FIFA foge a questões sobre erros de arbitragem
A FIFA rejeitou hoje todas as perguntas relativas à arbitragem na conferência de imprensa diária, após os dois erros nos jogos de domingo dos oitavos-de-final do Mundial de futebol. (...)

FIFA foge a questões sobre erros de arbitragem
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DATA: 2010-06-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A FIFA rejeitou hoje todas as perguntas relativas à arbitragem na conferência de imprensa diária, após os dois erros nos jogos de domingo dos oitavos-de-final do Mundial de futebol.
TEXTO: "Nós não vamos abrir o debate sobre a arbitragem na conferência de imprensa diária, disse Nicolas Maingot, porta-voz da FIFA, no início do encontro com os jornalistas, fugindo às questões sobre os erros verificados no Alemanha-Inglaterra e no Argentina-México. A arbitragem do Mundial ficou manchada com dois erros claros de arbitragem, quando foi mal invalidado um golo à Inglaterra, que empataria a partida a 2-2, enquanto horas mais tarde a Argentina viu validado o seu primeiro golo na vitória (3-1) sobre o México, num lance em claro fora-de-jogo. Questionado diversas vezes sobre os erros dos árbitros, o não recurso ao vídeo ou "a vergonha que a FIFA devia sentir", o porta-voz afiançou que o assunto não ia ser mencionado. Nicolas Maingot disse que a recusa por parte da FIFA em usar o vídeo para ajudar nas arbitragens tinha a ver com a posição do International Board, o organismo que define as leis do jogo. O porta-voz condenou a repetição das imagens do primeiro golo da Argentina, marcado por Tevez em fora-de-jogo, nas telas gigantes do estádio Soccer City. "Isso não devia ter acontecido", afirmou. O golo injustamente negado ao inglês Frank Lampard e o tento irregular validado à Argentina no encontro com o México reacenderam o debate sobre a utilização do vídeo como auxiliar nas arbitragens, à qual se opõem a FIFA e o International Board. O árbitro uruguaio Jorge Larrionda não validou o golo de Lampard contra a Alemanha quando as repetições das imagens televisivas mostram claramente que a bola cruzou a linha de golo. Larrionda foi também alvo de reparos por parte da selecção portuguesa, dado que foi o árbitro que mostrou um cartão amarelo a Cristiano Ronaldo no jogo de estreia de Portugal no Mundial 2010 frente à Costa do Marfim.
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Palavras-chave vergonha marfim
Simão vai ultrapassar Luís Figo
Quem é o jogador português com mais jogos em fases finais de Campeonatos do Mundo de futebol? A resposta mudará já amanhã, caso Simão, como é provável, entre em campo frente à Espanha. O extremo do Atlético de Madrid fará o 11.º jogo em Mundiais de futebol, ultrapassando o recorde de Luís Figo (dez). (...)

Simão vai ultrapassar Luís Figo
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DATA: 2010-06-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quem é o jogador português com mais jogos em fases finais de Campeonatos do Mundo de futebol? A resposta mudará já amanhã, caso Simão, como é provável, entre em campo frente à Espanha. O extremo do Atlético de Madrid fará o 11.º jogo em Mundiais de futebol, ultrapassando o recorde de Luís Figo (dez).
TEXTO: Aos 30 anos, Simão até podia ter um registo ainda mais rico em fases finais, se uma lesão num joelho não o tivesse impedido de estar em 2002, na Coreia do Sul. O avançado do Atlético de Madrid soma, assim, sete jogos no Mundial 2006 (tantos como Figo), ao que juntou os três da fase de grupos na África do Sul (tal como Figo acrescentou os três da fase de grupos na Coreia, de onde Portugal não passou). A diferença far-se-á agora com, pelo menos, a participação nos oitavos-de-final do Mundial 2010. Simão é também o mais internacional (84) dos jogadores à disposição de Carlos Queiroz, sendo já o quinto da história do futebol português apenas atrás de Figo (127), Fernando Couto (110), Rui Costa (94) e Pauleta (88). "Sinto-me jogador importante nesta selecção", disse ontem Simão, que também nos golos tem um papel de relevo. Marcou no Mundial 2006 ao México e em 2010 à Coreia, fazendo com Ronaldo a dupla portuguesa com golos em duas fases finais diferentes. O extremo formado no Sporting é também o segundo melhor marcador da actual selecção, logo a seguir a Ronaldo (tem 22 contra 23 golos do jogador do Real Madrid), e integra também a lista dos dez melhores de sempre (é oitavo). Suplente utilizado frente à Costa do Marfim e Brasil, e titular frente à Coreia do Norte, Simão Sabrosa quer fazer parte do "grande jogo" com a Espanha: "Tenho mais de 70 jogos nesta época, mas sinto-me muito bem. Contra o Brasil, senti-me mais fresco e solto", afirmou, salientando que tem de respeitar as decisões do treinador.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave marfim
"Vamos tentar ser o melhor Portugal de sempre"
O seleccionador nacional, Carlos Queiroz, afirmou esta tarde que o sentido de missão cumprida é uma ideia que não existe entre os jogadores portugueses e que o objectivo para o jogo de amanhã é "estar sempre um passo à frente de Espanha". (...)

"Vamos tentar ser o melhor Portugal de sempre"
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DATA: 2010-06-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O seleccionador nacional, Carlos Queiroz, afirmou esta tarde que o sentido de missão cumprida é uma ideia que não existe entre os jogadores portugueses e que o objectivo para o jogo de amanhã é "estar sempre um passo à frente de Espanha".
TEXTO: "A ambição que temos é enorme. Não estamos satisfeitos com nada. O sentido de missão cumprida não existe, porque isso pode levar à falta de concentração", disse Queiroz na conferência de imprensa de antevisão do Espanha-Portugal, que decorreu no Estádio Green Point, na Cidade do Cabo. Sobre o adversário de amanhã, o seleccionador nacional considerou que "um campeão da Europa é sempre um candidato a ganhar o Campeonato do Mundo". A insatisfação foi a tónica dominante na conferência de imprensa: "Não é porque não sofremos golos, ou porque marcámos mais do que os outros, que isso nos vai ajudar. Vamos tentar ser o melhor Portugal de sempre. O que fizemos até ontem não chega para ganhar à Espanha". Em relação a uma hipotética rivalidade entre as duas selecções, Queiroz optou por desvalorizar os títulos que têm preenchidos nos últimos dias alguns jornais espanhóis e portugueses e deixou referências históricas para ilustrar que Portugal tem sempre "uma palavra a dizer". "Tanto nós como a selecção de Espanha temos mostrado respeito mútuo, que é de enaltecer. Há muito tempo que discutimos fronteiras e elas continuam iguais; discutimos o mundo e dividimo-lo ao meio. Por isso, temos sempre uma palavra a dizer". "Jogo justo para ambas as equipas"Questionado sobre as arbitragens deste Mundial, o seleccionador nacional disse esperar que o jogo de amanhã "seja justo para ambas as equipas" e voltou a questionar as escolhas da FIFA para as partidas de Portugal: "Manifestámos alguma estranheza por Portugal jogar contra quatro equipas de quatro continentes [Costa do Marfim, Coreia do Norte, Brasil e Espanha] e termos quatro árbitros sul-americanos". Queiroz respondeu ainda a uma questão sobre o jogo contra o Brasil, referente às alterações na equipa. O seleccionador disse que a troca de "um ou outro jogador deveu-se a questões tácticas, mas também à gestão de aspectos físicos". "O Brasil estava qualificado e jogou com Maicon e Michelle Bastos. O que deveria eu fazer? Abrir uma passadeira e levar quatro ou cinco golos?", atirou Queiroz. Mas amanhã "será diferente". "Tudo para o vencedor, nada para o perdedor. Muitas vezes um jogo é a realidade que está à nossa frente e não a antecipação que fazemos dele", conclui o seleccionador nacional.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração marfim
Descoberto o Moby Dick do Miocénico
Se Herman Melville pusesse os olhos no desenho que mostra o Leviathan melvillei em acção, o cachalote albino que protagoniza Moby Dick poderia ter um concorrente à altura. (...)

Descoberto o Moby Dick do Miocénico
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DATA: 2010-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se Herman Melville pusesse os olhos no desenho que mostra o Leviathan melvillei em acção, o cachalote albino que protagoniza Moby Dick poderia ter um concorrente à altura.
TEXTO: Mas da baleia prima dos cachalotes, que seria o predador carnívoro por excelência dos mares do Miocénico, há cerca de 13 milhões de anos na região do Peru, só restam os fósseis encontrados em 2008. Dois anos a estudar os dentes e partes do crânio do cetáceo permitiram descrever uma nova espécie, cuja ecologia seria completamente diferente. O artigo da descoberta é publicado por uma equipa internacional esta semana na revista Nature. O nome específico do mamífero gigante foi uma reverência ao autor de Moby Dick. Leviathan era o nome dado aos grandes monstros marinhos que povoam o imaginário da humanidade desde a antiguidade. A baleia pertence à família dos cachalotes e tem um tamanho semelhante mas, ao contrário destes, é provável que se alimentasse de outras baleias. Os cachalotes abocanham lulas, outros cefalópodes e peixes e não utilizam os dentes para se alimentar. Os fósseis do crânio do Leviathan foram encontrados no deserto de Pisco Ica, no Peru, em sedimentos com idade entre os 12 e 13 milhões de anos. A descoberta foi feita por Klaas Post – curador do Museu de História Natural de Roterdão, na Holanda. As medições dos fósseis indicam que esta baleia tinha entre os 13 e os 18 metros de comprimento. A cabeça do monstro marinho chegava aos três metros. Os dentes, que se encontravam em ambas as mandíbulas, tinham até 12 centímetros de comprimento e 36 cm de largura. Com esta dentição, pensa-se que o Leviathan fosse capaz de caçar e rasgar carne, estando no topo da teia alimentar, como hoje está a orca. A baleia pré-histórica teria sido predadora de outras baleias mais pequenas, com cerca de oito metros de comprimento. Os vários esqueletos de uma espécie mais pequena de baleia de barbas descoberta na mesma região reforçam esta teoria. O cachalote, o maior representante de hoje da família do Leviathan prefere alimentar-se de lulas gigantes e outros cefalópodes que vivem a grandes profundidades. O cetáceo, com uma média de 16 metros, tem dentes cilíndricos na mandíbula inferior e na mandíbula superior tem dentes pouco desenvolvidos. Hoje, é a orca quem faz o papel de maior predador cetáceo dos oceanos. O mamífero da família dos golfinhos tem cerca de nove metros e alimenta-se de outros animais, como leões-marinhos, pinguins e até cachalotes.
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A selecção tinha menos qualidade e Queiroz foi realista
A selecção portuguesa teve um comportamento positivo e de acordo com as suas possibilidades. É esta a opinião consensual entre algumas personalidades ligadas ao futebol ouvidas pelo PÚBLICO. (...)

A selecção tinha menos qualidade e Queiroz foi realista
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DATA: 2010-07-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A selecção portuguesa teve um comportamento positivo e de acordo com as suas possibilidades. É esta a opinião consensual entre algumas personalidades ligadas ao futebol ouvidas pelo PÚBLICO.
TEXTO: O problema é que as expectativas eram demasiado elevadas. "Os adeptos elevam sempre as expectativas para patamares muito altos. Ao longo destes anos temos vivido acima das nossas possibilidades e, em termos de futebol, exigimos de mais ao que temos", considera Toni, que esteve no Mundial da África do Sul na qualidade de observador da Costa do Marfim, o primeiro adversário de Portugal na fase de gupos. É justo criticar Carlos Queiroz pelas suas opções no Mundial? "Havia muita coisa que Carlos Queiroz podia ter feito, como ter proposto a naturalização do Iniesta, do Piqué, do Torres, do Xavi, do Xabi Alonso e do Villa", ironiza Manuel Machado, técnico do Vitória de Guimarães, considerando que Portugal teve "um comportamento positivo e ao nível do que tem feito na última década". "A derrota com a Espanha foi normal, na medida em que tem mais e melhores jogadores que Portugal e constituiu-se como um dos colectivos mais fortes a nível mundial. Ter saído da competição frente ao campeão europeu não deixa qualquer mancha. A prestação de Portugal corresponde ao que é a realidade do futebol português neste momento", acrescenta. Para Rui Moreira, empresário e comentador desportivo, a falta de opções de qualidade na selecção é um problema "incontornável" e Queiroz estava limitado nas suas escolhas. "Fizemos os mínimos obrigatórios e não é muito justo criticar Queiroz, que terá as suas responsabilidades em opções tácticas que fez. Tenho muito dificuldade em culpá-lo, ele fez o que podia com os ovos que tinha. Não saímos pela porta pequena, mas por uma porta lateral", considera o empresário, para quem não há motivos para pôr em causa a continuidade de Queiroz na selecção: "Temos jogos para o Europeu proximamente e vai ser uma campanha difícil. Não há tempo nem razões para isso. "Toni, que fez parte da comissão técnica que liderou a selecção no Euro 84, entende que este Mundial foi o acentuar de uma quebra de qualidade que já se verifica desde a fase de apuramento para o Euro 2008, ainda com Luiz Felipe Scolari. "No Euro 2008 já esteve a um nível inferior e a qualificação para o Mundial 2010 reflectiu isso. Quando perde qualidade e enfrenta equipas superiores como a Espanha ou o Brasil, passar a fase de grupos é cumprir o objectivo", considera o ex-técnico do Benfica, que aponta também o fraco rendimento de Ronaldo como factor importante no desempenho da selecção. Toni criticou ainda o jogador do Real Madrid pela atitude que tomou no final do jogo com a Espanha, que é ainda mais grave por ser o capitão de equipa: "O capitão de uma selecção tem responsabilidades e tem de ter respeito pelo seleccionador, o que não aconteceu. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave marfim
"Ouvi um tango na rádio e comecei a rodar, num pé só"
Os amigos mais novos dizem: "É como se ela tivesse a nossa idade." Mas ela lembra-se de Sebastião da Gama, a chegar da Arrábida. De David Mourão-Ferreira, no restaurante Pedrisco, em Lisboa. De José Régio, na Pensão Vinte e Um, em Portalegre. Estreou-se com uma ficção para adultos e escreveu mais de 20 livros para crianças. Este mês recebe um prémio carreira. (...)

"Ouvi um tango na rádio e comecei a rodar, num pé só"
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DATA: 2010-07-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os amigos mais novos dizem: "É como se ela tivesse a nossa idade." Mas ela lembra-se de Sebastião da Gama, a chegar da Arrábida. De David Mourão-Ferreira, no restaurante Pedrisco, em Lisboa. De José Régio, na Pensão Vinte e Um, em Portalegre. Estreou-se com uma ficção para adultos e escreveu mais de 20 livros para crianças. Este mês recebe um prémio carreira.
TEXTO: A história do tango não acabou lá muito bem. "Estava sentada no sofá, ouvi um tango na rádio, levantei-me e comecei a rodar, como a papoila, num pé só. Caí e parti a perna. " Isto aconteceu porque Matilde Rosa Araújo gosta muito de música e "o tango é uma música muito física". E aconteceu ia ela fazer 80 anos. Agora está com 82. Bem tinham dito amigos com menos 20 anos, como os escritores Alice Vieira ("Quando estamos com ela, é como se tivesse a nossa idade") ou José Jorge Letria ("Ela tem sempre a idade dos amigos mais novos"). Ambos falam no "sentido de humor finíssimo" de Matilde Rosa Araújo - e, palavra, por palavra, é exactamente o que também diz dela José António Gomes, professor da Escola Superior de Educação do Porto e autor de uma tese de mestrado parcialmente dedicada à obra desta mulher que a Sociedade Portuguesa de Autores vai homenagear dentro de dias com um prémio carreira. A cerimónia inclui uma mensagem do Presidente da República, Jorge Sampaio. Matilde Rosa Araújo publicou mais de 20 livros de poesia e narrativa para crianças, além de livros para adultos. Continua a viver na casa que era dos pais, um silencioso segundo andar de luz velada por cortinas brancas, cristais, livros e bonecas, perto do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Estava à nossa espera junto ao elevador e ainda mal nos tínhamos sentado já oferecia chocolates. Matilde Rosa Araújo nasceu no último dia da Primavera, 20 de Junho, em 1921. A casa da infância tinha "árvores, água, patos, andorinhas, uma vaca, um burro, estufa de plantas" - uma quinta, pois, no tempo em que Benfica era campo, perto do Jardim Zoológico. A família da mãe tinha origens, galegas, o pai (comerciante de ourivesaria) vinha de Monção. Havia uma irmã mais velha e uma irmã mais nova. "Eu estou no meio, sem ser a virtude. . . " Havia alguns livros, "não muitos", Júlio Dinis, Eça, que ela foi lendo. "O que me encantava eram os jornais, gostava muito de os ver chegar, ainda hoje tenho uma avidez pêlos jornais. " Não foi à escola, teve mestres privados, começando pela professora primária, "D. Joana Vassalo e Silva, irmã de D. Maria Lamas". Quase completou o curso de Piano ("Só não fiz o último ano") com o professor Campos Coelho. Aos 18 anos a família mudou-se para o centro de Lisboa e ela entrou em Românicas na Faculdadede Letras. "Foi um deslumbramento, uma alegria. " Colegas? Maria de Lurdes Belchior, Sebastião da Gama, Luís Filipe Lindley Cintra, Luísa Dacosta, DavidMourão-Ferreira, Helena Cidade Moura, Urbano Tavares Rodrigues, Maria Judite de Carvalho. . . Professores? Jacinto do Prado Coelho, Vitorino Nemésio, Hernâni Cidade, Vitorino Magalhães Godinho. . . Por onde começar? Sebastião da Gama, três anos mais novo, vindo da Arrábida? "O meu grande amigo e companheiro. Era uma dádiva. Aparecia sempre com a sua boinita, um cravinho encarnado, a dar beijos a todos. . . Tinha um amor à vida, aos outros! Baixinho, os olhos piscos, sempre com espírito crítico e muita graça. Chegava à faculdade e dizia: 'Vejam a coisa mais linda!' E mostrava um poema que tinha feito na camionete ou no barco. " Matilde chegou a passear com ele e a noiva, Joana, na Arrábida. "Era um irmão. " Trocavam poemas. "Não fazíamos propriamente tertúlia, encontrávamo-nos na pastelaria O Beijinho da Infância, ao cimo das escadinhas da Arrochela. " Isto, no tempo em que junto à Faculdade de Letras ainda se ouviam burros, "porque havia uma casa onde iam as lavadeiras com os burros". David Mourão-Ferreira "era um encanto, gentilíssimo" e Lindley Cintra "seria o 'grand prince'", tinha "uma vocação musical muito marcada, era um homem cultíssimo e bom, um grande aluno e depois um grande professor". "Também escrevia poemas, ainda tive alguns. " O par Urbano-Maria Judite: "Assisti àquele enamoramento, os olhos verdes da Judite a olharem para o Urbano. . . " As aulas de Literatura Portuguesa de Jacinto Prado Coelho ("a quem devo tanto"). As de Nemésio: "Começo tinham, e depois voavam por todo o lado. " A descoberta dos poetas: "Camões, Cesário, Rimbaud, Baudelaire. . . Tenho um retraio dele no escritório, olhava para ele como para um amigo. " E Cervantes, Gil Vicente, Tolstoi, Tagore. "Foi um tempo de luz. " Escrevia, já? "Uns papelinhos, que ficavam comigo. " Até que um dia não ficaram, e isso foi antes de acabar a faculdade. Para o concurso Procura-se Um Novelista, do jornal "O Século", Matilde Rosa Araújo enviou "uma história muito triste, de eutanásia, uma mulher que vê o marido caminhar para a morte e que o mata. . . no fundo uma história de amor". Aquilino Ribeiro estava no júri. "Ganhei", diz ela, abrindo as mãos, como se não soubesse como. Assim foi publicada em 1943 "A Garrana", a sua obra de estreia. Saída da faculdade em 1945, Matilde Rosa Araújo começa a dar aulas de Português e Francês no ensino técnico, ou seja, a meninos sem origem nem destino de desafogo. Fez o estágio na Veiga Beirão de Lisboa, com Sebastião da Gama, e depois andou provisória por Barreiro, Almada, Portalegre, Eivas, Leiria, Caldas, até ficar efectiva no Porto e voltar a Lisboa. Nisto, passaram. -se anos. E nunca alugou ou comprou um espaço seu. Manteve morada na casa dos pais em Lisboa, para onde voltava aos fins-de-semana. "Não foi duro. Os alunos apareciam, e aprendi tanto com eles, ou julgo que aprendi. . . a vida, a descoberta da infância, a dor da juventude. " Fala como se não as tivesse vivido? "Enquanto as vivi, não as sabia ler. " É desta experiência que vem o primeiro livro para crianças, "O Livro da Tila", de 1957, e a sua sequência, "O Cantar da Tila", dez anos depois, com ilustrações de Maria Keil. "Estava no Alentejo quando escrevi 'O Livro da Tila'. Escrevia no comboio. " Entre Lisboa e Portalegre. "Em Portalegre conheci o José Régio. Embora alguns o pudessem achar um misantropo, a ele só devo a condescendência de um grande poeta que tentava ouvir uma professora que tinha ido parar àquela terra. Eu estava hospedada na Pensão Vinte e Um, da D. Rosalina Vinte e Um, uma senhora encantadora que sabia os nomes de todas as flores daquela serra de S. Mamede que ardeu o ano passado. . . Ver essa serra à noite com os pirilampos era irreal. . . Foi no jardim da D. Rosalina que ouvi pela primeira vez, um rouxinol. O José Régio ia lá almoçar. " A seguir ao primeiro livro, continuou. "Escrevia muito à noite, nos intervalos, no café. " Em 1950, David Mourão-Ferreira e António Manuel Couto Viana fundam a revista "Távola Redonda", uma alternativa ao programa neorealista. Matilde, como Sebastião da Gama e Luís Amaro, colabora. "Reuniamo-nos no Pedrisco, um restaurantezinho na Alvares Cabral. " Mas tal como colabora na "Távola Redonda", e na sua sucessora, a "Graal", também participa na "Seara Nova". Politicamente, estava à esquerda. "Julgo que sim, sempre", responde ela abrindo as mãos, como uma evidência. E steve sempre do lado certo, jcontra o fascismo", diz José António Gomes, autor da tese "A Poesia na Literatura para a Infância - A produção portuguesa do pós-guerra à actualidade e o caso de Matilde Rosa Araújo" (edição Asa). Destaca, na poesia, "O Livro de Tila" — cujos poemas foram musicados por Lopes Graça — e "O Cantar de Tila", Tila é como os amigos tratavam Matilde, e, se no primeiro a Tila ainda é pequena, no segundo é uma adolescente a descobrir o amor e o desejo. "Há ali por detrás algumas alusões a alguma relação um pouco difícil com uns pais que a preservaram das 'ameaças' do amor. " Realça ainda "Segredos e Brincadeiras" (2000, o mais recente), e na prosa "O Palhaço Verde" (1962) e "O Sol e o Menino dos Pés Frios" (1972). Próxima dos neo-realistas na dedicação às crianças mais pobres, mas "sem os amanhãs que cantam" do projecto ideológico, por outro lado sensível à "arte pela arte" da clássica "Távola Redonda", Matilde Rosa Araújo soube ser transversal, diz José António Gomes. "Não conheço ninguém que alguma vez tenha dito uma palavra contra ela. Ê de uma grande atenção aos outros, de uma enorme doçura. " Também pelo seu trabalho nas escolas, pelas antologias de literatura que fez, relembra este professor, Matilde Rosa Araújo foi "uma espécie de mãe da literatura infantil em Portugal" — o pai fora o Aquilino do "Romance da Raposa". Além da sensibilidade feminina que trouxe, há uma outra característica: "A poesia dela é franciscana, na relação com a natureza, os animais, os frutos, as estrelas. A forma quase fantástica como animiza todo esse universo distingue-a dos lugares-comuns de algum neorealismo. E há uma mitificação dainfância, como o lugar onde repousa o futuro do mundo. " Encontros de perto ou de longe, teve-os Matilde Rosa Araújo à direita como à esquerda, e para todos tem palavras de admiração. José Gomes Ferreira: "Conheci-o muito bem. Eu achava que ele era a poesia que falava. " Carlos de Oliveira: "Um homem extraordinário, de uma integridade mental e poética. " Sophia de Mello Breyner: "Nunca fomos íntimas, fui duas ou três vezes a casa dela. Achei-a sempre uma grande personagem poética. " Eugênio, Jorge de Sena, Herberto, um respeito à distância. Ruy Belo, próximo: "Fomos mesmos amigos. Era um poeta verdadeiro. Havia nele uma pureza. Quase que um pairar na vida. " E Ferreira de Castro, o autor de "A Selva", que agora sobressai na estante desta sala, numa imponente edição. "Foi um grande amigo que acho que hoje está muito esquecido. . . Aquela criança que foi da sua terra trabalhar para a Amazónia e teve o desejo de aprender, de se ilustrar. . . " Matilde Rosa Araújo pertencia à direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores quando, em 1965, esta instituição premiou o angolano Luandino Vieira, então preso no Tarrafal. A Pide invadiu a sede e demitiu toda a direcção. "Dói-me ainda. Telefonaram-me a dizer que a Pide tinha destruído tudo. . . " No 25 de Abril ficou em casa, mas no 1° de Maio de 1974 passou pela manifestação do Porto. "Vivi sempre com uma serenidade. " Não foi pessoalmente incomodada nem antes nem depois da revolução, diz. E nunca pensou deixar de ser professora. "Talvez não me sentisse com o estatuto de escritora. E gostava muito de dar aulas. " Não casou, nem teve filhos. "Julgo que não foi uma escolha. Ter um filho, um lar, deve ser maravilhoso, mas não aconteceu. Nunca pensei encerrar capítulos, estive sempre aberta para a vida, portanto não ia fechar esse. Mas não aconteceu. " Partilha o casarão em que estamos com a irmã, Maria Luísa. Os pais morreram há cerca de 20 anos, altura em que se reformou, sem deixar de visitar escolas. Conhece Portugal inteiro, com ilhas. "Venho feliz, renovada. " Só parou quando aconteceu "o ataque". É como ela chama, com doce ironia, ao que lhe aconteceu em Novembro: na Avenida da Liberdade uma mulher roubou-lhe a mala por esticão e arrastou-a. Fez várias fracturas e esteve dois meses internada. Ainda está a fazer fisioterapia. De resto, lê, ouve música (ainda não está pronta para um novo tango), fala com os amigos, escreve cartas e tem "uns contos e uns poemas para adultos" na gaveta. "Pode ser que ainda haja um dialuminoso e eu perca o medo de mexer no computador. "
REFERÊNCIAS:
Encontrado corpo de um dos náufragos de barco de recreio ao largo de Aveiro
O corpo de um dos dois tripulantes que continuavam desaparecidos após o naufrágio de uma embarcação de recreio ao largo de Aveiro no passado dia 20 de Junho foi encontrado na noite passada, avançou hoje a Marinha. (...)

Encontrado corpo de um dos náufragos de barco de recreio ao largo de Aveiro
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DATA: 2010-07-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O corpo de um dos dois tripulantes que continuavam desaparecidos após o naufrágio de uma embarcação de recreio ao largo de Aveiro no passado dia 20 de Junho foi encontrado na noite passada, avançou hoje a Marinha.
TEXTO: O comandante da Capitania do Porto de Aveiro, Coelho Gil, disse à Lusa que o cadáver “foi apanhado na rede de um arrastão próximo do local onde se deu a tragédia”. “O corpo já vinha desfigurado e foi identificado esta manhã por familiares pelas roupas que trazia e pelos seus pertences”, referiu o mesmo responsável, adiantando que se trata de Arlindo Monteiro, de 48 anos. Continua ainda por encontrar o corpo do seu filho, de 21 anos, mas as autoridades marítimas não admitem retomar as buscas. “Estamos na expectativa que aconteçam situações fortuitas como esta, que é o corpo vir numa rede de pesca, como aconteceu, ou pode também vir a dar a costa, mas, nesse caso, as probabilidades são muito baixas”, explicou o comandante. O acidente com o “Super Águia II” ocorreu dia 20, cerca das 09h30, na zona pesqueira da “Galega”, ao largo do Furadouro, em Ovar, “devido à entrada excessiva de água na embarcação”. Dos cinco tripulantes que seguiam a bordo houve apenas um sobrevivente, um homem de 37 anos, que passou 19 horas no mar agarrado a uma balsa flutuante, antes de ser recolhido pela embarcação de pesca “Camacinhos”. A embarcação veio a ser localizada por mergulhadores da Marinha a 50 metros de profundidade no local onde tinha naufragado, com o corpo de um dos náufragos no seu interior. O cadáver de outro tripulante deu à costa a 26 de Junho, na praia da Tocha, Figueira da Foz.
REFERÊNCIAS:
Cavaco elogia aposta em projectos portuários e defende marinha mercante mais forte
Em Cabo Verde, o Presidente visitou o cluster do mar e expressou admiração pelos que tentam transformar o oceano numa ponte de comunicação de acesso fácil. (...)

Cavaco elogia aposta em projectos portuários e defende marinha mercante mais forte
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Cabo Verde, o Presidente visitou o cluster do mar e expressou admiração pelos que tentam transformar o oceano numa ponte de comunicação de acesso fácil.
TEXTO: Onde há cerca de dois anos aterravam aviões na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, ontem o Presidente da República, Cavaco Silva, passou de camioneta. A pista do antigo aeroporto da Praia é agora uma via rápida com vias para cada lado, que faz a ligação ao novo terminal aéreo e ao porto marítimo que está a ser profundamente requalificado. A antiga torre de controlo - que ainda lá está - alberga agora o Instituto Nacional de Meteorologia e a Protecção Civil. Neste curto espaço de terra se resume a profunda alteração que Cabo Verde tenta operar nos objectivos de desenvolvimento daquele país, que Cavaco Silva olha com admiração e ontem tentou dar visibilidade para Portugal. Como que dizendo que também Portugal devia estar a fazer a mesma aposta. Essa aposta resumiu-se bem numa frase do discurso do presidente da Câmara de São Vicente durante a passagem de Cavaco Silva. Augusto Alves prometeu "transformar o oceano Atlântico numa ponte de comunicação de fácil acesso, transformar o oceano num rio". A passagem pelo estaleiro do porto da Praia foi a primeira paragem da agenda do Presidente português, que ontem se centrou na economia do mar. Arrancadas no mês passado, as obras vão fazer crescer os cais, aumentar a profundidade do porto, a capacidade de armazenamento. O objectivo é permitir, no final, a atracagem de três navios de longo curso em simultâneo. Ao todo, são 300 milhões de dólares de investimento - o financiamento é norte-americano - mas que incluem a requalificação de mais dois portos em Cabo Verde. Mas a requalificação dos portos é apenas um dos aspectos do denominado "cluster do mar" que Cabo Verde quer fazer avançar. E que fez a ministra das Finanças, Cristina Duarte, brilhar perante Cavaco Silva. Foi a governante que fez a apresentação da nova "visão estratégica" para o arquipélago. Mas já antes fizera rir o Presidente português quando o director da administração dos portos, Franquelim Spencer, elogiou a disponibilidade do Governo em investir: "Pois, eu mobilizo os recursos e o engenheiro Franquelim gasta. É mais fácil gastar que mobilizar", desabafou Cristina Duarte. Mais tarde explicou perante Cavaco o que era exactamente o cluster. "Somos mais mar e céu que terra", começou por dizer, antes de precisar que isso significava turismo, pescas, transportes e cultura, devido à "localização geoestratégica" de Cabo Verde. A intenção era fazer da cidade do Mindelo, em São Vicente, na "gateway para África, um centro internacional de pescas, e um outro de investigação oceanográfica", resumiu. Já antes Cavaco Silva explicara a importância que dava a projectos como a expansão dos portos, aproveitando para mandar um recado para Portugal: "Esperamos que o sector portuário depois impulsione a criação de uma verdadeira Marinha Mercante nestes países, incluindo em Portugal. Por forma a que quem quer mandar carga do Brasil não tenha de passar por Roterdão". A aula de economiaA apresentação da ministra das Finanças de Cabo Verde resultou num dos momentos do dia, quando esta responsável começou a explicar a forma como o executivo tinha decidido enfrentar a crise. Cavaco Silva acenava a cabeça em sinal de aprovação, especialmente quando Cristina Duarte explicou que, quando a crise chegou, em 2007, Cabo Verde tinha a "meia cheia", não precisando o Estado de se endividar para ajudar o país a enfrentar o embate. Foi por isso que optaram por reduzir a taxa tributária em 2008, nalguns casos em cinco por cento. "Se estivesse numa aula de Economia, já tinha chumbado, mas como isto é a realidade. . . " O jornalista viajou em avião fretado pela Presidência da República
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura
Chá verde diminui gordura concentrada na barriga
Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto concluiu que o consumo de chá verde favorece a redistribuição da gordura corporal, diminuindo o tecido adiposo mais prejudicial para a saúde. (...)

Chá verde diminui gordura concentrada na barriga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-07-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto concluiu que o consumo de chá verde favorece a redistribuição da gordura corporal, diminuindo o tecido adiposo mais prejudicial para a saúde.
TEXTO: O estudo dos cientistas, hoje divulgado, permitiu concluir que o chá verde leva à diminuição do tecido adiposo visceral (a gordura que se concentra na barriga), mais nefasto para a saúde do que o tecido adiposo subcutâneo (gordura que se acumula por debaixo da pele, sobretudo nas coxas e nádegas). A investigação, integrada num estudo dos efeitos de vários componentes alimentares na gordura corporal, avaliou dois grupos de ratos – a um foi dado a beber chá verde e a outro água, durante meio ano. Todos os animais aumentaram de peso ao longo deste período, mas os ratos do grupo que consumiu chá “ganharam menos peso do que o grupo de controlo”, adiantam os especialistas daquela faculdadeOs cientistas analisaram ainda as diferenças encontradas no tecido adiposo subcutâneo e visceral nos dois grupos de ratos, tendo verificado que o tecido adiposo dos animais que beberam chá apresentava um número maior de células em proliferação e adipócitos (células que armazenam gordura) mais pequenos do que os do grupo de controlo. O grupo que bebeu chá também apresentou um aumento do número de células em apoptose (morte celular programada) no tecido adiposo visceral, favorecendo a sua redução. “Estes resultados podem advir da estimulação da produção de estrogénios no tecido adiposo provocada pelo chá verde”, observa a cientista Rosário Monteiro, do Serviço de Bioquímica da Faculdade de Medicina. Conclui-se assim, sustenta, que “o consumo de chá verde interfere na organização da gordura corporal, criando um padrão celular mais saudável e menos propenso ao desenvolvimento de patologias”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte consumo estudo
Quando o apelo do "fresquinho" faz ignorar o perigo e a multa
Há quem não se assuste com o risco de derrocadas nas falésias algarvias; outros parecem mais sensíveis. Os mais experientes sabem que as arribas sempre caem. (...)

Quando o apelo do "fresquinho" faz ignorar o perigo e a multa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.358
DATA: 2010-07-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há quem não se assuste com o risco de derrocadas nas falésias algarvias; outros parecem mais sensíveis. Os mais experientes sabem que as arribas sempre caem.
TEXTO: Toca o chocalho. A mulher, trigueira, avança com esforço pela praia dos Pescadores em Albufeira, anunciando bolas de Berlim. Os veraneantes, embalados pelas ondas do mar ou pelo calor, ignoram o apelo. Teresa Rebelo, dá mais um toque no guizo. Não há quem responda à chamada para compra de fritos doces. Quando encontra uma arriba, com uma pequena cavidade, não pensa sequer no perigo sobre a sua cabeça. "Ai que bom, está fresquinho", diz. Pousa o cesto, senta-se e encosta-se à falésia, enquanto retempera energias. Não é perigoso estar aí? "Não, está muito calor . . . " Fátima Simões, a passar férias em Vilamoura, segue o exemplo da angolana que vende bolas de Berlim. À sombra de uma falésia, procura "um lugar mais confortável" para o irmão, que sofre de trissomia 21. Uma rede pregada na rocha, para evitar a queda de pedras para a praia, transmitiu-lhe a sensação de segurança, já que nas redondezas não existe qualquer sinalética a indicar perigo ou proibição. Ao ser interpelada pelo PÚBLICO se se sentia segura naquele local, lembrou-se das cinco pessoas que perderam a vida na praia Maria Luísa, ali próximo, em Agosto do ano passado. "Pois é, se houver uma derrocada, não é a rede que vai segurar as rochas", comentou. Após uma segunda observação, conclui: "Vou tirar dali o meu irmão, não está seguro. " Nesta praia, só há duas placas à entrada a indicar as zonas de perigo. Poucos meiosO novo diploma, que prevê multas a quem não respeite as vedações de protecção das arribas, dificilmente terá aplicação prática, por falta de quem o fiscalize. A cada um dos cerca de 40 elementos da Polícia Marítima destacados no Algarve, cabe patrulhar um troço de cinco quilómetros de costa. Tony, o veterano nadador-salvador da praia do Peneco, em Albufeira, conhece a situação, por experiência própria. "Quando temos um caso mais complicado para resolver, telefonamos à Polícia Marítima; a resposta é sempre a mesma: não temos pessoal. " A excepção, sublinha, é quando surge um problema na água: "Nessas alturas, aparecem todos os meios, com os jornalistas a acompanhar. "A vendedora das bolas de Berlim, confessa que a ideia do guizo para chamar a atenção da clientela foi do filho. "Assim, não é preciso gritar", justifica. Ultrapassado o pico do calor, o som do guizo começou a fazer despertar os apetites e a mercadoria desapareceu. Antes do regresso a casa, de novo, aproveitou o encosto da falésia, para fazer uma pausa e limpar o suor. Confrontada com a hipotética ameaça de se sujeitar ao pagamento de uma coima, por se abeirar à arriba, exclamou: "O quê? Pagar uma multa por estar à sombra?" Mais adiante, na praia do Peneco, Tony reclama a presença das autoridades: "Deveriam andar na praia, para fazer cumprir a lei. Quando dizemos a alguém que corre perigo ou que é proibido jogar à bola, muitas vezes, com mau feitio, respondem: "O problema é meu. """Ficou feia"Na praia de Santa Eulália, no ano passado, só por sorte não sucedeu uma situação semelhante à da praia Maria Luísa. Não se encontrava referenciada no conjunto das praias de perigo iminente, mas areias e pedras deslizaram na madrugada de 2 de Outubro. Uma semana depois, a ARH do Algarve procedeu à demolição controlada das arribas. A situação parecia estar controlada, mas houve mais duas derrocadas. José Joaquim, antigo pescador e actual concessionário da praia, regista todos os incidentes na zona, e das observações recolhidas, tira uma conclusão: "Não vale a pena procurar segurar as arribas, porque estão condenadas a cair. " O rochedo emblemático desta zona está transformado num monte de areia arredondado. Os utentes da praia mostram-se descontentes, como Deonilde, que frequenta a Santa Eulália desde há quatro anos: "A praia ficou feia. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei filho mulher