Mais uma estalada jurídica para o senhor Trump
Os “checks and balances” poderão estar mais frágeis hoje do que há 100 anos, mas continuam a servir o propósito original: impedir déspotas e a tirania do partido maioritário. (...)

Mais uma estalada jurídica para o senhor Trump
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os “checks and balances” poderão estar mais frágeis hoje do que há 100 anos, mas continuam a servir o propósito original: impedir déspotas e a tirania do partido maioritário.
TEXTO: Esta semana a Economist legendou uma fotografia com a frase “Dial 911 to call your congressman”. O 911 é o nosso 112 e há muitos americanos com vontade de chamar uma ambulância ou a polícia para travar a derrapagem autoritária. A boa notícia é que não será preciso fazê-lo já. A decisão da 9ª Circunscrição do Tribunal Federal de Recursos mostrou uma coisa: a separação de poderes do sistema americano está bem e recomenda-se. Os “checks and balances” poderão estar mais frágeis hoje do que há 100 anos, mas continuam a servir o propósito original: impedir déspotas e a tirania do partido maioritário. Donald Trump dá sinais de não compreender o sistema, mas não há nada de inocente na sua estratégia. Amplificar o alarme, o medo e a desconfiança em relação às instituições foi, justamente, o que o levou à Casa Branca. Há coisas que Trump pode fazer com razoável facilidade, como virar a filosofia de multilateralismo ao contrário e reduzir drasticamente o papel dos EUA nas estruturas internacionais. Cortar na ONU não é uma hipótese académica. Nos anos 1980, Ronald Reagan cancelou o financiamento à UNESCO; nos anos 1990, Bush-pai congelou os pagamentos dos programas para a População e para o Desenvolvimento; e nos anos 2000, Bush-filho voltou a não contribuir para a UNESCO e saiu do Conselho da ONU para os Direitos Humanos. Os EUA chegaram a acumular uma dívida à ONU de 1, 5 mil milhões de dólares. Mas há coisas que Trump não pode fazer sozinho. Uma delas é despedir juízes federais, como os que estão a bloquear a sua ordem presidencial contra estrangeiros e refugiados de países muçulmanos. Só o Congresso pode demitir um juiz federal e para isso tem de abrir um processo de impeachment, que corre pela Câmara dos Representantes e pelo Senado. É igual ao impeachment dos Presidentes – lembram-se de Bill Clinton? Em toda a história dos EUA, só oito juízes federais foram condenados através de um impeachment. Quando são nomeados, os juízes federais (hoje são 700) exercem o cargo até à reforma ou até à morte. Na 9ª Circunscrição, há 15 juízes com mais de 80 anos e dois têm 94. Os outros 29 são jovens de 60. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Trump diz que estes juízes estão a ser “políticos” e “activistas”, mas esta não é uma guerra ideológica. James Robart (o agora famoso so called judge) foi nomeado por Bush-filho e os três juízes que confirmaram a suspensão foram nomeados por Carter, Bush-filho e Obama. A decisão foi unânime. E debate está apenas a começar. Muitos juízes federais são filhos de refugiados e de imigrantes. Só nos 44 juízes da 9ª Circunscrição, há um ex-refugiado da Roménia, uma juíza que nasceu no Vietname, outra cujos pais emigraram do México e até um nisei (filho de imigrantes japoneses) que esteve preso num dos campos de internamento forçado que os EUA criaram na II Guerra Mundial. Estas são as pessoas sobre quem o Presidente disse, num tweet, não perceberem “ideias que maus alunos de liceu percebem!”. O tribunal concluiu que a Administração Trump não apresentou “qualquer prova” que demonstrasse riscos de segurança que justificassem a proibição de entrada no país. Não admira. Desde 1980, quando introduziram regras de selecção mais apertadas nas fronteiras, os EUA receberam mais de três milhões de refugiados e nenhum matou americanos ou participou em ataques terroristas. Li na Time que a probabilidade de um americano ser morto por um refugiado é 48 vezes menor do que a de ser morto por um asteróide. Um em 3, 6 mil milhões. Uma última boa notícia. Já sabíamos que os tweets de Trump fazem cair o valor das acções na bolsa. Agora, ficámos a saber que os tweets presidenciais vão ser devolvidos a Trump em forma de estaladas jurídicas. Os juízes do Tribunal Federal de Recursos deixaram claro que podem ser admitidos como prova em tribunal.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO ONU EUA
Tbilissi e os segredos das amoras doces no Cáucaso
É um dilema muito particular, o da Geórgia, país que concilia traços culturais europeus, uma aspiração de integração na UE e uma situação geográfica que a faz vizinha da Rússia, do Azerbaijão e da Turquia. Tbilissi, a capital, com o seu cosmopolitismo e impressivo eclectismo arquitectónico, é bem um espelho dessas excepcionais circunstâncias. (...)

Tbilissi e os segredos das amoras doces no Cáucaso
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um dilema muito particular, o da Geórgia, país que concilia traços culturais europeus, uma aspiração de integração na UE e uma situação geográfica que a faz vizinha da Rússia, do Azerbaijão e da Turquia. Tbilissi, a capital, com o seu cosmopolitismo e impressivo eclectismo arquitectónico, é bem um espelho dessas excepcionais circunstâncias.
TEXTO: A Praça da Liberdade encheu-se de gente esta Primavera. E de bandeiras e balões, de militares e de artilharia, de painéis em que se podia entender muito bem, no meio dos caracteres da língua georgiana, as razões de tanta excitação: "100 Years of Georgia's first democratic republic". Na Liberty Square, como também é designada localmente a praça que até há menos de trinta anos se chamava Praça Lenine, eram várias as gerações que agitavam bandeirinhas, indiferentes aos céus carregados, aos relâmpagos e aos trovões que anunciavam uma severa tarde de chuva. Mães, pais e avós (e alguns bisavôs com ar de ainda terem nascido no tempo de Estaline, um filho da terra georgiana), empoleiravam crianças de rosto pintado com a bandeira da Geórgia, algumas vestidas com camuflados, em cima dos carros de assalto e dos camiões militares dispostos à volta do imenso pedestal com uma estátua dourada de S. Jorge, o patrono do país – uma novidade acrescentada há apenas meia-dúzia de anos. A Geórgia e Tbilissi, a sua capital, festejam por estes dias de 2018 os cem anos da declaração de independência face ao Império Russo, lavrada em 1918. Foram apenas 1028 dias de autonomia. Em 1921, a URSS anexava o território da Geórgia. Há quase trinta anos, no início dos anos 1990, os georgianos voltaram a repetir a rebelião, dessa vez em pleno período de desagregação da URSS. À reafirmação da independência seguiu-se, dez anos depois, uma "Revolução Rosa" animada por, supostamente, ideais anti-corrupção, de reformas democráticas, jogos de (in)dependências relativamente a umas e outras potências internacionais, como insinuava tão irónico como razoável, um dia destes, um ruidoso viajante russo – e há-os muitos por aqui, a confirmar, talvez, uma certa popularidade da Geórgia dentro da antiga URSS (a nação da Transcaucásia era afamada pela cultura, pela gastronomia e pela contribuição para a economia e sobrevivência alimentar do império soviético). Entretanto, a eclosão dos separatismos da Abecásia e da Ossétia do Sul, heranças de intrincadas políticas e composições étnicas, e de aspirações de autonomia local (ambos os territórios beneficiavam já, no tempo da URSS, do estatuto de oblast, com relativa autonomia administrativa) acabou por desencadear um conflito militar directo com a Rússia. Actualmente, apesar de persistirem, suspensas como a lâmina de Dâmocles, as questões daqueles enclaves, a Geórgia vive dias de paz, de desenvolvimento económico e de firme aposta num futuro que exclua o pior do que marcou a história do país no século XX, essencialmente a perda da independência. Sombras à parte, a nota dominante na capital é inequivocamente a de uma vida económica pujante, de uma melhoria geral do nível de vida dos georgianos e de uma renovação arquitectónica que inclui arrojados modernismos a par da recuperação do velho casario de varandas em madeira e pátios partilhados. E de uma vibrante (re)afirmação cultural. Escultura nos passeios, nos jardins, nas esquinas. Clássica, moderna, vanguardista (de estilos, grosso modo, a namorar Botero e Giacometti). Um pouco por toda a parte, também, centenas de graffiti com mensagens visuais e textos, na maioria em inglês, um número crescente de galerias de arte, músicos de rua à volta da Liberty Square e ao longo da "elegante" Av. Rustaveli, que é uma espécie de montra sociocultural da identidade georgiana. É aí, aliás, que encontramos alguns dos museus mais importantes do país, como o Museu Nacional da Geórgia, com o seu importantíssimo acervo arqueológico (a região foi berço da estirpe caucasiana do homo sapiens), de expressões estéticas das antigas regiões da Cólquida (a da história mitológica dos Argonautas) e da Iberia (não confundir com a nossa homónima península), de arte religiosa medieval e uma colecção de arte oriental (China, Japão e Índia), o MOMA, o Museu de Arte Contemporânea de Tbilissi, e a Galeria Azul, que reúne uma óptima colecção de obras de eminentes artistas georgianos dos séculos XIX e XX, como Niko Pirosmani, Lado Gudiashvili e David Kakabadz. A Rustaveli, que lembra um pouco os grandes boulevards parisienses, parte da Liberty Square e segue para sudoeste, até se bifurcar. Ali, num largo passeio que é uma espécie de esplanada de onde se avista o cordão montanhoso do Cáucaso Menor e uns poucos arranha-céus, (poucos, mesmo), à mistura com exemplares da massiva arquitectura soviética, estacionou a graça de uma bicicleta gigante, uma escultura moderna e decidida a não passar despercebida. Numa cidade em que quase ninguém anda a pedal, a paradoxal homenagem tem a sua graça. A Rustaveli – se nos é autorizado este tratamento familiar – está ladeada por largos passeios sombreados por altos e mui dignos plátanos. Não é apenas uma grande avenida consumida por incessante tráfego: à sombra das suas centenas de árvores, tão acolhedoras contra o sol como contra a chuva miúda que frequentemente cai sobre Tbilissi, move-se uma multidão que espelha o cosmopolitismo de uma cidade e de um país que atrai(u) gente da Arménia, do Azerbaijão, da Turquia, do Irão, do Iraque. E onde vivem comunidades de russos e gregos. A boa gastronomia georgiana tem de rivalizar, pois, com uma extensa variedade de botecos e restaurantes embaixadores dessas culturas, dispersos pela cidade, ora nas imediações da Rustaveli ou mais para as bandas da Old Town, junto à praça Meidan, onde os aromas da cozinha turca se misturam com os locais. Aí, como noutras sempre imprevisíveis artérias da cidade, ruas ou ruelas, espalham-se vendedores de rua que vendem um pouco de tudo: artesanato para turistas, como os típicos sabres georgianos, flores, cigarros à unidade, livros, jornais, frutos secos (a Geórgia é grande produtora de avelãs), especiarias, pevides e afins de cores várias, doces e legumes e queijos que os camponeses georgianos vêm comerciar à capital, expondo a mercadoria nas bagageiras dos automóveis – às vezes numa alegre confusão que faz lembrar aquele retrato de uma Paris já desaparecida num dos mais amados filmes de JacquesTati, Mon oncle. E nêsperas, pêssegos, morangos, amoras – dulcíssimas amoras do Cáucaso – e outros frutos vermelhos, todos de intenso brilho primaveril. E sumos de fruta, sobretudo de romã e de laranja, feitos na hora com um espremedor bem ortodoxo – isto é, rigorosamente manual. A música de rua, acústica ou amplificada, é outra nota de Tbilissi, nos passeios ou nas passagens subterrâneas da Rustaveli: baladeiros jovens e ligeiramente barbudos, o riquíssimo folclore georgiano em versão electrificada e um pouco demente e torrencial como nos ritmos balcânicos popularizados por Kusturica e Ivo Papasov, alguns convictos outsiders do heavy metal, artilhados a preceito, e bons imitadores de Bowie sem desafinar nenhuma nota do clássico The man who sold the world. Mais ou menos a propósito, o jornal inglês The Guardian escrevia há cerca de ano e meio, no seu modo de enviesado exagero e discreto sensacionalismo, um elogio sobre a cena musical underground de Tbilissi. Num aspecto temos que reconhecer oportuno o comentário: esta primeira geração inteiramente pós-soviética deverá jogar um papel importante no futuro da Geórgia. Raramente as fronteiras culturais foram tão porosas: ou são, enfim, os georgianos a fazer as suas escolhas. Já os graffiti, a preto e branco ou cores, com um pé na poesia, líricos, põem-se a meter o outro na política – ou pelo menos nessa actividade que se costuma designar por contestação social. De uma forma ou de outra, estão por toda a parte nesta capital inquieta. There are seven billions of smiles and yours is my favourite, lê-se num velho muro carcomido pelo tempo, num daqueles bairros de casas e varandas de madeira a lembrar a vizinhança turca. Ou, na passagem subterrânea diante da igreja ortodoxa de Qvashveti, It is not our choice, declaração devidamente encimada pelo desenho de uma marioneta manipulada por mãos de um invisível personagem. Para entender os significados subliminares destas pinceladas decorativas de Tbilissi, quando os há, é preciso, claro, estar a par da(s) actualidade(s). Podemos ler a edição em inglês do Georgia Today (e ficar a saber que talvez na próxima cimeira da NATO se discuta a adesão da Geórgia) ou passar pelo edifício de porte soviético onde laborava até trinta anos o governo regional nos tempos da URSS e hoje acolhe o parlamento: volta e meia a Rustaveli fica fechada ao trânsito e há por lá umas (pacíficas) manifestações. Será sempre difícil, senão impossível, para um recém-chegado, decifrar os inflamados discursos em língua georgiana, mas uma mensagem visual não escapa ao viajante: a bandeira da União Europeia. Estamos para lá da Turquia, à beira do Mar Cáspio, mais próximos do Iraque, do Irão e do Turquemenistão do que do país europeu mais próximo, mas os georgianos, pelo menos alguns deles, andam com o pensamento a voar muito para lá das fronteiras físicas. Uma das linhas do metro de Tbilissi atravessa subterraneanente o rio Kura e a primeira estação do outro lado é a de Marjanishvili. Fica a meio da Av. David Agmashenebeli, uma das mais exemplares das misturas arquitectónicas de Tbilissi. É uma artéria renovada edifício a edifício nos anos mais recentes, parece que, como noutras zonas da cidade, com recurso a imagens antigas (porventura algumas de Cartier-Bresson, que muito aqui fotografou nos anos 1950). Art deco, modernismo, art nouveau, arquitectura soviética, turca, etc. , a miscelânea que caracteriza quase toda a cidade. Nas imediações da Praça Marjanishvili há quarteirões populares, com animado comércio de rua, pequenas mercearias, restaurantes iranianos e indianos, um templo católico e uma das poucas igrejas ortodoxas russas abertas na capital da Geórgia. Imagine-se o viajante, um pouco decepcionado pela visita à pequena igreja, a atravessar a rua e, confundido com um dos muitíssimos visitantes russos que atravancam Tbilissi, a dar de caras com um georgiano dos antigos, porventura já um pouco esmorecido o ressentimento contra os herdeiros dos impérios tsarista e soviético. Mete conversa o georgiano, curioso, intrigado. O costume: de onde vem a figura, é a pergunta, a querer subtilmente confirmar se o visitante da igreja terá arribado das bandas de Rostov, Volvogrado, Astrakan ou, até, da "maligna" Moscovo. Zaza, o georgiano, é comunicativo, paradigma que dizem ser partilhado pela gente local. Talvez a ideia seja apenas mais um estereótipo, desses que ajudam a conversar seja lá sobre o que for. . . Não saberá o viajante se Zaza é um georgiano típico. Mas é um tipo com as suas singularidades, intérprete de profissão, poliglota, muito citador de expressões alemãs – e não foi a Alemanha, afinal, quem mais apoiou o Comité de Libertação da Geórgia na segunda metade do século XX e um dos primeiros países a reconhecer a jovem república há cem anos?Está à espera de um egípcio, do Cairo, expatriado expedito em andanças de negócios entre as pirâmides e a Transcaucásia. Zaza também ensina georgiano a filhos de emigrantes e refugiados – egípcios, sírios, iraquianos. Ganha uns tostões, que é como quem diz "uns laris", a pouco valorizada moeda local. É uma espécie de trabalho social – a maioria dos imigrantes, sem possibilidade de mandar as crianças para uma escola privada, encaminha-as para a escola pública. A história de Zaza é um pouco a da Geórgia e de Tbilissi nas últimas décadas. Tocam-se, cruzam-se. Escapou-se da Abecásia com a família durante a invasão russa, de barco, para o porto de Poti, no Mar Negro. Depois, daí para Tbilissi, que cresceu subitamente com a chegada de centenas de milhares de refugiados da Abecásia e da Ossétia do Sul. A família de Zaza dispersou-se, uma irmã emigrou para Portugal. Tudo isso foi num tempo difícil para Tbilissi, no início dos anos 1990, em que até a electricidade faltava. Agora, até Zaza, cujo cepticismo parece ter raízes fundas nas atribulações de uma nação que anda a tropeçar desde há mil anos, quando foi unificada pela primeira vez, faz um esforço para acreditar que estes dias mais luminosos vieram para ficar. A capital da Geórgia tornou-se na última década um destino turístico, ainda tímido, é verdade, mas com um enorme potencial de desenvolvimento. Tal como o país, arqueologicamente importantíssimo (berço da estirpe caucasiana), notável e estratégica encruzilhada cultural e política entre Oriente e Ocidente, terra da maravilhosa invenção do vinho e colectânea impressiva de cenários com os picos nevados do Cáucaso no horizonte. O futuro? Zaza, o georgiano céptico e prático, habituado a levar fintas da vida, sabe apenas que só descobriremos se as amoras são doces depois de as provarmos. Em Tbilissi não é difícil. Basta esticar o braço. Há amoreiras (quase) por toda a parte. Em ano de celebração do centenário da primeira república georgiana, vários museus de Tbilissi têm exposições alusivas à efeméride, como acontece com o Museu Nacional da Geórgia e o Museu de Arte Moderna. Algumas ficarão até Agosto, outras até Setembro. O último andar do Museu Nacional da Geórgia tem uma sala exclusivamente centrada nos tempos da ocupação soviética e da resistência, que pode ser um complemento apropriado da informação disponibilizada pela exposição sobre o centenário. Um roteiro essencial de Tbilissi inclui, naturalmente, a parte mais antiga da capital georgiana, onde um bom número de casas antigas passou recentemente por processos de renovação – sobretudo em áreas mais expostas e procuradas pelo turismo, ou por outras razões de valorização imobiliária e urbana. Mas pode ser muito mais interessante explorar os bairros onde o casario de varandas em madeira, imerso em labirintos de ruelas e becos, está por recuperar e onde a atmosfera nada deve às actividades turísticas. É entre as ruas Baratishvili, Abkhazi e Pushkin, mesmo ao lado da Liberty Square, e ao longo das ladeiras, algumas íngremes, do parque Mtatsminda, num dos flancos da Av. Rustaveli, que se situa uma boa parte dessa área urbana. Há wine bars por toda a parte e a Abkhazi é uma boa área para provar os vinhos georgianos. Ali se pode encontrar também uma razoável oferta de serviços turísticos, designadamente tours por várias regiões da Geórgia. As igrejas ortodoxas e os seus belos ícones, a moderna Ponte da Paz e a arquitectura contemporânea de alguns edifícios públicos são outros dos pontos justificadamente incluídos nos roteiros de Tbilissi. A partir de Tbilissi os operadores turísticos propõem visitas relevantes, como a da região de Kakheti, provavelmente a área produtora de vinhos mais antiga do mundo, e Kazbegi, nas montanhas do Cáucaso, junto à única fronteira aberta com a Rússia. A excursão mais curta é a de Mtskheta, a apenas vinte quilómetros de Tbilissi. Mtskheta foi a primeira capital dos georgianos e as suas igrejas/mosteiros são exemplos da melhor arquitectura religiosa ortodoxa. A Igreja/mosteiro de Jvari está classificada pela UNESCO. Não há voos directos de Portugal para a Geórgia, pelo que é necessária uma escala numa cidade europeia. Várias companhias aéreas, entre as quais a Georgian Airways, voam daí para Tbilissi. Uma opção mais em conta pode ser voar para Madrid, e na capital espanhola apanhar um voo da low cost na turca Pegasus Airlines, com escala em Istambul. O inconveniente são os tempos das ligações, que podem estender a viagem até mais de vinte horas. Uma outra low cost, a Wizz Air, voa de Lisboa e do Porto para várias cidades europeias, a partir das quais tem ligações para Kutaisi, a terceira maior cidade da Geórgia. Tbilissi fica a pouco mais de 200 km e há ligações frequentes entre as duas cidades. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os meses de Primavera e Verão são os melhores para visitar Tbilissi, ainda que o clima sub-tropical implique por vezes aguaceiros e alguma chuva. A oferta de alojamento tem vindo a aumentar exponencialmente em Tbilissi e é rara a semana em que não se inaugure um novo hotel ou guesthouse. No segmento mais económico há uma infinidade de opções. Por exemplo, e com tarifas irrisórias e muito atractivas para backpackers, o Hostel 17/17, acabado de inaugurar nos últimos dias de Maio, tem instalações modestas mas acolhedoras. Fica numa paralela da Av. Rustaveli, na Tabukashvili, 17 (tel. 995 593939391, e-mail), a cinco minutos dos museus e a dez ou quinze da Liberty Square e da parte mais antiga. A um outro nível, o Boutique Urban Oasis Hotel, na mesma zona e a cinco minutos da estação de metro de Rustaveli, é um três estrelas confortável (tel. 995 322984555, e-mail, mais informações no site). Na Old Town há uma oferta quase infinita de alojamento para todas as bolsas. Junto às termas, com vista panorâmica sobre a parte antiga da cidade, fica o Old Tiflis Boutique Hotel (tel. 995 322319999, e-mail). Os cidadãos da UE estão isentos de visto e apenas necessitam do cartão de identidade nacional, podendo permanecer na Geórgia até um ano. O país é considerado um dos mais seguros do mundo. O custo de vida é baixíssimo, podendo as diferenças relativamente a Portugal variar entre cinco a dez vezes menos. Por exemplo, um bilhete de metro ou de autocarro custa na capital georgiana cerca de meio lari (33 cêntimos de euro). Em Tbilissi as ATMs estão muito difundidas e há inúmeras casas de câmbio onde trocar euros.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO NATO UE DECO
Os novos deslocados fogem da seca ou da subida dos níveis do mar
Há anos que os especialistas avisam que as alterações climáticas vão estar na origem de fluxos mais complicados de gerir do que as vagas em fuga de guerras e perseguições. (...)

Os novos deslocados fogem da seca ou da subida dos níveis do mar
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há anos que os especialistas avisam que as alterações climáticas vão estar na origem de fluxos mais complicados de gerir do que as vagas em fuga de guerras e perseguições.
TEXTO: Actualmente, há pelo menos 258 milhões de pessoas em todo o mundo a viver fora dos seus países de origem. O Pacto Global da ONU para as Migrações Seguras, Ordeiras e Regulares (assinado estas segunda-feira em Marrocos) parte do princípio que este é um número que vai continuar a aumentar: os efeitos das alterações climáticas, que em 2018 já tinham levado 25 milhões de pessoas (reconhecidas oficialmente como refugiadas) a abandonar as suas casas são um dos motivos. O aumento da população, as desigualdades crescentes ou os desequilíbrios demográficos são outras razões para sabermos que haverá mais gente a tentar mudar de região ou de país. Há anos que os especialistas em migrações avisam que as alterações climáticas – e, indirectamente, a poluição – vão estar na origem de fluxos mais complicados de gerir do que as vagas de pessoas em fuga de guerras e perseguições (que nunca foram tão grandes desde a II Guerra Mundial). Como já se observa, as mudanças no clima fazem subir as temperaturas e transformam campos agrícolas em baldios, reduzindo ao mínimo os recursos hídricos, destruindo a forma de viver de milhões – sempre aconteceu, mas o aquecimento global dos nossos tempos vai agravar muito esta dinâmica. A maioria dos estudos que trataram este fenómeno aponta para uns 200 milhões de deslocados até 2050, mas há estimativas que chegam aos 1. 200 milhões, lembra o diário online infoLibre, num texto sobre o Congresso Internacional de Jornalismo de Migrações, realizado em Mérida a semana passada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estes novos imigrantes ou refugiados (já existem mas são quase invisíveis) ocupam parte do ponto 2 do Pacto Global da ONU para as Migrações, dedicado a “minimizar os motores adversos e os factores estruturais que levam as pessoas a deixar o seu país de origem”. Para isso, propõe-se que os países partilhem dados para melhorar “o conhecimento e a antecipação dos movimentos migratórios provocados por desastres naturais e efeitos adversos das mudanças climáticas e degradação ambiental, como a desertificação, a degradação da terra, a seca e a subida dos níveis do mar”. Só assim, escreve-se, será possível aos signatários “desenvolver estratégias de adaptação e resiliência” tendo como prioridade promover “a adaptação [dos afectados] no país de origem”. “Quando maior é o impacto das alterações climáticas, maior é a pobreza, maior é a desigualdade e, por isso, maior será a migração e as deslocações”, disse no encontro de Mérida Inma Alonso, da organização Ajuda em Acção. “Esta equação é assim em qualquer país do mundo. As mudanças climáticas são um desafio global. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Sensores na floresta vão ajudar a detectar incêndios no Parque de Montesinho
Têm o tamanho de um telemóvel e são "relativamente" baratos. Projecto do Politécnico de Bragança prevê instalar sensores na floresta para antecipar alertas de ignições. Vai ser apoiado pelo programa de dinamização das regiões fronteiriças da Fundação La Caixa. Ideia é ser replicado noutros pontos do país. (...)

Sensores na floresta vão ajudar a detectar incêndios no Parque de Montesinho
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Têm o tamanho de um telemóvel e são "relativamente" baratos. Projecto do Politécnico de Bragança prevê instalar sensores na floresta para antecipar alertas de ignições. Vai ser apoiado pelo programa de dinamização das regiões fronteiriças da Fundação La Caixa. Ideia é ser replicado noutros pontos do país.
TEXTO: Nesta altura do ano, o verde do Parque Natural de Montesinho já dá lugar aos tons de Outono. Entre as cores da paisagem, não há marcas negras visíveis: a área protegida tem sido poupada a incêndios graves nos últimos anos. Um grupo de investigadores do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) quer, porém, tornar o combate aos incêndios no local ainda mais eficaz e tem a tecnologia como grande aliado. Em vários pontos do Parque de Montesinho — e também na serra da Nogueira, outra área protegida do concelho de Bragança, que faz parte da rede Natura 2000 — vão ser instalados sensores, sensivelmente com o tamanho de um telemóvel, que vão transmitir dados para uma central de comunicações, no IPB, que estará ligada aos bombeiros e à Protecção Civil. “As novas ignições serão detectadas precocemente e os meios de combate mobilizados mais cedo, tornando o processo mais eficaz”, conta José Lima, investigador do Centro de Investigação em Digitalização e Inteligência Robótica, criado este ano, que coordena este projecto. Antes da instalação dos sensores, o Centro de Investigação da Montanha do IPB vai fazer uma caracterização de cada uma das áreas em que o sistema será implementado, permitindo aos investigadores perceber onde colocar cada um desses dispositivos e também eleger os mais eficazes: sensores térmicos, de fumo ou infravermelhos, por exemplo. A necessidade do projecto parte da constatação de que “existem lacunas na vigilância da floresta”, segundo José Lima. Não só porque esta é amplamente baseada no olho humano, em torres de vigilância e raramente há suporte tecnológico na detecção de novos incêndios, mas também porque sistemas de comunicação usados têm apresentado falhas. Por isso, o projecto que será desenvolvido em Bragança será “autónomo dos sistemas actuais”, sejam a rede de telemóvel ou sistemas com o SIRESP. Em alternativa, será usada uma rede LoRaWAN, tecnologia de comunicação de dados sem fios que permite transmissões a longas distâncias. O projecto chama-se SAFe — Sistema de Alerta Florestal. Além dos dois centros de investigação do IPB, conta também com a participação do INESC Tec, sediado no Porto. Vai ser concretizado ao longo dos próximos três anos e vai receber quase cem mil euros da Fundação La Caixa, no âmbito da primeira edição do Programa Promove — Dinamização de Regiões Fronteiriças. Há outros quatro premiados entre os 30 concorrentes, todos de zonas do interior do país. O investimento é “relativamente barato”, diz Lima. E a ideia dos investigadores foi precisamente desenvolver “um sistema de baixo custo que pudesse ser implementado e replicado em diversas zonas da floresta”. O que será necessário, noutros locais do país, é fazer também uma caracterização da floresta antes da aplicação do sistema tal como será feito no arranque deste projecto no Montesinho e na serra da Nogueira. A intenção do Promove, o programa da Fundação La Caixa que vai financiar esta iniciativa, era precisamente “ter projectos com impacto na região e que fossem replicáveis noutras partes do país”, explica Artur Santos Silva, curador da fundação criada pelo banco espanhol, que comprou o BPI. A escolha teve em conta esse factor bem como a sua “qualidade, racionalidade e sustentabilidade”. As iniciativas apoiadas por este programa podiam ter um orçamento até cem mil euros. Os cinco escolhidos recebem entre 50 e 99 mil euros e têm três anos para executar as propostas. O investimento total é de 407 mil euros. Podiam candidatar-se instituições de regiões consideradas menos desenvolvidas do Nordeste e Este fronteiriço do país, que compreendem o distrito de Bragança, a Beira interior e uma parte do Alentejo. A escolha foi feita pela Fundação La Caixa “em diálogo com o Governo”, de acordo com Santos Silva. A intenção é reforçar a interacção nas zonas fronteiriças entre instituições espanholas e portuguesas. Há um outro projecto a ser concretizado em Bragança entre os escolhidos e uma das suas componentes prende-se com a cooperação transfronteiriça. O Centro de Ciência Viva (CCV) da cidade chamou a Estação Biológica Internacional, sediada em Miranda do Douro, e com actuações dos dois lados da fronteira, para desenvolver uma visita virtual ao Douro internacional que os visitantes vão poder experimentar através de óculos de realidade virtual. Esse será um dos quatro novos módulos da exposição do CCV de Bragança que o projecto apoiado pela Fundação La Caixa vai permitir desenvolver. Não é, porém, aquele que mais entusiasma Ivone Fachada, a directora daquele espaço. Isso nota-se pela forma como fala do projecto que vai permitir transformar a Casa da Seda, um dos edifícios do centro de ciência, num espaço auto-sustentável do ponto de vista energético. O edifício vai ser alimentado por uma pico-hídrica e um moinho de água, que vão aproveitar as águas do rio Fervença, que corre mesmo junto ao CCV, para produzir energia, fruto de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia que está na sua fase final de implementação. O apoio da fundação surge “em complemento” deste projecto. Todo o sistema de produção de energia vai poder ser monitorizado e até parcialmente controlado pelos visitantes do CCV. “As pessoas vão poder perceber o impacto que tem na energia produzida a sua decisão de aumentar ou diminuir o caudal que entra no sistema”, ilustra Ivone Fachada. O CCV vai também instalar sensores — de temperatura, ph e outros indicadores da qualidade da água — num troço do rio Fervença. A informação gerada vai também poder ser vista num ecrã acessível a todos os visitantes do CCV, dentro de dois a três anos. Este sistema de sensores também inclui um sistema de armazenamento de dados e métodos de Big Data para processar e visualizar diferentes parâmetros e contribuir para a melhoria das condições do rio. O quarto módulo no Natureza Virtual será um “timelapse” (fotografias alinhadas que criam um vídeo que permite perceber a passagem do tempo) de um ano na vida do Parque Natural do Montesinho, que será possível ver num ecrã gigante no Centro de Ciência Viva. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta é a primeira edição do programa Promove. A fundação promete realizar “pelo menos mais duas edições”, de acordo com Artur Santos Silva. O concurso do próximo ano levará em conta esta primeira experiência e os contributos de empresários e responsáveis das instituições de ensino superior das regiões envolvidas, bem como de especialistas em desenvolvimento regional. Uma casa, sete hectares de terreno de cultivo e formação para o trabalho agrícola. É o que a Associação de Apoio à Inclusão de Imigrantes e Refugiados Aiir, na Guarda, pretende oferecer a quatro famílias de refugiados que queiram viver em Portugal. O projecto é um dos cinco apoiados pelo programa Promove, da Fundação La Caixa, e vai começar a ser concretizado a partir do próximo ano. As quatro famílias refugiadas serão acolhidas na freguesia de Ima, no concelho da Guarda. A aldeia, situada a cerca de 15 quilómetros da sede do concelho, tem apenas 25 habitantes, maioritariamente idosos. “A existência de terrenos aptos para cultivo, uma mão-de-obra rural muito envelhecida, bem como uma comunidade aberta ao rejuvenescimento do tecido social”, foram os factores apontados pela Aiir na candidatura ao programa Promove, que agora foi reconhecida. O financiamento da Fundação La Caixa vai possibilitar a reabilitação de quatro casas naquela área rural para habitação das quatro famílias. Os terrenos que poderão ser cultivados pelos refugiados foram cedidos pelos seus actuais proprietários. Além deste e dos dois projectos apoiados em Bragança, o programa Promove vai ainda apoiar iniciativas em Elvas e Proença-a-Nova. Na cidade alentejana vai ser testada uma tecnologia de poupança de água, desenvolvida pelo Instituto Politécnico de Portalegre. O seu aspecto mais visível será uma aplicação para telemóvel móvel capaz de determinar em tempo real as dotações máximas de irrigação para diferentes culturas. A intenção é contribuir para uma redução do consumo de água na agricultura e servir como suporte para a decisão sobre a selecção das melhores culturas para cada território. O IPP estima que seja possível reduzir, em três anos, o consumo de água na agricultura entre 20% e 30% com base nas informações disponibilizadas por esta aplicação. Este projecto tem ainda um carácter formativo, uma vez que os resultados obtidos vão ser usados para campanhas de informação do público em geral, sobretudo dos jovens, sobre a poupança de água. Em Proença-a-Nova, é o Centro de Ciência Viva que promove a iniciativa apoiada por este programa, tal como acontece em Bragança. Chama-se “Monitorizar para decidir e valorizar” e prevê o desenvolvimento e implementação de um novo módulo expositivo interactivo na exposição permanente do Centro de Ciência, que analisa informações sobre ocupação do solo, um inventário florestal e de precipitação em tempo real e análise de anomalias ambientais, utilizando dados de satélite. Actualização (02/11/2018:11h43): Corrige o nome da directora do Centro de Ciência Viva de Bragança.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade social consumo
Alemanha: portal da extrema-direita para denúncia de professores alvo de piratas informáticos
Partido radical AfD quer que alunos façam denúncias de professores que não mantenham “neutralidade política”. (...)

Alemanha: portal da extrema-direita para denúncia de professores alvo de piratas informáticos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181212204241/https://www.publico.pt/n1847264
SUMÁRIO: Partido radical AfD quer que alunos façam denúncias de professores que não mantenham “neutralidade política”.
TEXTO: Foi mais um golpe do partido de direita radical alemão Alternativa para a Alemanha (AfD): criar uma plataforma online em que alunos possam denunciar professores, do ensino preparatório ou universitário, que não mantenham “neutralidade política”. A proposta provocou uma tempestade imediata de críticas dos outros partidos e de associações de professores por fomentar uma cultura de denúncia e não de discussão, e lembrar práticas de serviços como a Gestapo do regime nazi ou a Stasi da ex-RDA (República Democrática Alemã), onde as denúncias de opositores eram encorajadas e recompensadas. A ministra da Justiça, Katarina Barley, do Partido Social-Democrata (SPD), foi uma de muitas vozes a fazer esta comparação: “Organizar denúncias é uma ferramenta de ditaduras”, disse a responsável ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Quem quer que use esta ferramenta enquanto partido, de 'expor' professores indesejáveis e envergonhá-los publicamente, revela o seu conceito de democracia. ”A plataforma inicial foi posta a funcionar na cidade-estado de Hamburgo, que, sob o tema “neutralidade nas escolas”, apela a que os alunos discutam com os professores casos em que achem que a neutralidade não seja respeitada e que, se isto não acabar com a expressão de opiniões pelos professores, enviarem denúncias dos casos ao partido. Esta página pretendia ser um projecto-piloto de um projecto a expandir aos restantes 15 estados-federados. O seguinte foi o de Baden-Württemberg, onde o partido pôs a funcionar duas plataformas: uma para queixas em relação a professores do ensino básico e secundário e outra para denúncias de professores do ensino superior, ligadas a um deputado no parlamento estadual de Baden-Württemberg. O deputado do parlamento do estado Stefan Räpple queixou-se de professores que vão dar aulas com Tshirts dizendo "Fuck AfD". Mas estas duas páginas, online desde quinta-feira, foram rapidamente alvo de um ataque informático e estavam esta sexta-feira indisponíveis. Estas páginas pareciam ser diferentes da principal de Hamburgo já que possibilitariam a divulgação pública do nome dos professores – algo que esbarraria quase certamente na forte lei da privacidade do país. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os sindicatos dos professores dizem que estes estão obrigados à neutralidade política por uma lei de 1976, mas é muito raro que haja acusações: as duas principais organizações conhecem um ou dois casos de professores acusados nas últimas décadas, segundo o jornal Frankfurter Rundschau. A AfD é um partido anti-imigração, anti-refugiados, e anti-islão, com episódica relativização dos crimes da Alemanha nazi. É populista, afirmando-se representante da “vontade do povo” contra a “elite”, fomentando um clima de “nós contra eles”. A ideia de que há uma onda de reacção da “elite” contra o partido parece ser uma nova linha de acção do partido, que entrou no Bundestag (Parlamento) pela primeira vez nas eleições de 2017 com 13%: depois de queixas sobre representações negativas nos meios de comunicação social da parte de responsáveis do partido, surgem agora as queixas de que o partido é alvo de uma campanha contra si por parte de professores.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei imigração cultura ataque social
A Itália tem um “dilema impossível”, a Alemanha uma escolha clara
A Itália era dos países mais pró-europeus, agora duvida-se do seu futuro na UE. Há que transformar a zona euro num espaço de prosperidade económica e social – para isso, é preciso convencer a Alemanha, diz Maria João Rodrigues. (...)

A Itália tem um “dilema impossível”, a Alemanha uma escolha clara
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.28
DATA: 2018-10-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Itália era dos países mais pró-europeus, agora duvida-se do seu futuro na UE. Há que transformar a zona euro num espaço de prosperidade económica e social – para isso, é preciso convencer a Alemanha, diz Maria João Rodrigues.
TEXTO: O "dilema impossível" em que se encontra a Itália é, para a eurodeputada Maria João Rodrigues, vice-presidente do grupo dos Socialistas e Sociais-Democratas no Parlamento Europeu, o momento da verdade para os líderes europeus e, principalmente, para a chanceler alemã, Angela Merkel. A urgência de avançar com uma reforma da zona euro, como defendem o primeiro-ministro, António Costa, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, nunca foi tão evidente, sustenta. Sem ela, é o próprio futuro do projecto europeu que fica em causa, alerta. Como avalia a situação de crise e instabilidade em Itália, e a solução política encontrada pelo Presidente Sérgio Mattarella em nome da manutenção do país na zona euro?A Itália entrou numa grande encruzilhada da sua história que é saber se permanece na União Europeia como o Estado-membro fundador e a grande economia que é, ou se começa a considerar outras hipóteses. E há quem diga que os partidos que ganharam a maioria nas eleições [de Março] têm uma estratégia — não explícita mas implícita — para empurrar a Itália para a segunda escolha. Mas esta crise que se está a viver em Itália não é só uma crise da Itália. É uma crise da União Europeia como um todo. O dilema italiano surge porque a UE como um todo não tem conseguido construir soluções à altura das crises com as quais se foi deparando: a crise financeira que se transformou numa crise da zona euro; a crise iniciada com a entrada dos refugiados que depois se transformou numa crise mais alargada de imigração; e depois a decisão do Reino Unido de abandonar a UE. A Itália, que durante muito tempo foi dos países mais pró-europeus, num sentido genuíno, virou-se para uma atitude muito diferente. Há evidentemente uma corrente pró-europeia ainda em Itália, mas há uma maioria larga com muitas dúvidas sobre o futuro da Itália na UE. Nesse sentido como é que a UE pode ajudar a resolver o problema? Ou cabe à Itália sozinha fazê-lo?A Itália tem a sensação de estar confrontada com uma escolha impossível: para sair da lógica austeritária, devia sair da zona euro. Ou então, para se manter na zona euro, teria de aceitar uma lógica austeritária. A isto eu chamo um dilema impossível. Porque nem uma opção nem a outra são positivas. Isso torna evidente que precisamos de uma terceira opção, transformar a zona euro num espaço que permita de facto investir no futuro e recuperar condições de prosperidade económica e social. Há propostas nesse sentido, por exemplo de criação de uma capacidade orçamental no âmbito da reforma do euro…Estamos a viver uma crise europeia há sete anos, as soluções estão identificadas. Chegou o momento de fazer o debate de forma organizada e tomar decisões. Esta semana, a Comissão Europeia deverá apresentar, com muito mais detalhe, a proposta que tem vindo a preparar, que é a criação de um embrião de um orçamento da zona euro, expressa basicamente em dois instrumentos. Um é o chamado de apoio às reformas estruturais, e outro deveria ser um instrumento de protecção do investimento. O que está em questão é a possibilidade da zona euro retomar a senda de crescimento, de criação de emprego e convergência económica e social. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na proposta de quadro financeiro plurianual está previsto esse instrumento de estabilização do investimento para proteger os países de choques assimétricos. Sim. Mas temos de estar preparados para a reacção dos actores que vão dizer que não precisamos disso. Vamos ver como é que a Alemanha se clarifica. Se prosseguir na atitude de subestimar este problema, alegando que a crise já está ultrapassada, sem perceber que a arquitectura actual da união económica e monetária continua a limitar os Estados-membros na sua capacidade de investir no futuro e a criar desigualdade económica e social, corremos o risco de ter o que estamos a ter em Itália. E de isso poder espalhar-se a outros países. Países como a Alemanha têm de fazer uma escolha claríssima: ou de uma vez por todas reconhecem que é preciso avançar na reforma da zona euro, ou correm o risco de forças anti-zona euro e anti-europeias ganharem expressão crescente e isso levar à fragmentação da UE. Temos o Presidente francês, Emmanuel Macron, a aplicar enorme pressão nesse sentido. O ministro da Finanças português e presidente do Eurogrupo a manifestar a esperança de que seja possível completar esse processo da união económica e monetária, com passos decisivos já em Junho. O que explica o impasse, é só a posição da Alemanha?Temos de ver quais são os actores. Portugal conta para este processo porque temos a presidência do Eurogrupo e também um primeiro-ministro muito activo na cimeira do euro, em Junho. Teremos outros países a apoiarem, mas também temos membros da zona euro que continuam a negar que esta reforma seja urgente. O fiel da balança vai ter de ser a Alemanha, que tem uma responsabilidade central dado o peso da sua economia no futuro da zona euro. E a Alemanha vai chegar a um momento de clarificação. A chanceler alemã está de visita a Portugal, pensa que essa será uma oportunidade para uma acção diplomática do primeiro-ministro para vencer algumas resistências de Angela Merkel?Acho que sim. A chanceler, que é também uma política com grande experiência e viveu toda a crise na zona euro, tem de escolher. Ou aceita concretizar um compromisso com a família socialista e social-democrata na Europa, visando uma reforma que permita relançar a zona euro com perspectiva de futuro e coesão, ou corre o risco de ver deflagar na Europa forças anti-zona euro e anti-europeias como as que vemos emergir em Itália — e um pouco por toda a Europa — e têm vindo a reforçar-se. O dilema está claríssimo e ela vai ter de optar.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Alternativa para a Alemanha? Há, mas é Verde
Construir uma democracia social e ambiental do nível local para o nível nacional, europeu e global é uma boa alternativa, e não só para a Alemanha. (...)

Alternativa para a Alemanha? Há, mas é Verde
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Construir uma democracia social e ambiental do nível local para o nível nacional, europeu e global é uma boa alternativa, e não só para a Alemanha.
TEXTO: Lembram-se do tempo em que se falava nas eleições na Baviera? Era quando elas não estavam a acontecer. Mas a narrativa era aquela que vende: os refugiados assustaram os bávaros, a AfD (partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha) começou a crescer, a CSU (União Social-Cristã, aliado de Merkel em Berlim que governa a Baviera há mais de 40 anos quase sempre em maioria absoluta) a endurecer o discurso e a fazer ameaças de mandar abaixo a coligação governamental. O desfecho? Para o comentariado internacional, era evidente: as fronteiras iam fechar, Schengen colapsar e a Europa fragmentar-se. Devem ter-se gasto uns milhões de caracteres a repetir essa história. Pergunto-me quantos caracteres se gastarão agora que as eleições bávaras aconteceram mesmo. Um décimo, um vigésimo dos que se gastaram antes? E porquê? Porque o resultado não encaixa nas expectativas, e em vez de reforçar a narrativa dominante, revela uma outra linha de força da política atual que está ali à vista de todos mas que muitos se recusam ver. À hora a que escrevo ainda não se sabem os dados finais, mas os grandes vencedores das eleições bávaras são, afinal, os Verdes alemães. E uns Verdes com o discurso mais afastado possível da narrativa dominante: são uns Verdes pró-imigração, pró-refugiados e pró-projeto europeu. Na Baviera a sua votação deve andar à volta dos 20% e ultrapassar, ou mesmo duplicar, a dos Sociais-democratas do SPD. Mas também a nível nacional os Verdes alemães já aparecem em várias sondagens a ultrapassar so Sociais-democratas e a posicionarem-se como principal oposição ao governo da “Grande Coligação” entre a CDU de Merkel e o SPD. E o fim-de-semana não foi só bom para os Verdes alemães. No Luxemburgo os Verdes (do luso-descendente Féliz Braz, que foi ministro da justiça no atual governo nacional) tiveram o melhor resultado dos partidos da coligação governativa, em torno dos 15%, e preparam-se para ser o principal partido da esquerda (com os seus aliados a nível europeu do Partido Pirata, a votação aproxima-se dos 20%). Na Flandres os Verdes foram o partido que mais subiu nas eleições regionais deste domingo. E, não esqueçamos, esta tendência reflete o que já tinha acontecido nos Países Baixos, onde durante meses a imprensa andou a falar do partido de extrema-direita de Geert Wilders mas no dia das eleições a grande surpresa foi a Esquerda Verde de Jesse Klaver, pró-imigração e ele próprio filho de um pai imigrante marroquino e de uma mãe holandesa-indonésia. A partir daqui, há duas perguntas a fazer: o que explica esta tendência, e o que explica que quase ninguém fale nela?A resposta à primeira pergunta está no artigo que a jornalista Maria João Guimarães escreveu ontem aqui para o Público: os Verdes não fizeram ziguezagues em relação aos seus valores e princípios. Perante a ascensão da extrema-direita nacionalista, os outros partidos, da direita à esquerda, optaram por dizer tudo e o seu contrário (que a imigração era um problema e não era) acabando por perder a confiança de toda a gente. Uma deriva que está também muito clara na viragem nacionalista que Sarah Wagenknecht propõe para o partido de esquerda Die Linke, que não só estagnou nas sondagens como acaba por anestesiar o seu eleitorado tradicional para os temas da AfD (e falhou a eleição na Baviera). Os Liberais, que também endureceram o seu discurso insolidário, podem também falhar a barreira de cinco por cento e, consequentemente, a sua eleição para o parlamento bávaro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os Verdes, por seu lado, mantiveram-se estáveis na sua linha social, ecológica, cosmopolita e pró-europeia. Não tinham muito outra hipótese, diga-se de passagem: a única maneira de se ser ecologista é, como dizia o velho slogan, pensar global e agir local. Isso dá-lhes a força das suas convicções não só nas grandes cidades com em várias zonas rurais (não só na Baviera, mas desde há muitos anos no vizinho Tirol, do outro lado da fronteira com a Áustria). A segunda pergunta é mais difícil. Porque é que ninguém fala disto? Porque vai contra o senso comum dominante entre os comentadores e políticos atuais, que se resume na ideia de que se os setores mais conservadores da política são vociferantes é necessário ir atrás do seu discurso antes que eles nos “roubem o povo”. Perante as atuais crises globais, o egoísmo é uma solução clara — mas errada. Construir uma democracia social e ambiental do nível local para o nível nacional, europeu e global também é uma resposta clara. Pode demorar mais tempo a ter sucesso eleitoral, mas não é por isso que a podemos abandonar. E é a resposta generosa, com a vantagem de ser correta para os tempos que vivemos. É uma boa alternativa, e não só para a Alemanha.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração filho social imigrante
O tempo dos ditadores
O tempo em que tínhamos de nos preocupar com o fim da democracia já foi há tanto tempo que às vezes caímos no erro compreensível de achar que as ditaduras só acontecem em países e épocas a preto-e-branco. (...)

O tempo dos ditadores
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O tempo em que tínhamos de nos preocupar com o fim da democracia já foi há tanto tempo que às vezes caímos no erro compreensível de achar que as ditaduras só acontecem em países e épocas a preto-e-branco.
TEXTO: Lembro-me da surpresa com que há muitos anos vi a capa de uma revista portuguesa dos anos 30 chamando a Salazar “O Ditador nacional”. Pensei, mas esta palavra não estará aqui a ser usada como um insulto? E, se sim, como podiam eles fazer isso naquela altura?Pois bem, é claro que a palavra não estava a ser usada como um insulto, mas como um elogio. Nos anos 20 e 30 do século passado, em determinados momentos e contextos, ser chamado de ditador podia ser entendido como transportando uma carga positiva. Homens políticos em vários países da Europa e do mundo procuravam ativamente serem chamados de ditador — ou termos semelhantes, Duce, Führer — e, claro, punham os órgãos de imprensa dos seus partidos a propagandear esses títulos. Em parte a explicação para o uso elogioso de “ditador” radica na Antiguidade Clássica, quando o dictator era o magistrado extraordinário chamado para pôr ordem na república; mas o uso no século XX ia para lá dessas razões históricas: a verdade é que entre as duas guerras era popular a crueldade brutal no esmagamento dos adversários e a indiferença aos direitos e à democracia constitucional por parte dos ditadores. A ditadura podia não ir a eleições; mas se fosse ganharia uma grande proporção dos votos, se não mesmo a maioria. Para que a palavra “ditador” ganhasse o sentido negativo e vergonhoso que hoje felizmente (ainda) vai tendo foram precisas uma tragédia na Europa com a 2. ª Guerra Mundial e depois uma lenta e produtiva pedagogia democrática no pós-guerra. A tragédia foi tão grande e a pedagogia tão eficaz que a partir dessa altura nem os ditadores já queriam (ou aceitavam) ser chamados de ditadores. Essa pedagogia tornou-se agora cada vez mais esbatida, a memória da tragédia esvaiu-se e a maior parte de nós estamos agora demasiado ocupados para dar pelos sinais de alarme. Mas eles estão aí. No outro dia, a televisão norte-americana Fox News, conhecida pelo seu seguidismo acéfalo em relação a Trump, comentava em tom grandiloquente a chegada do seu ídolo a Singapura para a cimeira com Kim Jong-un, da Coreia do Norte. A locutora pegava num adjetivo exagerado para pôr em frente de outro adjetivo exagerado e assim lá foi dizendo: “esta reunião é histórica!”, “já é histórica ainda antes de ter começado!”, e finalmente, “esta reunião já é histórica independentemente do que se passar na conversa entre os dois ditadores. . . ”. Ups. Aquele não foi só um momento em que a alguém “fugiu a boca para a verdade”, como se diz em bom português. Foi antes um momento em que ficou ainda mais claro o estado de alienação em que se vive na política de hoje. Não só Trump pode fazer o contrário do que prometeu como pode fazer aquilo que criticou a Obama e ainda assim ser elogiado nos termos mais hiperbólicos pelos seus sequazes. Não só Trump pode ir a Singapura e entremear as bandeiras americanas com as da República Democrática Popular da Coreia do Norte sem deixar de ser adorado pelos mais estrénuos anti-comunistas dos EUA, como estou convencido que seria possível ele virar-se para os americanos e dizer “sabem que mais, a partir de agora quero que me chamem ditador” sem que dos trumpistas houvesse outra resposta que não fosse: “sim senhor, quer com minúscula ou com maiúscula? Ai que tolice, Senhor Ditador, perdoe-nos por termos perguntado, claro que é com maiúscula. ” O subconsciente da locutora da Fox News, como vimos, já está mais do que preparado. O tempo em que tínhamos de nos preocupar com o fim da democracia já foi há tanto tempo que às vezes caímos no erro compreensível de achar que as ditaduras só acontecem em países e épocas a preto-e-branco, como nos filmes e na televisão antiga. Achamos portanto que teremos direito a um marcador ou um sinalizador qualquer que nos diga “aqui acabou a democracia e começou a ditadura”. Qualquer coisa na banda sonora, ou na cor da paisagem. Quando um dia sairmos à rua e estiver tudo a preto-e-branco com uns violoncelos pesados a tocar ao fundo, é aí que começaram os tempos sombrios. Puro engano. Nos tempos do nazismo e do fascismo as cores do céu eram tão vibrantes como são hoje. Também havia dias fantásticos de Verão. As pessoas seguiam as suas vidas de todos os dias, casavam, eram felizes até — menos aquelas que eram metidas em vagões e com quem só uma minoria se preocupava. Para todos os restantes não havia nenhum aviso. E também não haverá nenhum aviso agora: ou teremos a nossa consciência ou não teremos nada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ontem lá começou um Campeonato do Mundo de futebol pronto a ser usado como propaganda na terra de um dos ditadores pós-modernos do nosso tempo. Quantas vezes já vimos isto? Nos EUA há campos de reclusão (chamemos-lhes assim) para crianças imigrantes separadas à força dos seus pais, e estes campos têm à entrada murais pintados com frases triunfantes e retratos do Presidente Trump. Quantas vezes já vimos isto? Na Europa há um barco com 630 refugiados a bordo e só a custo encontrou quem o quisesse receber. Quantas vezes já vimos isto?Desgraçadamente, parece que não foi vezes suficientes. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Jovens acreditam que uma das raízes do populismo é o medo
O populismo foi um dos temas em debate na Escola de Verão da Comissão Europeia, na qual participaram 50 universitários portugueses. (...)

Jovens acreditam que uma das raízes do populismo é o medo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-09-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O populismo foi um dos temas em debate na Escola de Verão da Comissão Europeia, na qual participaram 50 universitários portugueses.
TEXTO: Um austríaco e uma irlandesa entraram numa sala da Escola de Verão da Comissão Europeia, em Portugal, e falaram sobre populismos com cinco dezenas de jovens portugueses. Foi um dos momentos mais animados do último dia do Summer CEmp, que decorreu em Marvão entre 28 e 31 de Agosto. A sessão juntou o embaixador austríaco em Lisboa, Robert Zischg, e a embaixadora da Irlanda, Orla Tunney. Foi evidente alguma dificuldade do diplomata austríaco em defender as políticas do seu país. Robert Zischg disse que o populismo é um rótulo, do qual não gosta, mas que não rejeita totalmente. E se se definir o populismo como um governo que ouve o povo, então, sim, assume-se como tal, até porque ouvir o povo é o que faz com muita frequência o seu primeiro-ministro Sebastian Kurz - que, aos 32 anos é o chefe do governo mais jovem do mundo. Já a embaixadora irlandesa enfatizou que até agora os países periféricos têm escapado a esse fenómeno, o qual se tem disseminado, sobretudo, no centro da Europa e com um elevado risco de contágio. “As definições que foram apresentadas no debate encaixam no que era a minha própria definição de populismo”, diz Rui Teixeira, 18 anos. “A da embaixadora da Irlanda é mais próxima da minha definição, mas também é normal porque o populismo não chegou à Irlanda nem a Portugal. Já a do embaixador austríaco era diferente, pois representa um governo mais próximo do populismo. ”E qual a definição desse fenómeno para este jovem estudante da Faculdade de Engenharia do Porto? "Populismo para mim são movimentos que vão surgindo pela Europa e por todo o mundo e que tentam fazer três coisas: simplificar o discurso para o tornar mais apelativo; apelar ao medo e a todos os sentimentos que são repulsivos para as pessoas do país, e o político considerar-se a verdadeira interpretação da voz do povo, como é o caso do Trump e do primeiro-ministro italiano". Miguel Alegre, um universitário natural do Porto que vive em Paris, onde estuda na Sciences Po, também diz que o debate com os embaixadores não mudou a sua definição de populismo. “É um conceito difícil de definir porque é muito difuso, mas é menos uma ideologia e mais uma estratégia. Uma estratégia que explora uma política das emoções desprovida de qualquer racionalidade. Não quero dizer que a política deva ser desprovida de emoções, mas o populismo usa os sentimentos mais básicos da população, dos quais o mais relevante é o medo. ”Para este jovem, a discussão decorreu de uma forma muito diplomática, ou não fossem os intervenientes eles próprios diplomatas, mas Miguel Alegre acha que o embaixador austríaco teve alguma dificuldade em defender as ideias populistas do seu governo. “Acho que ele não tem um prazer gigante em defender o seu governo, mas não tem alternativa”. Bruna Gonçalves, de Leiria, estuda Relações Internacionais na Universidade de Coimbra e entende que o populismo é a utilização dos receios das populações para deles tirar vantagens políticas. A jovem, de 19 anos, diz que o mais importante do debate foi ter-se dado conta de que o populismo depende também de factores geográficos e sociais, como é o caso da imigração. “A embaixadora da Irlanda tem razão: a Irlanda e Portugal têm passado mais ou menos imunes ao fenómeno do populismo porque são países periféricos e não têm tido problemas com migrantes”, disse. Leya Fonseca, recém-licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, explica que a sua definição de populismo não mudou, mas que se abriu um pouco mais porque os dois oradores trouxeram elementos novos para o debate. “Populismo é uma posição extremista, facciosa e falsa da realidade, que consegue sobreviver através das redes sociais e principalmente às custas da crise dos refugiados e que tem sido utilizada no mau sentido porque só retira o que há de mau nessa crise”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A jovem, de 26 anos, diz “as posições dos embaixadores são diferentes, até porque são de países com culturas diferentes. A Irlanda e a Áustria vêm a crise dos refugiados de forma diferente e isso é visível nos discursos dos seus embaixadores. Mas há uma coisa que ele [Robert Zischg] disse que eu acho importante: independentemente das ideias que tenhamos, é importante ouvir o outro porque há sempre uma razão para que o outro pense como pense”. Mas se é certo que os jovens da Summer CEmp – que de alguma forma constituem uma pequena elite – são claramente antipopulistas, sê-lo-ão também os restantes jovens portugueses?“Não creio. Eu acho que, infelizmente, sou uma excepção. ” Catarina Vieira, 22 anos, natural de Esmoriz e estudante de Línguas e Relações Internacionais no Porto, diz que faz falta educação política aos jovens portugueses. “Eu andei no CLIP [Colégio Luso Internacional do Porto] e os meus professores foram-me dando umas bases políticas. Mas acho que isso faz falta no ensino oficial. O populismo tem pernas para andar nos jovens pois eles nem sequer sabem como é que funciona o Estado, logo são mais permeáveis a esse tipo de discurso. Eu conheço pessoas da minha idade licenciadas que são populistas. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola imigração educação medo
O meu pedaço de tristeza
Há uma sucessão de erros políticos enormes que conduziram a Bolsonaro. Para quem não viu, a série brasileira O Mecanismo é imprescindível para perceber uma sociedade onde a corrupção leva tudo à frente. É um nó cego. Uma angústia. (...)

O meu pedaço de tristeza
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há uma sucessão de erros políticos enormes que conduziram a Bolsonaro. Para quem não viu, a série brasileira O Mecanismo é imprescindível para perceber uma sociedade onde a corrupção leva tudo à frente. É um nó cego. Uma angústia.
TEXTO: 1. Vamos deixando ao longo da vida pequenos pedaços de nós em alguns cantos do mundo. Tenho vários por aí espalhados, que a vida já vai longa. Um deles ficou no Brasil. Por razões várias. Visitei o país em duas magníficas e irrepetíveis visitas oficiais de Mário Soares, nos finais dos anos 1980, já com a democracia restaurada. Como era seu hábito, além de um profundo conhecimento pessoal da realidade brasileira, Soares quis ir a quase toda a parte. Estivemos no Maranhão, na Amazónia, no Recife, em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. Foi numa dessas viagens que conheci o seu amigo Fernando Henrique Cardoso, então o mago das Finanças que haveria de resolver o problema maior da economia brasileira (e dos pobres): a hiperinflação. Entrevistei-o depois várias vezes, já tinha saído do Planalto. Sempre a mesma vasta cultura, a mesma lucidez, a mesma moderação, que fizeram dele o Presidente que criou as condições sem as quais Lula muito dificilmente teria sido eleito. Foi ele que me disse, nas vésperas da segunda eleição de Lula da Silva já em pleno “mensalão”, a frase que foi título de uma dessas entrevistas. “É preciso evitar que a falta de liderança de Lula não destrua o símbolo. ” Foi ele também que me explicou com três palavras que Lula não pertencia à velha esquerda latino-americana: não era antiamericano, não era antiglobalização e não era anticapitalista. Numa frase: era igualmente aplaudido no Fórum Económico de Davos e no Fórum Social de Porto Alegre. A transmissão de poderes, no Planalto, no dia 1 de Janeiro de 2003, foi uma cerimónia comovente. Matias Spektor (Fundação Getúlio Vargas) escreveu um livrinho, Dezoito Dias, no qual descreve como os dois colaboraram durante a transição de forma exemplar e como F. H. C. tratou de tranquilizar Washington e Nova Iorque sobre a eleição de Lula. O Brasil parecia um país “abençoado por Deus”: um presidente considerado pela Foreign Affairs um dos intelectuais mais importantes do século XX; um operário metalúrgico, pobre e com poucos estudos, com a capacidade de entender o mundo em que vivia e de prometer aos brasileiros aquilo a que tinham direito — “três refeições por dia”. A nostalgia deste tempo aumenta ao ritmo a que Bolsonaro se aproxima do Palácio do Planalto. 2. Fui algumas vezes ao Brasil, sobretudo a São Paulo, participar em conferências organizadas na altura pelo IEEI. Fui aprendendo. Depois, vi (e vivi) o Brasil, entre 2010 e 2014, precisamente na sua melhor época, quando tudo parecia finalmente possível, mesmo descontando o exagero da elite do PT (que anunciava demasiado cedo e com demasiada gula o declínio do Ocidente e a emergência do Sul, onde os mais altos voos estavam destinados ao Brasil). Duas das minhas netas nasceram no Rio. Têm tripla nacionalidade: brasileira, britânica e portuguesa. Pareciam ter nascido para um mundo em que “a humanidade, citando Obama, seria finalmente comum”, independentemente do sítio onde se nascesse. No Mundial de futebol, a questão era saber por quem torcer. Por Portugal? Pela Inglaterra? O melhor era mesmo torcer pelo Brasil. Ainda hoje o português lhes sai com sotaque brasileiro. Não é problema. Passeei nas ruas do Rio (na Zona Sul, naturalmente) com a mesma descontracção com que passeio em Lisboa. Vi a nova classe média baixa, que emergiu da pobreza durante os governos de Lula (mais de 30 milhões de pessoas) alimentar expectativas como nunca antes tinha tido. Vi ainda, em 2014, as grandes manifestações nas quais exigia o que deveria vir a seguir: melhor educação pública; melhor saúde pública. Dilma e o PT não perceberam a mensagem, acusando a oposição de estar por trás delas. Era muito mais do que isso. Mas vi também as classes média e média alta, muito reduzidas em termos de percentagem, viver cada vez melhor, apesar de Lula. Nela se incluem os funcionários públicos com diploma universitário, os juízes e outros magistrados, os jornalistas, as profissões liberais, os pequenos e médios empresários. O luxo em que vivem não tem nada que ver com as classes médias europeia ou americana, que são largamente maioritárias. Para um espírito europeu, é quase impossível acreditar (só estando lá) que essa classe média alta, mesmo a intelectualmente mais preparada, se queixa do novo regime legal das empregadas domésticas, que encareceu o seu trabalho. Como dizia a minha filha, o seu pequeno apartamento de Londres cabia no espaço reservado à cozinha e aos quartos das empregadas do seu apartamento do Rio. Vi agora a empregada da minha filha no Rio, da qual ficou amiga, teimar com ela durante uma semana que ia votar Bolsonaro, até ter sido dissuadida no último minuto. Tinha votado em Lula. “E agora?” — pergunta ela. Recusa-se a votar no PT, porque pensa que foi traída por ele, incluindo por Lula que, por alguma razão, está na cadeia. O PT prometeu combater a corrupção e fez como os outros. Prometeu acabar com violência e fez como os outros. Prometeu uma vida melhor e ela vive as desesperantes consequências da maior crise económica brasileira das últimas décadas. 3. Do alto do nosso conforto europeu, não é fácil descermos à realidade em que vive uma grande maioria do eleitorado brasileiro. Não conhecemos o grau de violência que regressou ao Rio. Não sabemos o que é andar à procura de emprego e não arranjar. Não sabemos o que é voltar a temer pelo futuro dos filhos. Não é fácil explicar que há um valor supremo que é a democracia, que é a forma mais segura de combater a violência e de denunciar a corrupção. É demasiado abstracto. A esquerda europeia, com os seus sonhos e os seus mitos, não perde uma visita às favelas, mas vem dormir à Zona Sul. Na velha, civilizada, próspera e democrática Europa vemos hoje governantes prometer que vão varrer “os ilegais casa a casa, rua a rua. ” Lemos reportagens com descrições inacreditáveis sobre as condições em que estão detidos alguns refugiados ainda à espera de asilo ou a quem o asilo não foi concedido, sem precisarmos de ir a Lesbos. O Guardian descrevia um desses locais inadmissíveis numa das suas últimas edições. O Governo britânico não desmentiu. Disse que ia ver. Vemos medrar em directo uma vaga de partidos populistas e nacionalistas na Europa, não à custa da pobreza das pessoas, como no Brasil, mas apenas à custa das suas incertezas sobre o futuro e ao seu medo dos imigrantes, reais ou imaginários, que olham como uma ameaça à sua cultura. Apenas querem ter a certeza de que vão continuar a viver tão bem. 4. Há uma sucessão de erros políticos enormes que conduziram a Bolsonaro. O Governo de Lula não esperou um mês para atacar desenfreadamente os governos de F. H. C. O PSDB (de F. H. C. ) foi acumulando a frustração de ter falhado a eleição de Aécio (2014) por uma unha negra, embarcando no impeachment de Dilma, em 2016, por razão nenhuma, a não ser as suas escolhas políticas, mesmo que eventualmente desastradas. Vimos a operação Lava-Jato prender em público e em directo políticos corruptos e empresários corruptores numa dimensão nunca vista, provavelmente nem lá, nem em parte nenhuma. Para quem não viu, a série brasileira O Mecanismo é imprescindível para perceber uma sociedade em que a corrupção vai do biscate à emissão de um passaporte até à maior das empresas brasileiras, levando tudo à frente. É um nó cego. Uma angústia. Feito o desabafo, para quem queira entender o que está em jogo no próximo dia 28, basta ler na edição de ontem a coluna de Jorge Almeida Fernandes: “O projecto autoritário de Bolsonaro: uma hipótese de trabalho. ”
REFERÊNCIAS: