Festival Eurovisão rendido à Conchita de barba
E o sonho de Tom Neuwirth tornou-se realidade: Conchita Wurst apresentou-se em palco com cabelo comprido, vestido e barba, convencendo o júri da 59. ª edição do Festival Eurovisão com a interpretação da canção Rise Like a Phoenix, dando a vitória à Áustria, à frente dos candidatos da Holanda (238 pontos) e da Suécia (218). A figura deste travesti de 25 anos tinha causado polémica e críticas, especialmente no Leste da Europa. O austríaco recebeu muitos aplausos durante o concurso mas também muitas críticas, tendo mesmo sido lançadas petições online na Bielorrússia, Arménia e Rússia para que os excertos da sua part... (etc.)

Festival Eurovisão rendido à Conchita de barba
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-11 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140511170305/http://www.publico.pt/f334319
TEXTO: E o sonho de Tom Neuwirth tornou-se realidade: Conchita Wurst apresentou-se em palco com cabelo comprido, vestido e barba, convencendo o júri da 59. ª edição do Festival Eurovisão com a interpretação da canção Rise Like a Phoenix, dando a vitória à Áustria, à frente dos candidatos da Holanda (238 pontos) e da Suécia (218). A figura deste travesti de 25 anos tinha causado polémica e críticas, especialmente no Leste da Europa. O austríaco recebeu muitos aplausos durante o concurso mas também muitas críticas, tendo mesmo sido lançadas petições online na Bielorrússia, Arménia e Rússia para que os excertos da sua participação fossem retirados ou editados quando exibidos nas televisões nacionais. A organização da edição deste ano do festival, assegurada pela Dinamarca, declarou a tolerância como o tema principal do evento. Nas ruas de Copenhaga foram colocadas várias bandeiras arco-íris, símbolo do orgulho gay, durante a última semana. Conchita Wurst, “a senhora de barba”, venceu o festival da Eurovisão
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave gay
Orgulho "Gay" na Avenida da Liberdade contra vontade de Santana Lopes
A marcha de Orgulho "Gay" vai realizar-se no próximo sábado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, apesar do parecer negativo do presidente da autarquia, anunciou hoje um dos responsáveis pelo evento. Os organizadores decidiram não acatar a posição (não vinculativa) da autarquia divulgada ontem, porque dizem ter autorização do Governo Civil e da PSP para realizar a marcha, que deverá começar no Parque Eduardo VII e terminar no Rossio. "O Governo Civil enviou uma carta a dizer que podíamos realizar a marcha e a PSP também não colocou quaisquer entraves, disse apenas que o número de polícias presentes não deveria ser ... (etc.)

Orgulho "Gay" na Avenida da Liberdade contra vontade de Santana Lopes
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.416
DATA: 2004-06-19 | Jornal Público
TEXTO: A marcha de Orgulho "Gay" vai realizar-se no próximo sábado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, apesar do parecer negativo do presidente da autarquia, anunciou hoje um dos responsáveis pelo evento. Os organizadores decidiram não acatar a posição (não vinculativa) da autarquia divulgada ontem, porque dizem ter autorização do Governo Civil e da PSP para realizar a marcha, que deverá começar no Parque Eduardo VII e terminar no Rossio. "O Governo Civil enviou uma carta a dizer que podíamos realizar a marcha e a PSP também não colocou quaisquer entraves, disse apenas que o número de polícias presentes não deveria ser muito elevado porque nesse dia há jogo do Euro", disse Paulo Vieira, da associação Não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais. Os organizadores reuniram-se quinta-feira para afinar os últimos detalhes e na altura ficou "tudo certo": "Tínhamos todas as autorizações necessárias e agora o presidente da Câmara lembrou-se de dizer que não queria que a marcha fosse na Avenida da Liberdade", recordou Fabíola Cardoso, da associação Clube Safo. O presidente da Câmara de Lisboa tornou público ontem o parecer negativo da autarquia à realização da marcha, por considerar que "na Avenida da Liberdade só se devem realizar manifestações em datas muito especiais, como o 25 de Abril, ou provas desportivas". No entanto, os responsáveis pelo evento garantem que não vão desistir da iniciativa, uma vez que o parecer municipal não é vinculativo, ao contrário da decisão do Governo Civil, "que é favorável e já foi dada" aos organizadores, garantiu Paulo Vieira. A marcha, organizada por uma dezena de instituições e grupos representativos da população lésbica, "gay" e bissexual, deverá desfilar no dia 26 sob o lema "Pela Diversidade. Contra a Discriminação. Também somos Europa". Esperando mais de dois mil participantes na iniciativa que se realiza pela quarta vez em Lisboa, a festa do Orgulho "Gay" celebra a revolta, que se prolongou por três dias, de um grupo de homossexuais, nos Estados Unidos, contra perseguições policiais.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Itália insiste em apresentar Rocco Buttiglione como candidato à Comissão Europeia
O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Franco Frattini, afirmou hoje que Rocco Buttiglione continua a ser o candidato de Roma à Comissão Europeia, garantindo que o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, vai discutir com Durão Barroso a crise provocada pelo pedido de adiamento da votação do executivo. Questionado sobre se a Itália consideraria a alteração do nome do seu candidato - que foi um dos principais entraves à votação prevista para hoje da Comissão Europeia - Frattini respondeu: "Certamente que não o podemos fazer agora", depois de considerar que "esse debate irá ser sujeito a futura reflexão entre ... (etc.)

Itália insiste em apresentar Rocco Buttiglione como candidato à Comissão Europeia
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2004-10-28 | Jornal Público
TEXTO: O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Franco Frattini, afirmou hoje que Rocco Buttiglione continua a ser o candidato de Roma à Comissão Europeia, garantindo que o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, vai discutir com Durão Barroso a crise provocada pelo pedido de adiamento da votação do executivo. Questionado sobre se a Itália consideraria a alteração do nome do seu candidato - que foi um dos principais entraves à votação prevista para hoje da Comissão Europeia - Frattini respondeu: "Certamente que não o podemos fazer agora", depois de considerar que "esse debate irá ser sujeito a futura reflexão entre o presidente da Comissão e os chefes de Estado europeus". A nomeação do italiano Rocco Buttiglione, cujas convicções sobre a homossexualidade e o papel da mulher no casamento foram consideradas pelos grupos mais à esquerda do PE incompatíveis com o seu pelouro da Justiça, Liberdade e Segurança, constituiu o principal foco da tensão que levou Durão Barroso a anunciar hoje a remodelação da sua equipa, por forma a evitar o seu chumbo. Como consequência desta crise sem precedentes na história da UE, a equipa de Romano Prodi deverá permanecer à frente dos destinos europeus durante este período transitório. A situação em que caiu hoje a Comissão não está contemplada juridicamente, pelo que os diferentes grupos parlamentares do Parlamento Europeu estão reunidos, tentando definir qual o próximo passo a dar. O Parlamento Europeu não determinou nenhuma data para a apresentação de uma nova equipa, apesar de ter pedido que ela se realize "o quanto antes". Barroso calcula que necessitará de algumas semanas para consultar os dirigentes da UE e mudar nomes na lista do Executivo europeu. Porém, sobre este assunto, Durão Barroso limitou-se a assinalar que "mudará o necessário e o suficiente".
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Festival Número-Projecta 2007 regressa a Lisboa pela oitava vez
O cinema, a música e as artes visuais experimentais visitam Lisboa pela oitava vez integrados no Festival Número-Projecta, que arranca hoje e estará na capital até ao dia 14 de Novembro. Espanha é o país convidado nesta edição, pelo que terá direito a um ciclo, “Novo Cinema Espanhol”, com programação a cargo de David Reznak, e à presença de nomes do "VJing" internacional como No-Domain, e ao compositor e programador dos festivais Sonar e Offf, Oriol Rossell. “Fomentar o intercâmbio entre criadores nacionais e internacionais nas áreas da música experimental e do VJing, cinema e arte-vídeo” é o objectivo deste fest... (etc.)

Festival Número-Projecta 2007 regressa a Lisboa pela oitava vez
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2007-11-08 | Jornal Público
TEXTO: O cinema, a música e as artes visuais experimentais visitam Lisboa pela oitava vez integrados no Festival Número-Projecta, que arranca hoje e estará na capital até ao dia 14 de Novembro. Espanha é o país convidado nesta edição, pelo que terá direito a um ciclo, “Novo Cinema Espanhol”, com programação a cargo de David Reznak, e à presença de nomes do "VJing" internacional como No-Domain, e ao compositor e programador dos festivais Sonar e Offf, Oriol Rossell. “Fomentar o intercâmbio entre criadores nacionais e internacionais nas áreas da música experimental e do VJing, cinema e arte-vídeo” é o objectivo deste festival cujas exibições se vão distribuir pelos cinemas São Jorge e Quarteto e pelo Centro Cultural O Século. CinemaDo panorama português, no campo do cinema, destaca-se uma retrospectiva antológica de Tiago Pereira, que tem sido distinguido com vários prémios nacionais e internacionais pelas suas obras, que recolhem sons e imagens da cultura popular portuguesa, com especial ênfase no planalto mirandês. O “pink film” japonês será outro ponto forte deste ano. Esta expressão, que surgiu na década de 60, designa uma série de filmes eróticos, sado-eróticos, hetero, gay ou mistos. A principal diferença em relação ao "soft-porno" de outros países é que são filmados em 35mm, já que se destinam a um circuito restrito de salas de cinema especializado. Destaca-se o filme “Tokyo X Erótica” (2001) de Takahisa Zeze, cuja história questiona sexo, religião e política, num mundo em que prevalece a solidão e a estranheza. Os visitantes poderão ainda assistir à ante-estreia de “Soundwalkers” um filme-ensaio de Raquel Castro, que fala sobre o respeito pela voz e pela palavra e conta com entrevistas de António Ferreira, Becca Laurence, Peter Cusack e Rodrigo Santos, entre outros. No campo documental ressalta o nome “Mãe Ju”, da dupla Kiluanje Liberdade e Inês Gonçalves, sobre as discotecas e as novas sonoridades de Luanda. Nas palavras de José Eduardo Agualusa trata-se de “retratos de uma cidade que resiste, teimosamente, não obstante as carências de todo o género. A Luanda que ri, e dança e festeja a vida, mesmo enquanto faz o luto. (. . . ) A Luanda que está a dar uma nova alma à língua portuguesa”. Porque Espanha é o país convidado desta edição do Festival Número-Projecta, foi convidado David Reznak, realizador e programador madrileno não só para apresentar “La Osa Mayor Menos Dos”, a sua obra mais recente, mas também alguns dos títulos mais significativos do novo e independente cinema daquele país, como sejam “Las Horas del Dia”, primeira longa-metragem de Jaime Rosales, ou “Carlos Contra el Mundo”. MúsicaInfluenciados pelo tecno, o psicadelismo e o pós-punk ou o funk e com uma música que associa sons, imagens e ideias, Photonz representam, também, Portugal no festival. A solo será apresentado o trabalho de música electrónica de Rafael Toral, que se pode definir como “música electrónica pós-free jazz”, onde a componente visual se tem vindo a acentuar nos últimos anos. Oriundos da Alemanha, os Cluster prometem surpreender o público com as suas performances onde recorrem a sintetizadores de voz, relógios de alarme ou utensílios de cozinha, em sessões de improvisação. Os programadores do festival destacam também o colectivo de artistas londrino D-Fuse, que conjuga audiovisual, web, filmes, televisão e arquitectura nos seus espectáculos, com o objectivo de levar os espectadores a reflectir sobre a natureza multidimensional da experiência artística. A artista japonesa, Ikue Mori, vai musicar três filmes mudos do cineasta Maya Deren, uma peça desenvolvida a convita da Tate Modern em 2007. Vídeo-arteA Heraclitus, organização internacional convidada de 2007, que gere projectos artísticos e produz mostras audiovisuais, estará representada pela sua directora, a realizadora Joanna Callaghan. Será feita a reposição do "screening" “O Vídeo vai ao Cinema”, uma seleccção de vídeo-arte portuguesa em estreita ligação com a arte e a linguagem cinematográficas, da responsabilidade de Dinis Guarda e André Gonzaga. Nesta edição o Número-Projecta, uma parceria entre a associação Número – Arte e Cultura e a Netamorphose, com a colaboração da editora/promotora Variz. org, volta a reforçar a ligação com o Festival de Avanca, já com 10 anos, e que se mantém como Festival Nacional convidado. O Número-Projecta é inaugurado hoje às 18h15 no Cinema Quarteto com uma Antologia de Manuel Saiz e com o “pink film” japonês “Tokyo X Erótica” às 18h30. Em simultâneo, às 18h45 passará a primeira sessão do Avanca 2007. Às 21h15 começa o “Novo Cinema Espanhol” com “Las Horas del Día” e, quinze minutos depois, passa outro filme japonês, “Pink Ribbon”. O primeiro dia no Quarteto encerra com “Mãe Ju”. O Cinema São Jorge será palco do concerto dos Kemika Fields às 23h00, seguido de Mista Jules, Plagia e Hedonic 2.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura campo sexo género japonês gay luto
Polícia tolera racismo e denúncias não são investigadas a fundo
Relatório sobre Portugal da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa é apresentado esta terça-feira em Estrasburgo. (...)

Polícia tolera racismo e denúncias não são investigadas a fundo
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Relatório sobre Portugal da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa é apresentado esta terça-feira em Estrasburgo.
TEXTO: Em Portugal, os comentários racistas e homofóbicos são raramente proferidos por políticos e, quando acontecem na sociedade, são condenados publicamente; a violência racista é pouco comum e as autoridades mostram a sua oposição firme a esse fenómeno; o país reforçou a legislação contra os discursos de intolerância e ódio e ratificou em 2017 um protocolo que inclui uma proibição global da discriminação. O relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) – um organismo independente de monitorização dos direitos humanos dos 47 países do Conselho da Europa –, que é publicado nesta terça-feira, enuncia vários aspectos positivos, mas rapidamente expõe o que considera serem lacunas na lei e na prática contra a discriminação motivada pelo racismo ou a homofobia. A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) não é independente, salienta a ECRI que manifesta igualmente dúvidas quanto à independência de entidades como a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) ou o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), com competências para receber queixas, investigar e propor sanções, mas com dependência directa do Executivo. Os elementos que constituem este grupo independente, que publicou o último relatório sobre Portugal em Março de 2013, dizem que houve, desde então, muitos progressos nalguns aspectos mas também manifestam preocupação relativamente a outros. Todos os anos, a ECRI publica relatórios sobre uma dezena de países. Neste ano, neste conjunto, está Portugal. “São inúmeras as acusações graves de violência racista cometida por agentes da polícia", aponta o relatório. "Contudo, nenhuma autoridade reuniu sistematicamente estas acusações e procedeu a um inquérito eficaz para determinar se são ou não verdadeiras. Isto levou ao medo e falta de confiança na polícia, particularmente entre as pessoas de origem africana. "O documento cita o despacho de acusação contra os agentes da polícia da Esquadra de Alfragide acusados de racismo e tortura, em Julho de 2017, como exemplo de “uma situação grave de racismo institucional numa unidade da polícia que é tolerada pela sua hierarquia”. Por isso, recomenda a criação de um órgão independente para investigar “as alegações de abusos e racismo pela polícia” em Portugal. A pedido das autoridades portuguesas, um documento intitulado “Ponto de vista do Governo” é acrescentado num apêndice ao relatório. Nele, a PSP e a IGAI refutam a maioria das conclusões que lhe dizem respeito, em particular a acusação de que toleram o racismo. A IGAI, em particular, insurge-se contra a mencionada necessidade de um organismo que investigue alegados casos de racismo e violência da polícia, e apresenta-se como esse "orgão independente". Noutro exemplo de discriminação, o documento de mais de 60 páginas relembra que o abandono escolar das crianças afrodescendentes é três vezes maior e existem cinco vezes menos alunos de origem africana na universidade. O desemprego é elevado entre os adultos afrodescendentes, os programas de realojamento resultaram numa segregação espacial e os que não conseguiram beneficiar deles vivem frequentemente em bairros pobres, acrescenta. A situação das crianças ciganas é “profundamente preocupante”: 90% delas abandonam a escola cedo, frequentemente entre os 10 e 12 anos de idade. Apenas 52% dos homens e 18% das mulheres de origem cigana trabalham. O relatório conclui que não foram alcançados alguns dos objectivos mais importantes da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas de 2013. Lembra que 90% das crianças ciganas abandonam a escola antes de concluírem o ensino obrigatório em comparação com 14% da população em geral. E resume: “Os ciganos continuam a sofrer elevados níveis de desemprego, vivem frequentemente em condições de habitação precárias e são ameaçados de despejos forçados. Os afrodescendentes enfrentam problemas semelhantes. ”A ECRI faz duas recomendações prioritárias, relativas ao fim dos despejos forçados ilegais (em bairros degradados) e à execução de despejos legais e dentro das normas internacionais, bem como ao dever do Estado de garantir que todas as crianças ciganas frequentem o ensino escolar obrigatório. Contudo, é na investigação a casos de violência policial que encontra mais lacunas, admitindo que, relativamente à independência das entidades que investigam os actos de violência ou discriminação, tem a maior desconfiança. As críticas mais duras visam, justamente, as polícias e a IGAI, ao ponto de a ECRI recomendar “a criação de um órgão independente que investigue as alegações de abusos e racismo pela polícia”. “São inúmeras as acusações graves de violência racista cometida por agentes da polícia”, considera a ECRI, que faz especial referência ao caso de 18 agentes da polícia acusados de tortura e outros crimes contra seis vítimas de raça negra, em 2015 na Esquadra da PSP de Alfragide, actualmente em julgamento. O relatório menciona o despacho de acusação proferido em Julho de 2017 como um sinal de que existe “uma situação grave de racismo institucional numa unidade da polícia, que é tolerada pela sua hierarquia”. Na análise iniciada em Novembro de 2012 e concluída em Março de 2018, a ECRI considera que a independência dos organismos de promoção da igualdade (como é o caso da CICDR) “é indispensável para assegurar a sua eficácia e impacto, em particular ao tratar da discriminação (estrutural) que emana das autoridades e ao decidir sobre as denúncias, tal como no caso da CICDR”. E justifica: “Por essa razão, as autoridades deveriam transformar a CICDR numa entidade jurídica distinta, colocada fora do executivo e do poder legislativo, atribuir-lhe um orçamento separado, permitir-lhe decidir independentemente a sua organização interna e a gestão dos seus recursos. "A ECRI recomenda ainda que todos os que exerçam funções de supervisão nessa "entidade jurídica distinta" sejam seleccionados e nomeados "através de procedimentos transparentes, participativos e centrados nas suas competências" e que seja conferido a essa entidade (que seria uma outra CICDR) "o direito de fazer declarações públicas e publicar estudos e relatórios de forma independente. ”De acordo com a ECRI, a falta de independência condiciona as práticas. Em muitos casos, explica, as medidas tomadas para combater o discurso de intolerância e ódio são insuficientes e as sanções aplicadas não são dissuasoras – acontece por exemplo quando grupos da extrema-direita e neonazis propagam o discurso de ódio na Internet e ameaçam os migrantes. O ACM e a CICDR não publicam estatísticas específicas sobre este fenómeno. As estatísticas recolhidas por organizações da sociedade civil e apresentadas em estudos indicam que o número de casos de discurso de ódio é bem mais elevado do que as divulgadas pela Direcção-Geral da Política de Justiça cujos dados públicos mais recentes são de 2014. A preocupação estende-se a pessoas sujeitas a actos ou discursos homofóbicos ou transfóbicos. “A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que tem competência para auxiliar as vítimas de homofobia e transfobia, confirmaram que muitos casos de discurso de ódio não lhes são comunicados”, escreve a ECRI. O ACM admitiu o mesmo, relativamente aos migrantes. Segundo um estudo internacional, “apenas um quarto das pessoas inquiridas [em Portugal] conhece estas duas instituições; apenas 5% das vítimas ciganas e 9% das vítimas negras contactaram uma autoridade após sofrerem discriminação”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No plano das leis, a ECRI acolhe bem a ratificação em 2017 de um protocolo no qual Portugal se compromete a proibir globalmente a discriminação. E saúda algumas das medidas tomadas para tornar isso possível, como a formação de polícias e as iniciativas de sensibilização na escola e na comunidade, e aponta outros progressos, como por exemplo a cooperação entre as polícias, os organismos do Estado e a sociedade civil para impedir que o discurso do ódio ou a discriminação se banalizem. Porém, lamenta que nenhum artigo do Código Penal criminalize “explicitamente a expressão pública de uma ideologia racista”. Do ponto de visto penal, existem lacunas relativamente àquilo que é a Recomendação de Política Geral feita a todos os Estados e de igual modo, refere. Por outro lado, considera que a legislação portuguesa deve criminalizar a discriminação racial no exercício de um cargo público ou profissão e que a motivação racista, homofóbica ou transfóbica seja assumida como circunstância agravante em qualquer infracção e não apenas, como já prevê a lei, nos crimes de homicídio e de ofensas corporais. Mas aponta como muito positiva a “regra progressista”, recentemente introduzida, de inversão do ónus da prova: a discriminação é presumida e deixa de ser necessário à pessoa visada provar que ela existiu.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
O portão novo de Dachau é tão cínico como o velho
Campo de concentração voltou a ter no portão a cínica inscrição “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta). (...)

O portão novo de Dachau é tão cínico como o velho
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Campo de concentração voltou a ter no portão a cínica inscrição “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta).
TEXTO: O aniversário da libertação do campo de concentração de Dachau foi celebrado com um portão novo. Expliquemos: no início de Novembro do ano passado, a porta de homem da entrada de Dachau, uma estrutura de ferro de 1, 95m de altura por 95cm de largura com o célebre slogan “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta), foi roubada. Incapazes de identificarem os autores do furto e de a recuperar, as autoridades alemãs mandaram construir uma réplica exacta, que foi instalada esta quarta-feira. Foi precisamente há 70 anos que os soldados americanos chegaram a Dachau, 20 quilómetros a norte da cidade alemã de Munique, e começaram a desmantelar aquele que foi o primeiro campo de concentração criado pelos nazis. Foi em Dachau que, entre 1933 e 1945, estiveram confinadas mais de 200 mil pessoas, entre opositores ao III Reich, primeiro, e homossexuais, ciganos, deficientes e judeus, já no decorrer da Segunda Guerra. 40 mil das quais acabariam por morrer. Michael Poitner, o ferreiro alemão que fez a réplica, disse à Reuters que tentou ser absolutamente fiel à porta original, instalada em 1936: “Está o mais perto possível, com uma diferença de milímetros aqui e ali. ” Poitner, que nasceu na cidade de Dachau, sempre teve muito presente o campo construído na antiga fábrica de munições. Para executar a cópia desta porta em ferro fundido que pesa mais de 100kg o ferreiro reuniu uma série de fotografias e estudou vários documentos. “Foi uma encomenda cheia de história e andará por aqui mais tempo do que eu”, acrescentou à agência de notícias, lembrando que o campo, hoje um memorial, recebe anualmente 800 mil visitantes. “Foi preciso muito pensamento para chegar a este slogan nazi”, disse ainda, “consegue-se sentir todo esse cinismo neste portão”. Quando os soldados americanos entraram em Dachau, a 29 de Abril de 1945, descobriram pilhas de cadáveres ao ar livre, muitos já em decomposição, e mais de 30 mil detidos, muitos deles prestes a morrer de fome. As imagens que então foram transmitidas estão entre as primeiras que deram testemunho, no fim da guerra, da poderosa máquina de matar do regime nazi.
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Partidos LIVRE
Votar aos 16? As opiniões dividem-se, mas os medos são os mesmos
Não podem votar nas europeias, mas têm inquietações comuns aos votantes — além das ambientais. Alguns sentem-se preparados para escolher, outros acreditam que falta representatividade e informação. O que pensam os jovens do voto aos 16 anos e o que os preocupa na União Europeia? (...)

Votar aos 16? As opiniões dividem-se, mas os medos são os mesmos
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não podem votar nas europeias, mas têm inquietações comuns aos votantes — além das ambientais. Alguns sentem-se preparados para escolher, outros acreditam que falta representatividade e informação. O que pensam os jovens do voto aos 16 anos e o que os preocupa na União Europeia?
TEXTO: Eduarda Pastor queria ir às urnas este domingo, 26 de Maio. Já sabe em quem votar — só lhe falta idade. Os 17 anos não permitem que “contribua para as europeias”, por isso vai ter que guardar esta “decisão já tomada” para a próxima oportunidade. E isso desagrada-lhe: “As pessoas estão cada vez a ganhar mais consciência e eu sinto que era muito importante que os jovens pudessem votar aos 16 anos”, diz ao P3, enquanto espera que a manifestação pelo clima, no Porto, arranque. A 15 de Maio, o PAN propôs ao Parlamento o alargamento da idade de voto para os 16 anos, mas o projecto de resolução foi chumbado pelo PSD, PS, CDS e PCP. André Silva, deputado pelo partido e autor da proposta, argumentou que a mudança “fomenta a participação dos jovens no processo democrático”. E como Eduarda, há mais jovens que se sentem preparados para ter voz, ainda que não sejam, aos olhos da lei, adultos. João Caldas tem 15 anos e é afiliado do Bloco de Esquerda. Defende que há, entre os jovens, mais “responsabilidade, noção acerca de em quem votar, informação”. A abertura do voto aos adolescentes de 16 anos poderia “mudar muita coisa e trazer benefícios”. Acredita que poderia funcionar como uma espécie de “factor compensatório”: “Há muitos adultos que não estão preocupados em votar, principalmente nas europeias, e os jovens estão mais abertos a isso. ” É “a partir dos 16 ou 17 anos” que se desperta para a política, garante. “Por isso é que é importante existirem juventudes em cada partido. ”Mas a resposta não é comum a todos os estudantes que, esta sexta-feira, 24 de Maio, se juntaram para se manifestar contra a crise climática. Rúben Meireles, 17 anos, admite que o cenário de jovens comprometidos com uma causa pode não ser o mais fiável para qualificar toda a geração. Por isso, ainda que acredite que “a maior parte das pessoas que aqui [na manifestação] estão tenham consciência para votar”, também refere que “nem toda a gente tem uma maturidade desenvolvida” para o fazer. As hesitações de Bárbara Pereira, uma das organizadoras da greve no Porto, são maiores: a medida poderia tornar “os jovens mais susceptíveis a extremismos”, acredita. “Percebo que muitos de nós queiram votar e acho que essa consciência deve ser fomentada, mas acho que mesmo aos 18 há quem possa não ter a maior das maturidades para o fazer. ” Mas a que se deve essa “falta de maturidade” se, aos 16, os adolescentes já podem trabalhar, pagar impostos ou ser responsabilizados criminalmente?“Acho que aos 16 anos já deveríamos ter direito à nossa palavra e ao voto, mas também acredito que a geração não esteja preparada porque não tem conhecimentos a nível político. Acho que se estivéssemos mais informados, sim, poderíamos votar”, atira Joana Santos, 15 anos. E é aqui que a escola assume um papel preponderante: “[Questões políticas] deveriam ser-nos ensinadas e a vontade de votar estimulada”, refere Luísa Guerra, 16. A jovem acredita que, antes de ser aprovada uma mudança na idade de voto, “é preciso haver uma iniciativa que faça com que os jovens tenham consciência do que se passa na política e do que é a política”. Joana Santos até apresenta sugestões: “Estamos rodeados de redes sociais, de Internet, e acho que com tantas aplicações que existem, podia haver algo que ajudasse os jovens — e os adultos — a ter mais noção de política. ” Mas, além de mais informação, os estudantes acreditam que também é preciso atrair quem já tem idade legal para votar e não o faz — provavelmente por não se sentirem representados, acredita Bárbara Pereira. “Há um sentimento geral de que a nossa voz não é ouvida”, afirma. “E isso é um sintoma do quão errado está o sistema, porque é suposto sentirmos que estamos a ser representados e que as nossas reivindicações são ouvidas. ” Até porque, quando não são, “cria-se desinteresse por parte da população, mas especialmente dos jovens”, conclui. A idade dos deputados preocupa Rúben Antunes, 17 anos. “As pessoas que nos representam no Parlamento têm, na maioria, idades acima dos 30 e 40 anos”, aponta. Acredita que, por isso, não têm as mesmas preocupações e não compreendem o que os jovens pensam. Estes jovens não podem ir às urnas. Mas, se pudessem, o que teriam em conta? Os medos são os mesmos: “direitos humanos”, “crescimento da extrema-direita”, “direitos LGBTI”, “Brexit”, “oportunidades iguais para todos os países” — e, claro, “questões ambientais”. Marco Silva destaca a Polónia e a Hungria quando se fala em inquietações: os direitos LGBTI são uma preocupação para o jovem de 17 anos. Em Setembro de 2018, a eurodeputada d'Os Verdes, Judith Sargentini, redigiu um relatório sobre a Hungria, no qual acusava o regime de, entre outras questões, perseguição de minorias como os ciganos, judeus e LGBT. “O crescimento da extrema-direita preocupa-me bastante”, vinca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Sinto que há países muito favorecidos na União Europeia. A ideia [da UE] é muito bonita, mas não sinto que os países sejam mesmo uma união”, atira Eduarda Pastor. Luísa Guerra acredita que a UE deveria “funcionar quase como um país, ter uma só voz”. Joana Santos considera que se estão “a deixar para trás” questões como “igualdade e direitos humanos”. As questões ambientais são um desassossego para todos — não estivessem eles na luta pelo clima. Mas, ainda que alguns sejam cépticos — como Eduarda Pastor, que acredita que é uma forma de “ganhar votos” —, estão satisfeitos por terem ouvido os candidatos às europeias a falar sobre elas. Esperam para ver, “com esperança”. Afinal, “se os políticos não acordarem, quem é que vai acordar?”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP
Merkel visita Dachau entre acções de campanha
Chanceler torna-se a primeira chefe de Governo a ir ao campo da Baviera, o primeiro criado pelo regime nazi. (...)

Merkel visita Dachau entre acções de campanha
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chanceler torna-se a primeira chefe de Governo a ir ao campo da Baviera, o primeiro criado pelo regime nazi.
TEXTO: A visita foi solene mas simples, e só parte foi aberta aos media. Angela Merkel disse apenas algumas palavras: "Este é o momento muito significativo para mim", afirmou a chanceler, a primeira a visitar o campo de Dachau. "A memória destes destinos enche-me de profunda tristeza e vergonha. "Merkel foi a primeira chanceler em exercício a visitar o campo de Dachau, a noroeste de Munique, Baviera, mas tinha já visitado outros campos, por exemplo o de Buchenwald com o Presidente norte-americano, Barack Obama. E há três anos o então presidente alemão, Horst Köhler, tinha participado nas comemorações de 65 anos sobre a libertação de Dachau por tropas norte-americanas. Dachau foi estabelecido como campo de concentração logo em Março de 1933, e foi para ali que o regime recém criado mandou vários opositores políticos. Ficou conhecido como "a escola da violência" por ter sido o modelo para os outros campos. Durante a II Guerra Mundial, estiveram presas em Dachau mais de 200 mil pessoas: judeus, homossexuais, ciganos, deficientes, prisioneiros de guerra, opositores políticos. Mais de 41 mil morreram: assassinados, de doença, ou de fome. Hoje é o campo mais visitado da Alemanha: 800 mil visitante por ano. A ida de Merkel a Dachau a meio de um périplo pré-eleitoral pelo país causou polémica, com acusações de mau gosto: pouco depois da visita apareceu, sorridente, com a inevitável caneca de cerveja na mão, numa acção de campanha. A Baviera tem eleições a 15 de Setembro, dias antes das nacionais, a 22. O jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique, comentava que era "pouco sensato" da parte da chanceler visitar o campo antes de uma ida a uma tenda de cerveja. Os líderes judaicos, pelo seu lado, elogiaram a decisão. O presidente da comissão de campos de Dachau, Max Mannheimer, 93 anos, que acompanhou Merkel, disse que a visita "histórica" é "um sinal de respeito pelos antigos detidos". Já o historiador Michael Wolffsohn, da Universidade das Forças Armadas de Munique, sublinha que seria difícil que uma acção relacionada com o passado nazi trouxesse alguma vantagem eleitoral. Mas nota o facto de uma chanceler, candidata à reeleição (terceiro mandato), marcar uma visita destas, no auge da campanha, "sem isto representar um risco político": "É sinal de que a relação da Alemanha com a sua história está a ficar mais relaxada. "Munique está a ser o palco do julgamento do grupo de neonazis da chamada célula de Zwickau, que levaram a cabo uma série de assassínios, durante dez anos, sem serem descobertos. Karl Freller, director dos memoriais históricos da Baviera, notou que o interesse nos campos de concentração aumentou desde o início do processo, em Maio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra escola violência campo concentração fome doença vergonha
Suécia: Como a igualdade de género fez da Suécia um país mais rico
O país tem um Governo que se autodesigna “feminista”. Que quer impor quotas nas maiores empresas obrigando-as a ter 40% de mulheres a mandar. E pressionar os casais a partilhar mais as licenças parentais. (...)

Suécia: Como a igualdade de género fez da Suécia um país mais rico
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 21 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O país tem um Governo que se autodesigna “feminista”. Que quer impor quotas nas maiores empresas obrigando-as a ter 40% de mulheres a mandar. E pressionar os casais a partilhar mais as licenças parentais.
TEXTO: Um folheto que promove Estocolmo como destino turístico e de negócios fala da reconhecida qualidade do ar que aqui se respira e das águas límpidas dos lagos. Explica que esta é uma capital com muito talento, uma cidade “aberta” e cosmopolita. Fala da moda, da gastronomia, das lojas de design e de como é seguro viver aqui. E mais isto: “50% da população é solteira, por isso há uma forte possibilidade de encontrar a sua alma gémea em Estocolmo!”A frase que segue o ponto de exclamação acrescenta que esta é “a cidade ideal para constituir família”. Afinal, “os pais têm direito a 480 dias de licença parental por cada filho e as crianças pequenas têm acesso a jardins de infância subsidiados”. E posto isto: “Bem-vindo a Estocolmo!”Sim, falar de licenças parentais é suficientemente “sexy” para se colocar em duas páginas destinadas aos visitantes estrangeiros num texto da responsabilidade da agência pública que faz a promoção da cidade. Pelo menos na Suécia é. O país que ocupa o 4. º lugar (em 142) no ranking do Fórum Económico Mundial que mede a igualdade de género (depois da Islândia, da Finlândia e da Noruega) era, nos anos 60 do século passado, um dos que tinham piores taxas de natalidade na Europa. Hoje é dos que têm das mais elevadas — Portugal é a que tem a mais baixa da União Europeia dos 28. O que é que igualdade de género tem que ver com os bebés que nascem? E com a performance económica de um país?“A nossa ideia sobre a igualdade de género é que é uma questão de direitos, sem dúvida, mas é também algo que permite uma série de ganhos sociais, que permite atingir vários objectivos”, diz a muito pragmática ministra sueca para a Igualdade, Åsa Regnér, numa tarde chuvosa de Abril num encontro com um grupo de jornalistas estrangeiros na sede do seu ministério. “Desde logo, o objectivo do crescimento económico. A possibilidade de usar toda a competência e capacidade da mão-de-obra existente — e havendo mais mulheres a sair das universidades com graus académicos, mais do que homens, temos de fazer uso desse investimento que se está a fazer nelas. Isto é bom para os indivíduos, mas também para toda a sociedade. ”Depois, quando podem escolher, em situação de igualdade, “homens e mulheres estudam, trabalham. . . e também têm mais filhos do que nos países do Sul da Europa, que se dizem orientados para a família”, prossegue a ministra que tem a seu cargo ainda as pastas das Crianças e dos Idosos. É consensual que, sem uma situação demográfica positiva, dificilmente há crescimento económico. Nos anos 70, quando a Suécia começou a construir “o seu famoso Estado social”, muitas das decisões partiam desta ideia: era preciso que as mulheres entrassem em força no mercado de trabalho, “a indústria precisava muito de mão-de-obra, o sector público também”. Estava em jogo o crescimento económico. E hoje, com o país a revelar a sua “resiliência” face aos últimos anos de crise na Europa — a palavra “resiliência” é da OCDE —, a necessidade permanece: “Precisamos de muita gente a trabalhar, para que possam tomar decisões nas suas vidas e desenvolverem-se como indivíduos, mas também para poderem pagar impostos, porque todo o nosso modelo se baseia nos impostos”, diz a ministra. Há um site governamental que explica, com graça, que “a Suécia é tão conhecida pelos elevados impostos como pelos móveis Ikea e os Abba”, sendo que a Skatteverket, a agência responsável por taxar os contribuintes, é a segunda instituição pública mais apreciada pela população depois da que trata das questões relacionadas com os consumidores. Os suecos pagam muito (os impostos representam 44, 2% do PIB, 32, 4% em Portugal). Mas acham que recebem bastante. No Centro Täppan, um jardim-de-infância de Estocolmo conhecido pelo seu “trabalho na área da igualdade de género” com as crianças, quase não há carrinhos e não se avistam Barbies. Aqui, aposta-se em brinquedos “mais neutros” do ponto de vista do género, explica Yvonne Häll, a coordenadora da instituição que todos os dias recebe 80 crianças entre os 12 meses e os cinco anos. Yvonne Häll mostra como se trabalham “outros materiais” — panos, papel, madeiras, adereços vários, de chapéus a sapatos antigos, de vestidos de bailarina a fatos de pirata. Faz parte de um plano: “Encorajamos as crianças a ter tolerância e respeito umas pelas outras. Não construímos espaços para rapazes ou para raparigas. Utilizamos diferentes tipos de materiais e tentamos que as crianças os explorem. Se um rapaz veste um vestido, a menina não diz: ‘Ah, não podes usar isso porque és rapaz’ — aqui eles não têm essa atitude, são crianças muito pequenas, não trazem isso com elas, e nós não alimentamos estereótipos. ”A ideia é libertar as crianças das expectativas e das exigências que a sociedade tem, tradicionalmente, em relação a rapazes, por um lado, e raparigas, por outro. E se o menino chega a casa e diz aos pais que andou a experimentar vestidos, não lhe vêm pedir explicações?A educadora de infância sorri: “Imaginem um círculo onde estão várias qualidades que uma pessoa pode ter: a bondade, a inteligência, etc… aqui, queremos oferecer a cada criança todas as boas qualidades. Não dizemos assim: ‘Esta qualidade é de menina e esta de menino. ’ Damos tudo a todos e eles farão depois as suas escolhas sobre o que querem ser. Quando se explica isto aos pais, ninguém contesta. Porque é simples. ”No máximo, uma família com mais rendimentos, e apenas um filho, paga 131 euros de mensalidade no Centro Täppan. A tabela é a mesma para qualquer “pré-escola” — förskola — do país. Quantos mais filhos uma família tem, menos paga. O quarto filho tem direito a frequentar gratuitamente. Famílias com baixos rendimentos não pagam nada. Mais de metade das crianças de um ano e 90% das de cinco anos frequentam um jardim-de-infância. Nas últimas quatro décadas tem-se canalizado muito do muito dinheiro que os suecos pagam em impostos precisamente para apoiar as famílias — o que permitiu às mulheres ir trabalhar, sem pensar em deixar de ter filhos. Alguns resultados: o país tem a maior taxa (80%) de emprego da União Europeia e a maior taxa de emprego feminino (77, 6%). É também dos que têm maior representação de mulheres na política e no Governo — apesar de nunca ter imposto quotas aos partidos. Assiste ao nascimento de mais 30 mil bebés por ano do que Portugal (tendo menos de dez milhões de habitantes). E é um dos países onde homens e mulheres mais partilham os cuidados com as crianças (por exemplo, na hora de contar o número de pais e mães que em 2013 tiraram dias, pagos, para ficar com os filhos doentes, 57% foram mulheres e 43% homens). Conseguiu-se outra coisa: “A possibilidade de as crianças terem os dois pais presentes e não apenas um deles, o que é importante”, diz Åsa Regnér. Que avisa, contudo: “Parece que estamos no paraíso da igualdade, mas não. ”Ouviremos isto várias vezes nesta viagem a Estocolmo. “A sociedade sueca ainda é uma sociedade desigual. . . ”, diz Annika Creutzer, 60 anos, colunista, especialista em Finanças pessoais e também “mãe solteira, adoptiva, de uma menina chinesa”. “Há discriminação. Há diferenças salariais. Há a violência doméstica. Não! Isto não é o paraíso da igualdade”, declara enfaticamente Gudrun Schyman, 66 anos, secretária-geral do partido FI (sigla para Iniciativa Feminina) que, por pouco, não elegeu, nas últimas eleições, no ano passado, o seu primeiro deputado para o Parlamento nacional. A imprensa estrangeira deu destaque a este pequeno partido com dez anos de vida durante uma campanha eleitoral onde o debate sobre a igualdade de género foi intenso. O Eurobarómetro, que periodicamente analisa a opinião dos europeus sobre os mais diversos assuntos, também mostra esta aparente contradição: no país que aparece sistematicamente entre os primeiros no ranking mundial da igualdade, 72% da população acha que a desigualdade de género está disseminada na sociedade. É mais do que os 63% de insatisfeitos registados em Portugal, que está mais de 30 lugares abaixo no dito ranking. Foi neste cenário que Stefan Löfven, 57 anos, o novo primeiro-ministro, que tomou posse no final do ano, declarou solenemente no Parlamento que a Suécia teria um “Governo feminista”. Constituído por 12 mulheres e 12 homens, resultado de uma coligação entre o Partido Social Democrata e os Verdes, o novo “Governo feminista” já anunciou várias medidas. Em primeiro lugar, se, ao longo deste ano, as maiores companhias suecas listadas na bolsa não garantirem que os seus conselhos de administração têm, pelo menos, 40% de mulheres, em 2016 sairá uma lei que as obriga a ter. Actualmente, a Suécia já é dos países com maior peso de mulheres nas administrações das grandes companhias do mercado bolsista (mais de 28% segundo dados da Comissão Europeia, contra 9% em Portugal, por exemplo). Mas o Governo acha que isso é escandalosamente pouco. “Vá, aproveitem agora! Vão buscar todo esse talento feminino!”, diz a sorrir Åsa Regnér. Não disfarça a ironia. Sim, é o Governo a intrometer-se no sector privado. E isso não é pacífico, como nota Kristina Fjelkestam, directora do departamento de estudos de género na Universidade de Estocolmo. Mas outras medidas pró-igualdade não o foram no passado. “Às vezes, não se pode esperar pela mudança da consciência social”, diz a investigadora. Às vezes, os políticos têm de caminhar “à frente” da população, diz também Niklas Lofgren, especialista em políticas de família, na Agência para a Segurança Social Sueca. E têm mesmo caminhado em alguns aspectos, na opinião de Annika Creutzer. Niklas Lofgren mostra um cartaz de um homem supermusculado, cabeleira e bigodes enormes, ruivo — um Viking, portanto —, a segurar nos braços um bebé. Em letras grandes, vermelhas, lê-se: “Papá em licença parental!”Muitos suecos lembram-se bem deste cartaz (que faz a capa desta edição da Revista 2). Foi lançado na década de 70 do século passado, quando a Suécia se tornou o primeiro país do mundo a acabar com a “licença de maternidade”, a criar a mais neutra “licença parental” de seis meses, paga a 90%, e a dizer que esta devia ser repartida entre homens e mulheres. O sorriso do bebé no cartaz mostrava como isso era bom também para a criança. O cartaz, hoje, suscita risos, mas não mais do que isso — a campanha não teve grande sucesso, concede Lofgren, 45 anos, pai de dois filhos. Em 1993, quase metade dos pais não gozaram “um único dia de licença”. Em 1995, o Governo decidiu criar “a quota do pai”. Ou seja, se o recém-papá não gozasse, pelo menos, um mês da licença parental que, até ali, era quase um exclusivo feminino, esse mês subsidiado perdia-se. Houve quem achasse que era uma intromissão do Estado, que deviam ser pais e mães a escolher como faziam com os bebés. Havia mesmo quem dissesse que se estava a prejudicar as mulheres. Em 1996, o número de homens a não gozar nenhum dia de licença desceu para menos de 15%. Em 2002, o Governo sueco deu mais um passo: a “quota intransmissível” cresceu para dois meses. E é assim até hoje: a licença parental é de 480 dias (uma licença longa comparada com a prática europeia), a maioria pagos a 80% do salário; dois meses são destinados a ser gozados pelo pai e outros dois pela mãe, os restantes 12 podem ser repartidos pelos dois membros do casal (a mesma regra aplica-se a casais de pessoas do mesmo sexo com filhos), por inteiro ou em part-time, até a criança fazer 8 anos. O impacto da nova “quota” voltou a ser evidente. Em 2014, mais de 90% dos pais homens usaram a licença parental. Em média, 88 dias, se se fizer as contas aos dias usufruídos até 2013 pelos que foram pais em 2008. (Em Portugal, 42% dos beneficiários de algum tipo de licença parental, incluindo os 10 dias “exclusivos do pai” já são homens, fez saber a Segurança Social portuguesa, mas os que dividem a licença de 150 dias/180 com as mulheres rondam os 24%, sem contar com funcionários públicos, faz saber o Observatório das Políticas de Família). Para ministra para a Igualdade sueca, os níveis de partilha no seu país sabem a pouco. É que, feitas as contas, ainda só um quarto dos dias de licença parental que o Estado paga anualmente é pago a homens. Por isso, o “Governo feminista” prepara-se para agir de novo. Ainda este ano apresentará uma proposta de lei que aumenta de dois para três meses as quotas intransmissíveis. “Temos dados para dizer que, se tivermos uma partilha maior da licença parental, também teremos uma partilha maior do trabalho doméstico e dos cuidados com as crianças”, diz a ministra para a Igualdade. Não é consensual, uma vez mais. “Para os partidos conservadores, não deveria haver sequer uma parte da licença só para a mãe e outra só para o pai”, refere Niklas Lofgren. E a nova medida não deverá trazer ao Executivo muitos votos, sublinha. E mais crianças, trará? Lofgren reconhece que não são só as políticas natalistas e igualitárias que levam as pessoas a ter filhos. O ambiente económico ajuda. Gudrun Scyman, do FI, enfurece-se quando se lhe fala desta proposta do Governo. “Mais um mês não vai mudar nada!” Defende que a licença devia ser dividida ao meio, ponto final, metade para o homem, metade para a mulher. “Não, eu não sou contra a liberdade de escolha. Mas simplesmente não há liberdade de escolha porque ainda vivemos numa sociedade patriarcal. Se há, como há, uma norma social que diz que cuidar das crianças é uma responsabilidade da mulher, não se pode falar de escolha, ficam as mulheres em casa!”“O trabalho não pago não é devidamente dividido entre homens e mulheres”, concede a ministra Åsa Regnér. “Mas sabemos que estas mudanças, destinar mais um mês a um dos membros do casal, colocam uma grande pressão sobre as famílias e que elas, de facto, acabam por mudar o seu comportamento. Coloca também pressão sobre os empregadores, que passam a esperar que os homens fiquem em casa e que as mulheres não fiquem tanto tempo em casa. ”E dividir a licença ao meio, como reclama Gudrun Scyman? “Somos um governo minoritário. E se quiséssemos avançar já para os 50-50, a lei não passaria. Acredito que as posições estão a mudar e parece-me que as novas gerações já serão a favor do 50-50. ”“Mas os jovens estão a usar muito”, conta. “Tenho dois filhos, de 18 e 23 anos, que estão sempre a usar, surge a toda a hora. No outro dia, perguntei ao meu filho, que tinha acabado de falar com alguém ao telefone: ‘Estavas a falar com um ele ou com uma ela?’ E ele respondeu: ‘Por que é que não perguntas se tem o cabelo ruivo?’ Ok, eu percebo. É uma nova forma de pensar. É uma discussão interessante. ”Vários jornais já adoptaram o “hen”, bem como muitos livros para crianças. A introdução no dicionário da Academia Sueca estava anunciada para Abril. Por muito que haja quem considere “ridículo” o “caso” em torno do pronome neutro, sobre o qual já tanto foi escrito e dito no país, este ilustra bem como o debate em torno do género está presente na sociedade sueca — uma sociedade onde há muito deixou de ser aceitável dizer que as mulheres são melhores a cuidar de crianças do que os homens (mesmo que haja quem ainda acredite nisso, como reconhece a ministra) ou achar que as famílias onde há duas mães ou dois pais são diferentes das restantes. “Algumas pessoas até podem não achar bem este modelo de família, mas não se atrevem a dizê-lo”, diz Karin Nylund, 41 anos. Ela e Sara Nylund, 42, casaram-se “numa cerimónia tradicional”, com a família e amigos, “cerca de 100 convidados”. Compraram uma moradia construída em 1946, em Älvsjö, um bairro tranquilo a meia hora de comboio do centro de Estocolmo. E puseram em prática o seu plano de ter filhos, com quem haveriam de passar as férias na casa de campo dos pais de Karin. “Somos uma família sueca normal. ”Para a filha mais velha, Juno, hoje com cinco anos, Karin recorreu a uma clínica na Dinamarca onde se faz inseminação artificial. Os mais novos, Tore (um rapaz que está agora com três anos e meio) e Mika (uma menina de três meses), nasceram depois de uma inseminação feita num hospital sueco. Legalmente, Karin e Sara são ambas mães das três crianças, exactamente com os mesmos direitos e deveres. “As crianças chamam-nos às duas ‘mãe’. Ou ‘mãe Sara’ ou ‘mãe Karin’. Um dia, quando fizerem 18 anos, poderão, se quiserem, ter acesso à identidade dos dadores. Nós não sabemos quem são. ”Karin trabalha no Ministério dos Negócios Estrangeiros, 40 horas por semana, que é “o horário normal”, e Sara numa empresa de marketing britânica que tem uma filial em Estocolmo. Os seus salários juntos somam 9062 euros por mês. Depois dos impostos, ficam com pouco menos de 6200 euros. Acrescentam a isto o abono de família das três crianças, cerca de 400 euros mensais livres de impostos — para explicar que o abono de família é universal, para todas as crianças, independentemente de quanto ganham os pais, Niklas Lofgren da Segurança Social gosta de utilizar uma expressão: “Até os filhos do rei recebem. ”Quando os miúdos forem mais velhos, terão acesso a escola gratuita, a refeições gratuitas e a actividades extracurriculares a baixo custo. Se quiserem, Sara e Karin poderão ainda contratar uma empregada doméstica, para ajudar nas tarefas caseiras, e terão benefícios fiscais por isso. Recentemente, Karin e Sara decidiram acrescentar um piso à casa — para dar mais conforto à família cada vez mais numerosa. E para já é aqui, nesta casa luminosa com vista para um pequeno quintal com relva, que passam bastante tempo. Têm dividido entre as duas as licenças parentais de cada criança e, quando a de Mika se esgotar (neste momento é Karin quem está a gozar a sua parte, tendo Sara, a que deu à luz, voltado ao trabalho), planeiam passar a trabalhar em part-time durante uns tempos. “Pode ser trabalhar a 80% ou a 90%, só o suficiente para podermos ir alternando os dias: num dia, uma de nós sai um pouco mais cedo para ir buscar as crianças à escola; noutro dia, outra”, diz Karin. “Na Suécia, as empresas esperam que as mulheres tirem licenças longas, ninguém estranha”, explica ainda. “E tens o direito de trabalhar em part-time, para estar mais com os filhos, sem que seja feita qualquer pergunta. É um bom sítio para se ter filhos: as crianças têm acesso a cuidados médicos gratuitos (até aos 20 anos), incluindo dentários. E pela Juno e pelo Tore pagamos 200 euros por mês” no pré-escolar. A maioria das “pré-escolas” pertencem aos municípios, mas também há várias geridas por cooperativas de pais. Karin pertence à direcção daquela onde tem os filhos, a poucos minutos de casa. Por lei, explica, todas as “pré-escolas” têm de estar preparadas para abrir às 6h30 da manhã e para acolher as crianças até às 18h30. Os meninos comem, brincam e fazem a sesta no jardim-de-infância — sendo que na Suécia é hábito que mesmo no pico do Inverno, com neve e temperaturas abaixo de zero, as crianças durmam ao ar livre, “muito embrulhadas em sacos-cama”. Na prática, as direcções falam com cada um dos pais para saber quais são as suas reais necessidades em termos de horários. E não é suposto que uma criança fique 12 horas na escola — também isso não é “bem visto”. “Há esta ideia de que ser uma boa mãe é não deixar as crianças no infantário muito tempo. Algumas até contratam amas para as irem buscar às três da tarde. Há uma pressão enorme, a pressão de ser supermãe”, lamenta a especialista em finanças pessoais, Annika Creutzer. Então e os superpais — esses homens suecos que aparecem retratados nas revistas internacionais com os bebés a tiracolo enquanto aspiram a casa? Não sentem a pressão?“As medidas adoptadas [nas últimas décadas] tornaram mais fácil às mulheres conciliar a vida profissional e familiar, mas não desafiaram verdadeiramente a distribuição do trabalho não pago entre homens e mulheres”, diz a perita em igualdade de género Anita Nyberg, investigadora na Universidade de Estocolmo. A estatística mostra que desde 1990 elas reduziram o seu trabalho não remunerado em média uma hora por semana e eles dedicam-lhe mais. . . oito minutos. O que significa ser homem, hoje, na Suécia, é uma pergunta que provoca um ataque de tosse a Fredrik Sörebo, 55 anos. O que mudou na ideia de masculinidade no país que sempre aparece no topo dos rankings da igualdade? “Ahhh, esse assunto é tão difícil!”Sörebo é responsável pelo Mansjouren, em Estocolmo — uma espécie de gabinete de apoio para homens em dificuldades, seja porque estão envolvidos em episódios de violência doméstica, como agressores ou vítimas, e procuram ajuda, seja porque precisam de um psicólogo mas não o conseguem pagar no mercado privado, ou porque se divorciam e não chegam a acordo em relação à partilha dos filhos, e precisam de aconselhamento legal. Depois da tosse, Sörebo arrisca: “É claro que fui educado numa época completamente diferente desta, tenho 55 anos. Posso dizer ‘ah, sou tão neutro’, mas é claro que. . . não esperem que seja perfeito. . . Estudei Psicologia na universidade. Acabei há apenas uns anos. Estudei com pessoas com metade da minha idade. E sim, somos diferentes, mas não tão diferentes assim. Às vezes, assisto aos debates oficiais e uau. . . ‘Estamos assim tão mal?’”A Suécia foi no passado um país de agricultores — os homens tratavam de planear as colheitas para garantir comida à mesa nos rigorosos meses de Inverno, elas cuidavam da casa e dos filhos. Mas, em relativamente pouco tempo, o tema igualdade de género tornou-se omnipresente — já se disse, a ministra para a Igualdade acha que, “absolutamente sim”, o desenvolvimento económico do país deve muito ao que foi feito nessa área. E talvez por isso o “discurso oficial” a que se refere Sörebo esteja tão centrado no que está mal. Mesmo comparando com outros países nórdicos, o debate na Suécia em torno das questões de género “é muito mais radical e foca-se mais nas desigualdades que restam no que nos progressos feitos”, explicou, numa entrevista ao Wall Street Journal, Lena Wängnerud, professora de Ciência Política na Universidade de Gotemburgo. Fredrik Sörebo tem dificuldade em perceber: “Sinceramente, não acho que haja enormes diferenças entre os homens e as mulheres na Suécia. A minha ex-mulher é uma mulher de negócios muito bem sucedida. E a minha actual mulher tem uma empresa. . . Tenho dois filhos que me parecem muito normais — e eles seriam os primeiros a criticar-me se achassem que eu era um homem da idade da pedra. . . posso não ser um homem perfeito, mas acredito no julgamento deles. ”Sendo “um hiato salarial mais pequeno do que outros países têm, a verdade é que existe e está ao mesmo nível há dez anos”, lamenta Åsa Regnér. E não há “paraíso da igualdade” que aguente o facto de haver diferenças salariais exclusivamente baseadas no género e sectores do mercado de trabalho onde a segregação é evidente — 77% dos professores do ensino superior são homens, 93% das educadoras de infância são mulheres. Em profissões predominantemente masculinas ganha-se melhor, naquelas onde dominam as mulheres, pior, sublinha. “Isto tem consequências para o resto da vida”, prossegue Åsa Regnér. “No que diz respeito às pensões de reforma, por exemplo, as mulheres recebem cerca de 60% das pensões dos homens. ” Simplesmente porque salários mais baixos, e mais tempo em casa, significam contribuições mais baixas. “Quando vemos as diferenças salariais entre homens e mulheres antes do nascimento do primeiro filho, as diferenças nem são enormes. O nascimento do primeiro filho é o momento-chave. ”Para lidar com o problema, o “Governo feminista” vai obrigar os empregadores a analisarem anualmente os salários que pagam a homens e a mulheres e a tornarem transparentes as suas políticas salariais. Se detectarem diferenças, devem explicá-las nas inspecções periódicas de que são alvo — a discriminação com base no género é proibida. Outro nó difícil de desatar é o da violência. O país não se saiu bem numa mega-sondagem divulgada no ano passado pela Agência Europeia para os Direitos Fundamentais: 46% das suecas inquiridas disseram já ter sido vítimas de violência. É das maiores percentagens da União Europeia. Outros países igualmente conhecidos pelos bons indicadores relacionados com a igualdade de género saíram-se ainda pior: Dinamarca, 52%, Finlândia, 47%. . . Alguns investigadores alertaram na altura para a possibilidade de os dados poderem reflectir uma maior consciência do abuso nestes países. Seja como for, outros números não deixam margem para dúvidas: em média, 17 suecas por ano são mortas por pessoas com quem tinham uma relação íntima — em Portugal, no ano passado, foram 35. “Nos últimos 15 anos investimos em legislação, em casas de abrigo, em educação, na formação das autoridades, no sistema judicial, nos hospitais, para que prestem um bom serviço às vítimas de violência doméstica”, diz Åsa Regnér. “É preciso fazer muito mais. ” A começar nas escolas. Åsa Regnér quer reforçar os currículos nestas áreas. O “Governo feminista” tem mais planos, inclusive além-fronteiras. Anunciou uma “agenda feminista” para a política externa. Os direitos humanos em geral e os das mulheres em particular devem estar presentes quando o Estado sueco debater com outros países política e negócios, quando cooperar em cenários de conflito e ajudar na reconstrução. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O feminismo está na ordem do dia. “É óptimo que os meus colegas de Governo acordem de manhã e se sintam feministas. Mas é óptimo também que ao longo do resto do dia trabalhem de forma feminista, e deverão fazê-lo”, diz Åsa Regnér. No final da legislatura, os suecos avaliarão. “E vai ter de se perceber qual a diferença entre um governo feminista e outro governo qualquer. ”
REFERÊNCIAS:
Berlim à espera do urso (com surpresas ao virar da esquina)
Terminada uma das mais desinteressantes competições de que há memória na Berlinale, as opções são duas: ou ganha Kaurismäki e ficamos todos contentes ou há surpresa e ficamos todos de boca à banda. (...)

Berlim à espera do urso (com surpresas ao virar da esquina)
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Terminada uma das mais desinteressantes competições de que há memória na Berlinale, as opções são duas: ou ganha Kaurismäki e ficamos todos contentes ou há surpresa e ficamos todos de boca à banda.
TEXTO: E, com Ana, Mon Amour, do romeno Calin Peter Netzer, encerra-se uma das mais desinteressantes competições berlinenses de que há memória. Já se antecipava isso de alguma maneira, mas a esperança é a última coisa a morrer, como se diz, sobretudo depois de três anos seguidos com óptimos filmes (como os 45 Anos de Andrew Haigh ou O Que Está por Vir de Mia Hansen-Love) e as surpresas aparecem de onde menos se espera. Este ano, por exemplo, a britânica Sally Potter, ela de Orlando (1992) e A Lição de Tango (1997), "redimiu-se" da desastrosa passagem em competição do contudo bem curioso Rage (2009) com The Party – uma sátira feroz da política moderna com um elenco de luxo encabeçado por Kristin Scott-Thomas, Patrícia Clarkson, Timothy Spall e Bruno Ganz que, sem ter convencido muita gente do seu valor enquanto filme de competição, foi acolhido com simpatia. A verdade, no entanto, é que saiu este ano a fava ao concurso de Berlim. Paul Verhoeven, em entrevistas à imprensa alemã, dizia que esperava filmes surpreendentes – ora, o filme mais bem recebido entre os 18 títulos a concurso, e aquele que é mais unanimemente visto como o candidato mais forte ao Urso de Ouro, é The Other Side of Hope, do finlandês Aki Kaurismäki. Que, sendo efectivamente um dos grandes filmes de Berlim 2017, não muda resolutamente nada no cinema de Kaurismäki – tal como On The Beach at Night Alone, outro dos melhores filmes do concurso, também não muda nada no cinema do coreano Hong Sang-soo. Berlim costumava ter pontaria para descobrir cineastas da América Latina – e Una Mujer Fantástica, do chileno Sebastián Lelio, é de facto um óptimo filme, mas Lelio já estivera há três anos na competição oficial do festival. (Com alguma sorte, Daniela Vega, a actriz transexual do filme, repete o prémio a Paulina García por Gloria, em 2013. ) E, do Brasil, Joaquim, do prolífero veterano pernambucano Marcelo Gomes (O Homem das Multidões, 2013), co-produção luso-brasileira, é um tiro ao lado. Esta exploração da radicalização de Joaquim José da Silva Xavier, aliás Tiradentes, um dos primeiros combatentes pela libertação do jugo colonial e a abolição da escravatura, tem uma excelente ideia: a de mostrar a evolução de Joaquim de funcionário colonial até revolucionário através de uma missão à selva amazónica inexplorada em busca de ouro – uma viagem ao "coração das trevas" que o muda para sempre. Júlio Machado é extraordinário no papel principal, mas não resgata Joaquim de uma peculiar e ensimesmada inércia, que não consegue nunca fazer o espectador sentir a insolação alucinada que atravessa a personagem. É inexplicável que tenha sido esta a escolha do comité de selecção em vez do bem mais interessante Vazante ou, mesmo, de qualquer um dos outros nove filmes brasileiros que passaram transversalmente às várias secções – e cujas equipas se reuniram numa carta aberta/manifesto contra a actual política cultural do governo de Michel Temer, a que se fez alusão no final da sessão oficial de estreia. Do Oriente – nos últimos anos alvo de especial atenção do certame, que este ano tinha no júri o chinês Wang Quan'an, vencedor em 2007 por Tuya's Marriage, e que dera em 2014 o Urso de Ouro ao chinês Carvão Negro, Gelo Fino – houve Hong Sang-soo, o desequilibrado thriller do japonês Sabu, Mr. Long, é a peculiaridade de Have a Nice Day, uma animação "tarantinesca" chinesa. A prata da casa também não primou pela desenvoltura: as opiniões dividiram-se sobre Wilde Maus, primeira realização do comediante austríaco Josef Hader, filme significativamente "tópico" (é a história de um crítico de música que é despedido do jornal onde trabalha e decide vingar-se do seu editor sobranceiro), e Helle Nächte, do habitualmente interessante Thomas Arslan (Ouro, 2013), é um discreto e enxutíssimo melodrama familiar sobre o reencontro entre um pai é um filho afastados – talvez demasiado discreto para o seu próprio bem, há que dizê-lo, já que o filme nunca se ergue acima de uma mediania reconfortante mas pouco ousada. O documentário de Andres Veiel sobre Joseph Beuys não entusiasmou grandemente; e nem a sobreexcelente Nina Hoss conseguiu evitar que Return to Montauk, de Volker Schlöndorff, adaptação de um romance de Max Frisch, fosse recebido com a mesma frieza e as mesmas críticas negativas de The Dinner, a solitária representação americana no concurso, dirigido pelo habitualmente estimável Oren Moverman. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que sobra, então? A estranheza onírica de On Body and Soul, regresso da húngara Ildiko Enyedi, vencedora da Câmara de Ouro de Cannes em 1989 após 15 anos sem fazer cinema, tem um quinhão de fãs que reconhecem nele um filme certamente ousado mesmo que não inteiramente conseguido – argumentos que também se aplicam a Colo, de Teresa Villaverde (que tem a mais-valia de ser um filme "de tema", coisa de que Berlim gosta muito), ao estranhíssimo mistério ecológico da polaca Agnieszka Holland Spoor, e a Ana, Mon Amour. Netzer é um candidato evidente no papel ao Urso de Ouro: o filme anterior, Mãe e Filho, foi o vencedor do festival de 2013, inscrevendo-se sem grandes problemas na actual "nova vaga romena". Mas Ana, Mon Amour é bicho diferente: uma espécie de versão psicanalítica, fragmentada, do tipo de amor possessivo paredes-meias com a loucura que Betty Blue (1986), de Jean-Jacques Beineix, tornou chique nos anos 1980. Reconhecemos nele todas as características que nos fazem gostar do cinema romeno – a excelência dos actores, a inteligência da encenação, a par de uma inteligência teórica que faz, aqui e ali, recordar as metáforas kiarostamianas de Corneliu Porumboiu. O problema de Ana, Mon Amour é que Netzer não controla o suficiente a desintegração narrativa do filme, que salta constantemente entre passado e futuro, realidade e pensamento, perdendo no processo um espectador que dá por si sem âncoras, sem pontos de referência e sem interesse. É pouco, é dramaticamente pouco para um festival que se deu ao luxo de "chutar" para as secções não-competitivas filmes francamente mais estimulantes como o magnífico The Lost City of Z, de James Gray, Vazante, de Daniela Thomas ou o esmagador documentário de Raoul Peck sobre James Baldwin, I Am Not Your Negro. Para não falar do constante desafio aos sentidos que é a programação do Fórum, onde este ano Filipa César brilhou muito alto com Spell Reel e Heinz Emigholz mostrou o seu monumental quarteto de documentários interligados (2+2=22 [The Alphabet], Bickels [Socialism], Streetscapes [Dialogues] e Dieste [Uruguay]), num total de seis horas de filme. Esta noite saber-se-á quem leva para caso o Urso de Ouro; a não ser que seja Kaurismäki, a surpresa estará certamente à espera.
REFERÊNCIAS: