Quase cinco mil portugueses na fila de espera do Banco Alimentar
A maioria esmagadora dos 200 mil que recorrem ao Banco Alimentar é de mulheres. Mas a revelação mais dramática é de que existem quase cinco mil na fila de espera. Metade dos que procuram comida ganha menos de 250 euros. O inquérito abrangeu quase 4700 pessoas. (...)

Quase cinco mil portugueses na fila de espera do Banco Alimentar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: A maioria esmagadora dos 200 mil que recorrem ao Banco Alimentar é de mulheres. Mas a revelação mais dramática é de que existem quase cinco mil na fila de espera. Metade dos que procuram comida ganha menos de 250 euros. O inquérito abrangeu quase 4700 pessoas.
TEXTO: Sessenta e seis mil famílias recorrem à rede do Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) o que corresponde a mais de 200 mil pessoas, segundo a análise da Universidade Católica divulgada hoje. A análise foi realizada entre Junho e Outubro e abrangeu mais de 550 organizações numa parceria com o Banco Alimentar e a Associação Entreajuda, o Centro de Estudos e Sondagens da Católica. Na amostra recolhida para o estudo divulgado hoje há 75 por cento de mulheres, o que “pode dever-se ao facto de serem elas que, dentro do agregado familiar, mais se dirigirem às instituições a pedir ajuda”. Nos últimos três anos, mais de 70 por cento das instituições de solidariedade social registaram mais pedidos de apoio para alimentação, situação atribuída sobretudo pelo aumento do desemprego. É a vulnerabilidade económica decorrente quer do aumento do desemprego, quer das baixas reformas, que, a par de rupturas familiares, estão na base do aumento da procura alimentar”, conclui a análise. O inquérito do Centro de Estudos e Sondagens da Católica foi respondido por 1500 organizações de solidariedade que integram a rede do Banco Alimentar, num universo de mais de 3200 instituições. Menos de 250 eurosCerca de metade dos portugueses que recorrem à instituições de solidariedade social têm menos de 250 euros por mês para viver, segundo um inquérito realizado pela Universidade Católica. Com base nas respostas, a análise estima que as instituições prestem apoio alimentar a 66 500 famílias, a que correspondem 239 470 pessoas. No que respeita ao apoio em medicamentos, pode concluir-se que actualmente são 6600 as famílias ajudadas, num total de quase 16 mil pessoas. Estima-se ainda que as instituições que pertencem à rede do BACF dão igualmente apoio monetário a 5700 famílias e 11 968 pessoas. Os valores acumulados representariam um apoio global a mais de 350 mil pessoas, mas o estudo nota que não é possível apurar um valor total de pessoas cobertas por estas medidas sociais, uma vez que existem famílias e utentes que beneficiam de mais de que uma forma de ajuda. Numa análise mais detalhada por faixa etária, o questionário mostra que são pelo menos 74 mil as crianças que recebem apoio alimentar da rede do BACF, número que o próprio estudo admite estar aquém da realidade. No que respeita ao apoio em medicamentos, pode concluir-se que actualmente são 6600 as famílias ajudadas, num total de quase 16 mil pessoas. Estima-se ainda que as instituições que pertencem à rede do BACF dão igualmente apoio monetário a 5700 famílias e 11 968 pessoas. 27% passam pelo menos um dia sem ter o que comerMais de um quinto das pessoas que procuram instituições de solidariedade sente falta de alimentos pelo menos uma vez por semana, segundo um inquérito realizado pela Universidade Católica, em parceria com o Banco Alimentar e a Associação Entreajuda. Do universo de 4691 utentes de mais de 500 instituições que responderam aos questionários, 27 por cento mencionaram estar um dia inteiro sem comer algumas vezes por semana ou pelo menos uma vez. “Vinte por cento diz não ter comida até ao final do mês, 32 por cento diz que tal acontece às vezes e 49 por cento diz ter sempre comida até ao fim do mês”, refere ainda o estudo hoje divulgado. Numa análise aos gastos dos utentes das instituições de solidariedade social, as despesas com alimentação e casa são as que mais pesam na fatia da verba mensal disponível, seguidos dos gastos com médicos e medicamentos. As despesas com vestuário e calçado ou outros empréstimos representam valores abaixo dos 10 por cento do total. Cerca de um terço dos inquiridos contraiu empréstimos, a esmagadora maioria para a compra de casa, mas só menos de metade dizem pagar sempre as mensalidades.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave fome ajuda social estudo mulheres desemprego alimentos
Defesa de Berlusconi quer ouvir Cristiano Ronaldo e George Clooney
A defesa do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi indicou Cristiano Ronaldo e o actor norte-americano George Clooney como testemunhas abonatórias no âmbito do processo em que o governante está acusado de abuso de poder e envolvimento sexual com uma prostituta menor de idade. O julgamento do caso arranca no dia 6 de Abril. (...)

Defesa de Berlusconi quer ouvir Cristiano Ronaldo e George Clooney
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-03-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A defesa do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi indicou Cristiano Ronaldo e o actor norte-americano George Clooney como testemunhas abonatórias no âmbito do processo em que o governante está acusado de abuso de poder e envolvimento sexual com uma prostituta menor de idade. O julgamento do caso arranca no dia 6 de Abril.
TEXTO: A lista das testemunhas foi nesta terça-feira submetida ao tribunal de Milão e inclui os nomes do futebolista português e de Clooney, adiantou o diário italiano "La Repubblica". A lista inclui ainda vários ministros, como o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini, bem como Mara Carfagna, ministra da Igualdade, e Maria Stella Gelmini, ministra da Educação, disse fonte próxima do processo à AFP. Não foram adiantados mais detalhes sobre o envolvimento de Cristiano Ronaldo, Clooney e os outros nomes apontados como testemunhas em todo o processo. No entanto, um dos advogados de Berlusconi explicou que a marroquina Karima el Mahroug ou Ruby Rubbacuore, que está no centro do escândalo, identificou George Clooney e a sua namorada italiana, Elisabetta Canalis, como participantes nas festas de Berlusconini. O representante de George Clooney, que tem uma casa no lago Como próximo da “villa” de Berlusconi, não respondeu aos pedidos de comentários que ontem lhe chegaram. Mas Elisabetta Canalis já negou várias vezes ter estado nas festas privadas do primeiro-ministro de Itália. A marroquina Karima el Mahroug ou Ruby Rubbacuore, foi arrolada tanto pela acusação como pela defesa. A jovem dançarina exótica, que admitiu ter recebido dinheiro de Silvio Berlusconi, ainda era menor de idade quando frequentou muitas das festas privadas do primeiro-ministro na sua “villa” de Arcore. As festas, descreve a acusação, envolviam jantares e posteriormente um entretenimento de cariz sexual, quando os convidados e mulheres apresentadas pelos procuradores como prostitutas desciam para a chamada “cave do bunga-bunga”, segundo a designação do próprio Berlusconi. Segundo os procuradores, o primeiro-ministro terá tido relações sexuais com Ruby em 13 ocasiões. A jovem marroquina negou a acusação, e precisou que o dinheiro que lhe foi entregue Berlusconi não foi em troco de serviços sexuais mas antes uma ajuda financeira. Além de Ruby, os procuradores convocaram outras 32 mulheres que participaram nas festas de Berlusconi – que está também acusado de abusar do seu poder, ao intervir pessoalmente para a libertação da marroquina quando esta foi detida por roubo. O primeiro-ministro justificou-se dizendo que tentou tirar Ruby da cadeia para evitar um incidente diplomático, depois de ter sido informado que a jovem era sobrinha do antigo Presidente do Egipto Hosni Mubarak. O tribunal confirmou ontem que, no total foram arroladas 132 testemunhas. Cabe agora aos juízes de Milão determinar quais são os depoimentos que consideram relevantes para o julgamento. notícia actualizada às 20h20
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal educação ajuda igualdade sexual mulheres
Detectados no Japão vestígios de radiação em leite materno
Vestígios de radiação foram detectados no leite materno de sete mulheres japonesas, segundo o Ministério da Saúde nipónico. (...)

Detectados no Japão vestígios de radiação em leite materno
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vestígios de radiação foram detectados no leite materno de sete mulheres japonesas, segundo o Ministério da Saúde nipónico.
TEXTO: As sete mulheres em cujo leite materno foram detectados vestígios de radiação provêem do Nordeste do Japão e quatro delas vivem em Fukushima, onde a 11 de Março um terramoto seguido de tsunami causou danos na central nuclear Fukushima 1 e provocou uma fuga radioactiva. Os vestígios de radiação encontrados são baixos, entre 2, 2 e 8 becqueréis de iodo 131 por quilograma, muito abaixo do máximo legal que é de 100 becqueréis, adiantou a agência nipónica Jiji. Ao todo foi analisado o leite materno de 23 mulheres das regiões de Fukushima, Ibaraki, Chiba, Saitama e Tóquio, as mais próximas da central nuclear, adiantou o diário espanhol “El Mundo”. Numa delas foram detectados 3, 5 becqueréis de iodo 131, cuja radioactividade desaparece em 40 dias, e 2, 4 becqueréis de césio 137 por quilo de leite. As autoridades garantiram, no entanto, que estes níveis de radiação não representam risco para a saúde dos lactantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulheres
Isabel II homenageia combatentes da luta contra o Reino Unido
A rainha Isabel II iniciou esta terça-feira uma histórica visita à Irlanda, a primeira de um soberano britânico desde a independência do país, em 1922. Um dos seus primeiros gestos foi homenagar os combatentes da luta contra o Reino Unido. (...)

Isabel II homenageia combatentes da luta contra o Reino Unido
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A rainha Isabel II iniciou esta terça-feira uma histórica visita à Irlanda, a primeira de um soberano britânico desde a independência do país, em 1922. Um dos seus primeiros gestos foi homenagar os combatentes da luta contra o Reino Unido.
TEXTO: Isabel II chegou pouco à Irlanda antes do meio-dia local e foi recebida com honras militares na base militar de Baldonnel. Repetidos alertas de bomba – e mesmo a detecção de um engenho explosivo num autocarro a 25 quilómetros de Dublin, na noite de segunda-feira – não provocaram alterações ao programa. A rainha seguiu depois para a residência da Presidente, Mary McAleese, onde também se encontrou com o chefe do Governo, Enda Kenny. Já durante a tarde, Isabel II deslocou-se ao Garden of Remembrance, um memorial erguido em homenagem aos combatentes da luta contra o domínio britânico, e cumpriu um minuto de silêncio. Cerca de uma centena de manifestantes, que se opõem à visita, alguns com bandeiras do partido nacionalista Sinn Féin, queimaram uma bandeira do Reino Unido, segundo a AFP. Outros empunharam faixas com as cores irlandesas em que se lia “Grã-Bretanha fora da Irlanda”. Uma outra pequena concentração na capital irlandesa reuniu opositores da visita. Isabel II só deve discursar durante um jantar previsto para a noite desta terça-feira no castelo de Dublin
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração rainha
A matéria-prima que pode fazer um país
Escreveu sobre a fronteira americana nos anos de expansão como nunca antes se havia escrito. Quis afirmar-se longe do imaginário feminino da época em que viveu, mas as mulheres foram as suas heroínas. Caso de Ántonia, a protagonista Minha Ántonia, livro que marca a edição — espera-se agora com regularidade — da sua obra em Portugal. (...)

A matéria-prima que pode fazer um país
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.23
DATA: 2018-08-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escreveu sobre a fronteira americana nos anos de expansão como nunca antes se havia escrito. Quis afirmar-se longe do imaginário feminino da época em que viveu, mas as mulheres foram as suas heroínas. Caso de Ántonia, a protagonista Minha Ántonia, livro que marca a edição — espera-se agora com regularidade — da sua obra em Portugal.
TEXTO: O nome Ántonia evoca um país, ou melhor, a matéria-prima que pode fazer um país. E isso, por sua vez, é também a matéria de que é feita a obra de Willa Cather (1873-1947), escritora que explorou a fronteira de um país ainda em construção. Ántonia (assim mesmo, grafado na primeira sílaba) é uma “rapariga boémia” [da Boémia] que, como Willa, cresceu na pequena cidade de Red Cloud, Nebraska, e é a protagonista de um dos seus mais celebrados romances, Minha Ántonia, original de 1918 só agora publicado em Portugal, cem anos depois, quando a sua criadora continua a ser por cá pouco mais do que uma desconhecida. Cather deu a Ántonia a bravura e a nostalgia, a perseverança e o sentido de sobrevivência, bem como a coragem para o desafio de costumes que a transforma numa metáfora. Não estamos em território autobiográfico, mas a autobiografia está presente. Crescer nas vastas planícies, ou pradarias, da América do Norte moldou o carácter e a literatura de Cather. Na introdução a Minha Ántonia há uma conversa sobre isso: o que é estar, por exemplo, sujeito “a estimulantes extremos climatéricos”, “verões abrasadores em que o mundo fica verde e encapelado debaixo de um Sol brilhante, em que ficamos praticamente soterrados sob vegetação, com uma cor e odor a ervas daninhas pungentes e a colheitas fartas; invernos ventosos com pouca neve, em que toda a região fica despida e cinzenta como o ferro laminado”. Neste mundo, povoado por índios e imigrantes europeus que chegavam para trabalhar a terra e conquistar território a Oeste, Willa Cather encontrou a matéria-prima para a sua literatura. Autoria: Willa Cather (Trad. Marta Mendonça) Relógio d’Água Ler excertoNesse mundo, a que se chegava de uma longa viagem de comboio, vindo de Leste, no final de mil e oitocentos, início de novecentos, o Nebraska continuava a ser “o dia inteiro” o Nebraska, lê-se em Minha Ántonia sobre o dia em que Jim Burden chega a Red Croud vindo da Virginia onde vai viver com os avós numa quinta no sopé das montanhas Blue Ridge. É então que depois do comboio muda para uma carroça e os 30 quilómetros seguintes lhe mostram a evidência onde se sustenta todo o livro, que é também sobre a construção de um país: “Não havia nada excepto terra: não era uma região, mas o material a partir do qual se formam regiões. ” Ali, pensa o pequeno Jim, não havia nem lei nem Deus e “o que tivesse de ser, seria”. Eis o universo literário desta mulher que escreveu o que nenhuma outra escrevera: sobre os desperados, os agricultores que chegavam da Europa pobres e dispostos a tudo em troca de um pedaço daquela muita terra; os pioneiros de um novo país, os lugares de fronteira com tudo o que isso representa ainda na mitologia americana. Como Jim, também Willa um dia chegara da Virgínia, onde nasceu em 1873, a filha mais velha de uma família de oito irmãos descendentes de imigrantes galeses, e foi viver com os pais para uma quinta junto às montanhas Blue Ridge. “Ao olhar em redor, tive a sensação de que a erva era a região, da mesma maneira que a água é o mar”, sentiu Jim, certamente como terá pensado Willa, a rapariga que seria professora e depois colunista de uma revista e mais tarde editora de outra, em Nova Iorque, até se despedir para escrever um romance como Henry James, o seu herói literário. O livro chamava-se Alexander’s Bridgetown e foi um falhanço. Ela tinha 39 anos e decidiu seguir o conselho que lhe deram: que não escrevesse sobre a alta sociedade e os seus casos de paixão e traição, mas sobre o que conhecia. E ela sabia melhor do que qualquer escritor o que era a vida na pradaria americana. Viveu em Blue Ridge só o tempo de o pai se cansar de cultivar terra. Um ano e meio. A família mudou-se então para a cidade mais próxima, Red Cloud, junto à fronteira que agora separa os estados do Nebraska e do Kansas. É uma cidade de menos de mil habitantes onde mais nada de importante parece ter acontecido desde que lá viveu — e aprendeu a ler já adolescente — Willa Cather antes de se mudar, primeiro para Pittsburgh, Pensilvânia, e depois para Nova Iorque. Era uma mulher independente, formada em inglês pela universidade do Nebraska, capaz de se sustentar, um feito, tendo em conta a ruralidade de onde era originária o que complicava qualquer tipo de ambição feminina que não fosse ser mãe de família, religiosa, professora de colégio interno ou tia. Era uma pioneira nas letras como muitas das mulheres que criou foram na vida dos lugares onde viveram. Fosse Alexandra Bergson, a dona da quinta em O Pioneers! (1913) — livro que, a seguir ao fracasso da estreia, lhe mostrou o seu caminho; Thea Kronborg, a soprano de The Song of Lark (1915) ou esta Ántonia Shimerda, de Minha Ántonia, livro que completa a trilogia de fronteira de Cartier e com o qual a Relógio D’Água dá sequência a um projecto iniciado em 2007, mas que esperou mais de dez anos para ter continuidade: a publicação em Portugal da obra de uma escritora admirada por William Faulkner, por exemplo. Minha Ántonia é o terceiro livro de Cather por cá, depois de Uma Mulher Perdida (2007) e de O Meu Inimigo Mortal, pequena novela já publicada este ano onde a escritora fala mais uma vez do contraste desses dois universos que aprendeu a conhecer muito bem: a ruralidade do interior Oeste e a ostentação da grande cidade que era Nova Iorque. Neles está a diversidade social, geográfica, religiosa, de mentalidade que faz parte do que se pode chamar a identidade americana. “Havia então, nos Estados das pradarias, dois estratos sociais bem distintos: por um lado, os colonos, operários e artesãos que estavam ali para ganhar a vida e, por outro, os banqueiros e rancheiros abastados que vinham da costa atlântica para investir dinheiro e ‘desenvolver o nosso magnífico Oeste’, como então se dizia”, escreve em Uma Mulher Perdida. Percebe-se que a família de Willa está mais perto desta segunda classe, enquanto a de Ántonia se encaixa na dos servos. Percebe-se também a ironia e a crítica social na prosa de Cather, que ao longo da sua obra iria reflectir também a babel linguística de uma América interior povoada de colonos de toda a Europa, o convívio com os índios. E, a esse momento, num crescendo de criatividade literária da escritora. Uma Mulher Perdida seria descrito como uma Madame Bovary americana, tendo como centro uma mulher num duelo com as convenções em que vive. Foi o romance que se seguiu ao sucesso de One of Ours, de 1922, com o qual Willa ganharia o Pulitzer e se afirmava com um dos grandes nomes da literatura americana. Era uma mulher que trazia para os livros outras mulheres e apresentava-as como personagens principais de um país que vivia fixado no conquistador masculino do Oeste. Elas são personagens inquietas, inteligentes, que, quando silenciosas, encerram uma bravura que encontra paralelo na paisagem. Era gente que “vinha de um país velho para um país novo”, seres quase sempre estranhos a esse ambiente que foram domando, domando-se a si mesmas ou aculturando-se. São mulheres como as via Willa, seres pouco cor-de-rosa, com traços de personalidade que à época eram vistos como masculinos num escrita também mais próxima dos padrões masculinos. Ela admirava sobretudo os homens escritores. Além de James, Charles Dickens, Flaubert, correspondia-se com Scott Fitzgerald e desdenhava de autoras como Jane Austen, por exemplo. Bastante reservada quanto à sua vida pessoal, especula-se que tenha sido homossexual. O mistério manteve-se mesmo após a publicação da sua correspondência, facto que só aconteceu em 2013. Antes de morrer, destruiu muitas cartas, apontamentos, livros completos e deu instruções para que nunca se publicasse a correspondência. Mortos todos os seus herdeiros, a correspondência saiu e, pessoalmente, revelou apenas que os seus primeiros interesses afectivos foram mulheres. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Conhecendo o seu perfil não se estranha que tenha escolhido escrever muitas vezes a partir de uma perspectiva masculina para quebrar com o que então se entendia como livros escritos por mulheres. Em Minha Ántonia, para sublinhar o statement político que o livro contém, o narrador também é um homem. É através dele que sabemos de Ántonia mesmo antes de o livro propriamente começar. Admirava-a, conhecedor do contexto social em que viveriam. Ela era uma rapariga do campo e ele sabia que “as raparigas do campo eram consideradas uma ameaça para a ordem social”; como também conhecia a fama das três Marias, “heroínas de um ciclo de histórias escandalosas que os homens mais velhos gostavam de relatar, sentados ao balcão dos charutos, na drogaria”, também elas raparigas do campo; e desprezava os “empregados de escritório e contabilistas de mãos brancas e colarinhos altos” incapazes de assumir a paixão por uma dessas mulheres, preferindo fugir para o abrigo de um casamento amorfo e bem visto. Neste olhar Willa está mais próxima do narrador do que de Ántonia. Esse narrador é Jim Burden, o tal que chegou ao Nebraska no mesmo comboio em que chegaram Ántonia e a família. Ele encaminhado para o interior da casa da quinta, eles para servir essa casa e depois daí todos para a cidade, mas ocupando a mesma hierarquia social. E o leitor conhece Jim na introdução, quando ele, num comboio a fazer o percurso entre Nova Iorque e aquele estado, confessa a admiração pela rapariga e diz que que escreve os os seus pensamentos acerca dela. Assim nasce o livro que põe fim à trilogia da planície, conjunto de romances que funcionam isoladamente mas traçam um panorama do que foi a colonização e revelam a escrita depurada de Cather que ainda escreveria livros de nota nessa década de vinte, entre eles Death Comes From the Arcebishop (1927). A década seguinte seria de declínio junto da critica que a considerava conservadora. Pelos temas, politicamente, literariamente longe do experimentalismo de Gertrude Stein ou James Joyce, por exemplo, com uma escrita contaminada, diziam muitos, pelo jornalismo que exerceu durante anos. Recolheu-se desse mundo até à morte, em 1947, aos 73 anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens filha lei campo mulher homem adolescente social mulheres casamento homossexual feminina rapariga
Os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem
Os direitos humanos tal como estão plasmados na Declaração são uma aspiração longínqua para centenas e centenas de milhões de homens e mulheres. (...)

Os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os direitos humanos tal como estão plasmados na Declaração são uma aspiração longínqua para centenas e centenas de milhões de homens e mulheres.
TEXTO: A Declaração Universal dos Direitos do Homem é um marco na longa marcha da Humanidade em direção a um mundo melhor. Consagra direitos como tendo caráter universal, o que equivale a dizer que os direitos que constam na Declaração aplicam-se em todo o lado, não são para serem exercidos em função de fronteiras. É, pois, uma nova Magna Carta que abraça a Humanidade. A Declaração resulta, por um lado, dos ensinamentos retirados da barbaridade da guerra mundial levada a cabo pelo nazi-fascismo e, por outro lado, constitui uma aspiração de toda a Humanidade, que vem do fundo dos tempos, à liberdade, à democracia, ao progresso social, à paz e à segurança. Emanando da Assembleia-Geral da ONU, a sua aplicação/cumprimento depende sempre da boa vontade dos Estados e da capacidade de os cidadãos se mobilizarem para defender os direitos aí consagrados. Hoje, nenhum Estado às claras coloca em causa a Declaração, o que mostra o seu impacto dentro da comunidade internacional. O que não significa que não haja Estados que violem grosseiramente algumas normas, impedindo o exercício do direito de criar associações ou partidos políticos, o livre exercício da religião ou a liberdade de não praticar qualquer religião, o direito de sair ou regressar ao país de origem; não impedindo situações de verdadeira servidão, de discriminações religiosas, chegando mesmo a incentivá-las, de prisões arbitrárias, antes praticando-as, o livre exercício do direito de expressão e reunião livre sem quaisquer constrangimentos. As forças mundiais hoje dominantes têm como objetivo desmantelar direitos, enquanto há 70 anos o mundo movimentava-se para afirmar o primado de um conjunto de direitos que fazem parte da Declaração. Nos nossos dias proclama-se urbi et orbi a existência de direitos a mais, sendo necessário restringi-los. Vale a pena recuar no tempo até à revolução francesa de 1789 de onde surgiu pela primeira vez a ideia. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão adotada pela Assembleia Constituinte em 20, 21, 23, 24 e 26 de agosto de 1789 é constituída por 17 artigos que incidem sobretudo sobre o conjunto dos direitos e liberdades individuais e não contém praticamente direitos de caráter social. Essa Declaração teve como principal objetivo dar corpo às aspirações da burguesia triunfante, enterrando o ancien régime monarca/feudal em que a nobreza detinha um conjunto de privilégios que já não faziam sentido face à evolução do processo produtivo e das relações sociais, de onde emergia o peso da burguesia. Esta nova classe necessitava da liberdade de se poder consolidar e aprofundar no domínio das relações da produção; não aceitava as prerrogativas atribuídas à nobreza e daí a aprovação da Declaração. Os 149 anos que medeiam entre a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão na revolução francesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos na Assembleia-Geral da ONU dão conta dos avanços de um texto para o outro. Enquanto no primeiro a ênfase era colocada nos direitos individuais, no segundo mantêm-se esses direitos, mas aparecem já todo um conjunto de direitos novos que se pretendem universalizar. Estão neste caso os direitos ao ensino e à educação, ao emprego, à saúde, à habitação. Entretanto, à medida que a globalização se tornou dominante e o sistema financeiro cercou o mundo, as questões em torno dos direitos humanos assumiram crescente relevo na cena internacional. Foram explorados até à náusea na questão do direito de ingerência que permitiria a um conjunto de países agrupados na NATO intervir em certas situações e segundo determinadas conveniências. Como se sabe, esteve muitas vezes em cima da mesa a opção de intervenção militar para impedir a violação de direitos humanos, sobretudo durante o consulado de George W. Bush (filho) que ameaçou os países do chamado “eixo do mal” ou países párias. Todos recordarão a vergonhosa intervenção militar capitaneada pelos EUA no Iraque que levou à destruição do país, sendo que assentou numa cruel mentira e, quando desmascarada, Bush e Condoleezza Rice logo agulharam alegando que estavam a defender os direitos humanos naquele país. Com o novo ciclo politico aberto com Donald Trump na presidência dos EUA, este enfoque parece ter mudado radicalmente. Trump diz colocar a América “first”. Como todos os líderes das potências em declínio, faz da reafirmação da grandeza da América um objetivo capaz de dar resposta à crise que o país vive, sobretudo em setores profundamente afetados pela crise industrial e agrícola. O retorno ao grande país dos sonhos é contraditoriamente martelado por Trump pela demagógica campanha em defesa dos americanos e em detrimento e até da repressão aos emigrantes, como se não fosse, ele mesmo, filho de emigrante. É como se a América não fosse um país de emigrantes que arrasaram praticamente os nativos. Com Trump, os EUA fecham-se ao mundo numa visão nacionalista fundamentalista em que o que conta é a América; tudo o resto são ameaças a essa grandeza. Para tanto, Trump escolheu parceiros como Netanyahu de Israel, deslocando a embaixada para Jerusalém, e o príncipe Mohammed Bin Salman, o carniceiro de Khashoggi, declarando um relacionamento com a Arábia Saudita à prova daquele monstruoso crime. O confronto do nacionalismo exacerbado com o multilateralismo, ou seja, o confronto entre os interesses egoístas de um Estado com os interesses multilaterais e globais de todos os Estados que constituem a comunidade internacional, está hoje em pleno na atualidade internacional. Mesmo quando alguns, no plano interno, se servem do nacionalismo e, no plano externo, defendem o multilateralismo, talvez quiçá por tática. Concomitantemente, a nível global prossegue a política de austeridade impondo sacrifícios aos de baixo e grandes benefícios a uma minoria. É contra este estado de coisas que a revolta tomou conta das ruas de França. É este o mundo que vivemos. Um mundo em que as 225 maiores fortunas somam um total de mais de um bilião de dólares, o que equivale aproximadamente aos rendimentos anuais de dois mil e quinhentos milhões de pessoas mais pobres do mundo e que representam cerca de 42% da população mundial. A seca deste ano no Afeganistão é tão dura que as famílias vendem os filhos para minguar a fome. Os direitos humanos tal como estão plasmados na Declaração são uma aspiração longínqua para centenas e centenas de milhões de homens e mulheres. Estes 70 anos corresponderam a grandes avanços, mas à nossa frente perfilam-se desafios gigantescos. O primeiro é impedir que as forças retrógradas destruam estes direitos conquistados. O segundo é impedir que os fanáticos do império da força conduzam o mundo para uma terceira guerra mundial. A paz é o direito dos direitos, o supremo direito a viver. O terceiro é erradicar a pobreza extrema que impede que mais de metade da Humanidade possa ter uma vida com o mínimo de dignidade. A quarta é diminuir as desigualdades que levam a que uma ínfima minoria de pessoas tenha mais rendimentos que 50% da Humanidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O quinto é dar força ao direito internacional e às Nações Unidas, impedindo que os conflitos saiam desse quadro como pretendem as potências mais fortes. Muitos outros desafios haverá. A conciliação entre os direitos e as liberdades individuais e os direitos sociais, económicos, culturais e ambientais é o caminho para um mundo melhor e mais humano. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Possível retirada das acusações contra Strauss-Kahn geram tensão
Letitia James, vereadora democrata de Brooklyn e afro-americana, é uma das várias pessoas que já confirmaram a sua presença, esta tarde, num protesto que vai decorrer diante do tribunal que vai decidir sobre a ilibação ou não de Dominique Strauss-Kahn da acusação de abuso sexual de uma funcionária de hotel. (...)

Possível retirada das acusações contra Strauss-Kahn geram tensão
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Letitia James, vereadora democrata de Brooklyn e afro-americana, é uma das várias pessoas que já confirmaram a sua presença, esta tarde, num protesto que vai decorrer diante do tribunal que vai decidir sobre a ilibação ou não de Dominique Strauss-Kahn da acusação de abuso sexual de uma funcionária de hotel.
TEXTO: O advogado de Nafissatou Diallo, a empregada do Hotel Sofitel de Manhattan que afirma ter sido vítima de violação por Strauss-Kahn, acredita que a Procuradoria vai comunicar hoje o desfecho do processo penal. Várias organizações feministas e de defesa das minorias criticam o que consideram ser um final abrupto do caso sem oportunidade de julgamento. Já no fim de Junho, um mês e meio depois de ter apresentado queixa contra Strauss-Kahn, a Procuradoria de Manhattan assegurou que a acusação não tinha sustentabilidade devido à incoerência das declarações da vítima. A imigrante guineense mentiu na sua petição de asilo nos Estados Unidos e falou com um amigo que se encontra detido sobre o dinheiro de Strauss-Kahn. A Procuradoria adiantou à imprensa que Diallo disse ter avisado de imediato o hotel sobre o que tinha sucedido, mas que depois mudou a versão dos factos e assegurou que, na realidade, tinha continuado a fazer limpezas antes de dar o alerta. “Existem contradições de ambas as partes e também por parte da Procuradoria, a qual tem um problema de credibilidade”, disse Letitia James numa entrevista ao jornal El Mundo. James afirmou que, assim como outras colegas democratas, não queria “entrar em política” neste caso porque a prioridade deve ser a vítima, convertida em “objecto de debates tertulianos”, sem oportunidade de apresentar as provas médicas de agressão perante um juiz ou um júri. “A vítima está a ser submetida a um escrutínio nunca visto. Não existe uma vítima de violação perfeita”, explica James. “Tem direito a um julgamento. Não deve ser julgada pelo público, mas sim por um júri, que analise as evidências”, acrescentou. A principal preocupação da vereadora é a mensagem que a decisão judicial de retirar as acusações a Strauss-Kahn enviará às vítimas de violação que tenham dúvidas em denunciar este tipo de agressão. O exame médico feito a Diallo confirmou a existência de lesões que indiciam a ocorrência de uma violação, cinco horas depois do encontro que o ex-director do FMI descreve como “consentido”, enquanto a vítima diz ter sido “violento e brutal”. Nafissatou Diallo vai de seguida tentar a via cível e o seu advogado já afirmou que vai chamar a testemunhar outras mulheres que tenham sofrido agressões pelo político. Notícia corrigida às 13h40
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI
Portuguesa condenada a dois anos de prisão por envolvimento em casamentos falsos
Uma portuguesa foi hoje condenada por um tribunal em Londres a dois anos de prisão por ter participado num casamento falso e colaborado na organização de outros quatro entre mulheres portuguesas e homens do Bangladesh. (...)

Portuguesa condenada a dois anos de prisão por envolvimento em casamentos falsos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento -0.40
DATA: 2012-01-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma portuguesa foi hoje condenada por um tribunal em Londres a dois anos de prisão por ter participado num casamento falso e colaborado na organização de outros quatro entre mulheres portuguesas e homens do Bangladesh.
TEXTO: Ao declarar a sentença hoje no tribunal criminal de Snaresbrook, no norte da capital britânica, o juiz Inigo Bing considerou, todavia, que Maria Marques, de 47 anos, teve um "papel secundário por não falar inglês". Ainda assim, considerou-a cúmplice de "exploração fraudulenta da lei de imigração [britânica] que permite aos homens do Bangladesh adquirir um visto de residência se casarem com cidadãos de países da União Europeia". O "papel principal" na organização dos casamentos pertenceu ao marido, de 22 anos, também ele do Bangladesh, um "homem de negócios, experiente, bem-educado e persuasivo", descreveu o juiz. Mohamed Tanin foi assim condenado a quatro anos de prisão, após os quais arrisca, segundo a legislação britânica, a ser deportado. Ambos já cumpriram cerca de quatro meses de prisão preventiva, que irá contar para o tempo que irão passar na prisão, e podem pedir a liberdade condicional após concluída metade da sentença. O caso remonta a Julho de 2010, quando Marques e Tanin trouxeram para Londres quatro mulheres portuguesas para o Reino Unido de propósito para casarem com quatro jovens do Bangladesh. As autoridades britânicas desconfiaram das declarações para realizar o matrimónio porque tinham a mesma data, poucos dias antes de as portuguesas chegarem ao Reino Unido. Os alegados noivos eram quatro jovens do Bangladesh com vistos de estudante prestes a expirar enquanto das quatro mulheres, uma estava já numa gravidez avançada e outras duas eram "muito mais velhas". A inabilidade na preparação dos documentos levou o juiz a classificar tudo como um "esquema ridículo" e mesmo os advogados de defesa admitiram que o processo estava destinado a fracassar. Hoje soube-se no tribunal que o par, que está casado desde Novembro de 2009, chamou a atenção das autoridades depois de os nomes terem aparecido nos documentos de um facilitador de casamentos por conveniência entretanto detido. São considerados casamentos falsos quando um imigrante não europeu casa com um nacional da União Europeia para tentar obter o direito de residência e trabalho no país europeu em causa, neste caso o Reino Unido. As autoridades consulares portuguesas em Londres dizem ter registado um aumento crescente de portugueses envolvidos neste tipo de esquemas ilegais. No ano passado, o número de casos em Inglaterra e no País de Gales (934) aumentou, segundo o serviço de fronteiras britânico, 66 por cento em relação aos 561 de 2009.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens lei imigração tribunal prisão homem mulheres imigrante deportado
Prisão preventiva para 16 suspeitos de maltratar crianças
Dezasseis dos 20 homens e mulheres detidos na quinta-feira, na Margem Sul, suspeitos de pertencerem a uma rede criminosa internacional que usava crianças em assaltos e as maltratava, ficaram em prisão preventiva após três dias de interrogatório. (...)

Prisão preventiva para 16 suspeitos de maltratar crianças
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-10-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dezasseis dos 20 homens e mulheres detidos na quinta-feira, na Margem Sul, suspeitos de pertencerem a uma rede criminosa internacional que usava crianças em assaltos e as maltratava, ficaram em prisão preventiva após três dias de interrogatório.
TEXTO: Os arguidos são oriundos do Leste da Europa e identificam-se, na sua maioria, com documentos de países da ex-Jugoslávia. São suspeitos de pertencerem à chamada “máfia bósnia”, uma rede criminosa presente em vários países europeus, e estavam em Portugal pelo menos desde 2009, segundo uma nota da Procuradoria-geral Distrital de Lisboa (PGDL). Ao que o PÚBLICO apurou, foram encontradas 23 crianças sem documentos em duas casas de Almada, onde os elementos do grupo moravam, fingindo um ambiente familiar. Uma das casas pertence ao líder do grupo, que está em Portugal há três anos. As crianças apresentavam-se num “estado de completo abandono, sem assistência médica ou alimentação necessária, em estado de sofrimento e fome”, diz a PGDL. Segundo a mesma fonte, alguns menores eram utilizados nos assaltos, outros ficavam fechados em casa durante o dia e não frequentavam a escola. As crianças foram entregues a instituições de protecção de crianças e jovens em risco. O PÚBLICO sabe que vão ser realizados testes de ADN para saber qual o grau de parentesco das crianças em relação aos detidos. Rede actuava em vários países europeusO grupo, desmantelado numa operação conjunta da GNR e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), movimentava-se com grande facilidade por todo o país. Os líderes deslocavam-se em carros de alta cilindrada, nos quais transportavam as mulheres para a prática dos crimes. Os suspeitos dedicavam-se sobretudo ao furto de carteiras e de residências, e actuavam em zonas turísticas e transportes públicos. Segundo o SEF, controlavam as áreas da Grande Lisboa, com destaque para a zona do Castelo de S. Jorge, Belém, Baixa Pombalina, Marquês de Pombal, e ainda a zona do Santuário de Fátima, a Baixa do Porto, Braga e Algarve. Inicialmente foram detidos para interrogatório 20 indivíduos, dos quais 19 são de nacionalidade estrangeira, mas apenas 16 foram constituídos arguidos e, depois de ouvidos pelo juiz, ficaram em prisão preventiva. Segundo uma nota da PGDL, os arguidos estão “fortemente indiciados” da prática dos crimes de associação criminosa, furto, auxílio à emigração ilegal, falsificação de documentos, burlas qualificadas, furtos qualificados em série, maus-tratos de menores e branqueamento de capitais. Foram ainda detidos quatro indivíduos que estavam em situação ilegal no país e ficaram obrigados a apresentações periódicas às autoridades, enquanto corre o processo com vista à extradição, de acordo com uma nota do SEF. A GNR e o SEF fizeram oito buscas domiciliárias, nas quais apreenderam uma dezena de viaturas de alta cilindrada, “elevadas quantias monetárias”, documentos e objectos relacionados com os crimes. Na operação estiveram ainda envolvidos elementos das autoridades espanholas, uma vez que alguns dos detidos actuaram naquele país. Foi também pedida a colaboração da Europol, dado que os suspeitos estão referenciados por vários crimes praticados na Letónia, Eslovénia, República Checa, Itália, França, Espanha, Croácia, Bulgária, Roménia, Suíça e Alemanha.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR SEF
Reportagem: Milhares de estrangeiros tentam deixar a Líbia de barco
Uma fila interminável serpenteia junto ao navio. "Não sei para onde vamos", diz uma rapariga de 19 anos, Mary Rose. Está há várias horas à espera para entrar no paquete Alger, que vai zarpar para Alexandria, no Egipto, com dois mil refugiados a bordo. "A agência mandou-nos vir para aqui, não sabemos para onde vamos". Mary Rose é indiana e, desde há um ano, trabalha como baby-sitter em Bengasi. "Vamos todos embora, por causa dos problemas. Não sei se voltaremos." (...)

Reportagem: Milhares de estrangeiros tentam deixar a Líbia de barco
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-03-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma fila interminável serpenteia junto ao navio. "Não sei para onde vamos", diz uma rapariga de 19 anos, Mary Rose. Está há várias horas à espera para entrar no paquete Alger, que vai zarpar para Alexandria, no Egipto, com dois mil refugiados a bordo. "A agência mandou-nos vir para aqui, não sabemos para onde vamos". Mary Rose é indiana e, desde há um ano, trabalha como baby-sitter em Bengasi. "Vamos todos embora, por causa dos problemas. Não sei se voltaremos."
TEXTO: Os "problemas" terminaram por agora em Bengasi, desde que as forças leais a Muammar Khadafi foram vencidas pelos rebeldes, mas Mary Rose e os milhares de imigrantes que tentam embarcar não vêem assim a questão. "Isto está muito mau. É uma guerra, ninguém pode ficar aqui". Mohamed, 20 anos, argelino que veio para a Líbia estudar, observa da janela do seu carro os milhares de indianos, argelinos e sírios que chegam em camiões de caixa aberta, com malas e sacos às costas e o pânico nos olhos. "São paranóicos", diz ele. "Não há problemas com os líbios. Nenhum me fez mal, eu apoio a revolução deles, e quero ficar cá. " Rafiq, que trabalha para o comité dos revolucionários, pergunta a vários indianos se algum líbio lhes fez mal. "Não, não. Os líbios são nossos amigos", responde Santokh Kumar, 30 anos, imigrante do Punjab. "Eu vou-me embora por causa da guerra. Mas quando tudo acalmar, volto". Santokh trabalha numa fábrica de transformação de madeira e vive num campo de operários, com outros imigrantes da Índia e alguns do Gana. Ganha 600 dólares por mês, que envia na totalidade para a Índia. Vive dos 75 dinares mensais do subsídio de alimentação. "O nosso patrocinador é líbio. Chama-se Amar Ali. A empresa fechou e ele mandou-nos regressar. Não temos nenhuma razão de queixa dele. E são os líbios que estão a ajudar-nos a vir para aqui. Pessoas que emprestam camiões e vão buscar os indianos, por várias povoações". Rafiq fica satisfeito com as respostas. "Dizem que nós perseguimos os estrangeiros. Não é verdade. Podem trabalhar, fazer a sua vida. Só fazemos mal aos mercenários, de países africanos, que Khadafi contratou". Atrás do Alger está outro navio, o Europe Palace, e noutro terminal do porto atracou um navio militar sírio. Tem capacidade para mil pessoas, provavelmente menos do que os homens, mulheres e crianças que se empurram para conseguir chegar aos dois funcionários que, sentados em cadeiras de plástico, carimbam os passaportes. Um deles é Mustafa Ahbara, 33 anos, que trabalha no aeroporto, o outro Mahmoud, 24 anos, do Crescente Vermelho. Trouxeram dois carimbos da sede dos serviços de imigração e estão a autenticar a saída dos sírios. Colaboram com o comité. Mortos por todo o lado"Eu não vou regressar mais à Líbia", diz Sfr, sírio de 23 anos. "Não é por mim, mas pela minha família. Têm muito medo. Viram coisas que uma pessoa não devia ver nunca. " A mãe, Safira, o irmão, Mustafa, de 17 anos, e a irmã, Fátima, de 13, não conseguem dizer nada. Vivem em puro terror desde que começou a revolução. "Houve combates em frente do local onde trabalhamos", explica. "Mortos por todo o lado, carros a arder. Tenho de levar a minha família para fora deste país. "A revolução líbia começou em Bengasi no dia 17 de Fevereiro, de forma pacífica, tal como na Tunísia e no Egipto. Mas o que aconteceu a seguir foi muito diferente. As forças de Khadafi dispararam sobre os manifestantes. Usaram metralhadoras e armas pesadas, como baterias antiaéreas. Os buracos das balas são ainda visíveis. Mas a seguir os rebeldes reagiram. Vários comandantes do Exército passaram para o lado dos revoltosos e deram luta às forças especiais do Presidente. Contaram com o apoio de centenas de soldados, e distribuíram armas à população. Os combates decorreram durante três dias, centrados na praça Berka, onde se situa a sede das forças de Khadafi, a Katiba. É um complexo militar cercado por muros altos. No interior, há vários edifícios onde se aquartelavam as forças especiais, um palco onde o Presidente, quando vinha à cidade, fazia os seus discursos ao povo, e vários luxuosos palácios onde ele e os seus apaniguados se hospedavam.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra imigração campo medo mulheres imigrante pânico