Tribos de contrabandistas aproveitam vazio de poder para o tráfico de imigrantes
Instabilidade na Líbia deixou terreno livre para a actividade das redes criminosas que se dedicam ao tráfico humano pelo Mediterrâneo. Negócio é alimentado pela pobreza e desespero das populações em fuga da guerra. (...)

Tribos de contrabandistas aproveitam vazio de poder para o tráfico de imigrantes
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento -0.00
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Instabilidade na Líbia deixou terreno livre para a actividade das redes criminosas que se dedicam ao tráfico humano pelo Mediterrâneo. Negócio é alimentado pela pobreza e desespero das populações em fuga da guerra.
TEXTO: As “autoridades” alternativas da Líbia responderam esta quinta-feira às iniciativas discutidas pelos parceiros europeus no âmbito do seu renovado combate ao tráfico humano no mar Mediterrâneo com a sua própria contra-declaração de guerra. “Qualquer acção [militar] unilateral da União Europeia será devidamente confrontada”, prometeu o ministro dos Negócios Estrangeiros deste governo ad-hoc, Muhammed el-Ghirani, citado pela Reuters. A “ameaça” do grupo islamista que domina a capital e reclama o poder na Líbia acrescenta uma nova camada à complexidade do problema com que a União Europeia se confronta para responder à crise humanitária e migratória nas suas costas. Aparentemente, o governo-sombra de Trípoli está disposto a repelir qualquer tipo de intervenção em defesa do seu território – leia-se, dos portos controlados pelas milícias rebeldes que são usados pelas redes de contrabando como ponto de embarque de imigrantes clandestinos para a Europa. Estas organizações criminosas, outrora informais e dispersas, aproveitaram o caos de segurança e o vazio de poder na Líbia desde a queda do regime autocrático de Muammar Khadafi e “profissionalizaram” as suas operações, estabelecendo-se como “autênticas corporações multinacionais”, segundo descreve ao The Wall Street Journal Tuesday Reitano, especialista da Global Initiative Against Transnational Organized Crime, um instituto sedeado em Genebra. Algumas redes têm origem tribal: eram os antigos contrabandistas do deserto, que trocaram o tráfico de mercadorias pelo de imigrantes. Na zona do Sahel, a tribo Tebu tem rotas que desembarcam em Itália e Malta, e que já são disputadas pelos chefes tuaregues que já tinham negócios de rapto de ocidentais ou colaborações com grupos jihadistas. Estas redes podem oferecer um leque alargado de serviços aos candidatos a imigrantes ou refugiados – da fraude e falsificação de documentos até ao transporte – e, mais importante do que tudo, conseguem antecipar-se ou iludir as autoridades locais e internacionais. Desengane-se quem pensa que o tráfico no Mediterrâneo está entregue a mestres da pesca ou patrões de costa despreparados e obrigados a diversificar a sua actividade por força da instabilidade na Líbia. “Os contrabandistas são espertos e extremamente bem informados. Imaginem alguém que nunca dorme, que lê os jornais, estuda as leis europeias, vigia todos os movimentos das autoridades, passa 24 horas do dia a estudar a melhor maneira de chegar [ilegalmente] à Europa”, relata à BBC o jornalista Giampaolo Musumeci, autor do livro Confissões de um Traficante de Pessoas. Os dirigentes do governo rebelde islamista – que organizaram uma versão paralela das instituições do Estado criadas pelo regime sedeado na cidade de Tobruk, que é reconhecido internacionalmente como o Governo legítimo da Líbia – abriram a porta a uma negociação com os aliados europeus. “Temos feito todos os esforços para que a Europa colabore connosco para lidar com este problema da imigração ilegal, mas só nos dizem que não somos um governo reconhecido internacionalmente. Pois bem, eles não podem simplesmente decidir atacar a nossa costa sem vir falar connosco”, afirmou Ghirani, numa entrevista ao jornal Times of Malta. “Quem nos garante que a Europa não desata a matar pescadores e outros inocentes? O que estamos a dizer é que estamos disponíveis para atacar este problema em conjunto”, esclareceu. No entanto, os rebeldes não disseram ainda que medidas estão dispostos a assumir ou a apoiar para enfrentar as redes de traficantes no seu próprio país. A actividade dos criminosos – os “negreiros” do século XXI, nas palavras do primeiro-ministro de Itália, Matteo Renzi – constitui uma importante fonte de receita para as mílícias (e supõe-se que também para o Governo de Tobruk, pela via da corrupção). O negócio é alimentado pelo crescente desespero de populações em fuga da pobreza extrema, perseguição política ou do conflito sectário e guerra civil em países como o Mali, Níger, Sudão, Eritreia, Somália, e mais recentemente a Síria. Aliás, o movimento dos refugiados vindos da Síria por causa da guerra civil foi responsável pela inflação dos preços cobrados pelos contrabandistas aos imigrantes (mais pobres) da África subsariana. As viagens que antes se faziam por umas centenas de euros podem agora custar entre mil e sete mil euros. O aumento da procura que tornou as redes cada vez mais sofisticadas também teve como efeito uma multiplicação do número de contrabandistas e uma crescente concorrência por recursos limitados (principalmente embarcações), com um trágico reflexo na deterioração das condições de segurança em que são feitas as viagens ou na violência que é exercida sobre os imigrantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime guerra violência imigração pobreza humanitária perseguição rapto ilegal
Vencedor do Prémio Aga Khan de Arquitectura é anunciado esta sexta-feira em Lisboa
Vinte projectos espalhados pelo mundo, de um cemitério islâmico na Áustria a uma escola primária no Afeganistão, são candidatos a receber 760 mil euros (...)

Vencedor do Prémio Aga Khan de Arquitectura é anunciado esta sexta-feira em Lisboa
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vinte projectos espalhados pelo mundo, de um cemitério islâmico na Áustria a uma escola primária no Afeganistão, são candidatos a receber 760 mil euros
TEXTO: O prémio Aga Khan de Arquitectura vai ser entregue na próxima sexta-feira, dia 6, em Lisboa, no Castelo de S. Jorge. Patrocinado pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, o prémio é atribuído de três em três anos, tem uma dotação pecuniária de um milhão de dólares (cerca de 760 mil euros), e privilegia projectos de arquitectura que correspondam às “necessidades e aspirações” de sociedades nas quais os muçulmanos tenham “uma presença significativa”. Anunciada em Abril passado, a short list do prémio é bastante longa – inclui 20 candidatos – e abarca projectos construídos nos mais diversos pontos do globo, do Afeganistão à Áustria ou da China a Marrocos. A escolha é da responsabilidade de um júri internacional de nove elementos, nomeado por um comité de direcção ao qual cabe ainda actualizar regularmente os critérios de elegibilidade, atendendo às prioridades de cada momento. O crescente prestígio deste prémio internacional de arquitectura não se prende apenas com os avultados montantes envolvidos, mas com a filosofia em que assenta. Valorizando o planeamento urbanístico, a preservação de locais históricos ou a arquitectura paisagística, o prémio só pode ser atribuído a projectos não apenas concretizados no terreno, mas que tenham já alguns anos de utilização. E o impacto real dos edifícios na vida das pessoas que os habitam, ou que de alguma forma os utilizam, é tomado em consideração. Uma lógica que leva a que a constituição dos júris inclua especialistas de várias disciplinas, e não apenas arquitectos. O prestígio internacional alcançado pela arquitectura portuguesa, a importância da presença islâmica na história do país e a bem sucedida integração da comunidade muçulmana na sociedade portuguesa terão sido alguns dos motivos que levaram à escolha de Lisboa para a cerimónia de entrega desta 12ª edição do prémio, que será presidida por Cavaco Silva e na qual participarão o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e o próprio Aga Khan. Quarto detentor deste título, o príncipe Karim – soberano sem território que reclama descender em linha directa do profeta Maomé – é ainda reconhecido como imã dos ismaelitas nizaritas, um ramo xiita que engloba cerca de 15 milhões de muçulmanos distribuídos por vários países. Na sessão de sexta-feira, marcada para as 20h30, será apresentado um novo selo de correio comemorativo do prémio, e inaugurar-se-á ainda uma exposição ilustrativa da influência islâmica em Portugal, organizada em colaboração com a Gulbenkian, que ficará no Castelo de S. Jorge até final de 2013. Vinte candidatosA short list do prémio para o ciclo 2011-2013 inclui projectos tão diferentes entre si como um ambicioso plano da arquitecta e antropóloga Salima Naji para a preservação de quatro locais com oásis sacralizados e de uso colectivo nas montanhas marroquinas do anti-Atlas, um complexo habitacional erguido numa aldeia de pescadores no Sri Lanka que fora devastada pelo tsunami em 2004 (do atelier Shigeru Ban Architects), ou o cemitério islâmico em Altach, na Áustria (atelier de Bernardo Bader), construído numa região com quase dez por cento de população muçulmana. O restauro do forte de Thula, no Iémen (arquitecto Abdullah Al-Hadrami, a reabilitação do forte de Nagaur, na Índia (arquitecto Minakshi Jain), a revitalização do centro histórico de Birzeit, na Palestina (Riwaq – Centro para a Conservação da Arquitectura), a reabilitação do bazar de Tabriz, no Irão (ICHTO East Azerbaijan Office) ou a reconstrução do campo de refugiados de Nahr el-Bared, no Líbano, promovido por uma agência das Nações Unidas, são outros projectos que chegaram à short list. Um bom exemplo de que a dimensão da obra não é necessariamente um factor significativo é o facto de a lista integrar um projecto de preservação, numa aldeia da Ilha das Flores, na Indonésia, de quatro casas cónicas de madeira e bambu, com telhados de palha, raras sobreviventes de uma antiquíssima técnica de construção. Coordenado por Rumah Asuh e Yori Antar, o projecto envolveu um grupo de jovens arquitectos indonésios, que trabalhou em ligação com a comunidade local, procurando reabilitar uma arte esquecida. Os restantes projectos que o júri irá analisar incluem um apartamento no Irão em cuja construção foram reutilizadas de sobras de pedras (Architecture by Collective Terrain), a sede do Instituto do Filme e Animação Kantana, na Tailândia (Bangkok Project Studio), uma escola primária em Herat, no Afeganistão (ateliers 2A+P/A e IaN+), construída em homenagem à jornalista italiana Maria Grazia Cutuli, assassinada no Afeganistão em 2001, uma outra escola primária em Kigali, no Ruanda (MASS Design Group), a sede do liceu francês Charles De Gaulle em Damasco, na Síria (Lion Associés, Dagher Hanna & Partners), a torre Met, em Banguecoque, na Tailândia (WOHA Architects), o Centro de Cirurgia Cardíaca Salam, no Sudão (Studio Tamassociati), o Centro de Interpretação do Mapungubwe, no Limpopo, África do Sul (Peter Rich Architects), um local com gravuras rupestres que é património de humanidade, o Museu de Papel Artesanal em Gaoligong, na China (Trace Architecture Office), a Academia de Futebol Mohammed VI, em Salé, Marrocos (Groupe 3 Architectes) e, também em Marrocos, a ponte Hassan II (Marc Mimran Architecture), que liga Rabat e Salé. Um dos nove membros do júri que irá decidir qual destes projectos irá receber um milhão de dólares é o arquitecto britânico (Dar es Salaam, 1966), David Adjaye, que tem um projecto para Lisboa, o Centro Cultural Africano, África. cont, e é um dos arquitectos mais conhecidos da sua geração. Os restantes jurados são Howayda al-Harithy, presidente do Departamento de Arquitecura e Design da Universidade Americana de Beirute e especialista na história da arquitectura islâmica, o botânico, geógrafo e paisagista francês Michel Desvigne, colaborador de arquitectos como Norman Foster, Rem Koolhaas ou Renzo Piano, o sociólogo e politólogo Mahmood Mamdani, autor de obras sobre a história do colonialismo, Kamil Merican, director executivo do atelier Group Design Partnership, que venceu o Prémio Aga Khan para a Arquitectura em 2007 com o projecto da Universidade de Tecnologia Petronas, na Malásia, a arquitecta japonesa Toshiko Mori, o arquitecto chinês Wang Shu (Prémio Pritzker, 2012), a artista plástica paquistanesa Shahzia Sikander, radicada em Nova Iorque, e o arquitecto turco Murat Tabanlioglu, cujo atelier projectou o mais alto arranha-céus de Istambul, a torre Safira, e também o primeiro museu de arte moderna do país.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Conferência Global do Clima Partidário: Salvemos o planeta político
Há sete mil milhões de seres humanos no planeta. Entre eles, 10 milhões de portugueses, no seu pequeno rectângulo da Terra, interrogam-se: ainda vamos a tempo de evitar o aquecimento global extremo da direita e da esquerda? (...)

Conferência Global do Clima Partidário: Salvemos o planeta político
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há sete mil milhões de seres humanos no planeta. Entre eles, 10 milhões de portugueses, no seu pequeno rectângulo da Terra, interrogam-se: ainda vamos a tempo de evitar o aquecimento global extremo da direita e da esquerda?
TEXTO: É uma tarefa histórica para as próximas gerações: será possível evitar a subida das marés extremistas (de direita e de esquerda) e parar com a asfixia austeritária antes do fim do século? Quando se avolumam as suspeitas de que o cálculo da sobretaxa do IRS foi manipulado pelos técnicos da Volkswagen (ao serviço do Governo de Passos Coelho), com dados falsos sobre as emissão de gases tóxicos na estufa eleitoral, é chegada a hora das decisões corajosas. Salvemos o planeta enquanto é tempo, porque só temos este. Mas há esperança para os habitantes da Terra. Há sinais de que responsáveis políticos começam finalmente a agir. É possível sonhar com um compromisso geral. Em primeiro lugar, combustíveis fósseis altamente poluentes do clima político — como o Presidente Cavaco Silva — vão acabar em breve as suas reservas. O pavio apaga-se em Janeiro. A partir daí, impõe-se uma alternativa presidencial menos velha e muito menos desequilibradora dos ecossistemas animais. Mas será preciso investir em tecnologias de ponta. Como tal, o professor Marcelo já está a dormir menos uma hora por noite (agora dorme cerca de meia hora) para investigação e desenvolvimento de novos factos políticos. E o candidato Sampaio da Nóvoa apostará ainda mais na reciclagem de velhas letras e canções motivadoras de Zeca Afonso, cheias de lenha para aquecer o coração. Do mesmo modo, a candidata Maria de Belém deverá abandonar o uso continuado de lacas capilares com gases de efeito de estufa, apostando ecologicamente em penteados naturais. Da parte dos partidos políticos da direita e do centro, que sempre se moveram à base dos antigos e malcheirosos motores do “arco da governação”, subitamente obsoletos, espera-se agora imaginação e poupança. Paulo Portas poderá, por exemplo, abandonar os seus excedentes retóricos alarmistas — “é perplexizante que o PS reveja a sua história”, “sinto-me insultado como cidadão português”, etc. — e concentrar-se em mensagens simples, com energias verdadeiramente revogáveis. Quando ainda estava no poder, recorde-se, o ex-vice-primeiro-ministro deu um grande exemplo ao apresentar um “guião da reforma do Estado” tão conciso que ainda hoje poderia competir (em termos de poupança de papel) com os acordos firmados entre o PS e o Bloco de Esquerda e o PCP. Esta política de “pense bem antes de imprimir esta folha porque só tem duas ou três frases que qualquer criança pode decorar, pense na saúde do planeta” é uma verdadeira revolução. Comparando, claro, com os tempos gastadores em que Paulo Portas consumia 40 mil páginas de fotocópias sobre submarinos numa só noite, sem que até hoje fosse explicado tanto gasto em celulose destruidora de milhares de árvores, fabricantes de oxigénio. Também Passos Coelho, ex-primeiro-ministro, poderá entregar para reciclagem o seu pin com uma bandeirinha nacional e deixar de fazer de conta que ainda é chefe de Governo. A nova roupagem de governante moderado do centro poderá ser doada a refugiados mais necessitados do que ele. Os ácidos do seu estômago poderiam ser úteis na siderurgia nacional, se ainda houvesse indústria. Também poderá concentrar-se no estudo da teoria de que não se devem confundir alterações climáticas com alterações constitucionais. Quanto ao PS e a António Costa, a prioridade será a construção de pontes com a margem esquerda do Parlamento e, ao mesmo tempo, uma aposta firme em barragens que contenham a enxurrada de propostas despesistas e anti-União Europeia. Também surgirão novos estudos sobre viabilidade nos transportes, uma vez que ainda não é certo se fica mais barato tPSer os autocarros movidos a electricidade, a diesel ou a CGTP (Composto Grevista dos Transportes Públicos). O futuro poderá passar ainda pela construção de aterros sanitários para políticas fora de prazo (basicamente, tudo o que Passos Coelho fez em matéria social), sem descurar a colocação, em todas as esquinas das cidades, de vidrões para promessas quebradas do PS, reciclando os apoios à esquerda do Governo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto a Mário Centeno, o ministro das Finanças já provou que consegue pôr a oposição a rir com uma energia altamente renovável (as gargalhadas) e tem todos os meios para, na União Europeia, implantar uma importante aposta nas saídas limpas. Desde que disse que “houve uma enorme desproporção entre os resultados da ‘saída limpa’ e a propaganda que ela gerou”, este especialista em desperdícios deverá apresentar, finalmente, uma fórmula coerente para gastos e receitas equilibrados, coisa que o planeta político espera a todo o momento. De qualquer modo, se os políticos portugueses ultrapassarem as quantidades já previstas de demagogia e de poluição da paisagem política, poderão sempre comprar quotas e excedentes aos países africanos de língua oficial portuguesa, como já se faz com as quotas de CO2. Angola, no entanto, está fora de causa, pois gastou já todos os créditos de sujidade política para a próxima década, ao defender que Luaty Beirão e os seus jovens companheiros não se tratam de presos políticos. Todos juntos, vamos evitar o aquecimento global e mais inundações e grandes secas no Parlamento.
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ONU alerta: fome na Somália vai agravar até ao fim do ano
A crise alimentar no Corno de África vai continuar até ao final do ano e para a enfrentar é necessário mais dinheiro. Num relatório divulgado ontem, a agência da ONU que coordena a ajuda humanitária, a OCHA, sublinha que na Somália a fome vai piorar e que o envio de alimentos tem que continuar. (...)

ONU alerta: fome na Somália vai agravar até ao fim do ano
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: A crise alimentar no Corno de África vai continuar até ao final do ano e para a enfrentar é necessário mais dinheiro. Num relatório divulgado ontem, a agência da ONU que coordena a ajuda humanitária, a OCHA, sublinha que na Somália a fome vai piorar e que o envio de alimentos tem que continuar.
TEXTO: “Toda a região Sul vai sucumbir à fome”, diz o documento da OCHA, citada pela Reuters. É feito um apelo ao aumento dos donativos em mais 1400 milhões de dólares porque é preciso custear uma crise humanitária que “vai estar sempre em crescendo nos próximos quatro meses”. Segundo a ONU, nos meses de Agosto e Setembro é provável que faltem alimentos nos campos de refugiados. “As zonas identificadas como de maior risco nos próximos seis meses são o Sul e o Centro da Somália, o Sul e o Leste da Etiópia e os campos de refugiados no Djibuti, Quénia e Etiópia”, diz o documento. Etiópia e Quénia, prossegue a OCHA, deverão começar a sair do alerta vermelho perto do fim do ano. Na Somália — cujo Centro e Sul está debaixo do controlo da al-Shabab, organização islamista ligada à Al-Qaeda — não existe esse momento de recuperação devido aos “elevadíssimos níveis de subnutrição, às péssimas condições para o pastoreio e às colheitas, que estão muito abaixo do considerado normal”. O dramatismo que se vive na Somália — a al-Shabab não permite a entrada de ajuda humanitária nos territórios que controla — tem desviado os olhares dos outros países do Corno de África afectados pela fome. No Quénia, têm-se registado lutas violentas entre tribos fronteiriças (quenianas e somalis) e clãs da mesma tribo pela posse dos poucos recursos. No Nordeste do Quénia, habitado pelos turkana (nómadas pastores que dão nome à sua região), a Reuters dá conta de tiroteios iniciados devido ao roubo (ou tentativa de roubo) do gado ainda vivo. A maior parte dos turkana não usa moeda nem faz troca de produtos, alimentando-se de leite, sangue dos animais e frutos selvagens. “Perdemos muita gente nos últimos meses, muitas crianças e muitos idosos. Não os contamos porque a morte deles é uma vergonha para a nossa comunidade”, disse à Reuters o chefe da comunidade de Naporoto, que recusou dizer o seu nome.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
O terror do Boko Haram desenhado pelas crianças
“Foram ter com as pessoas que estavam à beira da água e dispararam contra elas, na cabeça”, conta Soumaila Ahmid. Com canetas de feltro conta o que viu os membros do grupo radical islamista que controla parte do Nordeste da Nigéria fazerem. (...)

O terror do Boko Haram desenhado pelas crianças
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Foram ter com as pessoas que estavam à beira da água e dispararam contra elas, na cabeça”, conta Soumaila Ahmid. Com canetas de feltro conta o que viu os membros do grupo radical islamista que controla parte do Nordeste da Nigéria fazerem.
TEXTO: Rostos ensanguentados, corpos sem cabeça, casas queimadas: no campo de refugiados de Dar-es-Salam, perto do lago Chade, quando as crianças sobreviventes ao Boko Haram desenham as atrocidades que sofreram na Nigéria, o resultado é impressionante. Frente à grande tenda branca da Unicef, está uma multidão. São dezenas de rapazes vestidos com roupas poeirentas, que se acotovelam e riem à gargalhada, antes de serem chamadas à atenção pelos animadores. Todos querem participar no atelier de desenho organizado no espaço “Amigos das crianças”. Mas quando ficam frente à grande folha de papel branco, caneta de feltro na mão, o silêncio instala-se. O tema do dia é doloroso, e cada um deles se concentra para reconstituir o fio dos acontecimentos que testemunhou quando os islamistas atacaram a sua aldeia. Soumaila Ahmid diz que tem 15 anos, mas não lhe daria mais de 12. “No dia do ataque estávamos à nossa porta quando vimos os Boko Haram. Foram ter com as pessoas que estavam à beira da água e dispararam contra elas, na cabeça”, conta o rapaz de olhos amendoados. De cócoras, desenha com afinco uma embarcação de forma abaulada e cadáveres flutuando num rio: “Há os que conseguiram entrar em canoas, estão a fugir. Os outros estão mortos”, diz, sem pestanejar. Esquecer o quotidianoOutro desenho, outra cena de causar arrepios na espinha. “Este homem está em casa. Está a arranjá-la mas ouviu tiroteio lá fora. Quando vai ver o que se passa, um Boko Haram atira e pega-lhe fogo”, explica Nour Issiakam, também ele com 15 anos. Com se contasse uma história banal, conclui: “O homem tenta sair mas não consegue: toda a casa está a arder”. Será queimado vivo. “Desde que começamos esta actividade [o desenho], precipitam-se para se inscreverem”, diz o responsável do atelier, Ndorum Ndoki. “Eles desenham e depois podemos falar. Foi preciso levá-los a abrirem-se, o que não era fácil no início. Hoje estão orgulhosos de serem ouvidos. ” A equipa que com eles trabalha tenta “identificar” os que se isolam, ou que parecem ainda muito próximos da tragédia vivida, para tentarem evitar que o trauma se instale, explica. Todas as tardes, os ateliers de desenho são também ocasião para, entre dois jogos de futebol, o tricot, ou o ludo, abordar outros temas, como o amor ou a escola. É um parêntesis durante o qual as crianças enganam o tédio e esquecem um pouco o quotidiano do campo, pontuado pelo racionamento de alimentos e pelo calor infernal desta área de deserto, a uma dezena de quilómetros dos bancos do lago. “Nunca tiveram uma caneta”Perto de 800 crianças estão também a ser aprender na “escola de emergência” – oito grandes tendas abertas em Janeiro pela Unicef. “Antes não conheciam nada da escola, ainda que alguns tivessem tido ensino corânico. Muitos nunca tiveram uma caneta, mas eles aprendem depressa”, garante Oumar Martin, um animador camaronês que viveu anos na Nigéria e que se viu no fluxo de 18 mil refugiados que vieram para o Chade. No Nordeste da Nigéria, maioritariamente muçulmano e durante muito tempo abandonado pelo poder central, jovens que não falam outras línguas que haussa ou kanuri “constroem já frases em inglês e balbuciam de forma dificilmente compreensível algumas palavras em francês”, diz. Nos bancos da escola, encontram-se “crianças grandes” que ultrapassaram já os 20 anos, mas querem, eles também, aprender a ler e a escrever. De piroga ou a pé, a maior parte desses jovens viveram uma fuga perturbante, perseguidos mesmo já em águas chadianas. Mais de 140 de entre eles chegaram sem os pais, perdidos na confusão ou mortos pelo Boko Haram. Mahamat Alhadji Mahamat, 14 anos, demorou quase uma semana a chegar ao campo de Dar-es-Salam, junto a Baga Sola. De ilha em ilha, com os tios, escondia-se de dia e avançava de noite. Os pais, esses, ficaram na Nigéria. No seu desenho, alguns pássaros voam ao lado de um camião carregado de armas de vários tamanhos. “Nunca poderei esquecer o que vi”, diz, com um sorriso tímido. “Houve mesmo crianças que nasceram na estrada, durante a fuga. Quando encontro essas crianças [no campo], não posso deixar de pensar nisso…”“Mas vou aprender e um dia voltarei a casa, na Nigéria. ”
REFERÊNCIAS:
Militares portugueses evitam massacres e “têm de se orgulhar do que estão a fazer”
Os portugueses são a única força europeia em acções de combate no terreno na missão das Nações Unidas de estabilização da República Centro Africana. (...)

Militares portugueses evitam massacres e “têm de se orgulhar do que estão a fazer”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.350
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os portugueses são a única força europeia em acções de combate no terreno na missão das Nações Unidas de estabilização da República Centro Africana.
TEXTO: Os militares portugueses na República Centro Africana "têm de se orgulhar do que estão a fazer" na protecção dos civis perante os grupos armados, num teatro de operações marcado pela violência extrema, sustentou o general Marco Serronha. Em entrevista à Agência Lusa, de passagem por Lisboa antes de regressar ao quartel-general da componente militar da missão de estabilização das Nações Unidas na RCA (MINUSCA), com cerca de 11 mil militares, o general Marco Serronha disse que as forças portuguesas já conduziram operações que "impediram massacres" que poderiam ter resultado em "centenas ou mesmo milhares de mortos". "Quem lá está sabe que impediu um massacre, que defenderam pessoas ou apoiaram campos de refugiados, isso também é uma vitória que tem de ser registada na contabilidade", defendeu o general, que iniciou funções como Segundo Comandante da MINUSCA, para um mandato de um ano, na missão comandada pelo general senegalês Balla Keita. A protecção dos civis é o principal objectivo da MINUSCA [Missão Multi-dimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização] da RCA. A força portuguesa de reacção rápida, que já vai no 4. º contingente, conta com 159 militares. O primeiro e o segundo contingentes foram constituídos por comandos e o terceiro e o actual por pára-quedistas. No próximo ano regressam os comandos à RCA. Com mortes verificadas entre os capacetes azuis na RCA — este ano já morreram seis — num teatro de operações perigoso, o general Serronha recusa atribuir à sorte o facto de não ter havido ainda situações mais graves do que "ferimentos ligeiros" entre os militares portugueses. "A principal protecção que a força tem deriva de duas coisas. Do seu equipamento, temos bons equipamentos de protecção, coletes balísticos, capacetes e as viaturas", disse, acrescentando que, em segundo lugar, "a operação no terreno é muito boa" e tem um efeito dissuasor. A realidade, frisou, é que a força portuguesa — a única força europeia em acções de combate no terreno na MINUSCA — é a tecnologicamente mais bem equipada e a mais bem treinada, cumprindo padrões de eficácia que não estão ao alcance da grande maioria das outras forças, provenientes do Ruanda, Paquistão, Egipto, Bangladesh, Zâmbia, Burundi, Marrocos, Camarões e Mauritânia, entre os maiores contribuidores, num total de 11. 650 militares. O general Serronha, que assumiu funções como segundo comandante da MINUSCA em Setembro, admitiu ser "evidente que não se pode dizer que não há risco". Contudo, os grupos armados não atiram sobre os portugueses "de ânimo leve". Nas palavras do general Serronha, os grupos armados sabem que se se meterem com os portugueses "levam na touca". "Eles [grupos armados] sabem que as forças portuguesas que lá estão, se fizerem tiro sobre elas, elas reagem ofensivamente de forma assertiva e portanto pensam duas ou três vezes antes de abrirem fogo", disse. "Tivemos três feridos ligeiros nos quatros contingentes. No primeiro contingente, dos Comandos, houve um [ferido], no segundo não tivemos ninguém, no terceiro houve em Bangui um soldado pára-quedista que teve o impacto de uma granada, e tivemos há um mês em Bambari um sargento que levou um tiro, mas nada de grave", resumiu. No último ano, a força portuguesa de reacção de rápida conduziu operações militares em Bambari, uma cidade com 40 mil habitantes a 300 km da capital, Bangui, actualmente considerada uma das cidades mais problemáticas em termos de segurança e na qual elementos de grupos armados têm provocado conflitos, quebrando um acordo com a MINUSCA. "Foi acordado que Bambari era uma zona livre de grupos armados. Os grupos armados não podiam andar na zona de Bambari uniformizados e com armas. Sempre que tentam tomar alguma posição de mais força na cidade tem havido intervenções da MINUSCA e tem sido a companhia de reacção imediata portuguesa que o tem feito", disse. Recentemente foi decidido o envio de seis viaturas blindadas PANDUR e de mais 20 militares para reforçar o contingente português na RCA, o que "dará um incremento do ponto de vista da letalidade". A força portuguesa, de reserva do comandante operacional, também tem a "missão de evacuação" e isso exige "capacidade de transporte com viaturas blindadas", explicou. O general Serronha frisou que o ambiente no teatro de operações da RCA é particularmente inóspito e os militares portugueses enfrentam condições duras, chegando a estar, quando saem de Bangui, um mês a viver em tendas não climatizadas, com temperaturas de 40 graus e rede mosquiteira, a dormir nos chamados "burros do mato" [camas articuladas] que têm de transportar, além das cozinhas de campanha. Além das condições no terreno, a força portuguesa sofre o que o general Serronha classifica como "guerra psicológica": "[os grupos armados] emitem comunicados a dizer que os portugueses massacram pessoas nos sítios onde estamos, é evidente que isso é desmentido pela MINUSCA e por toda a gente, mas tentam pôr alguma pressão psicológica sobre a força portuguesa de modo a inibi-la de ter uma acção operacional mais efectiva", especialmente em Bambari. O próximo passo da missão portuguesa, disse, é "colocar oficiais no Estado-maior da MINUSCA", na logística, no planeamento e nas informações, um objectivo que passará pela negociação no âmbito da ONU e que contribuirá, acredita, para "um Estado-Maior do quartel-general da MINUSCA mais efectivo". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4, 6 milhões, já provocou centenas de milhares de mortos entre os civis, 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2, 5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária. O governo do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Jean-Pierre Léaud morre como um homem
A morte desembaraça-se dos rituais no ocaso do rei-Sol: La Mort de Louis XIV, de Albert Serra. Jean- Pierre Léaud, real, é realmente humano. O actor vai ser homenageado em Cannes. (...)

Jean-Pierre Léaud morre como um homem
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-05-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20160531194747/http://publico.pt/1732476
SUMÁRIO: A morte desembaraça-se dos rituais no ocaso do rei-Sol: La Mort de Louis XIV, de Albert Serra. Jean- Pierre Léaud, real, é realmente humano. O actor vai ser homenageado em Cannes.
TEXTO: Jean-Pierre Léaud, a criança turbulenta que desencadeou em Cannes, em 1959, a Nouvelle Vague (Os 400 Golpes, de François Truffaut), vai ser homenageado no domingo, 22 de Maio, na cerimónia de encerramento do festival, com uma Palma de Honra. Léaud tem 72 anos. O seu último filme, La Mort de Louis XIV, do cineasta Albert Serra, é exibido nesta edição do festival em sessão especial. Tem havido alguns sussurros, que em alguns casos se transformaram já em vozes: o festival quer apoderar-se do corpo de Léaud, meter-se com ele na História que quer contar, mas isso não lhe deu coragem suficiente para colocar o filme do catalão (o realizador, também, de O Canto dos Pássaros, de 2008, ou de Honra de Cavalaria, de 2006) numa secção mais oficial, a competição por exemplo, em vez de aproveitar-se apenas do espectáculo da História. Não deixa de ser irónico que La Mort de Louis XIV trata de uma agonia, as duas semanas do ano 1715 em que cortesãs, médicos, eclesiastas, ministros desfilaram perante o leito de morte real enquanto a gangrena ia conquistando um corpo: a morte não precisa de se bater com rituais, não se deixa aprisionar pelo espectáculo, anula qualquer protocolo e encenação de poder. Serra não se afasta nunca da cama onde se dá o crepúsculo do rei-Sol, seguindo as descrições de cortesãos que assistiram a esses últimos momentos, no caso concreto as Mémoires de Saint-Simon e do Marquês de Dangeau. Como se filmasse um inventário de pormenores, gestos, tentativas (falhadas) de encenação e de espectáculo que nunca vão poder acontecer – o corpo em decadência é que manda, e desembaraça-se disso tudo. La Mort de Louis XIV dá direito a que uma personagem tenha a sua morte privada – sempre coisa íntima e solitária. É justo que se diga que esta coerência descarnada, podendo ser obviamente um statement moral sobre o cinema (e sobre as fronteiras do espectáculo), dá origem a um filme, e não devemos ter medo da palavra, encantador: a impotência dos humanos perante a morte é comovente e hilariante – dá para atrever dizer que é dos filmes mais “humildes” de Serra, porque se trata também do confronto de um “formalista” e “troublemaker” (assim ele se define) com as suas idiossincrasias. Léaud é real: realmente humano, desaparecendo dentro da sua carne apodrecida. A morte anuncia-se de forma gongórica no novo filme de Xavier Dolan. Xavier não pode estar surpreendido. Numa entrevista à Radio Canadá antes do festival, terá reconhecido que Cannes, que praticamente o criou e que em 2014 ajudou à festa Mamã com o Prémio do júri, sabe que “é muito duro, é severo” o que se joga na Croisette – mesmo se ao longo da sua carreira ele não tenha tido razão de queixa, até pelo contrário. “As pessoas às vezes podem ser vis. Elas adoram detestar, elas adoram odiar. Mas não sinto pressão alguma, porque estou orgulhoso do filme que fiz, e tenho uma vontade enorme de o partilhar”. Chama-se Juste la Fin du Monde, é o regresso à competição depois de um ano sabático, em que até foi jurado no festival, e para ele é o seu “melhor filme”. A reacção, como neste momento Dolan já sabe, é de ressaca (no mínimo…). Cannes, o que quer que essa palavra englobe, não concorda com ele, a julgar pelas primeiras reacções. Pouca gente compreende, para começar, porque é que a seguir ao fôlego do filme anterior e às experiências com o melodrama, se encerrou num huis clos com uma peça de teatro de Jean-Luc Lagarce, Juste la Fin du Monde, escrita em 1990 quando o dramaturgo se sabia atingido pela Sida, que repete os temas, os sufocos e as decisões de vida e de morte de Tom na Quinta (2013), que também era baseado numa peça de teatro, de Michel Marc Bouchard. Será sempre coisa privada de Dolan, a resposta, mas tem muito o ar de também ele ter sentido um efeito de ressaca no pós-Mamã e ter-se refugiado em território seguro, sem força para explorar horizontes. E, como para compensar, investiu em esforço, num cast de pompa - Nathalie Baye, Marion Cotillard, Léa Seydoux, Vincent Cassel e Gaspard Ulliel (é ele que regressa à família, 12 anos depois de ausência, para lhes anunciar que vai morrer) – que dirige como quem resume uma enciclopédia gráfica do grotesco. Que se vai afastando do espectador, emocionalmente, à medida que o tempo passa, o efeito do espectáculo reduzindo-se drasticamente. O resultado é um objecto anacrónico mas até mesmo por isso não se pode dizer que não haja aqui um enigma para decifrar: Dolan vai fazer 27 anos e já fez um filme de velho?
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte humanos carne criança medo corpo refugiado
Don Walsh: com a subida das águas do mar, “teremos nações inteiras a ter de ir embora”
Já 12 pessoas caminharam na Lua, mas só quatro foram ao ponto mais fundo do mar. Os dois primeiros a lá chegar foram Don Walsh e Jacques Piccard, em 1960 — e só deixaram de ser os únicos em 2012, quando o realizador James Cameron se decidiu aventurar nas profundezas pouco exploradas. E, para quem conhece bem os oceanos, é impossível não notar o rasto ruinoso das alterações climáticas. (...)

Don Walsh: com a subida das águas do mar, “teremos nações inteiras a ter de ir embora”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já 12 pessoas caminharam na Lua, mas só quatro foram ao ponto mais fundo do mar. Os dois primeiros a lá chegar foram Don Walsh e Jacques Piccard, em 1960 — e só deixaram de ser os únicos em 2012, quando o realizador James Cameron se decidiu aventurar nas profundezas pouco exploradas. E, para quem conhece bem os oceanos, é impossível não notar o rasto ruinoso das alterações climáticas.
TEXTO: Foi há quase 60 anos que o tenente norte-americano Don Walsh e o engenheiro suíço Jacques Piccard decidiram ir onde nunca ninguém tinha ido: o ponto mais fundo do mar, na Fossa das Marianas, a quase 11 mil metros de profundidade — e conseguiram-no. Agora, volvidas seis décadas, o oceanógrafo Don Walsh tem notado nas suas expedições o efeito destruidor das alterações climáticas e deixa o alerta de que ainda “temos tempo” para mudar as cidades costeiras para terrenos mais elevados; caso contrário, haverá cada vez mais refugiados climáticos. “Pela primeira vez na história da humanidade, teremos nações inteiras a ter de ir embora das suas terras por causa das alterações climáticas. Para onde vão?”, questiona. É o caso das ilhas Seicheles, de Tuvalu ou das Maldivas, onde a maior parte do terreno está nem a um metro acima do nível da água do mar, diz ao PÚBLICO Don Walsh, numa entrevista à margem da Conferência Global de Exploração (Glex), que se realizou pela primeira vez em Lisboa para assinalar os 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães. “É um assunto muito sério e o mais provável é que muitas das pessoas perderão as suas casas e as suas terras por não darem ouvidos aos conselhos dos especialistas”, explica. De olhos postos no rio Tejo, Don Walsh refere que a natureza se mexe devagar, mas que é ela que está ao comando. “Nesta zona ribeirinha de Lisboa não se está muito acima do nível da água. Até ao final deste século, poderemos não ter edifícios submersos, mas as estradas e infra-estruturas começarão a ficar inundadas”, aponta o explorador. Dos 87 anos de vida de Don Walsh, a maior parte deles foi passada enquanto uma das únicas duas pessoas no mundo a ter ido ao ponto mais fundo do oceano (em 2012 o realizador James Cameron juntou-se à lista, assim como Victor Vescovo em Maio deste ano; Jacques Piccard morreu em 2008). Foi quando tinha 28 anos, a 23 de Janeiro de 1960, que se aventurou com Jacques Piccard a bordo do batíscafo Trieste – desenhado pelo pai de Piccard, Auguste – até ao Challenger Deep, uma ranhura nas profundezas da Fossa das Marianas que é o ponto mais fundo do mar (o nome é uma homenagem ao navio britânico Challenger II, que descobriu o ponto em 1951). Chegaram aos 10. 911 metros. “Foi bom estar no rés-do-chão – podemos dizer rés-do-chão quando estamos a falar do oceano? – para ser pioneiro em alguma coisa. Não é uma oportunidade a que todos tenhamos acesso”, observa Walsh. Um dos maiores desafios na altura era a falta de conhecimento, de tecnologia adequada e o uso inevitável de técnicas “primitivas”: “Tudo o que queríamos usar tivemos de construir nós mesmos. Tudo era novo. Às vezes, em feiras, vejo equipamentos subaquáticos e quase consigo ver as minhas impressões digitais neles” – e muito mudou em 60 anos. Antes do dia do mergulho nas águas do Pacífico, os dois aventureiros passaram nove meses perto de Guam a fazer dezenas de mergulhos, testes e alterações nas coisas “que poderiam correr mal”. Ao todo, a viagem de ida e volta durou umas nove horas, conta Don Walsh. A descida levou perto de cinco horas. Iam às “apalpadelas”, muito devagar e com cautela. “Não tínhamos nenhum mapa do fundo marinho, como agora”. Assim que passaram a barreira dos 9000 metros, enquanto desciam, ouviram uma janela a rachar. “Se nós ainda a conseguimos ouvir, é porque estávamos vivos; se tivesse havido uma falha na barreira de pressão entre nós e o oceano, teríamos morrido logo. Seríamos uma poça enorme de gelatina vermelha”. Assim continuaram, apesar da probabilidade sempiterna de algo correr mal. “Não podemos ter medo, se tivermos perdemos a acuidade e não somos tão perspicazes”, admite. Demoraram-se 20 minutos no fundo e o regresso à superfície levou pouco mais de três horas. O batíscafo – um submersível utilizado para exploração subaquática – foi durante muitos anos a única forma de se poder ir ao oceano profundo. O Trieste não era pequeno e era preciso carregar as suas 150 toneladas a reboque. “Quando olhamos para este dia, parece que foi apenas um dia mais longo no escritório e isso é maravilhoso: o trabalho que tínhamos antes e depois de fazer o mergulho para pôr o submersível na ‘garagem’ era a mesma, estejamos a mergulhar dez metros ou dez mil metros”. E qual a sensação de se estar no fundo, com quase 11 mil metros de água por cima das cabeças? A resposta é lacónica: “Nem pensei muito nisso. ” De resto, tudo correu como planeado: “Fizemos o que dissemos que íamos fazer, dentro do prazo e do orçamento, com apenas 14 pessoas na equipa. ”Passaram mais de 50 anos desde este primeiro mergulho até que o ser humano se voltasse a aventurar nas profundezas da Fossa das Marianas. Foi em 2012 que o cineasta canadiano James Cameron desceu sozinho a bordo do Deepsea Challenger; passou lá quatro horas e bateu o recorde de Walsh e Piccard por seis metros. “Seis metros em 11 mil não é nada. Só mesmo para brincarmos uns com os outros”, ri Don Walsh. “É uma viagem dos diabos, passei o tempo a gritar na descida e a gritar na subida”, confessou James Cameron depois de regressar à superfície. “É sem dúvida o local mais remoto e isolado do planeta. Sinto que num único dia estive noutro planeta e voltei. ”O recorde foi novamente ultrapassado em Maio deste ano, pelo oficial da Marinha norte-americana Victor Vescovo, que chegou aos 10. 927 metros e foi o primeiro a fazer mais do que um mergulho (foram cinco mergulhos em dez dias). Antes, o norte-americano tinha subido aos pontos mais altos de todos os continentes e o seu objectivo agora é chegar ao ponto mais fundo dos cinco oceanos, ao longo de dez meses, na missão autofinanciada e intitulada Five Deeps. Terminará no final de Agosto e ainda o fará mergulhar até aos destroços do Titanic “porque fica a caminho” do ponto mais fundo do oceano Árctico. Don Walsh esteve presente tanto na missão de Cameron como de Vescovo. No fundo do mar, não há luz solar, as águas são gélidas e a pressão é enorme. “É um ambiente muito hostil”, contou o explorador Victor Vescovo na quinta-feira, durante a conferência Glex, na Aula Magna da Universidade de Lisboa. Ainda assim, há vida. Ao longo da viagem, foram captadas imagens de peixes, crustáceos, plantas e vermes marinhos. “A vida encontra sempre um caminho”, declara Vescovo. Além de vida, houve uma reviravolta agridoce na sua “proeza”: o mergulhador encontrou plástico no fundo da Fossa das Marianas, a milhares de metros de profundidade. A experiência de Don Walsh nos mares não lhe permitiu ficar surpreendido com isso: “O plástico vai para onde quer. Está em todo o lado nos oceanos, há milhões e milhões de toneladas de plástico nas águas. ”Don Walsh fez mais de 40 expedições ao Árctico e à Antárctida – tem até uma montanha chamada Walsh Spur na Antárctida – e não tem dúvidas de que as alterações climáticas são a principal ameaça para os glaciares e para os oceanos, numa equação onde também entra a acidificação dos oceanos e a pesca excessiva. “O plástico é só um sinal de que não estamos a tomar bem conta do nosso planeta. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As mudanças são subtis, diz, mas quando se vai muitas vezes aos pólos – e em muitos anos diferentes –, as diferenças notam-se. “A Antárctida é o continente mais seco do mundo porque a quantidade de precipitação é mínima; mas quando chove, fica lá durante milhares de anos. Agora, umas décadas depois, há muita chuva e não há tanto gelo nem neve”, descreve. O mesmo acontece no Árctico. Mesmo que a maior parte da superfície do planeta Terra seja água, os oceanos continuam a ser pouco explorados e há ainda muito por saber. Na Lua já caminharam 12 pessoas, num total de 300 horas, mas no ponto mais fundo do oceano só estiveram quatro pessoas, durante cerca de sete horas. “A minha mensagem quando falo com pessoas mais novas é de que no oceano encontramos sempre coisas novas”, como animais e novas plantas, o que já dificilmente acontece em Terra. “É onde está o nosso futuro. ”
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Palavras-chave medo
Pamela Anderson com os "coletes amarelos". Contra a “violência estrutural” das elites
A actriz e modelo tomou a palavra para criticar Macron e apoiar os manifestantes. O activismo é o outro lado da cara conhecida de Baywatch. (...)

Pamela Anderson com os "coletes amarelos". Contra a “violência estrutural” das elites
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: A actriz e modelo tomou a palavra para criticar Macron e apoiar os manifestantes. O activismo é o outro lado da cara conhecida de Baywatch.
TEXTO: A luta dos “coletes amarelos” em França ganhou uma nova, mas não totalmente inesperada, aliada: Pamela Anderson. Esta semana, a actriz e modelo canadiana escreveu um texto e alguns tweets que surpreenderam os que não seguem o seu papel de activista. "Comprar um carro novo não é, provavelmente, uma grande coisa para o Presidente Macron e seus ministros, mas é muito difícil para muitos cidadãos franceses que estão financeiramente sobrecarregados. Muitos cidadãos com menos condições financeiras não poderão trabalhar se não existir nenhum transporte público fiável no local. Muitos idosos não poderão ir às compras ou ao médico”, escreveu Pamela no site Pamela Anderson Foundation. "Vários meios de comunicação social vêem os 'coletes amarelos' como criminosos que causam destruição. Eu vejo as forças de destruição no outro lado", defende. "Eu sou pacifista, prometo, desprezo a violência", prossegue, "mas também sei que quando os protestos fazem uso da violência muitas vezes a culpa é do Estado que falhou e impediu que os cidadãos fossem ouvidos". Pam Anderson has a better critique of global neoliberalism than the Democratic Party https://t. co/1TekWxRJrePamela Anderson incentiva quem a lê a parar de se deixar hipnotizar pelas imagens de caos nas ruas de Paris e perguntar a si mesmo: de onde veio este movimento?A activista contrapõe aos actos de violência, como queimar carros luxuosos, a "violência estrutural" das elites francesas e globais exercida sobre os cidadãos das classes mais baixas. I despise violence. . . but what is the violence of all these people and burned luxurious cars, compared to the structural violence of the French -and global - elites?"Quando alguns manifestantes destroem carros e queimam lojas estão a atacar simbolicamente a propriedade privada que é a base do capitalismo. Quando atacam agentes da polícia, estão a rejeitar e a desafiar as forças repressivas do estado", concluiu. Não é a primeira vez que Pamela Anderson se associa a movimentos activistas: há vários anos que protesta contra o uso de peles na indústria da moda e luta contra a extinção de certas espécies de animais. A modelo já foi mais do que uma vez a cara de campanhas da PETA, a mais recente para salvar as focas. Vegetariana há vários anos, a actriz de Baywatch está associada a mais de 20 associações que lutam por várias causas, como a PETA, a Rights 4 Girls, a Oceanic Preservation Society e plataformas de ajuda a refugiados. Fala publicamente sobre estes e outros temas no Twitter e através da Pamela Anderson Foundation, plataforma que já recebeu vários prémios internacionais. Foi por estes meios que se pronunciou sobre o movimento que contesta a perda de poder de compra e o aumento dos impostos dos combustíveis em França, que vê como o seu país adoptivo – depois da participação na versão francesa do programa Dancing with the Stars e da sua alegada relação com o futebolista do Marselha Adil Rami. Na quarta-feira, Pamela Anderson disse na sua plataforma que estava contente por ver que os seus comentários sobre os "coletes amarelos" geraram reacções nos média (do Guardian ao Huffington Post) e nas redes sociais. Pamela Anderson foi descoberta aos 20 anos quando assistia a um jogo de futebol no Canadá, onde nasceu: uma das câmaras que filmam a audiência deu-lhe destaque num grande plano. Poucos segundos de fama bastaram para que ficasse conhecida como a "The Blue Zone Girl", culpa da t-shirt da marca de cerveja canadiana Labatt que usava nesse dia, e fosse chamada para ser o rosto da campanha de uma marca de lingerie e, mais tarde, da própria marca de cerveja. Até ser capa da Playboy em 1990, trabalho que fez explodir a sua carreira, foram dois passos. Pouco depois, estreava-se no pequeno ecrã como C. J. Parker, uma das personagens mais populares da série Baywatch, sobre um grupo de nadadores-salvadores que patrulham as praias movimentadas de Los Angeles, na Califórnia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos anos que se seguiram, foram várias as vezes em que Pamela e Tommy Lee, baterista dos Mötley Crüe com quem casou em 1995, foram capa de tablóides, que retratavam um casamento repleto de violência conjugal e expunham a relação difícil de Lee com as drogas. Durante a relação do casal, um dos seus empregados revelou um vídeo íntimo que encontrou na casa de Pamela e Tommy. O vídeo, com cenas de sexo explícitas, circulou na Internet durante vários anos. Entre vários casamentos e respectivas separações, um striptease na festa de aniversário de 82 anos de Hugh Hefner, dono da Playboy, e mais 13 capas da revista masculina, entres elas a última capa de sempre da edição americana, Pamela foi realizando mais alguns trabalhos como modelo e actriz. Mais recentemente, em 2009, destacou-se na área da moda, quando se tornou a cara da marca da estilista Vivienne Westwood.
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Entidades PETA
Gaza, a "maior prisão ao ar livre do mundo"
O exército israelita avisa sobre os bombardeamentos antes de disparar. Mas, na Gaza bloqueada, para onde podem fugir os civis? (...)

Gaza, a "maior prisão ao ar livre do mundo"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140731170208/http://www.publico.pt/1664842
SUMÁRIO: O exército israelita avisa sobre os bombardeamentos antes de disparar. Mas, na Gaza bloqueada, para onde podem fugir os civis?
TEXTO: Há imagens que acompanham todas as guerras – bombas a cair levantando o pó da destruição, clarões de disparos de artilharia, mortos, pessoas a gritar e a chorar com raiva e despero, pessoas fugindo, chegando ao país do lado, tendas de refugiados brancas do outro lado da fronteira. Vimos estas imagens na Síria ou no Iraque. E em Gaza? Também. Excepto as imagens dos refugiados em fuga. Porque em Gaza não há fronteira para atravessar, nem tendas brancas do outro lado para acolher quem foge da guerra. Os habitantes da Faixa de Gaza chamam-lhe a maior prisão ao ar livre do mundo. Em resposta aos bombardeamentos israelitas, às acusações do Hamas usar civis como escudos humanos, aos avisos por telefone ou sms do exército israelita para evacuarem uma dada área, a pergunta dos residentes era repetida uma e outra vez: “Fugir, mas para onde?”Uma série de organizações de defesa de direitos humanos de Israel pediram esta semana ao Estado hebraico que proporcione corredores humanitários seguros para que as pessoas pudessem fugir de combates. Até agora, durante o conflito, Israel permitiu a saída de cerca de 800 palestinianos com dupla nacionalidade. As organizações lembram que o território é densamente povoado e que a evacuação de uma série de zonas é quase impossível de conseguir porque não há zonas seguras para onde ir. Os ataques a escolas geridas pela UNRWA, organização da ONU responsável pelos refugiados palestinianos, mostram isto mesmo. A UNRWA conta mais de 200 mil deslocados nestas três semanas de conflito, acolhidos em 85 centros improvisados. Em Gaza a grande maioria da população (1, 2 entre um total de mais 1, 5 a milhões) são refugiados, palestinianos que viviam em território que é agora Israel e fugiram em 1948, quando foi criado o Estado judaico. Meio milhão deles vivem em oito campos oficiais da UNRWA. Mais de 80% dos habitantes de Gaza são dependentes de ajuda, um número que aumentou à medida em que o território foi progressivamente mais fechado. Houve alguns anos com uma expectativa de liberdade. Mas um aeroporto e um porto, construídos após os Acordos de Oslo de 1993, encerraram e foram destruídos pouco depois. O número de pessoas autorizadas a sair – a maioria para tratamento médico no Egipto ou Israel, em "casos humanitários graves" – diminuiu radicalmente. As expectativas de quem vive em Gaza são as mesmas de que noutros sítios do mundo, comentava Said Jnead, um agricultor de 53 anos, ao diário britânico The Telegraph, numa reportagem feita há alguns meses. Olhando para o filho de 13 anos, Jnead dizia: “Quero que ele seja médico ou advogado - tenho as mesmas aspirações que um pai no Ocidente. Mas aqui, com as coisas como estão, que hipótese é que ele terá na verdade?”Em Gaza nem o mar poderia ser opção de escapatória. Aliás, os pescadores têm sido dos mais afectados pelo bloqueio, com a marinha israelita a controlar quem passa as três milhas náuticas impostas como limite – antes eram seis, já foram nove. De vez em quando distraem-se atrás de um peixe e dão por si a ultrapassar os limites e na mira dos militares israeltias.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE