Perante o imenso fado de Ricardo Ribeiro, perguntámos “que força é esta a dos Bons Sons?”
Este domingo chega ao fim a edição 2014 do Bons Sons. 35 mil pessoas passaram por Cem Soldos desde quarta-feira. Antes de chegada de Sérgio Godinho, domingo, vimos sábado um concerto magistral de Ricardo Ribeiro. Terá sido “o” concerto do Bons Sons, o festival de música que é mais que isso. (...)

Perante o imenso fado de Ricardo Ribeiro, perguntámos “que força é esta a dos Bons Sons?”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este domingo chega ao fim a edição 2014 do Bons Sons. 35 mil pessoas passaram por Cem Soldos desde quarta-feira. Antes de chegada de Sérgio Godinho, domingo, vimos sábado um concerto magistral de Ricardo Ribeiro. Terá sido “o” concerto do Bons Sons, o festival de música que é mais que isso.
TEXTO: Horas antes, não sabíamos ainda o que nos traria o concerto de Ricardo Ribeiro, às 23h de sábado. À tarde, quente como não tinham sido ainda estas tardes de Cem Soldos, fôramos abordados por uma criança na Galeria instalada no antigo armazém de secagem de cereais. Queria saber como nasciam aquelas imagens dispostas na parede e organizadas em álbum fotográfico que ocupavam metade do espaço (na outra, via-se a exposição Bandas-Sonoras de Rita Carmo, fotógrafa da Blitz, com retratos de Carlos do Carmo, Dead Combo ou Mazgani). Não sabíamos explicar como, misturando álcool, detergentes, tintas ou vinho, nasciam aquelas imagens semelhantes a paisagens interestelares ou submarinas, imagens abstractas a que Catarina Pereira, artista das Caldas da Rainha, chamou adequadamente “pinturas fotográficas”. Explicámos ao miúdo o melhor possível como os materiais seriam misturados e apontámos as imagens como resultado do processo. Como passávamos de uns para as outras, para isso, não tínhamos palavras. Horas depois, quando o fadista Ricardo Ribeiro cantava, caso a mesma criança nos perguntasse como nascia aquilo que via e ouvia perante si, não conseguiríamos fazer melhor. Descreveríamos o material utilizado (uma voz, guitarra portuguesa, viola e viola baixo) e apontaríamos para o palco: eis o resultado. Mas não conseguiríamos explicar como se passava do material utilizado para aqueles sons, para aquela voz, para música tão imponente, arrepiante. Este foi o dia em que Tiago Sousa suou (sim, estava realmente muito calor) ao interpretar num auditório esgotado as suas belíssimas peças a meio caminho entre o improviso livre e o cuidado de compositor muito certo da sua caminhada (ouviram-se excertos de Samsara ou, já em encore, Insomnia); em que a Igreja de São Sebastião esteve cheia (e nem era domingo) para ouvir Mila Dores (e as suas escadarias tremeram com os bombos e demais percussão dos Tocá Rufar); em que os Torto de Jorge Coelho levaram rock em convulsão, descontruído com ferocidade, perante a torreira da tarde no palco Eira; e em que Norberto Lobo e João Lobo, no Palco Giacometti, ainda durante a tarde, criaram um furacão a partir de micropartículas rock (fogo Hendrix e psicadelismo fogoso) e de uma bateria infernal: foram viagem folk, quando a guitarra eléctrica foi trocada pela acústica, sob chão free-jazz (a terra tremeu e foi bonito de ver), avançaram com ligeireza até paisagem africana (a serenidade desceu sob a terra e foi bom senti-la). Sábado foi o dia em que os Guta Naki deram o seu último concerto e, como o público do Bons Sons é generoso, não podiam ter melhor despedida; em que, noite alta, os Los Waves, com o seu rock’n’roll que é também funk-punk à Franz Ferdinand e pop digital com a cabeça nas estrelas, à MGMT, atearam o rastilho sobre a eira e despediram-se com uma versão dos Mando Diao, Sheepdog, que pôs as gentes animadas ainda em maior rebuliço – e eis uma multidão dançando infatigavelmente as canções de uma banda que compensa em energia e gozo pelo palco a ausência, por agora, de uma personalidade plenamente definida (são ainda súmula de diversas sonoridades do dito indie à século XXI). Sábado foi o dia de todos eles e dos Aduf e da sua tradição portuguesa, ibérica, magrebina, vestida em roupagens jazz e prog, acrescida de cenografia (quatro adufes gigantes tocados por percussionistas performers que, parece-nos, acabam por desviar as atenções do essencial, a música, mais do que gostaríamos). Foi a noite do concerto de Noiserv que transbordou do palco Giacometti, literalmente: a multidão enchia o largo, e um pouco acima, frente à sede da Sociedade Cultural e Operária de Cem Soldos, outra multidão seguia as imagens do concerto projectadas na parede de um edifício. Foi o dia de todos eles, repetimos, e da festa final com os ritmos quebrados, kudurados, techno mutantis, de DJ Maboku e DJ Marfox. Mas foi, principalmente, o dia de Ricardo Ribeiro, autor de um concerto superlativo que entrará não só para a história dos Bons Sons 2014, mas para a história de todo o festival. O fadista de Largo de Memória, título que representa na perfeição quem é o que faz Ricardo Ribeiro, subiu a palco às 23h. Abandonou-o cerca de hora e meia depois perante um público rendido ao seu talento, à imensidão da sua voz, rendido àquele homem que nos toca fundo quando ouvimos os primeiros versos do Fado Alentejo (“ó terra morena deitada ao sol”), o último do concerto, e sentimos neles, cantados assim, a imensidão do terra e do tempo. Ricardo Ribeiro é um justíssimo guardião da tradição que explica o que é o fado menor e o fado corrido de onde nasceram todos os outros, é o fadista que recita a Toada de Portalegre de José Régio, que recorda Armandinho e que, desarmante na naturalidade com que ocupa o palco, surpreende-nos com imitações divertidas, em jeito de homenagem, de vozes que admira: foi Tony de Matos, Vicente da Câmara, Carlos do Carmo, António Zambujo e Maria da Fé cantado o clássico Nem às paredes confesso, já depois de o público o ter cantado para ele.
REFERÊNCIAS:
Número recorde de detenções em Ferguson e mais um morto pela polícia em St Louis
Tensão sobe com a morte de um jovem de 23 anos em St Louis. Foram detidas 78 pessoas na violenta noite de domingo. (...)

Número recorde de detenções em Ferguson e mais um morto pela polícia em St Louis
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2014-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tensão sobe com a morte de um jovem de 23 anos em St Louis. Foram detidas 78 pessoas na violenta noite de domingo.
TEXTO: A morte de um jovem negro, a tiro, pela polícia em St Louis, Missouri, fez subir de novo a tensão que se tem mantido durante os últimos dez dias, provocada pela morte de Michael Brown, em Ferguson. Manifestantes têm pedido, dia após dia, mais informação e justiça sobre a morte de Brown, um jovem negro morto a tiro por um polícia branco. Mas estas têm tardado: as autoridades só revelaram dados sobre a morte depois de a família ter pedido uma autópsia privada (seis tiros, disparados de frente, dois na cabeça), e demoraram também uma semana a revelar o nome do polícia envolvido. Os protestos têm começado pacíficos mas acabado em motins, e a polícia altamente militarizada, com blindados mais habitualmente vistos em cenários de guerra, não tem ajudado – críticos dizem que tem mesmo contribuído para o exacerbar das tensões. A polícia está ainda a deter pessoas em números recorde. Segundo registos obtidos por meios de comunicação social norte-americanos, na noite de domingo e madrugada de segunda-feira foram detidas 78 pessoas, a maioria por se recusar a dispersar. Nessa noite tinha sido imposto recolher obrigatório. A estação de televisão NBC diz que os registos das prisões contrariam uma versão anterior das autoridades, que falavam apenas em 31 detidos e diziam que a maioria era de fora da zona de Ferguson e St Louis. Afinal, apenas 18 tinham vindo de fora. Na noite de terça-feira foram detidas mais 47. Não é claro quantas foram detidas entre os dois dias. O recolher obrigatório foi entretanto cancelado e o governador chamou a Guarda Nacional, uma força de reservistas do exército e força aérea que pode ser deslocada em situações de emergência, para ajudar a controlar a violência. Mas apesar desta presença e dos apelos à calma, continuou a haver tiros, cocktails molotov, gás lacrimogéneo e cargas policiais. Nova morte em St LouisEnquanto isso, num outro protesto em St Louis, uma nova morte: um jovem de 23 anos que a polícia diz que tinha uma faca e “comportamento errático”. Os habitantes de um bairro de maioria negra onde o incidente ocorreu acusam a polícia de força excessiva. Por sua vez, as autoridades dizem que os agentes tiveram de disparar porque o jovem se aproximou com uma faca e recusou largá-la. As versões, mais uma vez, são diferentes entre o que diz a polícia e o que dizem testemunhas. Doris Davis, 66 anos, contou ao jornal britânico Guardian que ia a passar na rua quando ouviu um jovem a gritar: “Não, não, não” e quando se virou viu-o ser atingidos por tiros da polícia – vários, numa sucessão rápida. A polícia diz que ele gritou: “Matem-me agora”. “Dizem que ele tinha uma faca mas eles podiam tê-lo atingido no pé”, reagiu Davis. “Não precisavam de o ter matado. ”Nos EUA, entre 2006 e 2012, a média de vezes em que uma pessoa negra foi morta a tiro por um polícia branco foi de duas por semana. Nas manifestações, duas raparigas negras mostravam cartazes dizendo: “You will never know this feeling” (nunca saberás o que é sentir isto) e “You will never see through these eyes” (nunca verás através destes olhos). A revista satírica The Onion tinha um artigo com “dicas para ser um adolescente negro desarmado”, mostrando quão fácil é um jovem afro-americano ser tido como perigoso: “Assegura-te de que não pegas em nenhum objecto que possa ser confundido com uma arma de fogo como um telemóvel, comida, ou nada”; “tenta ver o ponto de vista da polícia: estás desarmado, mas és negro” ou ainda “evita usar roupa associada com gangues como t-shirts e calças”. Ao contrário do que se passou com o caso de Treyvon Martin, morto por um tiro de um vigilante na Flórida em 2012, o Presidente Barack Obama não teve uma palavra especial (ele, Obama, poderia ter sido Martin, disse na altura) neste caso. Contudo, cada vez mais pessoas se têm juntado ao debate. Na CNN, o actor da série "Anatomia de Grey" Jesse Williams, que é activista de uma organização de defesa dos direitos cívicos, denunciou que “uma certa parte deste país tem o privilégio de ser tratado como ser humano, e nós os restantes não somos tratados como seres humanos”, disparou. “Isso tem de ser discutido. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Grupo radical somali reivindica ataques que mataram 74 pessoas no Uganda
Duas explosões simultâneas, num restaurante e um clube desportivo de Kampala, a capital do Uganda, provocaram pelo menos 74 mortos e mais de 50 feridos, na noite de domingo, quando os dois lugares estavam repletos de clientes a assistir à transmissão do jogo da final do Mundial de futebol, entre a Espanha e a Holanda. (...)

Grupo radical somali reivindica ataques que mataram 74 pessoas no Uganda
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Duas explosões simultâneas, num restaurante e um clube desportivo de Kampala, a capital do Uganda, provocaram pelo menos 74 mortos e mais de 50 feridos, na noite de domingo, quando os dois lugares estavam repletos de clientes a assistir à transmissão do jogo da final do Mundial de futebol, entre a Espanha e a Holanda.
TEXTO: Os ataques, perpetrados por bombistas suicidas do grupo radical islâmico Al-Shabaab, sedeado na Somália e próximo da Al-Qaeda, foram denunciados como “cobardes actos de terrorismo” pelos países vizinhos e o Departamento de Estado norte-americano, que já prometeu assistência às autoridades do Uganda para encontrar e punir os responsáveis. “Ouvi uma bomba e comecei a ver as pessoas a correr e gritar. Entretanto perdi a consciência, e quando acordei comecei a rastejar para sair dali”, contou à BBC Kris Sledge, um jovem americano de 18 anos que se encontrava, com outros voluntários de uma igreja da Pensilvânia, no terraço de um popular restaurante conhecido como a “Aldeia Etíope”, onde às 22h30 (hora local) rebentou a primeira bomba, que fez pelo menos 15 vítimas. Minutos depois, duas outras explosões destruíram o campo de râguebi onde centenas de pessoas assistiam à transmissão do futebol num ecrã gigante. Uma bancada foi totalmente desfeita: dos escombros foram retiradas mais 44 vítimas de várias nacionalidades – indianos, congoleses, etíopes e um americano ao serviço de uma ONG de protecção de crianças. As autoridades encontraram a cabeça e as pernas de um cidadão da Somália, que especularam ser o bombista suicida responsável pelo ataque. O inspector-geral da polícia do Uganda, Kale Kayihura, imediatamente apontou o dedo ao Al-Shabab, um grupo de milícias particularmente violento e que dois dias antes das explosões apelara à execução de ataques contra o Uganda e o Burundi, dois dos países que contribuem com tropas para a missão de manutenção de paz da União Africana na Somália. “Explosões vão continuar” “Tratou-se obviamente de um ataque terrorista, que teve como alvo os adeptos do campeonato do Mundo reunidos em locais públicos”, sublinhou aquele dirigente, acrescentando que apesar do Al-Shabaab ser o principal suspeito, a polícia estava também a investigar outros grupos, entre os quais os rebeldes da vizinha República Democrática do Congo. A partir de Mogadíscio, na Somália, o porta-voz do Al-Shabaab, Sheikh Ali Mohamud Rage, reivindicou a responsabilidade pelos atentados de Kampala e prometeu para breve novos ataques. “Estamos a enviar uma mensagem para o Uganda e o Burundi: se não retirarem as tropas da Somália, as explosões vão continuar, e também em Bujumbura”, ameaçou. Um dos comandantes do grupo, Sheik Yusuf Issa, congratulou-se com o sucesso dos atentados de domingo. “O Uganda é um dos nossos inimigos e tudo o que os faça chorar é para nós uma felicidade. A raiva de Alá estará sempre contra aqueles que são contra nós”, declarou à Associated Press. O grupo radical islâmico Al-Shabaab, que proíbe a música, dança e prática desportiva aos seus membros, mantém nas suas fileiras combatentes veteranos nas guerras do Iraque, Afeganistão e Paquistão, e recorre aos campos de treino da Al-Qaeda. Os seus dirigentes, que já procederam ao apedrejamento de mulheres acusadas de adultério bem como amputações de homens que desrespeitem o seu código de conduta, tinham prometido punir severamente os espectadores do Mundial da África do Sul – para eles o futebol é contrário aos preceitos do Islão por envolver jogo, competição, insultos e “diversão desnecessária”. Comparação com os taliban O Al-Shabaab já tinha executado vários ataques suicidas coordenados na Somália, onde já se implantou em mais de um terço do território, mas nunca tinha actuado noutros países. Os analistas dizem que os ataques de domingo demonstram não só a crescente radicalização dos seus militantes, como também uma nova tendência de internacionalização da sua actividade, até então regional. Alex Vines, analista do think-tank britânico Chatham House, comparou a actual influência dos radicais do Al-Shabaab dentro da Somália àquela que os taliban detêm no Afeganistão, falando em mais um dilema para a comunidade internacional. “Penso que em vez de ignorar o Al-Shabaab, devíamos estar a discutir com eles. A escolha que temos que fazer na Somália é similar à que temos no Afeganistão: devemos simplesmente combater os taliban ou ganhamos mais se negociarmos com eles?”, questionou. Alguns comentadores que acompanham a actividade dos grupos militantes radicais em África referem ainda que a cada vez maior concorrência entre eles tem vindo a resultar numa grande fragmentação, dificultando o trabalho da polícia. Mas, assinalam, a maior ambição dos militantes, que querem evoluir de organizações locais para redes internacionais, tem tido custos elevados em termos de apoio popular às suas causas. Notícia actualizada às 18h50
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque comunidade mulheres adultério
Ela escondeu que tinha o vírus da sida. Agora está a ser julgada
Nadja Benaissa é a vocalista de uma banda pop feminina, que faz as delícias de milhares de fãs na Alemanha. Ela e as restantes três No Angels foram descobertas há dez anos, num programa televisivo de procura de talentos, quando ficaram em primeiro lugar e bateram os 4500 concorrentes que tentaram a sorte no concurso. As No Angels tornaram-se a banda feminina com mais sucesso na Alemanha, que, entre 2000 e 2003, vendeu cinco milhões de discos. (...)

Ela escondeu que tinha o vírus da sida. Agora está a ser julgada
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nadja Benaissa é a vocalista de uma banda pop feminina, que faz as delícias de milhares de fãs na Alemanha. Ela e as restantes três No Angels foram descobertas há dez anos, num programa televisivo de procura de talentos, quando ficaram em primeiro lugar e bateram os 4500 concorrentes que tentaram a sorte no concurso. As No Angels tornaram-se a banda feminina com mais sucesso na Alemanha, que, entre 2000 e 2003, vendeu cinco milhões de discos.
TEXTO: Estava o grupo prestes a dar um concerto em Frankfurt, em Abril do ano passado, quando Nadja Benaissa foi algemada diante dos fãs e ficou detida dez dias. Acusação: a cantora, agora com 28 anos, provocou lesões físicas graves ao transmitir o VIH a um homem com quem teve relações sexuais desprotegidas, apesar de saber que estava infectada com o vírus. O homem, identificado por Ralph S. , de 34 anos, apresentou queixa contra ela. O julgamento começou na segunda-feira e hoje as audiências deverão terminar. Para a semana, na quinta-feira, será lida a sentença. A cantora incorre numa pena de prisão que, segundo a lei alemã, pode ir dos seis meses até aos dez anos, se for provado que houve propagação do vírus da sida. Na lei alemã, a transmissão intencional ou negligente do VIH é considerada um dano corporal, explica o jornal The New York Times, citando informações da organização alemã de luta contra a sida Aids-Hilfe. Se há ou não punição depende se a pessoa que não é portadora do vírus sabe da infecção do seu parceiro sexual e se, nesse caso, consentiu em ter relações desprotegidas. Quem está infectado, ainda segundo a lei alemã, não tem de informar o parceiro, desde que faça tudo para o proteger, por exemplo através do uso de preservativo. No tribunal, em Darmstadt, Nadja Benaissa chorou, pediu desculpa, disse que não queria causar-lhes qualquer mal e confessou: "Nessa altura, era descuidada. Desculpem do fundo do coração. " E acrescentou: "Nunca quis que acontecesse nada disto a nenhum dos meus parceiros. " Entre 2000 e 2004, a cantora teve relações sexuais com três homens, sem que os tivesse informado do seu estado de saúde, relata o jornal britânico The Guardian. Os pontos altos e baixos da vida de Nadja, filha de pai marroquino e mãe de origem sérvia, vieram a público. "Com 12 anos, comecei a tomar drogas. Aos 14 anos, era viciada em crack", contou, acrescentado que a relação com os pais era então muito má. "Durante dois anos, vivi na rua, até que fiquei grávida aos 16 anos. "Foi nas análises de rotina, quando estava grávida, que descobriu que era seropositiva. Tinha 17 anos. Depois, a sua carreira arrancou. A banda chegou a separar-se, mas voltou a juntar-se para representar a Alemanha no Festival Eurovisão da Canção de 2008 e, no ano passado, lançou um novo álbum. Ralph S. soube que Nadja era portadora do VIH por uma tia dela. "Fizemos sexo cinco a sete vezes, três das quais sem protecção", disse ele no tribunal. E depois de a tia dela lhe ter contado foi ao médico: "Ao fim de algumas horas, telefonou-me a dizer que devia ir vê-lo. Foi então que soube que era seropositivo. "Numa declaração, lida no tribunal pelo seu advogado, Nadja declarou ainda: "Disseram-me que probabilidade de infectar alguém ou de eu desenvolver a doença era mais ou menos zero. Por essa razão, escondi esse facto mesmo do meu grupo de amigos, porque não queria que a minha filha fosse estigmatizada. Disse aos membros da banda porque confiava neles, mas nunca o tornei público, por recear que significasse o fim da banda. "Condenado em PortugalAcusar alguém de transmitir o vírus da sida não é caso isolado no mundo. Já foram condenadas cerca de 600 pessoas com VIH em mais de 40 países, e na maior parte dos casos não houve nem intenção nem transmissão da doença, escreve o Guardian. Só na última década, mais de 25 países africanos fizeram legislação específica sobre a sida, numa tentativa de travar a infecção. Muitas dessas leis em África, que criminalizam a transmissão do vírus, inspiraram-se na moldura penal dos Estados Unidos, onde ocorreu a maioria das acusações.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha lei tribunal prisão homem doença sexo sexual cantora
O voo TAP 4287 para Maputo
O voo está marcado para as 20h05, mas a essa hora ainda há gente a embarcar na porta 45 do aeroporto da Portela. É o primeiro voo da TAP que vai levantar com destino final em Maputo e paragem em Joanesburgo desde o início dos protestos nas ruas da capital de Moçambique. (...)

O voo TAP 4287 para Maputo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: O voo está marcado para as 20h05, mas a essa hora ainda há gente a embarcar na porta 45 do aeroporto da Portela. É o primeiro voo da TAP que vai levantar com destino final em Maputo e paragem em Joanesburgo desde o início dos protestos nas ruas da capital de Moçambique.
TEXTO: Brancos e negros, portugueses e moçambicanos, sul-africanos também. Duas freiras, uma senhora de 87 anos, uma miúda sozinha. Muitas camisolas da selecção portuguesa. Alguns bonés – este não deixa de ser um voo de regresso de férias, depois do Verão do Mundial da África do Sul e de Fábio Coentrão. Com ou sem protestos e violência e militares nas estradas de Maputo. O avião, um A330-200, tem capacidade para 265 pessoas e está pouco mais de meio cheio. Na fila de embarque, as conversas correram naturalmente à volta dos acontecimentos das últimas 48 horas em Maputo. “Não há pão, dizem que não há nada”, comenta uma portuguesa para outra, conhecida. “Claro, roubaram tudo. Para a Matola não se passa. De resto está tudo bem. Há tropa nas estradas…”, responde a amiga. “Depois perdem a razão, com a violência. Pois é, vocês vivem na Matola, não é?”“Sim, desde o ano passado. Não gosto nada. ” E ainda: “Se calhar cancelam o voo outra vez. Quem me dera…”Esta senhora tem de regressar ao trabalho, mas preferia prolongar a sua estadia em Lisboa. “Ai, eu agora já não quero voltar para trás. Já que aqui estamos, não é? Eu a noite passada já não dormi. Não foi por causa disto. Foi a pensar na minha casa, que ia deixar. Vamos fazer obras grandes na casa de banho. Vai ficar linda. Escolhi os materiais. O meu filho fica de olho e toma conta. Não é melhor a senhora ir-se sentar e já a chama?”“Pois é mãe, venha cá. ”Há gente que nem considerou pôr-se em pé, na fila, e permanece nas cadeiras da sala de embarque. Aí discutem-se os motivos da escala em Joanesburgo, que não estava inicialmente prevista para o voo das 20h05, que afinal só levantará depois das 20h30. Há quem sugira simplesmente que “tinha de ser, muitas pessoas do voo da tarde [cancelado] iam para Joanesburgo”. Outros têm teorias mais elaboradas, mas nem por isso despropositadas: “Em Joanesburgo vão trocar de tripulação, para entrar logo a que vai trazer o avião de volta. Porque se não, em Maputo não se sabe se a tripulação vem ou não vem, se chega ao não chega…”Faz sentido: na quarta-feira, no primeiro dia dos protestos, a tripulação da TAP que deveria voar para Lisboa esteve horas sem conseguir sair do hotel, acabando por chegar ao aeroporto de Maputo com escolta e muitas horas de atraso. À entrada para o avião, as conversas mudam de tom. Já toda a gente percebeu que está mesmo a caminho de Maputo. “Avó, posso trocar de lugar contigo?”“Não. ”“Mas quero ir ao pé da mana. ”“Mas eu não quero ir contigo. ”“Posso ir sozinha?. . . ”As três riem com vontade. Às 20h18 o avião começa finalmente a mover-se na pista, devagar. As hospedeiras estão sorridentes, como sempre. Mais do que o habitual? Uma está de chapéu e tem um sorriso que não desfaz, como se estivesse colado. “The flight time will be 10h50m. Thank you. ”As luzes apagam-se. “Mamy!!!”Nestes voos, ninguém deve ter medo de acidentes. Só a menina que gritou “Mamy” e que não deve saber o que aconteceu em Maputo. São 7h38 (menos uma hora em Lisboa) e o avião aterra em Joanesburgo. Afinal, a menina tinha mesmo medo de voar. Vai ficar aqui, na África do Sul, onde os jornais ignoram a violência em Moçambique e dedicam as suas primeiras páginas à greve geral que há dias bloqueia a África do Sul. Metade do avião que vinha meio cheio vai ficar aqui. Afinal, não há assim tantas pessoas com vontade de chegar a Maputo. Errado: de Joanesburgo virão muitas mais. São 8h50 e a fila para embarcar de volta é longa. Não irão sair em Maputo, o seu destino final é Lisboa.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
ETA admite mediadores mas não verificar trégua
Em comunicado hoje publicado nos diários bascos “Gara” e “Berria”, a ETA admite mediação internacional mas não explicita o seu apoio à verificação da trégua, como reclamado, em Março, na Declaração de Bruxelas. (...)

ETA admite mediadores mas não verificar trégua
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em comunicado hoje publicado nos diários bascos “Gara” e “Berria”, a ETA admite mediação internacional mas não explicita o seu apoio à verificação da trégua, como reclamado, em Março, na Declaração de Bruxelas.
TEXTO: Naquele documento, diversas figuras internacionais, como o ex-presidente sul-africano Frederick de Klerk, a antiga presidente da República da Irlanda, Mary Robinson, ou o arcebispo Desmond Tutu, apelaram à organização para declarar uma trégua permanente e permitir a sua verificação. Na missiva, a organização terrorista expressa o “seu respeito e agradecimento aos homens e mulheres que assinaram a Declaração [de Bruxelas]" e refere que toma nota da sua contribuição. Ou seja, os etarras consideram a iniciativa como positiva, mas são omissos quanto ao seu conteúdo: o cessar-fogo permanente e os trâmites da sua verificação internacional. “A ETA não esquiva a sua responsabilidade e manifesta disposição de estudar de forma conjunta os passos necessários ao processo democrático, incluíndo os passos que deve dar”, refere o texto. No comunicado de 5 de Setembro, a organização comunicou que, desde Março, tinha declarado uma trégua “a acções ofensivas”. Uma fórmula que exime do cessar-fogo a violência urbana e a extorsão económica, que continuam em vigor em Euskadi. Para a “esquerda abertzale”, o facto da direcção da ETA admitir mediação internacional é um primeiro passo para a declaração de uma trégua permanente e submetida ao controlo dos mediadores, que poderia ser anunciado antes do fim do ano. Os analistas sublinham, no entanto, que o novo comunicado, o segundo no curto prazo de 13 dias, é pouco vulgar nos esquemas da organização, pouco dada a sucessivas iniciativas epistolares. O facto do comunicado de 5 de Setembro ter ficado aquém das expectativas da própria “esquerda abertzale” e de mediadores de relevo, como o advogado irlandês Brian Currin, que foi assessor da ilegalizada Batasuna, o terem considerado “decepcionante”, ditou a publicação da nova missiva. Deste modo, trata-se de uma iniciativa para consumo interno, para não romper com os mediadores e os radicais congregados à volta de Arnaldo Otegi. Aliás, o comunicado de ontem introduz um novo compasso de espera no preenchimento dos requisitos da Declaração de Bruxelas: abre a porta, saúda a iniciativa, mas não se compromete. Já para as autoridades espanholas, a estratégia da ETA é um mero expediente para ganhar tempo. Os responsáveis da luta anti-terrorista estavam ao corrente do aparecimento deste novo comunicado e admitem que novas missivas apareçam nas próximas semanas. Foi por isso que a operação policial que levou à prisão nove dirigentes de Ekin, os duros comissários políticos da ETA para a esquerda abertzale, foi antecipada para a última terça-feira. “Para nós, não há nada de novo”, disse José António Pastor, porta-voz dos socialistas bascos que estão à frente do Executivo regional do País Basco. “O que esperamos é que a ETA comunique o fim das armas”, concluiu Pastor. É esta, também, a posição do Governo de Madrid.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano Bascos
Os fabulosos irmãos Miliband
Tragédia shakespeariana? "Remake" da velha guerra "fratricida" entre Tony Blair e Gordon Brown que marcou a política britânica nos últimos 16 anos? Ou nada disso? Esta é a história de dois irmãos que se tornaram naturalmente as duas estrelas do New Labour e que, por isso, estavam destinados a confrontar-se pela sua liderança - a 25 de Setembro. Uma história que começa no bairro judeu de Varsóvia e que (ainda) tem todos os condimentos para se tornar num drama. David e Edward. Caim e Abel? O herdeiro e o usurpador? (...)

Os fabulosos irmãos Miliband
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2010-09-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tragédia shakespeariana? "Remake" da velha guerra "fratricida" entre Tony Blair e Gordon Brown que marcou a política britânica nos últimos 16 anos? Ou nada disso? Esta é a história de dois irmãos que se tornaram naturalmente as duas estrelas do New Labour e que, por isso, estavam destinados a confrontar-se pela sua liderança - a 25 de Setembro. Uma história que começa no bairro judeu de Varsóvia e que (ainda) tem todos os condimentos para se tornar num drama. David e Edward. Caim e Abel? O herdeiro e o usurpador?
TEXTO: Se existe hoje um David que ocupa o centro da vida política britânica, ele chama-se, indiscutivelmente, Cameron, o jovem líder dos conservadores. A sua inesperada coligação de governo com os liberais-democratas de Nick Clegg é a grande novidade da política britânica. Os caminhos que decidiu trilhar para vencer a crise da dívida e do défice polarizam o debate. O Reino Unido está a passar por uma daquelas mudanças cíclicas que prometem alterar por muitos e bons anos a paisagem política nacional. Porventura, da dimensão daquela que Tony Blair e Gordon Brown lideraram a partir de 1994, oferecendo ao New Labour três vitórias eleitorais consecutivas. Por onde anda, então, o velho e derrotado New Labour, que quase ninguém o ouve? A escolher um sucessor para os dois gigantes que dominaram a vida do partido e do país nos últimos 16 anos. Saber-se-á o seu nome no dia 25 de Setembro, véspera da conferência anual do partido, em Manchester, quando estiver concluído um complexo processo de votação. Seria, segundo todas as previsões, uma escolha sem história. De há muito que o sucessor dos gigantes estava designado. Chamava-se David Miliband, fora a estrela em ascensão do blairismo e o herdeiro oficial de Tony Blair. Depois de uma carreira meteórica, entrara por mérito próprio no faustoso gabinete que o Foreign Office reserva ao seu chefe com apenas 41 anos de idade, um dos mais jovens de sempre. Tinha nos ombros todos os galões. Tudo mudou nos últimos quatro meses, levando a imprensa britânica a antecipar uma grande história. Nada mais dramático do que um duelo fatal entre dois irmãos. Desta vez, verdadeiros. Uma história digna de Caim e Abel? Ou apenas o remake estafado da relação tempestuosa entre Blair e Brown que marcou os anos gloriosos do New Labour nas duas últimas décadas? Só uma certeza se mantêm na corrida à liderança do New Labour: o novo líder chamar-se-á Miliband. Surgiu, entretanto, uma enorme dúvida: David ou Edward? O irmão mais velho ou o irmão mais novo? Quem fará o papel de Caim? Quem "traiu" quem? Ou talvez as coisas não pudessem ter sido de outra maneira. A explicação para este destino invulgar dos dois irmãos Miliband talvez tenha de ser encontrada na bela casa de Primrose Hill, nas colinas do Norte de Londres, onde ambos nasceram e cresceram, bebendo filosofia e ideologia com o café da manhã ou tomando chá com as grandes figuras da esquerda intelectual britânica. Ou talvez seja preciso ir ainda mais longe, até ao bairro judeu de Varsóvia ou à comunidade judia de Czestochowa, de onde partiu uma diáspora que se havia de espalhar pela Europa e pela América, fugindo às guerras e fugindo do Holocausto. A chave do mistério tem, pois, um nome e tem uma história. A história é a de uma família de judeus polacos que se estabeleceu em Londres durante a II Guerra. O nome é o de Ralph Miliband, nascido Adolph, que veio a ser um dos principais teorizadores do marxismo na Inglaterra dos anos 60 e 70, que deixou uma obra vasta, alimentou a imaginação de milhares de estudantes e que foi pai de dois filhos, David, nascido a 15 de Julho de 1965, e Edward, nascido a 24 de Dezembro de 1969, destinados a brilhar na paisagem política britânica. É preciso compreender o pai para compreender os filhos. A história de Ralph Ralph Miliband percorreu a pé os últimos 100 quilómetros que o separava de Ostend, na Bélgica, e do último barco que saiu do porto em direcção a Dover, antes da ocupação nazi. Estávamos em 1940. Tinha 16 anos e acompanhava o seu pai, Samuel, um judeu nascido em Varsóvia que rumara a Ocidente depois da I Guerra Mundial, fugindo das perturbações e das perseguições políticas do seu país, e que se fixara na Bélgica depois de ver o seu pedido de asilo recusado pelas autoridades britânicas. A mãe, também judia de Varsóvia, ficou para trás com a sua irmã mais nova. Sobreviveu à ocupação graças ao apoio da Resistência. Só voltariam a reencontrar-se em Londres em 1950. Na Bélgica, Ralph militara na "Jovem Guarda" do Bund, o movimento socialista judeu. Os bombardeamento de Londres ofereceram-lhe a sua primeira oportunidade de emprego: carregador de mobílias. Remover o que era possível salvar dos escombros dos prédios atingidos pelas bombas era, então, um negócio em alta. O jovem filho de Samuel adorava salvar bibliotecas e não raro era visto a matar o trabalho sentado nas escadas de um prédio em ruínas a ler um livro. Alistou-se como voluntário na secção belga da Royal Navy, onde combateu. Desmobilizado em 1945, o último comandante do último navio despediu-se dele com um conselho: "Não votes no Labour". Clement Atlee preparava-se para derrotar os conservadores de Winston Churchill, o grande herói nacional, nas primeiras eleições do pós-guerra. Não se sabe em quem votou. Sabe-se que se inscreveu na London School of Economics (LSE), onde se doutorou e onde viria mais tarde a leccionar. Casou com Marion, nascida Dobra Jenta Kosak, a única sobrevivente de uma família de judeus de Czestochowa, Polónia, desembarcada em Londres aos 12 anos, sozinha, que conseguiu chegar à LSE onde foi sua aluna. Teve dois filhos, David e Edward, que o acompanharam quando foi ensinar para os EUA e, depois, para a Universidade de Leeds, antes de regressar a Londres e à London School. Não era um académico como os outros. Era um polemista brilhante, defensor da única causa a que jurou ser fiel na sua vida privada: a causa dos trabalhadores. Mas não era dogmático. Os alunos deixavam-se fascinar mais depressa pela sua capacidade oratória do que pelos seus livros. Escreveu alguns clássicos. Ironicamente, um dos mais famosos chamava-se Parliamentary Socialism e era sobre a forma como o parlamentarismo tinha matado o socialismo. Construiu uma reputação de grande capacidade intelectual mas também de grande honradez pessoal. "Era um intelectual socialista de enorme integridade", reza o seu obituário, publicado no diário britânico The Independent no dia 24 de Maio de 1994, pouco depois da sua morte. Sem saber que o seu mais duradouro legado talvez não fossem as obras teóricas que acumulam pó nas bibliotecas das academias. Podem ter sido - apenas o futuro o dirá - os dois filhos que disputam hoje a liderança do New Labour. Nos antípodas do socialismo "verdadeiro" com que sonhava mas a prova viva de uma educação exemplar. Também eles produto de uma aristocracia intelectual cujos pergaminhos hoje exibem com discrição mas com orgulho. "Como Cameron, [David] Miliband nasceu numa família que lhe conferiu grandes vantagens - e não apenas a casa elegante de Primrose Hill onde cresceu e ainda vive", escreveu há dois anos Gaby Hinsliff, editora do Guardian, quando esta história ainda parecia ter um só protagonista. Na frase seguinte, a editora do diário britânico recupera o segundo. "O que Ralph Miliband e Marion Kosak deram aos seus filhos foi algo ainda melhor: uma crença no poder das ideias para mudar o mundo e uma profunda autoconfiança, armazenada ao longo de anos de discussões numa casa que era uma sementeira de pensamento filosófico e político. " David e Ed habituaram-se desde crianças a abrir a porta da rua para deixar entrar Joe Slovo, o famoso dirigente da ala militar do African Nacional Congress (ANC, sul-africano), ou a tomar chá com Tony Benn, figura histórica da ala radical do Labour. "Quando The World at One se estreou na BBC à 1 hora da tarde, a casa parava", diz hoje Leo Panitch, editor da Socialist Register, fundada por Ralph. Toda a gente se reunia na sala, ouvindo as notícias comentadas em directo. "Jim Callagham disparou ao lado. . . ". Nos intervalos, os dois irmãos jogavam futebol ou sentavam-se em frente da televisão a assistir às séries para adolescentes ou aos filmes de cowboys. Nem David nem Ed renunciam às suas origens judaicas. Reivindicam-nas sem exageros. Ambos se orgulham dos pais e da sua capacidade para dar-lhes uma infância e uma juventude normal dentro da anormalidade intelectual de Primrose Hill. Quando, ainda como chefe da diplomacia, foi à Polónia em 2009, David visitou o jazigo da sua família no cemitério judeu de Varsóvia: "A minha mãe nasceu aqui, a sua vida foi salva por aqueles que arriscaram a vida para escondê-la da opressão nazi. Sou um entre milhões de britânicos em cujas veias corre sangue polaco". "David and I""Pensei muito antes de avançar", não se cansa de dizer Ed. "Falei com ele antes de me candidatar à liderança e ele disse-me: seria um erro se me colocasse no teu caminho". No dia 8 de Agosto, o irmão mais novo publicou um artigo no Guardian sobre a sua família e sobre o seu irmão. My Family Values. Para elaborar longamente sobre a sua relação com o irmão mais velho. David and I. É uma longa justificação. Quando Ed anunciou a sua intenção de lhe disputar a liderança, David limitou-se a dizer que a família era mais importante do que a política e que o seu amor fraternal sobreviverá a qualquer resultado. "Não me incomoda nada". Disse à BBC que era preferível enfrentar abertamente a ambição do irmão do que alimentar ressentimentos futuros. Uma óbvia referência à rivalidade nunca publicamente assumida entre Blair e Brown, que envenenou a vida do New Labour. Há um legítimo e há um usurpador? Ou apenas dois políticos excepcionais? É aqui que deve entrar a história de um e do outro. Aliás, contar a história do irmão mais velho é contar a história do irmão mais novo. David limitava-se a olhar para trás e a ver o irmão a seguir na sua sombra. Têm quatro anos e meio de diferença. Ed diz que é uma diferença suficiente para nunca terem rivalizado entre si. "Olhei sempre para cima". Talvez seja verdade. Mas essa pode não ser a toda a história. O Guardian escrevia recentemente que talvez se devesse dar menos atenção a Eton, onde estudou o actual primeiro-ministro e onde estuda a aristocracia britânica - do sangue e do dinheiro - e mais à Haverstock Comprehensive School, onde estudaram os dois Miliband e outras estrelas do firmamento intelectual britânico. Era uma daquelas grandes escolas públicas de Londres (não confundir com as public schools como Eton, que são privadas) onde os filhos da classe média intelectual se misturavam com os filhos da classe trabalhadora que, na altura dos Miliband, ainda era predominantemente branca e não multiétnica como actualmente. Com breves ausências em Leeds e na América, foi aí que David fez o ensino secundário. Sem notas brilhantes e com muito futebol. Seguiu para Oxford para cursar Filosofia, Política e Economia no Corpus Christi. Notado pelos seus óculos e o cabelo cortado à tigela, pela sua falta de jeito com as raparigas - não se lhe conhece nenhuma namorada oficial - e a sua concentração no trabalho intelectual, graduou-se com um first, a nota mais alta da classificação britânica. "Era desafiadoramente fora de moda" , diz o jornalista Ted Verity, seu companheiro de quarto. Rumou aos Estados Unidos para um mestrado em ciência política no MIT. Foi ainda de lá que se candidatou a um emprego no recém-constituído Institute of Public Policy Research, muito próximo das novas ideias que fermentavam em torno do que viria a ser o New Labour. A vaga era para um economista mas o jovem Miliband causou uma tal impressão que lhe encontraram outra, mais adequada ao seu currículo. Patricia Hewitt, futura ministra de Blair e uma das fundadores do instituto, citada pelo Guardian, lembra-se de um jovem "intelectualmente sofisticado com vinte e poucos anos mas com uma grande clareza de pensamento". "Cheio de novas ideias que pouca gente conhecia fora da América". Quando o ainda líder do Labour John Smith lhe pediu para criar uma Comissão para a Justiça Social, David foi a sua escolha óbvia como assistente. Entre grandes chávenas de café, ambos elaboram uma nova visão da justiça social que era "um novo caminho para o New Labour antes do próprio New Labour". John Smith morre inesperadamente. Blair é eleito líder, iniciando uma profunda revolução ideológica e política para a qual precisa de novas ideias e de novos talentos. Impressionado com David, mobiliza-o para a redacção do primeiro manifesto eleitoral do New Labour, aquele que lhe daria a sua maior vitória de sempre, na Primavera de 1997. Leva-o consigo para Downing Street para chefiar a sua "unidade política". Aos 29 anos, David mergulha num mundo novo em que tudo parecia ser possível. As ideias fervilham em Downing Street. Alistair Campbell, o porta-voz do novo primeiro-ministro britânico, chama-lhe Brains. Ainda hoje esta imagem de "distância" e de "arrogância intelectual" o persegue. Blair chamar-lhe-á depois o Wayne Rooney do gabinete [numa alusão ao ponta-de-lança do Manchester United]. David depressa percebe que as ideias podem ser muito importantes mas o poder de as executar está do lado dos políticos eleitos pelo povo. Em 2001, resolve sair da sombra de Blair para se candidatar ao Parlamento. Cai de pára-quedas em South Shields, uma cidade do Nordeste de Inglaterra onde as pessoas e os problemas estavam a anos-luz dos gabinetes londrinos. Quer "enfiar-lhes as suas teorias pela garganta abaixo", diz um amigo, o que obviamente não resulta. Começa a perceber que a política é uma coisa bem mais complicada do que o exercício intelectual a que se dedicava na protecção confortável dos gabinetes. "Abriu-me os olhos e mudou a minha maneira de pensar. " É eleito facilmente para Westminster numa circunscrição que era Labour desde sempre. Passa um ano no Parlamento antes de regressar ao governo do seu mentor. Primeiro, como secretário de Estado da Educação, depois como ministro do Gabinete para o Poder Local e as Comunidades. Em 2006, quando David Cameron inicia a modernização do Tories fazendo do ambiente a sua bandeira, quem melhor do que o outro David para responder ao desafio? Blair nomeia-o ministro do Ambiente. Em todas as pastas deixou marca. O seu pensamento e as suas políticas são pura "terceira via". Defende as propinas no ensino superior porque é a única maneira de preservar a alta qualidade das universidades britânicas e os benefícios de um diploma merecem bem algum esforço financeiro. Endurece as medidas contra o crime juvenil nas ruas e nas escolas porque afecta sobretudo as classes mais pobres. Coloca o Reino Unido na primeira linha das políticas de combate às alterações climáticas da União Europeia. A sua ideia, nunca concretizada, de atribuir a cada britânico um Cartão de Crédito de CO2 - porque "o clima é da responsabilidade de todos" - gera alguma polémica e muitos elogios. Nunca foi num yes man do líder. Manteve sempre uma distância que justificou como geracional. O próprio Blair achava que ele era apenas "80 por cento blairiano". Criticou Blair publicamente uma única vez: em 2006, quando Israel invadiu o Sul do Líbano para combater o Hezbollah. Hoje, quando os outros candidatos à liderança, incluindo Ed, o tentam colar ao antigo primeiro-ministro, assume integralmente o seu legado. Dificilmente se lhe ouvirá uma palavra contra ele, por mais popular que isso fosse. Quando Blair se afastou, a 27 de Maio de 2007, e toda a gente pensava que iria disputar a liderança a Gordon Brown, David contentou-se com o Foreign Office. "Ainda não estou preparado para o nº 10". A frase valeu-lhe as primeiras críticas da ala blairiana do partido. Terá ele, afinal, a endurance que se espera de um líder? O killer instinct?As duas perguntas perseguem-no até hoje. Em 2008, quando Brown atravessava um dos seus piores momentos, quiseram empurrá-lo de novo e ele recusou. Em 2009, quando James Purnell, outras das estrelas da sua geração, abandonou o governo, bastava-lhe sair também para desferir o golpe fatal. Voltou a recusar. "Fiz o que me pareceu melhor para o país no meio de uma crise económica. " À sombra de David e de BrownE o que fazia, entretanto, o irmão? Avançava na sua sombra. A mesma escola secundária. Filosofia, Política e Economia no Corpus Christi (terminou com um second first, a segunda nota na escala). Um mestrado na LSE. Harriett Harman, outra mulher poderosa do Labour, oferece-lhe o primeiro emprego na política, convidando-o a escrever-lhe os discursos. É ela que lhe traça o destino, quando o apresenta a Gordon Brown, que o leva para o seu gabinete no Tesouro. De speechwriter a conselheiro económico, a sua carreira far-se-á à sombra do "irmão-inimigo" de Blair. Em 2003 pede uma licença sabática e vai para Harvard, mantendo-se afastado de um dos episódios mais duros da guerra entre o nº10 e o nº11 de Downing Street em torno da reforma dos serviços públicos. Esta providencial ausência vai permitir-lhe hoje garantir que não apoiou a guerra do Iraque, que foi "um erro terrível". Ninguém o ouviu dizer publicamente que era contra mas ele argumenta que estava nos States. É pela primeira vez candidato a deputado (por Doncaster) nas eleições de 2005, reunindo-se ao irmão na Câmara dos Comuns. Em 2007, quando Brown chega finalmente ao nº10, convida-o para ministro do Gabinete e, um ano depois, para suceder ao irmão na pasta do Ambiente que passa a chamar-se da Energia e Alterações Climáticas. Ganha reputação na cimeira de Copenhaga. Os dois irmãos encontram-se finalmente à mesa do Gabinete, o núcleo do governo britânico reservado apenas aos seniores. Antes deles, só Austen e Neville Chamberlain em 1931 e Edward Stanley e o seu irmão Oliver, em 1938. Ed "é mais descontraído, tem mais sentido de humor mas tem o mesmo intelecto poderoso", dizem os seus amigos. "O meu irmão sempre teve mais sorte com as raparigas", limita-se a brincar David. A amizade entre ambos sobreviveu à guerra entre os dois líderes do New Labour. "Tinham o cuidado de se afastar quando o sangue jorrava, para não serem salpicados. " Ed fez mesmo questão de assumir o papel de ponte. Os blairianos habituaram-se a vê-lo como a face aceitável do "inimigo" e Brown mandava-o às vezes em missão de paz. O pai não os educou para serem fiéis de ninguém. Agora, quando toda a gente se preparava para entronizar David, ele decide estragar-lhe a festa. Caim? Usurpador? Se perder, não perde tudo porque é o mais novo. Se ganhar, provavelmente acaba com a carreira política do irmão. Tem chances? Sim. David ficará provavelmente à frente na primeira escolha do colégio eleitoral. Mas o sistema de preferências, que funciona se não houver um vencedor à primeira volta, pode dar-lhe a vitória à segunda ou à terceira. Até lá, a imprensa espera, pelo menos, algum sangue. David evita atacar o irmão. O inverso não é verdadeiro. Ed está a subir de tom, tentando colar o irmão ao Iraque (muito impopular nas bases do partido e no eleitorado) e à figura de Blair. Os seus amigos fazem passar a mensagem de que David, qual Hillary, reclama a liderança como um direito adquirido. É escusado dizer quem é o Obama da história. Usa as suas desvantagens em matéria de idade e experiência para se apresentar como o candidato que melhor pode fazer o corte com a era de Blair e de Brown. Posiciona-se à esquerda, mesmo que apenas ligeiramente. Critica o momento em que o New Labour se esqueceu da justiça social para só pensar no mercado. Quer diminuir o gap entre ricos e pobres e acaba de aderir a uma campanha para aumentar substancialmente o salário mínimo. Já conseguiu o apoio dos maiores sindicatos, que detêm mais de um terço dos votos do colégio eleitoral. Apresenta-se como o melhor colocado para unificar o partido. "As pessoas tendem a esquecer-se de que ele foi treinado na escola nixoniana de Gordon Brown, onde as campanhas de difamação postas a circular nos tablóides contra os ministros que ousavam contrariar o chefe eram prática corrente", lembra Nick Cohen, colunista do Observer e autor do célebre livro What"s left, precisamente sobre a esquerda face ao dilema do Iraque. David representa a ala direita, mais liberal, do Labour e carrega a herança da "terceira via", que nunca foi muito popular no partido. Não tem, dizem os observadores, o charme do seu irmão nem o toque popular que o caracteriza. É demasiado racional, concordam críticos e apoiantes. Brains. Aluno brilhante da escola de Blair, David fala para fora do partido. Foi ele quem disse que a visão de David Cameron sobre a Big Society deveria ser "levada a sério". "Ela ocupa um terreno que nunca deveríamos ter permitidos aos Tories colonizar". Também ele anda à procura de uma nova relação entre os cidadãos e o Estado. A sua mensagem é simples: "Temos de olhar para o longo prazo porque esta coligação não vai cair amanhã (. . . ). "Ele agarra nos problemas lendo tudo, desenvolvendo uma análise coerente e só depois formulando uma politica. O que o entusiasma são as grandes ideias de longo prazo", explica um colaborador. Faltam-lhe a intuição e o carisma de Blair. Ralph Miliband morreu em 1994, quando o filho mais velho dava os primeiros passos num New Labour que era tudo o que ele não defendia para o socialismo. Marion ainda está viva. "A nossa mãe não se importa, porque nenhum de nós é o seu candidato preferido para liderar o partido", esclarece Ed. Marion prefere Diana Abbott, que é mulher, negra, da ala radical, que não falhou uma única manifestação contra a guerra do Iraque e que não se cansa de dizer que tudo o que o Labour não precisa é de dois intelectuais a dirigi-lo. Regresso a Primrose Hill Mas não há nada a fazer. A nova geração vai chegar ao poder no partido depois de ter passado toda a sua vida política no poder do país. Talvez por isso, muitos observadores digam que a política apenas lhes interesse "por metade". David confessou recentemente a uma revista americana que não fez frente a Brown em 2007 porque coincidiu com o processo de adopção do seu filho mais velho, Isaac, que era "a coisa mais importante para mim". É casado com Louise Shackelton, violinista da Orquestra Sinfónica de Londres, que nunca terá pretensões a Cherie Booth. Só agora aceitou afastar ligeiramente a cortina que sempre cobriu a sua intimidade familiar. Não deu explicações quando, em 2004, partiu para os EUA para adoptar o seu primeiro filho, Isaac, e a imprensa tablóide não hesitou em acusá-lo de estar a "comprar" crianças. Cash for Baby. Desde aí, "mantém um instintivo horror à imprensa", diz um amigo. Em 2007 adoptou um segundo filho, Jacob, também nos EUA, onde a sua mulher nasceu e cresceu. David e Louise tentaram durante nove anos conceber uma criança. Superaram a frustração "e a dor" e decidiram adoptar dois bebés recém-nascidos. "São verdadeiros heróis aqueles que abdicam de ter um recém-nascido", disse David, justificando a sua opção. Fizeram-no na América, onde existe a prática de os pais biológicos darem os filhos para adopção antes do seu nascimento. Cash for Baby. David nem sequer ripostou. Ed vive desde 2004 com a namorada, Justine Thornton, uma brilhante advogada educada em Cambridge e especializada em direito ambiental, de quem tem um filho de 14 meses, Daniel, e outro para nascer. Tudo isto se passa longe da ribalta. Há vida para além da política mesmo para quem bebeu a política desde nascença. Resta saber se esta família (a)normal sobreviverá à guerra "fratricida". No fim de contas, seja qual for o irmão que vença, tem pela frente uma longa e difícil tarefa: construir o pós-New Labour para responder ao pós-New Tories. O David tory é ainda o homem do momento e muita coisa dependerá daquilo que fizer nos próximos dois anos. Mas a paisagem politica britânica mudou com a sua eleição. Os fabulosos irmãos Miliband terão de provar que são capazes de o compreender. Antes precisam de provar que a história não se repete. Que não haverá, como em 1994, um "irmão" mais novo que conquista o lugar que o "irmão" mais velho considerava seu por direito próprio. Que tudo se fará à luz do dia e civilizadamente.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Centenas de guatemaltecos foram na década de 1940 vítimas de um "crime contra a humanidade"
O Presidente Álvaro Colom considerou hoje um “crime contra a humanidade” o facto de, entre 1946 e 1948, médicos norte-americanos terem infectado deliberadamente 700 guatemaltecos com sífilis e gonorreia, a fim de efectuarem experiências sobre a penicilina. (...)

Centenas de guatemaltecos foram na década de 1940 vítimas de um "crime contra a humanidade"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-10-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente Álvaro Colom considerou hoje um “crime contra a humanidade” o facto de, entre 1946 e 1948, médicos norte-americanos terem infectado deliberadamente 700 guatemaltecos com sífilis e gonorreia, a fim de efectuarem experiências sobre a penicilina.
TEXTO: Numa entrevista à BBC, Colom disse que os seus compatriotas - presos, doentes mentais e soldados - foram “vítimas do abuso dos direitos” humanos, ao serem deliberadamente infectados com doenças venéreas que podem causar problemas cardíacos, cegueira e até mesmo a morte. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já apresentou desculpas por estas experiências, agora reveladas pela investigadora Susan Reverby, do Wellesley College, do Massachusetts, que descobriu relatos do sucedido nos arquivos do médico John C. Cutter, falecido em 2003. Obama disse a Colom que as experiências efectuadas pelos cientistas norte-americanos durante a década de 1940 são contra os valores por que se rege a América do Norte. O Governo guatemalteco aceitou as desculpas, mas prometeu investigar o assunto mais a fundo. Washington também vai investigar o facto de dinheiro dos contribuintes norte-americanos, colocado no orçamento dos Institutos Nacionais de Saúde, ter servido inclusive para que prostitutas infectadas com sífilis terem sido postas a dormir com presos, para que estes servissem de cobaias. E quando esse esquema não funcionava a bactéria era inoculada nos pénis, no rosto ou nos braços dos guatemaltecos. Depois, quando ficavam infectados, dava-se-lhes antibióticos, de modo a experimentar a eficácia dos mesmos. Susan Reverbery afirma que o Governo guatemalteco do Presidente Juan José Arévalo, tido como um democrata e um nacionalista que esteve no poder de 1945 a 1951, dera autorização para que médicos norte-americanos do sistema federal de saúde procedessem às experiências que estão agora a ser alvo de grande condenação. Um caso macabroA Administração Obama ainda não se ofereceu para pagar qualquer indemnização por aquilo a que a imprensa da Guatemala já chama uma descoberta “macabra” e que teria mesmo afectado 1. 500 pessoas, e não só as 700 de que ontem falavam as primeiras notícias. Um porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, afirmou que tais notícias são “chocantes e trágicas”, tendo Álvaro Colom ordenado que se procurem na Guatemala arquivos referentes ao período de 1946 a 1948 e dito à CNN que ele próprio se encarregará de participar pessoalmente no apuramento de toda a verdade. Susan Reverbery descobriu este episódio quando estava a estudar documentos sobre o caso Tuskegee, no qual se observou atentamente o desenvolvimento da sífilis em 400 afro-americanos do Alabama, ao qual não foi permitido qualquer acesso a tratamentos. Decorreu essa experiência entre 1932 e 1972, ao longo de quatro longas décadas, num estudo clínico do U. S. Public Health Service. John C. Cuttler, em cujo espólio foi agora desvendado o mistério guatemalteco, trabalhava no Gabinete Sanitário Panamericano, precursor da Organização Panamericana de Saúde. E decidiu proceder a estudos sobre o efeito que teriam medicamentos contra a sífilis, a gonorreia e o cancróide, doença sexualmente transmissível. Mas fê-lo “ao estilo de um filme de ficção científica, pois que os objectos da investigação eram seres humanos”, conforme destacada hoje o “Prensa Libre”, o jornal de maior circulação na Guatemala. Soldados, prostitutas, pessoas com doenças mentais e reclusos funcionaram como autênticos “porquinhos da Índia”, inclusive com a colaboração de alguns ministérios guatemaltecos, tendo-se passado tudo em quartéis, bordéis, penintenciárias e até mesmo num hospital neuropsiquiátrico da Cidade da Guatemala.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos doença estudo abuso pénis
Lady Gaga triunfa nos MTV Europe Music Awards
A norte-americana Lady Gaga, de 24 anos, ganhou três prémios MTV Europe Music Awards: melhor artista feminina, melhor artista pop e melhor canção (“Bad Romance”). O adolescente Justin Bieber, de 16 anos, foi considerado o melhor artista masculino do ano. O Best Portuguese Act foi ganho pelos Nu Soul Family. A cerimónia decorreu em Madrid. (...)

Lady Gaga triunfa nos MTV Europe Music Awards
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: A norte-americana Lady Gaga, de 24 anos, ganhou três prémios MTV Europe Music Awards: melhor artista feminina, melhor artista pop e melhor canção (“Bad Romance”). O adolescente Justin Bieber, de 16 anos, foi considerado o melhor artista masculino do ano. O Best Portuguese Act foi ganho pelos Nu Soul Family. A cerimónia decorreu em Madrid.
TEXTO: Lady Gaga - que já tinha recebido oito prémios na gala MTV Video Music Awards de Setembro último, em Los Angeles - agradeceu as distinções a partir de Budapeste, onde se encontrava a dar um concerto. Para além de ter sido considerado o melhor artista masculino do ano, o canadiano Bieber recebeu ainda o prémio Best Push Act. Ao aceitar os prémios, o adolescente disse que os restantes artistas que estavam nomeados (Usher, Kanye West, Enrique Iglesias e Eminem) são uma grande inspiração para o seu trabalho. Kathy Perry, de 25 anos, outra grande favorita da noite, estando nomeada em cinco categorias, acabou por ter de se contentar apenas com o prémio para o Melhor Vídeo, com “California Gurls”. A cerimónia, transmitida em directo para todo o mundo e seguida por 46 milhões de fãs, de acordo com a MTV, foi apresentada por Eva Longoria - a actriz de “Donas de Casa Desesperadas” - que trocou 13 vezes de vestido durante a cerimónia, incluindo um em forma de perna de presunto que parodiava o recente “fato de bifes” usado por Lady Gaga. A cantora Ke$ha foi decretada, aos 23 anos, Revelação do Ano 2010 e o prémio de Melhor Grupo Rock foi entregue aos 30 Seconds to Mars. Eminem - que também não esteve presente por causa de um concerto no Brasil - foi designado como o Melhor Artista Hip Hop e os Bon Jovi receberam o Global Icon Award pelo quarto de século das suas carreiras. Na categoria de Melhor Grupo Alternativo venceram os Paramore (batendo os Arcade Fire, Vampire Weekend, Gorillaz e Gossip), que se tornaram conhecidos do grande público ao participarem na banda sonora do primeiro filme da saga “Crepúsculo”. A colombiana Shakira, que teve honras de abertura da cerimónia com o seu “Waka waka” - o hino do último Mundial de Futebol da África do Sul - recebeu o prémio Free Your Mind pela sua ajuda às crianças sul-africanas e colombianas no acesso à educação. Os MTV Europe Awards foram criados em 1994 por aquela estação de televisão como alternativa aos Grammys - os prémios anuais da indústria musical norte-americana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação ajuda adolescente cantora
Chamam-lhe Nelson Mandela da Birmânia
Há sete anos que não podia andar livremente pelas ruas de Rangum. Nem sair de casa, ou receber visitas. Não tinha telefone nem Internet. Ainda assim, Aung San Suu Kyi não deixou de ser o rosto mais conhecido da resistência birmanesa. Não foi por acaso que só ficou em liberdade uma semana depois das primeiras eleições em 20 anos. (...)

Chamam-lhe Nelson Mandela da Birmânia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há sete anos que não podia andar livremente pelas ruas de Rangum. Nem sair de casa, ou receber visitas. Não tinha telefone nem Internet. Ainda assim, Aung San Suu Kyi não deixou de ser o rosto mais conhecido da resistência birmanesa. Não foi por acaso que só ficou em liberdade uma semana depois das primeiras eleições em 20 anos.
TEXTO: Aung San Suu Kyi avisou: o isolamento chegou mesmo ao fim e vai comunicar com jovens de todo o mundo através do Twitter. A Nobel da Paz passou 15 dos últimos 21 anos detida e as redes sociais não faziam parte das suas rotinas porque praticamente qualquer contacto com o exterior lhe estava negado. Sabe-se que durante este tempo acordava às quatro da manhã para rezar, às vezes durante horas, e que depois ligava os seus cinco rádios, a única ponte com o mundo. De resto, lia em birmanês e inglês livros de filosofia, biografias, romances. Melhorou o seu francês e japonês. Tocava Bach no piano. É bem visível que a sua casa de dois andares, quase centenária, à beira do lago Inya, em Rangum, já necessita de reparações. Foi lá que viveu, com as suas duas empregadas de longa data, Khin Khin Win e a filha Win Ma Ma, caricatamente submetidas à mesma pena que a patroa, escrevia o “Guardian”. Visitas eram poucas, mas sempre que podia U Nyan Win, o seu advogado, porta-voz da Liga Nacional para a Democracia (LND) e um dos poucos autorizados a vê-la, levava-lhe a “Time” e a “Newsweek”. Para além disso, tinha direito a uma consulta mensal com o seu médico de família, e todos os dia alguém lhe entregava a mercearia em casa, adianta o jornal britânico. Há quem goste de a comparar a Nelson Mandela, na sua luta pacífica contra o apartheid sul-africano, porque Suu Kyi é também um símbolo da resistência sem armas. Uma mulher charmosa, com uma figura frágil, e que no entanto tem conseguido manter-se como o mais temível inimigo da poderosa junta militar. Nascida a 19 de Junho de 1945, a filha do herói da independência birmanesa, o general Aung San, e de uma lutadora pelos direitos políticos das mulheres, frequentou as melhores escolas de Rangum. Diz-se que herdou do pai o sentido de dever para com o país, e da mãe, Daw Khin Kyi, a capacidade de perdoar (falava sem ódio dos assassinos do marido, morto quando Suu Kyi tinha apenas dois anos e a seis meses do fim do domínio britânico). Em 1960 partiu para a Índia com a mãe, nomeada embaixadora em Nova Deli. Seria o início de uma longa temporada no estrangeiro. Quatro anos depois foi para a Universidade de Oxford, estudar filosofia. Foi ali que conheceu o académico Michael Aris, com quem casou e teve dois filhos, Alexander e Kim. Mas antes de se tornar dona de casa para se dedicar às crianças, Suu Kyi viveu e trabalhou nos EUA, no Japão e no Butão. A luta pela democraciaO regresso à Birmânia só aconteceu em 1988, para acompanhar a doença da mãe. Foi um momento de viragem decisivo. O país estava em convulsão. “Eu não podia, sendo filha do meu pai, ficar indiferente a tudo o que se estava a passar”, contaria num discurso nesse mesmo ano. E o que se estava a passar eram manifestações de estudantes, monges e funcionários a exigir democracia. Em Agosto desse ano, Suu Kyi falava pela primeira vez em público com palavras simples e uma dignidade que nunca mais se desvaneceria, mesmo nos piores momentos, trespassando o coração dos birmaneses, refere a AFP. Deixou-se inspirar pelo líder dos direitos civis norte-americanos, Martin Luther King, e pela referência indiana, Mahatma Gandhi, organizando protestos por todo o país a exigir eleições livres. A resposta dos militares foi mais uma vez brutal. O general Ne Win, no poder desde 1962, não pretendia ceder. Depois de milhares de mortos, outro general, Saw Maung, liderava o golpe de Estado que instalou o Conselho para a Restauração da Lei e da Ordem (a junta militar mudaria depois de nome para Conselho do Estado para a Paz e Desenvolvimento). Em 1990 realizou-se o escrutínio exigido nas ruas e o resultado dificilmente poderia ter sido mais humilhante para a junta militar: a Liga Nacional para a Democracia, criada por Suu Kyi um ano antes, conseguiu eleger 392 dos 485 assentos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA