Intervenção de Emergência repôs ligação da lagoa de Óbidos ao mar
Operação de emergência foi realizada pelas duas autarquias, após o fecho da aberta a 15 de Abril. (...)

Intervenção de Emergência repôs ligação da lagoa de Óbidos ao mar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Operação de emergência foi realizada pelas duas autarquias, após o fecho da aberta a 15 de Abril.
TEXTO: A ligação da lagoa de Óbidos ao mar, fechada há uma semana devido ao assoreamento, foi reposta às 10h30 desta quinta-feira, numa intervenção de emergência efetuada pelas câmaras das Caldas da Rainha e Óbidos. "O pico da maré aconteceu às seis da manhã e pensávamos que às 9h a água da lagoa já tivesse força para empurrar sedimentos e abrir o canal, mas, perante a força do mar, houve necessidade de atrasar hora e meia a abertura do canal", explicou à agência Lusa o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques. O fecho da ligação da lagoa ao mar, a denominada "aberta" da Foz do Arelho, aconteceu a 15 de Abril devido ao elevado assoreamento que forma bancos de areia e impede a entrada de água do Atlântico. Sem água do mar a lagoa perde oxigenação, colocando em risco as espécies e a subsistência de cerca de uma centena de pescadores e mariscadores que se dedicam à pesca de bivalves. Este foi o segundo fecho da aberta registado no prazo de um mês, depois de em Março a Agência Portuguesa de Ambiente (APA) ter realizado uma intervenção de emergência para repor o canal. "Devido às temperaturas mais elevadas e à informação que tínhamos de que espécies como as enguias e caranguejos começam a denotar problemas pelas falta de oxigenação, decidimos em conjunto avançar com esta intervenção", explicaram Humberto Marques e Fernando Tinta Ferreira (presidente da câmara das Caldas da Rainha), que esta manhã acompanharam os trabalhos. A abertura do canal foi feita com recurso a quatro máquinas (duas giratórias e duas pás carregadoras) que iam continuar a retirar areia até ao início da tarde , "para assegurar que a ligação não fecha" e que, até ao final de sexta-feira, continuarão no local para "retirar eventuais bancos de areia que voltem a formar-se", acrescentaram. A intervenção acontece a poucas semanas do início da empreitada de abertura e aprofundamento dos canais da zona inferior da lagoa de Óbidos, que implica a retirada de 650 mil metros cúbicos de areia de quatro canais. A obra foi adjudicada à firma Irmãos Cavaco SA, que a 11 de Abril iniciou na Foz do Arelho a montagem do estaleiro mas não iniciou ainda as dragagens, que terão uma duração de nove meses e um custo de 3. 497. 037, 77 euros. A esta obra sucederá a segunda fase das dragagens, que prevê a retirada de mais 700 mil metros cúbicos de areia das cabeceiras da lagoa, cujo concurso o secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, já afirmou que poderá ser lançado até ao final do ano. A lagoa de Óbidos é o sistema lagunar mais extenso da costa portuguesa, estendendo-se pelos concelhos das Caldas da Rainha e Óbidos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rainha
Morreu a actriz Anna Paula
Com uma carreira iniciada nos anos 1940, a actriz morreu na Casa do Artista com 87 anos. (...)

Morreu a actriz Anna Paula
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com uma carreira iniciada nos anos 1940, a actriz morreu na Casa do Artista com 87 anos.
TEXTO: A actriz Anna Paula, de 87 anos, cuja carreira passou sobretudo pela televisão, em telenovelas como Vila Faia e em filmes como O Costa d’África, morreu nesta quarta-feira de manhã na Casa do Artista, em Lisboa, indicou a instituição à agência Lusa. De acordo com a Casa do Artista, o corpo da actriz seguirá para a Basílica da Estrela, em Lisboa. Anna Paula, nome artístico de Maria Zulmira Pereira Lemos Zeiger, nasceu a 26 de Maio de 1929, em Braga. Foi actriz, professora de teatro e dramaturga. Com uma carreira premiada, iniciada nos anos 1940, teve participações na televisão, no cinema, na rádio, em dobragens e no teatro, tendo trabalhado, nomeadamente, na Companhia de Teatro Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, no Teatro Estúdio Lisboa e no Teatro Experimental do Porto. A partir de 1981 integrou o elenco fixo do Teatro Experimental de Cascais e, nessa altura, entrou na série televisiva Retalhos da Vida de Um Médico. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi professora de Interpretação da Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, e também participou nas telenovelas Cinzas, Na Paz dos Anjos, Os Lobos, Nunca Digas Adeus, Baía das Mulheres e Ninguém como Tu. No cinema, estreou-se em Sol e Toiros (1949), do realizador José Buchs, que relata a história de amor entre um toureiro e uma costureira que queria ser actriz de teatro. Neste filme participaram as fadistas Amália Rodrigues e Fernanda Baptista. Pelo seu trabalho Anna Paula foi condecorada pela Câmara Municipal de Cascais, em 1994, e recebeu o prémio de Melhor Actriz de Teatro Declamado, entregue em 1985 pela Associação dos Críticos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola mulheres corpo
Morreu Gene Wilder, o primeiro Willy Wonka do cinema
Gene Wilder, cúmplice de Mel Brooks nos seus melhores filmes e um dos actores mais populares da comédia americana dos anos 1970, morreu aos 83 anos em sua casa (...)

Morreu Gene Wilder, o primeiro Willy Wonka do cinema
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gene Wilder, cúmplice de Mel Brooks nos seus melhores filmes e um dos actores mais populares da comédia americana dos anos 1970, morreu aos 83 anos em sua casa
TEXTO: Gene Wilder, que morreu no domingo aos 83 anos em sua casa no estado americano do Connecticut, era um dos actores mais populares e mais reconhecíveis da comédia americana dos anos 1970. Foi cúmplice regular de uma das suas figuras mais importantes, Mel Brooks, a quem deve em grande parte a sua popularidade e as suas duas nomeações para os Óscares, e teve uma parceria fugaz mas de grande sucesso com outra estrela cadente da comédia americana desses anos, Richard Pryor. Wilder experimentou até por quatro vezes a realização, com níveis diferentes de sucesso e um filme que ficou na memória por razões alheias – A Mulher de Vermelho (1984), cuja banda-sonora, escrita por Stevie Wonder, incluia o mega-êxito I just called to say I love you. Se o que recordamos de Wilder são as suas comédias dirigidas por Brooks – Por Favor Não Matem as Velhinhas (1971), Balbúrdia no Oeste (1974) e Frankenstein Júnior (1974) –, o actor, nascido Jerome Silberman em Milwaukee em 1933, tinha começado no teatro. Estudou primeiro com Herbert Berghof e depois no célebre Actors Studio, e representou Brecht, Shakespeare e Arthur Miller. (O seu encontro com Mel Brooks, aliás, derivou da sua contracena na Mãe Coragem de Brecht com a sua esposa, a actriz Anne Bancroft. ) Estreou-se no cinema com um pequeno papel secundário em Bonnie e Clyde (1967) de Arthur Penn, mas seria à comédia que ficaria indelevelmente ligado, aperfeiçoando uma imagem de homem normal ou vizinho do lado atirado para situações completamente improváveis. Primeiro, através de Brooks, com quem recebeu duas nomeações para o Óscar – melhor actor secundário, como um contabilista atraído pela Broadway, em Por Favor Não Matem as Velhinhas (que seria mais tarde transformado num musical de enorme sucesso sob o seu título original, Os Produtores); depois como co-argumentista da paródia aos filmes de terror Frankenstein Júnior, onde interpretava igualmente o papel do criador do monstro. Seguir-se-ia um dos sketches de O ABC do Amor, de Woody Allen (1972), no papel de um médico apaixonado por uma ovelha. Finalmente, Wilder fez uma dupla que parecia imparável com Richard Pryor, um dos mais controversos e aclamados comediantes stand-up americanos da década (e co-argumentista de Balbúrdia no Oeste, onde deveria ter interpretado um dos papéis principais). Filmaram juntos O Expresso de Chicago, de Arthur Hiller (1976), e Dois Amigos em Apuros, de Sidney Poitier (1980), dois grandes êxitos de bilheteira, mas os problemas de drogas e de saúde de Pryor impediram a continuação da dupla, com duas tentativas posteriores, em Cegos, Surdos e Loucos (1989) e Outra Vez Tu? (1991), a encontrarem o fracasso. Foi também na comédia que Wilder passou para o outro lado da câmara dirigindo quatro longas-metragens no género, As Aventuras do Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes (1975), O Maior Amante do Mundo (1977), A Mulher de Vermelho (1984) e Lua-de-Mel com Fantasmas (1986). Infelizmente, nenhuma delas é hoje recordada, à excepção de A Mulher de Vermelho, remake americano da comédia francesa As Belas Mulheres dos Outros cujo sucesso comercial foi transportado pela banda-sonora escrita por Stevie Wonder. Mas um dos papéis pelos quais é mais recordado só o seria a posteriori. Foi Wilder quem interpretou pela primeira vez no cinema Willy Wonka, o bizarro mestre chocolateiro criado pelo escritor Roald Dahl, em A Maravilhosa História de Charlie, de Mel Stuart (1971). Longe de ser um êxito aquando da estreia, o filme tornar-se-ia um clássico através da televisão e do vídeo, e a versão de Tim Burton com Johnny Depp (Charlie e a Fábrica de Chocolate) foi recebida com protestos de muita gente para quem Wilder era o único Willy Wonka possível. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Gene Wilder praticamente abandonou o cinema a partir de meados dos anos 1980 (voltando esporadicamente nos anos 1990 e terminando com duas participações especiais na série Will & Grace em 2003 que lhe valeram um Emmy), mas isso não se deveu ao insucesso de Lua-de-Mel com Fantasmas nem a qualquer tipo de frustração com Hollywood. O seu “desaparecimento” deveu-se à doença de Gilda Radner, a sua terceira mulher, contemporânea de John Belushi e Bill Murray no elenco original do célebre programa Saturday Night Live. Conheceram-se em 1982 nas rodagens de O Casal Trapalhão (uma paródia de Intriga Internacional pensada originalmente para Wilder e Pryor), e casaram-se em 1984, mas a actriz foi diagnosticada com cancro do ovário em 1986 e Wilder parou a carreira para tomar conta da esposa. Devastado pela sua morte em Maio de 1989, o actor dedicou-se à recolha de fundos e ao activismo contra a doença. Durante a década de 2000 virou-se para a escrita, publicando uma autobiografia, bem como três romances e uma colecção de contos. Diagnosticado com linfoma não-Hodgkin em 1999, do qual recuperaria por completo, Wilder morreu de complicações da doença de Alzheimer na sua casa de Stamford a 28 de Agosto. Nas palavras do sobrinho, Jordan Walker-Pearlman, que anunciou a morte esta segunda-feira, o actor, casado desde 1999 com Karen Webb Boyer e sem filhos de nenhum dos quatro casamentos, mantinha a capacidade de raciocinar e de reconhecer os familiares.
REFERÊNCIAS:
Morreu Edward Albee, autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
Um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos EUA, era reconhecido pelos diálogos inflamados e abordagem mordaz. Morreu na sexta-feira, aos 88 anos. (...)

Morreu Edward Albee, autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos EUA, era reconhecido pelos diálogos inflamados e abordagem mordaz. Morreu na sexta-feira, aos 88 anos.
TEXTO: O dramaturgo norte-americano Edward Albee morreu na sexta-feira, aos 88 anos, em Montauk, no estado de Nova Iorque. A morte do autor da peça Quem Tem Medo de Virginia Woolf? foi confirmada pelo seu assistente ao New York Times e ocorreu na sequência de uma curta doença. "A todos os que me tornaram tão maravilhoso, tão excitante e tão pleno estar vivo, os meus agradecimentos e todo o meu amor", escreveu o dramaturgo há anos, antes de ser submetido a uma complexa cirurgia, numa nota que desejava que fosse divulgada por ocasião da sua morte. Edward Albee era um dos mais importantes e influentes dramaturgos dos Estados Unidos, reconhecido pelos seus diálogos inflamados e pela abordagem mordaz. Iniciou a sua carreira no teatro no final dos anos 1950 e recebeu o prémio Pulitzer por três vezes - nenhuma delas pela sua obra mais conhecida, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de 1962, que depois de ser envolta em controvérsia foi adaptada ao cinema em 1966 e valeu a Elizabeth Taylor, que nele contracenava com o seu eterno par Richard Burton, um Óscar. Com os proventos da peça, Albee desenvolveu várias iniciativas de apoio a novos autores norte-americanos e, em 1967, criou uma fundação para receber escritores e artistas plásticos por períodos curtos, em Long Island. É também autor de Tudo no Jardim, A História do Jardim Zoológico, A Morte de Bessie Smith ou Caixa de Areia - editadas em Portugal na colecção Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos. Um Equilíbrio Delicado, de 1966 (que estreou em Lisboa no ano seguinte, com Varela Silva e Amélia Rey Colaço), e Paisagem Marinha, de 1975 (inédita em Portugal), receberam o prémio Pulitzer de melhor peça. Nos anos 1980, o autor pareceu perder o favor do público apesar de The Lady from Dubuque (1980), mas Três Mulheres Altas, de 1994 (montada no São Luiz dois anos depois), iniciou uma nova fase de reconhecimento e deu-lhe o seu terceiro Pulitzer. A Cabra, ou Quem é Sílvia?, de 2002, mostrou um Albee ainda muito capaz de surpreender a plateia. Na peça, a personagem principal apaixona-se por uma cabra - o texto estreou-se em Portugal em 2004, com encenação de Álvaro Correia, na Comuna. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos EUA, em 2005, Quem Tem Medo de Virginia Woolf? voltou à Broadway e, um ano depois, a Londres, sob o olhar atento de Albee, com Kathleen Turner e Bill Irwin nos principais papéis.
REFERÊNCIAS:
Epístolas segundo os amantes
Neste romance epistolar entre dois amantes separados pela distância e pelo tempo, esboça-se a cartografia da nossa solidão. (...)

Epístolas segundo os amantes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Neste romance epistolar entre dois amantes separados pela distância e pelo tempo, esboça-se a cartografia da nossa solidão.
TEXTO: Mikhail Chichkin (n. 1961) recebeu já os três maiores prémios literários russos e é considerado por muitos estudiosos um dos maiores romancistas vivos do país. Vive em Zurique desde 1995, e é um feroz crítico do governo de Putin: há alguns anos recusou-se a representar a Rússia numa feira do livro em Nova Iorque pois, como disse numa carta aberta, não queria estar presente em nome de um país onde “o poder foi tomado por um regime corrupto e criminoso, onde as eleições são uma mentira, os tribunais defendem as autoridades, e a televisão é uma prostituta”. Até agora os seus livros estavam inéditos por cá. Cartas de Amor e de Guerra é um romance epistolar entre dois amantes (Vladimir e Aleksandra) separados no espaço (ele, soldado numa guerra na China, ela a trabalhar em São Petersburgo), mas também no tempo (ela está algumas décadas adiante) — esta é uma das fascinantes singularidades deste romance (um pouco na linha do pós-modernismo russo de autores como Viktor Pelevin ou mesmo de Vladimir Sorokin). Aqui se trocam cartas de amor em que ambos evocam lembranças de sonhos e de pesadelos, da infância, dos primeiros encontros entre os dois, das famílias, do trabalho quotidiano, das férias na datcha (casa de campo), de rios e de cidades. É uma narrativa labiríntica que se vai construindo num vaivém contínuo de recordações de ambos os corpos, de memórias dos sentidos, sobretudo do tacto e do olfacto. “E os cheiros do jardim! Tão densos, tão fortes, como partículas que saturassem o ar. Era deitá-los numa chávena em vez de chá. ”Autoria:Mikhail Chichkin (Trad. António Pescada) Ítaca Ler ExcertoSão cartas ternas e por vezes brutais (sobretudo as dele, que combate “com umas cuecas do Estado que picam”) que aos poucos, e de uma maneira quase subtil, se vão ligando num passado muito brevemente vivido pelos dois. As missivas dele, apesar de tudo, são mais viradas para descrições e considerações sobre o atoleiro (soldados, sangue, doenças) em que está enfiado no presente em que as escreve, mas também mais filosóficas: “Precisava de vir até aqui para compreender coisas simples. ” O soldado, culto e literato, faz por vezes referências (nem sempre veladas) a obras ou autores como Hamlet, Stendhal ou o Evangelho Segundo João. As suas considerações, porque muitas vezes extravasam as próprias missivas, são sobretudo um piscar de olho ao leitor. “Pensei que todos os grandes livros e os grandes quadros não são sobre o amor. Apenas fingem ser sobre o amor, para que seja interessante lê-los. Mas na realidade são sobre a morte. ” Ou ainda: “Para nos tornarmos autênticos é necessário existir não na nossa consciência, que é tão insegura (…) mas na consciência de outra pessoa. E não simplesmente de uma pessoa qualquer, mas da pessoa para quem é importante saber que nós existimos. ”As cartas deste romance de Chichkin parecem convergir numa descrição do mundo, como se nelas ele se reflectisse inteiro, e isto muito à maneira das histórias do reino fantástico, medieval e mitológico, do Prestes João (“senhor dos senhores, rei dos reis, soberano dos soberanos”) que é, aliás, referido nas mesmas. Num périplo com momentos bastante poéticos, a escrita de Chichkin insinua e esconde, exagera e retrai-se, mostra-se para logo depois mudar de registo. “Em comparação com a nossa felicidade, a morte parece uma ninharia. ” O autor consegue aguentar com mão de mestre uma narrativa que por vezes se aproxima perigosamente do abismo, de onde ele a salva sempre, sobretudo nos momentos em que a realidade parece começar a confundir-nos. “O que é real é aquela primeira vez em que eu estive no teu apartamento, fui à casa de banho para lavar as mãos, vi ali a tua esponja e senti intensamente que ela tocava no teu seio. ” Cartas de Amor e de Guerra é uma espécie de esboço da cartografia da nossa solidão, em todos os tempos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra campo espécie prostituta
Um pouco de todas as artes no Serralves em Festa
Festival multidisciplinar decorre no Porto no fim-de-semana de 30 e 31 de Maio. (...)

Um pouco de todas as artes no Serralves em Festa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.18
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Festival multidisciplinar decorre no Porto no fim-de-semana de 30 e 31 de Maio.
TEXTO: “Um entre muitos” é o tema da 12ª edição do Serralves em Festa que decorre no Porto, nos dias 30 e 31 de Maio. Das 8h da manhã de sábado até à meia-noite de domingo, há 40 horas non-stop de espectáculos. Na música, destaque para o pós-punk dos The Pop Group e o jazz dos norte-americanos The Pyramids que, depois de terem estado como que desaparecidos, lançaram novos álbuns recentemente. A coreógrafa francesa Emanuelle Huyhn recria a peça de Iannis Xenakis, Persephassa, agora com bailarinos portugueses; e a norte-americana DD Dorvillier transmite o seu arquivo coreográfico a bailarinos estrangeiros e locais, na criação A Catalogue of Steps. A suíça Steffi Weismann apresenta três performances em que cruza a arte sonora com a linguagem. E, no cinema, é reposto Adeus, Pai (1996), de Luís Filipe Rocha, um raro sucesso de público no cinema português, sobre a difícil relação de um homem ocupado pelo trabalho com o seu filho. No Serralves em Festa 2015, não vão faltar programas para preencher mais um fim-de-semana cultural aberto aos públicos mais diversos. Haverá também circo contemporâneo: a companhia francesa Les Philébulistes estreia em Portugal Hallali ou la 5e. de Beethov, um espectáculo que envolve seis trapezistas e uma estrutura gigante que permite coordenar os movimentos aeróbicos e acrobáticos. E, para as crianças, há recitais de poesia em que Margarida Mestre, em Poemas para Bocas Pequenas, explora a vertente plástica e sensitiva dos textos. A programação do Serralves em Festa 2015 foi apresentada esta quinta-feira no Porto, e Liliana Coutinho, responsável pelo Serviço Educativo, explicou que, para além das habituais visitas guiadas, esta edição vai contar com um programa radiofónico, Rádio Já, para o qual todos poderão sugerir conteúdos, que serão transmitidos na hora, via Internet. O presidente da fundação, Luís Braga da Cruz, disse esperar que, depois do grande sucesso da edição do ano passado, que recebeu mais de 140 mil visitantes, as mentalidades de quem não visita o museu e os espaços de Serralves se alterem: “Dizem que é longe, que é caro, que não querem conhecer”. Com o argumento de que, como sempre, a entrada neste festival é gratuita, Braga da Cruz espera cativar ainda mais pessoas. Este é o “momento do ano de contacto intenso com o nosso público” — acrescentou o presidente —, e a oportunidade vai ser aproveitada para oferecer “uma programação particularmente rica e diversa”, sublinhou Suzanne Cotter, directora artística do Museu de Serralves. Para quem uma só arte não chega, existem espectáculos que unem mundos distintos. É o caso dos concertos da banda portuguesa Paus (Hélio Morais e Joaquim Albergaria), que se aliam ao trabalho em filme da britânica Jemima Stehli. Olhos e ouvidos devem estar também atentos ao encontro entre o músico Lichens e Rose Kallal, artista visual e sonora canadiana. Destaque ainda para os projectos de performance A String Section, da companhia inglesa Reckless Sleepers, com visões perturbadoras e insólitas de cinco mulheres vestidas de negro com serrotes na mão. Mas não é só em Serralves que vai haver festa. Como já tem vindo a acontecer, vários projectos vão ser apresentados na Baixa do Porto. Há espectáculos de dança contemporânea e mesmo aqueles que não são profissionais são convidados a participar em workshops vocais e performances ao vivo. Nomes nacionais e internacionais — do Senegal à Indonésia — vão estar presentes nesta edição, e várias instituições ligadas à arte e à cultura continuam a ser parceiras do evento. Estão reunidos os elementos para que o último fim-de-semana de Maio consiga cativar pessoas de todas as idades e com interesses muito distintos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura filho negro homem mulheres circo
No último dia a ModaLisboa teve lágrimas
Na 44.ª ModaLisboa, que terminou neste domingo no Páteo da Galé, vimos passar os temas da moda actual e as tendências – o pêlo, as décadas passadas e as cores do Inverno. (...)

No último dia a ModaLisboa teve lágrimas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na 44.ª ModaLisboa, que terminou neste domingo no Páteo da Galé, vimos passar os temas da moda actual e as tendências – o pêlo, as décadas passadas e as cores do Inverno.
TEXTO: Não foi a primeira vez que Filipe Faísca levantou uma sala com uma colecção emotiva – mas domingo as lágrimas misturaram-se com as palmas porque a parceria do designer com a Fundação Rui Osório de Castro, que se dedica às crianças com doenças oncológicas, não só pintalgou a sua colecção para o próximo Inverno como vestiu essas mesmas crianças na passerelle. Que dimensão acrescentam ao pêlo laranja e azul eléctrico e aos vestidos baby doll? É moda, roupa ou mais do que isso? “É moda”, responde peremptório o criador. “A moda é transversal a tudo. É vida, é pele. ”A criança dentro de si, “uma fera que adora papel e tesoura”, ficou “grata” pelo desafio que lhe foi feito e que levou a que 30% da venda destas peças revertam a favor da fundação. As outras crianças, as apoiadas pela fundação, fizeram workshops com Faísca, desenharam e esses corações, rostos pueris e borboletas foram para as camisas-vestido, para as calças à boca de sino, para a passerelle. E não só – Filipe Faísca trabalhava para estas colecções as suas habituais mulheres sensuais e “perversas”, ou ícones como Jane Birkin e o seu vestido que dizia “Darling” (o nome da colecção). Mas o processo criativo foi inundado pela experiência. Misturou com a seda, com o pêlo de carneiro e com o linho o neoprene do vestido princesa que encerrou o desfile aberto por Sofia Aparício. “Neste processo, entrou a mulher girly e o seu vestidinho. E o neoprene é um material de criança, é um processo rápido. ” Aplausos, lágrimas, de diferentes origens das de 2007 quando apresentou Portugal, Portugal no Museu de História Natural, mas um desfile que, para o criador, continua a ser “moda, moda”. O Inverno 2016, segundo a passerelle da ModaLisboa, é tendências e cores (mostarda, verde, negros, azuis fortes, tons pele), é silhuetas anos 1970, mas também 1880 – Nair Xavier, saída do Sangue Novo para a plataforma LAB, foi ao romance do poeta John Keats com Fanny Brawne visto por Jane Campion no filme Bright Star para uma colecção masculina que também teria agradado à geração Beat dos anos 1950. Na Casa da Balança, mais uma vez beijada pelo sol e pelos frequentadores da renovada Ribeira das Naus, houve calças pinçadas, sem cós, elementos das colunas da Antiguidade Clássica nas camisolas, verdes, bordeauxs, xadrez. A ela juntar-se-ia ao fim da tarde Nuno Gama, mais testosterona versão Camões na colecção Lusíadas I, veludos, lãs, pele e caxemiras e o inevitável pêlo a convidar para mais um Inverno frio na moda masculina. Essa é, aliás, o último reduto da moda actual para a consultora de tendências Li Edelkoort. Estamos na ModaLisboa, vemos as colecções passar, os convidados a observar, os designers e manequins a trabalhar. Mas vemos também os temas da moda actual, com a moda portuguesa em fundo, desfilar também. A holandesa Li Edelkoort publicou há duas semanas o manifesto Anti_Fashion que decreta a implosão da indústria da moda, que critica a formação de designers baseada no ego – os “mini Karls”, aludindo ao kaiser da Chanel Karl Lagerfeld -, os desfiles curtos e pouco emotivos, a perda dos saberes artesanais. As cenas dos próximos capítulos, no dia em que se apresentou também na plataforma de micromarcas LAB o projecto AwayToMars, que com peças básicas mas com design assertivo quer democratizar a autoria através de um site colaborativo, para Edelkoort resumem-se numa palavra: roupa. E não moda. “Os consumidores de hoje e de amanhã vão escolher por si, criando e desenhando os seus próprios guarda-roupas”, lê-se no manifesto da holandesa que dirige um dos mais importantes gabinetes de tendências do mundo, a Trend Union. “As roupas”, na sua encarnação mais utilitária e socialmente consciente – feitas pelos consumidores, encontradas, trocadas, emprestadas -, “vão dominar as tendências no futuro. Portanto, celebremos as roupas”. As roupas e a moda de Catarina Sequeira, aliás Saymyname, tentam essa ligação ao tecido social tendo como ponto de partida a tese popular dos Seis Graus de Separação (que indica que todos estamos interligados num máximo de seis passos ou pessoas que nos conhecem ou que conhecem quem nos conheça). Vai à natureza encontrar uma rede para essa ligação e coloca-a nas peças de lã e nas mousselines em rosas fortes, pretos e cinzentos. Domingo, último dia da 44. ª ModaLisboa, apresentaram-se também Lidija Kolovrat e o seu Micro-Macro, a angolana Nadir Tati estreou-se numa passerelle portuguesa e Nuno Gama teve uma das maiores enchentes da edição. Os seus Lusíadas I acrescentaram a dimensão de espectáculo à noite, com aves de rapina a acompanhar os manequins na passerelle enquanto desfilavam com estandartes com a cruz de Cristo, chapéus de inspiração quinhentista e peças de design contemporâneo numa encenação que terminou com Amália e o hino português a fazer erguer a sala para aplausos emocionados.
REFERÊNCIAS:
O Buçaco que atrai Israel e que se lança à Unesco
De reduto dos frades carmelitas descalços a tesouro da serra, a riqueza da mata do Bussaco tem o costume de cair no esquecimento dos da terra que apenas ali reconhecem “o hotel e uma mata”. (...)

O Buçaco que atrai Israel e que se lança à Unesco
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: De reduto dos frades carmelitas descalços a tesouro da serra, a riqueza da mata do Bussaco tem o costume de cair no esquecimento dos da terra que apenas ali reconhecem “o hotel e uma mata”.
TEXTO: As glicínias que cobrem a pérgula já não estão lilases, mas a vegetação em volta ergue-se verde e imponente diante aos nossos olhos, no meio da neblina da manhã, que torna a mata tanto misteriosa quanto bucólica. Os troncos, as folhas, os galhos que se emaranham uns nos outros, os musgos verdes agarrados a muros e pedras. A mata do Bussaco, optando pela grafia antiga, ainda é para muitos um segredo com 400 anos perdido na serra, não fosse a vontade dos carmelitas descalços, vindos de Espanha, ali criarem um deserto, um convento, num sítio virgem, que não tivesse sido ainda mexido pela mão humana. A ideia primeira destes religiosos seria refugiarem-se em Sintra e criarem um espaço de reclusão. Mas o mar poderia ser inimigo e o clima poderia não ser favorável ao cultivo de algumas espécies. A natureza, a ecologia eram já mantras de vida para estes carmelitas. Era pelas portas de Coimbra – grandes portões voltados para a cidade da sabedoria – a entrada principal na mata na época. A partir dali, eram cerca de 100 hectares de um espaço de clausura, que, “teoricamente”, só homens poderiam pisar. Conta-se que quando as senhoras entravam no espaço da mata, os frades carmelitas revolviam a terra que elas tinham pisado. É Gilberto Fernandes, o teólogo de formação que serve de nosso guia, quem nos conta esta estória e que nos alerta para as duas bulas papais do século XVII que estão gravadas nessa entrada. Uma delas, do Papa Gregório XV, proíbe justamente a entrada de mulheres nos conventos carmelitas, por isso também o de Santa Cruz do Bussaco ali erguido no lugar que é hoje ocupado pelo Bussaco Palace Hotel. O outro documento revela-se inédito e pioneiro: proíbe a destruição de árvores e a apanha de madeira, sendo reconhecido como o primeiro documento oficial do Vaticano de protecção e conservação da natureza. “É uma questão tão antiga e tão actual agora”, nota Gilberto. A biodiversidade é um ícone da mata, reconhecem os seus defensores. Na mata, há hoje espécies de todos os continentes. No passeio pelos seus 105 hectares passamos por vários micro-climas que possibilitam que estas 250 espécies sobrevivam, algumas por centenas de anos. Como o cedro do Bussaco, “que mente duas vezes”, diz Gilberto Fernandes, enquanto nos guia por 400 anos de história. É uma árvore de 1644, segundo indica a placa que a identifica, já gasta pelo tempo, e terá sido a primeira plantada pelos carmelitas. O seu nome científico é Cupressus lusitanica. Ou seja, não é um cedro (primeiro equívoco), nem é do Buçaco (segunda mentira). É, na verdade, um cipreste oriundo do México que foi depois para a Goa e daí chegou a Portugal. “[Os carmelitas] não são descalços porque andassem de pés no chão, mas sim porque são desprovidos de bens”, repararia Gilberto logo no início da visita, enquanto nos mostrava o que resta do Convento de Santa Cruz, ali erguido com recursos aos materiais que a terra dava e que utilizaram para construi dezenas construir algumas das construções que ainda hoje ali se mantêm. A estrutura é adornada com mosaico com pedra que, sendo uma arte austera, não deixa de ser arte. “A ideia da austeridade, da simplicidade estava sempre presente”, nota o guia. Prova disso são os interiores forrados a cortiça, que são da época, garante Gilberto, e uma espécie de pedra escura, com aparência de vulcânica, que aparece no mosaico que cobre as paredes. Que, afinal, não é pedra, mas sim escória ferruginosa em grande quantidade. “Ainda permanece como um mistério saber como chegou aqui a escória”, diz o teólogo, já que não havia ali por perto que produzisse tal material. Com a expulsão das ordens religiosas de Portugal, o edifício cai no abandono, sobretudo entre 1834 e 1888. E seria precisamente em 1888 que se iniciaria a construção daquele que se tornaria o Bussaco Palace Hotel, antes pensado para ser casa real. “Vamos tirar das nossas cabeças que isto foi Palácio Real. Nunca foi”, diz Gilberto. Foi riscado por Luigi Manini para ser palácio real, mas dada a conjuntura do país, era um investimento desproporcional. O projecto acabou por ficar na gaveta e só mais tarde, em 1888, o "ministro das obras públicas" da altura, Emídio Navarro, que tinha interesses na vila termal do Luso, pô-lo em marcha para o transformar num “hotel para o povo”. "Para o povo? Então o povo era rico", há-de interromper um dos visitantes. E os números não enganam: o orçamento de Estado em 1888 era de 120 contos. Oficialmente, a construção do palácio terá custado 97 contos. “É, de facto, uma obra colossal”, resume Gilberto. De hotel do povo, tem muito pouco. É uma obra faustosa, com uma base neo-manuelina, com elementos encordoados, colunas, estes motivos alusivos à expansão portuguesa. Mas à medida que os nossos olhos sobem, torna-se mais simples. Isto porque, explica Gilberto, arquitectos portugueses como Norte Júnior também participam no projecto. A família real apenas terá passado ali uma noite. Ainda há poucos que reconhecem o património florestal, histórico, cultural, religioso, e militar da Mata do Buçaco. Aos da terra, a própria mata passa despercebida. “Se chegar à Mealhada e perguntar o que é o Buçaco, as pessoas não sabem. São capazes de responder ‘é uma mata e tem lá um hotel’”, considera Gilberto. Do que resta do convento, que foi em grande parte demolido para a construção do palácio, parte o trilho da Via-Sacra, construída em 1648 e feita à escala de Jerusalém. Segundo explica Gilberto, a Via-Sacra é uma das principais razões pelas quais os turistas israelitas aparecem em terceiro lugar, depois dos portugueses e dos espanhóis. “Eles [israelitas] dizem-nos que o país está muito bem referenciado em Israel, precisamente por causa da Via-Sacra, e que é extremamente seguro”, conta. Naqueles 100 hectares há cerca de 140 edificações. Ou seja, áreas que foram intervencionadas, desde jardins a construções. Muitas delas, a precisar de ser recuperadas. Mas para isso é preciso dinheiro. Que até Março a Fundação Mata do Bussaco (FMB), constituída há nove anos para fazer face ao abandono que existia nesta mata, não recebia. Só este ano, a mata foi considerada monumento nacional, passando assim a poder beneficiar de ajudas públicas e a concorrer a fundos comunitários. “Até ao dia 23 de Março, a administração central dava zero à FMB”, critica António Gravato, presidente da fundação, reconhecendo que as edificações da mata estão a precisar de intensas obras de recuperação. Sobretudo depois de em 2013, a mata não ter escapado à fúria do ciclone Gong que varreu aquela zona, deitando abaixo, estima, cerca de 10 mil árvores de grande e de médio porte. Para já, estão a avançar as obras de recuperação do Convento de Santa Cruz e da Via-Sacra, que estão orçadas em cerca de 1, 2 milhões de euros. Desde o ano passado, a Fundação Mata do Bussaco e a Câmara Municipal da Mealhada estão a trabalhar na candidatura da Mata Nacional do Bussaco a Património Mundial da UNESCO. O objectivo, não esconde António Gravato, é chamar mais pessoas. A mata recebe anualmente 275 mil visitantes - muitos deles são visitas escolares –, o que faz deste local o segundo mais procurado da região centro, só suplantado pela Universidade de Coimbra. “Se o Buçaco chega quase ao outro lado do mundo, devia chegar mais depressa a Portugal”, desafia Gilberto, lançando também o convite aos que queiram perder-se por mais de 100 hectares de história e natureza. Info: Para entrar na mata, os veículos ligeiros pagam cinco euros. As visitas guiadas ao convento, jardins e mata variam entre os 5 e os 7 euros por pessoa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Da serra, a água do Luso percorre cinco quilómetros por grandes tubos até chegar à fábrica da Sociedade das Águas de Luso (SAL), na freguesia da Vacariça, na vila do Luso. Lá é armazenada em dois grandes depósitos, para depois seguir para as linhas de enchimento, onde as garrafas circulam freneticamente, passando num ápice de vazias a cheias, fechadas, lacradas e rotuladas. Como vem da terra, é como vai para a garrafa, há-de garantir Noémia Calado, responsável pelas relações institucionais da SAL, durante uma visita à fábrica que ocupa metade dos 34 hectares da Quinta do Cruzeiro onde se trabalha para manter aquela água líder no segmento das águas minerais naturais. Por dia, entram nas garrafas cerca de um milhão de litros de água. Por hora, enchem-se cerca de 30 mil garrafas de 0, 33 cl. As garrafas andam em linha, como numa linha de produção de uma qualquer fábrica, depois de serem sujeitas a um processo de desinfecção e esterilização (no caso das de vidro, que são retornáveis). É uma zona "100% limpa", vinca Noémia, ao passarmos pela linha de enchimento. É por isso que todos os trabalhadores usam óculos, touca, máscara, luvas, sapatos especiais, bata por cima de uma fardaA Luso trabalha 24 horas por dia. Carrega 80 camiões com a “água mineral natural” e todos os segmentos da marca como a Cruzeiro, do mesmo grupo. Exporta para tudo o que é comunidades portuguesas no estrangeiro (cerca de 20%), mas “privilegia o mercado nacional”, garante Noémia. É a Sociedade Água de Luso que tem a concessão das termas e da exploração e comercialização da água de Luso, desde 1852. O actual contrato deverá durar até 2063, altura em que a Água de Luso terá 211 anos. Sendo a água o segredo da longevidade da marca, a SAL, através da Fundação Luso, encarrega-se de manter a serra, plantando árvores autóctones, muitos arbustos. Só assim, com as árvores de raízes profundas dali naturais é possível a infiltração mais regular das águas que abastecem o aquífero, garantindo que a Água de Luso continue como, em 1903, o químico francês Charles Le Pierre a identificou: “puríssima, muitíssimo pura”. Rei dos Leitões Se é dos que não dispensa o leitão quando está na zona da Mealhada, não há como não passar por esta famosa casa e provar a iguaria. Rei dos Leitões: Av. Restauração, Nº 17 3050-382 Mealhada Telefone: 231 202 093Adega do Ti Joaquim É local para amantes de comida regional. A estrela da ementa desta casa, que fica nas imediações das Termas de São Pedro Sul, é a vitela assada. Adega do Ti Joaquim: Rua Central 779 3660-692 São Pedro do Sul Telefone: 232 711 024Salva Almas Há quem diga que quem ali vai sai de alma cheia (e salva). É comida caseira, com gosto a serra, onde a carqueja do Monte de São Macário serve para a aromatizar o arroz. O bacalhau da casa e a vitela assada são dois dos pratos que mais enchem os olhos e a barriga. É um restaurante simples, que se foi erguendo ao longo dos anos pela mão do senhor José. Ali, além da refeição, ainda pode ter a sorte de o ouvir contar as estórias daquelas terras tão ricas em lendas. Salva Almas Macieira do Sul 3660-620 S. Pedro do Sul Telefone: 232 731 272Grande Hotel do Luso É uma casa dos anos de 1940, projectada pelo arquitecto Cassiano Branco, que se ergue na encosta da Serra do Buçaco, dominando a paisagem da vila de Luso. É propriedade da Fundação Bissaya Barreto, que investiu recentemente cerca de dois milhões de euros na renovação do hotel que, além das termas (há ligação uma ligação interior entre os edifícios) está a apostar nos tratamentos de bem-estar para atrair os mais jovens. É um hotel pensado para as famílias, uma boa opção de alojamento para quem tem crianças, já que tem oferta de quartos comunicantes. Grande Hotel do Luso: Rua Dr. José Cid de Oliveira 86, 3050-223 Luso Telefone: 231 937 937 SiteHotel Parque Nas margens do Rio Vouga, o Hotel Parque é uma das unidades hoteleiras que servem as Termas de São Pedro do Sul. Rodeado pela montanha, é uma opção para quem quiser conhecer terras onde as lendas e as tradições seculares ainda perduram. Hotel Parque: Urbanização Quinta da Várzea 6, 3660-683 Várzea Telefone: 232 723 461 Site
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Verão azul na costa da eterna Primavera
São quilómetros e quilómetros de praias, lugares agitados, de dia e de noite, outros muito mais serenos, silenciosos, como se pertencessem a um mundo distinto, com uma atmosfera relaxante, mar e montanha tão próximos. Um número infinito de opções, para todas as idades e todos os gostos. É a Costa Dourada. (...)

Verão azul na costa da eterna Primavera
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: São quilómetros e quilómetros de praias, lugares agitados, de dia e de noite, outros muito mais serenos, silenciosos, como se pertencessem a um mundo distinto, com uma atmosfera relaxante, mar e montanha tão próximos. Um número infinito de opções, para todas as idades e todos os gostos. É a Costa Dourada.
TEXTO: Para o imperador Augusto, Tarraco, onde fixou residência nos anos 26-25 a. C. , era a cidade da eterna Primavera. Partindo dela, da actual Tarragona, em tempos capital do Império, descobrem-se, para norte e para sul, alguns dos mais belos lugares da Costa Dourada, destas terras onde o sol nunca se cansa de brilhar, com uma luz tão singular, dourando areia e mar. Em algumas, como Salou e Calafell, o turismo de massas está instalado e continua a atrair, todos os anos, famílias de todo o mundo; noutras, a resistência foi mais eficaz, como acontece por exemplo na serena Altafulla, onde as suas ruas, becos e praças nos remetem para uma época medieval; noutras ainda, é o silêncio que marca o ritmo da vida, com o mar e a montanha numa feliz convivência. Aninhada entre edifícios sem qualquer beleza estética que correm ao longo do passeio marítimo de Sant Joan de Déu, projecta-se uma casa de dois andares, pintada de branco, com as suas portas e janelas de um azul intenso e uma varanda em madeira que se debruça sobre a rua a esta hora ainda calma. É a casa de Carlos Barral (1928-1989), uma das raras sobreviventes das antigas cabanas de pescadores e hoje transformada num museu que presta o seu tributo a um dos escritores e editores mais importantes do início da segunda metade do século passado, tão fortemente marcado pela censura. Político, navegador e fumador empedernido, Carlos Barral passou o último fim-de-semana da sua vida em Calafell (antes de ser hospitalizado em Barcelona), a vila costeira onde viveu uma infância feliz e, anos mais tarde, numa inquietação permanente, prevendo já até onde poderia chegar a ambição dos construtores civis. Os cafés e os restaurantes com vista para o mar começam a abrir as suas portas quando algumas nuvens inofensivas decoram o céu. Planto os olhos na porta azul da antiga botiga de pescadores e imagino Carlos Barral a preencher a moldura para receber Italo Calvino, Mario Vargas Llosa, Octavio Paz, Juan Marsé ou Gabriel García Márquez. Sinto-me transportado para o passado e mais ainda, a poucos metros de distância, mesmo em cima da praia que se estende ao longo de cinco quilómetros, para um lado e para o outro, quando sou acolhido pelo emblemático Pes, o edifício da antiga confraria de pescadores onde nos dias de hoje funciona o centro de interpretação da Calafell tão associada à pesca, procurando manter vivo o legado da praia “com mais madeira” de todo o litoral catalão, como a descreveu Carlos Barral. Viro as costas ao mar e às areias agora órfãs de embarcações e, com tempo, vou descobrindo a cidadela ibérica, onde 20 anos de escavações arqueológicas permitiram reproduzir o aspecto das suas muralhas, das suas ruas e das suas casas entre os séculos VI e I a. C. , um testemunho de como já eram desejadas estas terras em tempos tão remotos. Mais para lá, depois de passar por um conjunto de ruas estreitas, está o castelo da Santa Creu, dominando uma colina que há mil anos perscruta o crescimento de Calafell. Ao fundo, perdendo-se no horizonte, o mar e, sobre as areias, um barco pintado de azul e branco. É um bote salva-vidas, recuperado para a navegação em 1989 (ano da morte de Carlos Barral), uma embarcação singular — por mais voltas que dê, regressa sempre à sua posição original. Mais de mil quilómetros haviam ficado para trás quando me sentei, exausto, já a noite se insinuava, na esplanada do restaurante onde estavam acomodados, sob tantas estrelas, dois ou três casais franceses. Os meus olhos percorreram a lista mas não foram além das entradas, detidos com o espanto de alguém que é preso sem ter cometido um crime. - Desculpe mas já não há. Os clientes gostam tanto que logo esgota. Aceitei a sugestão de Emília Pinto, comi um estufado e esqueci o caldo verde. A senhora, tendo vivido vários anos na Suíça e casada com um espanhol natural da Extremadura, era (e é) de Resende, a poucos quilómetros do lugar onde iniciara a minha viagem que parecia interminável até desaguar neste recanto da Costa Dourada. Cansado de tanto cansaço, apenas desejava descansar para descobrir, mal a manhã despontasse, aquele que é um dos povos próximos do mar mais bem preservados desta faixa costeira. Um novo dia trouxe com ele nuvens cinzentas que uma brisa com alguma expressão tratou de afastar para desvendar um céu de um azul sem mácula e sob o qual se exibiam, naquela manhã nada hostil, ruas silenciosas, calçadas por vezes íngremes e tão decoradas por buganvílias que pareciam sentir-se gratas pelo clima benigno, característico desta costa que o sol quase nunca abandona — são mais de 300 dias, em média, por ano. A essa hora, ainda madrugadora para alguns espíritos em férias, já conduzira os meus passos através de uma porta que não tardaria muito me haveria de levar, sentindo a minha respiração ofegante, até ao castelo-palácio, um dos mais bem conservados em toda a zona. O silêncio domina e exacerba-se quando me assomo, àquela hora, de uma luz tão pura, à Vila Closa, um conjunto medieval encarcerado pelos restos da antiga muralha, onde me detenho na Placeta, a mais pequena das praças deste conjunto histórico. Altafulla é, entre todos os lugares da Costa Dourada que visitei, aquele que, pela sua atmosfera relaxante, mais me cativa. Quando, após uma errância serena pela suas ruas (especialmente pela Calle del Forn, onde em tempos existiu um forno a lenha para cozer o pão) e vielas, pelas suas escadas onde nada mais encontro do que gatos sonolentos ora recortados por pátios sedutores, ora moldados entre portas e janelas, com flores viçosas a preencher o quadro, quando, finalmente, alcanço o mar com os olhos antes que os pés e logo depois todo o corpo o agitem, também me sinto feliz; até que entro, agora escutando esse mar tão meigo e cálido e gozando com os aromas que dele me chegam, na história que emerge da Rua das Botigas del Mar, essas barracas onde, em tempos de antanho, comerciantes e pescadores acolhiam os seus produtos e utensílios de pesca para não terem que os transportar, ao fim de um dia muito mais cansativo do que eu tivera na véspera, até às suas casas, situadas no cume da aldeia. A vida era distinta, mais difícil, neste bairro de pescadores erguido no século XVIII, muitos anos mais tarde transformado (no início do século passado) numa zona de vivendas que ganhou ainda mais encanto em 1994, ano em que um passeio marítimo começou a atrair ainda mais turistas, em menor número, a esta hora, quando regresso ao centro histórico, aos becos silenciosos, à Plaza del Pou, onde desponta o bonito edifício que abriga o Ayuntamiento e algumas casas senhoriais para onde os olhos tombam de imediato e, mais para lá, o monumento às torres humanas, também conhecido por castells — é possível assistir ao espectáculo, todos os anos, a 11 de Novembro. Maria Emília lançara-me o desafio:- Se tiveres tempo, não percas o castelo de Tamarit, é tão bonito. E a Punta de la Móra. Tem atenção à maré mas é possível caminhar entre os dois lugares. Continuava a ter tempo e o clima funcionava como uma muleta para a minha errância. Estacionei o carro, às primeiras horas da manhã, cruzando-me com grupos de crianças que, acompanhados dos seus monitores, semelhavam uma felicidade ainda maior do que a minha. Na praia, os jovens viviam as suas vidas, numa outra felicidade que parecia ainda mais eterna e, para norte, projectava-se o bonito castelo atingido pelos raios tépidos do sol e recortando-se contra um céu de um azul intenso. Um pouco mais a norte, vi, envolto numa onda de serenidade, o rio Gaià cheio de pressa na sua caminhada para o mar, como alguém que na sua ansiedade eufórica desejava fixar os olhos na fortaleza edificada no século XI e mais tarde reconstruída pelo pintor Ramón Casas a pedido do mecenas norte-americano Charles Deering, um e outro longe de imaginar que Tamarit, com tantos anos de história, se haveria de revelar num palco sonhado por tantos casais desejosos de contrair matrimónio. A água, de um azul-turquesa, banha o castelo, cenário também eleito por tantos realizadores cinematográficos e onde, por esta altura do ano, uma ou outra árvore quebra a monotonia das suas cores; para norte, a vegetação, mais luxuriante, atira-se sobre as areias finas onde o sol incide com uma violência inusitada, prometendo um Verão sem contemplações para os turistas. Em Tamarit, como um pouco por todo o lado ao longo da Costa Dourada, a simbiose entre praias e pedras de um tempo tão distante roça a perfeição, brotando magia para todas as idades e todos os gostos. Há quase 60 anos que Caridad Barraqué se apaixonou por estas paisagens, deste verde que beija o azul do mar. Era a marquesa de Bárcena, proprietária do bosque da Marquesa, que se cruzava no caminho de todos aqueles que, iniciando o seu trajecto na Punta de la Móra, acediam, mais cedo ou mais tarde, à Cala de la Roca Plana e, logo a seguir, à Cala Fonda, vulgarmente conhecida por playa Waikiki. A marquesa, prevendo o futuro que Carlos Barral também diagnosticara para a zona costeira de Calafell, vendo pulular os subúrbios, impôs a sua vontade perante os interesses e a pressão da especulação imobiliária. Ao recusar-se a vender, a marquesa estava a dar um importante passo para preservar aquele que é hoje um espaço natural protegido, um património natural e ecológico de grande importância e por onde é tão agradável caminhar, em silêncio, escutando o murmúrio do mar, a despeito de se encontrar apenas a dez quilómetros (para norte) do centro urbano de Tarragona. Uma das opções passa por deixar o carro no parque da praia Larga e iniciar o percurso a pé que logo depois revela um bonito bosque e, por aqui e por ali, pequenos trilhos que conduzem à antiga torre de la Mora ao longo de um ecossistema frágil (com inúmeras plantas protegidas). A pouco e a pouco, a paisagem começa a mudar, com terrenos mais áridos, pinheiros e mais pinheiros, bem como arbustos autóctones que melhor se adaptam ao solo mais pobre. E o mar, como um bálsamo para o espírito, está sempre à vista. Parque mais visitado de Espanha, com áreas dedicadas a diferentes temáticas do mundo, como a Polinésia, o México, a China, o Far West e o Mediterrâneo, Port Aventura foi inaugurado no primeiro dia de Maio de 1995 mas apenas começou a ter algum sucesso já no início deste século. Em 2017, com a criação da Ferrari Land, Port Aventura registou uma afluência de 4, 7 milhões de visitantes (quase 20% mais face ao ano anterior), um número impressionante que deverá ser superado este ano — são esperados cinco milhões. O Port Aventura, com preços que variam consoante o número de dias e de parques que pretende visitar (www. portaventuraworld. com), é do agrado dos adultos e das crianças mas foi a pensar nestas — e no incremento no número de entradas — que foram inauguradas, no passado dia 20 de Abril, cinco novas atracções na Ferrari Land, como a Junior Red Force, uma miniatura da Red Force, considerada a mais alta e mais rápida montanha-russa da Europa, a Kids Tower e a Crazy Pistons, inspiradas em pistões de um motor da marca italiana, bem como a Champions Race (para experimentar a sensação de conduzir um Ferrari Testarossa 250) e a Flying Race (para despertar o interesse em jovens pilotos). Mais ou menos um ano após a morte de Carlos Barral, Johanna Kuijt visitava pela primeira vez Salou. Não era a primeira vez, recorda agora, tantos depois, que se ausentava da Holanda. Já tentara a Grécia. Não lhe perguntei, neste regresso a um outro tempo, se alguma vez ouvira falar do mito, desse mito, o de uma infância feliz, anunciado pelo poeta que conheceu Calafell numa época não assim tão distinta da que viveu Johanna Kuijt em Salou. Uma e outra, provavelmente mais genuínas. - Gostava de passear junto ao mar, até chegar a uma aldeia de pescadores, não muito distante e onde todos os sorrisos me recebiam. Destino mais popular em toda a Costa Dourada, Salou beneficia claramente da proximidade de Port Aventura para atrair, todos os anos, milhões de turistas. Mas essa não é a única razão: separada de Tarragona pelo cabo de Salou, com o seu farol inaugurado em 1858, a cidade contempla os visitantes com praias sedutoras ao longo de uma extensa baía. Quase nos trópicos deste convite tentador, nos meses de Verão, Salou, com uma impressionante oferta hoteleira, incita todos aqueles que procuram momentos de quietude a ir ao encontro de praias mais pequenas, na vertente sul da baía, como a cala de la Vinya, a cala els Crancs, a cala Morisca, a cala de la Font ou a cala de la Penya Tallada. Salou é, na verdade e turisticamente falando, o município (com menos de 30 mil habitantes e milhões de turistas nos meses de Verão) mais importante de toda a Costa Dourada, com uma oferta lúdica e nocturna sem paralelo na zona, tão vocacionada para famílias que o Turismo da Catalunha a designou como Destino de Turismo Familiar. O seu passeio marítimo, com as suas palmeiras agitando-se com a brisa que vem do mar, é um lugar para ver e ser visto, relaxante e um convite tentador a prosseguir, calmamente, até desaguar na vizinha e mais serena Cambrils. Destino gastronómico de excelência (quase duas centenas de restaurantes, muitos deles premiados, e estatuto de capital gastronómica da Costa Dourada), Cambrils, com uma oferta variada a todos os níveis, é muito procurada por famílias. Com um bonito porto que teve um tempo de esplendor em séculos passados, Cambrils é sedutora para os amantes do desporto (tem o selo de qualidade de Destino de Turismo Desportivo), especialmente aqueles que se dedicam ao cicloturismo (mais de 20 quilómetros de trilhos beneficiando do facto de ter uma orografia plana), mas também para todos os outros apenas preocupados com o ócio. Cambrils possui uma dezena de quilómetros de praias de areia fina e águas pouco profundas, entre elas a praia do Regural, mesmo no centro e com um passeio marítimo, ou a de Vilafortuny, ligada à primeira e com uma extensão superior a um quilómetro onde não faltam bares e restaurantes nas proximidades, bem como diferentes actividades desportivas. Cenário de vários ataques corsários durante o século XVI, alguns deles protagonizados pelo temível pirata do mar Mediterrâneo Barba Ruiva, não admira que Cambrils apresente, próximo do porto desportivo, uma elegante torre, precisamente designada Torre del puerto (declarada Bem Cultural de Interesse Nacional), como testemunho desses tempos em que era necessário ter todos os sentidos alerta. Do mar espreita o perigo e é nele que fixo o olhar à espera dos barcos dos pescadores que, por volta das cinco da tarde, começam a chegar ao porto emoldurados por centenas de gaivotas expectantes. Quando o dia está prestes a declinar, o bairro antigo, onde Cambrils tem as suas origens, chama por mim, com as suas fachadas coloridas, os seus cheiros, a sua atmosfera tão peculiar, como tão bem se sente ao longo da Calle Lloberas, onde as mulheres construíam refúgios antiaéreos durante a Guerra Civil, ou na delicada Plaza de la Villa, o lugar ideal para ver chegar a noite. As montanhas, para sul, estão quase despidas de vegetação, despedem-se no mar e uma língua de areia separa-as do azul transparente das águas. Não é assim tão fácil descobrir a platja del Torn, a sul de l’ Hospitalet de l’Infant, uma praia de nudistas com fama internacional e declarado espaço de interesse natural. O acesso é feito através da N-340 e a panorâmica é soberba antes da descida até às suas areias (uma extensão de 1600 metros e com certificado de qualidade ambiental) onde espero que um novo dia chegue ao fim escutando o mar tão dócil que se estende à minha frente cada vez mais dourado pelo sol à medida que se anuncia o crepúsculo. O imperador Augusto tinha razão. De carro, tanto de Lisboa como do Porto, são pouco mais de mil quilómetros até Tarragona, de onde pode partir à descoberta, para norte e para sul, da Costa Dourada. Optando pelo transporte aéreo (alugar viatura pode revelar-se de grande utilidade para desfrutar dos lugares mais remotos da região), dispõe de diferentes alternativas: desde a capital portuguesa e do Porto deve pesquisar junto da TAP e da Vueling para Barcelona, uma e outra com ligações directas; no caso do Porto, também com a Ryanair com origem e destino no aeroporto del Prat, em Barcelona. Pode, eventualmente, considerar voos e preços para o aeroporto internacional de Reus (com mais do que uma ligação diária de e para Madrid), mais próximo de Tarragona do que o de Barcelona, na verdade pouco mais de uma dezena de quilómetros. Se optar pelo aluguer de carro, saindo de Barcelona, localizada a menos de uma centena de quilómetros de Tarragona, capital da Costa Dourada, dispõe de diferentes alternativas, algumas delas mais caras mas também mais cómodas e mais rápidas, embora sujeitas ao pagamento de portagens. Também é possível recorrer ao transporte ferroviário: os principais comboios que cruzam o chamado corredor do Mediterrâneo fazem uma paragem na estação de Tarragona e, pelo menos em alguns casos, ao longo dos lugares mais emblemáticos da zona costeira que se estende para sul de Barcelona. Hotel Oreneta Calle Oreneta, 1 Altafulla Tel. : 00 34 977 65 23 60 E-mail Site Preço: entre os 30 e os 45€ (por pessoa), dependendo da época (mais caro durante a Semana Santa e os meses de Verão). Hotel Gran Claustre Carrer del Cup, 2 Altafulla Tel. : 00 34 977 65 15 57 SiteUm hotel elegante, com restaurante e spa, mesmo no centro histórico de Altafulla, com tarifas a partir dos 120€ por um quarto duplo. Can Bosch Rambla de Jaume I, 19 Cambrils Tel. :00 34 977 36 00 19 E-mail SiteDesde 1969 e até 1980 um humilde bar de pescadores, o Can Bosch é um dos restaurantes mais reputados em Cambrils (uma estrela Michelin em 1984), oferecendo a possibilidade de optar pelo menu (entre os 45 e os 100€) ou por um dos pratos da lista. Deliranto Calle Llevant, 7 Salou Tel. : 00 34 977 380 942 E-mail SiteUma experiência única, em Salou, nada em conta, mas impossível de esquecer. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Relativamente próximos de Tarragona, há dois mosteiros da Ordem de Cister que não deve perder: o de Santa Creus e o de Poblet, o primeiro já sem vida monástica, o segundo habitado por 40 monges. Em Altafulla, não deixe de errar durante algum tempo pela vila romana de Els Munts, um complexo residencial do século I (mansões luxuosas foram construídas nas proximidades de Tarraco) onde, supostamente, terá vivido Caius Aurelio com a sua mulher, Faustina. Integrado no conjunto arquitectónico de Tarraco, Els Munts faz parte da lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Entre Creixel e Torredembarra, procure o espaço natural conhecido por Els Muntanyans-Gorg, que contempla uma praia, zonas pantanosas e uma lagoa que apela à observação de aves. Em El Vendrell, terá a oportunidade de entrar no mundo de Pau Casals, um dos melhores violoncelistas da história e grande defensor, até aos seus últimos dias, da paz e da liberdade. Os portugueses apenas carecem de um documento de identificação (passaporte, bilhete de identidade ou cartão de cidadão) para visitar o país. A moeda é o euro. A língua oficial é o espanhol mas não se esqueça de que pode ouvir mais vezes o catalão nesta zona onde, graças ao turismo, outras línguas, como o francês e o inglês, também são facilmente entendidas. Na prática, a Costa Dourada, com um clima temperado, temperaturas amenas e precipitação moderada ao longo de todo o ano, pode ser visitada em qualquer altura: mesmo no Inverno, as zonas montanhosas permitem desportos adequados à estação e, de resto, o sol brilha ao longo dos outros dias.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
O professor que junta ioga e meditação à natureza
Tomás de Mello Breyner, 29 anos, dá aulas de ioga e faz meditação no Comporta Yoga Shala, a uma hora de Lisboa. No currículo, conta também com retiros de silêncio e meditações na Índia e no México. (...)

O professor que junta ioga e meditação à natureza
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tomás de Mello Breyner, 29 anos, dá aulas de ioga e faz meditação no Comporta Yoga Shala, a uma hora de Lisboa. No currículo, conta também com retiros de silêncio e meditações na Índia e no México.
TEXTO: Para chegar ao Comporta Yoga Shala, o “templo” de madeira de Tomás de Mello Breyner, na Herdade da Comporta, onde dá aulas de ioga e faz meditação, só mesmo a pé por um trilho de terra misturada com areia com vista para um terreno, rodeado por cercas de madeira, com cavalos a relinchar. Há quatro Verões que Tomás, 29 anos, dá estas aulas no meio da natureza, depois de já ter subido os Himalaias e ter feito meditação e retiros de silêncio na Índia e no México. O carro ficou para trás, a uns bons metros de distância, junto aos estábulos da Cavalos na Areia, na Herdade da Comporta, freguesia da Torre. Seguimos, então, a pé até ao Comporta Yoga Shala. Primeiro por entre as vedações dos cavalos, depois as setas conduzem por um carreirinho demarcado até se encontrar uma porta “plantada” no meio da natureza. Por essa altura, já se avista Tomás de Mello Breyner a acenar ao longe, ao cimo das escadas, no alpendre da casa que fica de frente para os arrozais e tem as dunas que escondem a praia deserta. O “templo sagrado”, como Tomás chama ao espaço, está rodeado por mata com densa vegetação e enormes cactos. No cimo da cabana há uma bandeira hasteada com a imagem de um sol “que significa vida”, elucida o professor de ioga com um sorriso, depois de ter recebido a Fugas com um “sejam bem-vindos”, voz serena e um caloroso abraço, o mesmo com que se despedirá ao pôr do sol, com o vento a assobiar como música de fundo. Por ali há silêncio, por vezes suspenso pelo chilrear dos pássaros. Noite dentro, diz Tomás, há outra vida, com “uma orquestra de rãs e grilos” em plena escuridão. Um ambiente que não o assusta de todo: Tomás mora aqui sozinho de Junho a Setembro. A cozinha fica lá fora, atrás do balcão, no alpendre, onde se pode beber sumo e chá depois de as aulas terminarem. Por aqui há uma fileira de calçado, pois só descalço se entra naquele “templo”, onde salta logo à vista o altar com “a muito importante” Shiva, “a consciência mãe”, elucida. É a deusa que lhe recorda a intensa experiência que teve em Varanasi, “a cidade dos deuses na Índia”. “Foi uma surpresa. As estradas são muito estreitas, com vacas por todo o lado, as pessoas levam os corpos para o rio e cremam-nos ali mesmo”, descreve. “Esta cidade marcou-me muito, havia um intenso cheiro”, continua, recordando que depois disso partiu para Goa de comboio “numa das viagens mais marcantes da vida”. Tomás viajou, durante dois dias, numa carruagem de classe mais barata, “porque já não tinha dinheiro”, com pessoas “ao monte” a conviver com vacas, galinhas e mercadoria, com imenso calor, “sem ar condicionado e sem as ventoinhas a funcionar”. Quando chegou a Goa, nem queria acreditar. “Já estava muito magro, porque não conseguia comer a comida picante da Índia”, conta. Em Goa encontrou um grupo de amigos e ficou a viver numa comunidade de um português, onde trocou trabalho por alojamento numa cabana e comida. “Colocávamos óleo de caju nas estruturas de madeira das cabanas”, recorda, rodeado de objectos que lhe dizem muito, como o pau-santo de incenso ou uma guitarra que, há um ano, foi tocada por Madonna. A cantora já por ali passou e “tem uma fotografia no Instagram dela” a comprovar. As taças tibetanas, os tapetes de ioga, os búzios nos troncos da cabana são mais alguns elementos decorativos deste espaço. Voltando à viagem. Tomás e um primo, que o acompanhou numa parte da jornada, foram depois para Deli, onde ficaram “na casa de um embaixador amigo do tio”. Quando regressaram a Portugal, o professor de ioga começou a dar aulas em casa das pessoas, na Comporta, onde conhece toda a gente. “Já venho para aqui desde que nasci. ” Por essa altura, vivia numa caravana. Só no ano seguinte, em 2014, viria a construir a cabana onde hoje dá as suas aulas e faz terapia. Este é um espaço mais frequentado por estrangeiros, sobretudo americanos e espanhóis. “Há muita gente que passa por um processo intenso durante uma aula de ioga que é mais um trabalho espiritual do que físico”, diz, enquanto explica que a meditação e o ioga fazem parte da sua vida. Também já deu aulas em casa, em Lisboa, e, entretanto, criou o Projecto Pequeno Buda, através do qual leva a meditação a dez mil crianças, em várias escolas do país. “Contamos histórias e induzimos na imaginação”, elucida. Mas “o chamamento” para este modo de vida aconteceu em 2012, quando estava a estagiar em Nova Iorque, nos EUA, numa empresa portuguesa de vinhos, e ficou doente. “Foi aí que a minha vida mudou. Foi a doença que me fez despertar para o meu interior; tive necessidade de parar e comecei a meditar”, lembra, enquanto fixa o olhar nos arrozais em frente. Começaria, entretanto, a trabalhar num estúdio de ioga, onde trocaria as horas de trabalho por aulas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No final do estágio, aconselharam-no a fazer meditação numa comunidade no México, onde ficou durante três meses e fez o seu primeiro retiro de silêncio, durante cinco dias, entre meditação, ioga e palestras. “É uma viagem muito profunda ao nosso interior e foi aí que despertei, que percebi que era isto que queria fazer”, sublinha. “Tínhamos um mestre que nos guiava e não podíamos falar. Se fosse mesmo muito importante, escrevíamos num papel”, recorda. Regressaria depois a Portugal para passar o Natal com a família, que o apoiou na próxima jornada: fazer o primeiro curso de ioga intensivo na Índia, onde ficou largos meses. Foi por essa altura que subiu sozinho aos Himalaias. “Fui até ao topo, a seis mil metros de altitude, mas depois, no regresso, fiquei sem dinheiro e tive de trocar a pulseira de prata que tinha pela viagem numa camioneta. ”Por estes dias, é encontrá-lo com um enorme sorriso e uma invejável calma, no Comporta Yoga Shala, onde termina as aulas com um namasté. A flauta nativa americana, porque é com ela que mais me conecto. Gosto muito de tocar no final da aula. Depois o pau-santo, que é um incenso de madeira sagrada que tem o poder de limpeza energético muito forte e que acendo no início da aula de ioga. O terceiro objecto é a mochila que levo em todas as viagens. Tem um grande significado, porque foi-me oferecida pela minha irmã. Foi a doença que me fez despertar para o meu interior; tive necessidade de parar e comecei a meditar. Foi aí que a minha vida mudou. Estava a estagiar em Nova Iorque, nos EUA, numa empresa. Hoje, vejo esse sofrimento que vivi como uma coisa boa para continuar a fazer mais e melhor. Não quero que venham para aqui pôr a perna atrás das costas ou fazer o pino. Há muita gente que passa por um processo intenso durante uma aula de ioga que é mais um trabalho espiritual do que físico. Todos os dias, pelas 9h e às 11h, há aulas e custam 15 euros por pessoa.
REFERÊNCIAS: