Maior extinção da história da Terra aconteceu devido às alterações climáticas
O estudo divulgado pela revista Science revela que a extinção em massa que ocorreu há 252 milhões de anos foi causada pelo aquecimento global. 96% das espécies marinhas foram exterminadas. (...)

Maior extinção da história da Terra aconteceu devido às alterações climáticas
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DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: O estudo divulgado pela revista Science revela que a extinção em massa que ocorreu há 252 milhões de anos foi causada pelo aquecimento global. 96% das espécies marinhas foram exterminadas.
TEXTO: A maior extinção da história na Terra, que marcou o fim do período permiano, há cerca de 252 milhões de anos, foi causada por alterações climáticas, indica uma investigação divulgada na edição desta sexta-feira da revista Science. A extinção no final do permiano, no fim da era paleozóica e muito antes dos dinossauros, aconteceu quando o planeta estava repleto de plantas e animais, que foram praticamente extintos. Fósseis em rochas no leito dos mares mostram um ecossistema marinho diversificado e próspero, seguido de uma faixa de cadáveres. Cerca de 96% das espécies marinhas foram exterminadas, sendo necessários milhões de anos para a vida se multiplicar e diversificar de novo. Até agora têm sido debatidos os motivos que tornaram os oceanos inóspitos, se o aumento da acidez, se o envenenamento dos mares, se a falta de oxigénio ou se o aumento das temperaturas. A nova pesquisa agora divulgada, das universidades de Washington e de Stanford, nos Estados Unidos da América, combinando modelos das condições oceânicas e do metabolismo animal, com dados laboratoriais e registos paleoceanográficos, indica que a extinção em massa nos oceanos foi causada pelo aquecimento global, deixando os animais sem possibilidade de respirar. O estudo, publicado na edição de hoje da revista científica Science, explica que à medida que as temperaturas aumentavam e o metabolismo dos animais acelerava as águas mais quentes não podiam conter oxigénio suficiente para que sobrevivessem. "Esta é a primeira vez que temos uma previsão mecanicista sobre o que causou a extinção, que pode ser directamente testada com os registos fósseis, o que nos permite fazer previsões sobre as causas de uma extinção no futuro", disse o principal autor da investigação, Justin Penn. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os investigadores criaram um modelo climático com a configuração da Terra no período permiano e dizem que antes das erupções vulcânicas na Sibéria criarem um planeta de gases com efeito de estufa os oceanos tinham temperaturas e níveis de oxigénio semelhantes aos de hoje. O passo seguinte foi aumentar os gases com efeito de estufa a um nível que as temperaturas dos oceanos também subissem e quando tal aconteceu os oceanos, no modelo, perderam 80% do oxigénio, com as zonas mais profundas a ficarem mesmo sem nenhum oxigénio. Dizem os especialistas que a tolerância dos animais de hoje a altas temperaturas e baixo oxigénio será semelhante à dos animais do período permiano, já que evoluírem em condições ambientais semelhantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo extinção animal
Galopim de Carvalho alerta que bloco na Praia Grande ameaça ruir. Câmara de Sintra diz que não há perigo
António Galopim de Carvalho avisou que um bloco na vertente de pegadas de dinossauros da Praia Grande ameaçava ruir e pediu uma avaliação. Um geólogo da Câmara de Sintra já fez a avaliação e diz que não há motivo para encerrar o percurso por falta de segurança. (...)

Galopim de Carvalho alerta que bloco na Praia Grande ameaça ruir. Câmara de Sintra diz que não há perigo
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DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: António Galopim de Carvalho avisou que um bloco na vertente de pegadas de dinossauros da Praia Grande ameaçava ruir e pediu uma avaliação. Um geólogo da Câmara de Sintra já fez a avaliação e diz que não há motivo para encerrar o percurso por falta de segurança.
TEXTO: Na semana passada, o geólogo António Galopim de Carvalho alertou que um bloco na vertente das pegadas de dinossauros da Praia Grande (em Colares, Sintra) ameaçava ruir, pondo assim em risco o acesso ao areal. Na última quinta-feira, um técnico da Câmara Municipal de Sintra avaliou a estabilidade da vertente e – no parecer que elaborou depois da visita ao local – refere-se que não há fundamento para encerrar o percurso ou acesso por falta de segurança. “Fizeram uma escadaria nova e, em frente a umas pegadas, há um patamar onde as pessoas param para ver, mas na escarpa está um pedaço de camada que já está solto, com ar de estar desprendido do resto, que com uma chuvada forte pode cair”, descrevia (e alertava) António Galopim de Carvalho, citado pela agência Lusa. O professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, de 87 anos, visitou com alunos e professores da Escola Básica da Sarrazola (Colares) a jazida de pegadas de dinossauros da Praia Grande e ficou “com o coração ao pé da boca”, como afirmava ainda o geólogo num texto enviado à imprensa. “Estive lá com um grupo de crianças e, naqueles cinco ou dez minutos, só para explicar, estava preocupado e enquanto não corri com as crianças dali para fora não descansei”, contou o antigo director do então Museu Nacional de História Natural. No texto – também publicado no blogue De Rerum Natura, de divulgação científica –, o geólogo alertou que “uma parte da camada de calcário (sobrejacente à que contém as pegadas), com perto de uma dezena de toneladas, está prestes a ruir”. António Galopim de Carvalho avisava para a possibilidade de ser precisamente sobre as cabeças de quem estiver no pequeno patamar, existente na escadaria de acesso à praia pelo lado de Almoçageme, que irá cair, “a qualquer momento, a dita porção de rocha”. Em declarações à Lusa, o geólogo defendeu ainda a realização de uma avaliação pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que possui técnicos especializados “na consolidação das vertentes”, destaca. “Aquilo devia ser visto por alguém com capacidade de dizer o que ali se pode fazer. Estou convencido de que quem lá for vai dizer que tem de ser desmontado, tem de ser retirado, porque não tem conserto”, advogou Galopim de Carvalho. O geólogo admitiu que existem casos de consolidação de blocos, mas este “não tem dimensão para suportar uma intervenção dessas”, dado o peso provável de “seis ou dez toneladas. ” E adiantou: “A camada que está para cair está por cima da camada que tem as pegadas. ”O bloco que ameaça ruir não tem pegadas, enquanto a camada de baixo exibe pegadas de um dinossauro carnívoro, revelou o geólogo. Recordou ainda que, há mais de 15 anos, um técnico do LNEC, Laranjeira Gomes Coelho, deu conhecimento ao Parque Natural de Sintra-Cascais e à Câmara de Sintra do risco de queda de blocos, mas nada se fez e, “no Inverno seguinte, parte da camada caiu e a escada esteve interrompida com toneladas de pedra durante anos”, conta. “A câmara mandou limpar aquilo e construiu um corrimão muito sólido, que torna a subida das escadas segura, só que as camadas continuam desprotegidas superiormente e, sempre que chove, a água entra nas fendas entre camadas, nas chamadas superfícies de estratificação, e elas têm tendência a escorregar e a cair”, frisou. Perante este cenário, o investigador apontou a necessidade de intervir no topo da arriba, uma vez que para “preservar as pegadas mais 30, 40 ou 100 anos, elas têm de ser forçosamente protegidas por cima”. E reitera: “A saída daquele bloco deve deixar ver mais uma ou duas pegadas da camada de baixo, porque a camada que tem pegadas não está para cair para já. ”No percurso pedonal das pegadas de dinossauros, na estrada entre Almoçageme e a Praia Grande, como a Lusa constatou, permanecem duas placas com avisos de risco de “queda de blocos” e de “acesso condicionado”, aconselhando-se para que “o número de observadores no trilho não exceda as dez pessoas”. No início da semana passada, fonte oficial da Câmara de Sintra, segundo a Lusa, disse que técnicos do serviço municipal de Protecção Civil informaram que “não se verificam desprendimentos de inertes na escadaria e não há razões para cortar o acesso, mas considerando tratar-se de uma zona geologicamente instável será efectuada uma avaliação geológica do estratificado com carácter de urgência”. A visita ao local já decorreu na última quinta-feira, disse ao PÚBLICO o assessor de imprensa da Câmara Municipal de Sintra. A visita foi feita por um geólogo da Câmara de Sintra – que contou com elementos da Câmara de Sintra, da Agência Portuguesa do Ambiente e da Marinha Portuguesa – para analisar a estabilidade da vertente e a sua segurança para os utilizadores. Quais as conclusões? “Não foi apurado fundamento que determine o encerramento do percurso ou acesso por falta de segurança”, refere-se na informação que faz parte do parecer elaborado após a visita ao local. Refere-se ainda que o risco existente está bem identificado na sinalização colocada em cada lado do percurso, ficando assim os utilizadores informados. Por fim, acrescenta-se: “É possível melhorar a segurança local sem pôr em causa o vestígio icnofóssíl. Uma intervenção pontual pode vir a ser realizada. É um projecto que se enquadra bem com as competências da Agência Portuguesa do Ambiente, entidade que tem experiência neste tipo de intervenção. ”E que registo icnofóssíl é este? Em 1983, José Madeira e Rui Dias (actualmente na Universidade de Lisboa e na Universidade de Évora, respectivamente) descobriram trilhos com pegadas de dinossauros numa camada de calcário, “empinada quase à vertical, na arriba que limita a sul a Praia Grande do Rodízio, perto de Colares”, conta Galopim de Carvalho. Essa jazida de pegadas de dinossauros data do período Cretácico, composta por marcas de animais herbívoros e carnívoros que ali passaram há cerca de 120 milhões de anos. “Estas marcas ou vestígios fósseis mostram que, há cerca de 120 milhões de anos, andaram nestas paragens corpulentos dinossáurios herbívoros (ornitópodes) e carnívoros (terópodes), a avaliar pelas dimensões das respectivas pegadas”, refere o geólogo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nessa altura, o nosso território encontrava-se a uma latitude mais baixa e o clima era tropical. “A região era uma planície litoral com lagunas frente a um mar estreito e pouco profundo, a separar as terras hoje da Península Ibérica das da costa do Labrador, no Canadá, uns 25 milhões de anos antes da abertura do Atlântico Norte. A serra de Sintra só se elevaria uns 35 milhões de anos depois”, descreve Galopim de Carvalho. O geólogo conta ainda na informação enviada à imprensa que em 1992 iniciou diligências para uma “conveniente musealização do sítio, de modo a torná-lo acessível à fruição por parte do público, intervenção essa, sempre prometida e nunca concretizada, face a este relevante pólo de atracção turística. ”
REFERÊNCIAS:
Está dada licença para construir no litoral alentejano
Critérios utilizados na delimitação da Reserva Ecológica Nacional nos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola reduziram a área demarcada aos leitos e margens dos cursos de água e a uma faixa muito restrita da zona litoral, deixando lacunas graves nas zonas de recarga de aquíferos. (...)

Está dada licença para construir no litoral alentejano
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DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Critérios utilizados na delimitação da Reserva Ecológica Nacional nos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola reduziram a área demarcada aos leitos e margens dos cursos de água e a uma faixa muito restrita da zona litoral, deixando lacunas graves nas zonas de recarga de aquíferos.
TEXTO: Com a abertura dada por uma revisão da lei em 2008, as autarquias estão a reduzir as áreas dos seus concelhos que até agora estavam a salvo da construção devido à sua sensibilidade ambiental — ora porque protegiam linhas de água, ora porque defendiam a costa da erosão, para dar alguns exemplos. É a Reserva Ecológica Nacional (REN), que muitos autarcas vêem como um espartilho do desenvolvimento dos seus concelhos. No Alentejo litoral, já começou a drástica redução destas zonas. Espera-se que a mesma onda varra o país. A oposição à REN fez o seu caminho e está a impôr-se. O preâmbulo do Decreto-Lei n. º 166/2008 que alterou o regime jurídico da REN, é claro: “[Esta] (. . . ) tem contribuído para proteger os recursos naturais, especialmente água e solo, para salvaguardar processos indispensáveis a uma boa gestão do território e para favorecer a conservação da natureza e da biodiversidade (. . . ). ” No entanto, não têm faltado vozes críticas, de diferentes matizes, que apresentam um cenário pouco abonatório sobre a eficácia deste instrumento na preservação dos ecossistemas naturais. E as consequências no terreno começam a tomar corpo: A Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável) denunciou, no final de Dezembro, “a retirada de uma área de 68% à REN no concelho de Alcácer do Sal e de 76% em Grândola, tomando como referência a extensão que estava anteriormente delimitada nos dois concelhos do Alentejo Litoral”. A associação ambientalista refere que a REN em Alcácer do Sal “passou de 55. 340 hectares para 17. 999 hectares e, em Grândola, a reserva ecológica que era de 37. 905 hectares, foi reduzida para 9150 hectares. Em declarações ao PÚBLICO, Francisco Ferreira, dirigente da Zero, considerou “escandaloso” que, entre 2013 e 2014, “tivesse desaparecido uma tão extensa área de reserva ecológica”. Mais preocupante poderá ser o cenário da área desafectada “se fosse possível compará-la com a REN original”, ou seja, quando Gonçalo Ribeiro Teles propôs a aprovação deste instrumento de gestão territorial em 1983. Na informação facultada ao PÚBLICO pela Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) é referido que a área da REN em Alcácer do Sal correspondia a 37% do concelho “na antiga delimitação”. Actualmente, abrange 17% da área total do município. No concelho de Grândola, os números “são ainda mais expressivos”, tendo-se passado de 46% de área ocupada na anterior delimitação para uns escassos 11% da área total do concelho. “São valores absurdos que revelam fortes suspeitas de substituição de uso de território da REN para fins imobiliários e turísticos”, resume João Branco, presidente da Quercus, vincando que se trata de uma “flagrante de ilegalidade, mas que não é caso único no país”. A organização ambientalista acentua que nas delimitações à REN definidas pelos dois municípios não existe “uma única referência a valores verdadeiramente ecológicos”, nem foram identificados “quaisquer comunidades de seres vivos”. Esta constatação vem “mais uma vez colocar em causa o poder arbitrário das autarquias para a aprovação de actividades em zonas que eventualmente deveriam ser de salvaguarda dos valores ecológicos”. É o caso da protecção dos aquíferos, que garante muito do abastecimento de água às populações. Numa análise que a Quercus fez ao actual “mapa” da reserva ecológica nos dois concelhos, é referido que os critérios utilizados na sua demarcação acabaram por restringir a área protegida “aos leitos e margens dos cursos de água, numa faixa muito restrita da zona litoral”. São ainda realçadas “lacunas importantíssimas quanto às zonas de recarga de aquíferos e zonas vulneráveis à poluição”. Olhando para os valores divulgados pela Zero sobre as Áreas Estratégicas de Protecção e Recarga de Aquíferos, verifica-se que no concelho de Alcácer do Sal se passou dos 28. 755 hectares para 0 hectares e em Grândola dos 19. 185 hectares para os 2970 hectares. Quanto às Áreas de Elevado Valor de Erosão Hídrica do Solo, em Alcácer do Sal passou-se dos 15. 925 hectares para os 5052 hectares e em Grândola dos 13. 325 hectares para 0 hectares. Francisco Ferreira recorda que a publicação do Decreto-Lei n. º 166/2008 foi considerado, “pela comunidade ambientalista, como sendo o princípio de uma municipalização da REN, viabilizada pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional”, cuja aplicabilidade “levantava enormes dúvidas para o futuro”, concretamente em relação à inevitável redução da área da reserva, como se está a verificar. Porém, são várias as vozes que tecem críticas à REN. Além dos autarcas, que a vêem como um impecilho, o arquitecto paisagista Sidónio Pardal não tem poupado esta figura de ordenamento do território. O seu argumento reside no facto de que, fora da REN, tudo é permitido quando um correcto ordenamento do território, advoga, deveria ser feito ao contrário: é necessário urbanizar? Defina-se uma área específica para o fazer de uma forma planeada, deixando o resto intocado. Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, o especialista assinala que o documento “não identifica qualquer ecossistema” e que o seu articulado “não observa nem atende a nenhum ser vivo, a qualquer comunidade animal ou vegetal nem às relações entre si e com o meio físico”. Incisivo, define a matriz programática da REN como uma “fraude congeminada com o propósito de exercer um poder obscuro e dogmático sobre a economia do território”, que diz ter sido “concebida e administrada com base num preconceito antiurbano”. Sidónio Pardal propõe a “revogação total” do regime da REN e a criação de uma Carta de Valores e de uma Carta de Riscos. Em síntese, defende que o critério a seguir teria como base a definição precisa do território, “onde poderia haver intervenção urbana e onde estaria interdita”, frisando que apesar das “sucessivas reformulações da REN” já antevia que “ia dar o resultado que se constata”. Os responsáveis autárquicos dos municípios de Alcácer do Sal e Grândola são taxativos num ponto: a alteração da área da REN “cumpriu todas as exigências e opções estratégicas de nível nacional ou regional” constantes da Resolução do Conselho de Ministros de 2012 e a legislação de 2008. O vereador da Câmara de Alcácer do Sal, Manuel de Jesus, responsável pelo pelouro do Urbanismo, adiantou ao PÚBLICO que todo o trabalho técnico de alteração da delimitação da área da REN no seu município “foi desenvolvido pela Universidade Técnica de Lisboa, sob coordenação do professor Sidónio Pardal” no mandato anterior. E acrescenta que o processo “obteve pareceres favoráveis da CCDRA (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo), da APA (Agência Portuguesa do Ambiente)” e incorporou parecer “favorável incondicionado” do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas) e da REN. ”O autarca recorre a uma frase de Sidónio Pardal para definir a interpretação que faz da REN: “A Reserva Ecológica Nacional é um embuste que não identifica nem atende a qualquer ecossistema. ” Alega que o território do município continua abrangido pela “Rede Natura” numa área de quase 40%, PROT (Plano Regional de Ordenamento do Território) e outras restrições inscritas em PDM (Plano Director Municipal). Sobre as razões que justificaram a desafectação de uma tão extensa área da reserva ecológica não foi dado qualquer esclarecimento. António Figueira Mendes, presidente da Câmara de Grândola, refere igualmente que o processo de “redelimitação” da REN coube aos responsáveis autárquicos em exercício no mandato anterior, mas garante que o mesmo “respeitou a tramitação técnico-administrativa”. Acentua que “foram salvaguardados todos os interesses públicos, administrativos e colectivos que estivessem em questão”. As razões que presidiram à “redelimitação” da REN não foram apresentadas ao PÚBLICO. O autarca de Grândola optou por frisar as “inúmeras e diversificadas potencialidades” turísticas que o concelho a que preside oferece, entre elas, uma “frente atlântica com 45 quilómetros de praias acessíveis com uma cuidada preservação ambiental. ”Figueira Mendes sustenta que o “equilíbrio” entre desenvolvimento económico, turismo e preservação natural e ambiental dos habitats “deve continuar a ser um factor chave e diferenciador da estratégia de desenvolvimento sustentado deste território” (de Grândola). E salienta que “os diversos planos de ordenamento do território asseguram que assim seja”. Também a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garante que exerceu correctamente as suas atribuições, “no âmbito do processo de delimitação da REN”, através da emissão de pareceres técnicos, tendo por base as metodologias definidas na Resolução do Conselho de Ministros n. º 81/2012. Sem excepção, os responsáveis autárquicos que presidiram aos destinos dos municípios de Alcácer do Sal e de Grândola ao longo das últimas duas décadas fizeram da oferta turística o instrumento motor do desenvolvimento económico e social das suas regiões. Basearam as suas expectativas nos empreendimentos turísticos de tipo resort, com hotelaria, componente residencial e campos de golfe. Os projectos anunciados e apresentados apontavam para a instalação de 30 mil camas turísticas nos dois concelhos. Em 2008, o Conselho de Ministros aprovou uma nova proposta de delimitação da Reserva Ecológica Nacional (REN) na Herdade da Comporta, que se estende por 12. 500 hectares dos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola. Neste imenso território, lado a lado com a costa atlântica, o Grupo Espírito Santo propunha-se construir o seu megaempreendimento turístico que ocupava uma área de 744 hectares nos dois municípios alentejanos, para onde estava projectada a instalação de oito mil camas residenciais, três mil turísticas, 14 aldeamentos turísticos, 250 moradias e três campos de golfe. Deste projecto restam hoje destroços, terras esventradas, coberto vegetal destruído, num território de grande sensibilidade ambiental. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À semelhança deste, outros projectos que garantiam a criação de milhares de postos de trabalhos aguardam por melhores dias: O projecto de loteamento da Herdade da Costa Terra previa a construção de 204 moradias, três aparthotéis com 560 camas, quatro aldeamentos turísticos com 775 camas, quatro conjuntos de apartamentos turísticos com 823 camas, uma estalagem com 40 camas e um campo de golfe de 18 buracos; o projecto da Herdade do Pinheirinho, composto por 204 lotes para moradias, dois hotéis e quatro para aparthotéis, três para aldeamentos. apartamentos turísticos e outros lotes para equipamentos complementares, num total de 2912 camas, bem como um campo de golfe de 27 buracos, com cerca de 90 hectares. As obras destes dois empreendimentos estão paradas por decisão do tribunal, na sequência das acções judiciais apresentadas pela Quercus e o GEOTA. A sua construção fora autorizada pelo Governo e abrangia extensas áreas da Rede Natura 2000. Para além dos empreendimentos já referidos, existe um conjunto de outros anunciados ou projectados para o concelho de Alcácer do Sal: Alcácer Vineyard Resort (1010 Camas), Aldeamento Turístico das Casas do Montado do Sobreiro (223 camas) e Aldeamento Turístico de Lazer e Desporto do Alentejo (100 camas). A lista prolonga-se com o projecto de instalação de aldeamentos turísticos na Herdade do Laranjal (3100 camas), Aldeia de Santiago (910 camas), Herdade da Lança (200 camas), Herdade da Barrosinha (8000 camas), empreendimento turístico da Herdade da Alápega (4420 camas) e Turismo Rural da Herdade da Boavista e Sampaio (1540 camas).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei campo tribunal comunidade social corpo animal
Cascais terá transportes públicos gratuitos para residentes a partir de 2020
Viajar de autocarro no concelho será gratuito para os residentes em 2020. Autarquia vai também assegurar que o estacionamento junto às estações de comboio continuará gratuito. (...)

Cascais terá transportes públicos gratuitos para residentes a partir de 2020
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710170952/https://www.publico.pt/n1867358
SUMÁRIO: Viajar de autocarro no concelho será gratuito para os residentes em 2020. Autarquia vai também assegurar que o estacionamento junto às estações de comboio continuará gratuito.
TEXTO: Quem morar no concelho de Cascais e tiver passe para circular de autocarro pela cidade deixará de o pagar no início de 2020. A decisão da autarquia surge num momento em que está prestes a entrarem vigor o passe único que permitirá viajar nos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa. No princípio de 2020 vai iniciar-se também a operação da nova concessão municipal de transporte colectivo rodoviário que está a ser concluído, explicou ao PÚBLICO o autarca Carlos Carreiras, adiantando ainda que a a medida custará cerca de 12 milhões de euros por ano. Segundo explicou Carlos Carreiras, a câmara pretende criar, no orçamento municipal do próximo ano, um “fundo de mobilidade” que será financiado “por receitas afectas ao transporte individual”, como o Imposto Único de Circulação (IUC), cobrança de estacionamento, taxas de publicidade em veículos, e por receitas dos próprios transportes públicos. Sendo este valor de 12 milhões a “despesa máxima”, segundo as contas da autarquia, este fundo de mobilidade renderá entre sete e oito milhões de euros que serão alocados à gratuitidade dos passes para os residentes. “É uma política que se explica pelos ganhos de liberdade em mobilidade, pelos ganhos de economia individual e colectiva, e pela responsabilidade ambiental e social que nos norteia”, sustenta Carlos Carreiras. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Segundo explicou ainda o autarca, quem optar pelo passe poderá acumular pontos na aplicação CityPoints, que poderão ser utilizados para pagar outros serviços dentro do município. Através da app, que foi reconhecida no ano passado pelas Nações Unidas, é possível acumular pontos ao fazer, por exemplo, a reciclagem, ao usar transportes públicos ou bicicletas, participar em acções de voluntariado ou votar no orçamento participativo. Ao fazerem isso, os cascalenses ganham pontos que podem depois ser trocados por livros, plantas, entradas gratuitas em museus, visitas guiadas, ingressos para eventos, horas de estacionamento, serviços de cuidados de animais. Desta forma, diz o município, Cascais tornar-se-á “o primeiro concelho do país a ter mobilidade interna gratuita para todos os residentes”. A par da gratuitidade dos passes para os cascalenses em 2020, a autarquia vai introduzir também alterações na política de estacionamento. Os munícipes registados na aplicação MobiCascais terão direito a 100 minutos de estacionamento gratuitos por dia (excepto nas zonas vermelhas e de acordo com o regulamento em vigor) e vai proceder-se a uma harmonização de horário de cobrança: será limitado entre as 9h e as 19h no concelho.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social
Mais um inefável relatório da OCDE
Só ingénuos não divisam as encomendas que subjazem a este tipo de relatórios. Só ingénuos acreditam que mudam as práticas mantendo os protagonistas e a cultura. (...)

Mais um inefável relatório da OCDE
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Só ingénuos não divisam as encomendas que subjazem a este tipo de relatórios. Só ingénuos acreditam que mudam as práticas mantendo os protagonistas e a cultura.
TEXTO: A análise feita na imprensa sobre o Reviews of School Resouces. Portugal 2018, o último relatório da OCDE, fornece, mais uma vez, uma subliminar informação desfavorável aos professores, assente nos seguintes tópicos:- Retoma do discurso segundo o qual os professores estão bem pagos (a OCDE foi, há meses, confrontada com a discrepância entre registos estatísticos abstractos e a situação concreta, mas não aproveitou este novo documento para se corrigir, favorecendo, assim, o Governo na corrente disputa com os sindicatos). - Tese segundo a qual directores e professores manipulam as necessidades educativas dos alunos para reduzir o tamanho das turmas (tese que apoia os esforços do Governo para impor políticas prioritariamente centradas na redução dos custos). - Lamento por a descentralização (leia-se municipalização) não ter ido mais longe, designadamente acolhendo a contratação e colocação do pessoal docente e a atribuição aos municípios da responsabilidade por todos os assuntos operacionais (tão a propósito para a redução da autonomia das escolas e para a visão do Governo sobre a matéria). Para tornar mais credíveis estas encomendas, o óbvio acabou igualmente por ser contemplado no relatório: a OCDE recomendou a aposentação antecipada dos professores, sem penalizações, como forma de promover o rejuvenescimento da classe. E para ajudar a compreender a tessitura entre a OCDE e o Governo, permito-me um pequeno exercício de memória:Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. - Em Janeiro de 2009, no CCB, Sócrates recebeu, duma conceituada perita da OCDE, um entusiástico “bravo”, a premiar as suas políticas. Decorria a apresentação de um relatório que o então primeiro-ministro disse ser da OCDE, o que lhe valeu o qualificativo de mentiroso porque o relatório não era da OCDE. Sócrates apenas aproveitou uma promiscuidade que virou padrão (recorde-se, por exemplo, que o actual secretário de Estado João Costa é consultor do projecto da OCDE Future of Education and Skills 2030): os mesmos peritos, funcionários da OCDE, actuam como consultores independentes, quando lhes encomendam relatórios principescamente pagos. Na altura, tratou-se de um, feito com base em seis dias frenéticos de permanência em Portugal, durante os quais ouviram 58 pessoas (indicadas pelo Governo), participaram em 14 reuniões (preparadas pelo Governo) e visitaram 10 escolas (escolhidas pelo Governo). Que se esperaria, senão um “bravo”, de peritos que se prestaram a legitimar políticas com modelos de análise tão rigorosamente “independentes”?- A 9. 2. 18, Andreas Schleicher, director para a Educação da OCDE, foi o animador convidado pelo Governo para encerrar a romaria das loas à flexibilização curricular e ao perfil do aluno do século XXI. Dias antes, a festa tinha começado com duas autoridades nacionais em matéria de Educação: Catarina Furtado e Fernando Santos. Como convinha aos anfitriões, sem ter falado com os docentes portugueses nem deles ter procuração, Schleicher disse que o novo modelo da flexibilidade curricular é a forma como os professores gostariam de dar as suas aulas. Como convinha aos anfitriões, sem ter posto o pé nas salas de aula cá do burgo, teve o atrevimento de falar de uma tensão nelas existente, que a flexibilidade ia resolver. Como convinha aos anfitriões, aplaudiu, no acto, as demonstrações de algumas “aprendizagens significativas”: leitura de rótulos de embalagens e interpretação das razões da ascensão dos balões de S. João. Esta coreografia sucedeu ao relatório da OCDE sobre o Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, necessário para credibilizar a generalização de uma experiência que recuperou metodologias falhadas no passado e que, por isso, continuam a não convencer. A suposta componente empírica do relatório foi construída sobre um reduzido número de visitas a escolas dos arredores de Lisboa e a fundamentação teórica retomou as orientações doutrinárias da OCDE sobre a matéria. Só ingénuos não divisam as encomendas que subjazem a este tipo de relatórios. Só ingénuos acreditam que mudam as práticas mantendo os protagonistas e a cultura.
REFERÊNCIAS:
Entidades OCDE
Nem nas férias há sossego
A vontade de tudo controlar, a obsessão da lei, a perda do sentido do humor, do dever sem prazer, tornam a vida uma neura. (...)

Nem nas férias há sossego
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A vontade de tudo controlar, a obsessão da lei, a perda do sentido do humor, do dever sem prazer, tornam a vida uma neura.
TEXTO: 1. A narrativa bíblica do mito da criação não pertence ao mundo da ciência, mas ao da poética teológica. Não se situa, por isso, em competição com nenhuma teoria da origem e do desenvolvimento do universo. Confessa que de Deus apenas pode vir o bem e a beleza. Apresenta o Criador encantado com a sua obra, ritmada pelos dias e pelas noites, cheia de tudo o que é bom. Nesse poema, o ser humano – homem e mulher – é a coroa da terra, imagem do infinito mistério do amor. Ao sétimo dia, Deus repousou para celebrar a obra admirável da vitória sobre o caos [1]. É uma astuciosa metáfora da legitimação religiosa do descanso semanal: “Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que há neles, mas no sétimo dia descansou” [2]. Estamos perante a sacralização de uma grande instituição civilizacional. O ser humano não existe só para trabalhar. Precisa de tempo para viver e exprimir muitas outras dimensões da sua vida. A abertura a Deus revela a transcendência de todos os seres humanos, sujeitos de direitos e deveres continuamente ameaçados. Nada, porém, está automaticamente garantido na Casa Comum, como lembrou o Papa Francisco na Laudato Si. Sem opções éticas para regular os dias e as noites, as relações interpessoais, familiares, sociais, económicas, políticas e religiosas, estamos ameaçados de voltar ao caos. O universo humano é uma associação frágil de natura e cultura. A vontade de tudo controlar, a obsessão da lei, de tudo regulamentar de uma vez para sempre, a perda do sentido do humor, do dever sem prazer, tornam a vida uma neura. Quando as instituições humanas são apresentadas como realizações da vontade de Deus caem na idolatria escravizante. O grande dia da divina liberdade é transformado numa prisão sacralizada. 2. Jesus de Nazaré, ao apresentar-se como o profeta do Reino de Deus, identificou-o com o advento do reino da libertação e da alegria. Teve, por isso, de enfrentar a escrupulosa regulamentação rabínica do Sábado, pois o seu resultado era terrível: nesse dia, os animais tinham mais sorte do que os seres humanos [3]. Jesus resolveu atacar essa perversão, mediante uma sistemática provocação. O chefe de uma sinagoga, indignado com a atitude de Jesus, virou-se para a multidão e disse: há seis dias de trabalho, vinde nesses dia e não no dia de Sábado. Os narradores do Evangelho são unânimes: era ao Sábado que Jesus fazia o que a religião oficial proibia. Nós, os cristãos, julgamos que é um assunto ultrapassado. É, apenas, uma questão judaica. Fazemos muito mal em reagir assim. A razão apresentada por Jesus, para fundamentar as suas atitudes, era radical: o Sábado é para o ser humano e não o ser humano para o Sábado. Atacava, assim, o fundamentalismo religioso para todos os tempos e lugares. Deus nunca pode ser invocado para a infelicidade. Não se pode louvar a Deus sem cuidar da libertação, da cura e da alegria dos afectados pelo sofrimento. As atitudes de Jesus, em relação às prescrições do Sábado, questionam a nossa miopia: as leis e os regulamentos das Igrejas são para o ser humano ou é o ser humano para essas leis?Muitas das controvérsias, antes, durante e depois do Vaticano II, esquecem esse dado elementar. Não são as leis eclesiásticas que mandam no Evangelho de Jesus. É este que questiona, permanentemente, as leis que inventamos: fazem bem ou mal à libertação dos cristãos? São para fazer desabrochar a nossa alegria ou para nos mergulhar na tristeza?O enunciado de Jesus tem um alcance filosófico e teológico muito mais amplo, diria, universal. Todas as instituições têm de ser submetidas a esta interrogação: servem ou atraiçoam o desenvolvimento humano?3. Não pretendo, com a contenda do Sábado, desvalorizar o significado dessa instituição civilizacional. O texto de S. Marcos, seleccionado para a Missa deste domingo, manifesta, pelo contrário, que o próprio Jesus sentiu necessidade de férias para si e para os seus colaboradores: Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco. Eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. Foram, pois, de barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém. Por desgraça, ao vê-los afastar, muitos perceberam para onde iam. De todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro do que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas [4], e lá foram as férias!Não teve mais sorte com as tentativas de férias no estrangeiro, em Tiro e Sídon. O mesmo evangelista conta que, no território de Tiro, Jesus entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse. Não conseguiu. Uma gentia, siro-fenícia de origem, lançou-se aos seus pés e pedia-lhe que expulsasse, da filha, o demónio. Para entender o desenvolvimento deste texto, importa saber que os judeus tratavam os estrangeiros como cães. Aliás, na versão de Mateus, Jesus esclarece que a sua missão se limitava às ovelhas perdidas da casa de Israel. Por isso, não era justo que se tomasse o pão dos filhos para o lançar aos cachorros. Neste caso, Marcos é mais simpático: "Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos. " A mulher não quer saber dessas histórias e diz simplesmente: "Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos. "Jesus ficou rendido: vai, o demónio saiu de tua filha. A versão de Mateus é diferente e passa-se em público. Jesus reconheceu o ridículo da sua estúpida displicência: "Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas. " Como já tinha dito a um centurião romano: em Israel, nunca vi tanta fé!Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estas reacções, nas suas idas ao estrangeiro, manifestam que também Jesus tinha sido moldado por uma cultura preconceituosa, mas estava aberto ao espanto e à mudança. Em Tiro e Sídon, encontrou o que não podia esperar. É Domingo, não é Sábado. Não nos podemos conformar com o mundo que temos. Dizemos que somos filhos da ressurreição e não do conformismo. Temos de o provar. Como?[1] Gn 1; 2, 1-3[2] Ex 20, 8-11[3] Lc 13, 10-17; 14, 1-6; Mt 12, 9-14; Mc 2, 23ss; Jo 5, 8-18[4] Mc 6, 30-34
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos filha lei humanos cultura filho mulher prisão homem deveres cães
Não há milagres? (1)
Na nossa era secular, a linguagem universalmente credível é a da ciência e da técnica. (...)

Não há milagres? (1)
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na nossa era secular, a linguagem universalmente credível é a da ciência e da técnica.
TEXTO: 1. Falou-se durante muito tempo do milagre económico alemão. Quando se deseja criticar uma gestão económica e financeira diz-se: não há milagres! Em clima de religião barata vem o velho ditado: fia-te na Virgem e não corras! São apelos sensatos para que as iniciativas humanas sejam pensadas e planeadas a tempo, executadas com rigor. Não deixar as nossas decisões ao Deus dará, pois Ele ajuda quem se sabe ajudar. Afirmar que não há milagres nem sempre significa uma atitude ateísta ou negação da providência divina. Pode ser apenas respeito pela responsabilidade humana com uma conotação teológica: não invocar o Santo nome de Deus em vão. Não é aconselhável dar demasiada importância à linguagem do quotidiano que, raramente, é fruto de grandes cogitações como, por exemplo, eu cá sou ateu graças a Deus. Usa-se o vocabulário mais disponível, marcado pelo contexto social e cultural de uma população. Há zonas do país nas quais um palavrão é, apenas, um recurso simples e rápido, para acabar com uma conversa que não leva a lado nenhum. 2. A oração, a promessa, a acção de graças e o milagre são a própria paisagem da religião, a não confundir com a beatice. Em alguns contextos, significa o próprio clima da interioridade que acompanha as transformações da vida espiritual. Em outros casos, são narrativas sociais, umas mais discretas, outras mais aparatosas e, até, exibicionistas, para dizer a fé de um grupo religioso, o sentido profundo da vida. Pede-se ao céu, a Deus e aos seus anjos e santos, que se lembrem de nós, que nos dêem a mão. A celebração da memória da fé dos antepassados é essencial. Nós fazemos parte da sua história e eles desejam fazer parte da nossa vida se a intensidade do nosso desejo pedir a sua intervenção. Religião exterior e interior – salvo nos casos de hipocrisia – podem reforçar-se uma à outra. Como a sociedade muda, é normal que também sejam alteradas as suas representações. Quer ao nível da religião popular e das suas expressões, quer no confronto com a Bíblia e com a prática de Jesus, a questão dos milagres é incontornável. Numa era sacral, quando a imagem deste mundo dependia das representações sobrenaturais, negar a possibilidade do milagre era uma ofensa ao bom senso: se não é Deus a guiar a misteriosa marcha deste mundo, quem é? Os milagres e as relíquias milagrosas tornaram-se um vício abençoado. Na nossa era secular, a linguagem universalmente credível é a da ciência e da técnica. As sucessivas revoluções industriais que elas possibilitam, para bem e para mal, são da responsabilidade humana. Pedir contas a Deus ou solicitar a sua intervenção não parece sensato. Temos, no entanto, de não confundir religião com superstição. Como observa L. Wittgenstein, a fé religiosa e a superstição são muito diferentes. Uma resulta do medo e é uma espécie de falsa ciência. A outra é uma confiança [1]. Para tentar escapar às dificuldades que a própria noção de milagre implica, foi elaborada uma ideia mais “moderna” de milagre. Diz-se que há milagre quando um fenómeno não pode ser explicado por nenhuma ciência ou técnica disponíveis. Isto acontece, sobretudo, no campo da medicina. Para ter milagres verdadeiros, reais, capazes de levar santos aos altares, para canonizar vidas santas, é preciso a ocorrência de um acontecimento inexplicável pela ciência e pela técnica. Dado o seu carácter benéfico, só pode ser fruto da intervenção de Deus. É esta noção de milagre que foi muito importante, sobretudo no século XIX, para distinguir sinais de santidade verdadeira de embustes devotos. Foi uma medida muito higiénica no campo religioso, uma forma de dizer que não vale tudo no campo devocional. Há quem fale de milagres de primeira e milagres de segunda. Os de primeira são os que resistem a todos os testes. Os de segunda são as graças que enchem a literatura piedosa, muito distribuída em certos locais, destinadas a criar ambiente para o acontecimento dos milagres de primeira, capazes de levar um santo aos altares. 3. Em tudo isto, é esquecida a condição do desenvolvimento das ciências e das técnicas. Estão sempre em evolução. O que numa época se considerou uma ocorrência para além dos poderes da natureza, com o desenvolvimento posterior das ciências e técnicas, talvez possa vir a ser explicável. É verdade, mas continuamos a considerar, no mesmo plano, a misteriosa intervenção de Deus e as acções humanas. Um pouco de teologia negativa pode ajudar. Quem lê o Novo Testamento ou participa nas celebrações eucarísticas não pode evitar a pergunta: será que Jesus fazia milagres ou são apenas histórias de uma era sacral para alimentar uma ilusão para os nossos dias? Se Jesus fez milagres, há dois mil anos, ainda deve ter a mesma bondade e o mesmo saber para as situações actuais. Como não gosta de fazer nada sozinho, é normal que associe os anjos e os santos – canonizados ou não – à sua vontade de fazer o bem, sobretudo nas situações mais aflitivas. Para pensar isto com certa clareza, não se deve esquecer a história de Pascal. "Conta-se que, certo dia, Pascal se encontrou com um amigo num castelo, no cimo de uma colina. Após algum tempo de espera, o amigo chegou com o rosto desfigurado, a roupa rota e o corpo cheio de nódoas e feridas. – O que é que te aconteceu? – perguntou Pascal. – Não imaginas o milagre que Deus acaba de me fazer! – respondeu o amigo. Quando vinha para cá, o meu cavalo resvalou perto de uma ravina. Eu caí, fui rolando e resvalando, mas detive-me exactamente na borda do precipício. Imaginas? Que milagre Deus acaba de me fazer! Ao que Pascal retorquiu: E o milagre que Deus acaba de me fazer a mim? Ao vir para cá, nem sequer caí do cavalo!" [2]. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Neste Domingo, o humor e a astúcia de S. Marcos [3], ao encaixar numa única narrativa dois milagres improváveis, obrigam-nos a pensar que a nossa maior cegueira, seja a que nível for, é a incapacidade renovada de não ver o que temos diante dos olhos. Gloriamo-nos, com razão, dos avanços da ciência, da indústria e dos seus progressos. Ao esquecer que tanto podem realizar o milagre da paz e do bem-estar, como provocar guerras em cadeia e a destruição, ficamos nas mãos dos donos deste mundo. No Domingo que vem, até o próprio Jesus se espanta com tanta miopia. [1] Cultura e Valor, Edições 70, 1980, pp. 107[2] Ver, para todo este assunto, as observações de Ariel Ávarez Valdés in Bíblica n. º 352 (Maio-Junho 2014), pp. 99-104; ver também Miracle de Xavier Léon-Dufour, Dictionaire du Nouveau Testament, Seuil, 1975[3] Mc 5, 21-43
REFERÊNCIAS:
Sem mitra nem solidéu
O verdadeiro profeta é sobretudo uma pessoa que vive a graça da lucidez humana e divina na defesa do bem comum. (...)

Sem mitra nem solidéu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O verdadeiro profeta é sobretudo uma pessoa que vive a graça da lucidez humana e divina na defesa do bem comum.
TEXTO: 1. Por vezes, confunde-se um profeta com um adivinho. O verdadeiro profeta é sobretudo uma pessoa que vive a graça da lucidez humana e divina na defesa do bem comum. Vê o que a cegueira dos interesses instalados não quer ver nem deixa ver. A denúncia da traição da aliança mística e da aliança social – duas caras da mesma moeda - é o seu tema. Como diz Miqueias, a proposta de conversão exige a instauração do direito e da justiça[1. As pessoas aduladoras dos poderosos gostam de ser chamadas profetas, mas são, apenas, os seus lacaios. Na missa de hoje, é dada a palavra ao incómodo Amós que exerceu essa missão, aproximadamente, entre 760 e 745 a. C. . Ele reconhecia a convicção comum aos seus concidadãos, a relação especial entre Iavé e o seu povo, mas tirava daí consequências diametralmente opostas: Deus não é propriedade privada de Israel. Perante Deus, todos os povos estão em pé de igualdade. O antigo Israel tinha, apenas, maiores responsabilidades morais e uma maior exposição aos castigos pelas injustiças que provocava ou consentia[2]. No tempo da actuação profética de Amós, o reino de Israel tinha atingido o máximo da sua prosperidade, mas o luxo dos ricos insultava a miséria dos oprimidos e o esplendor do culto disfarçava a ausência de uma religião verdadeira. O seu estilo era rude e simples, imagem típica de um homem do campo. Para ele, a prática do povo eleito era pior do que a dos gentios e não se calava perante essa situação. Então, Amasias, sacerdote de Betel, disse a Amós: «Vai-te daqui, vidente. Foge para a terra de Judá. Aí ganharás o pão com as tuas profecias. Mas não continues a profetizar aqui em Betel, que é o santuário real, o templo do reino». Amós respondeu a Amasias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: Vai profetizar ao meu povo de Israel»[3]. Como já tentei mostrar, várias vezes, nestas crónicas dominicais, o carpinteiro de Nazaré não chamou os doze apóstolos para as delícias do poder nem para aduladores e imitadores dos grandes deste mundo. Consta, no Evangelho de S. Marcos proposto para este Domingo[4], que Jesus os enviou, dois a dois, com poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando entrardes numa casa, ficai nela até partirdes dali. Se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Não será esta uma proposta puramente utópica? Conheço um bispo que sempre procurou mostrar que a utopia é o próprio realismo do profeta de Nazaré. 2. Já me tenho referido ao Ano Raimon Pannikar, uma originalíssima figura da cultura e da religião da Catalunha, que realizou, na sua pessoa e na sua obra imensa, a maior tentativa de síntese entre o Oriente e o Ocidente. Ao ler o texto do Evangelho de Marcos, lembrei-me de outro catalão que fez 90 anos no mês de Fevereiro: Pedro Casaldáliga, chamado bispo descalço sobre a terra vermelha[5]. Durante 38 anos viveu e trabalhou no Brasil, primeiro como missionário claretiano e a partir de 1971, como bispo nomeado por Paulo VI. Não é uma cronologia, mesmo a de um bispo, que define uma personalidade. Pedro Casaldáliga não adoptou a teologia da libertação como uma moda. Ele escolheu-a como forma de vida e de actividade pastoral: Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar. Quando foi nomeado primeiro bispo da diocese, converteu sua casa, pequena, rural e pobre, na sua sede episcopal, sede do seu povo, sobretudo dos mais desfavorecidos, camponeses sem-terra, pobres, analfabetos e oprimidos por coronéis e políticos. Celebrava a Eucaristia para os moradores no quintal da sua casa, entre as galinhas e, à noite, deixava sua porta aberta para o caso de alguém, sem casa, precisar de uma cama que estava sempre disponível. Andava de jeans e chinelos. Tinha duas mudas de roupa. Quando tinha de ir às reuniões com o Episcopado, em Brasília, ia de autocarro, numa viagem de três dias, pois esse era o meio de transporte da sua gente. Do aeroporto à sua casa, em São Félix do Araguaia, só se chegava depois de 16 horas de estrada de terra. Mais tarde lembraria que, no início da sua acção pastoral, faltava tudo: na saúde, na educação, na administração e na justiça. Sobretudo, faltava, na população, a consciência dos próprios direitos e a possibilidade de os reclamar. Acusado de se interessar demasiado pelos problemas "materiais" dos pobres, respondia que não concebia a dicotomia entre evangelização e promoção humana. Decidiu, por isso, o caminho a seguir. O seu lugar não era apenas ao lado dos camponeses sem-terra, mas também o de construir escolas e centros de saúde. 3. Em 1988, o Vaticano convocou-o, para que explicasse a sua proximidade à teologia da libertação e visitasse o Papa João Paulo II, como já o devia ter feito. Apresentou-se, então, em camisa, sem anel e com um colar indígena no pescoço. Disse ao papa: Estou disposto a dar a minha vida por S. Pedro, mas pelo Vaticano, é outra coisa. Ao sair do encontro, declarou à imprensa: O papa escutou-me e não me deu nenhuma repreensão. Poderia tê-lo feito, como também nós o podemos fazer com ele. Acrescentou: O Espírito Santo tem duas asas e a Igreja gosta mais de cortar a da esquerda. No momento em que se escolhem designers para a indumentária e as insígnias episcopais e cardinalícias, seria bom não esquecer as vozes, antigas e novas, que se interrogaram: sucessores de Pedro e dos Apóstolos ou continuadores da era do imperador Constantino[6]?Casaldáliga não precisou desta lição sistematicamente esquecida. Quando a idade o obrigou a apresentar a renúncia ao seu ministério, Roma não lhe pediu para esperar. Casaldáliga fez só um pedido: ser um pároco ao serviço da diocese. Não teve resposta. Foi um colaborador dos dois bispos que lhe sucederam. Aos noventa anos, vive onde sempre viveu, mas já não da mesma maneira. A sofrer de Parkinson, pouco mais lhe resta para além da rotina habitual: cuidados físicos de manhã e, à tarde, leitura do correio, sem poder responder a todas as mensagens de carinho que lhe enviam, porque já tudo lhe custa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Querido S. Pedro Casaldáliga, reza por nós. 15. 07. 2018[1] Mq 6, 8[2] Francolino Gonçalves, Antigo Testamento e direitos humanos, ISTA nº 6, 1998, p. 40[3] Amós 7, 12-15[4] Mc 6, 7-13[5] Título de uma mini-série que foi dedicada ao bispo Pedro Casaldàliga. [6] Cf. Yves Congar, O. P. , Igreja serva e pobre, ed Logos, Lisboa 1964, pp 65; 131 ss
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos cultura campo filho educação homem social igualdade
Com a verdade me enganas
Na Caixa Geral de Aposentações, as idiossincrasias contabilísticas escondem uma realidade devastadora. (...)

Com a verdade me enganas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na Caixa Geral de Aposentações, as idiossincrasias contabilísticas escondem uma realidade devastadora.
TEXTO: Em 1993, Herman José lançou um concurso televisivo de grande sucesso denominado “Com a Verdade M´Enganas” onde, num jogo de verdade e mentira, os concorrentes diziam a verdade para enganar os concorrentes adversários. Vem isto a propósito do Relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP) de setembro de 2018 que analisa a execução orçamental da segurança social e da Caixa Geral de Aposentações (CGA) no 1. º semestre de 2018. É aí referido que “o saldo orçamental da CGA atingiu um excedente de 78 milhões de euros no 1. º semestre de 2018, inferior ao alcançado no período homólogo mas que contrasta com o défice previsto para o conjunto do ano” (-42 milhões de euros previsto no OE2018). Para os menos atentos, incluindo-se aqui alguns órgãos de comunicação social que divulgaram a informação, estes dados parecem indiciar que o problema financeiro da CGA está ultrapassado e que o seu anunciado colapso resultava apenas de um pessimismo desmesurado. Para analisarmos com mais detalhe as conclusões do CFP consideremos os dados históricos da execução orçamental da CGA. Conforme se observa, o saldo orçamental apresenta valores positivos desde 2015, depois de um período de dois anos de saldos negativos. Conforme se constata, na ótica da execução orçamental, a situação da CGA parece não merecer qualquer preocupação, uma vez que o saldo acumulado desde 2013 situa-se em valores próximos dos 140 milhões de euros. Isso significa que a CGA é sustentável. Infelizmente não?Na realidade, as idiossincrasias contabilísticas associadas à sua natureza de “fundo autónomo” escondem por detrás uma realidade devastadora. Com efeito, cerca de 50% da receita resulta de transferências do Orçamento do Estado e não de receitas das contribuições dos trabalhadores!Daqui resulta que em 2018, apesar da execução orçamental se apresentar favorável, como refere o Conselho das Finanças Públicas, as transferências do Orçamento do Estado (financiadas por impostos) situar-se-ão em valores próximos dos 5. 000 milhões de euros. Este desequilíbrio financeiro extremo tem uma explicação muito simples. A CGA foi encerrada a novos subscritores a partir de 2006, o que significa que o número de trabalhadores contribuintes tenderá a diminuir enquanto o de aposentados aumentará. Com efeito, o número de subscritores (pensões) desceu (aumentou) de 588 mil (577 mil) em 2010 para 453 mil (646 mil) em 2017, passando o rácio entre subscritores e pensões de 1, 02 em 2010 para 0, 70 em 2017. Estou convicto que a forma como a situação da CGA relatada no Relatório do Conselho das Finanças Públicas foi interpretada por alguns não teve como quadro de fundo o saudoso concurso do Herman José. Contudo, importaria que estas matérias fossem analisadas tendo por base não apenas princípios de exatidão financeira (que não estão obviamente em causa, uma vez que o saldo orçamental é inequivocamente positivo), mas também princípios pedagógicos de educação financeira, garantindo-se desta forma que o leitor possa ter uma visão global e completa da realidade. A este propósito, recordaria apenas uma pequena história muito ilustrativa. Há alguns anos, uma senhora fez a seguinte pergunta a um amigo meu que passeava um cão no jardim: “O seu cão morde?”Esse meu amigo respondeu com a exatidão e verdade que lhe é conhecida: “Não, o meu cão não morde. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A senhora tentou fazer uma festa ao cão e este reagiu agressivamente. Indignada, a senhora perguntou: “Mas não me disse que o seu cão não mordia?!?”O meu amigo respondeu rápida e energicamente: “Disse sim, mas este cão não é o meu!”O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Os hidratos de carbono já passaram a ser bons outra vez?
Onde está a verdade afinal? Por norma costuma estar sempre a meio de opiniões extremadas e neste caso não foge à regra. Quem tem noções básicas de fisiologia e metabolismo e percebe o papel que os hidratos de carbono têm no nosso organismo. (...)

Os hidratos de carbono já passaram a ser bons outra vez?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Onde está a verdade afinal? Por norma costuma estar sempre a meio de opiniões extremadas e neste caso não foge à regra. Quem tem noções básicas de fisiologia e metabolismo e percebe o papel que os hidratos de carbono têm no nosso organismo.
TEXTO: A polémica nutricional que estalou nas férias de Verão foi um novo estudo que refere que afinal os hidratos de carbono já deixaram de ser maus outra vez! Também houve uma outra notícia viral sobre o óleo de coco ter sido considerado um veneno por uma professora de Harvard, algo que sendo totalmente errado e exagerado não é mais do que a confirmação do que vimos dizendo desde 2014, sobre a falta de propriedades mágicas desta gordura saturada. Voltando ao pingue-pongue dos hidratos de carbono, este último estudo observou que o “ponto óptimo” de consumo que está associado a uma menor mortalidade até anda à volta dos 50% do valor calórico da dieta, um valor que não é propriamente baixo! Dirão os mais leigos que o ano passado por esta altura, ouviram falar noutro estudo que dizia rigorosamente o contrário, que os hidratos de carbono “são piores para a saúde do que a gordura”, algo que já mereceu o devido artigo e interpretação nesta rubrica. Este novo estudo que seguiu cerca de 15. 500 adultos norte-americanos entre os 45-64 durante 25 anos observou que existia uma relação de curva em “U” entre a ingestão de hidratos de carbono e a mortalidade. Ou seja, morreram mais indivíduos que se situavam nos extremos de consumo de hidratos de carbono (o ponto “óptimo” situou-se nos 50% das calorias da dieta). As reacções a este estudo traduzem muito daquilo que são as crenças individuais que cada um tem relativamente à alimentação, servindo o mesmo como arma de arremesso entre as diferentes “facções”. A facção mais “paleo/low carb” apontou as falhas metodológicas do estudo cumprindo a célebre máxima “só há dois tipos de estudo: os que vão de encontro às minhas opiniões, e os que têm falhas metodológicas”. É engraçado o fenómeno que existe hoje em dia nas redes sociais que consiste em pessoas que nunca “deram uma para a caixa” a nível de produção científica, tecerem grandes dissertações sobre as limitações do estudo e os seus potenciais pontos fracos metodológicos. Se é certo que o facto de não se ter um vasto currículo académico não deve automaticamente inibir ninguém de dar a sua opinião, também é certo que existe algo que se chama “noção”. E é essa mesma falta de noção e de conhecimento de todos os morosos processos que fazem parte de um estudo desde a sua análise e tratamento de dados até à publicação final do artigo, que leva certamente a que existam muitas opiniões e comentários cheios de soberba por parte de pessoas inexistentes no mundo da investigação. Por outro lado, a facção mais “tradicional/conservadora/antipaleo” regozijou-se porque “já andávamos a dizer isto há muito tempo”!Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Onde está a verdade afinal? Por norma costuma estar sempre a meio de opiniões extremadas e neste caso não foge à regra. Quem tem noções básicas de fisiologia e metabolismo e percebe o papel que os hidratos de carbono têm no nosso organismo, sabe perfeitamente que este é o macronutriente cuja abordagem nutricional deverá ser mais variável. E porquê? Porque o seu papel é fundamentalmente energético e como tal é totalmente diferente falar de 50% da dieta com hidratos de carbono para o secretário obeso e sedentário ou para o profissional do exercício que dá três a quatro aulas por dia e no meio ainda consegue fazer o seu próprio treino. O principal problema que a interpretação dos resultados deste estudo pode causar é a ideia de que “a quantidade óptima de hidratos de carbono é 50% e ponto final”. E a este nível é importante referir um detalhe relevante nestes dados que passa pela maior ingestão de gordura e proteína animal e menor ingestão de fibra nos grupos com menor ingestão de hidratos de carbono, além de também terem uma maior percentagem de fumadores. Tudo isto é fundamental ter em conta para não se voltarem aos não muito saudosos tempos da dieta padrão da “bolacha Maria” e dos “50-30-20” (% de calorias de hidratos de carbono, gordura e proteína respectivamente). Quem acompanha esta rubrica leva com a conversa do papel fundamental da proteína para a nossa saúde em quase todos os artigos. Fazendo um exemplo prático, se num qualquer plano alimentar for colocada uma quantidade moderada de proteína de 2g/kg, para alguém com 80kg, estamos a falar de 160g de proteína que equivalem a 640 kcal. Se num plano de 1800kcal (assumindo que a pessoa emagrecerá com este aporte calórico) acrescentarmos 50% de hidratos de carbono (900 kcal), ficamos com 260 kcal restantes, que equivalem a 29 gramas de gordura, algo que tornará o plano pouco “comestível”. Por isso, se estes famosos 50% de hidratos de carbono forem sempre assumidos como ponto de partida para um plano alimentar, existem dois potenciais problemas: ou a pessoa corre o risco de perder massa muscular porque não há espaço para a proteína necessária, ou não consegue cumprir o plano porque sem o mínimo de gordura na confecção de alimentos a sua palatibilidade fica severamente comprometida. De igual modo, se tivermos à nossa frente um atleta na véspera de um jogo ou prova longa, 50% de hidratos é um valor bastante baixo, daí que respeitar sempre o princípio da individualidade é algo fundamental. Assim, sempre que saem estes artigos, percebe-se que a falta de literacia científica dos media os faça embarcar em alguma histeria na divulgação e extrapolação dos seus resultados. Aos profissionais de saúde já não é permitido isso. É necessário ler de facto os artigos antes de os partilhar nas redes sociais e saber colocar os resultados de cada estudo ao serviço da sua prática clínica. E já agora, deixar o seu ego e as suas crenças individuais à porta do consultório e do Facebook/Instagram também ajuda…
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda consumo estudo alimentos animal