, através dos esgotos, chegam aos rios e oceanos. São, há mais de 30 anos, o maior contaminador plástico dos oceanos e das praias. Uma vez na água, flutuam e são consumidos por peixes e aves marinhas ou dissolvem-se e libertam os poluentes que absorveram do tabaco — nicotina, arsénio e chumbo. Uma beata pode contaminar aproximadamente 7, 5 litros de água numa hora, água esta que é a base do ecossistema marinho. O impacto das beatas e de todos os outros plásticos encontrados no oceano tem sido subestimado, mas recentemente um estudo do Laboratório Plymouth Marine de Inglaterra abordou três benefícios críticos que os oceanos nos proporcionam e que nem sempre temos consciência: a provisão de comida, o património e o turismo. Vejamos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A produtividade, viabilidade, rentabilidade e segurança das indústrias da pesca e da aquicultura são altamente vulneráveis ao impacto do plástico marinho, o que conduzirá à diminuição da disponibilização de comida proveniente do mar. A ingestão dos microplásticos pelas baleias, cachalotes, tartarugas, ursos polares ou aves marinhas levarão à diminuição da reprodução e aumento da mortalidade destes carismáticos animais que têm elevado valor patrimonial e emocional para as pessoas. A abundância de plástico nas costas e nos oceanos vai fazer com que os turistas deixem de visitar os locais mais afectados e de praticar actividades recreativas, o que levará à perda da receita turística. São só e apenas três razões sistémicas para acabar com as beatas no chão. Devemos banir os cigarros com filtro? Eliminar as substâncias químicas das beatas? Equacionar filtros biodegradáveis? Orgânicos? Comestíveis? Com pouca pressão social, a indústria tabaqueira tem sido lenta a responder a estas questões, mas agora, com as beatas diabolizadas vai ter de encontrar soluções mais céleres. Para evitar multas que podem ir de 200 a 4000 euros, os fumadores terão que conseguir desenvolver uma capacidade sobre-humana para mudar de hábitos. O acto de dar a última passa, inalar a nicotina que falta, deitar a beata para o chão e pisá-la tem os dias contados. É necessária uma lei para que deixe de ser “normal” atirar beatas para o chão? Então, que venha a lei. Ou queremos antes continuar a discutir se temos o direito de mandar as beatas para o chão?
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei social estudo aves
Os dois Vítores, Gaspar e Constâncio, vão ter de responder a páginas e páginas de questões
Estas são as questões dos grupos parlamentares do PS, do BE e do PCP na Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do banco. (...)

Os dois Vítores, Gaspar e Constâncio, vão ter de responder a páginas e páginas de questões
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estas são as questões dos grupos parlamentares do PS, do BE e do PCP na Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do banco.
TEXTO: “Enquanto responsável pela supervisão, percebeu que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) se encontrava subcapitalizada? Em caso de resposta afirmativa, quando e a quem reportou tais necessidades de capital?” Esta é para Vítor Constâncio, mas Vítor Gaspar também tem interrogações à sua espera: “É verdade que, como ministro das Finanças, apoiou a posição da troika de que um aumento de capital da CGD devia ser considerado uma ajuda de Estado? Sendo assim, porque tomou esta posição, sabendo que iria aumentar a dificuldade da operação e limitar as opções de gestão da própria administração da CGD?”São páginas e páginas de perguntas às quais Vítor Gaspar, e o ex-Governador do Banco de Portugal, vão ter de responder. Estas são pelo menos as questões levantadas pelos grupos parlamentares do PS, do BE e do PCP na Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do banco. Entre muitas outras perguntas, o PS quer que Constâncio clarifique se o Banco de Portugal “requereu alguma auditoria específica à CGD” e, se sim, quais as conclusões. Também os comunistas querem que o ex-Governador diga, e vai fazê-lo por escrito, se acompanhou “alguns dos negócios mais ruinosos do banco público: Espanha, Vale de Lobo, Pescanova, Cimpor” e o que fez na altura para os impedir. Os esclarecimentos exigidos pelo PCP não se ficam por aqui: “Sabia que o XIX Governo avançou com a capitalização da CGD através de um empréstimo obrigacionista com títulos convertíveis em capital, no valor de 900 milhões de euros? Não lhe parece que houve um objectivo claro de posteriormente se privatizar uma parte do capital da CGD?”E Constâncio tem ainda pela frente muitas folhas com questões do BE: “Qual foi a participação do Banco de Portugal na concepção do plano que resultou na divisão dos activos do Grupo Champalimaud pelo Santander, pelo BCP e pela CGD?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Vítor Gaspar não terá de enfrentar menos interrogações. O PS quer saber: “A posição que então assumiu perante a necessidade de aumentar o capital da CGD foi de alguma forma determinada ou influenciada por considerar que esta instituição devia ser total ou parcialmente privatizada?” Ou: “A troika transmitiu-lhe a posição de que a CGD devia ser privatizada e não absorver fundos públicos?”, “Recebia com regularidade informação sobre a situação da CGD? Foram elas que o levaram a nomear um novo presidente para esta instituição?”Também o PCP quer saber se havia intenção do anterior Governo de privatizar parte do capital da CGD. E faltam ainda pontos pouco claros para o BE: “O processo de recapitalização de 2012 foi utilizado pelo Governo como pretexto para cumprir o programa eleitoral do PSD?”Faltam ainda algumas envolvendo a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, como saber por que razão não optou por uma recapitalização mais folgada. E a pergunta política: “Considerando que em 2011 Portugal estava a viver uma crise sem precedentes não seria de esperar uma actuação mais conservadora e cautelosa que mantivesse uma almofada de segurança para qualquer eventualidade ou para a não concretização dos cenários macroeconómicos ultra-optimistas como os que sustentaram o plano de recapitalização?”
REFERÊNCIAS:
“A gastronomia teve sorte por Bourdain ter escolhido este mundo. Podia ter escolhido qualquer arte”
Até a nona. O comentário de José Avillez resume o debate que incluiu Miguel Pires e João Wengorovius no lançamento de duas novelas gráficas de Anthony Bourdain, repletas de sátira e violência gastronómicas em edição da Levoir com o jornal PÚBLICO. (...)

“A gastronomia teve sorte por Bourdain ter escolhido este mundo. Podia ter escolhido qualquer arte”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.333
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Até a nona. O comentário de José Avillez resume o debate que incluiu Miguel Pires e João Wengorovius no lançamento de duas novelas gráficas de Anthony Bourdain, repletas de sátira e violência gastronómicas em edição da Levoir com o jornal PÚBLICO.
TEXTO: Foi cozinheiro, escritor, viajante, celebrizou-se como apresentador radical de programas de gastronomia, entre bad boy e rock star como se lê muitas vezes. Mas Anthony Bourdain, que morreu faz dia 8 de Junho um ano, fez mais, mesmo sem sair das cozinhas do mundo: foi co-autor de novelas gráficas, incluindo duas onde o (anti-)herói é Jiro, um renegado chef de sushi capaz de matar se alguém lhe pedir um rolo Califórnia ou mergulhar o sushi em soja e wasabi (ele corta mesmo cabeças, CHOK!). “Sátira”, “violência” e “excesso”, como se ouviu esta quinta-feira no auditório do jornal PÚBLICO, numa conversa que marcou o lançamento de Get Giro! Todos Querem Apanhar o Jiro! e Get Giro – Sangue e Suhi. “Ele apanhou muito bem a sátira, entre outros exageros por aqui”, dizia João Wengorovius – autor do livro We, Chefs em que entrevista e come com 21 grandes chefs do mundo –, ao lado de José Avillez, que não evitou um sorriso ao ouvir o comentário do terceiro participante, o jornalista e crítico gastronómico Miguel Pires, à abordagem satíricas das novelas de um “certo histerismo” da “cultura de ir ao restaurante que toda a gente quer ir”. Tal como nas novelas gráficas co-assinadas por Bourdain, não faltou sátira e bom-humor à conversa, até um outro personagem invisível, Henrique Sá Pessoa (com quem Avillez andou a passear com o apresentador por Lisboa e a partilhar pregos na cervejaria Ramiro) – o chef do Alma teve que cancelar a participação no último momento mas, se este artigo fosse um manga, ver-se-ia agora aqui com as orelhas a arder, já que os participantes fizeram questão de integrá-lo na conversa e não lhe pouparam uma ou outra simpática farpa. Com um público atento, o diálogo foi-se desenhando entre as memórias das passagens de Bourdain por Portugal – esteve cá por três vezes, a mais célebre a tal passagem por Lisboa –, a sua vida e carreira e, claro, estas criações gráficas nas quais o apresentador de Não Aceitamos Reservas ou Viagem ao Desconhecido (o programa de viagens gastronómicas que estava a fazer quando morreu) tinha manifesto orgulho. “Chegou a sonhar ser artista de banda desenhada, descrevendo estes livros como o ‘seu primeiro amor’”, lembra Catarina Lamelas Moura no prefácio ao primeiro livro. “A gastronomia teve sorte por Bourdain ter escolhido este mundo. Podia ter escolhido qualquer arte”, diria, a dado ponto, Avillez. Ninguém o contradisse, mas o ponto assente foi que Bourdain, que como chef não se distinguiu particularmente, sublinharia Miguel Pires, era, isso sim, dono de uma arte maior, a da “empatia, de conhecer o outro”, nas palavras de Wengorovius. Era, acima de tudo, “um grande comunicador”, “um grande contador de histórias”, reforçaria Avillez. Fosse na tv, nos livros ou nas novelas gráficas (escreveria outra, com histórias de horror japonesas, Hungry Ghosts – i. e. , fantasmas esfomeados…). “Ele revolucionou a forma de mostrar as gastronomias do mundo”, “como as pessoas comem”, “sem andar à procura do postalinho”, ressaltaria Pires, salientando o aspecto sócio-cultural dos seus programas: era sempre “um comunicador” sem render-se só “ao sentido técnico”, fosse no Japão ou a “comer uma bifana cheia de molhanga”. Da sua convivência com Anthony Bourdain em Portugal, Avillez lembrou “uma pessoa muito reservada”, “muito disciplinada”. E que não era apenas aquele famoso bad boy. Bom exemplo: “fomos ao Mar da Palha pescar e ele estava preocupado com os seus sapatos de camurça”. Cada um com as suas manias, curiosas, no caso, vindas do homem que, além de ter sido chef do restaurante do português José Meirelles em Nova Iorque (Les Halles), muito contou dos meandros da alta (e baixa) cozinha. Foi assim que nasceu o livro Kitchen Confidential e, provavelmente, como aposta Wengorovius, também muitas destas personagens e histórias das novelas gráficas foram beber a “vivências” e “conhecimentos” de Bourdain. E ainda atira: “Ele andava a provar o mundo. Provar o mundo é uma lição de vida”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Get Giro! Todos Querem Apanhar o Jiro! e Get Giro – Sangue e Sushi (este último é, na verdade, uma prequela) foram co-assinados por Bourdain e Joel Rose (um amigo do apresentador e autor da DC Comics, editora inicial da saga), contando com desenho de Alé Garza no primeiro e de Langdon Foss no segundo. A história inicial acompanha o cozinheiro numa Los Angeles do futuro obcecada até à medula por comida, a prequela mostra as origens do chef entre o pai, membro da máfia Yakuza, e a paixão pela gastronomia japonesa. A partir de sábado estão disponíveis novas edições, distribuídas com o jornal PÚBLICO e foram estas edições que alguns dos presentes no lançamento aproveitaram para espreitar, prancha a prancha. No final, houve sushi para todos. Rolos Califórnia não havia. Aproveitámos todos para mergulhar tudo no molho de soja que vinha a acompanhar. Não apareceu nenhum Jiro para nos cortar a cabeça.
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Palavras-chave violência cultura homem
A série Chernobyl causou um boom turístico na central nuclear
Desde que a série estreou, o número de turistas não pára de aumentar na zona do maior acidente nuclear de sempre. (...)

A série Chernobyl causou um boom turístico na central nuclear
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde que a série estreou, o número de turistas não pára de aumentar na zona do maior acidente nuclear de sempre.
TEXTO: O sucesso da minissérie norte-americana Chernobyl, que chegou aos ecrãs em Maio, tem levado a um aumento do número de turistas na zona da central nuclear onde há 33 anos ocorreu o desastre que assustou o mundo. Os turistas chegam desejosos de verem por si mesmos a central e a cidade-fantasma abandonada. Segundo reporta a Reuters, as agências que organizam viagens da capital da Ucrânia, Kiev, a Tchernobil, indicam um aumento entre 30 a 40% na procura, com muita gente a evocar os cenários da série produzida pela HBO e que em Portugal pode ser vista no serviço de streaming da HBO Portugal. Os passeios guiados, em inglês, custam cerca de 90 euros por pessoa. O acidente, na então Ucrânia soviética, foi desencadeado por um falhado teste de segurança no reactor 4 da central nuclear. Seguiram-se nuvens de resíduos radioactivos que se propagaram por boa parte da Europa. A série da HBO acompanha o período posterior à explosão, a grande operação de limpeza e a investigação que se seguiu. A área em redor da central mantém a sensação de um cenário desolado pós-apocalíptico, onde deambulam cães vadios e raposas e a vegetação cresce ocupando os edifícios abandonados e sem janelas, repletos de entulho. Em Pripyat, a cidade-fantasma que outrora foi a casa de 50 mil pessoas que, na sua maioria, trabalhavam na central, um parque de diversões alberga um carrossel e uma pista de carrinhos de choque enferrujados, além de uma roda-gigante que nunca chegou a funcionar. Sergiy Ivanchuk, gerente da agência SoloEast, disse à Reuters que a empresa já sentiu um aumento do número de turistas em 30% em Maio, em comparação com o mesmo mês no ano passado. As reservas para Junho, Julho e Agosto aumentaram cerca de 40% desde que a HBO começou a emitir a série, referiu. Valores similares são referidos por Yaroslav Yemelianenko, gerente da Chernobyl Tour. Os turistas fazem visitas de um dia, onde podem ver os monumentos às vítimas e as aldeias abandonadas. Pelo meio, almoçam no único restaurante na cidade. São levados a ver o reactor número 4, que desde 2017 está coberto por uma grande cúpula de metal que atinge 105m de altura e cobre o núcleo central da explosão. O dia termina com um passeio por Pripyat. “Muita gente faz perguntas sobre a série, sobre todos os acontecimentos. As pessoas estão a ficar cada vez mais curiosas”, diz a guia Viktoria Brozhko, que assegura que a área é segura para os visitantes. “Durante toda a visita à zona de exclusão de Chernobyl, recebem-se cerca de dois microsievert [o sievert é a unidade de medida de radiação usada para avaliação do impacto no ser humano], o que é igual à quantidade de radiação a que uma pessoa se expõe se ficar em casa durante 24h”, defende. Quando Craig Mazin, o criador da minissérie Chernobyl, veio visitar o local antes de escrever o argumento, comentou a experiência: “Não sou um homem religioso, mas isto foi o mais religioso que alguma vez senti”. “Andar por onde eles andaram pareceu-me tão estranho, e também estar sob o mesmo céu faz-nos sentir um pouco mais próximos, de certo modo, de quem eles eram”, disse num podcast da HBO. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Não se pode vir a Kiev e deixar passar a oportunidade de ver este local único”, opina Gareth Burrows, uma enfermeira de 39 anos do sul da Inglaterra. “Só vimos a série porque já tínhamos planeado vir, mas acho que o turismo vai aumentar por causa dela. Definitivamente, vai aumentar o interesse”. Thieme Bosman, um estudante de 18 anos da Holanda, aponta um lado negativo do aumento do turismo. "Já há muitos turistas aqui e isso acaba um pouco com a experiência de estar numa cidade completamente abandonada. Por isso acho que se vierem mais e mais turistas que isso vai arruinar por completo a experiência”, concluiu.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave exclusão homem cães