Afinal, a Budweiser não quis discutir a política de Trump no Super Bowl
Um dos responsáveis pelo anúncio da marca de cerveja, Ricardo Marques, ele próprio um imigrante nos EUA. É português e falámos com ele. (...)

Afinal, a Budweiser não quis discutir a política de Trump no Super Bowl
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.333
DATA: 2017-02-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos responsáveis pelo anúncio da marca de cerveja, Ricardo Marques, ele próprio um imigrante nos EUA. É português e falámos com ele.
TEXTO: A Budweiser, a conhecida marca de cerveja americana, foi uma das dezenas de empresas que comprou um dos caríssimos espaços publicitários da final de futebol norte-americano, o Super Bowl. O anúncio conta a história da fundação da marca, com a chegada do seu criador, um imigrante alemão, aos Estados Unidos. O timing do anúncio não podia ter sido mais adequado à actualidade norte-americana e tornou-se imediatamente um dos mais mediáticos, num ano em que política e inclusão foram os dois temas com mais impacto nos spots. Considerado o melhor anúncio exibido no Super Bowl pela revista Forbes e elogiado por várias publicações, o anúncio foi, na realidade, decidido muito antes da polémica das políticas de restrição à imigração e refugiados de Donald Trump, antes até de Trump vencer as eleições. Quem nos conta a história é o vice-presidente do departamento de marketing da Budweiser, também ele imigrante. Ricardo Marques, português, natural de Viseu, vive nos EUA e é desde Fevereiro de 2016 um dos responsáveis pela equipa que criou o anúncio Born the Hard Way (tradução livre: "nascido da forma mais dura"). O anúncio conta a viagem do alemão Adolphus Busch, que em 1857 deixou Hamburgo e partiu “à procura do sonho americano”. Essa era a ideia do anúncio, explica Ricardo Marques ao PÚBLICO: “apresentar a marca como a campeã do sonho americano”. Ao contrário da interpretação feita por muitos daqueles que viram o anúncio, e apesar de o anúncio ter sido gravado apenas em Janeiro deste ano, a marca garante que a ideia surgiu ainda durante o Verão de 2016 e não é uma posição política em relação às recentes alterações legislativas em relação à imigração nos EUA – entretanto suspensas. “Não foi uma declaração política, mas passa uma mensagem sobre os valores norte-americanos”, sustenta Ricardo. “Começámos este processo de criação do novo anúncio em Maio e a estratégica ficou definida ainda no Verão. Na altura, Donald Trump não estava ainda na Presidência e tudo estava em aberto e muito menos conseguíamos imaginar que este tópico da imigração iria ficar tão quente”, justifica Ricardo Marques, negando uma influência directa da actualidade na produção. “Optámos por esta campanha porque era uma história verdadeira do nosso fundador. Os consumidores procuram acima de tudo a autenticidade, histórias que tenham substância e foi isso que nos motivou, essa história de sonho americano. Um sonho americano que é na realidade universal. É um sonho humano. ” Um conceito que os norte-americanos conseguiram aproveitar muito bem, acrescenta. “Até o anúncio foi gravado em Nova Orleães, não queríamos um cenário de Hollywood”, justifica. No entanto, o anúncio não deixa de responder, no essencial, à nova política de imigração da Casa Branca: “No final do dia acaba por ser uma mensagem positiva que lembra a todos os americanos que este é um país foi construído por imigrantes, que vieram para aqui com o sonho de uma vida melhor e com o desejo de progredir”. Há 12 anos na Anheuser-Busch InBev, empresa que detém a Budweiser, começou a trabalhar mais directamente com a Budweiser em 2011, quando foi para Nova Iorque. O balanço feito ao anúncio deste ano não podia ser mais positivo. “Foi a campanha com mais sucesso em toda a história da marca”, avalia. O Super Bowl “é o palco onde todas as marcas querem brilhar”. Um palco que tem um custo elevado. “Temos 100 milhões de consumidores a ver o jogo naquele momento. É uma oportunidade única num dos raros momentos em que a televisão é um meio poderoso. Várias marcas fizeram uma aposta”, prossegue Ricardo. Sem querer detalhar qual foi o investimento da empresa no anúncio, o vice-presidente do departamento de marketing lembra que 30 segundos custam cerca de 5 milhões de dólares. O anúncio da Budweiser tem um minuto. O anúncio contabiliza quase 28 milhões de visualizações no YouTube (um número que entretanto estabilizou). A plataforma de vídeos, que anualmente elege o melhor anúncio da Super Bowl com base na votação dos utilizadores, elaborou uma lista dos dez anúncios mais vistos no dia da final. Em primeiro lugar está o anúncio da Budweiser. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ainda durante o jogo e imediatamente após a sua exibição, várias pessoas posicionaram-se contra o anúncio, por o considerem “antiamericano” e apelaram ao boicote à cerveja. No entanto, a hashtag que se tornou viral tinha uma gralha no nome da marca: "Budwiser". E os fãs da campanha não perdoaram os mais distraídos. Ricardo Marques sublinha que, apesar dos comentários negativos, “a grande maioria das reacções e comentários foi essencialmente positiva”. So people want to #BoycottBudweiser for airing a benign pro-immigrant ad? You really have to hate foreigners to give up beer on #SuperbowlEnquanto imigrante português a viver nos Estados Unidos, Ricardo Marques elogia a “diversidade de pontos de vista” no debate em torno das políticas de imigração e acredita que o sistema “acaba por se auto-moderar e evitar qualquer passo mais radical em qualquer outra direcção”. “Não é uma situação nova. Se voltarmos um pouco atrás na história, à época do nosso anúncio por exemplo [meados do século XIX], percebemos que a História é cíclica”, conclui positivo.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
“Em muitos países, aos adolescentes só resta emigrar ou integrar grupos como o Estado Islâmico”
O Prémio Nobel "é um guia moral", diz Mariano Aguirre, especialista em resolução de conflitos e estudos da paz. Premiar a luta pela educação "faz todo o sentido do mundo". (...)

“Em muitos países, aos adolescentes só resta emigrar ou integrar grupos como o Estado Islâmico”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-04-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Prémio Nobel "é um guia moral", diz Mariano Aguirre, especialista em resolução de conflitos e estudos da paz. Premiar a luta pela educação "faz todo o sentido do mundo".
TEXTO: Mariano Aguirre é director do Norwegian Peacebuilding Resource Centre (NOREF), uma fundação independente com sede em Oslo criada para fortalecer as políticas e as práticas da construção da paz através do conhecimento, da experiência e da reflexão crítica. Mestre em Estudos da Paz pelo Trinity College, de Dublin, é também professor convidado em cursos de mestrado em Espanha e Portugal, nomeadamente na Universidade Autónoma de Lisboa. Premiar a educação, num mundo com cada vez mais conflitos (dos que provocam vagas de refugiados) que afastam as crianças da escola, é um alerta para o futuro?É um prémio que tem todo o sentido do mundo. As crianças, e os mais velhos, sofrem as guerras, a pobreza, as desigualdades e as políticas da austeridade mais do que ninguém. E as crianças de hoje são os adolescentes de amanhã que, em muitos países, não têm outras opções senão emigrar ou integrar-se em grupos como o Estados Islâmico ou gangues urbanos. Premiar uma adolescente faz sentido; é sublinhar essa ideia de futuro, ou é algo que coloca demasiado peso numa jovem?Essa é uma questão que só faz sentido caso a caso, pessoa a pessoa. Sem dúvida é um peso mediático imenso. Possivelmente, para poder ser uma cidadã normal, Malala Yousufzai precisará de apoio familiar, social e psicológico para poder encontrar o equilíbrio entre o sofrimento das agressões de que foi vítima, a recuperação, e a fama global.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação adolescente social pobreza
Venezuela: quem cuida dos nossos emigrantes?
Diante da tragédia humanitária em curso na Venezuela, sabendo que haverá um grande número de portugueses afectados, não deveria o Governo criar um programa de estímulo ao regresso daqueles que o quisessem fazer? (...)

Venezuela: quem cuida dos nossos emigrantes?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diante da tragédia humanitária em curso na Venezuela, sabendo que haverá um grande número de portugueses afectados, não deveria o Governo criar um programa de estímulo ao regresso daqueles que o quisessem fazer?
TEXTO: 1. Já aqui, por mais de uma vez e ainda na semana passada, se alertou para a gravíssima crise humanitária na Venezuela. Antes de toda e qualquer outra consideração, é fundamental alertar para os muitos milhões de cidadãos venezuelanos que neste momento sobrevivem no limiar da fome, estão desprovidos de qualquer serviço básico de saúde, estão simplesmente entregues à insegurança e à violência no seu quotidiano. Alguns destes milhões, diante da fome e da impotência, optaram por sair do país. A situação humanitária nas fronteiras com o Brasil e com a Colômbia é absolutamente intolerável. Os alertas dados por governos de países próximos, que estão a ser objecto de um grande afluxo de refugiados, designadamente do Equador e do Perú, são altamente preocupantes. Estamos diante de um desastre humanitário, com milhões de pessoas em circulação, com muitas mais sem qualquer hipótese de ajuda. A primeira palavra tem, pois, de ser para a comunidade internacional, que não pode deixar esta mole de seres humanos à mercê da sina que um regime político lhes marcou. Aqui países como Portugal e Espanha ou entidades como a Santa Sé têm especiais responsabilidades históricas e políticas. A verdade é que, tendo em conta as proporções da tragédia em curso, pouco têm feito. É fundamental que usem de todo o seu peso na comunidade global, mas em especial junto da União Europeia, para minimizar e obviar os efeitos desta catástrofe. Antes de qualquer consideração política, é urgente encarar a situação humana, abrir canais junto das inenarráveis autoridades venezuelanas e naturalmente colaborar com o Brasil e com a Colômbia, que não podem ser deixados sozinhos (sob pena de copiarmos o ineficiente modelo europeu, em que os países de fronteira, como a Itália, a Grécia ou Malta, têm de resolver tudo quase a sós). 2. A segunda palavra é devida à comunidade portuguesa. Sabemos que entre cidadãos portugueses e luso-descendentes, estamos diante da segunda mais importante comunidade de emigrantes na América Latina. Entre os mais necessitados neste estertor venezuelano estarão decerto muitos milhares, senão dezenas de milhar de portugueses ou descendentes de portugueses. De tempos a tempos, ouvimos umas declarações esparsas do secretário de Estado competente em razão da matéria, sempre num sentido estranhamente tranquilizador, a roçar o anestesiante. Muito raramente, ouvimos o ministro dos Negócios Estrangeiros tocar o tema, já que ele se especializou na definição da cartilha ideológica do PS mais do que no exercício do seu múnus. É incompreensível que diante de uma crise desta natureza, o Estado português não tenha desenvolvido uma política sistemática de identificação das situações de necessidade e de construção de um programa de apoio. Ainda neste fim-de-semana, o primeiro-ministro, na sua veste partidária, anunciou um pacote para estímulo do regresso de cidadãos “recém-emigrados” (pacote logo denunciado pelos conselheiros das comunidades portuguesas como pura propaganda). Mas não há ninguém que faça a pergunta: diante da tragédia humanitária em curso na Venezuela, sabendo que haverá um grande número de portugueses afectados, não deveria o Governo criar um programa de estímulo ao regresso daqueles que o quisessem fazer? Diga-se, de passagem, que os portugueses que saíram para a União Europeia não são sequer emigrantes, no sentido que lhes atribui António Costa; são felizmente cidadãos europeus, que usufruem do regime de liberdade de circulação e de mobilidade de trabalho. Estão, pois, grande parte deles numa situação bem mais favorável do que a que têm os portugueses estão expostos ao naufrágio venezuelano. É, pois, fundamental que a sociedade civil, aí incluídos os partidos da oposição e os meios de comunicação social (que têm estado bastante discretos), exija do Governo uma estratégia e um programa de apoio aos cidadãos portugueses e seus descendentes que sofrem a aflição venezuelana. Mesmo do Presidente da República, sempre tão intimamente ligado às comunidades portuguesas pelo mundo, é necessária, neste particular, uma voz mais forte. O Governo português, seja no plano da concertação internacional, seja no plano do apoio aos portugueses em necessidade, procura assobiar para o alto. É tempo de o fazer descer à terra. 3. Finalmente, uma última palavra, já do domínio do juízo político. Considerei sempre escandalosa a ligação de José Sócrates e de alguns dos seus ministros ao “chavismo” venezuelano. De resto, o estilo megalómano e de caudilho de Chávez era uma clara inspiração para Sócrates, como há largos anos escrevi nestas páginas. Era evidente a transição para a ditadura e para um regime oligárquico de empobrecimento generalizado. Transição que se consumou em todo o seu esplendor quando o poder passa para Nicolás Maduro e o regime desce aos infernos da indigência política. Neste sentido, mesmo algumas iniciativas de Paulo Portas, quando ministro dos Negócios Estrangeiros, são, a meu ver, censuráveis. Uma política externa cuidadosa, salvaguardando a posição dos portugueses ali residentes, não implica cumplicidades nem apoios explícitos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas nada se compara à apologia que o PCP e o Bloco – e muitas personalidades da área – fazem do regime chavista e da sua supersticiosa reencarnação em Maduro. Como explicam o PCP, o Bloco e todos esses académicos a fuga desesperada de milhões de cidadãos venezuelanos? Como podem apoiar a supressão das mais elementares liberdades políticas? Como podem ter como modelo uma política económica que gerou a mais funda ruína e miséria? Tantas são as palavras para os refugiados do Mediterrâneo, sejam as vítimas da guerra na Síria ou da fome no Saara, e tão poucas ou mesmo nenhumas para as vítimas de um regime político que criminosamente destruiu a economia de um dos países com mais riqueza das Américas. Sobre o modelo de sociedade desejado pelo Bloco e o PCP não há nem pode haver ilusões. É soturno. SIM John McCain. A virtude militar, a coragem política e a independência pessoal são uma referência incontornável para a democracia americana e para a democracia ocidental. NÃO Arcebispo Vigano. O aproveitamento oportunista da tragédia dos abusos sexuais por banda de sectores que nunca defenderam a transparência e abertura da Igreja é chocante.
REFERÊNCIAS:
Governador do Texas envia tropas para a fronteira com o México para travar imigração ilegal de menores
Rick Perry critica inacção de Obama. Casa Branca diz que entradas de jovens ilegais nos EUA estão a diminuir. (...)

Governador do Texas envia tropas para a fronteira com o México para travar imigração ilegal de menores
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento -0.25
DATA: 2014-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rick Perry critica inacção de Obama. Casa Branca diz que entradas de jovens ilegais nos EUA estão a diminuir.
TEXTO: O governador do Texas, o republicano Rick Perry, anunciou o envio de mil reservistas da Guarda Nacional para “aumentar a segurança” na fronteira entre este estado norte-americano e o México, de modo a travar o fluxo de jovens imigrantes ilegais vindos da América Central. “Face à situação que o Texas vive, e na ausência de qualquer acção do Governo federal, decidi enviar mil soldados” da Guarda Nacional para a fronteira, disse Perry, que é um feroz opositor do Presidente Barack Obama e que foi um dos derrotados nas primárias republicanas que escolheram Mitt Romney como candidato presidencial em 2012. “Não podemos falar de segurança nacional sem segurança nas fronteiras, e os texanos têm pago um preço demasiado elevado por causa da incapacidade do Governo federal em manter as nossas fronteiras seguras”, declarou. “A acção que eu ordenei visa enfrentar esta crise de frente, multiplicando os nossos esforços para combater a actividade dos cartéis, dos traficantes de seres humanos e de indivíduos criminosos que ameaçam a segurança das pessoas no Texas e na América”, disse o republicano, que muito provavelmente irá tentar de novo chegar à presidência dos EUA em 2016. O Texas, que tem uma fronteira de cerca de 2000 quilómetros com o México, viveu, nos últimos meses, um afluxo de imigrantes ilegais menores não-acompanhados, vindos, na sua maioria, de El Salvador, Guatemala e Honduras. No total, foram presos desde Outubro 57 mil jovens não-acompanhados, que entraram clandestinamente nos EUA. No início de Julho, o Presidente Obama evocou “uma crise humanitária” para apelar aos pais da América Central para que não enviassem os seus filhos ilegalmente para os EUA e esta sexta-feira recebe na Casa Branca os presidentes de El Salvador, Guatemala e Honduras para debater o problema. O Presidente também pediu ao Congresso 3, 7 mil milhões de dólares para aumentar a capacidade de prisão e detenção de clandestinos que atravessam a fronteira, acelerar as expulsões de adultos e reforçar os serviços de acolhimento dos refugiados menores não-acompanhados. Os republicanos, que dominam a Câmara dos Representantes, criticaram a iniciativa e ainda não foi possível um entendimento para libertar fundos. Na segunda-feira, a Casa Branca anunciou em comunicado que a análise dos últimos números mostra que a média de detenções de menores não-acompanhados pelos serviços fronteiriços tinha baixado para metade de Junho para Julho. Em Junho, cerca de 2000 menores por semana estavam a atravessar a fronteira. Na segunda semana de Julho, esse número ficou abaixo dos 1000 menores e a tendência é para que os números continuem a baixar. Os responsáveis da Administração Obama justificaram esta descida com o reforço das campanhas de informação sobre os perigos da viagem para as crianças e com as firmes declarações políticas de que entrar ilegalmente nos Estados Unidos não abre de imediato uma via para a obtenção da cidadania norte-americana. Notícia corrigida às 11h27 de 23/7/14 para mudar o dia do encontro de Obama com os presidentes de El Salvador, Guatemala e Honduras. É esta sexta-feira e não esta quarta-feira.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Imigração: a Europa e os seus demónios
A semana continuou marcada pela tragédia dos náufragos no Mediterrâneo. A cimeira extraordinária da UE em Bruxelas traduziu-se num compromisso minimalista. A imigração é um tema que divide países e governos. “A Europa não compreendeu até ao fundo que o Mediterrâneo transformado em vala comum põe em jogo a sua legitimidade moral, logo política”, escreve no Corriere della Sera o editorialista Franco Venturini. Não poupa os líderes europeus: “Conscientes da enormidade do que está em jogo mas egoístas até ao inverosímil para defender os interesses nacionais, a sensibilidade das opiniões públicas ou as próximas eleiçõ... (etc.)

Imigração: a Europa e os seus demónios
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
TEXTO: A semana continuou marcada pela tragédia dos náufragos no Mediterrâneo. A cimeira extraordinária da UE em Bruxelas traduziu-se num compromisso minimalista. A imigração é um tema que divide países e governos. “A Europa não compreendeu até ao fundo que o Mediterrâneo transformado em vala comum põe em jogo a sua legitimidade moral, logo política”, escreve no Corriere della Sera o editorialista Franco Venturini. Não poupa os líderes europeus: “Conscientes da enormidade do que está em jogo mas egoístas até ao inverosímil para defender os interesses nacionais, a sensibilidade das opiniões públicas ou as próximas eleições. ”A palavra Europa será algo exagerada. No seu editorial o Monde aponta outros responsáveis. “A opinião equivoca-se ao pôr em causa a Europa. Neste assunto, as instituições europeias são largamente impotentes, por uma boa razão: o essencial das questões migratórias não faz parte do domínio comunitário. (. . . ) Não é a UE que fracassa lamentavelmente neste caso. São as nações europeias, os governantes e os eleitores. ” É um assunto em que os cidadãos recusam a mínima delegação de soberania sem que os seus Estados se mostrem capazes de responder às crises ou sejam plenamente solidários com os parceiros. É a queixa da Itália. Imigrantes e pensõesÉ interessante abordar o problema pelo avesso, começando não pela crise do Mediterrâneo mas pelas contradições dos europeus sobre os imigrantes. “Se fecharem as portas à imigração, pagarão um preço económico”, adverte Jean-Christophe Dumont, especialista de migrações na (Organização para a Coooperação e Desenvolvimento Económico) OCDE. A Europa envelhece a ritmo vertiginoso. Um exemplo: sem mudança dos fluxos migratórios, a Alemanha, primeira potência económica da região e com a mais baixa taxa de natalidade, poderá ver a sua população cair de 82 milhões para 74, 7 milhões até 2050, previne o Eurostat. Veria, consequentemente, diminuir o seu potencial de crescimento. Com a entrada na reforma da geração do baby boom a população europeia com mais de 65 anos vai rapidamente aumentar, enquanto o número dos menores de 15 anos diminuirá cerca de 15% até 2060, prevê o Eurostat. O que está em jogo é o nível de vida dos europeus, o seu bem-estar e a sustentabilidade das prestações sociais. Um estudo do International Longevity Centre (Londres) avisava em 2013 que a Europa precisará de “pelo menos mais 11 milhões de imigrantes até 2020” para garantir o pagamento das pensões aos seus reformados. Não basta subir a idade da reforma. Passar-se-á rapidamente da proporção de quatro activos por pensionista para dois por um. São dados que todos conhecem. Mas um dos mais banais argumentos contra o incremento da imigração é a concorrência que os imigrantes fariam aos nacionais no campo das prestações sociais. “A velha Europa tem necessidade de cérebros e de braços”, titula o Libre Belgique. Mas que contam os números da demografia perante os discursos anti-imigração de Marine Le Pen, do holandês Geert Wilders, do britânico Nigel Farage, do partido Democratas da Suécia ou do movimento alemão Pegida — que protesta contra a “islamização da Europa” e a chegada de refugiados sírios que, por acaso, são em grande número cristãos?“O medo da imigração espalha-se na Europa” foi o título de um programa de uma televisão francesa em Janeiro passado. Resumia: “Barcos em perdição, vindos da Turquia, da Síria ou da Líbia, manifestações na Suécia ou na Alemanha, polémicas em França e na Grã-Bretanha, a imigração apresenta-se na Europa como o sujeito político do ano 2015. ” Faltavam os naufrágios de Abril. Qual é a consequência política? Os dirigentes europeus estão reféns do medo criado pela extrema-direita e dos sentimentos xenófobos que se enraízam nas suas populações e a que, até agora, não têm sabido dar resposta. Para lá da emergênciaA política está sempre em atraso perante as tragédias da imigração porque se trata de um assunto “delicado” que é melhor adiar. A situação era dramática em 2014. A tragédia de Lampedusa foi um sinal de alarme. Prevaleceu a inércia. Desta vez, os europeus estão confrontados com uma emergência em grande escala e que não pode ser gerida como uma simples urgência. É um fenómeno estrutural — determinado por desastres económicos, por guerras ou pelo caos criado pela falência de Estados — que fará com que a pressão migratória continue com números sem precedentes ao longo dos próximos anos. Um milhão de imigrantes potenciais estará à espera de uma oportunidade de alcançar a Europa. Quando os fugitivos se dizem dispostos a morrer para atravessar o mar ou chegar por terra. Nada os parará. Esta é a questão de fundo. O novo quadro levanta um problema de valores incomparável com o criado por anteriores vagas de imigração económica. Como “devolver à origem” fugitivos da Síria ou da Eritreia, sobre os quais os media, políticos e intelectuais europeus fazem discursos dramáticos e edificantes?
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Papua Nova Guiné aceita 187 imigrantes que tentaram entrar na Austrália
A Papua Nova Guiné aceitou hoje receber os 187 imigrantes ilegais que tentaram este fim-de-semana entrar na Áustrália, juntando-se deste modo a Nauro - nação insular do Pacífico - na recolha dos imigrantes recusados, mais uma vez, pelo Governo australiano. Apesar da elevada criminalidade e da debilidade económica, a Papua Nova Guiné, ex-colónia australiana, decidiu dar asilo aos imigrantes indonésios, que estavam sob a vigilância das autoridades australianas, a bordo da fragata da Marinha "Adelaide" depois de alegadamente terem sabotado a sua própria embarcação, de origem iraquiana. A Austrália acusa os imigrante... (etc.)

Papua Nova Guiné aceita 187 imigrantes que tentaram entrar na Austrália
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
TEXTO: A Papua Nova Guiné aceitou hoje receber os 187 imigrantes ilegais que tentaram este fim-de-semana entrar na Áustrália, juntando-se deste modo a Nauro - nação insular do Pacífico - na recolha dos imigrantes recusados, mais uma vez, pelo Governo australiano. Apesar da elevada criminalidade e da debilidade económica, a Papua Nova Guiné, ex-colónia australiana, decidiu dar asilo aos imigrantes indonésios, que estavam sob a vigilância das autoridades australianas, a bordo da fragata da Marinha "Adelaide" depois de alegadamente terem sabotado a sua própria embarcação, de origem iraquiana. A Austrália acusa os imigrantes de atirarem as crianças para a água quando a Marinha tentava forçá-los a regressarem à Indonésia. Segundo a Reuters, o Estado australiano propôs-se a pagar as despesas de um centro de acolhimento na Papua Nova Guiné para acolher os refugiados. À semelhança do caso "Tampa", em Agosto passado, cujos imigrantes afegãos depois de longos dias de espera para entrar no território australiano foram conduzidos para Nauro, mediante uma recompensa monetária - actuação que mereceu fortes críticas ao Governo de Camberra -, a Austrália mantém intransigentemente a sua intenção de não aceitar pessoas em situação ilegal, mesmo quando se está perante um caso grave de condições humanitárias. "O centro deverá ser organizado pela Organização Mundial para a Imigração, cuja assistência será prestada através da Austrália", disse Mekere Morauta, primeiro-ministro da Papua Nova Guiné. De acordo com o primeiro-ministro australiano, John Howard, os imigrantes que se encontram ainda a bordo da fragata "Adelaide" serão transferidos para a Ilha de Natal, onde aguardarão até à construção do centro de acolhimento. Camberra reafirma a sua determinação de continuar a luta contra a imigração ilegal, restringindo ainda mais os países de cuja nacionalidade aceita oficialmente refugiados. Após as vagas do Centro de Nauro se encontrarem praticamente esgotadas para acolher mais imigrantes, o primeiro-ministro australiano viu-se na iminência de procurar um lugar alternativo para os refugiados que continuam a tentar entrar no território.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração ilegal
Sozinha, uma mulher negra fez frente a 300 neonazis
A imagem tornou-se viral na Suécia e já está a correr o mundo. (...)

Sozinha, uma mulher negra fez frente a 300 neonazis
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 11 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.16
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161231230727/http://www.publico.pt/1731016
SUMÁRIO: A imagem tornou-se viral na Suécia e já está a correr o mundo.
TEXTO: O que leva uma mulher a desafiar cerca de 300 neonazis? A protagonista desta história é Tess Asplund, uma mulher de 42 anos, com ascendência africana, cuja sua imagem se tornou viral depois de ter enfrentado sozinha, no último domingo, uma manifestação organizada pelo Movimento da Resistência Nórdica, na cidade de Borlänge, Suécia. A imagem de Tess Asplund de punho erguido a enfrentar o grupo de extrema-direita está a correr o mundo. Entrevistada pelo jornal britânico The Guardian, Asplund conta que não reflectiu e agiu no momento. “Foi um impulso. Eu estava tão zangada, tive de sair para a rua”, confessa. “Só pensava: nem pensar, eles não podem marchar aqui. Nenhum nazi vai marchar aqui, não está correcto”. Depois da manifestação, apanhou um comboio para Estocolmo e esqueceu o assunto. Segunda-feira percebeu que a foto estava a correr as redes sociais. Agora teme pelos seus 50 kgs de coragem que lhe parecem pouco quando pensa nos “grandes e loucos” membros do grupo de extrema-direita. “Talvez não o devesse ter feito, quero paz e sossego”, desabafa. O medo não é em vão. Tess afirma que as acções daquele grupo lhe são familiares e conta que alguns dos seus amigos já foram atacados e obrigados a mudar de casa. A mulher já recebeu telefonemas anónimos a meio da noite onde pessoas lhe gritam do outro lado do auscultador. “É difícil falar sobre o ódio. Sinto vergonha por termos este problema. As autoridades dizem que é um país democrático. Mas estamos a falar de nazis! É horrível”, confessa. A manifestação de domingo acontece numa altura em que os movimentos de extrema-direita estão a aumentar na Suécia, explica Daniel Poohl, editor da Expo, uma revista anti-racista sueca, à qual pertence o fotógrafo que captou a imagem viral. O impacto da fotografia foi tal que os meios de comunicação suecos já a compararam a uma outra famosa imagem, capturada por Hans Runesson em 1985, e que ficou conhecida como “a senhora com a mala”. Na imagem, hoje com mais de três décadas, uma mulher usa a sua mala para bater num skinhead do partido neo-nazi sueco, dissolvido em 2009. As sondagens mostram que os Democratas Suecos, um partido nacionalista, conservador e anti-imigração, conquistam 15% a 20% das intenções de voto dos eleitores e mantêm o poder no Parlamento, enquanto a proliferação do seu discurso se espalha por sites que incitam ao ódio. É no espectro mais extremista desta ideologia que encontramos o Movimento da Resistência Nórdica, explica Poohl. “Vivemos numa Europa onde as ideias de extrema-direita se estão a tornar cada vez mais populares e também existe uma reacção contra elas”. “Vivemos dias em que as pessoas aguardam por algo que canalize esta necessidade de resistir à Europa que constrói muros e fronteiras contra refugiados, uma Europa com quem não podem cooperar mais. O gesto de Tess capturou um desses conflitos actuais”, analisa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Recorde-se que a Suécia rejeitou, no início deste ano, a entrada de mais refugiados e migrantes da Ásia e Médio Oriente, alegando receio de que esta vaga ameace a segurança nacional, depois de se terem registado episódios de violência em centros de acolhimento de refugiados. Em Janeiro o país começou a recusar a entrada de migrantes sem documentos. No último ano, as Nações Unidas consideraram que o país tem um problema específico de Afrofobia. "O racismo foi normalizado na Suécia. Pensava que a Suécia em 2016 iria ser mais aberta, mas alguma coisa aconteceu”, lamenta Tess. “Espero que algo positivo resulte desta fotografia. Talvez aquilo que eu fiz se torne um símbolo de que qualquer pessoa pode fazer alguma coisa. Se uma pessoa o conseguiu, qualquer um consegue”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência imigração mulher racismo medo racista vergonha
As 2300 crianças que já foram separadas não têm data para se reunirem com a família
O decreto assinado nesta quarta-feira não deverá ter efeitos retroactivos. A segurança na fronteira será reforçada e serão construídas instalações para colocar as novas famílias detidas. (...)

As 2300 crianças que já foram separadas não têm data para se reunirem com a família
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O decreto assinado nesta quarta-feira não deverá ter efeitos retroactivos. A segurança na fronteira será reforçada e serão construídas instalações para colocar as novas famílias detidas.
TEXTO: Donald Trump assinou um decreto a determinar que crianças e pais fiquem detidos juntos por tempo indeterminado, numa tentativa de acalmar as críticas em relação à política de tolerância zero, que separou famílias na fronteira do país. No entanto, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos alerta que as mais de 2300 crianças que já foram separadas das suas famílias não serão imediatamente devolvidas aos pais. Kenneth Wolfe, porta-voz da Administração para Crianças e Famílias, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, esclarece que “não haverá uma aplicação retroactiva [do decreto presidencial] em relação aos casos já registados”, cita o New York Times. As imagens de crianças menores a ser retiradas aos pais e levadas para centros de detenção comparados a gaiolas geraram uma onda de críticas. Do Papa, à ONU, passando pela antiga primeira-dama Laura Bush e até a actual primeira-dama Melania Trump, a indignação com a separação de famílias correu o mundo. Depois de atirar as culpas para os democratas, que "não se preocupam com o crime" e "querem que os imigrantes indocumentados entrem e infestem o nosso país", o Presidente norte-americano procurou apaziguar as críticas, ordenando que as famílias passem a ser detidas em “instalações disponíveis para receber e cuidar das famílias estrangeiras (alien families)”, ou que estas “sejam construídas se necessário e de acordo com a lei”, enquanto esperam por julgamento. No entanto, o decreto de Trump não esclarece o que lhes acontecerá até que as tais instalações sejam assinaladas ou construídas e não determina se as crianças continuarão a ser separadas até que as instalações sejam atribuídas. Confrontada com estas questões durante a conferência de imprensa que se seguiu à assinatura do decreto, a Casa Branca não soube responder. O documento de quatro páginas ressalva que a Administração vai não só continuar a acusar criminalmente todos os que atravessem a fronteira de forma ilegal como também vai reforçar o controlo da segurança na fronteira. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A decisão de Trump é conhecida no dia em que a Hungria aprovou um pacote legislativo que torna crime prestar auxílio a quem entre no país sem documentos legais — mesmo que seja para pedir asilo. Também nesta quarta-feira, Dia Mundial dos Refugiados, soube-se que os países da OCDE receberam menos refugiados pela primeira vez em seis anos. A descida acontece apesar de a população global de refugiados ter aumentado. Enquanto em 2013 existiam 11, 1 milhões de pessoas em busca de asilo, no último ano o número saltou para 18, 5 milhões de refugiados. A entrada de migrantes tem sido um dos principais focos de tensão política mundial. O crescimento de movimentos populistas e a sua respectiva representação em órgãos de poder (veja-se o caso da Alemanha com o partido da extrema-direita Alternativa para a Alemanha a tornar-se o terceiro partido mais representado no Bundestag) tem também constituído uma acentuada preocupação.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU OCDE
O país onde o populismo continua impopular
Especialistas e comentadores internacionais espantam-se com a falta de uma força populista relevante em Portugal. Um olhar sobre o fenómeno. (...)

O país onde o populismo continua impopular
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Especialistas e comentadores internacionais espantam-se com a falta de uma força populista relevante em Portugal. Um olhar sobre o fenómeno.
TEXTO: O populismo está na ordem do dia. Um pouco por toda a Europa, líderes como a francesa Marine Le Pen ou o italiano Beppe Grillo têm tomado conta das audiências televisivas, abalroado o debate político e ganho votos – muitos votos. As excepções a este “zeitgeist populista”, como lhe chamou o investigador holandês Cas Mudde, são raras. Na União Europeia, há mesmo apenas dois países onde o populismo continua a passar à margem a nível nacional. Portugal é um deles (o outro é Malta). A ausência de populismo em Portugal tem, nos últimos tempos, começado a merecer maior atenção por parte de uma imprensa estrangeira fascinada com a aparente normalidade da discussão política entre nós. O jornal online americano Politico caracterizou aquilo que se vive por cá como um “oásis de estabilidade”. No Reino Unido, o diário Financial Times mostrou-se surpreendido com o “fraco apoio a movimentos radicais em Portugal”, enquanto o semanário The Economist lhe chamou “a austeridade sem o ódio”. A classe política nacional também não deixa de mencionar o assunto. “Um grande orgulho, ” foi como António Guterres definiu, no princípio deste ano, “um país onde o populismo não dá votos”. A excepção portuguesa pode ser vista como um fenómeno positivo para o país. O populismo tem como base uma divisão clara da sociedade em dois grupos homogéneos – as elites, que são inerentemente corruptas, e por isso devem ser excluídas, e o povo, que é puro e cuja vontade deve ser tomada como lei. Não é uma ideologia negativa em si. Nelson Mandela, por exemplo, usou o populismo para fins nobres. Mas este tipo de política é necessariamente reducionista e iliberal, pois recusa a heterogeneidade e a transigência. Por isso mesmo, acarreta riscos para as democracias maduras em que vive hoje a maior parte dos europeus. A investigação académica neste ramo está ainda nos seus primórdios em Portugal. Talvez por isso as explicações para a inexistência de populismo no país permaneçam, na sua maior parte, mal fundamentadas e pouco esclarecedoras. Ideias comuns como a do “país de brandos costumes”, ou opiniões sobre o aparente sucesso da “geringonça”, têm servido para justificar um fenómeno que é tudo menos simples. A sua complexidade advém da necessidade de ter em conta vários factores estruturais que podem explicar os diferentes níveis de sucesso do fenómeno. Um dos mais importantes tem que ver com a questão da imigração. Como os cidadãos têm uma tendência natural para se associarem a outros semelhantes a si mesmos, o aparecimento de elevado número de estrangeiros, de forma súbita, toca na ferida da xenofobia. Estes forasteiros tendem a ser vistos como uma ameaça à identidade cultural e às oportunidades económicas da sociedade local. A percepção de que as elites não estão a proteger adequadamente o povo (ou que não querem mesmo fazê-lo) leva os eleitores a procurarem um populista que os defenda – tanto dos imigrantes, como das próprias elites aparentemente corrompidas. Os estudos de diversas agências europeias mostram que os portugueses não são menos xenófobos ou anti-imigração do que os outros europeus. Antes pelo contrário – pelo menos desde o virar do século que as sondagens internacionais definem os portugueses consistentemente como uma das sociedades europeias que mais se opõe, ou desconfia, da imigração. A razão por que estas atitudes não têm originado uma maior procura por um tipo de populismo xenófobo ou nacionalista é que as características da imigração em Portugal não têm sido suficientes para causar alarme. Um estudo recente do Eurobarómetro concluiu que apenas 4% dos portugueses veêm a imigração como um dos principais problemas do país. É um número baixo, se tivermos em consideração que a média da UE se situa nos 26%. A diferença entre Portugal e a média europeia existe, não devido às atitudes face à população estrangeira, mas pelas características dos padrões de imigração. Estes têm-se mantido baixos e constantes no caso português. Ainda hoje, temos a segunda taxa de imigração mais baixa da União Europeia. A ausência de um aumento súbito de população estrangeira desde 1976, de números significativos de refugiados, e de crimes mediáticos associados à imigração (caso do terrorismo), leva os portugueses a não se sentirem ameaçados. Neste contexto, o eleitorado não sente a necessidade de um tipo de partido que politize este assunto. As questões em torno dos padrões de imigração têm a ver com o presente, mas os populistas são igualmente hábeis a manipular o passado. Neste sentido, outro factor importante para perceber o caso português envolve a memória colectiva - ou seja, a história que uma comunidade constrói acerca de si mesma. Como escreveu o investigador canadiano Daniel Bell, “a memória colectiva é aquilo que mantém o passado, ou pelo menos um retrato altamente selectivo desse tempo, vivo no presente. ”Basta prestar atenção a slogans como “Queremos o nosso país de volta”, do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), ou “Vamos tornar a América grande de novo”, de Donald Trump, para perceber como a memória é o espaço de acção predileto dos populistas. A invocação de um passado mitológico idílico acerta em dois coelhos de uma cajadada só. Por um lado, relembra uma história de glória, que reforça o sentimento de apego à nação. Por outro, reforça a culpa das elites pela aparente degradação do país, justificando a necessidade de eleger uma força populista que assalte as relações de poder e ponha em prática as soluções simples de que o povo precisa. Contudo, a usurpação da História, para fins populistas, esbarra em importantes obstáculos no caso português. Na memória colectiva, a nostalgia que envolve o império além-mar perde lugar para o trauma provocado pela Guerra Colonial, que deu à ideia de império uma conotação negativa. Além disso, o discurso nacionalista é hoje associado à opressão, à injustiça legal e social, e acima de tudo ao subdesenvolvimento, que caracterizaram o Estado Novo. Se os padrões de imigração já fazem o populismo da direita radical perder o sentido prático, então as narrativas na memória colectiva tornam-no também, aos olhos dos portugueses, desconfortável e indesejável do ponto de vista social. No contexto da memória, o período de transição para a democracia é igualmente importante. Com a Revolução dos Cravos, cada um dos pilares da sociedade portuguesa tradicional doutrinados por Salazar passou a ser repentinamente contestado. Isto criou, como escreveu a investigadora britânica Alison Ribeiro de Menezes, "a necessidade de reconsiderar mitos-chave da identidade portuguesa. ” A desorientação psicológica, causada por tão significativo momento de ruptura, deixou marcas profundas. Fez com que os portugueses sejam hoje menos abertos à possibilidade de mudanças radicais da ordem sociopolítica, o que constitui um importante obstáculo para os populistas que buscam o apoio das massas contra o “sistema”. Nas últimas décadas, só António Marinho e Pinto teve algum sucesso com uma política populista no nosso país. Foi episódico, e desmoronou-se em grande parte devido à sua inconsistência ao nível da presença política e desorganização em termos de dinâmica partidária. Mas o homem que dizia vir “do outro lado das montanhas” alertou-nos para uma outra questão fundamental à compreensão do populismo no caso português – a ruralidade e os processos de modernização. A geração europeia nascida a seguir à Segunda Guerra Mundial cresceu num período marcado pela falta de preocupações quanto a questões materiais. Alimentação, roupa, alojamento e medicamentos abundavam pela primeira vez, em sociedades industriais desenvolvidas, que já não sofriam o efeito da crise de 1929. As populações puderam começar a pensar noutros problemas. A emancipação de minorias oprimidas e a ecologia, por exemplo, tomaram lugares prioritários. Porém, esta mudança nos valores centrais da sociedade não foi homogénea - foi liderada por grupos liberais educados a nível universitário, empregados na sua maior parte num sector terciário que crescia a bom ritmo. Do lado oposto estavam as zonas maioritariamente rurais onde os valores tradicionais, principalmente a religião, mantiveram a sua força, assim como as comunidades fabris, que perderam economicamente com a transição para uma era pós-industrial. Estes grupos culparam as elites liberais e cosmopolitas pela degradação das regras morais, bem como da capacidade económica das antigas povoações industriais. Foram os grandes potenciadores do populismo, e são eles que ainda constituem os alicerces eleitorais de partidos como a Frente Nacional em França, ou o UKIP no Reino Unido. Em Portugal, a história é outra. A política económica mantida pelo Estado Novo fez com que, enquanto o resto da Europa se modernizava, o nosso país se mantivesse agrário. Portugal é uma excepção na história do desenvolvimento da Europa, já que nunca teve a indústria como principal sector da economia. Embora a retórica de empresas e sindicatos possa convencer-nos do contrário, a verdade é que o sector secundário tem mantido, desde a década de setenta do século passado, valores relativos de produção e emprego bastante constantes. Isto fez com que aquelas comunidades fabris, zangadas com as elites, que fomentaram o populismo no resto do continente, nunca chegassem a aparecer no nosso país. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto à questão dos valores, é certo que existe uma divisão significativa entre as populações urbanas e liberais do litoral, e as comunidades conservadoras nortenhas e insulares. No entanto, a importância que tal contraste poderia ter para o populismo perde-se na falta de mobilização política destas regiões, onde a tradicional passividade do eleitorado luso toma uma dimensão ainda mais significativa. São espaços onde as atitudes negativas face aos valores emancipatórios das elites se tornam pouco visíveis, ou úteis, para uma potencial força populista desejosa de criar um “movimento”. Para completar este cenário, já difícil para o populismo, é importante referir que o espectro político português tem pouco espaço para um novo partido. Da extrema-esquerda à direita temos cinco partidos sólidos, que ocupam bem o espaço ideológico. O caminho para chegar à relevância é também condicionado pelo nosso sistema eleitoral, que usa o Método d’Hondt. É um sistema proporcional, mas tem uma fasquia alta para a eleição do primeiro deputado, que desfavorece os partidos pequenos. Se pensarmos no (ainda que breve, e relativo) sucesso de Marinho e Pinto, talvez seja precipitado afirmar que Portugal é um país, como disse Guterres, “onde o populismo não dá votos”. Contudo, não há dúvida de que os vários obstáculos estruturais a este tipo de política vão muito além dos frequentemente citados “brandos costumes”. É assim que o nosso país continua a ser a excepção numa Europa cada vez mais radical – e um espaço onde o populismo é tudo menos popular.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Separar as crianças dos pais na fronteira “parte-me o coração”
Em 2018, não podemos, como nação, encontrar uma resposta mais gentil, mais humana e moral para a actual crise? Eu acredito que podemos. (...)

Separar as crianças dos pais na fronteira “parte-me o coração”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2018, não podemos, como nação, encontrar uma resposta mais gentil, mais humana e moral para a actual crise? Eu acredito que podemos.
TEXTO: No domingo, um dia em que nós, como país, nos dedicamos a honrar os pais e os laços familiares, estava entre os milhões de americanos que viram as imagens de crianças que foram separadas dos seus pais. Nas seis semanas entre 19 de Abril e 31 de Maio, o Departamento de Segurança Interna enviou quase 2000 crianças para centros de detenção de massa e de acolhimento familiar. Mais de 100 dessas crianças tinham menos de quatro anos. A razão destas separações é a política de tolerância zero para os seus pais, que são acusados de atravessar ilegalmente a nossa fronteira. Eu vivo num estado fronteiriço [o Texas]. E aprecio a necessidade de reforçar e proteger as nossas fronteiras internacionais, mas esta política de tolerância zero é cruel. É imoral. E parte o meu coração. O nosso governo não deveria estar no negócio de armazenar crianças em armazéns convertidos nem a fazer planos para as pôr em cidades de tendas no deserto perto de El Paso. Essas imagens lembram assustadoramente os campos de internamento americano-nipónicos da II Guerra Mundial, agora considerados como um dos episódios mais vergonhosos da História dos EUA. Sabemos também que este tratamento inflige trauma; os japoneses internados tiveram duas vezes mais probabilidades de sofrer doenças cardiovasculares ou de morrer prematuramente em comparação com aqueles que não foram internados. Os americanos orgulham-se de serem uma nação moral, de serem uma nação que envia alívio humanitário para locais devastados por desastres naturais, fome ou guerra. Orgulhamo-nos por acreditarmos que as pessoas devem ser avaliadas pelo conteúdo do seu carácter, não pela cor da sua pele. Orgulhamo-nos pela aceitação. Se somos verdadeiramente esse país, então é a nossa obrigação reunir aquelas crianças detidas com os seus pais – e parar de separar pais e filhos. Pessoas de todos os lados concordam que o nosso sistema de imigração não funciona, mas a injustiça da tolerância zero não é a resposta. Eu saí de Washington há quase uma década, mas sei que há pessoas boas em todos os níveis de governo que podem fazer o melhor para corrigir isto. Recentemente, Colleen Kraft, que dirige a Academia Americana de Pediatria, visitou um abrigo gerido pelo Gabinete de Realojamento de Refugiados dos EUA. Ela relata que apesar de haver camas, brinquedos, lápis de cera, um recreio e troca de fraldas, as pessoas que trabalhavam no abrigo estavam instruídas a não pegar ou tocar nas crianças para as confortar. Imagine não poder pegar numa criança que ainda está de fraldas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há 29 anos, a minha sogra, Barbara Bush, visitou a Grandma’s House, uma casa para crianças com HIV em Washington. Na época, no auge da crise do HIV, a doença era uma sentença de morte e a maioria dos bebés nascidos com a doença era consideradas “intocáveis”. Durante a sua visita, Barbara – que era primeira-dama na altura – pegou num bebé agonizante e moribundo chamado Donovan e aconchegou-o no seu ombro para o acalmar. A minha sogra nunca viu o seu abraço àquela frágil criança como um acto corajoso. Viu-o apenas como a coisa certa a fazer num mundo que pode ser arbitrário, indelicado e até cruel. Ela, que sabia o que era perder um filho - após a morte da sua filha de três anos -, acreditava que todas as crianças são merecedoras da bondade humana, compaixão e amor. Em 2018, não podemos como nação encontrar uma resposta mais gentil, mais humana e moral para a actual crise? Eu acredito que podemos. Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA