Taizé leva “love parade” cristã a Berlim, com 30 mil jovens para derrubar outros muros
O Muro de Berlim caiu em 1989, permitindo a reunificação alemã, mas permanecem outros muros por deitar abaixo. A partir desta quarta-feira, 30 mil jovens invadem a capital alemã numa espécie de “love parade” de jovens cristãos. A ideia é ajudar a derrubar muros de outro género, convocados pela comunidade de monges de Taizé (França), que reúne católicos e protestantes. (...)

Taizé leva “love parade” cristã a Berlim, com 30 mil jovens para derrubar outros muros
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.011
DATA: 2011-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Muro de Berlim caiu em 1989, permitindo a reunificação alemã, mas permanecem outros muros por deitar abaixo. A partir desta quarta-feira, 30 mil jovens invadem a capital alemã numa espécie de “love parade” de jovens cristãos. A ideia é ajudar a derrubar muros de outro género, convocados pela comunidade de monges de Taizé (França), que reúne católicos e protestantes.
TEXTO: “Há muros não apenas entre povos e continentes, mas também muito perto de nós e até dentro do coração humano”, escreve o prior de Taizé, o irmão Aloïs, na carta Rumo a uma nova solidariedade que, até dia 1 de Janeiro, será debatida pelos participantes do encontro. “Pensemos nos preconceitos entre povos diferentes. Pensemos nos imigrantes, tão perto e todavia frequentemente tão distantes. Entre religiões permanece uma ignorância recíproca e os próprios cristãos estão separados em múltiplas confissões”, acrescenta o texto, disponível no site oficial da comunidade. É a primeira vez que Taizé vai a Berlim para um destes encontros do que a comunidade designa como “peregrinação de confiança através da terra” – e que passou por Lisboa em 2004. A Alemanha é um dos países mais representados nos encontros em Taizé: “Ter um encontro europeu na capital do país tornava-se cada vez importante. Ainda por cima sendo Berlim a cidade simbólica que é, com marcas históricas de separação, divisão e reconciliação”, diz ao PÚBLICO o irmão David, responsável pelos contactos com os media e o único português da comunidade. Há, no entanto, uma pré-história deste encontro: desde 1961, quando o Muro de Berlim foi construído, os irmãos de Taizé multiplicaram as visitas à parte Leste, sob o domínio comunista. E em 1986, o fundador da comunidade, o irmão Roger Schutz, visitou a cidade para um encontro de jovens, com uma oração simultânea numa igreja católica e outra protestante. Foi necessário garantir às autoridades que não haveria jovens ocidentais a rezar no meio dos seis mil berlinenses de Leste. “Pessoas que viveram esse encontro há 25 anos, jovens nessa altura, foram apoios fundamentais na preparação do encontro que agora começa”, diz o irmão David. Os 30 mil participantes (entre os quais 400 portugueses) serão acolhidos, por estes dias, em famílias da cidade e arredores. “Muitas famílias que habitualmente não vão às igrejas sentiram-se interpeladas pela iniciativa e vão acolher jovens durante o encontro, dando uma imagem de hospitalidade, mas também de abertura a uma iniciativa religiosa e, quem sabe, a uma busca espiritual”, acrescenta o monge português. Ontem mesmo, muitas famílias sem prática religiosa continuavam a inscrever-se para acolher jovens, contava o irmão David. Orações, debates e manifestações artísticasDurante os dias do encontro, os participantes terão tempos de oração nas 150 paróquias protestantes e católicas da cidade de manhã; ao início e ao final da tarde concentram-se nos pavilhões do parque de exposições de Berlim. As orações das 18h serão transmitidas em directo através do site. O programa completa-se com debates sobre questões sociais, económicas e políticas, manifestações artísticas e religiosas. Nele se incluem uma reflexão bíblica partilhada por uma rabina judia e um monge de Taizé com membros da comunidade judaica; uma visita a uma mesquita e um debate com muçulmanos; um encontro com refugiados e um outro com deputados do Bundestag, o Parlamento federal, sobre a participação dos cidadãos na política – na carta do irmão Aloïs lê-se que é preciso “escutar os jovens que expressam a sua indignação” perante a pobreza e a injustiça, tentando “compreender as suas motivações essenciais”. Várias personalidades – entre as quais o Papa Bento XVI, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, e a chanceler alemã, Angela Merkel – enviaram mensagens aos participantes, também disponíveis no site de Taizé. O Papa escreve que, “perante a pobreza e as injustiças, numerosos jovens deixam-se ganhar pela revolta, pelo desespero ou mesmo pela violência”, mas eles precisam “da paz” que se encontra na fé.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Cineasta grego Theo Angelopoulos morreu atropelado
O cineasta grego Theo Angelopoulos, vencedor em 1998 da Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e do Leão de Ouro, em Vezena (1980), morreu na noite desta terça-feira, na sequência dos ferimentos que sofreu num atropelamento, horas antes, perto de Atenas. (...)

Cineasta grego Theo Angelopoulos morreu atropelado
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DATA: 2012-01-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cineasta grego Theo Angelopoulos, vencedor em 1998 da Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e do Leão de Ouro, em Vezena (1980), morreu na noite desta terça-feira, na sequência dos ferimentos que sofreu num atropelamento, horas antes, perto de Atenas.
TEXTO: Angelopoulos foi atropelado por uma moto ao final da tarde de terça-feira, em Pireu, junto à capital grega. O realizador, de 76 anos, foi hospitalizado com ferimentos considerados graves, acabando por morrer quatro horas depois devido a uma hemorragia interna, noticia nesta quarta-feira a agência de notícias AFP, citando fonte do hospital. Com uma carreira de mais de 40 anos, Theo Angelopoulos foi o realizador que conseguiu que a cinematografia grega atingisse audiências internacionais, destacando-se geralmente nos festivais europeus. Em 1995, venceu o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, com o filme “O Olhar de Ulisses”, protagonizado pelo actor norte-americano Harvey Keitel, e três anos depois, em 1998, conseguiu o prémio principal do festival, a Palma de Ouro, com “A Eternidade e um Dia”, sobre um escritor que tem o seu último dia de liberdade antes de ser internado no hospital. Antes, em 1980, recebera o Leão de Ouro com “Alexandre, o Grande”. Nascido a 27 de Abril de 1935 em Atenas, Angelopoulos viveu na Grécia durante os seus períodos mais conturbados. Enfrentou a ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial e passou depois pela Guerra Civil Grega, entre 1946 e 1949, acontecimentos que acabaram por marcar a sua cinematografia, que abordava geralmente temas políticos. A imigração e o exílio também foram temas recorrentes nos filmes do realizador. Theo Angelopoulos não descobriu logo a sua paixão pelo cinema, mas apenas no final dos anos 1960. Licenciado em direito, foi depois de se mudar para Paris, onde estudou no Instituto de Estudos Cinematográficos de Paris, que percebeu que a advocacia não era carreira para si. Já com novo curso, decide então voltar a Atenas e envereda pelo jornalismo, dedicando-se à crítica de cinema. Estava assim descoberta a sua grande vocação, o cinema. A Paris voltou depois muitas vezes, deixando a sua marca no cinema francês. Representante da “nova vaga” do cinema grego dos anos 1970 e 1980, os críticos consideram que influenciou consideravelmente o cinema que se fazia em França naquela época. Os seus filmes ficaram caracterizados pelas paisagens sombrias, o ritmo lento e os longos períodos sem qualquer fala, características que nem sempre conseguiram agradar ao público e à crítica. “Sou um homem pessimista”, dizia muitas vezes o realizador. Por terminar ficou a sua trilogia sobre a Grécia e o século XX. O primeiro filme, “The Weeping Meadow”, saiu em 2004, e remontava a 1919, com a chegada à Grécia dos refugiados de Odessa, terminando em 1949, no rescaldo da II Guerra Mundial. O segundo filme, “The Third Wing” (2008), começa no dia da morte de Estaline, em 1953, e termina em 1974. Ficou a faltar “Return”, que começaria nos finais século XX e terminava nos nossos dias. O Huffington Post lembra ainda uma entrevista televisiva recente do realizador, no ano passado, na qual Angelopoulos revelou alguns dos seus planos para um próximo filme, explicando que seria sobre a actual grande crise financeira que a Grécia enfrenta. Actualmente estava a trabalhar o seu próximo filme, que deveria chegar aos cinemas este ano, “The Other Sea”. Notícia actualizada às 10h03, acrescentados dados biográficos do realizador. Corrigido às 10h23 e às 12h23, títutlo do filme "O Olhar de Ulisses" e "A Eternidade e um Dia"
REFERÊNCIAS:
Depois do Adeus, os retornados agora na ficção da TV
Depois da literatura e dos documentários, RTP1 estreia nova série sobre as convulsões sociais em 1975/76. (...)

Depois do Adeus, os retornados agora na ficção da TV
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DATA: 2013-01-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois da literatura e dos documentários, RTP1 estreia nova série sobre as convulsões sociais em 1975/76.
TEXTO: “Em África tem-se o tempo, no ocidente tem-se o relógio”, diz Isabel Fragata, sorriso rasgado, sobre a vida nas antigas colónias portuguesas. Semblante carregado para recordar outro tempo, após 1975, já em Portugal: “Os retornados eram mal amados”. Nem o termo é aceite por todos, nem o tema é simples, mas esta semana, depois de uma vaga de livros sobre o êxodo de África de centenas de milhares de portugueses, é a vez da ficção televisiva e da rádio online se focar nos retornados. Depois do Adeus estreia sábado na RTP1 e traz “um país que fervilhava” aos ecrãs, diz a realizadora Patrícia Sequeira. A história real de Isabel Fragata, testemunho em vídeo apresentado nesta segunda-feira no Hotel Mundial, em Lisboa - que albergou famílias vindas das ex-colónias - a par da nova série, é uma de muitas que agora inspiram ficções. “Há um surgimento”, sublinha a historiadora Helena Matos, consultora de Depois do Adeus, e não um ressurgimento destas narrativas “e isso também é história - ninguém falava na situação deles, que é comum nos casos de refugiados”. Em 2011, o romance premiado O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, foi talvez o corolário da atenção de várias gerações de autores portugueses ao efeito disruptivo da descolonização na sociedade portuguesa - nos que nasceram ou emigraram para África e lá deixaram vidas depois de 1975 e nos “continentais”, como descreve o actor João Reis, que num período de redesenho social e político (não) acolhem os chamados retornados. Para Luís Marinho, director-geral de conteúdos da RTP, Depois do Adeus “retrata um período histórico controverso, e a série também será controversa por isso”. Depois do Adeus, título emprestado da canção de Paulo de Carvalho que foi a senha para a revolução de Abril e que agora toca no genérico da série, propõe-se como uma viagem do 25 de Abril (no qual terminava Conta-me como foi, série de época de sucesso da RTP1 e que fez a direcção de programas querer “completar o ciclo”) à eleição de Ramalho Eanes, com paragens no Verão Quente ou no 25 de Novembro através da vida de famílias vindas de Angola e residentes em Lisboa. Tem carochas e colarinhos pontiagudos, a ponte aérea, maoístas e nostálgicos de Luanda. Cada um dos 26 episódios está ligado a acontecimentos da época, não só pela cronologia, mas também por imagens dos arquivos da RTP (a Antena 1 lançou também o programa Começar de Novo, com histórias e sons do período, e a webradio Antena 1 Memória - Depois do adeus, começar de novo). Tudo para contar “um passado recente em relação ao qual temos algumas mágoas”, resume o actor Diogo Infante que, como João Reis, interpreta um retornado na série protagonizada por Ana Nave e José Carlos Garcia e produzida pela SPTV. "Contamos esse passado agora porque são “histórias absolutamente extraordinárias de fuga, de sobrevivência, de resistência e portanto é normal que, como qualquer povo, gostemos das nossas boas histórias”, diz Helena Matos. Se Diogo Infante vê em Depois do Adeus uma ligação directa com o momento actual - “Daqui a 20 anos talvez possamos estar a fazer uma série sobre os tempos de hoje e o sofrimento de famílias que vivem momentos dramáticos; a ficção devolve-nos essa realidade humana” -, João Reis acredita que a reaproximação a este passado, seja pela série documental A Guerra, pela literatura ou com esta nova série, conheceremos melhor “o modus operandi do português”. Helena Matos é peremptória: “A história destas pessoas e do país nos anos de 1975 e 76 mostra que há sempre uma saída”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra social
Oposição quirguize anuncia derrube do Governo
A polícia matou a tiro mais de 40 manifestantes, mas não terá conseguido evitar a queda do Presidente Bakiev. (...)

Oposição quirguize anuncia derrube do Governo
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DATA: 2010-04-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia matou a tiro mais de 40 manifestantes, mas não terá conseguido evitar a queda do Presidente Bakiev.
TEXTO: A oposição do Quirguistão - a mais pobre das ex-repúblicas soviéticas - anunciou ter derrubado o Governo, após um dia de violentos confrontos na capital, Bichkek, que provocaram pelo menos 47 mortos e centenas de feridos. Várias fontes deram como certa a fuga do Presidente Kurmanbek Bakiev, desde 2005 à frente de um país que constitui um foco da batalha geopolítica travada entre Washington e Moscovo na Ásia Central. "A oposição controla totalmente o poder", anunciou a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros Roza Otunbaeva, que terá sido mandatada para chefiar um Governo interino. Pouco antes, foi anunciada a demissão do primeiro-ministro, Daniar Ussenov, e a oposição garantia controlar a sede da presidência. O paradeiro de Bakiev, que ali estivera refugiado, era incerto. Um funcionário do aeroporto de Manas, nos arredores da capital, disse à AFP que o Presidente partiu durante a tarde num pequeno avião e uma responsável da oposição contou à Reuters que o destino foi Osh, cidade no Sul do país de onde ele é oriundo. Mas, ao final da noite, a situação na capital continuava confusa. "Continuamos a pensar que o Governo está em funções", afirmou um porta-voz da diplomacia dos EUA, país que tem em Manas uma base aérea essencial para as suas operações no Afeganistão. A presença militar americana não agrada a Moscovo, mas Vladimir Putin negou qualquer envolvimento "nos acontecimentos" no país vizinho. O primeiro-ministro russo acusou, no entanto, Bakiev de ter repetido os erros do seu antecessor, derrubado também por uma revolta popular: "Quando chegou ao poder, acusou Askar Akaiev de nepotismo, porque só a sua família controlava o poder, mas ele seguiu-lhe as pisadas. "Corrupção e nepotismo eram algumas das acusações feitas a Bakiev, reeleito em Julho, numa eleição chumbada pelos observadores. A subida dos preços, num país muito dependente das remessas dos seus imigrantes na Rússia, terá sido a gota de água que fez estalar os protestos, terça-feira em Talas, cidade no Noroeste do país, e ontem em Bichkek e Narin. Na capital, os protestos começaram pela manhã, quando a polícia tentou dispersar uma manifestação junto à sede da oposição, relatou a AFP. Foram disparados tiros, mas as forças de segurança acabariam por retirar. Vários opositores foram detidos, às ordens do procurador-geral, para serem libertados horas depois pelos seus próprios apoiantes. Numa tentativa para controlar os protestos, o Governo decretou o estado de emergência e impôs o recolher obrigatório em Bichkek. Mas, a meio da tarde, a Reuters descrevia "intensas trocas de tiros" no centro da cidade. O edifício da procuradoria-geral era consumido pelas chamas e apoiantes da oposição tinham já tomado a televisão estatal e o Parlamento. Os incidentes mais graves ocorreram, no entanto, quando os manifestantes - alguns armados com pedras, outros com armas retiradas aos militares - tentaram entrar na presidência. A polícia abriu fogo sobre a multidão, matando dezenas de pessoas. Os últimos números do Ministério da Saúde apontavam para 47 mortos e mais de 400 feridos só na capital. A oposição garantia, no entanto, que eram mais de cem as vítimas mortais.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
As pessoas vão perguntar: "Meu, o que é que ele sabe de política?"
"Não podia continuar só a cantar canções", justificou-se o cantor e produtor musical Wyclef Jean, estrela pop internacional e vencedor de três Grammy, que ontem, se tudo correu como estava anunciado, terá ido ao programa de Larry King, na CNN, oficializar a sua candidatura à Presidência do Haiti - o país de onde saiu aos nove anos de idade, que é o mais pobre do hemisfério ocidental e cuja capital, Port-au-Prince, foi arrasada por um violento tremor de terra a 12 de Janeiro. (...)

As pessoas vão perguntar: "Meu, o que é que ele sabe de política?"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Não podia continuar só a cantar canções", justificou-se o cantor e produtor musical Wyclef Jean, estrela pop internacional e vencedor de três Grammy, que ontem, se tudo correu como estava anunciado, terá ido ao programa de Larry King, na CNN, oficializar a sua candidatura à Presidência do Haiti - o país de onde saiu aos nove anos de idade, que é o mais pobre do hemisfério ocidental e cuja capital, Port-au-Prince, foi arrasada por um violento tremor de terra a 12 de Janeiro.
TEXTO: "Fui intimado a concorrer", explicou ao The New York Times o músico cuja fama há vários anos alimentava especulações de "presidenciável". Uma hipótese que ele, na verdade, não desdenhava, mas que não fazia parte dos seus planos imediatos: "Talvez tivesse esperado mais uns dez anos antes de me meter nisto", confessou. Mas pode ser eleito já a 28 de Novembro (se a votação acontecer na data prevista, o que não é por enquanto garantido). "Não sou eu que me estou a lançar, são as pessoas que me estão a empurrar", continuou, referindo-se aos apelos da juventude, que "sente que não há um futuro para o país". "Eu não quero ser aquela pessoa que, perante a devastação do país que amo, se limita a cantar canções", sublinhou. "As 250 mil pessoas que morreram no terramoto são a razão pela qual eu acho que me devo envolver", disse ontem de manhã no programa Bonjour Haiti da rádio Tropic. Jean admite que "as pessoas vão perguntar: "Meu, o que é que ele sabe de política?"" - e ele responde: "Nada" -, mas considera-se um "líder natural" e promete rodear-se dos maiores especialistas mundiais para resolver os complicados problemas e desafios que o Haiti enfrenta. A sua candidatura já está a gerar entusiasmo no país, onde metade da população tem menos de 26 anos de idade. Wyclef Jean goza de enorme popularidade entre a juventude, mas não só. "Ele fala do coração. Se ele diz que vai fazer alguma coisa, nós confiamos nele. Estamos fartos de pessoas que fazem promessas e não cumprem. Além de que ele já tem todo o dinheiro que precisa e por isso não vai roubar o nosso, como fizeram os outros", contentava-se Lindo Joseph, de 36 anos, citada pelo The New York Times. Se for eleito, e cumprir aquilo que prometeu numa das canções do seu álbum de 2004 Bem-vindos ao Haiti, Wyclef não vai gastar milhões em guerras: vai usar esse dinheiro para dar de comer aos pobres - 80 por cento da população de 10 milhões de habitantes, segundo as estimativas oficiais, vive na pobreza abjecta, com menos de dois dólares por dia (1, 5 euros) e dependente da ajuda humanitária. Carlos Seiglie, um especialista da universidade norte-americana de Rutgers, não se surpreenderá se Jean vencer as eleições. "Coisas mais estranhas já aconteceram. Há uma certa elite política no Haiti que vai estar contra ele, mas isso até funciona a seu favor", considera. Camille Chalmers, que dirige a Plataforma Haitiana para o Desenvolvimento Alternativo, lê na candidatura do cantor a prova da falência da política no país. "É uma catástrofe e um reflexo da debilidade da classe política do Haiti quando o sistema fica à mercê de uma pessoa mediática que aterra aqui vinda do estrangeiro", comentou ao The New York Times. O músico tem até sábado à meia-noite para fornecer os documentos exigidos pelo Gabinete Eleitoral Nacional do Haiti, cujo conselho tem depois uma semana para avaliar as candidaturas e determinar a elegibilidade dos seus proponentes. Segundo a lei, os candidatos têm de ser naturais do Haiti, têm que aí ter vivido por pelo menos cinco anos consecutivos e têm de ser proprietários de terra no país. Nascido em Croix des Bousquets, um subúrbio da capital, Wyclef Jean escapou com os pais e os irmãos da pobreza do Haiti aos nove anos de idade, seguindo a rota da imigração daquele país para os Estados Unidos, onde vive. Com 15 anos, juntou-se ao primo Prakazrel "Pras" Michel e à sua colega de turma Lauryn Hill no grupo de rap The Tranzlator Crew. Três anos mais tarde, os três criaram o seu próprio projecto, baptizado com o nome The Fugees, o calão por que eram conhecidos os refugiados haitianos. Em 1996 o grupo dissolveu-se e Wyclef iniciou uma carreira a solo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei imigração ajuda pobreza humanitária
União Europeia impõe limites à suspensão da livre circulação no espaço Schengen
O restabelecimento temporário dos controlos nas fronteiras no interior do espaço Schengen vai passar a ser autorizado em caso de pressão migratória anormal, embora apenas em circunstâncias excepcionais e mediante condições estritas para evitar decisões unilaterais. (...)

União Europeia impõe limites à suspensão da livre circulação no espaço Schengen
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O restabelecimento temporário dos controlos nas fronteiras no interior do espaço Schengen vai passar a ser autorizado em caso de pressão migratória anormal, embora apenas em circunstâncias excepcionais e mediante condições estritas para evitar decisões unilaterais.
TEXTO: Esta excepção às regras do espaço sem controlos internos regido pelo Acordo de Schengen de 1985 vai ser amanhã confirmada pelos líderes da União Europeia (UE) durante uma cimeira de dois dias. Apesar desta orientação política, uma decisão formal ainda precisará de meses de negociações entre os governos dos Vinte e Sete e o Parlamento Europeu, cujos membros resistem às tentativas de limitar a liberdade de circulação sem controlos no espaço comunitário. O espaço Schengen engloba todos os países da UE, com excepção do Reino Unido, Irlanda, Roménia, Bulgária e Chipre, mais três Estados exteriores - Suíça, Noruega e Islândia. As regras actuais já autorizam os países membros a reintroduzir unilateralmente os controlos nas fronteiras internas por períodos até 30 dias em situações que possam pôr em risco a segurança interna, caso dos grandes eventos desportivos ou culturais, bastando para isso informar os parceiros. Portugal fê-lo no Euro 2004. A França e a Itália, que se envolveram em Abril num confronto aberto a propósito da livre circulação de 20 mil tunisinos candidatos à imigração, exigem que a derrogação prevista para as ameaças à segurança interna possa ser igualmente aplicada aos casos de fluxos migratórios importantes, como alegam que está a acontecer com os refugiados das revoluções árabes e da guerra da Líbia. O confronto entre os dois países foi provocado pela decisão ilegal do Governo italiano de conceder títulos oficiais de residência e consequentemente de livre circulação aos milhares de tunisinos que chegaram desde o início do ano às suas costas, aconselhando-os mesmo de forma mais ou menos velada a juntarem-se a famílias e amigos em França. De forma igualmente ilegal, os franceses pararam na fronteira comboios que os transportavam e recambiaram-nos para Itália, o ponto da sua entrada no continente. Pouco depois foi a vez da Dinamarca anunciar a reintrodução de controlos de mercadorias nas fronteiras com a Alemanha e Suécia, para combater a criminalidade. Temendo pôr em risco uma das medidas mais emblemáticas do projecto europeu - a circulação sem controlos dos cidadãos -, mas conscientes dos riscos de utilização do tema da imigração pelos partidos extremistas e populistas em vários Estados-membros, os Vinte e Sete aceitaram a possibilidade de reintrodução de fronteiras em caso de pressão migratória anormal, embora rejeitando que a medida possa ser imposta de forma unilateral. Desta forma, os líderes deverão confirmar amanhã que as decisões nesta matéria terão de ser estritamente enquadradas pelas regras de decisão comunitárias e precedidas de uma avaliação da agência europeia que coordena os controlos nas fronteiras externas (Frontex).
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
A palavra de hoje é medo
É muito provável que esta prática seja abandonada em breve, até pelo coro de críticas que tem recebido nos Estados Unidos, designadamente dentro do Partido Republicano e de grupos religiosos. No entanto, já cumpriu a sua triste função. (...)

A palavra de hoje é medo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: É muito provável que esta prática seja abandonada em breve, até pelo coro de críticas que tem recebido nos Estados Unidos, designadamente dentro do Partido Republicano e de grupos religiosos. No entanto, já cumpriu a sua triste função.
TEXTO: As autoridades norte-americanas, sob a égide de Donald Trump, aplicam agora uma nova tecnologia de controlo da imigração económica proveniente da América Latina, que, em linguagem directa, chama-se medo e tortura. Depois de terem aparentemente desistido de construir um muro que fecharia por completo a América a Sul (uma ideia que funcionou bem em campanha eleitoral, num país capaz do mais complexo, mas sempre seduzido por ideias simples e visuais), mesmo ele existindo já em boa parte, a Administração terá chegado à conclusão que, uma vez que boa parte destes imigrantes irregulares viajam em família, com crianças pequenas, nada melhor do que separar os filhos dos pais à chegada e enclausurar crianças de quatro, cinco, seis anos em gaiolas, capoeiras, jaulas, celas colectivas – há muitos nomes adequados em português – em choro lancinante, para assustar quem procura a sua nova oportunidade na América. Pais e filhos pequenos em campos de detenção distintos, eis a simplicidade da nova política. A CNN tem mostrado à exaustão, recorrendo a gravações não autorizadas, o sofrimento destas crianças e o modo como a polícia de fronteira as trata. As imagens e os sons recordam outras imagens e outros sons que estamos talvez mais habituados a associar à CNN, em partes do mundo que não se chamam América. Eles estão também bem patentes, por exemplo, no website de investigação jornalística ProPublica (www. propublica. org). Lembro-me de, há talvez dez anos, ter estado em San Diego, sul da Califórnia, do outro lado da fronteira com Tijuana e, numa associação de protecção de imigrantes, me ter sido dito que já então era muito complicado prestar qualquer apoio a imigrantes não autorizados, pelas dificuldades criadas pelas autoridades, pela impossibilidade legal de terem apoio jurídico, pela dependência quase exclusiva da caridade. . . No entanto, era muito claro quem trabalhava nos campos e nos pomares da Califórnia. Parece que as coisas, portanto, nunca melhoram para alguns. É despiciendo, creio, comentar o que significa usar a separação de crianças de quatro e cinco anos dos seus pais, à entrada no desconhecido, como ferramenta de controlo da imigração. É também pouco relevante ver assessores de Trump em directo nas televisões a explicar que, após a separação dos pais, lhes oferecem acesso a videojogos e batatas fritas, o que na sua visão será um upgrade extraordinário na qualidade de vida daquelas crianças, que também beneficiam aliás do incentivo adicional proporcionado pelos polícias, por exemplo comentando, como se ouve num vídeo, “Mas temos aqui uma orquestra!”, perante o choro descontrolado das crianças enjauladas e longe dos pais. A melomania policial sempre foi um excelente remédio para a pobreza, como todos sabemos. É muito provável que esta prática seja abandonada em breve, até pelo coro de críticas que tem recebido nos Estados Unidos, designadamente dentro do Partido Republicano e de grupos religiosos. No entanto, já cumpriu a sua triste função, que foi criar a percepção, para o apoio eleitoral de Trump, de que há algo de eficaz a ser feito e, para os potenciais imigrantes, de que as coisas vão ser mesmo duras e mais vale pensar duas vezes antes de tentarem o salto. Num país construído pela imigração ao longo dos últimos dois séculos, é obra. E a Europa? Não estamos muito longe disto, como sabemos. Não vale a pena grandes comoções de crítica à América de Trump. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O leste europeu vive como sempre viveu, sentindo-se ameaçado por tudo o que está do outro lado da fronteira, seja esta qual for. A Inglaterra está de saída, após deliberação democrática, e o receio da imigração cumpriu aí um papel decisivo. A Itália está numa senda pró-Trump. Os países escandinavos vivem cada vez menos a sua má consciência de países ricos. Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Espanha – todos acusam o peso da imigração, da integração difícil, da sensação de insegurança, da ameaça do terrorismo de reclamação islâmica. Não está a Europa unida em matéria de imigração e de acolhimento de refugiados, como se lê nos jornais? Não é verdade. Está mais do que unida. Os europeus não os querem cá, é muito claro. Os franceses que vieram viver para Portugal nos últimos anos não o fizeram essencialmente por razões fiscais. Fizeram-no porque estão fartos de se sentirem obrigados a atravessar a rua para não se cruzarem com um grupo de árabes. Fizeram-no por medo. É isto bonito? Não é. Mas é verdade. E a verdade, por vezes, tem de ser ponderada nas decisões políticas, mesmo numa Europa que se habituou, desde a Segunda Guerra, a ter melhores políticos do que a média dos seus cidadãos, por mais que os execremos até à exaustão (com Merkel à frente). O populismo é só isto: oferecer a decisão política à mediania, quando era preciso sermos sempre melhores do que isso.
REFERÊNCIAS:
Étnia Árabes
O eterno dilema das democracias
No próprio dia em que milhões de franceses saíram à rua e meia centena de chefes de Estado e de Governo desfilaram em Paris, o ministro do Interior francês reuniu alguns dos seus principais parceiros europeus e norte-americanos para iniciar o debate sobre como enfrentar esta nova estirpe do terrorismo que abalou a França. Nada ficou decidido, como seria de esperar. Bernard Cazeneuve limitou-se a enunciar uma lista de medidas que devem entrar na agenda europeia e que serão discutidas nas próximas semanas. Algumas são mais ou menos óbvias, mesmo que seja preciso levar em atenção os seus limites. A primeira é o refo... (etc.)

O eterno dilema das democracias
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150429092107/http://www.publico.pt/1682014
TEXTO: No próprio dia em que milhões de franceses saíram à rua e meia centena de chefes de Estado e de Governo desfilaram em Paris, o ministro do Interior francês reuniu alguns dos seus principais parceiros europeus e norte-americanos para iniciar o debate sobre como enfrentar esta nova estirpe do terrorismo que abalou a França. Nada ficou decidido, como seria de esperar. Bernard Cazeneuve limitou-se a enunciar uma lista de medidas que devem entrar na agenda europeia e que serão discutidas nas próximas semanas. Algumas são mais ou menos óbvias, mesmo que seja preciso levar em atenção os seus limites. A primeira é o reforço das fronteiras externas de Schengen, com a melhoria do seu sistema de informações. Outras dizem respeito à “partilha de informações” entre os serviços secretos europeus e com os Estados Unidos. Por mais evidente que seja a sua necessidade, esta partilha esbarra numa mútua desconfiança difícil de superar. São instrumentos que já existem mas precisam de ser melhorados. Por exemplo, o chamado Registo dos Nomes dos Passageiros (PNR na sigla inglesa) nos voos entre a Europa e os Estados Unidos (e também o Canadá e a Austrália) que já está a funcionar há alguns anos, ainda não se aplica aos voos na Europa. A responsabilidade cabe ao Parlamento Europeu, que tem para aprovação desde 2011 uma lei nesse sentido, alegando que não salvaguarda o suficiente o direito à privacidade. A questão politicamente mais delicada – a possibilidade de repor as fronteiras internas dos países do Espaço Schengen –, não constou na lista de prioridades de Cazeneuve e dos seus pares. Mas tem estado presente no debate europeu, nem sempre pelas melhores razões. Já hoje Tratado de Schengen abre essa possibilidade, mas apenas em casos excepcionais, com autorização de Bruxelas e um limite temporal de 15 dias. A banalização desta prática acabava por desvirtuar o seu objectivo. A França não a colocou na agenda. Mas o ministro do Interior espanhol, em declarações ao El País, defendeu-a como necessária, embora sem uma justificação cabal. O anterior Presidente francês Nicolas Sarkozy também chegou a defender uma maior facilidade para repor as fronteiras, embora por razões que pouco tinham a ver com segurança. Tratava-se de impedir os milhares de refugiados da Líbia, na altura da guerra contra Kadafi, que desembarcavam na Itália mas cujo destino era a França. Há uma linha ténue entre as medidas que visam impedir a entrada de jihadistas na Europa e as que visam o controle da entrada de imigrantes ilegais e de refugiados. O problema é hoje tanto mais sério quanto as guerras na Síria e no Iraque estão a atirar para a Europa um gigantesco número de refugiados, que têm os seus direitos garantidos pela Convenção de Genebra. Traçar fronteiras claras não é fácil mas é fundamental. O debate sobre o equilíbrio entre a segurança e as liberdades cívicas nas democracias não é novo. Depois do 11 de Setembro, a grande questão foi saber até que ponto era necessário cercear as liberdades cívicas para garantir a segurança. Agora, como em 2001, o choque inicial tende a valorizar a segurança e é isso que esperam as opiniões públicas ocidentais. Foi o que aconteceu na Europa, depois de Nova Iorque, de Madrid e de Londres, com o reforço das leis antiterroristas, o aumento da segurança nos aeroportos, as câmaras de vídeo no Metro. Hoje, já nos habituámos a viver com esses incómodos. As liberdades sobreviveram bastante bem. Esse equilíbrio pressupõe um outro debate sobre os preconceitos e as ideias feitas que muitas vezes estão subjacentes. Olivier Roy, o grande especialista francês do Islamismo, escreveu há dias que “há mais muçulmanos franceses a trabalhar nos servições de segurança do que para a Al Qaeda”. O académico francês insurge-se contra o facto de todos serem integrados na mesma suposta Comunidade muçulmana, que verdadeiramente não existe. “Na França, não há uma Comunidade muçulmana, há uma população muçulmana”. Como António Vitorino, que foi comissário europeu para os Assuntos Internos, lembrava recentemente, há mais de 5 milhões de franceses de origem muçulmana em França que vivem as suas vidas normalmente, e um pouco mais de mil que se deixam atrair pela jihade. As generalizações não são boas. Mas chamava também a atenção para este fenómeno novo (que já setinha visto nos atentados de Londres) que são os terroristas “homegrown” e que, por isso, levantam novas questões. Os terroristas de Paris nasceram na França, são franceses e utilizam as liberdades que esse estatuto lhes confere. Mas este não é um desafio que exija mudanças do Tratado de Schengen, diz o antigo comissário. O sistema já prevê a troca de informações que permite impedir de entrar suspeitos de actividade criminosa ou terroristas. A questão é saber se está a funcionar devidamente.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
Até ao próximo susto
1. Se o candidato da extrema-direita tivesse vencido as eleições presidenciais na Áustria, as capitais europeias e as instituições da União não saberiam o que fazer. Com a vitória do seu adversário Verde, mesmo que por uma unha negra, vão limitar-se a respirar de alívio e esquecer o que aconteceu até ao próximo susto. As razões do avanço da extrema-direita são por demais conhecidas e o seu caminho em direcção ao poder não é exclusivo da Áustria. Na Finlândia, na Holanda ou na Dinamarca, forças populistas com idêntico programa já integraram ou apoiaram governos. Partidos da mesma natureza vão somando sucessos em m... (etc.)

Até ao próximo susto
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-06-12 | Jornal Público
TEXTO: 1. Se o candidato da extrema-direita tivesse vencido as eleições presidenciais na Áustria, as capitais europeias e as instituições da União não saberiam o que fazer. Com a vitória do seu adversário Verde, mesmo que por uma unha negra, vão limitar-se a respirar de alívio e esquecer o que aconteceu até ao próximo susto. As razões do avanço da extrema-direita são por demais conhecidas e o seu caminho em direcção ao poder não é exclusivo da Áustria. Na Finlândia, na Holanda ou na Dinamarca, forças populistas com idêntico programa já integraram ou apoiaram governos. Partidos da mesma natureza vão somando sucessos em muitos países europeus. As bandeiras são as mesmas: contra os imigrantes e os refugiados, e ainda mais se forem muçulmanos; contra a integração europeia; contra a globalização. A sua evolução também tem aspectos comuns. Tentam deixar para trás velhos líderes ainda demasiado conotados com o nacionalismo agressivo da primeira metade do seculo XX, substituindo-os caras mais jovens e mais simpáticas, que mais facilmente lhes permitem integrar o sistema político, como qualquer outro partido. Hofer preenche os requisitos, embora a leitura do programa do partido que ele próprio escreveu em 2011 faça tocar todas as campainhas, quando defende “um povo alemão, na mesma comunidade de cultura”. 2. Não vale a pena fixarmo-nos apenas na sua pequeníssima derrota, porque ela não consegue encobrir um problema mais grave, comum a muitos países europeus: o enfraquecimento crescente (ou a implosão) dos partidos democráticos de centro-direita e de centro-esquerda. Hofer perdeu por décimas. Os dois partidos da “grande coligação” que governa em Viena, os sociais-democratas e os conservadores, viram os seus candidatos reduzidos à expressão mais simples, com cerca de 11% cada um na primeira volta. Haverá eleições legislativas o mais tardar em 2018. Se fossem hoje, seriam ganhas pelo partido de Hofer, o que seria apenas uma meia surpresa. No passado recente, os dois partidos do sistema não hesitaram em aceitar o apoio da extrema-direita no governo ou no Parlamento. Acresce que ambos carregam uma longa história muito pouco edificante, desde que governam a Áustria a partir da II Guerra, garantindo a partilha equitativa de empregos públicos entre os seus militantes. A Guerra Fria permitiu muita coisa em nome da ameaça soviética. A Áustria vivia numa neutralidade forçada, imposta pelos equilíbrios de poder negociados depois da derrota de Hitler. Apenas aderiu à União Europeia, com a Suécia e a Finlândia, em 1995. Foi e é, com crise ou sem crise, um país próspero. Hoje, mais talvez do que a incerteza económica, os eleitores estão fartos não apenas dos imigrantes e refugiados, mas de uma elite que não dá atenção aos seus problemas, que se perpetua no poder e que defende uma Europa na qual já não acreditam. 3. Viena já tem também uma história em matéria da compatibilidade das suas escolhas políticas com a União Europeia. Foi durante a presidência portuguesa da União, em 2000, que pela primeira vez os quinze líderes europeus se confrontaram com a entrada do mesmo partido de Hofer, nessa altura liderado por Joerg Haider, num governo liderado pelo partido conservador. Foi um choque inesperado que levou o Conselho Europeu a decretar sanções diplomáticas contra Viena, muito por pressão da França, sujeitando a Áustria a uma espécie de quarentena. O castigo não durou muito nem tive grande resultado. Nessa altura, já tinha havido o caso sombrio de Kurt Waldheim, que chegou a ser secretário-geral da ONU e que foi eleito Presidente pelos austríacos em 1985, quando o seu passado militar ao lado do exército nazi começava a ser revelado. Durante o seu mandato, não conseguiu visitar uma única capital europeia, onde a sua presença não era naturalmente bem-vinda. 4. Hoje, a força do partido de Norbert Hofer é mais um sinal vermelho, mesmo que muito carregado, dos riscos que as democracias europeias estão a correr, ao ignorarem as consequências políticas da forma como estão a gerir as múltiplas crises que a Europa atravessa. Curiosamente, Viena foi um dos países que melhor reagiu à onda de refugiados que passaram as suas fronteiras, para ficar ou para seguir para a Alemanha. É um dos países que mais concessões de asilo já deu e está disposta a dar. O problema, dizem alguns analistas austríacos, não apenas a rejeição dessas políticas, mas também o facto de o Governo, com a aproximação das eleições, ter mudado radicalmente de posição, erguendo fronteiras e endurecendo a lei do asilo, para torná-la menos apelativa. O resultado está à vista. A única diferença é que, desta vez, não haveria sanções, mas penas alguma gesticulação de Bruxelas. A Hungria de Órban já provou que é grande a tolerância europeia quanto aos seus princípios fundadores. Alguém acredita que a Europa pode sobreviver à doença do nacionalismo?
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Os Censos, reflexo da liberdade religiosa
Costuma-se dizer que a sociologia é a confirmação do óbvio. O mesmo se pode dizer dos Censos e em particular do Censo de 2011 divulgado no final do ano. Mas tal como a sociologia, os Censos são necessários porque nos dão uma visão mais rigorosa da realidade e, sobretudo, da sua evolução – mesmo admitindo a margem de erro que inevitavelmente contêm e as diferentes interpretações a que os números sempre se prestam. Um dos elementos que eu gostaria de comentar surge no final do Censo 2011. Trata-se das respostas, facultativas, sobre a pertença religiosa. Num total de quase nove milhões de pessoas acima dos 15 anos, ... (etc.)

Os Censos, reflexo da liberdade religiosa
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-10 | Jornal Público
TEXTO: Costuma-se dizer que a sociologia é a confirmação do óbvio. O mesmo se pode dizer dos Censos e em particular do Censo de 2011 divulgado no final do ano. Mas tal como a sociologia, os Censos são necessários porque nos dão uma visão mais rigorosa da realidade e, sobretudo, da sua evolução – mesmo admitindo a margem de erro que inevitavelmente contêm e as diferentes interpretações a que os números sempre se prestam. Um dos elementos que eu gostaria de comentar surge no final do Censo 2011. Trata-se das respostas, facultativas, sobre a pertença religiosa. Num total de quase nove milhões de pessoas acima dos 15 anos, 7. 281. 887 milhões afirmam-se católicas, 347. 756 de outras religiões e 615. 332 sem religião. Relativamente a 2001, há algumas mudanças significativas, a maior das quais é o aumento quase para o dobro das pessoas que se afirmam “sem religião” – em 2001 eram 342. 987. Há também, relativamente a 2001, um aumento de 82. 508 pessoas de “outras religiões”. A religião católica é única que perde, embora de forma muito pouco significativa: 72. 661 a menos em comparação com 2001. Sem surpresas, as religiões que mais cresceram em Portugal são as cristãs não-católicas – de 188. 489 em 2001 para 295. 459 em 2011. Com totais muito mais reduzidos, aumentaram significativamente os muçulmanos e o grupo designado por “não-cristãos”, entre os quais estarão os hindus, budistas, bahai e outros. Quanto aos judeus, apesar de um aumento nas respostas quase para o dobro, mantém-se como uma das religiões de menor dimensão numérica em Portugal. Como interpretar estes números? Em primeiro lugar, cresce a indiferença religiosa. O número dos que se afirmam “sem religião” é o que mais aumentou, confirmando uma tendência que se afirma desde 1960 à semelhança da Europa, apesar das diferenças entre os países ex-comunistas e a Europa Ocidental e do Norte. Mas erramos se pensarmos que a indiferença religiosa é apenas aquela que se afirma como tal. Vivemos numa zona do globo de cultura religiosa predominantemente cristã, mas onde a separação entre cultura religiosa e prática religiosa é cada vez maior. Muitos dos que se afirmam católicos podem até ser baptizados e ligados às suas tradições, mas estas são vividas de forma cada vez mais secular. Este fenómeno que, embora de forma diferente, também se verifica no judaísmo, não tem paralelo na religião muçulmana e evangélica: são religiões mais totalizantes no primeiro caso, e militantes no segundo. Tal como a judaica, a religião evangélica é pouco hierarquizada e muito descentralizada, o que facilita o sentimento de relação pessoal e colectiva com o divino. Mas, contrariamente ao judaísmo, é uma religião prosélita e carismática, em que o papel do pastor ou do líder religioso é fundamental. Na religião muçulmana, atrevo-me a dizer que há pouca separação entre cultura e religião: um muçulmano é, acima de tudo, um praticante da sua religião. Talvez estes factores contribuam para o crescimento destas duas confissões, enquanto a hierarquização rígida e estratificada das religiões demasiado institucionalizadas afasta os crentes. A imigração é outro factor a ter em conta quando cruzamos religião e imigração: o número de muçulmanos cresceu muito com a vinda de imigrantes de Moçambique e da Guiné, e o dos hindus com os imigrantes da Índia. Da mesma forma, o crescimento dos cristãos ortodoxos também se deve, em grande parte, à imigração ucraniana, assim como os brasileiros – perto de 110 mil de respostas registadas – vieram reforçar os evangélicos. Nada disto se passa com o judaísmo. Os judeus não são imigrantes. Foram-no de forma limitada no século XIX e início do século XX, quando, depois de três séculos de banimento, aqui se puderam voltar a instalar. Foram novamente imigrantes e sobretudo refugiados do anti-semitismo e do nazismo durante a primeira metade do século XX. Mas o judaísmo não é uma religião prosélita e, para além de uns poucos que vieram instalar-se no Portugal da União Europeia, a realidade judaica actual é composta pelos descendentes desses imigrantes e refugiados, por um lado, e por outro do remanescente das comunidades cripto-judaicas que hoje voltam a assumir a sua identidade antiga. Apesar de parte integrante da identidade portuguesa desde a constituição da nacionalidade, é hoje uma realidade diminuta devido essencialmente às vicissitudes da história e à sua própria maneira de estar no mundo: mais do que um refúgio, o judaísmo é uma responsabilidade e um compromisso – nem sempre muito fáceis, diga-se de passagem. . . A democracia, acompanhada pela liberdade de consciência, mudou Portugal. As pessoas assumem sem medo a sua identidade religiosa diversa e os Censos são o reflexo disso mesmo. Mas a história ensina-nos que nada é irreversível e a liberdade religiosa, mais ainda do que qualquer outra, nunca é definitiva. Sobretudo em tempos de crise…
REFERÊNCIAS:
Religiões Judaísmo