700 náufragos na "maior tragédia de sempre no Mediterrâneo"
Foram salvas apenas 28 pessoas. Navio com bandeira portuguesa foi o primeiro a chegar ao local. (...)

700 náufragos na "maior tragédia de sempre no Mediterrâneo"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 1.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foram salvas apenas 28 pessoas. Navio com bandeira portuguesa foi o primeiro a chegar ao local.
TEXTO: Várias centenas de pessoas terão morrido no Mediterrâneo, quando um barco que transportava cerca de 700 migrantes se virou entre as costas da Líbia e a ilha italiana de Lampedusa. Durante as operações de salvamento foram resgatados apenas 28 sobreviventes. O naufrágio terá acontecido quando um navio porta-contentores com bandeira de Portugal se aproximou para resgatar os migrantes por indicação das autoridades italianas, que tinham recebido um pedido de ajuda devido a "problemas de navegação", pouco depois da meia-noite de domingo. Na tentativa de se posicionarem para serem salvos pela tripulação do porta-contentores "King Jacob", os migrantes que tentavam chegar à Europa dirigiram-se para um dos lados da embarcação, acabando por cair ao mar, avançou Carlotta Sami, porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados no Sul da Europa. A mesma responsável, que descreveu o naufrágio como uma "tragédia de enormes proporções", disse que o número de pessoas que seguiam na embarcação foi avançado pelos sobreviventes. Os naufrágios durante operações de resgate são comuns, disse à BBC Mark Micallef, repórter do jornal Times of Malta. "Este cenário já aconteceu vezes sem conta. As embarcações viram-se no momento em que vai começar um resgate. Isto é uma parte do problema: navios da marinha mercante mal equipados estão a ser enviados para cumprir funções para as quais não foram preparados", disse Micallef. Também John Dalhuisen, responsável da Amnistia Internacional na Europa e na Ásia Central, apontou o dedo à falta de meios e disse que chegou a hora de os governos europeus "enfrentarem as suas responsabilidades". "Os navios da marinha mercante e as suas tripulações têm tentado preencher, de forma muito corajosa, os buracos deixados pela falta crónica de equipas de busca e salvamento especializadas, mas não foram construídos, nem estão equipados nem treinados para resgates marítimos. Chegou a hora de os governos europeus enfrentarem as suas responsabilidades e lançarem uma operação humanitária para salvar vidas no mar", disse Dalhuisen. Segundo os números da Guarda Costeira italiana, citados pela agência Ansa, cerca de 10. 000 pessoas foram resgatadas por navios da marinha mercante no Mar Mediterrâneo nos últimos dias – 480 deles pelo mesmo navio com bandeira portuguesa que foi chamado a intervir novamente na noite de sábado. De acordo com o site marinetraffic. com, o "King Jacob" saiu do porto de Augusta (Sicília) na madrugada de sábado e dirigia-se para o porto de Al Khor (Qatar). Na noite de sábado para domingo, o porta-contentores estava na área do naufrágio, segundo as informações do mesmo site de navegação marítima. O "King Jacob" tem 146, 42 metros de comprimento e 22 metros de largura e foi construído em 1998 – apesar de ter bandeira de Portugal, a Marinha desconhece se os tripulantes têm nacionalidade portuguesa. Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Marinha, comandante Paulo Vicente, confirmou que o navio participou nas operações de resgate. O porta-contentores estava a navegar na zona do naufrágio, tendo sido contactado pelo Centro Coordenador de Buscas e Salvamento Marítimos de Itália para prestar assistência. Comparação com genocídiosUm dos primeiros responsáveis a comentar o naufrágio foi Joseph Muscat, primeiro-ministro de Malta, país que se juntou a Itália nas operações de resgate. "Menos de 50 foram resgatados até ao momento. Teme-se que haja muitas mortes", escreveu o chefe do Governo de Malta na sua conta no Twitter, nas primeiras horas da manhã de domingo. A Guarda Costeira italiana avançou mais tarde que tinham sido salvas apenas 28 pessoas. Em conferência de imprensa, o primeiro-ministro de Malta disse que está a desenrolar-se "a maior tragédia de sempre no Mediterrâneo", e lamentou que o seu país e Itália estejam "sozinhos nesta crise". "Malta tem problemas com a imigração, mas ninguém deveria ter de morrer", disse Joseph Muscat, citado pelo Times of Malta. "Se a União Europeia e o mundo continuarem a fechar os olhos, serão julgados da forma mais severa possível, tal como foram julgados no passado quando fecharam os olhos a genocídios enquanto os que viviam bem nada fizeram", disse o chefe do Governo de Malta, antes de pedir que se guardasse um minuto de silêncio. "Dignidade humana"Num discurso emocionado, a Presidente de Malta, Marie-Louise Coleiro Preca, disse que os cidadãos europeus têm de deixar de olhar para os migrantes "como um papão".
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
No dia dos Óscares, o filme de Farhadi vai passar em Trafalgar Square
Tributo ao cineasta cujo filme está nomeado para os prémios da Academia mas não irá a Los Angeles é uma iniciativa da Câmara de Londres. (...)

No dia dos Óscares, o filme de Farhadi vai passar em Trafalgar Square
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215062326/http://publico.pt/1762002
SUMÁRIO: Tributo ao cineasta cujo filme está nomeado para os prémios da Academia mas não irá a Los Angeles é uma iniciativa da Câmara de Londres.
TEXTO: O Vendedor, de Ashgar Farhadi, é candidato ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro mas aconteça o que acontecer na noite de entrega dos prémios o maior grupo de pessoas reunido em torno do filme a 26 de Fevereiro estará não em Los Angeles, mas em Londres. O filme vai ter uma estreia especial em Trafalgar Square, com capacidade para receber 10 mil pessoas, como um tributo do presidente da câmara de Londres ao cineasta que se recusa a ir aos Óscares por causa das medidas anti-imigração de Donald Trump. O mayor Sadiq Khan é o organizador do evento com a modelo, actriz e activista Lily Cole, a produtora Kate Wilson e o realizador Mark Donne. Será na noite dos Óscares, numa das praças mais nobres da capital britânica e tem como objectivo “celebrar o sucesso da capital como um hub criativo e um farol para a abertura e diversidade” na esteira não só do que ficou conhecido como Muslim Ban mas também da saída do país da União Europeia, assinala o diário britânico Guardian. Os horários não vão coincidir devido à diferença horária entre Londres (mesma hora que Lisboa) e Los Angeles, mas será um evento simbólico com a presença de figuras do sector como o realizador Mike Leigh, que falará aos espectadores presentes – e que comentou já como é devida a Asghar Farhadi “solidariedade” pelos seus princípios. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Começando às 16h30, o visionamento de O Vendedor, premiado em Cannes na categoria de actuação e argumento, será “um símbolo de união contra a divisão e separação de pessoas”, agradeceu o cineasta iraniano. Uma “iniciativa generosa” e uma “demonstração de solidariedade inestimável”, disse ainda, citado pela imprensa britânica, sobre a iniciativa que também se desdobrará por sessões noutras cidades do Reino Unido. Khan questionou-se ainda retoricamente, ao vespertino Evening Standard, que como “os londrinos sempre se orgulharam da sua abertura ao mundo, que melhor forma de o fazer do que juntarem-se para ver este filme poderoso num dos espaços públicos mais famosos do mundo?”. Tanto Farhadi quanto a actriz Taraneh Alidoosti recusaram a hipótese de estar presentes na cerimónia dos Óscares como forma de protesto contra a decisão da administração Trump, entretanto suspensa pela justiça norte-americana, de proibir temporariamente a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, incluindo o Irão, e de refugiados vindos da Síria em particular.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração
Costa assume baixa de impostos para a classe média, Passos não se compromete
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e o secretário-geral do PS, António Costa, confrontam-se na manhã desta quinta-feira no segundo e último debate entre os dois, que vai ser conduzido e transmitido em simultâneo na Rádio Renascença, Antena 1 e TSF. (...)

Costa assume baixa de impostos para a classe média, Passos não se compromete
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e o secretário-geral do PS, António Costa, confrontam-se na manhã desta quinta-feira no segundo e último debate entre os dois, que vai ser conduzido e transmitido em simultâneo na Rádio Renascença, Antena 1 e TSF.
TEXTO: São cinco os temas com que António Costa e Pedro Passos Coelho se vão defrontar no segundo e último debate entre os dois líderes até às legislativas de 4 de Outubro. Organizado, moderado e transmitido a partir do Museu da Electricidade, em Lisboa, pela Antena 1, Renascença e TSF, o duelo durará cerca de hora e meia. 14:21 Para António Costa, do debate resulta "muito claro que o dr. Pedro Passos Coelho não tem nada a propor aos portugueses relativamente ao futuro a não ser esconder, mais uma vez, o seu verdadeiro programa". O líder do PS diz que o ainda primeiro-ministro está "preso à traição à palavra dada na anterior campanha eleitoral e ao fracasso que foi a sua governação. Os portugues não podem contar com nada de novo do dr. Passos Coelho nos próximos anos. "Por contraponto, argumenta, o PS tem um "conjunto de compromissos escritos, com as contas feitas e como prioridades "relançar a economia revalorizando o rendimento das famílias, criando condições para as empresas poderem investir, centrado na criação de emprego". Desfia depois áreas que considera fundamentais e deixa algumas promessas como o alargamento da rede de apoio médico e da rede pré-escolar aos três anos. Garante que o PS pretende, na Europa, "abandonar a posição passiva e submisa que este Governo tem tido, passando para uma postura de dignidade e um novo impulso para a convergencia com a União Europeia". Mantém por explicar, porém, como fará o corte de mil milhões de euros em prestações sociais, atirando para a negociação em concertação social o valor exacto e o método para concretizar a redução. Tenta desvalorizar a quantia realçando que se trata do valor para os quatro anos da legislatura. "Serão 250 milhoes de euros por ano. É uma poupança relativamente diminuta num orçamento anual de 5700 milhões. "Por fim, quem ganhou o debate na visão de António Costa? Ah, isso "os analistas o dirão com certeza. . . " Maria Lopes12:56 À saída, numa curta declaração aos jornalistas, Pedro Passos Coelho afirma esperar que o debate tenha sido "mais esclarecedor" que o anterior - talvez uma espécie de reconhecimento de que o frente-a-frente nas televisões não lhe correu bem. Aproveita para reforçar a sua última mensagem no debate. Defende ser "importante ter uma visão de futuro em que não se ande para trás nem se corram riscos", nomeadamente na Segurança Social, e em que se possa "dar mais lastro a esta recuperação" que, no seu entender, já se sente na economia portuguesa. A criação de emprego, vinca, não será feita "com geração de dívida, à custa da Segurança Social, à custa da segurança dos portugueses para o futuro, mas à custa de mais trabalho, de mais investimento, de mais empresas e de mais exportações", advoga o presidente do PSD. Passos Coelho joga ao ataque: por contraponto aos dois partidos da coligação de direita, o PS "não tem uma política de alianças definida; mostra nuns dias simpatia por quem quer sair da União Europeia e do euro, noutros dias quer-se comportar como muito moderado e dizer que tem uma alternativa que cumpre as regras". O que não é bom augúrio, avisa. "Os partidos na Europa que começaram com este discurso acabaram a ter de executar mais austeridade do que aquela que existia antes. "A seguir, sai apressado do museu e entra no carro que o levará, na qualidade de primeiro-ministro para a reunião semanal com o Presidente da República que estava marcada para as 12h, ali bem perto, no palácio de Belém. Maria Lopes12:25 O debate terminou. Maria Flor Pedroso considera que o formato do frente-a-frente resultou e deixa mesmo no ar a proposta de as rádios voltarem a ele em breve. "Vamos arranjar pretextos para isso. " Logo Costa e Passos se apressam a nova bicada e ambos usam o mesmo argumento: para o adversário poder explicar o que não quer revelar aos portugueses, acusam-se mutuamente. Passos diz que pode ser que Costa já saiba nessa altura "quais são as prestações sociais em que vai colocar condições de recurso"; o líder socialista afirma que "pode ser que o dr. Passos Coelho tenha uma ideiazinha para o futuro". O tempo é agora de guardar espadas num debate bastante mais vivo no esgrimir de argumentos do que nas televisões e em que os três moderadores acabaram por cumprir um dos seus grandes objectivos: ter os dois candidatos a interpelarem-se directamente. Os dois candidatos cumprimentam-se, as comitivas de assessores acercam-se do plateau. Passos e Costa trocam impressões com os moderadores - Maria Flor Pedroso (Antena 1), Graça Franco (Renascença) e Paulo Baldaia (TSF). Maria Lopes12:07 Nas palavras finais, António Costa considera que o primeiro-ministro continua “prisioneiro do seu passado”. Acusa-o de não ter cumprido a palavra e de ter fracassado nas metas. O PS quer ser a “mudança com confiança, com segurança”, afiança. Apresenta-se com uma “equipa renovada” e as “contas feitas”. E com diferenças em relação à coligação Portugal à Frente, como por exemplo, elenca, tenciona reforçar o rendimento das famílias e criar condições de investimento para as empresas. O socialista refere-se ainda à promessa de combater a precarização e de defender o Estado Social. Opõe-se à privatização da Segurança Social, ao desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde e ao desmembramento da escola pública. O PS garante ainda que, no contexto europeu, não terá uma posição passiva nem submissa. Maria João Lopes12:00 Sobre a escola pública, António Costa considera que a sua qualidade se mede também pela “capacidade de inclusão”. E acusa o Governo de, nestes anos, ter tornado a escola “mais selectiva”. Por exemplo, numa altura em que o número de crianças com necessidade educativas especiais aumenta, diminuem os recursos e os professores afectos a esses alunos, denunciou o socialista que, entre outras medidas, defende a pré-escolarização das crianças a partir dos três anos. “Para este Governo, a função da escola é examinar para eliminar”, acusou Costa, salientando que para os socialistas é transmitir conhecimentos e formar cidadãos. Maria João Lopes11:59 O líder socialista adianta ainda que é necessário criar um “grande programa de renda acessível” para a classe média. Tal passará pela reabilitação do património da Segurança Social que tem “milhares de prédios em ruínas”. E contribuirá para reanimar o sector da construção. Maria João Lopes11:58 Uau - e não é que não se falou mesmo em José Sócrates? Ainda assim, espero ansiosamente que tenhamos direito a uma fotografia made in Abade Faria com oito pessoas em volta de uma rádio, como nos anos 30. João Miguel Tavares11:57 Argumentos finais de Passos Coelho: “O país conseguiu ultrapassar as graves dificuldades que enfrentou. Os portugueses sabem que recebemos o país em pré-bancarrota, o maior desafio democrático nestes 41 anos de democracia. Outros que quisessem cumprir na nossa situação não teriam feito muito diferente. A economia cresce, estamos a criar emprego, o que precisamos agora é de dar confiança para o futuro. Dar aos portugueses a capacidade de sonhar com os pés assentes no chão. Podemos ser um país mais próspero e com menos dificuldades no futuro. ” Paulo Pena11:55 António Costa diz ainda que o congelamento das pensões é para manter, à excepção das mínimas que devem ser todas actualizadas. Neste tema, a mudança “mais importante” é a diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social, afirma o líder socialista. Uma das propostas passa pela hipótese de as empresas financiarem o sistema não apenas em função da massa salarial, mas também dos lucros. “Connosco acabará o sobressalto permanente de saber o que acontece no mês ou no ano a seguir”, promete Costa, assegurando que pensões que estejam formadas e pagas estão garantidas. E mostra a sua oposição em relação à proposta (ainda não totalmente esclarecida) da coligação que aponta para a possibilidade, a partir de determinado salário, que poderá rondar os três mil euros, os trabalhadores poderem descontar para fundos privados. Isso significará, enfatiza Costa, 820 milhões de euros subtraídos à Segurança Social. E essa é “uma aventura” na qual o PS não vai “embarcar”. Maria João Lopes11:52 Passos Coelho ganhou este debate. O PS vai ter de fazer um rápido reajustamento na campanha. Os ataques vão aumentar. De todos os lados. Serão dias decisivos estes da campanha eleitoral. Felisbela Lopes11:52 Nas redes sociais, dirigentes e apoiantes dos partidos da coligação estão hoje muito mais satisfeitos com a prestação de Passos Coelho do que no duelo televisivo de dia 9. Proclama-se vitória no debate. Pedro Guerreiro11:51 Um bocado farfalhuda, a declaração final de António Costa. Realço a necessidade de sublinhar: "O PS apresenta-se com uma equipa renovada. ” João Miguel Tavares11:50 Na educação, ambos passaram ao lado do essencial. Felisbela Lopes11:49 Educação, o anunciado último tema. Graça Franco introduz o tema, realçando o adiamento no arranque do ano lectivo em cerca de uma semana, mas notando que desta vez não houve problemas na colocação dos professores, excepto no que diz respeito aos ensino artístico e especial, apontando aqui uma contradição com o que está escrito no programa eleitoral da coligação. Passos admite as mudanças no ensino artístico, mas garante que as verbas não foram cortadas. No ensino especial “havia serviços que estavam a cobrar em excesso”, esclarece Passos. “Nós conseguimos nestes quatro anos fazer duas coisas muito importantes. Vincular quatro mil professores - nunca nenhum Governo tinha feito isto no passado. E implementar os 12 anos de escolaridade obrigatória - que era uma promessa do PS que nós cumprimos. ” Paulo Pena11:47 Desconfio que o pessoal do PSD depois deste debate vai deitar os mesmos foguetes que o pessoal do PS depois do primeiro debate. Em ambos os casos, exagerado. Temos dois bons candidatos: vivos, inteligentes e bem preparados. João Miguel Tavares11:46 O debate aproxima-se do fim e está na sua fase mais animada. Costa acusa Passos de não acertar em nenhum número: “Nem nos meus nem nos dos outros. ” Passos acusa o seu adversário de voltar atrás na palavra dada, depois de ter ouvido que em campanha promete o que não cumpre no Governo. “O PS comprometeu-se a viabilizar esta reforma do IRC”, lembra. Costa voltou ao tema: “Eu não minto. Os senhores não cumpriram o que estava acordado. ” Paulo Pena11:44 “Se os senhores quiserem ficar aqui mais meia hora, nós ficamos”, diz Paulo Baldaia. É sempre bom ouvir bocas inteligentes. Viva o pessoal da rádio. João Miguel Tavares11:43 Aos pensionistas, Costa garante que não haverá novos cortes nas pensões. “Pensão formada é pensão que está consolidada. ” Maria João Lopes11:41 Novo tema: o que podem esperar os reformados?: “Nós olhamos para os resultados da Segurança Social e verificamos que de há vários anos para cá a TSU não chega. Há um défice que vai aumentando ao longo dos anos. Nós precisamos mesmo de fazer uma reforma nesta matéria”, começa por dizer Passos, que acusa o PS de não estar disponível para essa reforma. Desafia Costa “quer ganhe, quer perca as eleições” a sentar-se para negociar. Costa não aceita. “Os senhores criaram um rombo de seis mil milhões de euros na Segurança Social”, acusa Costa. Passos tenta, como Catarina Martins, desafiar Costa. Costa faz o mesmo que no debate com a líder do BE: finge que não ouve. Mas lá vai afirmando que não está disponível para acordar com o PSD cortes nas pensões. “É falso que exista qualquer proposta de corte de 600 milhões por parte da coligação”, repete Passos, que passa a criticar as propostas do PS nesta área. Para começar, Passos ataca a ideia de “crédito fiscal” do PS. Depois a ideia de usar o fundo de garantia da Segurança Social para financiar o programa de reabilitação urbana. Por fim, critica os custos da descida proposta pelo PS das contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social. “Isto significa que o Estado deixará de ter condições para pagar as pensões no próximo ano, a menos que emita dívida. ” Paulo Pena11:41Na ponta final do debate no "plateau" do museu. Sinto que deviam lá ter estado o Mário Centeno e o Carlos Moedas. . . — José Maltez (@jamaltez) 17 setembro 201511:38 Pedro Passos Coelho melhor, novamente, na questão da Segurança Social. É fácil acusar o PS de boa parte de o seu programa político ser excessivamente optimista nas suas previsões. Contudo, falta sempre um bocadinho de killer instinct a Passos Coelho. João Miguel Tavares11:36 Costa acusa o actual executivo de, ao ter alterado as condições para beneficiar do Complemento Solidário para Idosos (CSI) e do Rendimento Social de Inserção (RSI), ter deixado 70 mil idosos sem a primeira prestação e 170 mil sem o RSI. O resultado? Nesta legislatura, apontou Costa, dois milhões de pessoas ficaram “em situação de pobreza”. Mais: 10 por cento das pessoas que vivem do seu trabalho ficaram, fruto da precariedade, “abaixo do limiar da pobreza”. Por isso, os socialistas propõem a criação de um complemento salarial para apoiar as pessoas que, mesmo estando a trabalhar, não tenham rendimentos suficientes que lhes permitam ficar acima do limiar da pobreza. Maria João Lopes11:3511:3511:32 Costa não consegue esclarecer de que forma pretende cortar cerca de mil milhões de euros em prestações sociais, através de alterações nas condição de recurso. Explica que tal será estabelecido em sede de concertação social. Mais à frente afirma que será feita uma avaliação, tendo sempre em vista, entre outros aspectos, a melhoria dos rendimentos, a sustentabilidade do Estado Social e a evolução da fiscalidade. Os socialistas pretendem beneficiar as pequenas e médias empresas e reformular o sistema de financiamento da Segurança Social, insistiu. Maria João Lopes11:30 Costa entalado na questão dos mil milhões. De facto, não respondeu. Ponto para Pedro Passos Coelho. João Miguel Tavares11:29 Passos consegue enredar Costa em matéria de impostos. Inverosímil, mas real. Felisbela Lopes11:2611:25Um mente, o outro não sabe. #passosmal #costamal— Joana Mortágua (@JoanaMortagua) September 17, 201511:24 Em matéria fiscal, o futuro desenhado por Passos e Costa promete-nos uma folga razoável. Falta dizer onde vai haver dinheiro para essas boas intenções e qual a margem para recuar em tanto agravamento de impostos. Felisbela Lopes11:24Falamos de "condição de recursos" (ou lá o que isso é), mas não falamos de Educação e Justiça (para já n falar de Ciência, Cultura, etc)— Filipe Caetano (@filicaetano) September 17, 201511:23 CSI: Passos justifica que a baixa no Complemento Solidário para Idosos se deveu à introdução que o PS aprovou de uma “condição de recursos” que foi o actual Governo decidiu aplicar. Este é um exemplo de “demagogia”, critica Passos. Costa nega, afirmando que foi a mudança das regras que motivou a quebra naquele apoio social. Paulo Pena11:23 Admite repor os cortes nas deduções fiscais?: “Respondo já…”, começa Passos. E volta a pegar, durante alguns minutos, em assuntos passados como o combate à evasão fiscal. Os benefícios fiscais aumentaram, afirmou o candidato da coligação PSD/CDS. “Alargámos os benefícios”, começou Passos. “Conhece alguma família em que isso tenha acontecido?”, pergunta Costa. “Conheço várias”, respondeu Passos. “Ainda bem. Era o que eu julgava… Devem ser todos amigos seus…”, rematou o líder do PS. Paulo Pena11:2211:20 António Costa propõe deduções idênticas para todas as crianças qualquer que seja o rendimento da mãe ou do pai. Os socialistas querem beneficiar as famílias monoparentais e repor o abono de família – neste ponto, garantiu que a partir do terceiro escalão haverá resposição do abono. “As crianças foram o estrato etário onde mais aumentou a pobreza”, acusou Costa. Maria João Lopes11:20Metam na rádio: está a dar música. — Gajo Desempregado (@FDesempregado) September 17, 201511:17Será que António Costa sabe que é o top 9% das empresas maiores que pagam 83% do IRC? Ou seja, reduzir às PMEs não tem impacto?— MAL (@mlopes) September 17, 201511:16 Sobre a compra dos terrenos do aeroporto, Costa diz que “se alguém fez um favor” foi a Câmara Municipal de Lisboa ao Estado: “O que o sr. fez foi comprar à Câmara de Lisboa os terrenos do aeroporto”, afirma, acrescentando que “recebeu três mil milhões de euros”, montante que, acusa, não usou para amortizar a divída. Maria João Lopes11:15 Momentos de galanteria num debate “embirrento”: Passos enganou-se na sigla IRC e Costa ajudou-o, Costa enganou-se no RSI e Passos devolveu a cortesia. Paulo Pena11:14 O debate radiofónico está a ser bastante melhor do que o debate televisivo. E a razão substancial é esta: o conjunto de jornalistas aqui presente é melhor, tem melhores perguntas e está mais bem preparado. João Miguel Tavares11:13 “Julgava que, depois desta semana em que tem tido um contacto mais directo com a realidade do que se passa neste país, viesse a este debate com mais humildade”, disse Costa, acrescentando que “todos os dias” tem sido confrontando com “desmentidos desse oásis” que desenha. Maria João Lopes11:11 Esta de sugerir que o PSD é contra o divórcio já é um pontapé do António Costa abaixo da linha da cintura. Um bocadinho mais de seriedade é capaz de não ser má ideia. João Miguel Tavares11:10 Isto é como no futebol: Passos Coelho subiu as linhas a partir dos 45 minutos, fez pressão alta e passou a ter maior controlo do jogo. O encontro está agora mais equilibrado. João Miguel Tavares11:10 Agora sim, impostos: “Aumentámos impostos, como reduzimos a despesa do Estado, é uma realidade”, admitiu Passos. O candidato do PSD/CDS começou por justificar a opção de baixar os impostos das empresas. “Nós esperamos poder desagravar o IRS, naquilo que é a sobretaxa, em quatro anos. ” Mas a sobretaxa só representa 20% do aumento do IRS, nota Graça Franco, da Renascença. O grande aumento foi na revisão dos escalões, prossegue Paulo Baldaia, da TSF. Passos afirmou que essa revisão permitiu “aumentar a progressividade” do imposto, o que é uma afirmação que vai fazer correr muita tinta em fact-checking… Paulo Pena11:0911:08 Esta mania dos moderadores de que não vale a pena discutir o passado não faz qualquer sentido. Se Passos Coelho está a acusar António Costa de não ter cumprido promessas na Câmara de Lisboa isso é, evidentemente, relevante. Temos dois candidatos a primeiro-ministro que desempenharam cargos executivos, e é claro que devem ser avaliados por isso. João Miguel Tavares11:08 António Costa continua a afirmar que é preciso a informação fina da máquina fiscal para definir os escalões do IRS. Esta ideia de que é preciso chegar ao Governo para saber exactamente o que fazer é inaceitável - até porque deve ser verdadeira. João Miguel Tavares11:07 António Costa justifica o facto de não dizer exactamente de que forma é que pretende rever os escalões do IRS com a necessidade de não ter acesso a toda a informação fiscal necessária. Lembrou que só nesta legislatura houve 82 alterações no sistema fiscal, com o agravamento de impostos sobre a classe média, em particular o IRS. O PS compromete-se a eliminar a sobretaxa do IRS em 2016 e em 2017, disse. Não apresentam agora a forma exacta como o pretendem fazer porque a informação necessária para desenhar com correcção os escalões implica um grau de detalhe que só quem tem o domínio da máquina fiscal é que tem, justificou. Questionado sobre se o objectivo é uma baixa de impostos para a classe média, Costa disse "com certeza, é esse o objectivo". Maria João Lopes11:0611:05 A dívida da Câmara de Lisboa parece constituir um bom mote para um guião idêntico àquele que teve como base “quem chamou a troika?”. Não havia necessidade de Passos Coelho não ter gostado da interrupção de Maria Flor Pedroso. Os políticos não têm muita paciência para perguntas dos jornalistas. . . Felisbela Lopes11:03 Passos diz que, na verdade, foi ele que diminuiu a dívida de Lisboa. É forçar um bocado a mão, mas é absolutamente verdade que a famosa redução de 40% se deve à compra dos terrenos do aeroporto através de uma privatização a que o PS se opôs. Esta segunda parte é óbvia, e não se percebe que o argumento não tenha sido utilizado no debate televisivo. João Miguel Tavares11:02 Passos Coelho volta ao tema que já tinha levantado sobre a venda dos terrenos do aeroporto de Lisboa. A pergunta era sobre o efeito fiscal dos programas dos partidos sobre a classe média. “Os ouvintes não compreendem… Nenhum dos senhores é candidato à câmara de Lisboa”, afirma Maria Flor Pedroso. Paulo Pena10:58 Ainda a questão do emprego. “Estabelecemos o emprego como a causa das causas”, disse António Costa, defendendo que é necessário devolver rendimento às famílias e criar condições para empresas investirem. Refere-se ainda à necessidade de intervir no sector da reabilitação urbana, no qual foram destruídos “mais de 200 mil postos de trabalho”. Reforçar os programas de apoio social foi outra das propostas elencadas. Assim como a criação de um programa específico dirigido a jovens licenciados. As soluções para combater o desemprego jovem não passam, argumenta Costa, por reduzir os custos de trabalho, mas por criar “emprego digno” que consiga competir com o que é oferecido noutros países. Maria João Lopes10:56 Educação: “Nós estamos hoje com mais capacidade e mais flexibilidade para responder às necessidades do mercado de trabalho”, garante Passos. Paulo Pena10:56Passos diz que 66% dos estagiários ficam nas empresas. O tribunal de contas diz que a percentagem é 30%— Joao Galamba (@Joaogalamba) September 17, 201510:56Passos claramente sabe do que fala. Fala um PM. Costa, enfim, sabe umas coisas, noutras espalha-se ao comprido. — Paulo Gorjão (@PGorjao) September 17, 201510:55 Arranca o tema dos impostos. Maria Flor Pedroso questiona António Costa: até ao final da campanha a classe média não vai conseguir perceber o que a espera na sua proposta sobre os escalões do IRS? Maria Lopes10:54Emprego: Passos Coelho garante que “no novo emprego que está a ser criado há menos precariedade”. “O emprego está a ser gerado”, garante. Paulo Pena10:53 Como se cria emprego? Nenhum dos dois respondeu convenientemente. Mas Passos Coelho conseguiu dar remoques a António Costa com a referência à dívida da Câmara de Lisboa. Os moderadores poderiam repetir o que Costa disse a Passos: É preciso ter lata! Felisbela Lopes10:52Passos comprou os terrenos do aeroporto, diz ele. Ele queria privatizar o que era dos outros sem pagar? Que aldrabice. #CostaBem— Porfírio Silva (@especulativa) September 17, 201510:52 Para Costa é preciso combater “a nova realidade” dos falsos recibos verdes e os estágios pagos por fundos comunitários e “dinheiro dos contribuintes”. É, por isso, necessária uma “redução drástica das causas legais” que permitem o recurso a contratos a prazo. Maria João Lopes10:52Passos Coelho está, decididamente, a seguir o conselho dos seus apoiantes: jogar ao ataque. Paulo Pena10:51 O líder socialista diz que Passos Coelho se “arrisca mesmo” a, “depois de tudo o que impôs aos portugueses”, conseguir “aumentar a dívida e acabar” com um défice igual ao que começou. Sobre a reforma do mercado de trabalho, defende que tal não passa por reduzir os custos do trabalho, mas por combater a precaridade. É a “praga” da precariedade que está a “destruir a confiança” no futuro e que está a levar à emigração. Maria João Lopes10:50 Emprego: Passos Coelho voltou a começar a sua intervenção com um remoque à “retórica” do seu adversário. E voltou um pouco atrás para justificar por que seguiu a sua política económica. “Eu assumi até uma parte da dívida de Lisboa, a cidade que o senhor dirigia. ” “É preciso ter lata”, acusou Costa. Paulo Pena10:46gostava saber como é que em todos debates se tem tentado passar ideia que falar destes 4 anos é passado. é agora que são escrutinados urnas— Pedro Sales (@pedro_sales) September 17, 201510:44 Mais do que no primeiro debate, António Costa mostra-se em excelente forma. Ainda bem que o debate está a acontecer na rádio, porque quem espreitar o streaming vai ver um Pedro Passos Coelho nervoso e irritadiço. João Miguel Tavares10:40 António Costa defende que não se pode continuar a ignorar que há um problema sistémico do euro. Quanto às reformas necessárias, devem ser feitas à medida das necessidades de cada país. Maria João Lopes10:39 Leis laborais: “No capítulo do mercado laboral, nós conseguimos chegar a um entendimento sobre regras que hoje trazem mais flexibilidade. ” Passos defende que é preciso dar “estabilidade” à legislação laboral, evitando novas mexidas. Paulo Pena10:39 Ainda sobre a crise dos refugiados, António Costa considerou que a Europa não tem, em primeiro lugar, conseguido ter a posição que devia ter e que passa pela estabilização dos conflitos em diferentes regiões. “Antes de ser um espaço económico, [a Europa] é uma comunidade de valores, assente na dignidade da pessoa”, disse Costa. Sobre uma intervenção militar, com tropas portuguesas no combate ao autoproclamado Estado Islâmico, Costa admitiu que “em último lugar” a solução deverá ser militar, mas que antes disso é preciso criar condições para acolher os refugiados. Costa não exclui “liminarmente” a ida de tropas portuguesas para o terreno, mas tal "tem de ser avaliado e não é neste debate". Maria João Lopes10:38 Tratado Orçamental: “O doutor António Costa diz tudo e o seu contrário”, começa Passos, na resposta sobre a interpretação das regras do Tratado. Costa interrompe: “Oh doutor Passos Coelho, eu sei que lhe disseram que tem de ser embirrento, mas isso não lhe fica bem. . . ” Passos voltou ao tom anterior, acusando o PS de fazer “muita demagogia”. “Até ao final deste ano ficaremos com um défice orçamental inferior a 3%”. Paulo Pena10:37 "Ó dr. Passos Coelho, eu sei que lhe disseram agora para ser embirrento. ” Boa piada de António Costa. João Miguel Tavares10:36 Debates matutinos não são amigos das redes sociais. Poucas reacções no Facebook e Twitter. As hashtags #legislativas2015 (f / t) e #debate2015 (f / t) agregam a discussão. Pedro Guerreiro10:36 Frase que ficará: “Eu sei que lhe disseram para ser embirrento”, António Costa dixit. Felisbela Lopes10:32 Passos voltou ao tema anterior, matizando a sua posição sobre uma intervenção militar contra o Estado Islâmico, concordando com Costa que se algumas condições estiverem reunidas (mandato da ONU, perigo para a Europa) essa intervenção pode ser equacionada. Paulo Pena10:32passos esta muito melhor q na tv. s calhar é 1 morning person— fcancio (@fcancio) September 17, 201510:31 Um tema em que ambos concordam: a questão dos refugiados. Ainda há boas notícias, estão a ver? É bom viver num país onde, do Bloco de Esquerda ao CDS-PP, toda a gente aceita acolher refugiados sírios sem reticências de monta. João Miguel Tavares10:30 Refugiados é o segundo tema. Começa Passos. “Representa uma catástrofe humanitária”, reconhece o primeiro-ministro, a que a Europa não tem sabido dar resposta. Solução?, pede Maria Flor Pedroso, da Antena 1. “Nós não colocámos nenhum obstáculo a receber mais dois mil refugiados. ” Porém, Passos separou as situações dos que “fogem à guerra” daqueles que procuram outras “condições económicas”. Reconhecendo que a Europa é “um continente envelhecido”, Passos defendeu alguma abertura à emigração. E sustentou, por fim, que uma intervenção militar na Síria só iria “agravar estes problemas”. Paulo Pena10:29 António Costa lembrou que Passos Coelho escreveu um artigo em Março de 2011 no The Wall Street Journal sobre o PEC IV, no qual explicaca que não ia suficientemente longe na austeridade. “Foi o discurso que andou a fazer em Portugal”, disse Costa, referindo-se à “retórica” de que os portugueses andaram a viver “acima das possibilidades”. E continuou: “Foi mesmo além da troika, cortando o 13. º e o 14. º mês. Não estava previsto no memorando”, frisou, lembrando ainda, entre outras medidas, o aumento dos impostos. “O nosso problema é mesmo este Governo”, afirmou Costa, acrescentando que a política da troika é a política de Passos Coelho. “A política que o senhor fez foi a que desejou fazer e foi além da troika”, disse. “O senhor tem de assumir as suas responsabilidades e o seu pensamento”, vincou. Maria João Lopes10:27 Passos Coelho claramente ao ataque e a arrecadar pontos para si. Não falou da Europa, mas neutralizou toda a intervenção de António Costa. Que contornou também o tema. 1-0 a favor de Passos no arranque do debate. Felisbela Lopes10:24 Passos acusa Costa: “Está sempre a regressar ao passado”. “A austeridade em Portugal foi aquela que os senhores consentiram que a realidade impusesse”, afirmou Passos. “A austeridade teria sido evitada se o PS não tivesse conduzido o País à bancarrota… à quase bancarrota”, precisou Passos. “Estes anos trouxeram muita austeridade a Portugal”, mas a diferença entre PS e PSD/CDS, acrescentou, está em saber “porque é que tivemos de passar por um período destes”. Paulo Pena10:23 Enquanto Sócrates não chega ao debate, Passos cola Costa ao Syriza. Luciano Alvarez10:23 “O PS conduziu o país à bancarrota”, diz Passos. E António Costa ainda não admitiu isso. É verdade, e foi uma verdade que Passos não recordou, com esta clareza, na RTP. João Miguel Tavares10:22 António Costa acusou o primeiro-ministro de ser o primeiro a deixar um PIB inferior àquele que encontrou quando iniciou o mandato. Elencou o desemprego e o aumento da pobreza: “Dizer que esta política produziu resultados. . . não sei como. ” António Costa defendeu ainda que “não foi a Europa que obrigou” Passos Coelho a ter esta política e que o governante quis ir além daquilo que a troika obrigava, impondo mais “sacrifícios”. Maria João Lopes10:21 António Costa arranca com as mesmas acusações que já tínhamos escutado antes: PSD foi além da troika, não foi a Europa que obrigou a isso, PIB inferior ao do início da governação. Pedro Passos Coelho opta por um estilo mais agressivo, em relação ao primeiro debate. Lá se vai a pose do estadista. João Miguel Tavares10:19 “Ao contrário do que diz António Costa, que o Syriza seguiu uma estratégia tonta, o Syriza dizia o mesmo que o senhor [Costa] diz”, criticou Passos. Paulo Pena10:18 O tema Europa abriu o debate. Questionado sobre se mantinha a opinião que expressou em Janeiro sobre a vitória do Syriza na Grécia - que era um sinal de mudança e que provava o esgotamento das políticas de austeridade - António Costa respondeu que o PS é o “campeão do europeísmo em Portugal”. Acrescentou que o debate político já não se faz apenas dentro das fronteiras de cada Estado-membro, mas num espaço maior e considerou que há uma mudança em curso que é preciso continuar. Quanto ao Syriza, afirmou que adoptou a “estratégia errada”, o que “confirma a prudência assumida pelo PS”: “A mudança faz-se primeiro por uma via de negociação e não de confrontação. ” E insistiu que é preciso “virar a página da austeridade”, porque não tem tido resultado nem em Portugal, nem noutros países. Maria João Lopes10:18O Syriza é o Sócrates deste debate— pedro adão e silva (@padaoesilva) September 17, 201510:16 Passos Coelho começa por ouvir que a sua estratégia é de subserviência em relação em Berlim. “O doutor António Costa continua mais interessado em discutir a política interna do que a política europeia”, foi a primeira frase do candidato do PSD/CDS. Continuando a acusar o líder do PS de “ir ao sabor” das modas sobre a Europa, lembrou os casos francês, italiano e a coligação dos socialistas alemães com Angela Merkel. “Aqueles que têm a responsabilidade de governar não podem fazer um discurso mais livre”, disse, “têm de responder aos problemas”. A Europa “conseguiu ultrapassar gradualmente” a crise, sustentou Passos. Enumerando as reformas na Europa pós-crise, Passos voltou a frise que “o Governo do PS pediu ajuda externa”. Paulo Pena10:16Costa gostou do Syriza antes de ter passado a não gostar do Syriza. Un líder coerente. — Nuno Gouveia (@Gouveia) September 17, 201510:15 Passos Coelho começa a descredibilizar António Costa. “Não respondeu à pergunta, mas eu vou responder por ele. . . ” E aqui está um outro papel que não foi assumido no debate anterior. Felisbela Lopes10:14A Europa tem as suas responsabilidades mas a principal é do governo que quis seguir esta política de austeridade e empobrecimento #costabem— Edite Estrela (@editeestrela) September 17, 201510:14 António Costa começa ao ataque. Citando diretamente Passos Coelho. Que, desta vez, trouxe documentos para cima da mesa. Felisbela Lopes10:13 Aqui no PÚBLICO, o debate será acompanhado por diversos jornalistas, assim como pela docente da Universidade do Minho e especialista em questões de media Felisbela Lopes e pelo comentador e jornalista João Miguel Tavares. 10:10 Em alguns sites, há janelas de vídeo. O debate em direto através da imagem. Aqui está um outro debate. Felisbela Lopes10:09 Por sorteio, quem abre o debate é António Costa e quem fecha é Pedro Passos Coelho, esclarece Graça Franco, jornalista da Renascença. Maria Lopes10:08 Às 10. 07 minutos, “com ligeiro atraso”, começa o debate. Passos Coelho repetiu a gravata azul, a mesma cor que usara no debate televisivo, mas como nota Pedro Marques Lopes, comentador da TSF, “desta vez trouxe muitos papéis”, ao contrário do frente-a-frente anterior em que levou para o estúdio improvisado no Museu da Electricidade apenas uma caneta e folhas de papel em branco. Paulo Pena10:08 António Costa chega finalmente. Os três moderadores já estão há muito nos seus lugares. Ultimam-se os preparativos com os dois líderes partidários começarem. Há que instalar microfones. Nas rádios, onde o horário é sempre cumprido ao segundo, os jornalistas vão enchendo a antena com comentários. Maria Lopes10:05 O debate faz-se na rádio, mas todo o campo jornalístico está centrado no Museu da Eletricidade. Hoje importa tudo. E os candidatos sabem que a forma também é conteúdo. Felisbela Lopes10:04 Na quarta-feira da semana passada, o debate inédito transmitido em simultâneo nas três televisões de sinal aberto e nos seus canais noticiosos do cabo foi seguido, em média, por 3, 47 milhões de espectadores. Nesta quinta-feira, as rádios estimam que possam ser ouvidas em directo por cerca de meio milhão de pessoas. O frente-a-frente será transmitido com imagem em streaming nos respectivos sites das rádios e em diferido pelos canais noticiosos de televisão. Maria Lopes10:04 Os três moderadores – Graça Franco (Rádio Renascença), Maria Flor Pedroso (Antena 1) e Paulo Baldaia (TSF) – escolheram como assuntos para explorar neste frente-a-frente os impostos, a Segurança Social e o futuro das pensões, educação, Europa e o papel do emprego no crescimento da economia. Em vez de um modelo rígido em que os candidatos têm de responder às perguntas dos pivots num tempo limitado, como o utilizado na passada semana pelas três televisões e que levantou críticas na opinião pública, as rádios preferem que nesta quinta-feira se siga mais o modelo de debate puro, em que Passos e Costa argumentem directamente um com o outro e os três jornalistas vistam a pele de moderadores. Maria Lopes09:58 António Costa atrasado para o debate. Pedro Passos Coelho diz que não inverte a entrada combinada e fica à espera no carro. Mas depois lá pondera e aceita entrar primeiro. O ataque segue dentro de momentos. Espera-se que sem hesitações. Felisbela Lopes09:56 Bom dia. O PÚBLICO vai seguir em directo o debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho transmitido esta manhã nas rádios a partir das 10h. Depois dos protestos dos lesados no BES na passada semana em frente ao Museu da Electricidade, na zona ribeirinha de Belém, que levaram ao corte da Avenida de Brasília durante quase duas horas, esta quinta-feira há novamente um dispositivo policial na zona. O relvado junto ao museu está protegido por grades metálicas e o espaço de acesso ao edifício está bloqueado por uma linha de uma dezena de polícias. Mas desta vez não - pelo menos até há dez minutos - vestígio de manifestantes. Maria Lopes
REFERÊNCIAS:
O grito da fronteira
É num qualquer posto fronteiriço que nos recordam que não somos bem-vindos, que não somos dali, que temos de justificar a nossa presença naquele lugar. (...)

O grito da fronteira
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: É num qualquer posto fronteiriço que nos recordam que não somos bem-vindos, que não somos dali, que temos de justificar a nossa presença naquele lugar.
TEXTO: Sempre me intrigou a fronteira. Quando aguardamos, ansiosos, de passaporte na mão, a entrevista com um oficial de migrações num qualquer posto fronteiriço. É aí que nos recordam que não somos bem-vindos, que não somos dali, que temos de justificar a nossa presença naquele lugar. Se é assim no conforto do transporte aéreo, protegidos por um passaporte poderoso — não por acaso, têm-se repetido nos últimos tempos rankings dos passaportes mais poderosos: os que garantem a entrada num maior número de fronteiras —, imagine-se a sensação de alguém que salta para uma balsa em condições miseráveis e enfrenta a inclemência dos mares, rumo a uma fronteira desconhecida. Sem passaporte, sem papéis, sem telefones, sem nada. Apenas a vontade — ou o desespero — de procurar uma vida melhor ou de fugir à vida impossível. Dantes, estes movimentos eram sazonais: os traficantes aguardavam a acalmia do Mediterrâneo para fazer a travessia. Agora nem a imprevisibilidade do tempo respeitam. As tragédias tornaram-se, por isso, cada vez mais frequentes. O que leva alguém a decidir colocar-se nessa situação? A arriscar a vida e a morte da forma mais inclemente? Imagino que apenas o desespero o possa justificar, um desespero extremo, impossível. Ao mesmo tempo um desespero que constitui um grito para quem, como nós, habita do lado seguro da fronteira. Estaremos dispostos a ouvir esse grito? Na semana passada o Conselho Europeu reuniu-se de emergência para discutir a pressão migratória no Mediterrâneo. Dessa reunião saíram medidas importantes para o combate às redes de imigração clandestina, incluindo a identificação, captura e destruição dos navios antes de estes serem utilizados pelos traficantes. De igual modo, propôs-se aumentar a cooperação com os países de origem, procurando, na medida do possível, melhorar as condições de vida das pessoas, prevenindo, assim, novas vagas migratórias. Eis uma medida que não terá eficácia imediata. Lembremos, como escreveu Paul Collier no seu livro Exodus: How Migration Is Changing Our World, que os migrantes não são sequer os mais pobres nos seus países — são aqueles que, apesar de tudo, conseguem reunir os recursos para sair. Uma cooperação efectiva passa não apenas por colaborar com os países de origem no controlo fronteiriço e na disseminação de informação, mas, sobretudo, por apoiar os esforços de paz e de desenvolvimento para que os nacionais desses países aí possam encontrar condições de vida condignas. Há, por outro lado, um equívoco frequente a propósito da situação pessoal dos migrantes, que se tem adensado na discussão pública sobre as decisões do Conselho Europeu. A relocalização das pessoas dentro da União Europeia a que se refere o conselho é restrita aos refugiados — aos que pedem asilo e quando este, após verificação das condições individuais, lhes é concedido. Isto não se estende aos restantes migrantes. Só os que possam provar que se encontram em situação de perseguição e risco pessoal nos seus países de origem virão a beneficiar da protecção deste estatuto. Caberia — ou caberá — aos Estados-membros da União Europeia o acolhimento dos que não possam qualificar-se como refugiados nos termos restritos da Convenção de 1951 sobre a Protecção dos Refugiados – mas sobre isso não ouvimos uma palavra do conselho. Essa é uma decisão que cabe aos Estados, individualmente considerados. Decidiu também o conselho reforçar os meios de vigilância no Mediterrâneo, não apenas para detectar e prevenir as redes de traficantes, mas também para prestar assistência a quem se encontra em espaço sob jurisdição europeia – de forma a que as situações dramáticas a que assistimos nos últimos dias se não repitam. É certamente consensual a decisão de reforçar a presença no Mediterrâneo de navios europeus que permita a salvar as vidas dos que ali se encontram. Deveria ter sido adoptada há muito. Mas e depois? O que sucede após estas pessoas serem recolhidas e de lhes ser prestada a assistência humanitária a que têm direito? O que acontece do lado de cá da fronteira?Há fronteiras de diversos tipos. Há as fronteiras activas, brutais, mastodônticas. Há os muros, o arame farpado, a fronteira militarizada. Há isso tudo. E, depois, há a fronteira da Europa dos direitos humanos. Silente, omissa, solitária. Apenas o mar e a natureza em fúria. Deixando as balsas à deriva. Literalmente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos imigração humanitária perseguição
“Já não entendo o mundo”: a Europa na era das incertezas
Roma e Viena são hoje as capitais da Europa. No referendo italiano estão em jogo a estabilidade e as reformas políticas. As presidenciais austríacas poderão consagrar a “normalização” da extrema-direita, que se vai aproximando do poder. (...)

“Já não entendo o mundo”: a Europa na era das incertezas
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Roma e Viena são hoje as capitais da Europa. No referendo italiano estão em jogo a estabilidade e as reformas políticas. As presidenciais austríacas poderão consagrar a “normalização” da extrema-direita, que se vai aproximando do poder.
TEXTO: Duas votações, a última volta das presidenciais austríacas e o referendo italiano sobre as reformas constitucionais, voltam a pôr em causa a natureza política da Europa e terão consequências não apenas nos dois países mas nos equilíbrios geopolíticos do Continente. A política europeia é sempre "local", no sentido de que é determinada em última análise pelo voto nas eleições nacionais. Na Itália, os populistas de Beppe Grillo, a extrema-direita da Liga Norte e a maioria dos eleitores de Berlusconi — e ainda algumas correntes de esquerda — dizem "não" à reforma constitucional proposta pelo primeiro-ministro Matteo Renzi, ameaçando abrir uma crise política ou até uma situação de caos institucional, com reflexos na União Europeia. Mas o cenário catastrófico de uma saída da Itália do euro parece hoje excluído. Na Áustria, Norbert Hofer ameaça ser o primeiro presidente da República de extrema-direita eleito na Europa do pós-guerra. Mais do que isso, poderia a seguir abrir caminho a uma conquista democrática do poder pelo Partido da Liberdade (FPÖ), de origem neo-nazi, que é hoje a força que ocupa o centro do tabuleiro político nacional. O resultado terá repercussões directas nos equilíbrios da Europa Central, onde populismo e nacionalismos estão em expansão. A vitória de Hofer significaria a "normalização" da extrema-direita, susceptível de aceder à área do poder. "Os eleitores são hoje o elo fraco da Europa", escreveu o Financial Times, pois votam cada vez mais nos partidos anti-sistema e são atraídos pelos nacionalismos. Que se passa? Não se trata apenas, nem sobretudo, de uma adesão ideológica. Antes de mais, domina um sentimento: "Já não entendo o mundo. " A frase é do sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-2015), numa entrevista de 2014. Não falava como cidadão comum, pois acabava de publicar um polémico livro, A Europa Alemã (Lisboa, Edições 70, 2013), mas punha-se na pele do eleitor. "Vivemos uma época em que toda a gente fala de catástrofes. (. . . ) Sabemos o que acontece quando um automóvel avaria ou um computador rebenta, mas não sabemos o que acontece se o euro ou a União Europeia rebentam. "Seria, até certo ponto, uma nova situação histórica. "Os cidadãos, as pessoas na rua, enfrentam situações que não entendem, não percebem o que se está a passar. ‘Eu já não entendo o mundo’ seria uma boa frase para definir como se sentem. Um pouco por toda a parte, a Europa está confrontada com uma situação para a qual os especialistas não têm resposta, os políticos não têm resposta e, consequentemente, as pessoas não têm resposta. E, por outro lado, a sociedade está mover-se ao mesmo tempo, pensando em todo o tipo de alternativas. "Passemos a alguns sintomas. Cresce a aversão à política, o Estado-nação está a perder soberania, o que gera mais insegurança, os trabalhadores sentem a "Europa" como ameaça. Grande parte disto não é novo. A crise de 2008 e as atribulações do euro fizeram crescer o eurocepticismo e mostraram uma UE dividida entre credores e devedores, entre Norte e Sul. Mas o coração do problema, a relação entre os cidadãos e a política ou entre os trabalhadores e o poder, estão em debate desde há mais de duas décadas. Dois exemplos. O historiador italiano Giovanni Orsini acaba de publicar um ensaio —"Como nasce a antipolítica" (jornal Il Foglio, 14 de Novembro) — em que analisa o surto populista italiano na crise de 1992-93, em que o velho sistema político desabou por iniciativa dos juízes com a maciça aprovação da opinião pública. Orsini sublinha uma série de factores, de que cito alguns: a evolução do sistema mediático, a insatisfação económica, a nova relação entre o poder judicial e os partidos em perda de representatividade, a ineficiência de um sistema constitucional mais concebido para garantir do que para decidir, provocando o bloqueio político, a corrupção e a explosão da dívida. Segue-se a ascensão do populismo mediático de Silvio Berlusconi. Note-se que, antes disso, a Itália conhecia desde o fim dos anos 1980 um virulento populismo, o da Liga Lombarda, depois Liga Norte, de Umberto Bossi, uma "insurreição" do Norte rico contra a "Roma Ladrona" e o centralismo administrativo. Hoje, afastado Bossi, a Liga foi "lepenizada" por Matteo Salvini e disputa a Berlusconi a hegemonia da direita. Passando a França e à relação entre povo e política, resumia em 1997 (La Faute aux élites), o historiador e jornalista Jacques Julliard: desmoralizado e abandonado pelas elites, o povo perdeu a sua bússola e a sua identidade para mergulhar no populismo. Julliard acusava as elites políticas e tecnocráticas da esquerda — e também aqueles revolucionários "que mudaram de proletariado nos anos que se seguiram a 1968. Substituíram os operários pelos imigrantes e passaram para estes o duplo sentimento de temor e de compaixão que o proletário geralmente inspira. "Concluía: "As classes populares não são por natureza mais conservadoras ou repressivas; são as mais expostas, eis tudo". Cinco anos depois, Jean-Marie Le Pen batia o socialista Lionel Jospin na primeira volta das presidenciais. O que provoca perplexidade é a indiferença a um problema tão fundo, seguindo o velho princípio de que não há questão que o tempo não resolva: para explodir depois. A crise de 2008, os constrangimentos da dívida e as desventuras do euro multiplicaram a potência dos populismos. A crise não só alimenta o populismo como amplifica os sentimentos de insegurança e medo. "Aparentemente, é o cocktail entre a crise do desemprego e o medo do ‘outro’, frequentemente encarado como terrorista mesmo antes de [ser visto como] imigrante, o elemento que marca a ascensão populista dos últimos anos a um ritmo vertiginoso", anota o politólogo italiano Luca Ricolfi. A onda alastrou a países do Norte, sem desemprego, como resposta à vaga dos refugiados. Aos populismos junta-se agora uma onda de nacionalismo, que poderá ser potenciada pela nova América de Trump. Na França, Marine Le Pen explora com sucesso a insegurança dos cidadãos. "A base programática da FN é sempre a ‘preferência nacional’: reservar os empregos, os alojamentos, as prestações sociais aos franceses", escreve a politóloga Nonna Mayer. A xenofobia concentra-se no árabe. O islão torna-se o inimigo principal. Os atentados jihadistas fazem o resto. Mas esta extrema-direita soube tornar-se "democrato-compatível". A islamofobia passa ser justificada em nome dos valores laicos e republicanos. A sua inteligência política não deve ser subestimada. A extrema-direita não conquistou (ainda) o poder em nenhum país europeu. A sua grande vitória é ter imposto a sua agenda política, os novos temas de debate, da denúncia do establishment ao tema da imigração, passando a condicionar os governos. Aqui reside a "lepenização" da Europa. Não tendo responsabilidades de governo, este populismo simplifica os problemas ao extremo, o que lhe permite fazer propostas simples e sedutoras. Daí decorre, a par da capitalização das "cóleras" populares, a sua capacidade de mobilização. Face aos partidos tradicionais os populistas surgem como o "novo". Conclui Meyer: "Paradoxalmente, estes partidos da extrema-direita são os últimos a vender sonhos. . . "Como conter o populismo? O politólogo espanhol Javier Redondo anota que estão em competição duas estratégias. Uma, defensiva e dominante, aposta na recuperação económica. Outra, ofensiva, joga no terreno político do populismo para o neutralizar. O exemplo seria Renzi. Conquistou o Partido Democrático e ascendeu ao governo sob o lema de "destruir" o antigo sistema político e a "velha casta". No poder, trocou esse retrato pelo de "homem de Estado". Regressou à velha postura nas últimas três semanas, tentando mostrar que é ele e não Grillo quem quer e quem pode reformar a Itália e que votar contra as reformas significa consolidar o statu quo. Corre o risco de ter regressado tarde à imagem de origem. Acrescente-se que há uma terceira exigência relativa ao frustrante funcionamento dos partidos políticos, distantes dos eleitores e viciados na lógica mediática. Isto estimula a ideologia referendária, em que os eleitores exigem que o poder de decidir lhe seja devolvido. O risco da legítima pulsão referendária é que os eleitores não respondam à questão posta, mas que a utilizem para exprimir o mero protesto. O voto de hoje na Itália não é, de facto, sobre a reforma constitucional mas a favor de Renzi ou contra Renzi. Muito se tem escrito sobre o regresso das nações, em contraponto ao centralismo ou à ineficácia das instituições comunitárias. É uma realidade. Mas merece uma primeira nota. Uma parte da impotência comunitária deve-se à ocultação de um mecanismo fundamental: o que passa por ser a "decisão da UE" resulta da negociação entre políticos que encarnam aberta ou disfarçadamente "28 interesses nacionais". Em segundo lugar avisa Mario Monti, ex-primeiro-ministro italiano: "Alguns poderes hoje exercidos em comum e com determinadas regras da UE, seriam devolvidos aos Estados. Mas cuidado: em geral, esses poderes foram transferidos para a esfera comunitária precisamente porque os Estados constatavam que já não os podiam exercer, porque a globalização estava a transferir, de facto, esses poderes nacionais para os mercados, para as multinacionais e para as grandes potências extra-europeias. " O risco "é um momento de breve excitação seguido de uma permanente impotência. "Os nacionalismos estão em ascensão. Volta a prevenir Monti: "Numa Europa sem a União Europeia, os nacionalismos tenderiam a entrar em choque entre si. " A Europa tornar-se-ia uma "selva". E pergunta: pensam Marine Le Pen ou Beppe Grillo que os seus países se tornariam mais fortes se a França e a Itália regressassem ao franco e à lira ou a Alemanha ao marco?Um dos problemas da política europeia é que os líderes políticos não aprenderam a falar ao povo, aos eleitores e às nações para explicar estas coisas "triviais". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Falta conhecer os resultados da Itália e da Áustria. Mas antevêem-se reacções catastrofistas, sobretudo no caso da Áustria. Pensando nos Estados Unidos e em Donald Trump, adverte a politóloga Alison McQueen, da Universidade de Stanford: "Uma visão do mundo apocalíptica, que tem um longo historial na política dos EUA, leva a posições extremamente perigosas. A primeira é abandonar a participação política (. . . ) A segunda postura é a resignação. "A propósito das dificuldades da construção europeia, dizia Étienne Davignon, antigo vice-presidente da Comunidade: "As verdadeiras derrotas são apenas as que se aceitam sem reagir. "
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
O mundo está numa corrida às armas, mas quem é o inimigo?
A tensão mundial nunca foi tão elevada e tão global. E os sinais de que há quem esteja a preparar-se para que tudo corra mal avolumam-se. (...)

O mundo está numa corrida às armas, mas quem é o inimigo?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: A tensão mundial nunca foi tão elevada e tão global. E os sinais de que há quem esteja a preparar-se para que tudo corra mal avolumam-se.
TEXTO: No final de Janeiro, o último Presidente soviético, Mikhail Gorbatchov, disse que “parece que o mundo se está a preparar para a guerra”. “O mundo está, hoje, cheio de problemas. Os políticos parecem confusos e perdidos. Mas nenhum problema é mais urgente do que a militarização da política e a nova corrida às armas. Travar e reverter esta corrida ruinosa tem de ser a nossa primeira prioridade”, disse um dos líderes que pôs fim à Guerra Fria. “A actual situação é muito perigosa. ”Em menos de cinco meses, os problemas de que Gorbatchov falava deixaram o copo ainda mais à beira de transbordar. A Coreia do Norte — que num ano realizou dois testes nucleares e vários ensaios com mísseis balísticos, incluindo de um novo tipo que se suspeita poder ser intercontinental — e os Estados Unidos — que deslocaram meios de guerra com capacidade nuclear para a península coreana — envolveram-se num braço-de-ferro de desfecho perigoso, com o risco potencial de arrastar a China. No Médio Oriente, Rússia e Estados Unidos combatem o terrorismo em separado — com relatos de aviões dos dois lados a voarem perigosamente próximos. Na Turquia, país à porta da Europa e do Médio Oriente, com a guerra da Síria ali ao lado, o Presidente, Recep Erdogan, lança as bases de um poder totalitário, que não tolera a independência ou sequer a autonomia dos curdos, um povo dividido por várias nações, e cuja luta pode, só por si, desencadear várias guerras. Junte-se a este quadro a ciberguerra, a imigração e a falta de respostas para o fenómeno global das migrações e refugiados — alimentado por guerras e conflitos, mas também pelas alterações climáticas, potenciadoras de carência e de desigualdades — e do terrorismo. “A actual situação é muito perigosa”, avisou Gorbatchov. A tensão mundial nunca foi tão elevada e tão global. E os sinais de que há quem esteja a preparar-se para que tudo corra mal avolumam-se. A China está a aumentar o seu orçamento de Defesa, embora o deste ano (7% ou 132 mil milhões de euros) tenha sido o mais baixo dos últimos anos — em 2000 o aumento foi de 18%. Os analistas explicam que a contracção do crescimento económico obrigou Pequim a moderar as suas ambições. Apesar de ser um país em crise económica, a Rússia fez o mesmo – já em 2016 foi o terceiro país que mais investiu militarmente, atrás dos EUA e da China, canalizando mais 5, 9% em relação ao orçamento do ano anterior para a modernização e aumento de capacidade das Forças Armadas, segundo o instituto sueco de estudos de conflito Sipri. Numa visita ao Pentágono depois de tomar posse como Presidente, Donald Trump assinou um decreto dando ordem de partida para uma vasta expansão da capacidade militar dos Estados Unidos. E o orçamento que enviou na terça-feira para o Congresso prevê um aumento substancial dos gastos com a Defesa e a segurança nacional (10% mais; para compensar, reduz em 3, 2 mil milhões de euros os programas sociais e de saúde). Um orçamento “militar” que prevê mais 56 mil soldados, a aquisição de 84 aviões de combate de nova geração, de oito navios de guerra, também de nova geração. “Estou a assinar um decreto para começar a reconstruir as Forças Armadas dos EUA”, disse Trump no Pentágono e houve analistas que escreveram que as três páginas em que o Presidente pôs a sua assinatura eram um “roteiro para a guerra”. A indústria de armamento, um poderoso lobby nos EUA, confirma a tendência. Quando Trump anunciou a contrato com a Arábia Saudita para a venda de 110 mil milhões de dólares de armamento, o preço das acções das empresas americanas disparou. A Casa Branca explicou que a venda se destinava a “fazer frente à ameaça iraniana” — a guerra, para já de palavras, entre os EUA de Trump e o Irão é outro foco de tensão. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As publicações especializadas em defesa dizem que a escalada na indústria do armamento começou em 2011, quando eclodiram os movimentos pró-democracia conhecidos por "Primavera Árabe", mas o investimento aumentou após a chegada de Trump à Casa Branca. As acções da Lockheed Martin, o maior fabricante de armamento do mundo, segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo, acumulam este ano uma subida de 11, 5% e dispararam mais 3% após o negócio de Trump com a Arábia Saudita, disse a CNBC, que acrescentava que as empresas de alta tecnologia (Saab, Leonardo e Bae Systems) acumularam subidas entre os 15, 5% e os 26, 7%. A General Dynamics, que desenvolve e fabrica veículos de combate, navios e sistemas de armas, cresceu desde Janeiro 13, 4% e a Raytheon, empresa de tecnologia de segurança interna, 11%, segundo o jornal El Mundo. Um estudo citado pelo El Mundo da empresa de consultoria financeira Edward Jones, que em Março começou a trabalhar com a Lockheed Martin, diz que “o gasto com a defesa vai crescer nos próximos anos e os problemas globais vão apoiar as compras internacionais dos aliados dos Estados Unidos”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Wilders discursa em manifestação anti-islão em Dresden
Populista holandês convidado do movimento Pegida, que está em declínio na Alemanha. (...)

Wilders discursa em manifestação anti-islão em Dresden
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Populista holandês convidado do movimento Pegida, que está em declínio na Alemanha.
TEXTO: O político holandês Geert Wilders, conhecido pela sua veia anti-islão, esteve em Dresden, Leste da Alemanha, a convite dos organizadores do movimento Pegida – acrónimo de Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente –para discursar numa manifestação. “Vocês são heróis”, disse Wilders aos simpatizantes do Pegida, “orgulhosos patriotas alemães”, segundo o jornal Sächsische Zeitung, que seguiu o acontecimento a par e passo na sua edição online. A multidão gritava “nós somos o povo” e “Merkel tem de ir embora”, slogans habituais nas manifestações contra imigrantes do Pegida, que depois de um sucesso inicial no final do ano passado, viu o número de participantes nas suas “marchas de segunda-feira” baixar. Wilders falou do ataque à universidade do Quénia e contra o Charlie Hebdo em França para aconselhar os presentes: “Dêem o alarme e avisem os vossos vizinhos e amigos para o perigo da islamização”. Segundo as contas dos meios de comunicações alemães, o número de presentes estava longe dos 30 mil esperados pela organização do movimento – foram cerca de 10 mil, segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Num comentário, o jornal diz que a ida de Wilders não deverá mudar a queda do movimento, num texto com o título: “Wilders fala a um cadáver político”. Enquanto isso, uma contramanifestação tinha bloqueado estradas no acesso a Dresden, tentando impedir a ida de Wilders à cidade, embora sem sucesso. Os contramanifestantes (cerca de 2500, segundo a polícia) foram depois restritos pela polícia, mas não deixaram de cantar slogans como “imigrantes são bem-vindos aqui”. O Governo alemão diz que a questão da concessão de asilo está a ser instrumentalizada pela extrema-direita e movimentos como o Pegida, num momento em que se registaram vários ataques a novos centros para refugiados. Um dos exemplos mediáticos foi o de um ataque incendiário a um centro para refugiados em Tröglitz, onde pouco antes um responsável local se demitiu após ter recebido ameaças de neonazis. O Ministério do Interior registou no ano passado 170 crimes com motivações políticas em que o alvo ou o local do crime tinham sido centros de refugiados. A maioria destes ocorreram entre Outubro e Dezembro, o período de crescimento das manifestações do Pegida em Dresden; noutras cidades alemãs, as contra-manifestações foram sempre maiores.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime ataque
Enquanto a Alemanha vota
Há em Donald Trump uma doutrina que põe abertamente em causa a ordem internacional liberal e os valores sobre os quais foi constituída. (...)

Enquanto a Alemanha vota
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há em Donald Trump uma doutrina que põe abertamente em causa a ordem internacional liberal e os valores sobre os quais foi constituída.
TEXTO: 1. Já não vale a pena dizer mais nada sobre as eleições na Alemanha. Os alemães estão a votar. Merkel terá o seu quarto mandato. O que está em jogo depende dos resultados dos outros partidos, para se começar a entender com que coligação contar. Em Paris e em muitas outras capitais europeias, fazem-se figas para que Merkel acabe por reeditar a “grande coligação”. Seria o mais “europeu” de todos os governos possíveis. O mais extraordinário destas eleições, é que hoje podemos dizer delas o que costumamos dizer das eleições americanas: os outros europeus deviam ter também direito a voto. Talvez nunca como hoje, o futuro da Europa dependa tanto de um só país (o que também não é bom). A Europa sobreviveu à sua maior crise de sempre. A partir de agora começa o debate sobre qual será o seu futuro. 2. Emmanuel Macron será um dos mais atentos aos resultados. Liderou uma revolução que mudou radicalmente a paisagem política francesa. Travou o pesadelo do nacionalismo. Ganhou com um discurso positivo sobre a Europa. Quer refazer o eixo franco-alemão, equilibrando o poder da Alemanha e encontrando um compromisso no qual os outros países acabem por se conseguir rever. Não há dois países mais diferentes na Europa. Nunca houve tanta necessidade de que se possam entender. Qual é o seu plano? Diz o Eliseu que não quis ir demasiado longe para não colocar a chanceler numa posição incómoda durante a campanha. Em matéria de reforma da zona euro, deu apenas alguns sinais demasiado dispersos. Decidiu fazer o seu discurso sobre a Europa na próxima terça-feira, apenas dois dias depois das eleições. Quer que as suas propostas sejam levadas em conta na discussão da próxima coligação. Os resultados vão mostrar um país que tem resistido bem às convulsões políticas que abalam as democracias europeias. Mas convém não desvalorizar o facto de, pela primeira vez desde a fundação da RFA, um partido de extrema-direita entrar no Bundestag. A extrema-direita alemã não significa o mesmo que nos outros países europeus. O compromisso de Macron é simples: reformar a França para ganhar poder negocial em Berlim. O novo código do trabalho já está promulgado, depois de uma intensa negociação com patrões e sindicatos. O Orçamento será muito difícil de negociar para cumprir a meta dos 3%. Os cortes serão inevitáveis. A rua, em França, é sempre uma tentação. A popularidade do Presidente caiu dramaticamente. Mas é preciso lembrar que não tem oposição digna desse nome. Os dois grandes partidos estão destruídos. Vão levar tempo a reconstruir-se. Os extremos (Mélenchon e Marine) têm um tecto que se revelou difícil de quebrar. O poder do Presidente francês é muito maior do que o da chanceler. Merkel quer mudar o menos possível na zona euro, para além daquilo que já foi feito. Vai querer dar prioridade ao segundo grande dossier que a Europa tem pela frente: a segurança e defesa. Paris concorda, mas não desiste de reformar a união monetária, argumentando, provavelmente com razão, de que é necessário prepará-la para a próxima crise. Alguns países (Portugal entre eles) preferem o seu calendário, numa altura em que a retoma da economia europeia e os bons resultados obtidos pelos países que sofreram processos de ajustamento torna mais fácil essa negociação. Entretanto, olhando em volta, é cada vez mais forte a sensação de que a Europa não tem tempo a perder perante um mundo que lhe é cada vez mais adverso e que parece cada vez mais assustador. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 3. O discurso de 45 minutos que o Presidente americano leu até ao fim na tribuna da ONU serviu para confirmar que nem tudo se resume à sua imprevisibilidade e impreparação. Há nele uma doutrina que põe abertamente em causa a ordem internacional liberal e os valores sobre os quais foi constituída. A crise maior até pode não vir da Coreia do Norte. Se, como praticamente anunciou, Trump vai mesmo “rasgar” (ou renegociar, o que pode ser a mesma coisa) o acordo com o Irão, a corrida ao armamento nuclear pode transformar-se num verdadeiro pesadelo. A Europa não pode continuar a distrair-se do mundo, abrindo champanhe para celebrar o fim do veto britânico à abertura de um Quartel-General em Bruxelas. Merkel tem plena consciência deste facto. Macron também. Trump não pode ser eternamente uma desculpa. Uma das primeiras coisas que o Presidente disse no seu discurso da ONU foi que o orçamento de defesa dos EUA atingiu os 700 mil milhões de dólares. Não foi por acaso. É mais do que a soma de todos os países europeus, da China e da Rússia, para não falar do alucinante avanço tecnológico. Sem querer fazer demagogia, a Améria cria as empresas que fazem mover o mundo. A Europa prefere taxá-las. Não é uma boa receita. 4. É tentador deixarmo-nos embalar pela conversa de que Donald Trump é uma preciosa ajuda para unir a Europa e fazê-la assumir as suas responsabilidades. Essa é a parte mais fácil. O pior que poderia acontecer era criticar o Presidente americano pela sua perigosa deriva nacionalista e deixar, ao mesmo tempo, que se instalem na Europa politicas que não são assim tão diferentes das suas. Um ou dois exemplos. As novas medidas que Macron adoptou para melhorar a segurança contra o terrorismo, se forem bem lidas, não são muito diferentes das que Trump quer praticar com os imigrantes. O célebre xerife do Arizona que os tribunais condenaram e Trump perdoou reclamava o direito de interpelar na rua quem tivesse cara de imigrante. Escreveram-se dezenas de páginas a denunciar esta intolerável arbitrariedade, incompatível com a democracia. Lendo a imprensa francesa, as medidas que o governo adoptou para reforçar a segurança dando mais poderes à polícia não são muito diferentes. Ver os refugiados que chegam à Dinamarca serem despojados de alguns dos seus bens mais preciosos e pessoais, que lhes permitem manter um mínimo de dignidade, para pagarem os custos da sua permanência, também não é um espectáculo muito recomendável. A Alemanha e a França querem manter os controlos fronteiriços por mais quatro anos. Não é só o Reino Unido que quer controlar quem entra. Há certamente explicações racionais para estas medidas. Mas este não é o “modo de vida” que juramos querer defender de cada vez que somos confrontados com um atentado. É preciso acrescentar que o Brexit, para além da confusão reinante no Governo de Theresa May, é um sintoma, que não pode ser minimizado. O que se está a passar na Catalunha mostra até que ponto é mortal a infecção nacionalista. 5. Trump quer rasgar os acordos comerciais dos EUA com os mais variados países ou regiões do mundo. É um desastre. O nacionalismo costuma vir acompanhado do proteccionismo. A iniciativa da Comissão para criar formas de controlo europeu do investimento estrangeiro em sectores considerados estratégicos ou de alta tecnologia (leia-se da China) pode ter algum fundamento, mas é reveladora de uma tendência que pode crescer rapidamente. Há outras maneiras de regular o impacte da globalização. É tudo isto que os europeus precisam urgentemente de levar a sério. É uma tarefa política ciclópica. Mais uma vez, Merkel e Macron têm de falar claro um com o outro e com os seus parceiros europeus. Talvez por isso, Ulrich Guerot, numa notável entrevista que publicamos no destaque das eleições alemãs, insista tanto na ideia de que a Europa só terá futuro se se transformar numa Europa de cidadãos. É um caminho.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Eleições abrem período de incerteza na Alemanha
Para o quarto mandato, Merkel parece ter apenas uma hipótese para Governo. Terá de ceder e entrar em terreno incógnito. (...)

Eleições abrem período de incerteza na Alemanha
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para o quarto mandato, Merkel parece ter apenas uma hipótese para Governo. Terá de ceder e entrar em terreno incógnito.
TEXTO: A noite eleitoral na Alemanha teve duas surpresas e um choque. A coligação considerada mais improvável, CDU/CSU, democratas-cristãos, com os Liberais e os Verdes, parece a única hipótese para a chanceler, Angela Merkel, formar Governo. É uma incógnita total. A maior surpresa da noite eleitoral foi a descida marcada dos democratas-cristãos de Merkel, que acabou em cerca de 33% (de acordo com o balanço final), um dos resultados mais baixos da história do partido, apenas menor que em 1949, quando obteve 31%. Nas últimas eleições tinha conseguido 41, 5%. É uma queda substancial. Já os seus parceiros de coligação, os sociais-democratas, chegaram à mais baixa posição de sempre, com 20, 5%. O partido tem de pensar o futuro e Martin Schulz foi muito claro quando se dirigiu aos apoiantes e protagonizou a segunda surpresa da noite: o partido de centro-esquerda vai passar para a oposição, declarou, e não põe hipótese de repetir a grande coligação em que governou nos últimos quatro anos com Merkel. Os resultados só deixam então outra hipótese a Merkel: juntar-se a Liberais e Verdes. Houve também um choque, a entrada forte no Parlamento da Alternativa para a Alemanha (AfD), que, com medos e descontentamentos vários, sobretudo com a entrada no país de mais de 800 mil refugiados, flirtando com polémicas e retórica de extrema-direita, chegou a 12, 6% dos votos. O partido não é considerado uma hipótese de coligação para nenhum outro partido. É a primeira vez que na História da Alemanha do pós-guerra uma força claramente de extrema-direita chega ao Parlamento. A entrada da AfD no Bundestag era dada como certa, apenas estando em dúvida a percentagem; o partido teve um pico em 2016 com o descontentamento em relação à política dos refugiados e medo que estes não fossem integrados, mas desceu depois por causa de lutas internas. Como vai receber fundos federais como todos os partidos com assentos parlamentares, a AfD vai a partir de agora ser uma força permanente na política alemã. Mesmo que não se antecipe que os seus deputados possam fazer um grande trabalho no Parlamento (porque não têm quadros suficientes e pela tensão interna), vão ter uma estrutura verdadeiramente nacional e vão poder cimentá-la. Uma das primeiras acções prometidas pelo AfD é uma investigação parlamentar à decisão de Merkel declarar Dublin suspenso e autorizar a entrada de refugiados na Alemanha no Verão de 2015. Seguem-se Liberais e Verdes. Os primeiros, de Christian Lindner, conseguiram 10, 7%, um bom resultado e o regresso do partido histórico ao Parlamento. Em 2013 os liberais tiveram uma derrota estrondosa, precisamente depois de terem estado numa coligação com Angela Merkel. Entre as razões para essa derrota estava o facto de terem concordado com a política de empréstimos da chanceler aos países do euro quando governaram em conjunto. O que farão os liberais desta vez é uma autêntica incógnita, porque o partido está centrado no novo líder. Este expressou forte oposição em relação às políticas de resgate e também de imigração, no que foi visto como uma tentativa de disputar votos com a AfD, mas não é certo o que exigirá para um acordo de coligação. E há que contar também com os Verdes, que surgem logo de seguida com 8, 9%, e os candidatos Cem Özdemir e Katrin Göring-Eckardt vão também fazer as suas exigências. Já o partido Die Linke, de extrema-esquerda, conseguiu 9, 2%. Como é que Merkel vai combinar as posições opostas destes partidos em questões como a Europa, a economia e a imigração, é uma incógnita. Se a chanceler é conhecida pelo seu estilo presidencial de governar, já tinha afirmado que não gostaria de experiências nestes tempos que precisam de estabilidade. Mas é mesmo uma experiência que irá acontecer caso seja formada esta coligação: para além de nunca ter havido um Governo destes a nível nacional, até em estados-federados existiu apenas em dois menos relevantes, o Sarre (entre 2009 e 2012) e desde Junho de este ano em Schleswig-Holstein. Haveria mais uma hipótese, a de um governo minoritário. Esta então é tida como ainda mais improvável do que a Jamaica (assim chamada pelas cores dos partidos, que formam a bandeira deste país), e tem também muitos poucos exemplos a nível dos estados federados, uma vez em Magdeburgo e outra na Renânia do Norte Vestefália, e sempre com o apoio da esquerda a governos do SPD. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Num curto comentário na sede da CDU, em que leu dois pequenos papéis com algumas notas, Merkel disse que apesar de o partido já ter tido muitas vezes resultados melhores, conseguiu o seu objectivo: “Somos a primeira força, podemos formar Governo, e ninguém pode formar um governo contra nós. ” A chanceler disse ainda que quer ganhar eleitores da AfD, ouvir os seus medos, entender as suas preocupações, e tentar resolvê-los mas sempre com boas políticas. Já o líder do partido-gémeo da CDU, o bávaro Horst Seehofer, considerou que foi um erro ter-se deixado um “flanco aberto à direita” e prometeu que o vácuo vai ser preenchido com políticas “que garantam que a Alemanha continua a ser a Alemanha”, como disse à rádio televisão Bayerische Rundfunk. Teme-se que este seja um sinal do regresso do desentendimento entre os dois partidos gémeos que se arrastou durante meses antes da campanha, o que poderia complicar ainda mais um acordo de coligação que já se anuncia difícil.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra imigração medo
Se os ricos ficarem cada vez mais ricos, alguma coisa há-de sobrar para os outros
Trump conseguiu a sua primeira grande vitória no Congresso. Os americanos acabarão por conseguir, mais tarde ou mais cedo, dar a volta. (...)

Se os ricos ficarem cada vez mais ricos, alguma coisa há-de sobrar para os outros
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.187
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Trump conseguiu a sua primeira grande vitória no Congresso. Os americanos acabarão por conseguir, mais tarde ou mais cedo, dar a volta.
TEXTO: 1. Hoje é um daqueles dias em que é difícil escolher um tema, mesmo que haja muitos, por cá e pelo mundo mas que dispersam a nossa atenção. Donald Trump conseguiu a sua primeira grande vitória no Congresso, desde que está na Casa Branca, com um novo código para os impostos que tem implicações profundas para os americanos. Regressa à velha doutrina da “trickle down economics”, que vem do tempo de Reagan e que se resume facilmente: se os de cima tiverem as condições para ganhar cada vez mais, alguma coisa há-de cair para os de baixo. Reagan praticou-a, com a sua revolução conservadora, mas noutras circunstâncias. Ignorou o défice, impossível de compensar com os cortes nas políticas sociais, mas conseguiu animar a economia americana. A sua grande tarefa, hoje desnecessária, foi a desregulação da economia, deixando a tarefa aos mercados. Quando chegou à Casa Branca, George Bush (pai), que lhe chamava “economia vodou”, lamentou-se várias vezes de não ter dinheiro para financiar devidamente as forças democráticas que emergiam na Europa de Leste e a transição na União Soviética, liderada por Gorbatchov, por causa do défice que Reagan lhe deixara. Bill Clinton, que se fartou de denunciar, na sua primeira campanha, esta doutrina, como injusta e pouco eficiente, deixou um enorme excedente orçamental ao seu sucessor, aproveitando o crescimento económico, sem deixar de reformar o Estado social. Bush (filho) acabou rapidamente com ele, por causa das guerras que travou. Obama, que herdou uma crise próxima da Grande Depressão e que teve de injectar 700 mil milhões de dólares na economia para salvá-la do pior, também conseguiu reduzir o défice, quando a economia começou a dar sinais de vida, na altura da sua reeleição. Salvou a indústria automóvel. Regulou os mercados financeiros de forma a tentar prevenir uma nova debacle. Com Trump voltamos ao passado. As enormes reduções fiscais dirigem-se aos empresários e aos ricos em geral; a classe média, já bem “espremida” pelos anos do neoliberalismo e da globalização, continuará mais ou menos na mesma. Os pobres ficarão pior porque são inevitáveis os cortes nos programas sociais. A parte dos republicanos que tradicionalmente não gosta do défice nem da dívida teria dificuldade em negar a Trump esta vitória solitária, depois de ter passado bastante tempo a recusar as iniciativas da Casa Branca, incluindo o Obamacare. O problema é que o Presidente americano, com a sua defesa do proteccionista, vai destruindo os acordos comerciais com os grandes e pequenos blocos económicos, correndo o risco de prejudicar as exportações americanas, mesmo que justifique os cortes drásticos nos impostos com a necessidade de aumentar a competitividade da economia. 2. Os americanos acabarão por conseguir, mais tarde ou mais cedo, dar a volta. Já o mesmo pode não acontecer com a sua política externa, capaz de destruir a ordem liberal que os EUA construíram, com um custo muito mais pesado para o mundo. Há uma nova dimensão da política externa americana que, muitas vezes, não valorizamos devidamente, que é a saída de cena de qualquer referência que se aproxime da defesa dos direitos humanos no mundo. Rex Tillerson avisou que eles não fariam parte da sua política. Trump não consegue ver a diferença entre a democracia americana e o regime de Putin, como ele próprio afirmou ainda durante a campanha. Este abandono acaba por contagiar as outras democracias, tornando o mundo num espectáculo cada vez mais penoso de ver. E não é só porque a China ocupa cada vez mais espaço deixado vazio pelo Ocidente, sendo que os direitos humanos não fazem parte do seu vocabulário. Putin soma e segue no seu apoio a qualquer torcionário que se lhe apresente. A Europa, ainda a vencer a crise que a ia matando e a tratar das reformas que lhe podem garantir um futuro num mundo cada vez mais adverso, também anda bastante distraída. Há 15 dias, a CNN foi à Líbia e filmou (com câmaras escondidas) os novos mercados de escravos (não é exagero de linguagem) que funcionam a céu aberto, atirando os imigrantes e os refugiados para uma condição sub-humana vergonhosa e intolerável. Os europeus, incluindo a imprensa, só começaram agora a reagir. Foi apenas há três dias que Jean-Claude Juncker falou no assunto para prometer resolvê-lo. Não se vê como. Foram os europeus, e bem, que ajudaram a derrubar Kadhafi, perante a iminência de um massacre em preparação. Hoje, a sua obsessão passou a ser estancar a torrente dos que atravessam o Mediterrâneo em direcção à Europa. A solução que preferem é mantê-los longe da vista, na Líbia e noutros países de passagem, e avaliar aí a sua condição. Ninguém diz que as respostas sejam fáceis, mas o mínimo que lhes cabe fazer é garantir a sua segurança e a sua dignidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na Síria foi o que foi. No Yemen, “ a guerra que o mundo ignora” à qual a Economist dá esta semana a capa, a mortandade é insuportável. De um modo geral, a indiferença prevalece. Tem de haver uma solução equilibrada, que não é, certamente, ceder à extrema-direita para não perder votos. Qualquer reforma da política externa não pode abdicar desta dimensão da sua relação com o mundo, que é inerente aos seus valores e que faz parte integral do combate ao nacionalismo que mina as suas democracias. Na semana passada, também não demos grande importância à chamada cimeira dos “16 mais 1” (lançada em 2012), reunindo a China com os países da Europa de Leste e dos Balcãs, muitos deles membros da União Europeia, para captar investimento que Pequim tem a rodos e sem qualquer exigência moral. A deriva dos países de Leste para soluções nacionalistas parece alastrar-se ao domínio das relações externas, com “aliados” (Putin e Xi) que sonham em dividir a Europa ou aumentar a sua influência política. Se a Europa, às vezes, andou distraída com os seus problemas, isso não explica a sua deriva autoritária nem justifica qualquer reivindicação. 3. Se regressarmos por um momento à pátria, a eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo (deve ser confirmada amanhã) é uma daquelas coisas sobre as quais não há forma de enganar. Deixo o significado político interno para melhor altura, enquanto o bota-baixismo dá largas à sua imaginação. O que Centeno tem de fazer, já o explicou Sérgio Aníbal no PÚBLICO de sábado, num texto que convém ler. Limito-me ao que significa do ponto de vista da Europa. Em Berlim, pode querer dizer uma nova preocupação em sarar as feridas abertas pela crise da dívida e do euro, que deixaram uma divisão profunda entre o Norte e o Sul, por vezes com laivos de xenofobia. Como António Vitorino costumava dizer numa simples frase, a Europa não sobreviverá a uma realidade em que haja “perdedores” e “ganhadores”, sobretudo se forem sempre os mesmos. É por isso que tanto se insiste na necessidade de completar a reforma da União Económica e Monetária. Merkel tem tido a grande vantagem de aprender depressa as lições que a realidade lhe apresenta, reconhecendo o mérito do actual Governo, recebido na Europa há dois anos com duas pedras na mão. Wolfgang Schäuble já tinha feito o mesmo em relação a Mário Centeno. Como dizia António Guterres, o que é preciso é que as nossas propostas consigam ser boas para nós e boas para a Europa. O resto fez António Costa, com o seu “europeísmo pragmático”, como me dizia um embaixador europeu em Lisboa. Abriu portas e criou pontes que pareciam intransponíveis. A primeira das quais foi perceber que Merkel também tem razões para o que faz e que ganhar a sua confiança era a coisa mais importante. Basta ler o seu discurso de Bruges. 4. Não tenho nada a acrescentar aos textos dos meus colegas sobre o que o jornal deve a Belmiro de Azevedo. Tenho a sorte imensa de ter cinco netos que mudaram completamente a minha forma de olhar a vida. Escutar uma das suas netas dizer-lhe que não se preocupasse, que os netos tratariam da avó e dos pais, foi a coisa mais bela da cerimónia de despedida. Afinal Belmiro não foi apenas um grande empresário.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA