Dinamarca: anúncio de mais uma deriva eurocéptica?
Na Dinamarca é mais fácil ganhar eleições do que formar governos. Mas prevalece a arte do compromisso. Num país com outra cultura política, o quadro saído das eleições de quinta-feira seria um puzzle insolúvel. Para alguns, os resultados “anunciam uma nova era política” na Dinamarca e terão efeitos na Europa — o risco de mais uma frente eurocéptica. A direita ganhou e a esquerda perdeu: “o bloco azul” (quatro partidos de direita) obteve 90 mandatos e o “vermelho” (cinco de esquerda) 89. Mas o vencedor foi outro: o Partido do Povo Dinamarquês (DF), de Kristian Thulesen Dahl, que ficou em segundo lugar e passou de ... (etc.)

Dinamarca: anúncio de mais uma deriva eurocéptica?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-08 | Jornal Público
TEXTO: Na Dinamarca é mais fácil ganhar eleições do que formar governos. Mas prevalece a arte do compromisso. Num país com outra cultura política, o quadro saído das eleições de quinta-feira seria um puzzle insolúvel. Para alguns, os resultados “anunciam uma nova era política” na Dinamarca e terão efeitos na Europa — o risco de mais uma frente eurocéptica. A direita ganhou e a esquerda perdeu: “o bloco azul” (quatro partidos de direita) obteve 90 mandatos e o “vermelho” (cinco de esquerda) 89. Mas o vencedor foi outro: o Partido do Povo Dinamarquês (DF), de Kristian Thulesen Dahl, que ficou em segundo lugar e passou de 12, 3 para 21, 1%. É o partido “anti-imigrantes” e “anti-Europa”. Quem perde ganha? O futuro primeiro-ministro deverá ser o liberal Lars Lokke Rasmussen: o seu partido ficou em terceiro lugar e teve o pior resultado desde há 25 anos. Sucede à social-democrata Helle Thorning-Schmidt, cujo partido foi o que teve mais votos e deputados. Em 2011, aconteceu o inverso: Rasmussen teve mais votos e os sociais-democratas tiveram o pior resultado em 100 anos; mas foi Thorning-Schmidt quem conseguiu reunir uma maioria. Os governos são frequentemente minoritários e sustentados por acordos parlamentares duramente negociados e, por vezes, de “geometria variável”. Ignora-se se Dahl optará por entrar no Governo ou se negociará um acordo de apoio parlamentar com Rasmussen, o que lhe daria maior liberdade de manobra. “Para nós, o impacto político é muito mais importante do que termos ou não ministros”, diz um dos seus dirigentes. A ideia é tornar o Governo refém — “100% dependente de nós”. Mas pode ser uma mera manobra no leilão de ministérios. Observa o jornalista dinamarquês Fleming Rose que os dois partidos vão ter de conciliar posições extremas. Rasmussen é (ou era) o mais europeísta dos políticos dinamarqueses. Dahl é eurocéptico e quer a realização de um referendo sobre a permanência na UE. Rasmussen defende o respeito por Schengen, enquanto Dahl exige o fecho das fronteiras. Os liberais querem cortar a despesa social e o DF quer aumentá-la — a sua política social é mais próxima da dos sociais-democratas. Quem tenha seguido a série dinamarquesa Borgen pode imaginar que tudo se pode arranjar. Carl Bildt, antigo primeiro-ministro sueco, é mais céptico: “A cena política está muito mais fracturada. Será difícil formar Governo. [Os dois blocos] são ideologicamente menos coerentes do que no passado. ”Uma palavra sobre Helle Thorning-Schmidt: foi acusada de ter “traído” o seu programa eleitoral e continuado a política de rigor económico do Governo anterior. Tornou-se impopular. Só recomeçou a subir nas sondagens com os resultados económicos de 2014. Resumiu assim a sua política: perante o envelhecimento da população e a necessidade de restaurar a competitividade da economia, a questão não era conservar, mas garantir a perenidade do “modelo dinamarquês”, tornando-o menos dispendioso. “Penso que encontrei a boa fórmula: não ser popular, mas fazer o que era preciso. ”Há uma ironia na sua derrota: os bons resultados económicos passaram a economia para segundo plano, o que colocou a imigração no coração da campanha. A ambição de DahlHá uma nota prévia a fazer sobre as mudanças de sensibilidade social na Dinamarca. Não é um problema de xenofobia. O fracasso do multiculturalismo e a incapacidade de integrar grande parte dos imigrantes, sobretudo os refugiados, puseram em causa a “generosidade nórdica”. A isto se somam, em relação aos muçulmanos, os ecos da crise das “caricaturas de Maomé” (2005) e o trauma do massacre do Charlie Hedbo, em Paris, seguido de dois atentados em Copenhaga cometidos por um dinamarquês de origem palestiniana. A Europa está a sofrer uma enorme pressão migratória. Mas a Dinamarca não é o país mais afectado. A Suécia ou a Alemanha são-no muito mais. De resto, Copenhaga beneficia de uma excepção na política comunitária de imigração e asilo, de que não faz parte. Explica o jornalista dinamarquês Klaus Kragh que o DF conseguiu impor à sociedade a sua equação: “Podemos conservar o nosso Estado-Providência com o custo que os refugiados representam? O DF fez com que todas os temas se orientem em torno do Estado-Providência, do estrangeiro e da pressão do exterior. ”Foi o segredo da sua campanha eleitoral. “Penso que o Estado-Providência apenas pode existir numa sociedade relativamente fechada”, afirma Soren Espersen, líder do grupo parlamentar do DF.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Canadá pede desculpa por não ter evitado a morte de 254 judeus
Em 1939, o Canadá rejeitou o desembarque de um navio com 907 judeus alemães que fugiam ao regime nazi. O navio foi obrigado a regressar à Europa, e pelo menos 254 passageiros morreram em campos de concentração. (...)

Canadá pede desculpa por não ter evitado a morte de 254 judeus
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 1939, o Canadá rejeitou o desembarque de um navio com 907 judeus alemães que fugiam ao regime nazi. O navio foi obrigado a regressar à Europa, e pelo menos 254 passageiros morreram em campos de concentração.
TEXTO: O primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau pediu desculpa em nome do Canadá por, em 1939, o país ter rejeitado o desembarque de um navio que transportava 907 refugiados judeus que tentavam fugir da Alemanha Nazi. O navio alemão MS St Louis e os seus passageiros já tinham sido igualmente rejeitados por Cuba e pelos Estados Unidos. Sem autorização para desembarcar, o navio regressou à Europa. Após o retorno, 254 passageiros acabariam por ser assassinados durante o Holocausto. "Lamentamos a insensibilidade da resposta do Canadá. Recusámos ajudá-los quando podíamos tê-lo feito. Contribuímos para selar os destinos cruéis de muitos deles em lugares como Auschwitz, Treblinka e Belzec. E por isso, pedimos desculpa", declarou o primeiro-ministro canadiano, na quarta-feira, durante o seu discurso na Câmara dos Comuns, em Ottawa. Apesar de terem conseguido vistos par entrar no Reino Unido, Holanda, Bélgica e França, os passageiros do navio acabaram por não conseguir escapar aos campos de concentração nazis. “Pedimos desculpa às mães e pais das crianças que não salvámos e às filhas e aos filhos dos pais que não ajudámos. Não restam grandes dúvidas de que o nosso silêncio permitiu que os nazis avançassem para a sua ‘solução final’ em relação ao que chamavam de ‘problema judaico’”, acrescentou, citado pelo Guardian. "Usámos as nossas leis para mascarar o nosso anti-semitismo, a nossa antipatia, o nosso ressentimento", disse Trudeau. “Lamentamos a insensibilidade da resposta do Canadá. E sentimos muito por não ter pedido desculpas mais cedo. ” Escreve o New York Times que, entre 1933 e 1945, o Canadá concedeu asilo a 5 mil judeus. Um número muito inferior aos 70 mil refugiados aceites por Inglaterra e os 200 mil aceites pelos Estados Unidos. O primeiro-ministro acrescentou ainda que, após o recente massacre numa sinagoga norte-americana, os judeus canadianos se sentem novamente “vulneráveis”. Descrito como o mais “mortífero ataque à comunidade judaica norte-americana”, o tiroteio na Pensilvânia fez 11 vítimas. “Estes trágicos acontecimentos recentes mostram que ainda temos trabalho a fazer”, vincou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Antes do discurso, o primeiro-ministro canadiano esteve reunido com Ana Maria Gordon, uma das passageiras sobreviventes do navio a que o país negou desembarque, e que agora vive no Canadá. No último ano, Justin Trudeau pediu também desculpa à comunidade LGBTQ pelo sofrimento causado pela acção do Governo do Canadá ao longo dos anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração ataque comunidade
Django perdoa? Nós, não
Etienne Comar não filmou a vida de Django Reinhardt, mas meteu-o num convencionalíssimo filme de guerra que é uma das mais desinspiradas aberturas de Berlim em anos. A música é boa, mas o filme é fraco. (...)

Django perdoa? Nós, não
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761451
SUMÁRIO: Etienne Comar não filmou a vida de Django Reinhardt, mas meteu-o num convencionalíssimo filme de guerra que é uma das mais desinspiradas aberturas de Berlim em anos. A música é boa, mas o filme é fraco.
TEXTO: "Venho à espera de filmes controversos!", dizia o sulfuroso holandês Paul Verhoeven, presidente do júri de Berlim, em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung. Berlim, afinal, tem a reputação de ser um “festival do tema” — ainda no ano passado, o Urso de Ouro foi para o documentário de Gianfranco Rosi sobre os refugiados, Fogo no Mar. O actor Diego Luna, na conferência de imprensa de apresentação do júri do qual faz parte (com as actrizes Maggie Gyllenhaal e Julia Jentsch, a produtora Dora Fourati, o realizador Wang Quan’an e o artista Olafur Eliasson), completava as declarações do seu presidente: "Não estamos aqui para enviar mensagens, mas para ouvir vozes diferentes, para as celebrar. "Como abertura, contudo, há que dizê-lo com frontalidade: Django, primeira realização do francês Etienne Comar, não surpreende, não cria controvérsia, não convence, não traz nada que justifique a atenção. É uma das mais desinspiradas escolhas para a abertura de Berlim em bastante tempo, o exemplo perfeito de um filme que tem ideias mas que não tem a arte para as levar a cabo. Tem, ainda assim, uma coisa a seu favor: o olhar sobre o modo como o regime nazi tratou a etnia cigana, que raramente o cinema dito mainstream explorou. Mas mesmo esse olhar sobre os ciganos se perde numa abordagem algo canhestra, cheia de boas intenções mas incapaz de evitar os lugares-comuns mais puídos. É caso para dizer que Comar, produtor (de Xavier Beauvois, Maiwenn ou Abderrahmane Sissako) e argumentista, não tem unhas para a guitarra que quis tocar – e, ainda por cima, é a guitarra de Django Reinhardt (1910-1953). E se a música continua a ser muito boa, o filme não lhe faz justiça nenhuma. Esse é o primeiro problema: não vale a pena vir aqui à espera de uma biografia tradicional de Reinhardt, nem de um olhar sobre a sua música, porque o que Comar faz, adaptando uma “biografia ficcionada” do guitarrista escrita por Alexis Salatko, é muito mais uma convencional história de um homem em processo de aprendizagem da cidadania e da resistência. Reinhardt, interpretado por Reda Kateb com presença mas sem convicção, é a coqueluche da Paris ocupada durante a Segunda Guerra Mundial e recebe um “convite” daqueles que não se podem recusar para tocar na Alemanha, mas só depois de compreender que os ciganos estão a ser alvo da perseguição nazi é que a sua consciência acorda. O músico que só queria fazer música percebe que, afinal, não pode escapar à sua identidade de cigano; herói entre os seus por ter conseguido uma aclamação internacional (que até os alemães, até certo ponto, admiravam), percebe que esse estatuto arrasta consequências que não pode ignorar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E arrasta também o segundo problema: Django transforma-se numa daquelas histórias de abnegação e heroísmo em tempo de guerra que fizeram as grandes horas do cinema nos anos 1950 e 1960. Muitos dos factos que Comar intercala na sua narrativa ficcionada são verídicos, o filme teve a bênção dos herdeiros de Reinhardt, e — à excepção de Kateb e de Cécile de France, no papel de uma patrona das artes com aparentes amizades equívocas — os actores secundários são não-profissionais, oriundos da comunidade cigana ou músicos. Mas essa vontade de realismo escorrega brutalmente na casca de banana do lugar-comum simplista da aventura de guerra. E Django sofre o mesmo destino que o lendário swing contagiante do guitarrista belga, ao ser manietado pelas regras metronómicas dos censores nazis: música de fundo para jantares de gala, ou, no caso, telefilme preguiçoso de domingo à tarde. A ideia de pegar num artista que descobre que não pode fugir a tomar partido pela simples dignidade e humanidade é boa. É até perfeitamente relevante para os nossos dias. Mas para isso era preciso que Etienne Comar fosse capaz de lhe injectar energia ou urgência. É uma entrada com o pé esquerdo para Berlim 2017, à espera de que o que aí vier compense o tropeção — com ou sem controvérsia.
REFERÊNCIAS:
O Parlamento Europeu tem "cada vez mais antieuropeus na bancada"
“Há uma falta de pedagogia dos governos face às vantagens da Europa”, diz o diplomata que se confessa também “muito céptico” sobre a aplicação do Tratado de Lisboa aos casos da Polónia e Hungria: as penalizações contra a violação dos valores europeus foram pensadas para outros tempos e “são dificilmente adaptáveis”. (...)

O Parlamento Europeu tem "cada vez mais antieuropeus na bancada"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.333
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Há uma falta de pedagogia dos governos face às vantagens da Europa”, diz o diplomata que se confessa também “muito céptico” sobre a aplicação do Tratado de Lisboa aos casos da Polónia e Hungria: as penalizações contra a violação dos valores europeus foram pensadas para outros tempos e “são dificilmente adaptáveis”.
TEXTO: Francisco Seixas da Costa, o diplomata que fez boa parte da carreira em organizações internacionais multilaterais, foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus entre 1995 e 2001. Nesse período, representou Portugal nas negociações dos tratados de Amesterdão e Nice. Foi já como observador que assistiu ao desfecho do Tratado de Lisboa, com o qual, diz, "a Europa iludiu-se a si própria". Esteve nas negociações do Tratado de Nice que subiu o número de eurodeputados após o alargamento a 27 e reforçou os seus poderes. Quais as dificuldades dessa negociação?Os alargamentos da União Europeia (UE) levaram quase sempre à mudança dos tratados, a mais neutral foi a suscitada pela entrada de Portugal e Espanha. O alargamento aos países do Leste, um imperativo de natureza política e estratégica, levou a uma reflexão na União para alterar os tratados e adaptá-los às novas exigências. Os que se habituaram numa UE a 12 ou a 15 a ter o poder de decisão essencial não quiseram que numa União largada essa capacidade fosse fortemente afectada. Muitas das alterações dos tratados de Nice e de Lisboa - antes houve a tentativa de Tratado Constitucional - têm a ver com as relações de poder e a necessidade de alguns países justificarem às suas opiniões públicas que o facto de serem contribuintes líquidos e de terem um peso demográfico grande determinava mais poder no processo decisório. Por isso, há países que pela introdução do novo mecanismo de decisão do Tratado de Lisboa procuraram garantir que em cada decisão de Bruxelas havia um número mínimo de países representados, 55%, e que as decisões correspondiam, no mínimo, a 62% da população. A negociação foi difícil?Foi difícil porque pela primeira vez traz uma realidade nova na União, que é a distinção. No passado, a França e a Alemanha tiveram a mesma posição em número de votos, de eurodeputados e de comissários. Em Nice, tudo muda. A Alemanha passa a ter mais eurodeputados que a França, o factor demográfico passar a ter mais importância e reforça o país mais populoso, a Alemanha, o que foi difícil para os franceses. O Tratado Constitucional era uma compensação para Paris?Era a vitória de uma certa Europa política, era um avanço para a unidade política, que não era federalista no sentido tradicional, mas traduzia um salto qualitativo de natureza quase semântica no processo europeu. O Tratado Constitucional não era muito diferente do que acabou por ser o Tratado de Lisboa, mas o facto de aparecer como Constitucional foi lido em muitos países como um salto em frente que criava uma subordinação demasiado grande das entidades nacionais face às europeias. Um passo maior que a perna?Claramente. A prova foi que a primeira rejeição é na Holanda, seguida da França e o processo parou. Ironicamente podemos dizer que, se a primeira rejeição tivesse sido em Portugal, seguida da Irlanda, as coisas teriam sido diferentes. O interessante é que a Europa consegue este milagre, o de se iludir a si própria, isto é renegociar um tratado, o Tratado de Lisboa, que no fundo não é muito diferente do anterior, o Constitucional. Em primeiro lugar, a criação de um presidente do Conselho Europeu que evita que seja o primeiro-ministro do país com a presidência [de turno] a garantir em termos funcionais por seis meses essa mesma presidência. Criou-se um Alto Representante para a Política Externa e de Segurança que passou a vice-presidente da Comissão Europeia. Ao sê-lo, há pela primeira vez na história da UE, uma ligação entre duas instituições que em princípio são separadas. O facto de o Alto Representante ser do Conselho de Ministros e ao mesmo tempo vice-presidente da Comissão permite maior coerência entre as funções das duas entidades. Em Lisboa, houve também o reforço dos poderes do Parlamento Europeu. Pode-se ir mais longe?Aumentaram os poderes de co-decisão, os poderes do Conselho com o Parlamento. Houve necessidade de equilibrar o que sempre se chamou défice democrático. Convém lembrar que, quando começou, o Parlamento Europeu era constituído por parlamentares que vinham dos parlamentos nacionais e só depois passam a ser eleitos. À medida que ganha poderes, o Parlamento Europeu deixa de ser apenas um órgão declaratório, passa a decisório, e cada vez mais os Estados têm cuidado com quem enviam para o Parlamento Europeu. Hoje, o Parlamento Europeu ganhou poderes muito importantes no Orçamento e passou a ter um papel mais decisivo nas áreas legislativas em que o Conselho decidia por maioria qualificada. O aumento dos processos de co-decisão, a relação entre o Parlamento e o Conselho foi alargada a mais áreas, o que significa que no Parlamento Europeu os deputados passam a ter um acesso e poder em sectores e áreas temáticas mais importantes. Os lobbies europeus - lobbies no sentido positivo - passaram a ter um papel junto dos deputados, o que dá mais protagonismo e força ao Parlamento e maior legitimidade às decisões da União. E retira ao Conselho o ónus da decisão, que é partilhada. O que levanta outro problema que o Tratado de Lisboa procurou resolver, o papel dos parlamentos nacionais. No Tratado de Lisboa, estes recebem alguma recuperação de poderes segundo o princípio da subsidiariedade e a capacidade de rever algumas decisões europeias. Não sei se utilizaram estas capacidades, provavelmente foi algo cosmético. Porquê cosmético?Sempre foi tensa a relação dos parlamentos nacionais com o Parlamento Europeu, na ideia de quanto mais reforçarmos este menos poderes têm os nacionais. Há parlamentos que sentem o desapossar dos poderes pela Europa de forma dramática, o caso mais evidente é o britânico. É aqui que está o motivo de a opinião pública olhar de soslaio para o Parlamento Europeu, apesar de consagrada a petição pública para propostas legislativas?Julgo que o princípio da petição de um milhão de cidadãos fazer uma proposta à Comissão nunca foi utilizado. Nesta decisão do Tratado de Lisboa há um aspecto do politicamente correcto. Não há uma opinião pública europeia, mas 28, as nacionais mobilizadas por uma agenda de interesses e preocupações diversas. Com o alargamento dos últimos anos, como vimos nas crises norte-sul em matéria económico-financeira, e leste-oeste com os refugiados, esta diversidade que é rica é também uma fraqueza para a identidade da UE. Um alemão sabe que o seu governo é sempre relevante no aspecto europeu, pelo que há uma hierarquia subliminar que dita uma diversa mobilização para as eleições europeias. O cidadão português sente que a sua voz, com 20 deputados – os alemães têm 90 -, é menos importante, o que o leva à abstenção. Qual é a forma de resolver a situação?A realidade será sempre esta, mas há uma falta de pedagogia dos governos face às vantagens da Europa. Os governos quase sempre procuram que a UE seja o bode expiatório do que corre mal e que as suas decisões sejam a glória nacional. A Europa passa da Europa das soluções a ser a dos problemas, o que é muito complicado de reverter. Mesmo em Portugal, com postura favorável à vida europeia, há uma degradação objectiva, por um conjunto variado de factores. Um deles é que as novas gerações não têm ideia do que era Portugal antes de estarmos na União. Sendo o Parlamento a bancada de excelência do multilateralismo, que efeitos têm as actuais críticas à multilateralidade?A grande perversão que afecta o Parlamento Europeu, e uma ironia democrática, é de ter cada vez mais antieuropeus na bancada. A democracia tem esta fragilidade, a de abrir caminho aos seus inimigos, mas não podemos pôr só no parlamento quem pensa e está a favor da Europa. Nos últimos anos, devido a uma certa má vontade suscitada por políticas europeias, aumentou o número de deputados eurocépticos e eurocríticos. "Europrudentes" como diriam alguns em Portugal. Somado a isto, há o facto de alguns governos nacionais terem uma atitude extremamente reticente face ao projecto europeu, que vão ter direito, após as eleições europeias e a substituição da Comissão, a nomear um comissário que pode ir com ideias antieuropeias. Estas ideias, somadas às de outros comissários da mesma linha, ainda que minoritários mas com eco nos deputados eurocépticos, leva a uma espécie de quinta coluna que vai introduzir clivagens hoje inexistentes. Por isso, estas eleições europeias são das mais importantes porque estamos pela primeira vez com uma União muito diversificada, com sensibilidades diferenciadas, algumas das quais quase no limite da coerência dos princípios que esses países subscreveram quando entraram. Arriscamo-nos que essa diversidade possa bloquear o funcionamento da União. Depois do "Brexit" é cordial a revisão prevista do número de eurodeputados por país? Haverá um rateio, cuja lógica foi feita em Nice. A discussão agora estará a ser feita de forma mais racional, mas seguramente quem vai ganhar com a repartição vão ser os maiores países que, também é verdade, numa lógica relativa estão desprotegidos. Isto é, o seu número de deputados não corresponde necessária e automaticamente à sua população. Não sei se mais um ou menos um deputado é relevante ao nível das decisões, mas é simbólico e na UE, onde estamos a transferir para uma gestão comum um conjunto de valores de soberania, o simbolismo é importante para além do valor objectivo do processo decisório. E os Estados mais pequenos e pobres, que estão ligeiramente distanciados do padrão médio de interesses do projecto legislativo em Bruxelas, necessitam de mostrar às suas opiniões públicas que não estão desmunidos de influência sobre o projecto europeu. Os eurodeputados aprovaram duas propostas para a aplicação do artigo 7. º do Tratado de Lisboa à Hungria e Polónia por quebra dos valores europeus. Que efeitos práticos terá isso?E, senão tiver, o que acontece?É uma boa questão que só o futuro vai responder. Vejo com cepticismo a possibilidade de esses mecanismos irem até ao fim. Sabemos que a comunidade é uma comunidade de interesses, por vezes para além dos princípios, e que o isolamento de um país pode configurar a afectação de interesses, por exemplo, de natureza económica. Tenho a sensação de que a UE, por vezes, dá mais relevo e importância ao bom relacionamento e que será capaz de flexibilizar políticas para garantir esse bom entendimento. Estou muito céptico sobre a aplicação do artigo 7. º do Tratado de Lisboa. Foi em Nice que, durante a presidência portuguesa e com o caso austríaco em fundo, que introduzimos esta norma para contrariar a deriva de algum Estado-membro. Pensávamos que eventualmente um Estado pudesse sair dos carris, só que hoje há vários a saírem dos carris e os mecanismos previstos no Tratado de Lisboa são dificilmente adaptáveis. Há países que, mesmo que não tenham saído dos carris, estão pouco disponíveis a associarem-se a uma medida punitiva que, mais tarde, pela sua própria evolução interna que não podem prever, lhes possa a vir a ser aplicada. A criação de um precedente pode-lhes ser negativa. Se a comunidade de interesses está acima dos princípios, o que resta da União?A União fez uma opção estratégica que teve o seu preço. Quando foi criada funcionava apenas na base de algumas questões económicas e a sua homogeneidade política e ideológica era muito grande. A entrada de Portugal, Espanha e Grécia foi neutral face a estes equilíbrios. E foram muito compensados com fundos comunitários que melhoraram a paisagem, os bolsos e tiveram impacto na mudança das mentalidades, porque na altura a União era um clube de países ricos. O alargamento à Áustria, Suécia e Finlândia, reforçou o pilar neutralista no sentido de segurança e defesa. Depois entraram os países do Leste, mais interessados em serem membros da NATO do que da UE, têm mais gratidão aos Estados Unidos do que a Bruxelas, e trouxeram para a União todas as suas idiossincrasias, os seus problemas internos e as suas minorias. A UE quando fez este alargamento não teve a noção da "Babilónia" que aí vinha. Na altura tínhamos a noção de que a ânsia dos países do centro e leste europeu se tornarem membros da União era tal que, para eles, era uma espécie de colonização política do leste. Também trouxeram outra questão difícil de resolver. Ao longo de décadas esses países tinham visto as suas soberanias tuteladas por Moscovo, pelo que tornou-se muito difícil pô-las em partilha na União Europeia, quando as tinham acabado de recuperar. Por isso, há um esforço de repatriação da soberania, que se vê claramente na Polónia. O mundo actual, entre a financeirização da economia e o capitalismo autoritário asiático, retira espaço ao discurso dos valores europeus?Hoje fala-se de 80% de economia e 20% do resto, a União vive marcada por um discurso económico-financeiro limite. Mais do que isso, dividida por esse discurso, como se viu durante a crise de 2007. Quando se fala de valores dá-me a ideia que se lhes dedica uns minutos escassos. Habituámo-nos na UE, com diferenciações nacionais em função das constituições, a um certo modelo liberal e democrático assente em princípios que os Estados-membros se comprometiam a subscrever nos critérios de Copenhaga que estão na Carta dos Direitos Fundamentais e plasmados nos tratados. Hoje verificamos que certos governos europeus estão polarizados e seduzidos por modelos de natureza autoritária, de suposta eficácia na governação, que os transforma em democraturas, democracias que têm qualquer coisa de ditaduras. Pensávamos que isto só ocorria em países como a Turquia, Singapura ou as Filipinas, nunca na UE, mas não deixa de a afectar e a alguns governos europeus que se sentem com as mãos suficientemente livres para tentarem algumas aventuras. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Até onde pode resistir a Europa?O teste são as eleições europeias. Estamos sem liderança europeia, o governo alemão que era fundamental para a direcção europeia está em crescentes fragilidades internas. O francês está em situação difícil e vivemos um tempo dramático em Itália, que durante anos foi elemento garantido no processo europeu e que tem derivas que não só põem em causa os equilíbrios económico e financeiros europeus como os princípios básicos que pensávamos adquiridos em matéria de respeitos de direitos humanos e de minorias. Estamos em tempos muito complexos, é preciso ser muito optimista para ser optimista. A frase sobre os modelos de democraturas foi corrigida às 12h30.
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO UE
Ana Gomes e Timor-Leste: “Fiz muitas coisas que não estavam no cardápio diplomático”
O fim da ditadura de Suharto e o processo democrático da Indonésia abriram a janela de oportunidade para mudar os dados da relação entre Lisboa e Jacarta. Não foi um caminho plano, houve escolhos, sobressaltos e não poucas incertezas. (...)

Ana Gomes e Timor-Leste: “Fiz muitas coisas que não estavam no cardápio diplomático”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O fim da ditadura de Suharto e o processo democrático da Indonésia abriram a janela de oportunidade para mudar os dados da relação entre Lisboa e Jacarta. Não foi um caminho plano, houve escolhos, sobressaltos e não poucas incertezas.
TEXTO: Há pouco mais de 16 anos, a 20 de Maio de 2002, Timor-Leste tornou-se o primeiro Estado soberano do século XXI. A independência do território mobilizou a sociedade portuguesa num movimento sem precedentes, dinamizou a diplomacia e passou a ser a causa nacional bem-sucedida. Ana Gomes foi o rosto para a opinião pública de um combate ao estilo de David contra Golias, entre a Indonésia e Portugal, com o futuro de Timor em cima da mesa. “Fiz coisas que não estavam no cardápio diplomático”, admite a antiga diplomata. “Fiz muitas coisas à margem da diplomacia como cidadã empenhada em Timor, como militante, fui mais do que uma diplomata típica, mas nada fiz à revelia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sempre dei conta”. Esta é a auto análise de uma combinação virtuosa e a confissão de um sucesso de quem, nos meios diplomáticos de Jacarta, à frente da Secção de Interesses Portugueses que funcionava na Embaixada da Holanda, era conhecida por “Madame East-Timor”. A questão de Timor sempre esteve na sua agenda. “Mesmo sem instruções”, confessa. “Em Tóquio, falei com grupos de defesa dos Direitos Humanos e através deles descobri que companhias petrolíferas nipónicas estavam prestes a investir na exploração de petróleo no mar de Timor”, refere a propósito da sua colocação, entre 1989 e 91, como conselheira na embaixada de Portugal na capital japonesa. “Fui ter com essas companhias e disse-lhes que a questão de Timor não estava resolvida, e eles não investiram”, remata. Em Díli, a estratégia por si desenhada fazia uma contenção de danos. “Quando os funcionários públicos timorenses eram pressionados pelos indonésios para assinarem papéis de apoio à Indonésia, a aceitarem arroz e a pôr bandeirinhas, eu aconselhava-os a dizerem que sim e, depois, no dia das eleições a votarem de acordo com a sua consciência”, exemplifica. O engenho foi levado ao extremo, de forma menos ortodoxa nos cânones das limitações diplomáticas. “Comprei passaportes indonésios, passaportes verdadeiros e quando os timorenses queriam sair de território indonésio a solução era recorrer a estes passaportes, nos quais o local de nascimento era a ilha das Flores”, descreve. “A procura foi tanta que inflacionámos os preços dos passaportes, passaram de 800 mil rupias para três milhões, e a população da ilha das Flores aumentou exponencialmente”, diz com um sorrido de malícia. Em Portugal, este seu empenho viria a ser consagrado, embora não se tenha livrado de epítetos pouco elogiosos: “a maluquinha de Timor” ou “a freak de Timor”. É sabido que, não raras vezes, a Pátria é madrasta no reconhecimento e a maior pequenez é a de entre muros. Mas, atenta, a Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal atribuiu-lhe o prémio personalidade do ano de 1999. Quando em 7 de Dezembro de 1975 a Indonésia ocupou Timor-Leste, o general Hadji Mohamed Suharto celebrava o oitavo aniversário da sua chegada ao poder. Portugal tinha fechado o ciclo do Império e recuperava das vicissitudes internas do Processo Revolucionário em Curso (PREC). Estas duas realidades eram assimétricas: o regime indonésio estava numa fase de consolidação, apogeu e expansão territorial com a invasão de Timor e a antiga potência colonizadora fragilizada. Lisboa queria “arrumar a casa” depois da descolonização e os esforços diplomáticos tentavam sossegar os parceiros internacionais com a normalização democrática. Não era, pois, tempo de abrir novas frentes. “Os que trabalhávamos na questão de Timor sabíamos que o problema ia resolver-se pela evolução do processo interno político indonésio”, conta Ana Gomes. “Apoiámos uma rede democrática na Indonésia, sabíamos que seriam estas forças que queriam libertar o país do grande problema que era Timor-Leste”, lembra. Portanto, houve mais do que voluntarismo, do que coração. “A partir de 1989, tentei vender, primeiro a Durão Barroso, então ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), e depois a Jaime Gama a ideia que devíamos estar atentos ao que se passava na Indonésia, pelo que tínhamos de ter lá uma delegação ou qualquer coisa para acompanhar o processo político interno, porque ia haver uma janela de oportunidade”, relata. Assim, a questão de Timor começa a sair do estado de banho-maria. Esta janela de oportunidade surgirá anos depois. A crise financeira asiática de 1997 precipitou a queda do regime do ditador Suharto, cujo capital se baseara na brutal repressão e no crescimento económico. Em 1997, a crise desmorona o regime. Suharto cai. Mais tarde, a 5 de Maio de 1999, em Nova Iorque, os ministros Gama e Ali Alatas acordam a instalação de uma delegação de interesses portuguesa em Jacarta e uma indonésia em Lisboa. “É naquele dia que Gama diz que me vai pôr em Jacarta, que tenho de ser a cara para a opinião pública”, revela. Era, finalmente, a janela de oportunidade com uma grande dose de responsabilidade. Antes do 25 de Abril de 1974, a jovem estudante Ana Gomes chegou à militância política contra a ditadura através do MAEESL, acrónimo do Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa. Que se tornou um autêntico viveiro do despertar da consciência dos últimos anos do marcelismo e se viria a revelar a incubadora de muitas vocações políticas que seguiram o seu caminho após a Revolução dos Cravos. Na miríade de organizações e tendências ali representadas, dos comunistas ao “Grupo de Estudantes” trotskistas, passando pelas diversas declinações maoistas, estava o MRPP, então Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado. “Entrei em princípios de 1973 nos Comités de Luta Anti-Colonial (CLAC), o meu primeiro controleiro foi Manuel Pita e o segundo Maria José Morgado”, aponta. Os CLAC eram inspirados pelo MRPP, e nos liceus, primeiro, e depois nas faculdades, fervilhava o debate político. A oposição à guerra colonial estava no centro, como poucos anos mais tarde a eclosão do Movimento das Forças Armadas veio a comprovar. “Nos tempos da luta anticolonial ganhei a consciência do problema de Timor, lembro-me que tinha um disco de capa vermelha e amarela editado pelo MRPP com canções da Fretilin”, resume. Esta vivência tornou Ana Gomes uma diplomata atípica na questão de Timor. Depois da experiência revolucionária portuguesa, desembarca em Jacarta quando a capital do Estado-arquipélago está em efervescência política pela descompressão após a queda da ditadura. “Três dias antes de chegar a Jacarta, a 27 de Janeiro de 1999, há a declaração da Indonésia sobre a independência”, lembra. O sucessor de Suharto, o Presidente Jusuf Habibie, anuncia que o Conselho de Ministros decidira que Timor ia receber uma “autonomia regional de grau mais”. Disse, ainda, “que se a maioria dos timorenses não a quiser”, o Governo proporia ao Parlamento que Timor seria libertado da Indonésia. “No dia desta declaração reuni com Alatas na ONU e vi-o sem saber o que dizer, mas depois confirma a consulta aos timorenses”, recorda. “O Presidente Habibie não tinha o compromisso de Suharto com Timor, achava que os timorenses eram uns ingratos e, por isso, admite o referendo sobre a independência quando se estava a trabalhar para um estatuto de autonomia a 15 ou 20 anos e, só depois, se via a independência”, explica. “Foi esta a janela de oportunidade”, resume. Quando desembarca em Jacarta, tem muitas incertezas. Viria a confirmar, pouco depois, que os militares eram a parte dura, sabe que a posição do Governo de Habibie pode ser contrariada pelos generais e, sobretudo, que há que aproveitar o momento. “Os indonésios já estavam no seu PREC”, sintetiza. A 5 de Fevereiro, menos de uma semana depois da sua chegada, Ana Gomes avista-se com Xanana Gusmão na prisão de Cipinang: “A primeira conversa foi muito boa, falámos como se já nos conhecêssemos, num registo de confiança que se intensificou, hoje trato-o por “Boss”, o seu petit nom”. Abre-se, assim, um período que classifica como muito importante, de ligação directa com Xanana preso e com os timorenses do exterior, mais radicalizados. “Todos os dias, às cinco da manhã, Xanana telefonava-me da prisão, ele tinha um telefone escondido e provavelmente consentido”, relata. “A noite da assinatura do acordo foi memorável, com Xanana na casa prisão de Salema. Fizemos bacalhau à Gomes de Sá, eu dava 150 mil rupias aos guardas e ficava lá o tempo que queria”. Assim viveu a jornada de 5 de Maio de 1999 quando, na sede da ONU, sob o olhar do secretário-geral Kofi Annan, foi assinado o acordo entre Portugal e a Indonésia, a caminho do referendo. A distensão entre Lisboa e Jacarta, os propósitos do Presidente Habibie e o bom ambiente entre os ministros Gama e Alatas não agradavam às casernas. “Começou a causar problemas aos militares indonésios que tinham em Timor um campo de negócio, de promoção e de treino”, reconhece a diplomata. “Os militares ficaram desagradados com Habibie e Alatas, começaram a organizar milícias [em Timor] para travar este entendimento e a fazer massacres, o primeiro dos quais foi em Liquiçá, em Abril de 1999”, lembra. Na sequência, a chefe da delegação de interesses portugueses passou à ofensiva. “Fui ao Estado-Maior das Forças Armadas da Indonésia para falar com o general Wiranto, que não me recebeu, mas falei numa sala a dez generais e oficiais superiores aos quais disse que o massacre de Liquiçá era da sua responsabilidade e que se tentavam tirar-nos da mesa das negociações se enganavam, podiam tirar o cavalinho da chuva, como nós dizemos”, relata. “Eles ouviram, pouco falaram, mas depois há um comunicado das Forças Armadas no qual se me referem como uma estranha diplomata que vai às Forças Armadas da Indonésia para insultá-las”, prossegue. A comunidade diplomática em Jacarta temeu o pior. “No dia a seguir, o embaixador inglês telefonou-me a perguntar se já tinha feito as malas, mas Alatas fez tudo para impedir a minha expulsão e as negociações continuaram”, destaca. Ana Gomes encontra uma justificação, politicamente incorrecta, para este desenlace. “O facto de ter sido uma mulher a interpelá-los ajudou-os a digerir aquilo, pensaram que eu era uma pobre-diaba”, argumenta. “Ainda houve outro incidente, os militares vieram com um draft de acordo que fez adiar a assinatura de 28 de Abril para 5 de Maio, mas expliquei a situação ao ministro da Defesa e eles lá foram digerindo”, afirma. Os acontecimentos, o tempo e o jogo diplomático estão a favor de Portugal quando, a 1 de Janeiro de 2000, Lisboa assume a presidência rotativa da União Europeia (UE). “Já com o referendo feito, em 30 de Agosto, com a anulação pelo Parlamento da Indonésia da anexação de Timor e o restabelecimento das relações diplomáticas com Portugal, Jacarta não queria ter más relações com a UE”, analisa. Contudo, a situação em Timor não estava resolvida. “A seguir ao referendo [de 30 de Agosto de 1999] havia um risco calculado porque a segurança ficava a cargo dos indonésios”, constata. A desconfiança, como se provou, era mais que legítima. “Xanana já estava na embaixada do Reino Unido e quando há os primeiros sinais de violência tenho de arranjar um avião para ir buscar os portugueses, o objectivo era uma força internacional para parar a violência das milícias”, lembra. São múltiplos telefonemas de aflição. “Telefonava a chorar, precisávamos de uma força internacional e assim veio a acontecer”, afirma. Foi num desses momentos, na urgência de encontrar segurança, que a diplomata terá dito não se importar se os capacetes são azuis (a cor dos destacamentos a mando da ONU), ou às bolinhas. Ana Gomes prefere recordar outros episódios que a marcaram. “Muita da população refugiava-se das milícias em casa dos notáveis, como o Manuel Carrascalão”, aponta: “Num fim-de-semana, estava em Jacarta fiz telefonemas para todo o lado, para os meus colegas embaixadores, e decidi telefonar para casa de Manuel Carrascalão. Atendeu o filho dele, o Manelito, que me disse que o pai tinha ido falar com a polícia e que estavam em casa cercados pelas milícias. Disse-lhe para ter calma, que tudo se ia compor, depois telefonei a um amigo meu francês, jornalista da AFP, o Bernard Estrade, que estava em Díli, ele foi a casa do Carrascalão, acabou por assistir ao assalto e dá-me a notícia que o miúdo tinha sido assassinado, foi uma das coisas mais horríveis que me aconteceu”. Dias depois, em Timor, Ana Gomes encontra-se com a família Carrascalão e confirma o comportamento díspar das forças indonésias. “Eles estavam protegidos das milícias em instalações da polícia, fiquei com um número de telefone e, quando atendessem, tinha de dizer que queria falar com o Quiqui, que mais tarde vim a saber ser o próprio chefe da polícia da Indonésia”, lembra. “Naquela altura, houve muita gente, como o advogado Aniceto Guterres, que ajudei a safar das milícias graças aos jornalistas”, revela. “Disse-lhes para irem para casa do Aniceto, que estava cercado, e quando lá chegaram os jornalistas as milícias começavam a recuar”, assegura. A violência surgia, no entanto, de todos os lados, de forma inesperada e com as mais diversas motivações. “O momento mais duro, mais complexo, mais arriscado e que resolvi melhor foi quando, na zona de Betun, em Timor Ocidental, um refugiado timorense, que tinha ensandecido, me pôs uma catana em cima”, recorda. A bem sucedida causa da independência de Timor não só beneficiou da conjuntura interna da Indonésia. Foi marcada por um intenso trabalho. De resgatar o tema do esquecimento internacional a vencer o descrédito nacional de uma solução. “Foi com Ramalho Eanes como Presidente da República que comecei a trabalhar sobre Timor, pois para além de Timor e Macau serem obrigações constitucionais do Presidente, ambas as questões eram um desígnio de Eanes”, destaca quem, de 1982 a 86, foi consultora diplomática presidencial: “Em 1983, começámos a receber o Ramos Horta quando ninguém o recebia em lado nenhum. ”Os antecedentes imediatos eram preocupantes. “Foi só por quatro votos que, em Novembro de 1982, tínhamos ganho na ONU a resolução 37/30, a diplomacia portuguesa estava na defensiva”, constata. A resolução solicitava ao secretário-geral que iniciasse consultas com todas as partes directamente interessadas. Começa uma coordenação de divisão de tarefas. “A engenheira Maria de Lourdes Pintasilgo é nomeada consultora de Eanes encarregue da divisão de Timor, o embaixador António Franco [seu marido] faz contactos com Ramos Horta e, no MNE, Queirós de Barros estava, então, a negociar a ida de uma missão parlamentar a Timor, que fora proposta pelo meu colega António Valente, um grande diplomata, e na altura director-geral de África”, recorda. “Esta ideia era boa mas foi distorcida, os indonésios concordam com a negociação no âmbito do secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, e querem que Portugal aceite os termos das eleições promovidas pela Indonésia em Timor nas quais não se punha a autodeterminação”, acentua. “Pintasilgo estava nessa, eu e outros não estávamos”, revela. Esta visita, laboriosamente arquitectada, não se veio a realizar. “Em Novembro de 1985, no início da campanha de Mário Soares a Presidente da República, o bispo Ximenes Belo veio clandestinamente a Lisboa, fica na Nunciatura e o núncio organiza um almoço ao qual comparece Soares”, relata. Durante a refeição oferecida pelo anfitrião, o arcebispo Salvatore Asta, Ximenes Belo critica a ocupação da Indonésia e apoia a Fretilin. O candidato presidencial é surpreendido pela frontalidade do clérigo. “A partir deste almoço, e com Soares já em Belém, o Presidente questiona no Conselho de Estado de 29 de Julho de 1986 a estratégia negocial que fora seguida pelo primeiro-ministro… Mário Soares”, revela. Em sucessivos andamentos, vão-se juntando várias peças. “Na Comissão de Direitos Humanos de Genebra, em Fevereiro de 1987, o embaixador António Costa Lobo, com o beneplácito de Eduardo Azevedo Soares, seu amigo e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, afirma não aceitar que as eleições indonésias de Abril de 1987 equivalessem a uma consulta ao povo de Timor-Leste”, recorda. “Esta posição deixou apopléctica a delegação indonésia liderada pelo então diplomata Ali Alatas, e uns dias depois eles afirmam querer negociar e retomam as conversações com o secretário-geral da ONU”, resume. Ou seja, é conferida a dimensão internacional ao que os generais de Jacarta propagandeavam como uma questão interna. Nesta contabilidade, sempre a somar, Ana Gomes recorda outros papéis e contribuições. “O Presidente Jorge Sampaio em Belém, António Guterres como primeiro-ministro e Gama à frente do MNE, coadjuvados, respectivamente, por Carlos Gaspar, José Freitas Ferraz e Fernando Neves fizeram um trabalho excelente na questão de Timor”, sublinha. Como os seus colegas do Palácio das Necessidades Rui Quartin Santos, Francisco Ribeiro Telles, Carla Grijó, Nuno Brito, João Ramos Pinto e Manuel Gamito. A ex-diplomata e eurodeputada do PS não conjuga Timor na primeira pessoa do singular. Apesar do seu envolvimento na causa, chama a atenção para outros actores. “A Igreja era o outro lado da resistência, tanto ou mais importante que a guerrilha era a resistência civil cujo pilar era a Igreja”, precisa. “A Indonésia, o país mais muçulmano do mundo, fez a proeza de converter Timor-Leste ao catolicismo quando a maioria da população era animista que, ao serem obrigados a confessarem a sua religião aos indonésios, diziam ser católicos”, explica. “Foi este o último reduto da resistência”, sintetiza. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Da Igreja timorense destaca o papel do bispo Ximenez Belo e o de Basílio do Nascimento, bispo de Baucau, a segunda cidade de Timor-Leste. “Se não fosse ele, as milícias tinham destruído Baucau, sou devota de Dom Basílio apesar de ateia”, assegura. Com ele teve cumplicidades militantes e de resistência. “Levei um saco enorme de rupias para o bispo Dom Basílio eram oito mil dólares em rupias”, revela, descrevendo o volume desta entrega com um amplo gesto de mãos. “Sou privilegiada, assisti a dois PREC”, resume. O português e o indonésio que permitiram a liberdade para Timor. “Mas tenho uma mágoa”, lamenta: “quatro ou cinco funcionários dos que contratei para a embaixada em Jacarta estão a ser mal tratados pelo MNE, têm o mesmo salário que há 20 anos, sem descontos para a Segurança Social ou assistência na Saúde. São gente de uma dedicação extraordinária, dói-me quando recebo as suas mensagens que transmito ao ministério mas nada sucede. ”
REFERÊNCIAS:
Expedição em 14 países parte à procura de 100 espécies de anfíbios “desaparecidas”
Numa expedição sem precedentes, investigadores de 14 países vão partir à procura de 100 espécies de anfíbios que não são vistas há, pelo menos, dez anos. Desde as coloridas rãs da família das Dendrobatidae à salamandra gigante chinesa (Andrias davidianus). (...)

Expedição em 14 países parte à procura de 100 espécies de anfíbios “desaparecidas”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-08-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa expedição sem precedentes, investigadores de 14 países vão partir à procura de 100 espécies de anfíbios que não são vistas há, pelo menos, dez anos. Desde as coloridas rãs da família das Dendrobatidae à salamandra gigante chinesa (Andrias davidianus).
TEXTO: Nos próximos meses, um conjunto de expedições em 18 países na América Latina, África e Ásia vão procurar 100 espécies de anfíbios que se acreditam potencialmente extintas mas que podem estar refugiadas em alguns locais remotos. Este é o primeiro esforço internacional coordenado para tentar encontrar estas criaturas “perdidas”, numa altura em que as populações de anfíbios estão a regredir. Os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta. Na verdade, mais de 30 por cento de todas as espécies estão ameaçadas de extinção. A perda de habitat, doenças (como o fungo cítrico) e alterações climáticas fizeram com que várias espécies desaparecessem sem deixar rasto em apenas uma época de reprodução, salienta a organização Conservation International, que coordena a expedição. “Os anfíbios são particularmente sensíveis às alterações no ambiente. Por isso, são muitas vezes um indicador do perigo que os ecossistemas correm”, explica Robin Moore, responsável da organização que coordena as expedições. Ainda assim, o estatuto de muitas espécies continua por conhecer devido à falta de investigação. “Esperamos conseguir respostas definitivas e aprender o que permitiu a pequenas populações sobreviver quando o resto da sua espécie se perdeu”, acrescenta Moore. “Qualquer que seja o resultado, as conclusões vão aumentar o nosso conhecimento das ameaças aos anfíbios e aproximar-nos das soluções para os proteger”, comenta a Conservation International em comunicado. “Isto é algo que nunca foi feito antes e é muitíssimo importante não só por causa das ameaças que os anfíbios enfrentam mas também porque representa uma incrível oportunidade para os cientistas redescobrirem espécies há muito perdidas”, comentou Claude Gascon, vice-presidente da Conservation International. A organização sublinha que os anfíbios têm benefícios para os seres humanos, como o controlo das pragas de insectos que espalham doenças e prejudicam as culturas agrícolas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos espécie extinção
Como português, quer um futuro melhor?
Nem só de legislativas vive o homem. (...)

Como português, quer um futuro melhor?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 5 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nem só de legislativas vive o homem.
TEXTO: Há fenómenos na nossa paisagem política que não podemos deixar de nos interrogar sobre a sua razão de ser. Porque é que em Portugal não existe um partido com um forte componente popular e com uma marcada atitude anti-sistema como o grego Syriza (Coligação de Esquerda Radical) ou o espanhol Podemos?Porque é que em Portugal a extrema-direita não consegue ter existência visível e o PNR – Partido Nacional Renovador se vê reduzido a tristemente festejar no seu site a colocação de um outdoor no Saldanha em Lisboa com a frase “Refugiados aqui Não – A nossa prioridade Portugal e os Portugueses” enquanto em França Marine Le Pen e a Frente Nacional vão de vento em popa?Porque é que para as próximas eleições para a Presidência da República, muito provavelmente, não vamos poder contar com um candidato populista ou xenófobo ou, mesmo, perigoso como Donald Trump?À primeira vista, o que temos de mais expressivo neste campo seria Alberto João Jardim. Quem já se esqueceu das suas declarações públicas num qualquer evento na Madeira, há alguns anos, indignando-se com a chegada do perigo amarelo: “Os chineses estão a entrar por aí adentro. Os indianos a entrar por aí adentro”. E, depois de confirmar a presença de chineses na sala, acrescentou “É mesmo bom para eles ouvirem. É bom, porque eu não os quero aqui”. Não tem a dimensão e a expressividade do muro de Donald Trump para conter a invasão dos delinquentes mexicanos mas, ao nosso nível, já é notável. Em 15 de Agosto – no que não pode deixar de se considerar um excelente timing político – Alberto João Jardim lançou no facebook, na página de apoio à sua candidatura às eleições Presidenciais de 2016, dez questões para cada português pensar, responder e. . . esperava-se avançar no apoio à sua candidatura. As perguntas, embora algo monótonas já que todas começam com a expressão “Como Português”, pareciam potenciar uma vaga de fundo. Não sendo possível reproduzi-las todas, lembramos somente três delas, certos como estamos que a maior parte dos portugueses, como portugueses, as terão lido, se não decorado: “Como Português que quer um futuro melhor, tem medo da única mudança decisiva que é a constitucional, e prefere se deixar outra vez à mercê dos candidatos presidenciais apoiados pelas figuras e partidos situacionistas que nada de importante vão alterar?” ou “Como Português, em vez de uma subordinação escandalosa, inconstante e parca de garantias aos poderes políticos e financeiros de uma Europa decadente também no plano dos Valores, antes não prefere que Portugal tenha uma nova Constituição que a Si defenda dos constantes abusos de lançamento de impostos e estabeleça regras fiscais e orçamentais no tempo, as quais atraiam investimento e criem Emprego?”. Ou, ainda: “Como Português, se em consciência, por patriotismo e por solidariedade social, acha que deve ajudar a mudar o sistema político-constitucional e pôr fim ao beco sem saída para onde nos trouxeram os poderosos interesses e Partidos situacionistas, está disposto ao voluntariado cívico de, na Cidade ou Aldeia onde vive, sem qualquer vantagem material, responder a participar numa organização PARA MUDAR PORTUGAL?”. O português não parece brilhante mas são perguntas arrebatadoras que poderiam ter feito levantar os Portugueses que “querem um futuro melhor” em uníssono e que, no entanto, não tiveram a almejada repercussão. O que explicará esta falta de adesão dos portugueses àquele que poderia ser o candidato presidencial populista e anti-sistema?No passado dia 14, Alberto João Jardim deslocou-se ao Clube dos Pensadores em Vila Nova de Gaia para explicar o seu pensamento político. Referiu, como sempre, a necessidade da mudança da Constituição mas, segundo o jornal online Observador, quanto aos refugiados sublinhou que “tem de se ajudar as pessoas”, mas “é preciso saber quem se recebe, até por uma questão de segurança nacional”. E acrescentou que “é preciso saber onde é que é precisa força de trabalho porque não vamos ter turistas cá dentro. Vamos saber onde é que o país precisa de força de trabalho para dar uma oportunidade de nova vida a essas pessoas”. Parece evidente que o PNR já não o vai apoiar. De resto, como o próprio referiu, terá de ser um movimento popular de base a sustentar a sua candidatura: “Se querem, de facto, uma mudança em Portugal então nas respectivas cidades e nas respectivas aldeias formem comissões e digam “Sim senhor, o senhor avance mas tem aqui uma comissão para apoiá-lo”; agora eu ir de casa em casa, de aldeia em aldeia, a dizer “Façam o favor. . . ” ou mandar um tipo atrás mim a tocar corneta pelas ruas, não, nada disso, eu essas figuras não faço”. Esta recusa de Alberto João Jardim em entrar em palhaçadas, só por si justificava um movimento popular e, no entanto. . .
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo social medo
O melhor da Bienal de São Paulo mostra-se em Serralves
Serralves inaugura esta sexta-feira a exposição Como (…) coisas que não existem, montada a partir de uma selecção das obras que estiveram na Bienal de São Paulo. É a primeira vez que a prestigiada bienal brasileira viaja até à Europa. (...)

O melhor da Bienal de São Paulo mostra-se em Serralves
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Serralves inaugura esta sexta-feira a exposição Como (…) coisas que não existem, montada a partir de uma selecção das obras que estiveram na Bienal de São Paulo. É a primeira vez que a prestigiada bienal brasileira viaja até à Europa.
TEXTO: A relação entre a exposição que esteve na Bienal de São Paulo e a que agora se mostra em Serralves, naquela que é a primeira itinerância europeia da bienal brasileira, “é como a de um vinho e uma aguardente: têm sabores diferentes, mas percebe-se a ligação”, diz o escocês Charles Esche, um dos curadores de Como (…) coisas que não existem, que esta sexta-feira se inaugura no Museu de Serralves, onde permanecerá até 17 de Janeiro do próximo ano. Apresentando 28 artistas e colectivos, dos 75 que puderam ser vistos em São Paulo entre Setembro e Dezembro de 2014, a montagem da exposição em Serralves implicou mostrar cerca de um terço das obras num espaço dez vezes mais pequeno. Uma restrição que se revelou positiva: “Acho que o sabor aqui é mais intenso”, assegura ao PÚBLICO Charles Esche, um dos três curadores — os outros são Galit Eilat e Oren Sagiv — responsáveis pela selecção de obras agora mostrada no Porto. Com uma fortíssima dimensão social e um óbvio desejo de denunciar os efeitos mais negativos da globalização ao mesmo tempo que imagina e pensa outros possíveis, a exposição “conta sensivelmente a mesma história no Brasil e em Portugal”, diz ainda Esche, mas observando que a necessidade de adequar as peças à arquitectura de Siza Vieira gerou diálogos entre determinadas obras que não existiam em São Paulo. O curador confessa ainda não ter ficado “totalmente satisfeito” com as obras que resultaram de algumas das encomendas feitas para a bienal paulista, e nota que os curadores tiveram agora a possibilidade de escolher a partir de peças que já conheciam. O texto que Esche e Eilat escreveram para o livro que Serralves editou para acompanhar a exposição — e que se afasta um tanto do catálogo convencional, incluindo não apenas textos críticos, mas contribuições heterogéneas de vários dos artistas representados —, enuncia com invulgar clareza a convicção de que a arte pode mesmo ajudar a mudar o mundo. Vendo neste início do século XXI “uma época de decepção”, os curadores observam que “os movimentos de oposição estão a ganhar força colectiva, mas terão ainda de apresentar uma narrativa alternativa convincente”, e que, por agora, “a indecisão e o medo dominam tudo e todos”. Mas admitem haver motivos para esperar que “uma grande transformação” venha a “ocorrer mais cedo ou mais tarde”, o que tornaria “urgente” existir, argumentam, “capacidade da imaginação para preparar o terreno”, algo que “a arte no seu melhor pode realizar”. Petição ao PapaUma das mais sedutoras obras presentes nesta exposição, com a sua mistura de crítica e humor, é Errar de Deus, uma instalação do colectivo argentino Etcétera que parte da obra de León Ferrari e utiliza algumas das peças deste artista iconoclasta desaparecido em 2013. Ferrari foi censurado na Argentina pelo então arcebispo Jorge Bergoglio, o actual Papa. Numa sala rodeada por imagens alusivas à devastação dos recursos naturais na América latina, uma bancada vermelha com telefones permite aos visitantes ouvir as conversas de deus com o Papa, Angela Merkel e vários outros interlocutores. Uma ideia inspirada num livro de Ferrari em que este colava trechos bíblicos a notícias de jornais e outros textos, criando diálogos inesperados. Uma vitrine expõe os divertidos objectos criados por Ferrari, que associam uma estética de brinquedos de bazar a mensagens por vezes bastante violentas, de um Jesus guiando um tanque a Hitler apanhado numa dessas ratoeiras clássicas que aparecem nos desenhos animados de Tom e Jerry ou Speedy Gonzales. Numa parede, recolhem-se assinaturas para uma petição, a ser entregue ao papa Francisco, pedindo a abolição definitiva do Inferno. Novamente, trata-se de recuperar uma iniciativa original de Ferrari, que escreveu duas vezes a João Paulo II a solicitar-lhe que extinguisse esse local de eternos suplícios. Federico Zukerfeld, um dos elementos do colectivo Etcetera, argumenta que num mundo onde a tortura está ainda hoje tão presente, o Papa deveria decidir se a religião é “um aparelho de guerra e tortura ou uma fonte de libertação”. A ideia de criar coisas que (ainda) não existem, está bem representada logo na primeira sala do percurso expositivo, onde uma obra da chinesa Qiu Zhijen— enormes mapas que não cartografam apenas lugares, mas também ideias e emoções — convive com uma instalação resultante do trabalho conjunto de crianças e adultos envolvidos num projecto com refugiados palestinianos e moradores de uma favela brasileira. Noutra sala, uma floresta suspensa de acrílicos figurando um arquivo de documentos da CIA sobre a ditadura brasileira, concebida pela chilena Voluspa Jarpa, dá o tom a várias obras relacionadas com o passado colonial e a heranças das ditaduras latino-americanas. Com uma forte representação brasileira, mas incluindo também artistas das mais diversas proveniências — da Argentina ao Chile e à Colômbia, de Portugal e Espanha à Itália ou Polónia, de Israel e da Palestina à Turquia ou à China, esta é uma exposição que lida abertamente com os conflitos do presente, da destruição de património no Médio Oriente às tensões russo-ucranianas. Mas Charles Esche prefere falar da sua dimensão “social”, e “não tanto política”, pelo menos em sentido mais estrito, até porque, recorda, o historial de violência na América Latina não é apanágio exclusivo da direita. Sintomaticamente, o percurso acaba no Inferno, título de um filme de Yael Bartena que mostra a inauguração de uma réplica do templo de Salomão em São Paulo, construída pela Igreja Universal do Reino de Deus com pedras vindas de Israel.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência social medo
Mil milhões de euros de investimento imobiliário já identificados para 2016
Entre negócios que transitam de 2015 e outros em curso ou já assinalados, estão já previstos para este ano pelo menos 1.000 milhões de euros de investimento em imobiliário. A maior parte destes negócios poderá ser fechado ainda no 1º semestre. (...)

Mil milhões de euros de investimento imobiliário já identificados para 2016
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2016-02-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre negócios que transitam de 2015 e outros em curso ou já assinalados, estão já previstos para este ano pelo menos 1.000 milhões de euros de investimento em imobiliário. A maior parte destes negócios poderá ser fechado ainda no 1º semestre.
TEXTO: Ana Tavares O ano começa com perspetivas positivas para o investimento imobiliário em Portugal, depois de um 2015 em que os níveis transacionados atingiram máximos de 2. 100 milhões de euros, de acordo com a CBRE. Estes bons resultados “transportam muito otimismo para 2016” nas palavras de Neil Blake, que deu nota de que “foi um ano em que as yields continuaram a crescer nos escritórios, já abaixo dos níveis de 2007 em alguns casos”. A seu favor este ano Portugal tem a recuperação do consumo, as taxas de juro baixas e um “aumento indiscutível” da concessão de crédito por parte da banca, bem como uma crise bancária que “começa a ir embora”, apontou o responsável pela área research da consultora CBRE para a região EMEA (Europa, Médio Oriente e África). O especialista esteve em Lisboa num Almoço-Conferência da Vida Imobiliária, que decorreu a 15 de janeiro no InterContinental Lisbon, para falar das tendências mais marcantes do mercado de investimento na Europa e em Portugal. Nuno Nunes, que lidera a área de investimento desta consultora em Portugal, fez as contas e avançou que cerca de 1. 000 milhões de euros estão já identificados para serem transacionados este ano, entre “entre negócios que resvalaram de 2015, negócios em curso e outros que podem ser transacionados este ano, grande parte deles ainda no primeiro semestre do ano”. Na sua perspetiva, só os escritórios “podem representar 35%. Sabemos de cerca de 400 milhões de euros no Parque das Nações que deverão ir para o mercado este ano”, explicou Nuno Nunes. Os centros comerciais, grandes protagonistas do volume de investimento do ano passado, poderão diminuir o seu peso, e a hotelaria deverá manter-se um dos setores de interesse, bem como outros setores alternativos, já que “quase todos os setores têm yields abaixo dos valores históricos, e os que não têm para lá caminham”, explicou o responsável. Para Nuno Nunes, apesar dos desafios, o”«catch up muito rápido” do país faz acreditar que este ano vai ser bom, já que se assiste em Portugal a uma “recuperação rápida”, num contexto em que “os preços são relativamente bons, é um mercado da zona euro com confiança de mercado nas finanças públicas”, não esquecendo “as baixas taxas de juro e as expetativas das taxas de câmbio”, avançou. Instabilidade política é desafioEntre os desafios que o mercado português pode enfrentar destacam-se “a possível incerteza política e a ainda lenta recuperação”, de acordo com Neil Blake, o que pode vir a “abanar” os resultados este ano. Contudo, sobre estas incertezas, Nuno Nunes disse que, apesar de serem algumas das preocupações apontadas, “não temos ainda ninguém (investidores) a mostrar-se preocupado com estes fatores”. Além do novo quadro político em Portugal, o mercado de investimento imobiliário poderá também ser influenciando pela conjuntura externa, num contexto muito dependente dos acontecimentos internacionais. Este ano, alguns dos desafios prendem-se com a possível crise e abrandamento da economia chinesa, com a crise dos refugiados, o terrorismo, a descida dos preços de alguns bens, como o petróleo ou a alimentação, ou as fricções com a Rússia, listou Neil Blake. O especialista acredita que o abrandamento da China poderá ser mais preocupante “para quem lê essas notícias sobre os mercados financeiros”. ”Podemos questionar-nos se haverá ou não o incumprimento de um mercado emergente este ano, mas em relação à China e ao abrandamento do seu crescimento, o que vamos ver é uma mudança radical na procura derivada de uma economia de consumo moderna”, sendo esta a maior preocupação dos mercados atualmente. E completa que “a China é importante por si, mas o problema é com todos os mercados emergentes”, salientando os níveis de “pouco stress nos mercados financeiros”, sobretudo se compararmos estes níveis com os da crise de 2008 ou com os anos de 2012/2013, o que leva a crer que não haverá causa para o alarmismo que alguns meios de comunicação social têm vindo a divulgar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social consumo
Os homens que dominam o mundo
Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar. (...)

Os homens que dominam o mundo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar.
TEXTO: Um presidente para a vida, um presidente para o futuro previsível e um presidente para o momento. Estes são os três homens que dominam o nosso planeta e ultrapassam a influência dos “homens de Davos”: Xi Jinping da China, um homem com mandato ilimitado; o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, um líder que continua a prolongar sua vida política e o Presidente Donald Trump, um homem que alguns acreditam não acabar o seu mandato ou ser reeleito. Estamos a atravessar uma nova era de homens que se julgam duros no limite da crueldade e um grande ego. Putin fortaleceu seu domínio sobre a política interna, enquanto intensificava a "guerra de influência" cibernética digital da Rússia com o Ocidente. O presidente da China alcançou uma espécie de imortalidade quando os seus pensamentos - não originais - foram consagrados na constituição do Partido Comunista. E Trump promulgou uma desconcertante hipocrisia da presidência dos EUA, misturando poder e ignorância num grau alarmante e perigoso. A Rússia regressou aos três pilares em que assentou a ordem czarista: autocracia, ortodoxia e nacionalismo. Putin é candidato a Czar. Trump abandona os grandes princípios da hegemonia ocidental: o comércio livre e a globalização em troca do isolacionismo, proteccionismo, populismo e nacionalismo. Falando no congresso, Xi saudou uma "nova era" de prosperidade chinesa e poder global. E em Davos afirmou ser a China defensora da economia global e do multilateralismo podendo vir a transformar-se no centro das decisões globais. Xi – o líder com melhor visão estratégica - não foi o único líder a beneficiar da ingenuidade de Trump, da afeição pelo autoritarismo e do egocentrismo facilmente explorado. O corolário da ascensão “de homem duros” foi uma sensação de fraqueza debilitante entre as democracias ocidentais e de uma nova ordem internacional decadente no pós-guerra, cuja resposta efectiva do Ocidente aos conflitos e crises humanitárias pode ter entrado numa fase de declínio. O poder crescente da China de partido único e da Rússia disseminando o autoritarismo em geral, bem como as regressões nacionalistas e populistas dentro da Europa ampliam o dilema. Os nacionalistas, na verdade, detestam a soberania dos outros, mas desprezam também a soberania dos seus próprios povos. As dificuldades do Ocidente foram agravadas pela incerteza sobre como lidar com Trump na governança de uma nova desordem mundial desorientadora de enfraquecimento da liderança global americana. O que os três líderes mundiais exploram é um nacionalismo que visa proteger e expandir suas bases de poder: o proteccionismo de Trump como reflectido nas tarifas de aço e alumínio, com impacto numa guerra comercial com a China, mas negativa a nível global; as intervenções de Putin com novas ambições geopolíticas na Ucrânia, Europa e Médio Oriente; sem esquecer as reivindicações territoriais expansionistas de Xi no Mar do Sul da China no Pacífico. Qualquer um desses argumentos potencialmente desestabilizadores seria motivo de preocupação. Mas ver os três ao mesmo tempo cria um mundo cheio de preocupação pelos riscos acrescidos. Neste quadro, a corrida armamentista começou novamente com o anúncio de Putin sobre a nova geração de armas de destruição em massa da Rússia; Os russos parecem ter declarado uma nova fase na corrida armamentista nuclear em resposta aos novos sistemas de defesa antimísseis americanos. O anuncio de Trump em rasgar o Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF), assinado em 1987, que ajudou a reduzir o risco de um confronto nuclear - entre as duas grandes potências – poderá ter consequências imprevisíveis em relação ao regresso da proliferação nuclear. Teria sido uma excelente oportunidade para negociar com a China que dele não faz parte. E, por isso, acabou por se ver forçada a uma reforma do armamento nuclear e actualização do seu poder aero-naval. A geografia ainda é importante. Ora, como os EUA estão tão distantes, a sua única esperança é oferecer uma visão regional que possa ancorar seu poder militar na região Ásia-Pacífico. Em relação à Coreia do Norte a resposta de Trump foi contraditória desde o início. Foi mantendo a perspectiva de conversações com Pyongyang, que culminou num encontro pessoal com Kim. Depois de ameaçar "destruir totalmente" a Coreia do Norte passou de uma fase de ameaça nuclear para uma “lua de mel” entre Trump e Kim, que não vai cumprir os acordos de desnuclearização. O multilateralismo, a economia de mercado, a defesa dos direitos do indivíduo e a democracia liberal estiveram na base da nova ordem internacional criada depois da II Guerra. A integração europeia foi um dos pilares fundamentais dessa ordem, tal como a Aliança Transatlântica. Contudo, numa fase em que as ameaças e riscos aumentam e a nova ordem caminha para a desordem internacional. Para a consternação da Europa, Trump foi rude – enfraqueceu a Aliança Atlântica - e depois quis ser simpático alterando mais uma vez o seu discurso. A Europa tem sobrevivido a alarmes políticos incomuns como o caos do "Brexit" – triste acontecimento - para o Reino Unido, mas com efeitos negativos sobre todos os países europeus, entre os quais Portugal. Os problemas da UE estão longe de estar resolvidos e a influência dos EUA será trocada pela da China. Os líderes mundiais estão confrontados com a crescente maré populista gerada por temores sobre a crise dos migrantes e refugiados, a instabilidade económica, o eurocepticismo, a perda de identidade e a velha xenofobia, que pode levar a UE à desagregação se não tiver uma só voz a nível internacional. Assiste-se actualmente a um confronto geopolítico – tem como principais actores Trump, Putin e XI-, de dimensões imprevisíveis, por áreas de influência entre a Rússia-China e o Ocidente, pela reemergência da Rússia e China como potências da Eurásia. Fortalecidas pela cooperação trilateral entre a Rússia, China e Índia. Esse confronto resulta das ambições de Putin e XI e a da política externa errática de Trump para mistificar a sua politica interna. A UE está numa encruzilhada e parece atravessar uma crise de identidade. Não se vislumbram estadistas com capacidade de refundação do projecto europeu e evitar o défice de democracia investindo em novas parcerias estratégicas como África. Além do mais, a UE devia constituir um exemplo de cidadania e solidariedade, bem como na transição energética e revolução digital. Mas o enfraquecimento do eixo Paris-Berlim – já não é o que se esperava - terá impacto negativo naquele projecto. O grande desafio é vencer o medo. A grande beneficiária ao nível geoestratégico e geopolítico será a China, que a médio prazo será a maior potência económica pronta a ocupar o lugar dos EUA na globalização. Porém, Pequim ainda coloca imensas dificuldades ao investimento estrangeiro na China, enquanto beneficia da abertura dos mercados das grandes economias ocidentais. No entanto, Portugal – numa amizade que transcende o tempo - tem a oportunidade de estabelecer uma parceria voltada para o futuro potenciando a nova rota da seda. Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar. Durante os últimos cinco séculos deslocou-se para o Ocidente dominante da ordem mundial. Todavia, este eixo está agora a deslocar-se para o Oriente. Sabemos o que isso significa para a Ásia que levou os EUA a alterarem a sua estratégia nacional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É o Oriente indomável, onde existe uma enorme participação económica e estratégica. Deriva preocupante em tempos de incerteza sem que a racionalidade esteja a prevalecer. O lado sombrio dos três homens “sábios” não seria pernicioso se compartilhassem visões de um mundo pacífico ancorado pela igualdade, liberdade e prosperidade se o impulso pelo poder pessoal fosse equilibrado por uma abordagem cooperativa e diferenciada dos problemas do planeta. Com os três “homens sábios” no poder, as esperanças de segurança global e prosperidade mundial permanecem uma equação incógnita. E o actual ambiente estratégico permite que estes homens testem os limites até ao eclodir de um conflito sério entre os grandes poderes.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE