Inquérito diário: Coligação volta a crescer e chega aos 7,2 pontos de vantagem sobre PS
Diferença entre as duas principais forças concorrentes às eleições de 4 de Outubro é a maior desde o início deste inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF. PAN lidera entre partidos sem representação parlamentar. (...)

Inquérito diário: Coligação volta a crescer e chega aos 7,2 pontos de vantagem sobre PS
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diferença entre as duas principais forças concorrentes às eleições de 4 de Outubro é a maior desde o início deste inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF. PAN lidera entre partidos sem representação parlamentar.
TEXTO: A coligação Portugal à Frente (PaF), constituída pelo PSD e CDS-PP, está à frente do PS com uma vantagem de 7, 2 pontos, segundo o inquérito da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e TSF, cujo trabalho de campo decorreu entre 25 a 28 de Setembro com 1008 entrevistas. Na projecção com distribuição de indecisos, o PaF obtém 38, 8 contra 31, 6% do PS, sendo a diferença de 7, 2 pontos entre as duas principais forças concorrentes às eleições legislativas de 4 de Outubro a maior da série de estudos iniciada em 21 de Setembro. Por outro lado, os 31, 6% que o estudo reserva aos socialistas é o pior resultado do PS nesta série. A Coligação Democrática Unitária (CDU), integrada pelo PCP e Os Verdes, consegue 8, 2%, uma queda de 0, 9 pontos face ao inquérito da véspera. Já o Bloco de Esquerda alcança 7, 9%, mais quatro décimas que no estudo anterior. Nunca a CDU e BE estiveram separados por uma margem tão estreita, que é de apenas três décimas. Os votos brancos e nulos mantêm-se nos 9, 4%, enquanto outros partidos somados ficam nos 4%, uma décima mais que na véspera. Na projecção de votos antes da distribuição de indecisos há uma estabilização. Os indivíduos que afirmam não saber em quem vão votar ou que se recusam responder correspondem a 21, 4%, o mesmo valor que no inquérito anterior. Veja a evolução desta tracking pollNa distribuição do voto por idades entre as duas principais forças concorrentes, a coligação de Passos Coelho e Paulo Portas lidera nas duas primeiras faixas etárias, ou seja, entre os 18 a 34 e 35 a 54 anos. Os socialistas de António Costa estão à frente nos eleitores de 55 ou mais anos. Por regiões, mantém-se a distribuição do estudo da véspera. Isto é, a coligação de Passos e Portas lidera no Norte, Centro, Lisboa e Algarve. Já os socialistas de Costa continuam à frente no Alentejo. Na divisão por género, as propostas de Portugal à Frente são as preferidas tanto por homens como por mulheres. Entre os partidos sem representação parlamentar, o PAN (Pessoas, Animais, Natureza) está à frente com 0, 8%, seguido a uma décima pelo Partido Nacional Renovador (PNR). Em terceiro lugar, com 0, 6%, está o Partido Democrático Republicano de Marinho e Pinto que nos últimos dois inquéritos liderava este ranking. O Livre/Tempo de Avançar aparece em quarto lugar, com 0, 5%. Ficha técnicaSondagem realizada pela Intercampus para TVI, PÚBLICO e TSF com o objectivo de conhecer a opinião dos portugueses sobre diversos temas da política nacional incluindo a intenção de voto para as próximas eleições legislativas de 2015. O universo é constituído pela população portuguesa, com 18 e mais anos de idade, eleitoralmente recenseada, residente em Portugal continental. A amostra é constituída por 1025 entrevistas, recolhidas através de entrevista telefónica, através do sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Os lares foram seleccionados aleatoriamente a partir de uma matriz de estratificação que compreende a Região (NUTS II). Os respondentes foram seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis Sexo e Idade (3 grupos). Os trabalhos de campo decorreram entre 23 e 26 de Setembro de 2015. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de ± 3, 1%. A taxa de resposta obtida neste estudo foi de: 58, 1%. O que é uma tracking pollUma tracking poll é um inquérito diário, que, mais do que os números do dia, indica a evolução das tendências de subida e descida das intenções de voto nos partidos. Trata-se de um exercício com longa tradição nos Estados Unidos e que ganha especial relevância num cenário de grande imprevisibilidade de resultados. “As sondagens são retratos do momento”, explica António Salvador, director-geral da empresa de estudos de mercado Intercampus. A tracking poll, por seu turno, é uma fotografia em movimento do impacto da campanha nos eleitores, uma “observação diária das percepções dos portugueses” a partir do estudo de uma amostra em permanente renovação. No primeiro dia, 21 de Setembro, a Intercampus apresentou os resultados de 750 entrevistas telefónicas. No dia seguinte, foram realizadas mais 250 entrevistas que se somam às anteriores, perfazendo um total de 1000. Posteriormente, todos os dias são somadas outras 250 novas entrevistas e retiradas as 250 menos recentes, mantendo o total de cerca de 1000. O objectivo é renovar a amostra e evitar uma acumulação de respostas que iria diluir as variações diárias das intenções de voto. A amostra, seleccionada aleatoriamente, é rigorosamente representativa da população de Portugal Continental em termos de género e de idade. A 29 de Setembro, o PÚBLICO e a Intercampus vão divulgar uma última grande sondagem antes das legislativas de 4 de Outubro, com 1000 inquiridos a simular o voto em urna.
REFERÊNCIAS:
PS está 4,9 pontos percentuais à frente da coligação PSD-CDS, mas sem maioria absoluta
37,6% para o PS, 32,7% para a coligação da maioria é a intenção de voto dos inquiridos que defendem categoricamente um Governo de maioria e um Presidente da República diferente. (...)

PS está 4,9 pontos percentuais à frente da coligação PSD-CDS, mas sem maioria absoluta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-10-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151002214122/http://www.publico.pt/1701410
SUMÁRIO: 37,6% para o PS, 32,7% para a coligação da maioria é a intenção de voto dos inquiridos que defendem categoricamente um Governo de maioria e um Presidente da República diferente.
TEXTO: Veja aqui todos os dados da sondagemO PS fica em primeiro lugar com uma diferença de 4, 9 pontos percentuais em relação à coligação PSD-CDS na projecção dos resultados sobre intenções de voto da sondagem em urna feita pela Intercampus para o PÚBLICO, a TVI e a TSF, cujo trabalho de campo decorreu entre 26 de Junho e 4 de Julho. Os socialistas atingem assim os 37, 6% de intenção de votos, ainda distante de uma maioria absoluta, enquanto a coligação fica com 32, 7%. O que significa que se as eleições fossem hoje a vitória eleitoral caberia do PS, já que nesta sondagem a margem de erro máximo de amostragem considerado pela Intercampus é de mais ou menos 3, 1%. Por sua vez, a CDU surge com 11% de intenção de voto e o BE com 6%. Nos resultados trabalhados pela Intercampus, em que os dados foram projectados descontando os indecisos e os abstencionistas, os outros partidos somam 6, 7% e os votos brancos ou nulos atingem os 5, 9%. Há quatro anos, a última sondagem feita pela Intercampus e editada pelo PÚBLICO, a TVI e a Rádio Comercial, colocava o PSD de Passos Coelho (36, 5%), 5, 4 pontos percentuais à frente do PS de José Sócrates (31, 1%). Governo de maioriaNo que se refere à formação de Governo, os inquiridos são categóricos a preferirem uma solução com maioria absoluta, escolhendo esta resposta 65, 7%, enquanto 25, 4 % optam por um Governo sem maioria. Já no caso de não haver maioria absoluta, 36, 4% preferem “um governo de coligação entre ‘os partidos de poder’” e 33, 4% optam por um “governo de coligação de partidos de esquerda”. A Intercampus não inclui nesta pergunta a hipótese de os inquiridos escolherem a coligação de direita, pois como o PSD e o CDS já concorrem coligados a preferência por esta solução corresponde a um governo de maioria referida na pergunta que surge imediatamente antes no estudo. A maioria dos inquiridos considera que o PS ganhará as legislativas de Outubro (45, 9%) e que a coligação PSD-CDS as irá perder (31, 4%). Acrescente-se que 30, 9% dos inquiridos se afirma “mais próximo” do PS, enquanto 27, 4% se diz “mais próximo” do PSD, 4, 8% “mais próximo” do CDS, 10% “mais próximo” da CDU e 5, 1% mais próximo do BE. Quanto à apreciação de como deve actuar o ocupante do primeiro órgão de soberania, 84, 6% dos inquiridos consideram que o próximo Presidente da República deve ter uma actuação diferente da que tem tido o actual Presidente, Aníbal Cavaco Silva. Resultados em brutoOlhando para os resultados deste estudo da Intercampus em termos brutos, sem projecção, ou seja incluindo as respostas dos indecisos, dos abstencionistas e os votos em branco, o PS atinge 30, 3% das intenções de voto, a coligação PSD-CDS 26, 3%, a CDU 8, 9%, o BE 4, 8 %. Já no ranking de partidos mais pequenos ou dos novos partidos temos o MRPP com 1, 9%, o Partido pelos Animais com 0, 8%, o Partido Democrático Republicano com 0, 6%, o Livre/Tempo de Avançar com 0, 5% e a coligação PTP/Agir com 0, 2%. Os votos brancos atingem 4, 7%. Já os inquiridos que se declaram indecisos são 9, 7% e os abstencionistas são 9, 9%, de uma amostra de 1014 inquiridos, dos quais 539 são mulheres e 475 são homens. Quanto às prioridades do futuro Governo, à frente, com 83, 3% das escolhas, surge a “criação de emprego”, seguindo-se “baixar impostos” com 55, 1%. Em terceiro lugar aparece a “recuperação do poder de compra” com 45, 9%. Com 42, 6% aparece o “garantir condições para o crescimento”. Em quinto, “repor os cortes feitos na função pública” (25, 8%) e apenas 25, 4% dos inquiridos consideram prioritário "reduzir o défice e manter a credibilidade”. A avaliação do estado do país é, nesta sondagem, negativa. Numa escala de 0 a 10, a média das respostas situa-se em 4, 1, sendo que a categoria que mais respostas obtém é “muito mal” com 37, 6%. Já na comparação do estado do país com o de há quatro anos a média desce para 3, 4, numa escala igual. Sendo a resposta mais votada a de “pior” com 37, 7 das respostas. E apenas 23, 6% dos inquiridos respondem que está “melhor” ou “muito melhor”. Já sobre se "a resposta do Governo à crise foi melhor", a média fica de novo negativa (3, 5) sendo que a maioria (34, 1%) considera que ela o foi “poucas vezes”. Mas é também negativa (3, 7%) a apreciação sobre se “a oposição apresentou propostas e ideias melhores”, com 41, 9% das respostas a caírem na categoria “poucas vezes”. Veja aqui todos os dados da sondagem, incluindo a ficha técnica
REFERÊNCIAS:
Morreu José Vilhena, o sátiro cartoonista da Gaiola Aberta
Escritor, cartoonista e pintor, José Vilhena foi o grande sátiro da condição portuguesa, em ditadura e em liberdade, sem poupar nos alvos e com gosto declarado pelo erotismo. Morreu este sábado, aos 88 anos. (...)

Morreu José Vilhena, o sátiro cartoonista da Gaiola Aberta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escritor, cartoonista e pintor, José Vilhena foi o grande sátiro da condição portuguesa, em ditadura e em liberdade, sem poupar nos alvos e com gosto declarado pelo erotismo. Morreu este sábado, aos 88 anos.
TEXTO: Cartoonista, humorista, escritor e pintor. Quatro condições interligadas na vida e obra de um homem que, desde a década de 1950, se dedicou a satirizar, sem poupar ninguém, dos poderosos ao povo oprimido, a realidade política e social do país em que nasceu. Antes da Revolução de Abril viveu com a censura à perna de forma quase ininterrupta, ou não tivesse assinado quase seis dezenas de livros, todos censurados, todos vendidos ao seu público fiel por baixo da mesa nas tabacarias. Onze dias depois do 25 de Abril de 1974, começou a fazer a sua cronologia da revolução em Gaiola Aberta, o seu título mais célebre. “One man show”, trabalhador verdadeiramente independente que se responsabilizava sozinho por todo o processo de elaboração e produção dos seus livros e revistas, José Vilhena, nome incontornável do humor português, na linha de um Bordalo Pinheiro, mas contemporâneo da libertação sexual das décadas de 1960-70 (e notava-se muito, ou não fosse o corpo feminino presença constante na sua obra), morreu este sábado, aos 88 anos, vítima de “doença prolongada”, como se lê no site O incorrigível e manhoso Vilhena (www. vilhena. me), gerido pelo seu sobrinho Luís Vilhena. Encontrava-se internado no Hospital São Francisco Xavier. O título do site supracitado é uma referência directa a um dos muitos relatórios da comissão de censura do Estado Novo dedicados às suas publicações. Nele, emitido em 1965, lia-se: “O incorrigível e manhoso ‘Vilhena’ não quis deixar acabar este ano de 1965 sem lançar a público mais uma das suas produções deletérias que por artes ocultas circulam sempre a despeito das proibições que sobre elas incidem. Posto hoje à venda, segundo creio” – escreve o autor do relatório –, “não encontro neste livro uma única página que possa ser autorizável. Portanto, proponho a sua rigorosa proibição”. De si próprio, Vilhena dizia ser “uma espécie de trapezista”: “A malta comprava os meus livros porque achava que no dia seguinte eu ia preso”. E foi, por três vezes, em 1962, 1964 e 1966. Muito a propósito, Rui Zink recorda ao PÚBLICO a definição de censura que ouviu a José Vilhena: “Censura é a técnica de separar o trigo do joio, a fim de publicar o joio” – “também se aplica aos jornais de hoje”, acrescenta. Zink, que privou de perto com José Vilhena, descreve-o como “um diamante no meio de ovelhas murchas”, alguém que, seguindo a máxima de Groucho Marx, se recusava a pertencer a qualquer clube. “O Aquilino Ribeiro chegou a tentar levá-lo para um clube, para a Associação Portuguesa de Escritores, mas ele declinou timidamente dizendo que não era escritor”. A actividade diversificada de Vilhena, aponta Rui Zink, nasce, de resto, da inexistência de escritores populares de humor em Portugal. “Do que ele gostava era de desenhar, mas, dada essa circunstância, acabou por se tornar cartoonista, escritor, editor, distribuidor. ”Nascido a 7 de Julho de 1927 em Figueira de Castelo Rodrigo, José Vilhena frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, inserido no curso de arquitectura que não chegaria a concluir, culpa do trabalho que começara a fazer para o Diário de Lisboa, Cara Alegre e O Mundo Ri, que co-fundou na década de 1950. Trabalhou o humor de diversas formas, recorrendo a escrita literária, à ilustração, ao cartoon ou à fotomontagem. Esta última expressão criativa valeu mesmo a um inusitado protagonismo internacional, quando no início dos anos 1980 José Vilhena é alvo de um processo interposto por Carolina do Mónaco, na sequência de uma fotomontagem em que, parodiando o anúncio de uma marca de brandy, colocou a princesa “a aquecer o seu copo de uma maneira original”, recordava em 2003 ao Correio da Manhã. Entre a sua bora, destacam-se, antes do 25 de Abril, obras como História da Pulhice Humana (1961), O Filho da Mãe (1970) ou Branca de Neve e os 700 Anões (1962), esta incluída na série Livros Proibidos editada com o PÚBLICO. É nesse período que José Vilhena mais brilha, considera Rui Zink. “Os retratos que fez daquele morno Portugal de Salazar são maravilhosos. Depois do 25 de Abril, as pessoas ganharam coragem e surgiram concorrentes mais jovens, mais adequados ao tempo, mais ágeis, mais à esquerda. Há sempre um sacana que gosta mais de liberdade do que nós quando já não há riscos a correr”, ironiza. Durante a ditadura, José Vilhena era “uma estrela solitária a fazer aquele tipo de humor e, mesmo as pessoas que não liam os livros dele conheciam as histórias dos seus livros”, recorda Zink. Segundo o escritor, “foi o grande humorista transversal de antes do 25 de Abril e teve a importância do Herman [José] e dos Gatos Fedorento juntos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador escola filho homem social doença espécie sexual corpo princesa
Prémios BAFTA: La La Land é considerado o melhor filme
La La Land – Melodia de Amor venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz Principal, Melhor Fotografia e Melhor Música. (...)

Prémios BAFTA: La La Land é considerado o melhor filme
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761811
SUMÁRIO: La La Land – Melodia de Amor venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz Principal, Melhor Fotografia e Melhor Música.
TEXTO: A 70. ª edição dos prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão realizou-se na noite de domingo, no Royal Albert Hall, em Londres. La La Land - Melodia de Amor foi premiado com cinco prémios BAFTA: Melhor Filme, Melhor Realizador (Damien Chazelle) Melhor Actriz Principal (Emma Stone), Melhor Fotografia (Linus Sandgreen) e Melhor Música (Justin Hurwitz). Venceu cinco das onze categorias para que estava nomeado. The La La Land team accepting the Best Film award #EEBAFTAs pic. twitter. com/kiJfu9YzH5O BAFTA para actor principal foi atribuído a Casey Affleck pelo seu papel em Manchester by the Sea. O filme também foi premiado com o BAFTA para Melhor Argumento Original. Os restantes nomeados para a categoria de Melhor Actor eram Andrew Garfield (O Herói de Hacksaw Ridge), Ryan Gosling (La La Land – Melodia de Amor) e Viggo Mortensen (Capitão Fantástico) e Jake Gyllenhaal (Animais Nocturnos). Casey Affleck on Manchester by the Sea #EEBAFTAs pic. twitter. com/26uCoXIkEAO filme Animais Nocturnos, de Tom Ford, era um dos preferidos da noite, tendo sido nomeado para nove categorias; ainda assim, não foi premiado. Viola Davis ganhou o prémio de Melhor Actriz Secundária, pelo seu papel em Vedações e Dev Patel o de Melhor Actor Secundário, pela sua participação no filme Lion, a Longa Estrada para Casa. Este último filme também recebeu o prémio de Melhor Argumento Adaptado. O BAFTA para Melhor Actriz foi atribuído a Emma Stone; na mesma categoria, também estavam nomeadas Emily Blunt, protagonista de A Rapariga no Comboio, Amy Adams, em O Primeiro Encontro, Meryl Streep em Florence: Uma Diva Fora de Tom e Natalie Portman, pelo seu papel em Jackie. Na categoria de Melhor Filme estavam nomeados os filmes Moonlight, Manchester by the Sea, O Primeiro Encontro e Eu, Daniel Blake. Leading Actress winner Emma Stone! #EEBAFTAs pic. twitter. com/pQPXDZEL7zSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lista completa de vencedores e nomeados dos BAFTA pode ser consultada aqui. La La Land - Melodia de Amor tem 14 nomeações para os Óscares; a cerimónia realiza-se na madrugada de 27 de Fevereiro. Congratulations to all of tonight's winners! ??https://t. co/GF2IWjWe10 #EEBAFTAs pic. twitter. com/CmdWOR49jQ
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rapariga
Uma mulher à beira de dar ao mundo um ataque de nervos
Com Una Mujer Fantastica, história de uma mulher a exigir o luto que a sociedade lhe nega, o chileno Sebastián Lelio sacode finalmente o concurso de Berlim. (...)

Uma mulher à beira de dar ao mundo um ataque de nervos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761870
SUMÁRIO: Com Una Mujer Fantastica, história de uma mulher a exigir o luto que a sociedade lhe nega, o chileno Sebastián Lelio sacode finalmente o concurso de Berlim.
TEXTO: Às tantas, alguém pergunta ao chileno Sebastián Lelio, durante a conferência de imprensa de Una Mujer Fantastica, se ele tem uma qualquer atracção por mulheres à beira de um ataque de nervos ao pé de carros. No anterior Gloria, Paulina García, que ganhou o Urso de melhor actriz em Berlim 2013, farta de o namorado passar o tempo a cortar-se para ir apaparicar a ex-mulher, pega numa espingarda de paintball e toma lá disto. Em Una Mujer Fantástica (competição), Daniela Vega salta para cima de um carro aos gritos: "Eu quero o meu cão!" (Já lá vamos. )O realizador ri-se e diz que não é de propósito, mas que gosta de mulheres fortes e dignas e Marina, a heroína do novo filme, é uma mulher forte e digna. O que convém aqui dizer, no entanto – e não estamos a estragar nada porque todos os materiais públicos o dizem – é que só ao fim de 30 minutos de filme se revela que Marina é uma mulher transgénero que no bilhete de identidade ainda se chama Daniel, e que um ano antes vivia com Orlando, homem mais velho e heterossexual que trocou a família para ficar com ela. Orlando morre ao fim de dez minutos de filme, literalmente nos braços de Marina, e é o início dos problemas. Já não bastava ser “a outra” e ser muito mais nova; como também é transgénero, Marina é vista como uma pária. Como diz Daniela Vega, a actriz que a interpreta, para Marina tudo é difícil, e por isso ela encontra poesia onde não existe nada, dignidade onde ela não está. Não é, nem de longe nem de perto, uma mulher à beira de um ataque de nervos; é só uma mulher que sabe o que quer e não tem problemas a dar aos outros ataques de nervos. Marina não é a única mulher forte do concurso de Berlim este ano – estamos a lembrar-nos da Félicité cantora de Kinshasa que empresta o nome ao filme de Alain Gomis –, mas esta Mulher Fantástica, co-produzida por Pablo Larraín (que já produzira Gloria com o irmão, Juan de Dios) e Maren Ade (realizadora de Toni Erdmann e co-produtora de Miguel Gomes), é o primeiro sopro de vida numa competição que, até agora, correu morna e inerte. (É verdade que os filmes mais aguardados, de Teresa Villaverde, Aki Kaurismäki e Hong Sangsoo, ainda estão por vir. ) The Dinner, do americano Oren Moverman, adaptação do romance de Hermann Koch com Richard Gere, Laura Linney, Steve Coogan e Rebecca Hall, foi literalmente arrasado (e chamou mais a atenção pela diatribe anti-Trump de Gere na conferência de imprensa). Félicité tem sido considerado “Dardenne light”; Wild Mouse, do austríaco Josef Hader, é divertido mas inconsequente; chamou-se “ridículo” a Spoor, de Agnieszka Holland; só o húngaro On Body and Soul, de Ildikó Enyedi, intrigou, pela ambição mais do que pelo resultado. E eis Una Mujer Fantastica, com os seus ecos de Almodóvar tardio (negados por Lelio, que cita abertamente Louis Malle mas podia também ter falado de Cassavetes que não seria descabido) e o modo como actualiza a lógica do melodrama clássico, a electrizar um festival onde alguns dos melhores filmes vistos (Golden Exits, de Alex Ross Perry, Vazante, de Daniela Thomas, Le Jeune Karl Marx, de Raoul Peck) estavam inexplicavelmente fora de competição. Em grande parte devido à performance destemida de Daniela Vega, que faz mais do que apenas tomar conta do filme – ela é o filme, a sua alma, o seu corpo, a sua energia, o seu tudo, e Lelio dá-lhe todo o espaço e todo o tempo para o fazer, com a mesma generosidade com que deixou Paulina García ser Gloria. Voltamos à conferência de imprensa, e palavra ao actor Francisco Reyes, que interpreta Orlando, o homem que trocou a família burguesa e de vistas estreitas pela simplicidade da vida com alguém determinado: Marina “é apenas uma pessoa que tenta viver honestamente a sua vida e a quem mais nada se pode pedir”. "O filme parece ser muito simples, mas a verdadeira pergunta é: o que é que o espectador sente a ver isto? O que é que lhe acontece realmente? E a resposta tem de ser honesta. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sebastián Lelio fala de oscilar entre a “existência e a ausência de informação”: Una Mujer Fantastica não sente que tenha de explicar tudo, joga leal com o espectador, vai revelando as suas reviravoltas à medida que é necessário – nem um minuto antes, nem um minuto depois. Quando tem de ser. E o triunfo de Lelio é o de não mudar nem um milímetro o modo como filma a sua actriz depois de nos revelar a sua identidade de género: não foi ela que mudou, fomos nós que mudámos o nosso olhar sobre ela, o filme bascula por causa disso. “Como pode ser”, pergunta Francisco Reyes, “que numa sociedade civilizada como a nossa ainda existam preconceitos como estes?”E isso levanta a questão na qual o filme entronca: esta é essencialmente a história de uma mulher que tem de fazer o luto de uma relação. O facto de ela ser transgénero é tão incidental aos acontecimentos como lhes é central: se Marina tivesse nascido mulher, a reacção da família não seria tão diferente assim, as “outras mulheres” nunca são bem vindas no seio do núcleo familiar destruído. "O filme não é uma bandeira de luta, é uma história de amor", diz Daniela Vega, e sabe o que diz porque a actriz é, ela própria, transgénero e passou por aquilo que Marina está a viver. "Ela está preparada para o mundo, ” explica Sebastián Lelio. “O mundo é que não está preparado para ela. "Algo nos diz que, depois de Berlim, o mundo vai abrir-lhe as portas. Afinal, pelo fim de Una Mujer Fantastica, Marina conseguiu ficar com o cão.
REFERÊNCIAS:
Histórias e fantasmas
Laurie Anderson propõe mais um conjunto de histórias que transfiguram o real, sob a forma de um filme-ensaio sobre os fantasmas que a acompanham (...)

Histórias e fantasmas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-02-06 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20160206115535/http://www.publico.pt/1718077
SUMÁRIO: Laurie Anderson propõe mais um conjunto de histórias que transfiguram o real, sob a forma de um filme-ensaio sobre os fantasmas que a acompanham
TEXTO: Sejam, então, bem vindos ao universo de Laurie Anderson: aquela onde o seu “corpo de sonho” dá à luz Lolabelle, a sua cadela rat terrier que, na realidade, lhe foi cosida no interior para ela a poder dar à luz. Poucas metáforas serão tão apropriadas ao que a performer, cantora e contador de histórias americana faz do que esse “falso nascimento”: pegar num facto, numa memória, numa experiência, absorvê-la e regurgitá-la sob uma forma transmutada, simultaneamente trivial e fantástica, quotidiana e extraordinária, criando no processo um “colar de histórias” que parecem nada ter em comum mas partilham um mesmo cordão umbilical. Coração de Cão é mais um desses colares de histórias entrelaçadas, um filme-ensaio que é um ao mesmo tempo requiem pelos mortos da sua vida (a sua mãe, a fiel cadela Lolabelle, o artista Gordon Matta-Clark e, sempre pairando mas só no genérico final efectivamente presente, o marido Lou Reed). Coração de Cão é um filme de fantasmas – a própria Anderson o admite a certa altura – mas responde a essa assombração com a simples celebração do momento, do estar vivo (“os dias servem para nos acordar”, como se ouve às tantas), como quem diz que nada se perde, tudo se transforma. Fá-lo através de uma “colagem” (muito Godardiana) de elementos que vão de animações caseiras a home movies, imagens super 8 e reconstituições narrativas, unidos pelo modo singular, esquinado e contudo tão reconfortante, com o qual Anderson vai contando as suas histórias. Reside, aliás, precisamente aí a força e a fraqueza de Coração de Cão: apesar da evidente inteligência com que tudo é feito e montado, e da precisão com que as imagens “dão a ver” o que se esconde por entre as histórias, nunca conseguimos afastar a sensação que o filme é uma mera “versão ilustrada com imagens em movimento” de uma das suas performances, e poderia perfeitamente sobreviver em palco sem essas imagens. Ou, posto de outra maneira, o que Laurie Anderson explora aqui já Godard anda a fazer há uns anos. Não é razão para descartarmos Coração de Cão (a aluna é muito aplicada e aprendeu bem a lição), mas é coisa que tempera o nosso entusiasmo.
REFERÊNCIAS:
O que é que tem de verdadeiro O Lobo de Wall Street?
O filme de Scorsese sobre um vigarista financeiro chega esta quinta-feira a Portugal, já depois de ter gerado polémica por glorificar uma vida de fraude, sexo e drogas. O que é real e o que é ficção? Este texto contém spoilers (revelações sobre o argumento). (...)

O que é que tem de verdadeiro O Lobo de Wall Street?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2015-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme de Scorsese sobre um vigarista financeiro chega esta quinta-feira a Portugal, já depois de ter gerado polémica por glorificar uma vida de fraude, sexo e drogas. O que é real e o que é ficção? Este texto contém spoilers (revelações sobre o argumento).
TEXTO: Para O Lobo de Wall Street, a sua mais recente colaboração com Leonardo DiCaprio, Martin Scorsese renunciou à sua tradicional voz off em favor do discurso directo: ao longo do filme, DiCaprio, que interpreta o matreiro vigarista financeiro Jordan Belfort, olha para a câmara e fala directamente com o público. Terence Winter, que escreveu o guião, explica assim o uso desta técnica: “Jordan Belfort está a vender-vos a história de Jordan Belfort, e ele é um narrador muito pouco fidedigno”. É importante ter isso presente se decidirmos esmiuçar os factos e a ficção do filme. O Lobo de Wall Street é bastante fiel ao livro escrito por Belfort no qual se baseia (editado em Portugal pela Presença), embora haja algumas diferenças. Mas quão fiel à realidade é o livro? Pode ser difícil chegar a conclusões definitivas, especialmente porque algumas das suas histórias mais bizarras, afinal, são mesmo verdadeiras. Ainda assim, fica a tentativa de verificar o que no filme é como na vida real e o que é apenas como na mente de Belfort. Os contornos gerais da história de Belfort são transmitidos de forma fiel pelo filme: um vendedor de Long Island, talentoso mas em dificuldades, arranja um emprego numa reputada casa de investimentos, a L. F. Rothschild, mas é despedido depois da Segunda-Feira Negra – no dia 19 de Outubro de 1987, várias bolsas pelo mundo sofreram um crash. Depois, foi trabalhar para a Investors Center, uma empresa de acções de baixo valor, e um ano mais tarde abriu “um franchise da Straton Securities, uma pequena corretora” num “stand de automóveis de um amigo em Queens”. Ele e o sócio ganharam dinheiro suficiente para comprar a Stratton e criar a Stratton Oakmont, que transformou numa das maiores corretoras do mercado bolsista secundário dos Estados Unidos. (Tal como no filme, ele contratou alguns amigos de longa data). Consumiu uma quantidade enorme de drogas – incluindo Lemmon 714s, ou Quaaludes, um medicamento sedativo e hipnótico –, requisitou os serviços de inúmeras prostitutas e eventualmente foi preso pelos esquemas de manipulação de mercados que o enriqueceram. Muito dos diálogos de DiCaprio vêm directamente do livro de Belfort, bem como quase todas as suas aventuras praticamente inacreditáveis: aterrar o helicóptero no seu relvado enquanto estava drogado, despistar-se com o carro quando estava sob o efeito de Quaaludes ou insistir que o capitão do seu gigantesco iate navegasse por um mar tão picado que o barco acabou por se virar, obrigando a um salvamento pela Marinha italiana. Algumas dessas histórias são difíceis de confirmar, mas o agente do FBI que investigou Belfort disse ao diário norte-americano The New York Times: “Eu andei atrás deste tipo durante dez anos e tudo o que ele escreveu é verdade. ” (Mesmo a história do iate). Quanto ao já muito discutido lançamento de anões que o filme mostra no seu início, o braço direito de Belfort diz que “nunca abusámos de [ou atirámos] os anões no escritório; éramos simpáticos com eles”. A mesma fonte, um antigo executivo da empresa, diz que nunca houve animais no escritório, muito menos um chimpanzé, e que ninguém chamava “Lobo” a Belfort. Sabemos, pelo menos, que a alcunha não partiu de um jornalista da revista Forbes, como indica o filme. Mas, em geral, é a palavra deste executivo contra a de Belfort. Outra pequena diferença entre filme e realidade: Belfort, ao contrário de DiCaprio, é um homem baixo, e muitos dos seus conhecidos sugeriram que o seu desejo por dinheiro, poder e atenção são provas de sofrer do complexo de Napoleão. De resto, quanto à fidelidade na forma como DiCaprio retrata Belfort, há muitos vídeos do financeiro que se podem ver online, incluindo um ou dois de festas de empresa da Stratton Oakmont. O caso de Donnie Azoff, interpretado por Jonah Hill, é mais complicado. Para começar, Azoff é um nome ficcional e a personagem é por vezes descrita como uma composição. A sua história é muito semelhante à de Danny Porush – mas o próprio Porush contestou alguns detalhes. Aqui estão os factos-base: Porush vivia no prédio de Belfort e começou a trabalhar como seu estagiário antes da Stratton Oakmont. Como nota o site History vs. Hollywood, não conheceu Belfort num restaurante – foram apresentados pela mulher de Porush (que, sim, era sua prima, tal como se lê no livro de Belfort; hoje em dia, estão divorciados). Já admitiu que comeu um peixinho de aquário vivo que pertencia a um empregado da Stratton, como é descrito no filme e nas memórias de Belfort, mas nega ter participado num ménage à trois com o empresário e uma funcionária adolescente.
REFERÊNCIAS:
“Não estamos aqui para viver vidas úteis, mas vidas belas”
O conhecido economista checo Tomás Sedlácek vê o capitalismo como a nova religião global, com a sua própria cultura corporativa e escola ético-moral – a do egoísmo. Os novos padres não diferem muito das antigas videntes de feira a olharem para bolas de cristal, diz ele (...)

“Não estamos aqui para viver vidas úteis, mas vidas belas”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.428
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O conhecido economista checo Tomás Sedlácek vê o capitalismo como a nova religião global, com a sua própria cultura corporativa e escola ético-moral – a do egoísmo. Os novos padres não diferem muito das antigas videntes de feira a olharem para bolas de cristal, diz ele
TEXTO: Em 2001, com apenas 24 anos, tornou-se consultor do presidente Václav Havel e cinco anos depois a Yale Economic Review apontava-o como um dos cinco melhores jovens pensadores na área da economia. O autor de Economics of Good and Evil esteve em Lisboa como orador do fórum O Lugar da Cultura, organizado pela Secretaria de Estado da Cultura. Pôs a hipótese de estarmos a atravessar não uma crise, mas o momento a seguir ao clímax em que temos de voltar a traçar objectivos. Pediu também que deixemos de parte o imperativo capitalista de nos consumirmos em “vidas úteis” – Sedlacék, que vê a economia como um sucedâneo das humanidades, diz que o que temos de ter são vidas belas. Na sua conferência começou por questionar se não estaremos hoje a viver uma espécie de “depressão pós-coito” em relação à União Europeia e ao capitalismo. O que é que isto quer dizer, exactamente?Se pensarmos bem, as nossas queixas contra a União Europeia (UE) e o capitalismo são muito semelhantes. Em ambos casos achamos que o sistema de certa forma funciona, mas o sentimento é de alheamento, de que o sistema tem uma lógica técnica própria que poucos, se é que alguns, entendem, de que tem a estrutura, os ossos e os ligamentos, mas lhe faltam a alma humana, um propósito e por aí fora. Toda a gente lê a [actual] situação [de crise] como se o capitalismo e a UE não nos tivessem dado suficiente, mas e se pudermos ler de forma oposta? Que em larga medida a UE e o capitalismo nos deram tudo o que puderam. Que em breve poderá chegar o tempo em que esgotámos a possibilidade de reformas e de novas ideias, que a economia ocidental não poderá já prosseguir a sua marcha de forma tão impressionante e que a integração em breve estará completa. E se o não-crescimento não for um percalço mas sim uma tendência? Em psiquiatria, um dos espoletadores surpreendentes da depressão é o atingir dos nossos objectivos. Porquê? Se nos focarmos de mais nos objectivos e os atingirmos, deixamos de ter sonhos, deixamos de ter motivo para acordar cedo pela manhã. A motivação perde-se não porque o objectivo fosse impossível de atingir, mas, precisamente, porque foi possível. O objectivo foi conseguido, o desígnio está morto. Precisamos de encontrar uma nova fantasia – mas não temos a certeza de qual. Não é esta, de certa forma, a nossa actual situação?A UE e o capitalismo já cumpriram os seus objectivos?Nada é perfeito. Até um programa de computador – o mais perfeito sistema criado pela humanidade, previsível, matemático, exacto – bloqueia de tempos a tempos e passa por um período de crise. Portanto, não estou a dizer que a UE e o capitalismo sejam perfeitos, mas essa também nunca foi a promessa. Permita-me uma parábola. Um homem está a mugir uma vaca. A dada altura, a vaca deixa de dar leite. Por isso o homem começa a gritar com ela e a bater-lhe. Então, magicamente, a vaca abre a boca e pergunta: “Porque é que me estás a bater? Já te dei todo o meu leite! E tu nem sabes quantos baldes! A única coisa que sabes é que queres mais. Mas alguns dos teus baldes estão perdidos, outros a apodrecerem, a entornarem-se. . . E bates-me por não te poder dar mais leite?” É isto que tenho em mente. Que queremos medir o desenvolvimento – ou seja: o leite fresco –, mas nem temos as estatísticas correctas nem queremos saber quanto é que já temos. Tanto o capitalismo como a UE já nos deram muito leite, mas criticamo-los por não nos darem mais. Isto não é uma crise do capitalismo, é uma crise de crescimento do capitalismo. Eu olho para o capitalismo como olho para a UE: não é um sistema muito bom, mas é o melhor que temos. Ponto número um. Ponto número dois: a democracia precisa de estímulo, protecção e cultura constantes para se manter democrática; a democracia é constituída por leis, mas mais ainda pela cultura da democracia. O mesmo é verdade para o capitalismo. Ambos morrem se não forem cuidados. O capitalismo e a UE já cumpriram os seus objectivos? O problema é que não sabemos realmente quais são esses objectivos. Em relação à UE era a paz através do comércio. A paz era o objectivo primário, o comércio o secundário. E temos paz dentro da UE e temos comércio – o Norte da Finlândia faz trocas comerciais com o Sul da Grécia com uma facilidade sem precedentes. Quanto ao capitalismo, nunca discutimos objectivos. Até que o façamos ele nunca os vai cumprir. Uma tomada de consciência relativamente recente em termos colectivos na sociedade ocidental é a da “inumanidade do capitalismo”. Parecemos querer o capitalismo, mas com um rosto mais humano. É possível?Sim. O capitalismo será cada vez mais humano se trabalharmos nisso. Mas nunca será completamente humano – pela simples razão de nem os humanos serem completamente humanos. Há 20 anos o capitalismo era muito diferente do que é hoje, não tinha quaisquer preocupações ecológicas, nenhumas soft skills, e tinha Recursos Humanos muito primitivos. Mas era, assim mesmo, capitalismo. Mudou por dentro. Há 100 anos, o nosso capitalismo tinha trabalho infantil, mulheres completamente discriminadas e protecção laboral zero – nem a mais extrema direita política quer isto hoje! O capitalismo e a democracia precisam de massa crítica para funcionar melhor. Na sua conferência questionou também a hipótese de ao centro do capitalismo estar não um vazio ético, como parece, mas, antes, uma escola moral muito forte. Que escola é essa?Pois, achamos que a economia não tem ética nem cultura, que ao centro do sistema há um vácuo moral e cultural, um vazio. Mas a realidade é bastante mais complexa. A economia e os negócios já têm uma ética e uma cultura próprias: a ética do egoísmo, de não querer saber do impacto das nossas acções porque a misteriosamente invisível mão do mercado alegadamente toma conta disso, a crença de que as pessoas existem para aumentar a sua utilidade, a postura de que os mercados são racionais e se auto-regulam, etc. Isto compõe uma escola ética muito forte. E que é contrabandeada para dentro do nosso sistema de valores disfarçada de ciência com bases matemáticas. Na verdade, é uma ideologia, uma nova religião global com a sua própria cultura corporativa, ética, crenças e padres.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Os que morreram
Philippe, Ahmed, Frédéric, Elsa, Michel, Bernard, Franck e Mustapha são os outros mortos do ataque contra o Charlie Hebdo. Retratos das 12 vítimas. (...)

Os que morreram
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Philippe, Ahmed, Frédéric, Elsa, Michel, Bernard, Franck e Mustapha são os outros mortos do ataque contra o Charlie Hebdo. Retratos das 12 vítimas.
TEXTO: CabuDesenhador e caricaturista, Jean Cabut faria 77 anos no dia 13 e afirmava-se politicamente à esquerda. Apaixonado pelo jazz – era a única música que ouvia –, cumpriu o serviço militar na Argélia e não comia carne. Membro da equipa do Charlie Hebdo desde a sua fundação, em 1970, também publicou nas revistas Hara-kiri Hebdo (a precursora do Charlie Hebdo) e Pilote, onde criou em 1963 uma das suas mais bem conhecidas personagens, Le Grand Duduche, um jovem utópico de jeans e óculos redondos. Pacifista e antimilitarista como o seu autor. Trabalhou também na televisão e desenhou capas de álbuns, tendo editado o seu trabalho em mais de duas dezenas de livros. Era também autor de reportagem em banda desenhada. Foi no Charlie Hebdo que se focou na caricatura política, tendo colaborado ao longo da sua carreira com os principais diários franceses, do Le Monde ao France Soir, passando pelo Le Figaro e por publicações como o Nouvel Observateur ou a revista Rock & Folk. Tinha “um golpe de lápis sem igual que lhe permitia caricaturar com uma facilidade desconcertante qualquer personalidade”, como o descreveu quarta-feira o Le Monde. “Deixa um vazio aberto no mundo dos ilustradores da imprensa. ”Georges WolinskiA sua mãe era franco-italiana e o pai um judeu polaco. Nasceu em Tunes e mulheres e sexo eram os traços identitários do trabalho de Wolinski, visita constante da cidade do Porto, cidadão honorário da Porto Capital do Cartoon. Começou a desenhar na revista Action, mas na sequência do Maio de 1968 fundou com o cartoonista francês Siné o jornal de curta vida L’Enragé. Colaborou com o Nouvel Observateur e ainda fazia parte da equipa da Paris Match. Esteve na Hara-kiri Hebdo e também escreveu para o cinema. Editou vários álbuns, tendo lançado em Setembro de 2014 o seu último livro, que foi também o seu primeiro romance gráfico – Le Village des femmes, editado pela Le Seuil. Recebeu o Grande Prémio de Angoulême em 2005, algo que provocou discussão. “Eu próprio não sei se sou um verdadeiro autor de BD. Comecei pela banda desenhada (nos anos 60 fiz La Reine des Pommes, a partir de um livro de Chester Heims), mas depois tornei-me desenhador de imprensa por acaso”, disse Wolinski ao PÚBLICO na altura. Era assim que se definia. E sabia bem o que era o humor e uma boa piada. “Um bom desenho tem de fazer rir, mas também tem de obrigar os leitores a pensarem, depois de se rirem: ‘Ele tem razão. ’”Ao PÚBLICO disse também em 2009: “Na verdade, não há nem humor francês, nem humor judeu, nem humor americano. Há só o humor, and humour is the same everywhere. ”TignousTodos os seus colaboradores, como escreveu na quarta-feira o diário francês Le Figaro, o descreviam como “terno mas mordaz”. Bernard Verlhac, aliás "Tignous", era também colaborador da revista Marianne e era um devorador de notícias, um ponteiro sempre atento à actualidade. Fazia cobertura de acontecimentos lado a lado com os redactores – um dos seus trabalhos editados em livro é exactamente a compilação do acompanhamento diário do caso Colonna, um militante independentista corso que assassinou um prefeito (equivalente a um governador civil) da Córsega. Trabalhou também no segmento dos comics, sendo autor de oito álbuns editados. Tignous tinha um pseudónimo que homenageava a avó – “pequeno tinhoso” era o que lhe chamava. CharbStephane Charbonnier era director do Charlie Hebdo desde 2009. Descontente com a proximidade do seu antecessor com o poder, o ilustrador e cartoonista rompeu com a sua herança e afirmou-se sempre um autor sem medo. Tinha duas personagens de uso frequente: o cão Maurice e o gato Patapon, unidos pelo seu anticapitalismo e pelas piadas a puxar à escatologia. O seu traço distintivo eram as personagens de tez amarela e olhos esbugalhados e moral a condizer. Odiava cigarros e também não tinha grande apreço por Nicolas Sarkozy. O seu último cartoon fez-se de uma figura amarela, com os olhos esbugalhados e desencontrados, vestido como um guerrilheiro e que atentava, perante a verdade que o titulava, “Ainda não houve atentados em França”: “Esperem, temos até finais de Janeiro para dar os votos de ano novo. ” Acreditava que todas as religiões, e as respectivas piadas sobre as mesmas, devem ser banalizadas. HonoréPhilippe Honoré tinha 73 anos e era conhecido pelo seu apelido. Era seu o último cartoon que o Charlie Hebdo partilhou na sua conta de Twitter antes do ataque dos homens armados à redacção do jornal satírico. Era o menos conhecido dos cinco desenhadores de imprensa vitimados e foi encontrado com vida, mas a gravidade dos seus ferimentos acabou por causar a sua morte. Um “artista imenso”, como titula a revista Paris Match, que trabalhou com o Le Monde, o Libération, a revista Les Inrockuptibles ou o Hara Kiri que viria a dar lugar ao Charlie Hebdo. Autodidacta, publicou pela primeira vez aos 16 anos, sendo seus os traços a preto e branco que criavam ambientes sombrios e dichotes como aquele com que se despediu: o líder do autoproclamado Estado Islâmico, o iraquiano Abu Baqr al-Baghdadi, e a sua mensagem de ano novo em que deseja “especialmente muita saúde”. Um “enraivecido, mas um enraivecido muito polido e doce” nas palavras do desenhador Plantu. Estava no Charlie desde 1992 e o seu maior prazer era “provocar prazer intelectual nas pessoas que procuram soluções". "E um prazer visual, porque tento ao máximo realizar uma verdadeira imagem que viva por si só, sem texto. ”Franck BrinsolaroFranck Brinsolaro, de 49 anos, era o polícia encarregado da protecção do director e cartoonista Charb. Estava sentado na redacção quando os terroristas dispararam contra os cartoonistas e os jornalistas. Não teve tempo de reagir. Pertencia há muitos anos ao Serviço de Protecção de Altas Personalidades. Era casado com Ingrid Brinsolaro, jornalista editora do L'Eveil Normand, jornal da Normandia, onde tinha residência. Deixa dois filhos. Ahmed MerabetFoi o polícia executado na rua. O segundo polícia a morrer. Ahmed Merabet, muçulmano de origem tunisina, tinha 42 anos. Era casado e vivia em Paris. Estava a patrulhar o 11. º bairro, onde fica o Charlie Hebdo, quando tudo aconteceu. Acorreu ao local e foi apanhado pelos terroristas. É o homem que vemos, num vídeo amador, já deitado no chão a pedir para não dispararem contra si. É atingido à queima-roupa. Michel RenaudO fundador do Festival de Cadernos de Viagem de Clermont-Ferrand estava na reunião de redacção do Charlie Hebdo por acaso. Não pertencia ao jornal e tinha sido convidado para estar naquele dia porque precisava de devolver a Cabu os desenhos que este lhe tinha dado para a última edição do festival, em Novembro passado. Michel Renaud tinha 69 anos e tinha sido jornalista na Europe 1 e no Le Figaro. Em 1982, aos 37 anos, mudou de profissão ao aceitar um convite para ser director de comunicação na Câmara de Clermont-Ferrand. Reformou-se em 2010 e, conta o Le Monde, sendo um “viajante insaciável”, dois dias depois embarca com a mulher e o filho numa viagem de um ano pela Ásia Central. Gérard Gaillard, co-organizador do festival de Clermont-Ferrand, estava também na reunião, mas deitou-se no chão na altura em que os terroristas dispararam e salvou-se. Elsa CayatA psicanalista Elsa Cayat foi a única mulher vítima do atentado contra o Charlie Hebdo, onde escrevia, duas vezes por mês, uma crónica chamada O Divã de Charlie. É também autora dos livros Un homme+Une femme=Quoi? sobre as relações entre os dois sexos, e Le désir et la putain, com Antonio Fischetti. Mustapha OurradNascido na Cabília, Argélia, Mustapha Ourrad era copydesk no Charlie Hebdo, depois de ter trabalhado numa editora e noutros jornais. Ficou órfão cedo e viajou para França quando tinha 20 anos, numa viagem paga com o dinheiro reunido pelos amigos. O Le Monde descreve-o como autodidacta e também como um “homem discreto que impressionava os amigos pela sua cultura, nomeadamente no que dizia respeito aos filósofos, e a Nietzsche em particular”. Bernard MarisChamava-se Tio Bernard a coluna que o jornalista e economista Bernard Maris escrevia todas as semanas no Charlie Hebdo. Para além desta colaboração, Maris era também membro do conselho geral do Banco de França e professor na Universidade de Paris-VIII, depois de ter passado pela Universidade do Iowa, nos Estados Unidos e pelo banco central do Peru. Figura habitual na televisão, participava em debates sobre questões económicas e era conhecido pelas suas posições antiglobalização. Maris era também autor de um livro sobre o economista John Maynard Keynes. Em 2002 tinha sido candidato nas legislativas pelo partido Os Verdes. Frédéric BoisseauEstava na recepção do Charlie Hebdo quando os terroristas entraram. Terão disparado imediatamente contra si antes de subirem à recepção onde estava a acontecer a reunião semanal do jornal. Era ali que trabalhava há 15 anos, responsabilizando-se pela manutenção do edifício. Tinha 42 anos. Era casado e pai de duas crianças de 10 e 12 anos. Notícia corrigida às 15h21
REFERÊNCIAS:
Wolinski, Cabu, Charb, Tignous: mortes choradas com lápis que sangram
Entre as vítimas do ataque ao Charlie Hebdo estão "referências extraordinárias" do cartoon político. "Tiros disparados no coração de uma tradição muito importante, absolutamente libertina", diz João Paulo Cotrim. (...)

Wolinski, Cabu, Charb, Tignous: mortes choradas com lápis que sangram
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre as vítimas do ataque ao Charlie Hebdo estão "referências extraordinárias" do cartoon político. "Tiros disparados no coração de uma tradição muito importante, absolutamente libertina", diz João Paulo Cotrim.
TEXTO: Wolinski, Cabu, Tignous, Charb. Quatro das doze vítimas mortais do ataque à redacção do semanário Charlie Hebdo eram desenhadores de imprensa. Importantes cartoonistas, "a diferença é que nós temos a obrigação de fazer rir e os jornalistas não", como disse Georges Wolinski ao PÚBLICO em 2009. Num jornal satírico que "é uma grande referência para todo um conjunto de artistas internacionais", diz Pedro Moura, crítico de BD, estes foram "tiros disparados no coração de uma tradição muito importante por ser absolutamente libertina", completa o editor João Paulo Cotrim. "Não conheciam nem deus nem mestres", continua o antigo director da Bedeteca de Lisboa, "e isso é um oxigénio importantíssimo". A morte destes quatro cartoonistas – o director do jornal satírico, Stephane Charbonnier (ou Charb), e alguns dos seus fundadores e dos nomes mais importantes do cartoon político como Georges Wolinski, Jean Cabut (que assinava como Cabu) e Bernard Velhac (Tignous) – está a ser chorada com lápis que sangram. Ilustradores e desenhadores de todo o mundo como Zep ou Plantu partilham nas redes sociais a sua visão do ataque ao Charlie Hebdo e quase todos escolhem esses elementos para o lamentar. Outro símbolo do "massacre", nas palavras de Luís Humberto Marcos, director do Porto Cartoon, que teve Wolinski como presidente do seu júri na última década, é o desenho em fundo negro que proclama: Je suis Charlie. Nele, a boca de uma espingarda é estancada com um lápis. O Museu Nacional da Imprensa, organizador do Porto Cartoon, decretou quarta-feira uma semana de luto pela morte de Wolinski e seus colegas. Georges Wolinski tinha 80 anos e ganhou o Grande Prémio do importante Festival de Angoulême em 2005. "Perde-se uma voz que sempre se manifestou intranquila, um grande defensor da liberdade mais livre que soube dessacralizar alguns preconceitos", lembra Luís Humberto Marcos. Recebeu a Legião de Honra francesa apesar de considerar, como disse ao PÚBLICO em 2009, que o talento da sua profissão "é mostrar bem as diferenças entre o que os políticos dizem e o que eles fazem, entre o que parecem e o que são". Tinha como temas fétiche as mulheres e o sexo, "um humor ousado, mas sempre fino" nas palavras de Luís Humberto Marcos. Em 2014, recebeu o título de cidadão honorário do Porto Capital do Cartoon. Cabu faria 77 anos no dia 13 e afirmava-se politicamente à esquerda. Apaixonado pelo jazz – era a única música que ouvia –, era colaborador do Charlie Hebdo desde 1970. Tal como Wolinski, era um polinizador do humor, espalhando os seus desenhos por várias publicações ao longo das décadas, satíricas e generalistas, diários e revistas. Hara-Kiri Hebdo, Pilote, Le Canard Enchaîné, Le Nouvel Observateur, Paris Match, Le Monde ou Le Figaro são alguns dos títulos que acolheram desenhos de Cabu ou Wolinski. Eram, respectivamente, "o deão e o pai espiritual de muitos ilustradores e caricaturistas de hoje", como postulou quarta-feira o Le Monde. São os nomes mais conhecidos de um grupo de profissionais mortos no seu local de trabalho por homens armados. "Perdas avassaladoras no meio do cartoon", categoriza a crítica e comissária de BD Sara Figueiredo Costa, "mas sobretudo um ataque à liberdade de expressão e ao exercício livre do jornalismo". O mês de Maio de 1968 é uma data incontornável nas carreiras de Wolinski e Cabu, mas também nas das outras vítimas deste tiroteio. Há um traço geracional destes desenhadores e destas publicações "directamente ligadas à tradição libertária e ao Maio de 1968", recorda João Paulo Cotrim. Nos seus traços, liam-se ideias e ideais. Cabu estreou em 1963 uma das suas personagens mais conhecidas, Le Grand Duduche – um jovem utópico de óculos redondos, muitas vezes confundido com um alter-ego do seu autor, cuja história, à medida que entrava na década seguinte, era cada vez mais de consciencialização política, nomeadamente antimilitar. Já Wolinski, na sequência do Maio de 1968, fundou com o cartoonista Siné o jornal de intervenção L’Enragé, por exemplo. "São referências extraordinárias porque além do humor de intervenção tinham uma visão muito surrealista da vida", diz Osvaldo Macedo de Sousa, especialista em cartoon político e comissário do festival AmadoraBD. "Desde 1968, a sátira e a intervenção têm descambado para o politicamente correcto e eles nunca se dobraram. Eram pedagogos que estavam alerta e que nos punham sempre alerta. Não podemos ficar cegos e estes assassinatos são para tentar cegar-nos", frisa. Tal como Cabu, um dos pioneiros do género a que se viria chamar a reportagem em banda-desenhada e que se destacou pela cobertura do processo Ben Barka, Tignous, de 57 anos, era um apaixonado pelo noticiário, pela actualidade. Um dos seus trabalhos editados em livro é exactamente a compilação do acompanhamento diário do caso Colonna, um militante independentista corso que assassinou um prefeito (equivalente a um governador civil) da Córsega. E depois havia Charb, o director-ilustrador de 47 anos cuja rubrica fixa no Charlie Hebdo se intitulava "Charb não gosta de pessoas" e que desde 2009 dirigia o atribulado jornal. Tinha duas personagens de uso frequente: o gato Maurice e o cão Patapon, unidos pelo seu anticapitalismo e pelas piadas a puxar à escatologia. O seu traço distintivo eram as personagens de tez amarela, olhos esbugalhados e moral a condizer. "Era a alma, nunca se vergou. Independente, era um baluarte como chefe de uma linha política", recorda Macedo de Sousa, que conhecia muitos destes desenhadores. Desenhadores de imprensa, cartoonistas, autores de BD, ilustradores. Além do Charlie Hebdo, tinham outros elementos em comum. Traços próprios, específicos de cada autor, mas um ethos comunitário. Wolinski, recorda Luís Humberto Marcos, "tinha sempre uma frase oportuna para além do desenho que nos suscitava uma gargalhada". "Todos são unidos pelo estilo suportado pela rapidez, tem de ser rápido no comentário", escolhe João Paulo Cotrim. No caso de Wolinski, "é como se desenhasse as ideias. E [há] a omnipresença da palavra. Os cartoons são palavrosos, são gritos, são asneiras, e todo o desenho obedece a isso". No centro de tudo, "a figura humana, o indivíduo". Pedro Moura também identifica esse "desenho de uma linha simples" – "é quase uma assinatura caligráfica que faz o desenho". Esse é um dos papéis fundamentais destes cartoonistas, dos mais velhos e dos mais jovens, diz o crítico. O outro é o "cultivo de um determinado tipo de cartoon crítico, muito agressivo em termos políticos, económicos e que ao mesmo tempo é mal comportado – o que é necessário, muitas vezes ultrapassa o decoro burguês". O gosto, o limite. A imagem de um grande café na página de jornal que João Paulo Cotrim evoca para descrever um espaço de liberdade em que "é muito importante o lugar do humor, do riso, da liberdade de rir, mesmo que parvamente, das coisas mais importantes". Para Cotrim, essa "é outra das lições que nos deram, são mártires disso mesmo". O último cartoon de Charb, publicado na edição desta quarta-feira, fez-se de uma figura amarela, com os olhos esbugalhados e desencontrados, vestido como um guerrilheiro e que atentava, perante a verdade que o titulava – "Ainda não houve atentados em França" – "Esperem, temos até finais de Janeiro para dar os votos de Ano Novo". Em 2012, na sequência do atentado que teve como alvo a redacção do jornal, no final do ano anterior, Charb disse ao Le Monde: "Não tenho filhos, não sou casado, não tenho carro, não devo dinheiro ao banco. O que vou dizer pode parecer um pouco pomposo, mas prefiro morrer do pé do que viver de joelhos. "
REFERÊNCIAS: